Que a Sorte Esteja Sempre ao Seu Favor
Escrito por Bárbara Aranha | Revisado por Rebecca
Prólogo
Lágrimas salgadas banhavam seu rosto, ela estava sentada na floresta, recostada a uma arvore, depois do que vira na televisão não pudera ficar mais nem um segundo ali. Eles haviam esquecido, como ousavam esquecer? Katniss e Peeta não haviam sido os primeiros amantes desafortunados, há poucos anos houvera um casal parecido provindo do mesmo distrito... Porém a sorte não estivera a favor deles.
Ela limpou as lágrimas de luto e ódio. Quatro anos atrás o irmão partira junto com a namorada para a 69ª edição dos Jogos Vorazes, nenhum dos dois voltara. A capital os havia assassinado. Havia arrancado o último membro de sua família de seus braços deixando-a sozinha, para sempre sozinha. E agora, quando a história estava para se repetir eles simplesmente ignoravam-no, como se seu sacrifício não tivesse sido nada, como se ele não tivesse tido importância.
Malditos fossem.
Capítulo 1
Quando tinha seis anos o pai faleceu em uma explosão nas minas, a mãe havia morrido em seu nascimento. Ela e , seu irmão mais velho de, na época, doze anos, ficaram sozinhos. A primeira coisa que fizera para garantir a alimentação por algum tempo fora se inscrever paras as Tesseras, a segunda foi voltar a caçar, assim como o pai havia ensinado a ambos.
Eles conseguiam trocar a caça por alguma coisa no Prego ou com antigos amigos da família, e até com os primos distantes de seu pai, Everdeen, ou Hawthorne. E assim foram vivendo por um tempo. O irmão tinha um melhor amigo, um pacificador chamado Darius, ele costumava acobertar com os demais pacificadores quando necessário. Darius era um ruivo alto, bonito, de olhos azuis, que costumava bagunçar seus cabelos e chamá-la de pirralha.
E também havia uma garota, a filha de um dos principais clientes de , o açougueiro, Philipe. Ela era uma ruiva bonita de olhos verdes, costumava admirá-la na companhia do irmão, parecia um anjo, e a menina torcia para que quando crescesse fosse tão bonita quanto ela.
Porém o irmão fora infeliz na primeira tentativa de conquista e ganhara a inimizade da garota, resultando com que obviamente ficasse perdidamente apaixonado. e passaram anos discutindo em público, com ele a convidando para um jantar e ela recusando. Até que finalmente se entenderam e no dia do aniversário de 12 anos de eles finalmente iniciaram um namoro.
Tudo parecia tão perfeito. amava como uma irmã mais velha, e em breve eles seriam uma grande família feliz. Se não fossem pelos Jogos Vorazes daquele ano. Era a primeira vez da garotinha, e ela estava obviamente apavorada. tranquilizara-a de um jeito que fora incapaz e eles seguiram juntos para a Colheita.
Porém o impossível acontecera, mesmo sem nunca ter pego uma tessera, tendo apenas um papel com o seu nome em meio a milhares, fora escolhida.
- Não! – gritou assim que ouviu o nome da irmã, antes mesmo que ela pudesse se mover.
Naquele momento tivera esperanças, tudo iria ficar bem, como havia prometido, seu irmão mais velho iria salvá-la.
- Não! – repetiu ele – Ela não! Eu vou no lugar dela!
- Lamento, querido... – disse a voz carregada de sotaque de Effie – Mas as regras dizem que somente uma garota pode se candidatar por uma garota, espere a sua vez e creio que...
- Fodam-se as regras! – vociferou – Ela não pode ir. Eu já disse que vou, eu vou por ela, eu...
Mas um grupo de pacificadores o cercou obrigando-o a se calar. deu um passo a frente sentindo seu corpo tremer de medo, não poderia salvá-la, ela iria para os jogos e morreria. Deveria então ser corajosa, tão corajosa quanto o irmão. Antes que pudesse dar outro passo sentiu uma mão segurar sem ombro, olhou para cima, era e ela não a encarava.
- Então eu vou no lugar dela! – falou em alto e bom som – Eu serei o tributo!
pareceu ainda mais desesperado. correu em direção à ele com lágrimas nos olhos, mas o mesmo grupo de pacificadores que o impediam de avançar em direção à , a impediam de alcançar o irmão. Então Effie sorteara o tributo masculino, e para comprovar sua falta de sorte, o escolhido fora .
não desgrudou da televisão durante as semanas dos Jogos Vorazes, assistiu e formarem uma aliança e sobreviverem à Cornucópia, assistiu quando um a um os tributos foram morrendo até sobrarem uma carreirista que ela esquecera o nome, Brutus, e . Foi nessa altura que ela ousou ter esperança que ao menos um deles fosse voltar para casa.
Então o pior acontecera. A carreirista atacara e quando eles estavam dormindo, ela tentara primeiro matar , mas a ruiva recebeu o golpe de espada que estava destinado ao companheiro. acordou e em sua fúria matou a carreirista, então abraçou o corpo moribundo da amada, sussurrara algo para ele, e eles trocaram um beijo. Ela morreu em seus braços enquanto ele chorava por ela. Foi então que o maldito Brutus o atacara por trás, fincando uma lança em sua nuca que atravessou a garganta e o matando instantaneamente. Ela jamais esqueceria dessa cena.
Nos dias que se seguiram não saíra de casa, passara todo o tempo chorando e esperando a morte. Em uma noite alguém entrou em sua casa, ela não se deu o trabalho de ver quem era, não havia nada para roubarem, e ela não se importava mais com absolutamente nada, com apenas 12 anos tudo que queria era a morte.
Então ela o viu. Ele tinha a sua idade. Eles eram vizinhos desde sempre e ela havia brincado com ele há muito tempos atrás. Ele caminhou até ela e lhe estendeu um pão, ainda quente, devia ter acabado de sair do forno. sabia o quão a mãe dele era rigorosa e não podia acreditar que ele tivesse feito aquilo por ela, por que se importava?
- Pegue-o , você precisa se alimentar. – sussurrou ele.
E foi então que sua amizade com Peeta Mellark começou.
Capítulo 2
Peeta a ajudou a se erguer da fossa, a convenceu que não iria querer que ela desistisse. Meses se passaram antes que ele conseguisse, aos poucos seguiu com a vida. Abandonara a escola, passava o dia caçando, o suficiente para si e para vender por alguma coisa no Prego. Foi assim que se aproximou da prima Katniss e de Gale, os três se tornaram inseparáveis companheiros de caça.
Quando completou 14 anos notou que sentia algo diferente por Gale, e notou também que ele sentia o mesmo por Katniss, e provavelmente com o tempo ela o corresponderia. Mais uma vez se perguntou por que ainda estava viva, não tinha mais ninguém de sua família vivo, e ela tampouco poderia construir uma nova, sendo assim que sentido havia?
Ela sonhava com os lábios de Gale, mas foi com Peeta que experimentou seu primeiro beijo. Não que fosse apaixonada por ele ou ele por ela, eram apenas amigos e estavam curiosos. Teria sido perfeito se não tivessem sido interrompidos por Darius. O antigo melhor amigo do falecido irmão continuava a visitá-la constantemente, na verdade, almoçava com ela todos os dias, fora ele quem lhe ensinara lutas corporais, e mesmo a cozinhar. Ele não reagiu muito bem ao que viu, na verdade para a vergonha dela, reagiu do mesmo modo que reagiria.
Resultado: Ela e Peeta jamais tentaram se beijar novamente. Continuaram apenas como amigos. No aniversário de 15 anos dela, Darius lhe deu uma adaga que se encaixava perfeitamente em sua mão e Peeta lhe fez um bolo. Ela reconhecia que isso era algo caro, mesmo para o filho do padeiro, algo que não deveria ser dado assim de graça. Tentou recusar mas ele insistiu, dizendo que tinha ele próprio feito e pago pelos ingredientes, com a permissão do pai.
Eles comiam lado a lado um pedaço, e pela primeira vez desde que o irmão morrera ela sentiu algo parecido com felicidade, teria sido perfeito se a mãe dele não tivesse aparecido. A Sra. Mellark era uma mulher amarga e ranzinza, quando Peeta era pego brincando com ela, quando crianças, era severamente castigado pela bruxa. Barbara a odiava. Assim que viu o bolo na mesa de , cheia de fúria ela avançou contra o amigo.
- Seu ladrãozinho miserável! – rosnou estapeando o filho com força – Sabe quanto custa esse bolo?
Ela levantou a mão mais uma vez porém dessa vez foi impedida por , a adolescente segurava o braço da vizinha igualmente furiosa. A Sra. Mellark era forte e robusta, e apesar de ser mais nova e aparentemente frágil era igualmente forte. Todas aquelas lutas com Darius não haviam sido inúteis.
- Na minha casa, debaixo do meu teto, você não tem voz. – vociferou – Portanto, desapareça antes que eu me zangue e acabe matando a mãe do meu melhor amigo.
Ela recuou assustada. Desde os 12 anos aquela menina não era mais uma criança, a dor a endurecera e a mulher do padeiro podia ver naqueles olhos castanhos esverdeados que a ameaça era real, que ela iria cumprí-la.
Sem dizer nada a Sra. Mellark apenas bamboleou para fora da pequena casa, mas não sem antes lançar ao filho um olhar irritado e ameaçador. estendeu a mão para Peeta o ajudando a se levantar.
- Você que me perdoe – sussurrou ela – mas eu sempre quis fazer isso.
Ele sorriu de lado.
- Mas você não devia ter feito. – disse ele, não havia nenhum pingo de repreensão na voz – Ela deve estar furiosa.
- Me desculpe se causei problemas para você, apenas não podia suportar aquela... ela fazer isso na minha casa.
Peeta assentiu.
- É melhor eu ir agora.
observou o amigo partir. Naquela noite não dormiu, as vozes alteradas vindas da casa vizinha eram tão altas que pareciam estar ao seu lado.
Capítulo 3
Katniss e Peeta se tornaram tributos dos Jogos Vorazes. não se conformou, quais eram as chances de duas pessoas ligadas diretamente a ela serem sorteadas, mais de uma vez! Parecia que a capital tinha um interesse especial em fazê-la sofrer.
Ela assistiu toda a encenação de amantes desafortunados reconhecendo a mentira, e espumando de ódio por terem deixado e ao esquecimento. Gale sofria ao ver Katniss nos braços de outro, e sofria por ver Gale sofrer, sofria por ter dois amigos na arena e sofria pelas lembranças que a atacavam diariamente.
Até que por fim a vitória veio. Katniss e Peeta venceram juntos, e não pode deixar de se ressentir por terem sido eles e não e . Quando a amiga voltou e contou a eles sobre a armação Gale pareceu primeiro aliviado, e depois enciumado, aquilo novamente a fez sofrer, mas sofreu em silêncio.
Peeta voltara mudado dos Jogos, passava dias pintando e pouco conversavam. Logo ela entendeu que ele estava magoado. Ao que parecia o loiro também amava Katniss. A prima sugeriu que todos eles fugissem, e apesar de reconhecer as falhas do plano concordou em ir com eles.
Porém depois que Gale ouviu sobre o levante no distrito oito quis ficar, vendo como o amigo estava bravo ela deu de ombros para a prima e o seguiu. Gale caminhava pela floresta irritado, sua postura e o jeito que respirava deixavam isso bem claro.
- Um levante no oito não significa rebelião, Gale. – disse ela – Eu odeio os Jogos tanto ou mais que você, mas reconheço que uma rebelião seria impossível. As coisas não vão mudar.
- É graças a gente como você que não mudam! – explodiu ele – Se nossos pais não tivessem sido muito covardes para lutarem quem sabe não teríamos que passar por isso? Quem sabe seu irmão ainda estaria vivo? Acha que se orgulharia de vê-la abaixar a cabeça para seus assassinos? Acha que...
Ele não pode continuar, a mão de já encontrara o seu o rosto o estapeando. Seus olhos verdes encontraram os dela assombrados, em anos de amizade ele nunca irritara-a o suficiente para que ela sequer cogitasse agredí-lo.
- Nunca – sussurrou ela com lagrimas nos olhos – fale sobre o meu irmão. Você não conheceu como eu. Você não é ninguém para me dizer do que ele se orgulharia ou não!
Ela deu as costas para Gale furiosa. Desde que decidira seguir em frente ninguém além de Peeta e Darius haviam visto suas lágrimas, agora ela as deixara escapar na frente de Gale, mostrara o quão fraca e boba era. seguiu o caminho de casa, mas no meio do caminho mudou de ideia e seguiu de volta para a floresta.
viu uma agitação na praça, várias pessoas reunidas, algo incomum. Um barulho estranho ressoava no ar, ela se aproximou furando a multidão até que o viu. Gale, amarrado pelos pulsos a um poste de madeira, o peru que caçara mais cedo preso por um prego acima de sua cabeça. Caída no chão, a jaqueta que ele usara para esquentá-la uma vez. A camisa rasgada.
Ele estava de joelhos, parecia fraco, sustentado apor cordas em seus punhos. Suas costas torneadas e musculosas estavam em carne viva. Em pé atrás dele havia um desconhecido, com o uniforme do velho Cray, ele levanta o chicote para desferir mais um golpe e ela gritou.
Capítulo 4
avançou cambaleando em direção à Gale, toda a raiva de antes esquecida. Sabia que não poderia parar aquele pacificador novo, fosse quem fosse, o máximo que podia fazer era impedir que machucasse ainda mais o amigo.
Ela abraçou o amigo pelas costas, protegendo o corpo dele com o seu. Sentia o cheiro de sangue forte, e sua camiseta estava ficando encharcada do líquido carmim. Ela segurou fortemente Gale, a dor que ele sentiria por aquele toque não era nada comparado a dor que sentiria se ela saísse.
O pacificador desconhecido não ordenou que ela saísse ou fez qualquer menção de tirá-la de lá. Apenas desceu o chicote contra suas costas. segurou o grito quando sentiu o contato espinhoso contra sua pele protegida apenas por uma fina malha.
- ? – sussurrou Gale.
- Oi – respondeu ela.
O chicote desceu novamente, ela apertou o amigo mais forte, mas ele não reclamou.
- Saia daqui! O que você está fazendo sua doida? Saia daqui.
- Não.
Mais uma chicotada.
- Alguém tire ela daqui! – gritou ele – Tirem-na daqui!
Mas ninguém ousou interferir, a chibata continuava seu movimento açoitando-a. perdeu a conta de quantas vezes foi atingida. Sua camiseta estava em trapos, assim como a de Gale, seus seios desnudos tocando contra a pele despida dele. Quanta ironia, ela ansiara tanto por aquela intimidade.
viu quando Darius avançou do meio da multidão. Pensou em dizer para que ele parasse mas não teve forças. O castigo parou por um minuto, então ela viu pelo canto do olho o amigo cair desacordado enquanto mais uma chicotada atingia suas costas.
Gale continuou a protestar mas ela, nem ninguém lhe deu atenção. segurava a todo custo gemidos e arquejos. Pois sabia que eles apenas incentivariam seu atacante. Não, ela seria forte. Novamente as chibatadas pararam, ela pensou ter visto a silhueta de Peeta e Katniss antes de tombar descordada.
*
Quando ela acordou, soube que estava deitada em algum tipo de mesa. Suas costas doíam demais, mas havia algo gelado contra elas lhe dando um pouco de alivio, depois ela descobriu ser neve. Gale estava em outra mesa ao seu lado, na mesma posição.
- Sua idiota! – rosnou ele assim que viu que ela estava acordada.
apenas sorriu em resposta.
- Por que fez isso, sua burra?
- Tem certeza que não sabe? – perguntou ela com a voz fraca.
- Não faço ideia. – disse ele.
- Por que eu te amo, seu idiota! – respondeu ela antes de cair inconsciente novamente.
*
Abriu os olhos, quem vislumbrou dessa vez foi seu amigo de infância, Peeta.
- Isso foi muita estupidez, sabe? – disse o loiro recostado na parede.
Ela sorriu.
- Eu sou dada a fazer coisas estúpidas... – sussurrou.
- Você o deixou bem confuso. – disse indicando com a cabeça Gale, que dormia em uma mesa ao lado da dela – E Katniss está furiosa.
- Ela vai sobreviver. Como você está, Peet?
- Eu vou sobreviver. – respondeu – Acho que com isso o plano de Katniss foi por água a baixo. A colheita será em dois dias, acha que consegue ir?
- Talvez... Será o ano do Massacre Quaternário, certo?
Ele assentiu.
- O que farão dessa vez? Ouvi dizer que é sempre algo épico...
- Eles vão escolher tributos do rol de vencedores de cada distrito. – interrompeu o loiro.
hesitou.
- Isso significa que você e Katniss...
- Vamos voltar para à arena – disse ele – Isso aí.
- Eu acho que o Presidente Snow tem algo contra mim – sussurrou – Ela leva as pessoas que eu amo, mas me deixa viva para vê-los morrerem.
O amigo lhe fez um carinho no rosto enquanto sorria.
- Eu quero que me faça uma promessa, .
- O que?
- Quero que me faça uma promessa – repetiu ele – Não se pode negar o último desejo de um moribundo.
- Você não vai...
- Shh – interrompeu ele – Apenas prometa, em nome de nossa amizade.
Ela assentiu.
- O que quer que eu prometa?
- Prometa que não fará uma loucura dessas novamente, prometa que se dará valor, prometa que pensará em si mesma em primeiro lugar. , e Darius pagaram um preço muito alto para que você simplesmente abra mão de sua vida.
- Darius? – questionou ela – O que aconteceu com Darius?
- Você ainda não sabe?
Ela negou.
- O que aconteceu, Peeta?
- Eles o levaram depois do que aconteceu, ninguém mas o viu desde então. Katniss ouviu o no Pacificador Chefe dizendo que vão saber lidar com ele na Capital...
tentou se levantar, mas o máximo que a dores lhe permitiram foi que se sentasse.
- O que está fazendo?
- Eu vou saber o que fizeram com Darius – rosnou ela – Devo isso a ele.
- Você está fraca e as feridas ainda estão abertas, deite-se.
sentiu lágrimas banharem seu rosto novamente, dessa vez não tinha nada haver com a dor física, e sim com o vazio que sentia, sentiu os braços do amigo lhe ampararem e envolverem.
- Eles tiraram tudo de mim, Peet, minha família e agora meus amigos...
O loiro não soube ao que respondeu aquilo, apenas abraçou a amiga. Eles ouviram o barulho de uma porta se abrindo e lá estava Katniss. Toda a sua postura, a sua expressão demonstravam raiva, sabia que era raiva dela.
- Eu estou indo embora. – sussurrou para a prima.
Era a casa dela afinal. Não ficaria ali se não fosse bem vinda. Se bem que sem a ajuda da Sra. Everdeen demoraria ainda mais a sarar, mas era melhor assim.
- Não precisa... – disse a prima com a expressão mais relaxada – É melhor que você fique até sarar e talvez até depois disso. O novo chefe dos pacificadores ligou a cerca, é impossível sair para caçar agora.
arregalou os olhos. Caçar era seu meio de vida, sem isso como faria para se alimentar? Como se manteria? Não havia espaço para mulheres nas minas, ela não tinha instrução suficiente para ser professora, o que faria para sobreviver?
- Vamos dar um jeito. – disse Peeta acariciando o rosto da amiga – Se não estiver a vontade aqui pode vir ficar comigo na minha casa, tem espaço o suficiente.
Ela pensou na reação da mãe de Peeta e sacudiu a cabeça em negativa.
- Hamyshe está lhe chamando. – disse Katniss para o loiro.
Ele beijou o topo da cabeça da amiga e se distanciou. esperou até que Katniss dissesse algo, como sabia que a prima estava louca para falar, ela não demorou muito.
- Você o ama. – disse ela duramente.
Não era uma pergunta, então não respondeu, ambas estavam conscientes de quem falavam.
- E ele ama você, assim como Peeta. – disse com o mesmo tom de voz.
Katniss assentiu.
- Suponho que isso seja uma brincadeira cruel do destino. Você ficaria feliz se eu morresse na arena, ?
- Não sou tão baixa. Você é minha prima e minha amiga. E se algo lhe acontecesse ele ficaria arrasado, eu sofreria junto com ele.
- Então você é uma pessoa melhor do que eu, no seu lugar eu não pensaria assim.
Elas ficaram caladas se avaliando. Não eram tão diferentes uma da outra, a mesma pele bronzeada, os mesmo cabelos negros, poderiam ser irmãs, a única coisa que acentuava-lhes a diferença eram os olhos, enquanto os de Katniss eram azuis e estonteantes, os de eram de um castanho mel simples, porém ela preferia assim, eram idênticos ao do irmão.
- O que aconteceu não é culpa de Peeta, prometa que não o maltratará.
Katniss sorriu.
- Eu prometo. Gale é um cara legal, depois que eu morrer garanta que ele não desperdice a vida, console-o, faça-o feliz.
- Eu tentarei, mas ele não me aceitará, não posso competir com você Katniss. – disse ela se deitando de bruços na mesa a medida que sentia a tontura lhe tomar – Nunca pude. – acrescentou antes de desmaiar.
*
Ela acordou novamente, sentia uma sensação estranha, todo seu corpo parecia dormente, como se tivesse ficado várias horas sem se mover. A primeira coisa que viu foram os olhos incrivelmente azuis e marejados de Prim.
- O que aconteceu? – perguntou com a voz rouca.
- Você teve uma infecção – respondeu a pequena prima – Mamãe lhe deu uma pequena dose de Mofirnaceo para que aguentasse a dor, você está dormindo a cinco dias.
- Cinco dias! – exclamou .
Então lembrou-se da Colheita. Prim estava chorando, provavelmente por que Katniss e Peeta já haviam ido, lamentou não ter podido se despedir do amigos. Gale estava acordado, mas não disse nada a ela, tampouco a ele. Prim lhe explicou que a infecção estava quase curada, mas ainda demoraria alguns dias.
E os dias se passaram. O Massacre Quaternário se iniciou. Gale e ela continuaram sem trocar uma palavra, porém assistiam de mãos dadas as encenações de Peeta e Katniss na tv. Um bebê... Até parece...
continuou na casa de Katniss na Vila dos Vitoriosos. Agora sem a caça para lhe entreter e ocupar passava o dia assistindo aos Jogos, ou aprendendo um pouco sobre ervas com Prim e a Sra. Everdeen. Dias se tornaram semanas. Era aproximadamente meio dia quando tudo aconteceu.
Ela assistiu Peeta se aproximar de Brutus. Esperava que o amigo iniciasse uma luta, e torcia para que vencesse, o que definitivamente não esperava era que o amigo fizera.
- , lembra dele? – perguntou Peeta enquanto desviava da espada de Brutus – Armou para ele, assassinou sua garota e o matou pelas costas.
- Sim, ele não passava de um perdedor – sorriu Brutus – Chorando a morte da ruiva, ela era até gostosa mas não...
Porém foi interrompido por um ataque de Peeta.
- Eu conhecia , era um cara legal, costumava me ensinar uns golpes quando era criança.
- Bem, isso não o ajudou – retrucou Brutus desviando do ataque do loiro e avançando – Nem vai ajudar você.
- Ele só tinha uma irmã, uma garotinha que ficou sem ninguém – vociferou Peeta.
- Isso não é problema meu – respondeu Brutus.
nunca havia visto aquele olhar no rosto de Peeta, o amigo tinha olhos azuis bondosos e amigáveis, os olhos que ela via na TV estavam sedentos por sangue. Ela estava igualmente sedenta no sofá da sala, estava sedenta há cinco anos pelo sangue daquele maldito.
- Vai ser agora – rosnou Peeta.
O loiro então em um movimento rápido derrubou a espada de Brutus e avançou, os dois caíram no chão em uma luta corporal. Peeta pegou uma pedra grande e de aparência pesada, duvidava que pudesse levantá-la do chão, mas o loiro a segurou com apenas uma mão e desceu-a contra a cabeça de Brutus, matando-o instantaneamente.
sorriu. A morte do maldito não traria seu irmão de volta, mas lhe dava uma sensação anestésica, uma sensação de paz. O vazio que sentia no peito desde a morte do irmão jamais seria preenchido, mas agora havia um sentimento de justiça feita, de vingança cumprida.
- Essa foi por você, – sussurrou Peeta se levantando e caminhando rapidamente pela areia.
- Obrigada, Peet – murmurou ela.
não registrou muito bem o que aconteceu a seguir. Só sabia que Katniss havia feito algo muito errado, então o sinal foi cortado. Eles se entreolharam, todos sentiam a tensão no ar, o sentimento pré-batalha, pré-caos.
Ela estava reunindo em uma bolsa tudo o que lhe era essencial. A faca que Darius lhe dera de presente, o casaco de , o colar da mãe, os brincos de e o broche de lobo do pai. Eram quase duas horas quando o caos começou, ouviu o estrondo e sentiu o chão tremer. No céu haviam aerodeslizadores da capital, e eles jogavam bombas no Distrito 12.
Gale e ela organizaram tudo juntos, conseguiram reunir o máximo de pessoas possível e escapar para a floresta. estava a caminho de cruzar a cerca quando se lembrou de alguém, a família de Peeta, a mãe dele podia morrer, mas ainda havia o pai e os irmãos.
- Onde vai? – perguntou Gale quando ela começou a voltar.
tirou a mochila dos ombros e entregou-a para o amigo.
- Vejo você na floresta – disse com determinação.
- Mas...
- Vá – insistiu ela, então apontou para as crianças ao redor de Gale – Você tem que levá-los.
Então ele a puxou para um beijo. Surpresa e assustada ela não se opôs. Apenas quando o chão tremeu novamente eles se separaram. sorriu e correu em direção à Vila dos Vitoriosos. Teria conseguido salvá-los, se a maldita mulher do padeiro não os houvesse atrasado. Quando estavam prestes a sair, o Presidente Snow entrou na mansão acompanhado de uma horda de pacificadores muito bem armados.
- Srta. – pronunciou ele com desdém – Conheço alguém que está ansioso para revê-la.
Capítulo 5
foi atirada em uma cela. Estava em algum lugar na Capital. O presidente Snow apenas lhe disse que era melhor que revelasse tudo que sabia. Mas ela não sabia nada, apenas que Gale havia fugido para a floresta junto com alguns outros, ela só esperava que tivesse conseguido escapar.
- Hey, apaixonado – disse um pacificador – Você tem companhia.
Então ela notou que não estava sozinha. Na cela ao seu lado estava Peeta, e na cela ao lado dele Johana Mason.
- ? – perguntou ele – O que está fazendo aqui?
- Não sei – respondeu com sinceridade – Eles jogaram bombas no Distrito 12, Peeta, eu estava tentando... Bem, não importa, fui capturada e me jogaram aqui.
- Bombas? – perguntou ele – Minha família?
- Sinto muito, Peet – sussurrou.
A poucas horas ela assistira impotente a família do amigo ser executada. Ele se recostou na parede parecendo abalado.
- O que houve? – perguntou ela.
- Não faço ideia. – disse Peeta – Eles dizem que Katniss traiu a Capital, que está iniciando uma rebelião...
- Impossível! – sussurrou – Ela não seria tão estúpida.
Johanna riu ironicamente em sua cela. Então os guardas vieram e o inferno começou. Torturas diferentes e cada vez mais intensas a cada dia, sentia que se aproximava da loucura, mas a lembrança do sorriso de e do beijo de Gale mantinham sua sanidade.
Depois de quase uma semana ela pensou que eles não poderiam fazer nada pior, estava errada. Eles usaram algum tipo de veneno para confundir a mente de Peeta e fazê-lo acreditar que Katniss era o inimigo. Durante a noite ela falava com o loiro, lhe contava histórias sobre como a prima salvara a vida dele, sobre como ela se importava, conseguiu retardar o efeito, mas não anulá-lo.
Então eles a puniram. estava preparada para tudo, fogo, lâminas, açoite, o que quer que fosse, nada que ela não pudesse suportar, nada do que não tivesse passado antes. Porém os pacificadores eram cruéis, e lhe impuseram o pior dos sofrimentos sem sequer tocá-la.
Darius estava vivo afinal, os monstros o transformaram em um avox. Ele e uma garota ruiva foram tragos para celas em frente a suas. A ruiva deu sorte, morreu de parada cardíaca quando acionaram a máquina de choque contra ela. Darius não teve tanta.
Eles o torturaram por dias, forçando-a a assistir. Faziam perguntas a ele, porém o ex-pacificador não era capaz de responder e emitia apenas gemidos estrangulados. Dirigiam então perguntas a ela, mas nenhuma resposta que fornecia parecia ser o suficiente.
Depois de semanas de calvário, Darius faleceu. chorara de luto e de alívio. Sentia falta do amigo de seu irmão, mas ele pelo não sentia mais nenhuma dor, pelo menos estava em um lugar melhor.
Com ela impotente graças ao sofrimento conjunto com Darius, a Capital conseguiu enlouquecer Peeta por completo. Johanna Mason estava à beira da insanidade, eles a encharcavam depois a eletrocutavam, porém ela se manteve calada.
também conseguiu reter as informações mais importantes, sobre a fuga de Gale e outros sobreviventes. Contar sobre aquilo não teria salvo sua vida, ou a de Darius.
Seu único refugio era sua própria mente, ela se isolava nas lembranças felizes que tinha de e e mesmo as ínfimas dos pais. Começou a ansiar por revê-los, a ansiar pela morte. Mas os malditos eram espertos demais para que deixassem isso acontecer.
Então ela perdeu a noção do tempo, conformou-se com o que o destino havia lhe reservado e aguardou pela morte iminente. Mas ao que parecia o destino desgraçado tinha outros planos em mente para ela, ele sempre tinha.
Capítulo 6
Primeiro usaram a imagem de , a ruiva a visitava dizia o quanto está decepcionada, fazia perguntas sem sentido e dizia coisas horríveis. Depois veio , e ele fez com ela, o que nunca havia feito em vida, ele lhe estapeou. Foi então que entendeu que aquele não era o seu irmão. Era uma imagem criada pela Capital para lhe infligir uma tortura psicológica. Em sua crueldade seus algozes corrompiam seu último refúgio.
- Eu e demos a vida por você – disse o -falso – Nós morremos por sua causa. Responda, .
- Você não é meu irmão – retrucou ela se recostando à cela – Jay jamais falaria assim comigo, se ele estivesse aqui estaria tentando me libertar.
- Eu sou o seu irmão. Você está enlouquecendo.
- Talvez esteja, talvez isso seja uma forma de enlouquecer, mas quem liga? Eu não sei a respostas às suas perguntas, e mesmo que soubesse não diria. O que mais vocês podem me tirar?
- ... Se você não der a eles o que eles querem eles vão me matar... – sussurrou o falso- em um tom suplicante.
- Você não é meu irmão.
Então um homem entrou na cela. Não podia ser, ele estava morto. Ele tinha que estar morto. Peeta o matara. O falso olhou para Brutus atrás de si aparentando ter medo.
- ... Por favor...
- O tempo para conversar acabou – ressoou a voz de Brutus – Se a garota não vai falar tem que ser punida.
Ele então atravessou a lança no pescoço do falso-. Enfiando-a na nuca de modo que a ponta irrompesse em sua garganta. gritou. Mesmo que aquele não fosse seu irmão, era igual a ele, a Capital a forçara a assistir ao vivo uma recriação da morte de .
Ela desmaiou.
*
- – chamou uma voz familiar – !
Ela abriu os olhos. A sua frente estava Gale, ele usava roupas estranhas, e parecia ter um ferimento no braço. Mais uma criação da Capital.
- Você está viva – disse ele – pensei que estivesse morta.
Ela não respondeu apenas esperou que as perguntas começassem.
- Venha, não temos muito tempo...
Provavelmente queria levá-la para um novo local de tortura. Ela não se renderia tão facilmente. Tentou se desvencilhar dele, mas os meses com má alimentação e suplícios haviam enfraquecido seu corpo, não conseguiu se livrar do aperto dele.
- Me solte! – rosnou – Me solte!
- ? – disse ele tentando aparentar confusão.
- Você é apenas mais um deles! Mais uma criação da Capital! Como eles conseguiram a imagem de Gale? Já não basta usar e ? Eu não vou responder as suas perguntas, eu não vou com você, terá que me matar!
- Você também não... – disse ele arregalando os olhos – , sou eu... Eu não sou uma criação da Capital... Eu vim te salvar...
- Mentira! Gale jamais conseguiria entrar aqui! Ele não faria essa loucura...
- Não há tempo para explicar... Você tem que vir comigo!
O olhar dele parecia tão suplicante, parecia tanto com o verdadeiro Gale. Mas ela não podia cair nesse truque.
- Me prove. Prove que você é quem diz ser. Me diga algo que somente o verdadeiro Gale saberia.
Havia inúmeras conversas acontecidas na floresta, longe dos ouvidos da capital, que poderiam ser usadas. Mas ele não mencionou nenhuma. Aproximou os lábios dos seus e a beijou. Um beijo cheio de saudades e preocupações. Idêntico ao que trocaram na última vez que se viram, quando o Distrito 12 estava em chamas.
- É você! – sussurrou ela com lágrimas nos olhos.
Gale sorriu e a pegou nos braços.
- Sim. E eu vim te tirar daqui.
Capítulo 7
Ela acordou em um quarto branco. Parecia uma espécie de enfermaria. Ela olhou a redor, aparelhos de última geração, tudo muito limpo. Ela só conhecia um lugar que poderia ter essas tecnologias. Mas o que faria a Capital cuidar de suas feridas? Apenas para mais tarde criar novas. Então ela o viu. Ele ainda usava aquela roupa estranha, porém sorria.
- Gale? – sussurrou ela.
- Você acordou – disse ele se aproximando – Estava começando a preocupar os médicos...
- Médicos? – repetiu ela – Gale, onde estamos?
- Em um aerodeslizador, em direção ao 13. – respondeu ele.
- O Distrito 13? Mas...
Então Gale lhe contou tudo. Sobre a sobrevivência do 13, a flecha de Katniss, a rebelião contra a Capital. Tudo. Ela mal acreditou no que ouvira. Parecia tão absurdamente surreal. Quando ele terminou sua narrativa, eles chegaram.
Foram levados a outra enfermaria. No caminho contou um resumo rápido e sem muitos detalhes dos últimos meses. Disse que a Capital tentou conseguir a todo custo informações dela, de Johanna Mason e de Peeta, contou que Darius estava morto.
Depois se calou, todo esse tempo que passara com Gale, falou mais do que falara em todo o tempo que passara em cativeiro. Estava cansada.
*
Ela assistiu atrás de um vidro o reencontro desastroso de Katniss e Peeta, ela tentara avisar mas ninguém lhe dera ouvidos. Gale estava concentrado demais em Katniss, para lhe dar atenção, todos estavam, então ninguém impediu que ela entrasse sorrateiramente no quarto onde Peeta estava, só notaram quando já era tarde demais.
- ! – exclamou Peeta assim que seus olhos se cruzaram – É você mesmo?
- Sou – sorriu ela – Como você está, Peet?
- Confuso e com raiva – respondeu ele – Onde estamos?
- No Distrito 13 – respondeu ela com tranquilidade – Bem longe da Capital.
- Mas o 13 está em chamas...
- Esse lugar parece em chamas para você? – perguntou – A Capital mentiu sobre tudo para nós, por que não mentiria para isso também?
- Não fale isso... A Capital nos mantém seguros.
- Você odeia a Capital, Peet – rosnou ela com convicção.
- Não é verdade.
- É sim, você odeia a Capital por que ela matou a sua família, por que ela colocou aqueles que você ama em perigo.
Os olhos deles se cruzaram.
- Sim – disse ele se aproximando – Eu odeio a Capital. Eles machucaram você. Eu amo você.
arregalou os olhos.
- Puta merda! – praguejou.
*
Ela foi levada até o gabinete da Presidente Coin. Gale aconselhou que ela mantivesse a calma e não fizesse nenhuma besteira. quase sorriu para isso, pobre e inocente Gale. A tal Presidente era uma mulher velha, com corte Chanel e um olhar de cobra, semelhante ao do Snow.
- Você não pode agir dessa forma – disse ela – O fato de ter passado aqueles horrores na Capital não te dá o direito de agir como quiser.
- Como o fato de Gale ter me resgatado também não me dá o dever de obedecê-la.
Ela se empertigou. sorriu.
- Tem muito tempo que eu não recebo ordens de ninguém – vociferou – Não vou começar agora.
- Se não pode obedecer – rosnou ela – É livre para ir embora.
- Por onde eu saio? – perguntou erguendo o queixo.
Sentiu as mãos pesadas de Gale em seus ombros tentando acalmá-la. Ignorou.
- Você não vai embora, – disse ele.
- Por que? – rosnou se virando para ele – O que me prende aqui?
- Katniss. Peeta. – ele suspirou – Eu.
- Katniss sabe se cuidar. Peeta está em boas mãos. E você... Gale você não me quer realmente por perto, quer?
- Do que está falando? Eu te salvei.
- E eu te agradeço – respondeu – Mas você faria isso por qualquer um.
Gale olhou para a idosa atrás dela.
- Presidente, ela está fora de si, passou tanto tempo quanto Mellark naquele inferno... E a senhora viu, Peeta teve avanços depois que os dois conversaram. Ele se acalmou...
Aquela nova notícia fez com que se calasse. Talvez a Capital não tivesse mexido com as lembranças de Peeta quanto a ela. Talvez o amigo precisasse dela. Ele estava absurdamente confuso, alguém teria que guiá-lo de volta para sanidade.
Gale se virou para ela.
- Você pode caçar, comigo e com Katniss...
sorriu. Katniss não iria querer sua companhia.
- Muito bem – assentiu ela – eu fico. Por Peeta.
O olhar de Gale parecia magoado mas ele não retrucou.
*
- Eu te amo – repetiu Peeta.
- Não – disse ela perdendo a paciência – Você ama Katniss.
- Não! – rosnou ele batendo o punho na mesa – Ela é uma bestante criada pela Capital.
Aquele ataque de fúria não fez com que ela recuasse.
- Não, ela não é. Vamos lá Peeta... A primeira vez que você a viu ela estava com duas trancinhas, e não uma, e o seu pai te disse que ela era a filha da garota que ele amava.
Os olhos do loiro se arregalaram e alguma coisa dentro de seu cérebro pareceu se reavivar.
- Sim... Eu me lembro disso...
- E quando você foi escolhido para os Jogos Vorazes você chorou nos meus braços, não por si mesmo, mas por ela...
Ele parecia extremamente confuso.
- Mas você... Você é minha melhor amiga...
- Sim, eu sou. Mas é ela, Peeta, sempre foi ela. Você a ama desde sempre. Você salvou a vida dela quando jogou aquele pão queimado, e ela sempre foi grata por isso.
- O pão... Eu devia ter dado a ela um pão bom... Eu devia ter tido coragem...
- Isso não importa. Você a salvou.
- Isso não faz sentido...
- Onde você esteve nos últimos meses, Peeta? – rosnou ela – Onde nos estávamos?
- Eu estava... Nós... Nós estávamos em uma cela na Capital.
- Isso. E o que eles fizeram com a gente?
- Eles... Eles... Doía...
Peeta fez uma careta levando a mão a testa.
- Dói.
sorriu.
- Sim, dói. – assentiu ela.
*
Katniss partiu em missão, como Tordo. não fez questão de ir. Continuou cuidando de Peeta, até que ele se recuperou o suficiente para que Coin o arrancasse de seus braços e o mandasse para morte, ou para a morte de Katniss.
tentou a todo custo impedir sem sucesso. Então gastou o seu tempo com Prim e com a mãe dela, suas únicas parentes viva, exceto por Katniss. Os dias se passaram e chegou a notícia, que ela, assim como Gale, Peeta, Finnick e outros estavam mortos. não acreditou nisso nem por um maldito segundo, tampouco permitiu que a prima ou a tia o fizessem. Nenhum deles seria estúpido o suficiente para se deixarem morrer. Ela só acreditaria se visse os corpos, o que muito convenientemente haviam sido carbonizados.
- A presidente Coin disse que todos os médicos ou aprendizes serão necessários na batalha – disse Prim depois de algumas semanas – Eu vou para Capital para ajudar os feridos, não é maravilhoso?
- Não – interrompeu – Você não vai.
- O que?
- Você me ouviu – respondeu olhando nos olhos azuis da prima – Você só tem 13 anos. É muito perigoso.
- Mas se a presidente...
- A presidente não é nossa amiga – vociferou – Katniss está viva em algum lugar, e aquela velha raposa sabe disso. Ela quer destruir Katniss para que nossa amiguinha não se oponha a ela quando o novo governo surgir...
- Sou mais velha do que você quando começou a caçar – argumentou Prim.
- Eu comecei a caçar por necessidade – rosnou com os olhos semicerrados – Meus pais estavam mortos e a Capital tinha me arrancados os últimos membros da minha família. E isso nem se compara ao perigo que é ir para uma batalha real.
- Mas...
- Katniss entrou em toda essa confusão por você, ela gostaria que você ficasse aqui, onde é seguro. Então faça o favor de ser grata a ela não jogando sua vida fora.
Prim fechou a cara, porém não tentou argumentar novamente.
- Mas eu vou. – disse a mãe dela.
- Tia – disse com menos autoridade, com paciência em um tom de quem implora – É muito perigoso, por favor...
- Eu não tenho 13 anos e Katniss não entrou nessa confusão por mim. Serei mais útil lá.
tentou argumentar, mas a tia estava determinada. Nada pode fazer além de assistir.
*
Uma sucessão de acontecimentos sobreveio com muita rapidez. Eles venceram a guerra. Katniss, Gale e Peeta estavam vivos. A tia, mãe de Katniss e Prim, morrera em um atentado. Em seu luto misto a loucura Katniss dirigiu a seta que era para o Presidente Snow direto para Coin.
e Prim foram em um aerodeslizador para a Capital, onde reencontraram Katniss. Ela permitiu que as duas tivessem um momento irmãs. E se dirigiu a Peeta, o loiro estava recuperado, ou tão recuperado quanto era possível. Ela o abraçou e sussurrou em seu ouvido.
- Obrigada.
- Por que? – perguntou ele.
- Você matou Brutus, me trouxe uma coisa que eu não tinha desde a morte de .
- O que?
- Paz! – respondeu ela.
Seu olhar então se dirigiu para Gale.
- Eu não tive a oportunidade de te dizer – disse ele – Eu acho que te amo.
- Mas eu não sou Katniss.
- Eu não amaria se fosse. Ela é minha melhor amiga... Mas ela não é você.
- Mas eu pensei...
- Eu também pensei... não era pra ser... Ela está melhor com Peeta. E eu estou melhor com você, isso é se ainda me aceitar.
- Você me fez esperar muito tempo – disse ela.
- Sim, eu fiz. Mas eu quero recompensá-la.
sorriu.
- Eu posso pensar em um meio ou dois de você fazer isso.
Epílogo
Eles brincam na campina. As duas meninas dançam juntas, ambas com os cabelos escuros, porém uma possui os olhos azuis e a outra os olhos cinzas. O menino com cabelos loiros e olhos cinzentos, esforçando-se para acompanhá-las em suas pernas gordinhas de criança, atrás deles um adolescente os observa com um ar entediado, tal como o pai ele possui uma cabeleira escura, e olhos castanhos mel, tão parecido com o irmão falecido que chegava a doer olhar para ele.
sorriu ao observá-lo. Ainda estavam reconstruindo toda a nação quando descobrira estar grávida. Sua reação foi um misto de alegria e pavor. Nunca pensou que seria mãe, nunca pensou que teria outra família depois de perder e . Por isso homenageou ambos, dando os nomes deles aos seus filhos. Katniss os observava também, com Gale ao seu lado.
Peeta estava pintando a cena com um sorriso no rosto. Por vezes seu melhor amigo ainda tinha recaídas, ainda apertava os punhos e olhava para a esposa com ódio. Nesses momentos Katniss pegava suas mãos e sussurrava:
- Você é Peeta Mellarck. Eu sou sua esposa. E nós nos amamos.
E isso sempre parecia funcionar. Ela ainda tinha pesadelos, tal como Gale, e todos os seus amigos. Eles nunca a deixariam, seu irmão nunca a deixaria. Porém agora sua vida não era apenas luto e amargura, ela conseguia desfrutar momentos de felicidade ao lado de sua família.
já tinha consciência de tudo que acontecera, ela e Gale haviam lhe contado quando a hora chegara. Ele parecera chocado, depois orgulhoso dos pais e agora simplesmente aprendera a viver com isso. Para ele era mais fácil, só sua imaginação o assombrava. Não tinha lembranças reais.
As arenas haviam sido completamente destruídas, os memoriais construídos, não há mais Jogos Vorazes. Mas eles ensinam sobre isso na escola, e a menina, , sabe que nós desempenhamos um papel neles. Mesmo já tendo passado por isso com seu primogênito, ela ainda tinha receio de falar nisso. Afinal sua garotinha levava as palavras da canção à serio.
Bem no fundo da campina, embaixo do salgueiro
Um leito de grama, um macio travesseiro
Deite a cabeça e feche esses olhos cansados
E quando eles se abrirem, o sol já estará alto nos prados
Aqui é seguro, aqui é um abrigo
Aqui as margaridas lhe protegem de todo o perigo
Aqui seus sonhos são doces, amanhã serão lei
Aqui é o lugar que eu sempre te amarei.
As crianças desconhecem que brincam em um cemitério, mas sabe, notava como o filho encarava as pequenas lápides, como seu pudesse dar um rosto à elas.
Gale abraçou-a por trás e ela sorriu. Há muito tempo estavam em paz com o marido. Ele havia superado seus sentimentos por Katniss e não sentia mais ciúmes, tal qual ele aprendera a não sentir ciúmes de Peeta. O olhar dela se dirigiu para o porta-retrato onde estava uma foto de Prim, a garotinha havia crescido para se tornar a melhor médica do país e ocasionalmente os visitava.
O marido lhe deu um beijo no pescoço fazendo-a estremecer, ele sempre tinha esse efeito sobre ela.
- Está tudo bem. Não está?
Ela assentiu.
- Sim, por que não estaria?