Quase Picasso

Escrito por Maraiza Santos | Revisado por Mariana

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   ligou a lâmpada e desceu as escadas até o porão segurando as caixas com algumas coisas que não precisaria por enquanto. Fez uma careta ao senti o cheiro de mofo atingir suas narinas e pôs toda aquela parafernália em um canto, dando logo meia volta.
  Fechou a porta do porão e olhou pra suas roupas lembrando que deveria tomar um banho. Estava todo sujo de tinta azul bebê, vermelha e verde depois que , sua esposa, havia pedido pra pintar um dos quartos vagos daquela grande casa onde moravam. A grande desculpa que ela havia usado era que ele estava muito ocupado com o trabalho e devia passar mais tempo com ela, por consequência eles ficariam mais juntos pintando aquele quarto todo branco que havia em seu lar.
  Cansado, foi andando direto para seu quarto, quando saiu uma animada já vestida com um sorrisinho de felicidade no rosto.
  - Hey – Ele a parou com a mão em seu ombro – Aonde você vai, mocinha?
  - Flor do Exílio? – Ela falou como se fosse óbvio.
  - Quem vai levá-la? – Ele perguntou ao lembrar que ela não tinha habilitação.
  - Você, oras! – Ela continuou andando com seus sapatos fazendo barulhos no piso de madeira.
  - Ah, não – Ele passou as mãos no rosto – , eu estou um caco! Já são 15 horas e passamos a manhã pintando aquele quarto.
  - Mas você me prometeu! – Ela fez biquinho – Por favor! Por favor! – Ela segurou sua mão - Por favor! Por favor!
  - Tá bem, mas não vamos demorar lá, ok? – Ela assentiu sorrindo como uma criança, deixando seus cabelos amarrados com uma fita caírem um pouco no rosto. Queria muito que tivéssemos um filho, pensou , e que ele fosse parecido com a . Suspirou indo direto para o banheiro.
  (...)
   abriu as janelas do carro enquanto sua esposa ligou o rádio. Faltavam apenas alguns quilômetros para chegar a Flor do Exílio, uma pequena plantação de morangos da família que ficava entre a cidade de Mancherster e Liverpool, a qual adorava ficar desde criança.
  - Saying "I love you" is not the words I want to hear from you – Cantarolava junto com o rádio. pelo canto do olho observou ela e sorriu bobo voltando a prestar atenção na estrada.
  - Chegamos – Ele falou a despertando do seu êxtase na música. sorriu abertamente para e abriu a porta do carro animada. fez o mesmo vendo sua esposa correr entrando no portão alto, velho e enferrujado.
  - Eu amo esse lugar! – Exclamou correndo entre a plantação – Vem, ! – Chamou-o com a mão e saiu correndo.
   travou o carro e saiu correndo atrás de sua esposa já sentindo as dores por não ter tanta vitalidade jovem de antes e o cansaço que sempre tinha nos dias como aquele. Lembrou-se de seus 17 anos, quando conheceu . Os dois passavam os fins de semana lá fingindo que o mundo não existia, agiam como se fossem os únicos seres existentes na terra.

  Nós corremos por campos de morango e sentimos o cheiro do verão.

  - pôs as mãos no joelho – Eu não tenho tanta rapidez quanto antes, tenho quase 40. - Ele respirava pela boca – Onde é que está o Jonh? Ele não devia estar vigiando aqui hoje?
  - Dei folga pra ele nesse domingo – Ela gritou de longe – Oh, , vem logo! Não estou correndo tão rápido assim.
  - Verdade – Ele se pôs a correr de novo um pouco mais rápido alcançando logo e a abraçando.

  Quando ficar escuro eu vou abraçar seu corpo perto do meu e como vamos construir uma fogueira.

  - Está ficando escuro – Disse olhando pra o céu – Vamos ver o pôr do sol. – Ela puxou sua mão. Andando de mãos dadas subiram em cima do muro que separava a plantação do vale totalmente verde, tirando as estradas que eram vistas ao longe. O por do sol lá era maravilhoso.
   se pegou observando os olhos cor de âmbar de sua esposa e quão linda ela ficava com aquele suéter azul-marinho que ele havia lhe dado.
  A vida parecia mais simples para , e se perguntava como ela conseguia. Nunca tinha tempo ruim para , apenas boas oportunidades.

  E então vamos achar umas cordas e fazer um violão. Cativado pelo jeito que você está essa noite. A luz está dançando em seus olhos. Seus doces olhos.

  Lembrou-se o quão difícil foi lidar com a demissão da sua empresa dos sonhos e o quanto ela o ajudou, e agora, era dono do seu próprio negócio: um produtor musical. Era mais do quê ele imaginava ser quando criança.

  Tempos como esses nós nunca esqueceremos. Ficar fora para assistir ao pôr-do-sol, estou contente por ter compartilhado isso com você.

   apoiou sua cabeça no ombro de fechando os olhos por alguns segundos.
  - Isso aqui é tão mágico – Disse com o sorriso tão conhecido no rosto. sorriu a abraçando para mais perto.
  - Eu te amo – falou como se as palavras fossem automáticas. Amar era como algo de sua natureza, tão normal como respirar, tão intenso quanto um terremoto e tão verdadeiro quanto a certeza que haveria um amanhã.

  Você me liberta, me mostrou quão boa minha vida podia ser.

  Sentiu um aperto no coração ao fazerem os exames para saber o porquê de não conseguirem ter filhos, e lembrou-se da carinha triste do rosto tão angelical de sua esposa quando descobriram que ele era infértil e era quase impossível não terem filhos. Desviou o olhar para frente.

  Como isso aconteceu comigo? E então eu vou te balançar, garota, até você adormecer e quando você acordar estará deitada ao meu lado.

  Naquele dia, lembrava ele, passou a noite com ela no colo acariciando os cabelos dela até que ela adormecesse. Foi a primeira vez que a viu chorar.

  Nós iremos à Hollywood fazer de você uma estrela de cinema, eu quero que o mundo saiba quão bonita você é.

  No outro dia levou-a para uma sessão de fotos, mesmo ela insistindo que as olheiras dela estava grandes demais para fotos ele contra-pôs, sendo ele mesmo seu fotografo. Lembrou que foi ali, e Flor do Exílio, que tirou as fotos.
  - Eu te amo tanto, – Ela sussurrou de olhos fechados.

  Não há mais segredos, nada que nós já não saibamos.

  - Está tarde, temos que ir – Falou depois de um tempo. Ela levantou sua cabeça e espreguiçou-se.
  - Obrigada – ela sorriu. desceu do muro.
  - Pelo quê? – Ele perguntou enquanto segurava a pela cintura ajudando a descer.
  - Por ter me trazido pra cá mesmo estando tão cansado – Ela respondeu entre laçando seus baços ao redor de seu pescoço – Quando chegar em casa lhe faço um cafuné reforçado.
  - O que eu posso fazer se minha garota me mima tanto? – Ele arqueou a sobrancelha divertido. selou seus lábios partindo para um beijo mais intenso.

  Nós não temos medo de envelhecer. Nós não temos nenhuma preocupação no mundo.

  Andando de mãos dadas no meio da plantação de morangos já escura, em silêncio, voltou a apoiar sua cabeça no ombro do .
  - Tudo bem, amor? – Perguntou estranhando um pouco o silêncio repentino.
  - Preciso dizer uma coisa – Ela parou de andar e levantou a cabeça para olhar em seus olhos.
  - Aconteceu alguma coisa? Você está bem? – perguntou já preocupado.
  - Eu estou grávida – Ela sorriu.

FIM



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