Quando as luzes se apagam



Escrito por Nathara Santanna
Revisado por Natashia Kitamura

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Capítulo único

  Respiro profundamente o ar do Brasil pela primeira vez em anos.
  Eu tinha acabado de sair do avião e podia sentir meu estômago revirando de ansiedade. Na realidade, fazia semanas desde que meu coração batia de forma descompensada.
  O voo tinha sido terrivelmente longo. Tentei inutilmente manter meu foco, mas algumas situações como as conexões que tive que fazer e, principalmente, as turbulências que pegamos durante o voo desviaram meu foco. Claro que eu já havia ido há outros shows do Stray Kids, principalmente na Ásia – mais precisamente na Coréia –, no entanto, nada se comparava em ver eles se apresentando em solo brasileiro; sabe, é uma sensação diferente porque o público daqui é diferente.
  É... Melhor.
  Vocês conhecem aquele ditado, tudo acontece por um motivo? Então... Era exatamente ele que descreve tudo o que eu passei nesses últimos dias até chegar em São Paulo. Porque existe um motivo, e eles, Stray Kids, são o motivo.
  Fora do aeroporto, dando bobeira, respiro mais um pouco desse ar que há muito tempo não respirava, e decidi chamar um Uber para me levar até o bairro do Morumbi, local onde meus pais moram.
  Na realidade, eu tinha pedido aos meus pais para que não fossem me buscar em Guarulhos, pois não queria que ficassem tanto tempo presos em um carro, ainda mais com o trânsito de São Paulo.
  Isso me fez lembrar que o show dos meninos no Rio de Janeiro estava prestes a acontecer, e não, eu não fui para esse show em específico.
  Tenho que falar que essa foi uma decisão difícil. Eu queria poder acompanhar todos os shows deles no Brasil, mas quando você está fazendo um mestrado e trabalhando, as coisas podem não sair da forma como você espera. Até mesmo dentro de um avião eu precisei cumprir alguns prazos que meu orientador passou. E não só isso, eu também estou finalizando um trabalho importante; enquanto você organiza a felicidade das pessoas ao seu redor, você acaba adiando a sua.
  Trabalhar com eventos é assim. Então eu decidi que iria reservar duas semanas para mim, longe do rótulo de produtora ou estudante, afinal, eu quero estar aqui apenas como eu mesma. Eu quero poder sentir a energia dos fãs brasileiros e, principalmente, sentir a realização de um sonho que levou anos para se realizar.
  O Stray Kids no Brasil.
  Sendo bem sincera, a voz do ainda ecoa na minha mente desde a nossa última conversa. Ele estava preocupado.
  — Você ainda acha que não teria sido melhor você vir com a equipe para o Rio, ao invés de viajar sozinha?
  ... Eu não quero levantar suspeitas. E eu também preciso participar disso como uma fã, sabe?
  Ele ficou em silêncio com as minhas palavras. Esse silêncio explicava o quão chateado ele estava. Claro que entendia muito bem o meu lado, mas eu também levava em consideração que, de alguma forma, ele queria que eu estivesse ao seu lado nesse momento tão importante para ele.
  — Me promete que você irá se cuidar?
  — É claro que irei me cuidar, eu estou em casa, bobinho. Ah, não se esqueça de se hidratar entre suas folgas e durante o intervalo de uma música e outra no show.
  — Pode deixar.
  Um sorriso escapou dos meus lábios ao lembrar do nosso diálogo recente enquanto avisto o veículo se aproximando do local de parada. Depois de conferir se o motorista de fato era aquele que aparece no aplicativo, entrego minhas malas e entro no carro.
  Ainda é cedo, então checo meu relógio para ver exatamente que horas são e observo o céu de São Paulo começando a fechar. É como se até o tempo estivesse falando bem-vinda de volta.
  O motorista continua seguindo em direção ao bairro em que cresci e que agora, depois de anos, estava voltando novamente. As ruas continuam as mesmas, com seus prédios silenciosos e impactantes ao redor, mas o que mais me chamou a atenção é que a fachada do prédio dos meus pais não havia sofrido nenhuma mudança. Era como se estivesse parado no tempo. Sua pintura branca estava meio suja, mas ainda assim era charmosa.
  Saindo do carro, o porteiro, seu Alfredo, vem rapidamente me ajudar com as malas e sorri abertamente ao me reconhecer:
  — Olha só quem resolveu dar o ar da graça! — Solto uma risadinha enquanto pego uma das malas que o motorista tinha deixado na calçada.
  — Seu Alfredo, o senhor não mudou nem um pouco.
  — Gostaria de falar o mesmo para você, mas menina, você saiu daqui tão novinha e agora está uma mulher. — Agradeço seu elogio, sorrindo enquanto recebo sua ajuda para levar minhas malas para dentro.
  — Pensei que o senhor já tinha se aposentado. — Eu fiquei um pouco surpresa ao encontrá-lo ali, trabalhando ativamente.
  — Que nada. Minha neta é viciada nesses coreanos, estamos juntando um dinheiro para que ela possa viajar para a Coréia assim que fazer dezoito anos, só depois disso que irei me aposentar... se bem que com o dinheiro da aposentadoria não se vive muito bem. — Sinto um aperto em meu peito por dois motivos: primeiro que fico tocada por ele estar ajudando a juntar dinheiro para a neta ir para a Coréia; e segundo porque infelizmente temos essas diferenças sociais tão grandes.
  — Trouxe algumas coisas que são incríveis para o senhor dar para sua neta. — Pisco para ele. Esses itens eram itens que eu deixaria em casa, no meu quarto. Mas eu sentia que eles deveriam ser dados para alguém, e esse alguém seria a neta do seu Alfredo.
  — Falamos sobre isso depois, menina, vá ver seus pais. — Ele coloca minhas malas dentro do elevador. — Precisa de ajuda até lá?
  — Não, eu consigo me virar, o senhor pode descansar. — Aceno para ele enquanto fecho as portas do elevador e pressiono o número oito, andar que meus pais moravam, soltando uma risada ao perceber a numeração.
  A sensação de estar em casa novamente é meio agridoce. Desde que eu me mudei para a Coréia, eu não tinha voltado para casa. Pode parecer que eu não me importo com esse lugar ou com o Brasil, porém desde que estive morando fora, meus pais preferem conhecer alguma parte do mundo junto comigo, então em todas as férias que tive, eu estava em um país diferente.
  Por isso, estar em casa traz esse sentimento agridoce para mim. Por mais que eu ame esse apartamento, parece que eu não pertenço mais a este lugar.
  Claro que meus pais nunca reclamaram pelo fato de sua única filha estar morando do outro lado do mundo. Na realidade, eles viajaram para Seul para me visitar em algumas oportunidades, e esse também é o nosso jeito de driblar toda a saudade. Nenhum dos dois nunca, nunca, fizeram eu largar meus estudos. Voltar para o Brasil com o propósito de ver o Stray Kids parece soar um pouco egoísta da minha parte.
  Perdida em pensamentos, não notei que a porta do elevador tinha aberto e, antes mesmo que eu pudesse piscar os olhos, a porta do nosso apartamento também se abriu e minha mãe veio rapidamente me abraçar. Consigo sentir o cheiro de bolo de chocolate saindo de dentro da minha casa e ele automaticamente me leva para um lugar quentinho da minha infância.
  — Parece tanto tempo desde a última vez que te vi. — Minha mãe me encara nos olhos.
  — Não exagera. — Tudo bem que esse era o nosso primeiro encontro do ano, mas não era como se nós não nos falássemos todos os dias.
  Minha mãe me ajuda com as malas e meu pai aparece logo em seguida, vestindo um moletom e calçando chinelos.
  — Cai um pouquinho a temperatura e o senhor já coloca um moletom. — Brinco com ele, soltando uma risada ao abraçá-lo.
  — Pelo menos eu não estou tão internacionalizado. — Reviro meus olhos ao ouvir a brincadeira do meu pai.
  Claro que eu já não me vestia como uma brasileira. Na realidade, eu sempre gostei de me vestir da forma que me visto, mesmo quando eu morava no Brasil, e isso, aos olhos das pessoas, além de ser um estilo internacionalizado, não tinha a cara do brasileiro.
  — Pare de implicar com a sua filha, vamos entrar.
  Meu pai leva minhas coisas para o meu quarto, e por mais que eu queira ficar na sala conversando com eles, eu preciso de um bom banho e descanso. Antes, vou até a varanda e me sento na poltrona que meus pais tinham atualizado. Em seguida, mando uma mensagem para o , falando que eu cheguei na casa dos meus pais em segurança.
  Eu sabia que ele não iria ler minha mensagem imediatamente, pois por conta do horário o grupo já devia estar fazendo a passagem de som, então aviso para ele que muito provavelmente após comer com meus pais, eu iria dormir um pouco e mais tarde, após o show acabar, falaria com ele.
  Depois de tomar um banho, me sinto um pouco mais revigorada. Claro que eu estava com sono, mas eu não poderia fazer a desfeita de não tomar o café da tarde com meus pais em casa depois de anos fora.
  Na sala, é possível sentir o cheiro do café que minha mãe estava fazendo na cozinha, e escuto meus pais comentando sobre a movimentação no estádio Morumbis.
  — As pessoas estão alvoroçadas. Nessa semana vai ter um show de um grupo coreano. — Escuto meu pai falando e soltei uma risada baixa, eles ainda não sabiam que eu vou ao show. — Já vejo a loucura que vai ser essa semana....
  — Já tinha algumas pessoas acampadas na frente do estádio, acredita? — Minha mãe comenta, sem ter ideia de que eu estava escutando a conversa dos dois. — Tomara que não chova... Coitadinhas.
  — O que está acontecendo? — Resolvo dar o ar da graça para os meus pais. Não é tão confortável assim ficar escutando a conversa dos dois.
  — Certeza que você já sabe que vai ter show no Morumbis. — Minha mãe me encara com a mão na cintura.
  — Sim... — Eu não tinha por que mentir para eles.
  — Você trabalha com eles? Esse foi o motivo da sua vinda para o Brasil? — Sorrio.
  — Em partes eles são o motivo, e não, eu não trabalho com eles. — Na realidade, eu já trabalhei com eles, mas depois do , decidi que seria melhor dar um passo para trás e deixar de trabalhar com o grupo. Não que meus pais precisassem saber disso.
  — Vai no show? — Acompanho meu pai e me sento para comermos.
  — Sim, apesar de não trabalhar com eles, tenho alguns amigos que estão trabalhando na equipe do Brasil. — Me sirvo com um pouco de café e dou um gole logo em seguida.
  — Isso quer dizer que você vai sozinha? — Minha mãe cruza os braços e encara.
  — Sim. — Respondo. A realidade era que nenhuma das minhas poucas amigas que ainda estavam no Brasil gostavam de K-pop, então sim, eu iria sozinha ao show. — Mas não se preocupem, eu vou cedo para a fila, vou levar uma capa de chuva, um casaco leve, garrafa de água, carregador portátil e comida. Vocês sabem que sou veterana em shows.
  — , se os seus amigos estarão lá, por que não pegou os bastidores? — Meu pai dá uma mordida em seu pão enquanto espera uma resposta.
  — Porque não seria a mesma coisa. — explico. — Quero estar lá como fã. Ver o show pelos olhos deles. Até porque isso faz parte do meu mestrado.
  — Hm... — Ouço o resmungo dos meus pais.
  — Vamos lá, já sou grandinha. — Tento argumentar.
  — Você pode ter quase vinte nove, mas aos nossos olhos você ainda é uma criança. — Reviro meus olhos e respiro fundo para não quebrar o clima.
  — Quantos ingressos vendeu? — Papai pergunta. — Você sabe como é a saída do Morumbis quando lota...
  — Prometo para vocês que ficarei bem. — Era estranho estar fazendo promessas o tempo todo.
  — Quando é o show? — Minha mãe amolece um pouco enquanto vai se servindo de café.
  — Vai ser no dia cinco. — Terminei de comer a fatia de bolo que ela tinha deixado no meu prato.
  — E já tem gente acampada? — Eles pareciam um pouco surpresos.
  — Mãe... Pai... Eles são artistas internacionais. Não é como se vocês nunca tivessem visto pessoas acampando para shows antes.
  — Esse povo é doido.
  — E apaixonado. — Completei a fala do meu pai. — Muita gente ali quer ter a experiência completa do show, e muitas vezes isso inclui os perrengues.
  Ficamos por algum tempo em silêncio, apenas saboreando a presença um do outro. O som da televisão na sala toca baixinho em uma série que meu pai deixou passar e tudo parecia se completar.
  — Acho que vai chover no dia do show. — Comento enquanto coloco mais um pouco de café na minha caneca.
  — , você só vai me deixar mais aflita. — Sorrio.
  — Você sabe que se chover, mesmo que suavemente, poderia deixar tudo mais mágico? — Desvio meu olhar para a janela. — Sei lá, existe algo na chuva que pode mudar tudo, é como se a emoção das pessoas fosse tão preciosa que de certa forma fosse preciso transbordar.
  Minha mãe ficou um pouco desconfiada e resolvi fechar minha boca. Era como se ela quisesse falar alguma coisa, mas preferiu guardar para si mesma.
  Depois do café, ajudei meus pais a tirar a mesa e logo fui separar minha roupa suja para lavar. Por sorte, eu tinha conseguido tomar um banho rápido na minha conexão em Dubai, me fazendo não me sentir tão suja quando cheguei no Brasil.
  Voltando para o meu quarto, desfaço minha mala com calma e deixo tudo organizado, desde os itens que eu usaria durante a semana que eu fosse ficar aqui, até as minhas coisas para o show do dia cinco. Eu trouxe de tudo um pouco, já que o clima em São Paulo costumava mudar da água para o vinho. Entre os itens para o show, eu separei algumas opções de roupa e alguns snacks que eu tinha trazido da Coréia para consumir no voo e acabou ficando para serem consumidos no dia do show mesmo.
  Além de tudo, ainda preciso me encontrar com o pessoal da produção assim que eles chegassem em São Paulo para pegar meu ingresso. Na realidade, meu pai estava certo, eu conseguiria perfeitamente a entrada dos bastidores. Vamos lá, eu trabalhei com esse pessoal durante anos, isso antes de iniciar meu mestrado em História, então eu conhecia cada uma daquelas pessoas de olhos fechados, além de que eles conheciam a minha situação e do . Mas dessa vez eu não quero uma vista dos bastidores, não quero ser staff. Eu quero ser fã. Sentir o famoso impacto que os fãs brasileiros causam em todos os artistas que fazem seus shows aqui. Por isso, continuo achando que o pacote vip que eles disponibilizaram para os fãs é muito mais proveitoso.
  Com tudo organizado, sinto que eu finalmente posso me deitar na cama, e assim o faço. Pretendo descansar o suficiente antes de jantar, e principalmente, antes de falar com o .
  Meu coração ficava agitado só de pensar que eu iria ouvir a voz dele depois de dias. A realidade de namorar um astro famoso é essa, ficamos dias sem nos falar por causa das nossas agendas, e isso me deixa angustiada. Não que eu compartilhe isso com ele, afinal, eu conheço o suficiente para saber que ele se culparia por isso. Sendo ainda mais realista, nossas últimas mensagens tinham sido rápidas, com alguns emojis expressando nossos sentimentos. Respiro um pouco mais aliviada por saber que finalmente estamos no mesmo fuso horário após um tempo.
  Não lembro exatamente quando peguei no sono, apenas sei que acordo ao ouvir um toque suave na porta e a voz da minha mãe me chamando.
  — ... O jantar já está pronto.
  Abro meus olhos um pouco grogue e tento me situar, levando um pouquinho mais de tempo para realmente acordar. Me espreguiço devagar e começo a sentir meus músculos reclamarem depois da longa viagem que fiz. Olho rapidamente para fora e percebo que o céu já tinha escurecido por completo; inevitavelmente, é possível ouvir sons abafados de buzinas na rua, indicando o caos que é o trânsito de São Paulo.
  Vou ao banheiro, amarro meu cabelo e lavo o rosto para despertar por completo, indo em seguida para a cozinha.
  Meus pais já estavam sentados apenas me esperando para se servirem.
  — Conseguiu dormir bem? — Minha mãe me pergunta enquanto coloca um pouco de arroz no meu prato.
  — Dormi o suficiente, mas não o necessário. — Faço uma careta para eles. — Pelo menos meu corpo entendeu que agora eu estou em outro fuso.
  O jantar foi mais rápido do que eu imaginava. Conversei com meus pais sobre as coisas cotidianas e tirei um tempo para me atualizar sobre a minha família. A realidade é que eu não tenho tempo de visitar todo mundo, então aproveitei essa mesma conversa para informar para meus pais que eu apenas conseguia ficar por duas semanas no Brasil.
  Sentindo que meus pais estavam cansados, falei que eles poderiam ir dormir e que eu arrumava a cozinha para eles, afinal, minha mãe tinha feito toda a janta e eu não a ajudei em nada. Ao terminar, apago as luzes da cozinha e vou para o meu quarto. Olho ao redor e sorrio, meus pais não tinham tirado nada do lugar. Meus livros estavam exatamente da forma que deixei quando fui embora do país. É engraçado saber que saí daqui com vinte um anos carregando sonhos e esperanças, e voltei depois de um tempo com metade daquilo que sonhei, realizado.
  Pego o pijama que havia separado em cima da minha cama antes de jantar com meus pais e vou até o banheiro tomar mais um banho. O tempo não está quente o suficiente, mas também não posso falar que estou sentindo frio, por isso deixo meu ar-condicionado ligado em uma boa temperatura.
  De banho tomado, me jogo de costas na cama, e mando uma mensagem para o . Eu sabia que o show já tinha terminado, e checo para ver se ele não está em live agora.
  “Já chegou no hotel?”
  “Estava esperando você me chamar...”
  A resposta de é quase que instantânea.
  “Quer fazer uma chamada de vídeo? Ou os meninos já estão no quarto?”
  Ele nem me responde, pois ele me liga imediatamente após ler a mensagem.
  O rosto dele aparece na tela rapidamente, e sorrio. Seu cabelo ainda está meio úmido e ele veste uma regata preta, típico do estilo dele.
  — Ei... — Praticamente me derreto ao ouvir sua voz.
  — Cansado? — Pergunto baixinho, ainda me sentindo levemente culpada por estar roubando um tempo que ele poderia usar para descansar.
  — Não. Acabei de jantar com o e o . — Ele aponta a câmera para os meninos.
  — Não vão dormir tarde e não se esqueçam de se hidratar. — Falo um pouco mais alto para que os dois pudessem escutar.
  — Pode deixar. ... Estamos indo para o quarto do , voltamos mais tarde.
  Esse era o modo fofo deles falarem que deixariam esse tempo para nós dois.
  — Estou com saudades... Queria que você tivesse com a gente hoje. — Ele ri e o som da sua risada atravessa a tela do celular como se fosse um abraço acolhedor.
  — Às vezes queria poder me dividir em duas para estar com você aí e aqui ao mesmo tempo. — Brinco, e ele parecia entrar na brincadeira, fazendo um biquinho triste.
  Esse é o que as pessoas ao nosso redor infelizmente não conhecem, não porque ele não quer, mas porque infelizmente a cultura dos fãs de k-pop pode ser insuportável quando querem. Um exemplo disso é todo o bafafá que as gringas estão fazendo por estarem aproveitando ao máximo o Brasil.
  — O Rio foi incrível... A energia dos fãs foi surreal.
  — Em São Paulo também vai ser incrível. — Sorrio de canto.
  — Você realmente vai na pista? — Ele me pergunta.
  — Sim... Irei fazer de tudo para pegar grade. — Sussurro.
  — Queria que você me escutasse...
  — Será que você vai conseguir me ver no meio de tanta gente? — Mudo rapidamente de assunto. Acho que ele tinha medo do que poderia acontecer, mas eu já estava preparada para isso.
  — Acha mesmo que eu não reconheceria a mulher que eu amo no meio da multidão? — arqueia a sobrancelha. Enquanto meu peito se aquece. Era incrível como ele conseguia falar essas coisas de um jeito tão sério.
  — A previsão para o show de vocês aqui é chuva. — Comento.
  — Outro motivo para eu ficar preocupado. Entre você, os meninos e os fãs, irei ficar velho rapidinho.
  — Não exagera.... — Olho para o relógio. — É melhor você ir descansar agora. Está tarde.
  — ... — Sua expressão muda. — Qualquer coisa que acontecer você pode usar sua credencial para ir para trás do palco.
  — ... Eu sei me cuidar. Já fui em muitos shows antes de te conhecer.
  — Eu sei... Eu sei...
  — Eu também me preocupo com você e com os meninos, então tomem cuidado enquanto estiverem aí. — Ele assente.
  Nesse momento, parecia que nem eu e nem ele queríamos desligar o telefone, pois ficamos algum tempo nos encarando.
  — Te amo. — Era visível o cansaço dele, então resolvo me despedir de vez para que ele pudesse descansar.
  — Também te amo... — Respondo, enquanto me acomodo na cama.
  Sorrio para ele antes de desligar o telefone.
  Fechei meus olhos e suspirei. Faltavam poucos dias para eles chegarem em São Paulo e eu não fazia ideia se iria conseguir vê-lo antes do show.

***

  Acordo antes do despertador tocar com uma ansiedade enorme. Olho pela janela do meu quarto. O céu está meio acinzentado, mas por incrível que pareça, o tempo parece meio abafado. Me espreguiço, porém ainda fico jogada por um instante na minha cama em completo silêncio. Meus pais já saíram para trabalhar, então eu estou sozinha em casa.
  Pego meu celular e percebo que não recebi nenhuma mensagem. Eu sei que pelo horário já está vindo para São Paulo. Na realidade, eu sei muito bem como funciona a agenda deles, e não, não é porque namoramos, mas porque a empresa não muda nada do cronograma deles. É sempre uma agenda apertada. Voo cedo, transporte reservado, às vezes saída do aeroporto por um local onde as pessoas não tenham acesso. Segurança reforçada, isso acontece às vezes, mas nem sempre. Uma sequência de compromissos que se você não tivesse pique, desmaiaria apenas em olhar.
  Decido levantar da cama e tomar um banho. Minha ideia inicial é chegar no hotel antes dos meninos chegar, então coloco uma roupa discreta. Um look all black que eu sempre uso quando estou trabalhando, e um boné. Levo meu crachá da equipe técnica, assim eu consigo transitar com maior facilidade no hotel. Até porque nem todo mundo da produção irá ficar no mesmo hotel que eles, então eu não sei muito bem como vão fazer com esse entra-e-sai do local e como será o controle do pessoal da produção e até mesmo do hotel.
  Enquanto tomo meu café na cozinha, recebo uma notificação do :
  “Chegamos no hotel. Você irá vir mesmo, né? Estou com saudades."
  Sorrio que nem uma idiota. Eu também estou com saudades dele. Faz algumas semanas desde a última vez que nos vimos pessoalmente.
  Meu plano de estar no hotel antes deles chegarem foi ladeira abaixo, mas tudo bem. Aviso para minha mãe que eu estou saindo de casa para encontrar meus amigos da produção do show e pego minha bolsa de cima do sofá e os óculos de sol que tinha deixado em cima do móvel da sala e saio do apartamento.

  O hotel é discreto, mas um dos melhores de São Paulo. Eu sei que há uma entrada reservada, e que a segurança era boa, porém mesmo assim meu estômago revirou um pouco ao perceber que alguns fãs já estavam em frente ao hotel. Já no saguão um dos funcionários da produção me encontra rapidamente e pede para eu faça o check-in do meu quarto de hotel. Por um momento fico confusa, mas rapidamente eu entendo. Para circular sem levantar suspeitas eu teria que me fingir de hóspede.
  Apesar da quantidade de fãs na rua, o saguão está calmo. Claro que é perceptível que alguns fãs estão hospedados neste lugar, e mesmo que eles tentem passar despercebidos, é fácil identificar os fãs dos meninos.
  Depois de fazer meu check-in, caminhei pelos corredores do hotel até encontrar o quarto que eu precisava achar. E antes mesmo que eu batesse na porta, ela se abre devagar e sou puxada para dentro.
  — Você veio... — estava ali, parado na minha frente.
  Seu cabelo está levemente bagunçado. Ele veste uma regata preta e, mesmo com seus olhos cansados, sorria para mim.
  — Achou mesmo que eu não viria ver você antes do show? — Fecho a porta atrás de nós e volto para o seu abraço.
  Sem pressa. Só nós dois, ali... abraçados.
  — , quando eu perguntei se você viria, você disse que não. — Soltei uma risada contra seu ombro.
  — Ainda acredita em tudo que eu falo? — É tão bom poder sentir o cheiro dele depois de tanto tempo.
  — Às vezes. — Ele segura minha mão fortemente.
  — Como foi o voo? — Pergunto.
  — Rápido, mas cansativo. — faz um beicinho.
  — E os meninos? — Eu também estava sentindo falta deles.
  — Saíram para aproveitar o resto do dia.
  — E você não quis ir? — Desgrudo minha cabeça de seu peito e arqueio minha sobrancelha.
  — Sabia que você viria.
  — Senti sua falta, de verdade. — Encosto minha cabeça em seu peito, seus dedos acariciando meu cabelo.
  — Eu também. Eu também.
  Levanto minha mão e acaricio seu rosto. Ele parece tão cansado, e mesmo assim teve tempo para me receber. É inevitável não sentir um misto de emoções. Parece tão irreal que estivéssemos realmente nos vendo depois de tanto tempo, que neste momento eu só quero que o mundo congele para que possamos aproveitar.
  E então, como num passe de mágica, ele se aproxima de mim.
  Devagar. Como um lobo.
  Minhas mãos acariciam seu rosto delicadamente; seu nariz roça o meu. Seu olhar diz muito. Um gesto delicado que eu conheço muito bem.
  Fecho meus olhos, sentindo sua respiração tocar na minha pele suavemente. O beijo é lento, calmo. No entanto, sou capaz de sentir seus dedos afundando em minha cintura, me puxando para mais perto enquanto nossos lábios continuam se tocando.
  Não existe pressa e muito menos urgência para acabar com o beijo. Nossos corpos demonstram palavras que, neste momento, jamais conseguiriam ser ditas. Pela primeira vez em semanas eu finalmente sinto que sei exatamente onde estou.
  Nos braços dele.
  Em casa.
  — Agora sim eu me sinto aliviado. — Sua voz não passa de um sussurro. Nossas testas ainda estavam coladas uma na outra.
  — Eu também.
  — Você vai ficar? — me pergunta, enquanto seus dedos brincam com os fios do meu cabelo.
  — Já sabe a resposta. — Olho profundamente em seus olhos.
  Eu estava em casa.

***

  Acordei antes mesmo que meu despertador pudesse tocar. Eu queria estar cedo lá, e apesar de não estar indo com nenhuma roupa muito elaborada... Na realidade, eu estava indo com a blusa da turnê dos meninos. Precisava de um tempo legal para poder me alimentar bem antes de ir para a fila.
  Não é possível ver muito bem como estava o céu, afinal, são apenas cinco horas da manhã, porém dá para ver que claramente havia chovido mais cedo. Checo meu celular para saber como estava a fila para o show e fico levemente chocada ao ver que estava consideravelmente grande, muito grande. Minha ideia inicial era aproveitar o máximo do show e a energia dos fãs, mas levaria meu crachá de staff para caso acontecesse alguma coisa e eu precisasse sair.
  Me levantei da cama para verificar a bolsa que havia deixado arrumada no dia anterior e fui para o banheiro me aprontar. Prendo meu cabelo e coloco um pouco de gel para que ele não fique desalinhado. Coloco um brinco médio para que não ocorresse nem acidente e saio do banheiro depois de colocar a roupa para o show.
  Quando cheguei na cozinha, fiquei surpresa em encontrar minha mãe lá.
  — Por que você está acordada? — Pergunto.
  — Hoje é o dia do show. — Ela sorri para mim. — Sabia que minha filha é teimosa e que iria acordar cedo para pegar fila. Fiz seu café da manhã.
  — Mãe... — Minha mãe para na minha frente, colocando sua caneca de café na mesa e arrumando meu casaco.
  — Tenho que me acostumar com você sendo uma mulher e não uma criança. — A escuto suspirar.
  — Mãe... — Pego sua mão. Eu sabia que tudo isso ia além de eu ir para um show, era também a falta que ela sentia. — Você não precisa se preocupar, sua filha já é adulta. — Falar sobre os sentimentos da minha mãe sempre foi um tópico sensível para ela, que apesar de me apoiar, preferia que eu estivesse em casa com ela e meu pai, mesmo que nunca tivesse falado sobre isso abertamente.
  No fundo eu sabia, ela sabia e meu pai sabia. Mas nós sempre decidimos deixar isso guardado no fundo das nossas almas para que não abalasse o meu crescimento. Talvez minha mãe se arrependa profundamente por ter tido apenas um filho, afinal, no fim ficou ela e meu pai morando sozinhos em um apartamento tão grande.
  — Só não queria que esse dia chegasse...
  — Por quê? — No fundo eu sabia onde ela queria chegar, mas como ela estava dando uma brecha para conversarmos sobre o assunto, apenas deixo que ela expressasse seus sentimentos.
  — Porque isso quer dizer que em breve você irá embora. — Ela não estava errada. Eu realmente iria embora nos próximos dias.
  — Você sabe que isso nunca é um adeus. — Sorri, a puxando para um abraço apertado.
  — O que está acontecendo aqui? — Meu pai aparece na cozinha, com o rosto inchado.
  — Nada. — Eu deixaria para que minha mãe compartilhasse seus sentimentos com meu pai mais tarde.
  Tomo meu café na companhia dos meus pais e arregalo os olhos ao olhar para o meu relógio. Se eu quisesse ficar em um bom lugar, eu precisava sair imediatamente de casa. Meus pais insistiram em me levar até o estádio, então eu apenas os deixo apreciar o momento deles.

  Chegando no Morumbis, é possível ver a rua cheia de pessoas, então eu desço do carro e entro no fluxo, fazendo parte daquele momento. Durante o caminho, é possível escutar as conversas animadas das pessoas ao meu redor, os rostos ansiosos daqueles que esperaram anos por este momento. As filas estavam gigantes, como eu havia imaginado, e lá era possível ver um pedacinho de cada parte do Brasil. Norte, Sul, Centro-Oeste... Pelas conversas, escuto as histórias sobre o que os fãs passaram até chegar aqui. Avião, ônibus... O pessoal que chegou e já dormiu na fila... É incrível escutar, mesmo que por fora, a história de cada um ali.
  E depois tinha eu, o céu nublado e uma sensação como se fosse a primeira vez que eu estivesse os vendo se apresentarem.
  Foi quase duas horas da tarde quando os portões para a entrada VIP finalmente abriram. Um atraso de quase quatro horas. Começou então a corrida para a validação do ingresso, revista dos nossos pertences e uma fila até a entrada do local do show. Depois disso era cada um por si e um sonho de conseguir a tão sonhada grade.
  Às três em ponto eles surgiram. E com a primeira música do soundcheck, a chuva. Porém, nem ela fez com que as pessoas desanimassem, porque ver os oito no palco foi algo que tocou a alma de cada um que estava ali.
  A voz do surge após a primeira música. Ele e os meninos, cada um, sorriam de uma forma tão fofa, como se eles estivessem gratos por estarmos ali por eles, mesmo depois de anos de espera.
  A chuva aumenta um pouco, e os meninos acabam pegando guarda-chuvas para se protegerem, e em todos os momentos que o teve para falar, ele pede para que fossemos cautelosos e que nos cuidássemos. As pessoas ao meu redor riem e choram apenas por estarem vivendo aquele momento, que é tão mágico.
  A passagem de som dura aproximadamente quinze minutos e foi interrompida pela constante chuva. Ninguém, contudo, parece frustrado, afinal, o pouco que tivemos foi o suficiente para alimentar cada uma das pessoas que estão no soundcheck.
  E então... A espera pelo show começa.
  O show está programado para começar às sete e meia, e eu sei que os meninos e a produção seriam pontuais, exceto, é claro, se algo acontecesse. A chuva durante esse período ia e voltava, mas nada disso parece abalar as pessoas ao meu redor. Quem está próximo à grade concorda em se sentar no chão para que ninguém ficasse cansado até o show começar. A multidão canta as músicas que tocam, como se estivessem dando seu próprio show para o Stray Kids, tudo muito lindo.
  Eu estava ali na grade com outras pessoas, minha roupa molhada mesmo com a capa de chuva. Eu posso sentir meu tênis encharcado, mesmo assim, meu coração está leve.
  Realizado.
  É claro que eu já tinha vivido a experiência de ir a um show deles anteriormente, mas nada se compara a este momento, pois ninguém no mundo demonstra o sentimento que as pessoas ao meu redor estão demonstrando.
  Olho em torno de mim e vejo rostos emocionados, ansiosos. Ali ninguém lembra de brigas por causa de photocardsou de todos os estresses e perrengues que passaram para chegar até ali. Não. Neste momento, as pessoas compartilham o amor que sentem pelos meninos, uma conexão que não precisa de explicação, pois todas as Stays sentem.
  Às sete e meia em ponto, as luzes se apagam, mostrando novamente o profissionalismo da equipe de produtores que estavam por trás do palco.
  Neste momento, os gritos das pessoas ao nosso redor aumentam, demonstrando todo o amor e entusiasmo que guardaram por sete anos. A vibração das pessoas ao meu redor faz os pelos do meu braço se arrepiarem. E quando Mountains começa a tocar, o estádio foi à loucura.
  Os gritos vão aumentando cada vez mais, e sorrio abertamente. Eles sempre se perguntavam se existia um propósito para Stray Kids existir, e todas as vezes a resposta foi Stay. Presenciar esse momento em que eles são ovacionados de uma forma jamais vista antes, faz com que meu coração transborde de felicidade.
  Eles merecem.
  E no meio dos meninos, eu o via.
   .
  Com um sorriso de orelha a orelha, olhando para os meninos como se não acreditasse em tudo o que estava acontecendo.
  Com isso, a chuva volta sem pedir licença. Mas parece que nada disso consegue nos abalar. É como se este momento estivesse sendo escrito para nós, por nós e para eles... Por eles...
  Foi aí que uma melodia suave começou a tocar, e quando a primeira nota quebrou o ar, reconheci que música viria a seguir.
  Cover me.
  A chuva parece aumentar um pouco, mostrando sua persistência. Porém isso não foi um incômodo, pelo contrário, ela parecia transformar completamente o momento. Quase como se soubesse que era para cair exatamente naquela hora.
  Parei de gravar e fechei meus olhos para sentir aquela música. Aquele momento.
  A melodia que era capaz de tocar todos os corações. E quando menos espero, lágrimas começam a escorrer.
  O sol sempre estará lá, esperando após a chuva.
  Cada letra parecia ter sido escrita para entendermos as possibilidades e sentimentos que perpetuam em nossos corações. Ela estava ali para expressar as dores que sentíamos dentro de nós mesmo sem saber o porquê. Cover me... Se tornava um pedido de ajuda, um apelo silencioso daqueles que não aguentavam mais segurar tudo sozinho.
  Foi neste momento que abri meus olhos e encarei profundamente.
  E sorri.
  Os fãs ao meu redor parecem viver aquele momento, inertes em seus sentimentos.
  Cover me não é apenas uma música, pelo contrário. É um espelho dos nossos sentimentos. Aqueles que preferimos guardar a sete chaves, pois nunca achamos serem dignos de serem expostos lá fora.
  E a chuva... Ela tornava esse momento ainda mais especial.
  A voz de cada um carregava tantos sentimentos, sentimentos esses que eu sabia que muitos fãs não conheciam.
  Ali, por mais que eles fossem idols, suas vozes carregavam uma dor... uma dor que apenas eles sentiam.
  O vento que sopra suavemente junto com a chuva me fez lembrar de muitas coisas. Dos dias que passei sozinha, e das noites em que a ansiedade do que poderia acontecer no dia seguinte não me deixava dormir.
  A vontade de largar tudo e recomeçar novamente.
  E por fim lembrei dos momentos em que a música foi a única coisa que me segurou por inteira por um bom tempo.
  E então eu chorei. Não porque eu estava triste, mas porque eu me perdoava.
  Fecho meus olhos e me deixo levar pelo resto da música. Era como se eu escutasse falando em meu ouvido o tempo todo. “Eu vejo você como uma pessoa capaz de superar todos os obstáculos e lutar todos os dias para sobreviver.”
  Foi neste momento, entre tantas vozes cantando, que eu me senti forte.
  Talvez seja estranho falar sobre isso.
  Talvez eu não consiga ter palavras suficientes para explicar.
  No entanto, se você já sentiu um aperto em seu peito apenas de escutar uma melodia, e que essa melodia foi seu porto seguro por muito tempo, irá entender o que irei falar.
  Hoje, não existem títulos. Eu sou apenas uma... fã.
  E por isso quero que você saiba.
  Você é forte.
  Talvez ninguém fale isso com frequência, pois ninguém realmente sabe o que você está passando. Mas você é forte.
  Você que luta batalhas internas todos os dias com um sorriso no rosto sem demonstrar fraquezas, sem mostrar suas cicatrizes.
  Saiba que você é forte.
  E se nada estiver dando certo, quero que você saiba que tudo bem não estar bem. Tudo bem você precisar de uma música para continuar todos os dias. Pois a música também é um abrigo.
  E mesmo que tudo pareça difícil, saiba que você não está sozinho.
  A gente sobrevive.
  Porque existem músicas que são capazes de nos cobrir nos momentos mais difíceis.
  Ser fã não é apenas comprar álbuns, dar streams, ou ir a shows.
  Ser fã é sentir e retribuir.
  A música é capaz de nos conectar, de nos salvar.
  É capaz de nos ajudar a sobreviver com a voz que te alcançou onde ninguém conseguiu antes.
  De te fazer se reconhecer em um refrão e permitir que você chore com liberdade.
  E se até hoje você nunca ouviu isso antes...
  Eu vejo você.
  Eu sinto você.
  E lembre-se...
  O sol sempre estará lá, esperando após a chuva.

FIM



Comentários da autora

  N/A: Vamos lá... Eu escrevi essa história uma semana depois do show do SKZ em São Paulo, e pensei durante esse tempo todo se eu postaria ela ou não.
  A história mistura momentos vividos no show, mas também traz a ficção que tanto amamos.
  Eu queria que essa história fosse sobre amor, mas também queria trazer o ponto de vista de um fã.  Por isso que a Alice, que mesmo sendo namorada do personagem principal, também sente, e ama como uma fã. Apesar de ela ter conhecido ele antes de se tornar fã do SKZ.
  Por isso, o momento em que ela descreve todo o sentimento que uma música causa para uma pessoa foi algo que pensei com muito cuidado e carinho, pois essa é uma realidade que muitas pessoas vivem ao escutar uma música. Por exemplo, pra mim por muito tempo minha música de conforto foi Too Close for Comfort do McFly, então eu queria trazer essa parte em que as pessoas encontram abrigo em vozes de pessoas que nunca estiveram ao seu lado pessoalmente.
  E é por causa disso que Alice ama, mas também sente.
  Não queria que esse final ficasse parecendo que temos dependência de alguém, pelo contrário, queria falar que às vezes, a música é só um sussurro silencioso demonstrando que não estamos sozinhos.