Purity
Escrito por Déborah Amorim | Revisado por Debbie
“Talvez vocês não queiram saber nada disso, crianças. Talvez não queiram ler as palavras de uma velha senhora contando o que a fez acreditar no amor. Mas há uma lição que quero deixar, o meu legado. Agora, em meu leito de morte, quero revelar a vocês, jovens, uma coisa linda e tão pura.”
Foi o que li no verso da carta amarelada, devido ao tempo. Era a letra de minha avó, reconheci, não de minha mãe, como pensei que seria. Anos pensando que nada a senhora deixara para trás e encontro essa relíquia. Acomodo-me mais no sofá e suspiro buscando coragem para continuar. As lições da vovó nunca passaram despercebidas por minha vida, há hipóteses de que eu não esteja pronta para mais uma.
Passo o polegar sobre o relevo da tinta preta, aquela caligrafia da qual senti tanta saudade... Não poderia simplesmente ignorar algo que custou seus últimos tempos de vida. Horas, minutos, segundos. Não saberei se não ler, e isso serviu como um incentivo. Suspirei mais uma vez e abri o envelope, encontrando um pergaminho que não demorei a desenrolar.
“Sempre invejei os jovens. Tão novinhos e ingênuos, sem preocupações... Quando criança, o que eu mais queria era crescer, quando adolescente, eu só queria que essa fase passasse logo, quando adulta, eu só gostaria de voltar no tempo e reviver tudo. Agora, quando idosa, estou podendo reviver isso, a minha vida, por meio de uma caneta de tinta e papel, mas lembranças são valiosas e quero deixa-las gravadas para alguém lembrar-se delas quando eu não puder. Vamos começar pela parte que mais me marcou e vai dar início à nossa lição: O dia em que conheci o amor da minha vida.
Clichê, sem dúvida, mas em um dia nublado, o que não é surpreendente em Londres, eu saí para a minha monótona rotina: escola, lanchonete, curso, um cafezinho, uma passada na livraria para ler um livro clandestinamente, e então casa. Nunca foi mais diferente do que isso, no máximo quando era chamada para uma festa de uma amiga ou um almoço em família, ou quando me obrigavam a passear com o cachorro pulguento do vizinho e que só expele baba, como um favor. Era uma típica adolescente, gostava de uma banda e só queria ficar em casa assistindo séries. Mas naquele dia... Ah, naquele dia foi diferente.
Eu estava andando na movimentada avenida, pronta para virar na esquina e mergulhar na calmaria da rua da Waterstone’s Piccadilly, o meu destino. A livraria vivia cheia, então sempre entrava lá e lia alguns capítulos de um livro, acredito que não era a única, mas fui a única em que o funcionário reparou. Já estava na metade do livro escolhido, vinha lendo-o fazia algum tempo, e um garoto esbelto, musculoso, com pinta de badboy e um sorrisinho de lado como se dissesse "te peguei no flagra", se aproximou. Percebi até a charmosa pinta no pescoço dele, mas não percebi que vestia o uniforme da loja e simplesmente continuei lendo a obra.
- Que feio, que feio... - ouvi uma voz masculina atrás de meu ouvido. Pulei de susto e acabei fechando o livro sem marcar a página. Meu pior pesadelo. Olhei confusa para o dono da voz firme e rouca, me lembro, que me fez uma bela ameaça sobre contar ao chefe minha ida à livraria apenas para ler livros sem pagar. Eu poderia ir a uma biblioteca, claro, mas qual seria a graça, não é mesmo? Eu era jovem, gostava de testar as consequências. Ah, consequência... A da minha adoração por livros, foi, com certeza, a melhor e mais marcante. Quando o garoto fez a acusação, eu, bobinha, disse a primeira coisa que me veio à cabeça:
- Eu estou só... Hm... Folheando o livro! É, folheando o livro, pra ver se a história é boa, você sabe.
- Eu estive te observando - mordeu os lábios - e você está "folheando" o mesmo livro há muito tempo.
- Ah, é que... É que... Eu não gostei muito do livro, então estou procurando algo legal... Vai que... Vai que eu me arrependo de não ler ele... - gaguejei. Obviamente eu não convenci o garoto, que ergueu a sobrancelha esquerda e me olhou com desaprovação. Nunca vou esquecer aquele olhar, oh não, não mesmo. Ele só ficou mais encantador me olhando daquela maneira, mas isso não o impediu de me expulsar da loja naquele dia. Dia qual nunca irei me esquecer, digo, não sei se memórias permanecem depois que as pessoas se vão, então espero que esse fato seja lembrado por outra pessoa, senão eu. Eu voltei à Piccadilly depois disso, e voltei a encontra-lo também, e surpreendentemente ele não me expulsou, continuou atendendo aos clientes, sempre de olho em mim, eu percebia, e quando o movimento baixava, ele sentava ao meu lado e me observava ler. Só isso. Nenhuma palavra, nenhum aceno com a mão ou com a cabeça. Eu não o encarava muito, era insegura, uma mera adolescente. Rio de meu comportamento agora, mas toda mulher passa por isso, eu acredito que sim.
Por dia ficamos assim, mas em um de seus dias de folga, ele apareceu lá. Na hora não admitiu, mas gosto de pensar que foi só para me ver. Ah, garoto encantador. Naquele dia conversamos como velhos amigos e sua primeira fala a mim foi:
- Vejo que esse já é outro livro... Me diz, quantos você já leu desse jeito?
Oh, dia feliz. Ele foi um ótimo companheiro e nem vi a hora passar. Conversamos, falamos sobre livros principalmente, e ele me chamou para uma volta no quarteirão. Aceitei sem remorso, mas, como escrito anteriormente, nem vi a hora passar, e meus pais não aprovaram meu comportamento quando cheguei em casa. Pais, sempre querendo o bem de seus filhotinhos, sei como é isso agora.
Continuei me encontrando com Miller, esse era seu nome."
Parei de ler, com os olhos arregalados. Aquele não era o nome de meu avô, era fato e quase impossível imaginar minha avó amando outro homem que não fosse meu avô. Ah, , pare de pensar assim, ela nem disse que estava apaixonada por ele ou algo do tipo. Não tire conclusões precipitadas, garota! Volte a ler, volte a ler.
" era um ótimo companheiro, quase todos os dias saíamos juntos, fosse para um passeio na London Eye ou uma ajuda com o cão sarnento de meu vizinho. Depois de um mês começamos o que atuais jovens chamariam de ficar. Isso soa tão mal para uma velhinha como eu, naquela época não denominávamos essas coisas. Mas enfim, ficamos juntos por um tempo até ele me pedir em namoro. Ainda dou belas risadas com isso, mais um acontecimento clichê acorreu naquela noite. Ele tinha preparado velas e pétalas de rosa em uma casinha abandonada da região, qual adorávamos pela calmaria. O que não esperávamos era que, antes que o pedido pudesse ser feito, uma das velas caísse e queimasse uma velha cortina do local. Aquilo não foi muito preocupante, mas não tinha como apagar o fogo e, preocupados com a ideia dele se espalhar, chamamos os bombeiros, que nos expulsaram de lá. Sentamos encostados em um muro de pedra de uma casa. A vista à nossa frente não era das mais bonitas, mas me deitei sobre seu peito, sentindo seu calor. Lembro-me perfeitamente bem do diálogo trocado.
- Agora você sabe como é ser expulso de um lugar - disse-lhe com uma bela gargalhada.
- - ele pronunciou meu nome tão suavemente, balançando a cabeça como se desaprovasse minhas palavras. Sua voz era firme e firmou minha atenção a ela. - Não aguento mais um segundo. Quero poder te chamar de minha, de meu amor, te mimar, e poder acariciar seus cabelos dizendo o quanto te amo, porque é verdade, eu te amo, , e agora pergunto esperando a resposta mais sincera: você quer namorar comigo?
Ele olhava em meus e olhos e eu me derreti naquele momento, me entreguei completamente a ele, repetindo aquelas três palavrinhas maravilhosas. Não era precipitado, se você, minha criança, estiver pensando assim. Nos amávamos de alma. Já lhe escrevi, ele era o amor da minha vida.
Ficamos juntos por anos, mas não nos casamos, você já deve saber, meu atual marido não se chama , não é? Nosso romance acabou por uma causa boba, devo esclarecer. Minha memória está falhando e não me recordo da causa do término, mas ouve um término e foi a coisa mais dolorida que já me aconteceu.
Eu o amava e me assusto ao perceber que ainda o amo e daria de tudo para ver suas belas orbes encarando as minhas novamente, daquele jeito que só ele sabe. Tirei conclusões de que as coisas acontecem por um motivo, e o motivo de eu não ter permanecido ao lado de Fred fosse porque com ele eu não estaria escrevendo esta carta e não iria refletir tanto sobre o amor como agora."
Fechei fortemente os olhos. A carta estava acabando e agora, conhecendo minha avó, viria a conclusão e então sua morte. Eu deveria estar preparada para a verdade, e eu estou preparada para a verdade, só, talvez não nas palavras profundas daquela senhora. Antes de fechar a carta e a guardar, a curiosidade falou mais forte, e me rendi à maldita.
"Dedico minhas últimas palavras escritas àquele jovem que tanto predomina em meus pensamentos: eu amo você, e espero que nunca tenha duvidado disso. O amor é puro, e assim purifica a alma daqueles que foram sujos pela vida. E a melhor coisa a se dizer, a coisa da qual mais me orgulho em dizer, é que eu senti isso, eu amei. Amei você. E não poderia haver gratidão maior que a minha. Eu amei. Eu amei. Eu amei. Eu te amei. E irei sorrir até depois do além ao me lembrar disso.
Minha pureza é sua como nunca será de outra pessoa.
Com carinho e muito, muito, muito amor,
"
FIM
Heeeeeeey! Purity é a primeira fanfic que eu tomo coragem de postar e não foi algo do tipo "estou com vontade de escrever uma fanfic", mas sim algo mais refletitivo. A fanfic surgiu em uma das minhas crises e eu tenho que agradeçer à Michelle, porque ela foi a primeira pessoa a ler e disse que iria me matar se eu não colocasse o nomezinho dela aqui, e à Dada linda do meu coração, porque ela disse que a fic inspirou ela e que ela ficou chorosa!
E eu tenho que agradecer à vocês que estão lendo/leram/vão ler, sei que o agradecimento está parecendo coisa de longfic, mas acho que, como minha primeira fanfic postada, Purity merece isso, não é mesmo?
UM SUPER-MEGA-HIPER-BLASTER BEIJO PRA VOCÊS QUE LERAM E GOSTARAM, Debbie xx