Promessas

Escrito por Gabbi Levesque | Revisado por Debbie

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Capítulo Único

  Ele nunca fumara. Nem charutos, nem maconha, sequer um cigarro. Mas ali, jogado ao relento, confuso e com frio, achava a fumaça translúcida e expressa, que expelia dos pulmões extremamente reconfortantes.
  Ele sempre evitara este tipo de droga, ou qualquer outro tipo também. Era ruim, vicioso, fazia mal, e quando tinha treze anos, no leito de sua tia, Maggie, que morria lentamente de câncer de pulmão, ele prometeu nunca na vida colocar um cigarro sequer na boca. Também prometera, no dia em que seus pais se separaram que nunca deixaria nada na vida fazê-lo deixar a pessoa que amava.
  Mas parece que era alguém enviado, para que ele quebrasse todas as suas promessas.
   expirou, liberando a fumaça nociva de dentro dos pulmões e acariciou o pelo macio e cor de chocolate do cachorro de rua, que estava ao seu lado. Felizmente, o cachorro não reagiu, apenas abanou as orelhas.
  Ele nunca achou que pudesse ter que atravessar a ponte de pedras para o lado negro da cidade, apenas para comprar um cigarro e sentar abaixo de um poste que emitia uma luz bruxuleante, em um semicírculo ao seu redor com um cachorro de rua ao lado e a mente conturbada.
  Havia muitas coisas que achava que nunca faria que, afinal, acabou fazendo. Apaixonar-se por um garoto, por exemplo. Modelar para uma linha famosa de roupas. Trair o garoto que amava por vingança.
  Ele passou a mão direita nervosamente pelos cabelos castanhos. Não havia sido culpa dele, no todo. Ele não teria feito aquilo se não fosse por . Era culpa dele! Maldito garoto estúpido! Por que sempre tinha que fazer besteiras? Por que sempre tinha que fazê-lo fazer besteiras? Era algum tipo de carma?
  Se tivesse chegado antes, ou um pouco depois, talvez não tivesse que ter presenciado tal cena. Era repugnante, terrível. estava deitado na cama – na cama deles – e seus olhos fechados em deleite, os lábios entreabertos enquanto seus dedos entrelaçavam os cabelos de um cara, pressionando a cabeça dele contra a região entre suas pernas. não precisou ver nada mais daquela cena angustiante para bater a porta e sair em disparada pela rua tranquila, onde moravam em direção àquela parte da cidade.
  Dos prostíbulos, dos bares e das boates barulhentas. Entrou em um dos bares mais sujos que conseguiu encontrar e agarrou o primeiro menino que viu pela frente. não poderia chutar a sua idade, ele poderia ter dezessete, como poderia ter vinte e dois, mas tinha os cabelos escuros como os de e esta semelhança foram o bastante para que o escolhesse. O garoto não resistiu em dar o que queria. Uma traição de igual para igual. Ao terminar, comprou um cigarro e caminhou muito através dos becos até chegar a uma rua deserta, exceto por um cachorro e um hotel abandonado. E lá ele estava. Com o cigarro aceso e os pulmões tão destruídos quanto o seu coração.
  Ele achou que esses dias tinham acabado, que tinha finalmente amadurecido e sossegado. Que tinha deixado os dias do acampamento, shows e a farra de adolescente para trás. Era claro que tinha se enganado. Apesar de tudo, ele saberia aonde os meninos do acampamento vão. Para cama com o seu garoto. nunca cresceria. Nunca deixaria de ser um moleque. Assim como você, relembrou uma vozinha irritante em sua mente.
  Ah, se pudesse vê-lo. Desiludido, com trilhas de lágrimas reluzentes em seu rosto e quebrando suas duas mais importantes promessas. Não faria diferença de qualquer jeito. Aquilo não era um filme, não apareceria de repente com um buquê de flores e um pedido de desculpas e tudo voltaria a ser como antes.
   não queria, mas checou o celular. Trinta e quatro chamadas perdidas, vinte e duas mensagens de texto e a caixa de mensagens de voz, lotada. Apesar de sentir que se arrependeria, apertou a tecla para ouvir uma das chamadas de voz.
  - , me... Desculpe-me! Eu posso explicar, não foi nada disso que você pensou. Na verdade era sim, mas eu... Estava com problemas, eu... Desculpe-me! Onde você está? Responda assim que puder, por favor! - A voz desesperada e chorosa de fez com que atirasse o celular do outro lado da rua. O celular bateu com força na parede de concreto e caiu no chão espatifado.
  Ele enterrou a cabeça com força nas mãos, apoiadas nos joelhos. Ele não sabia onde iria passar a noite, mas não queria voltar para casa. Não queria ver . Mas tudo o que queria era voltar para casa e vê-lo. Abraçá-lo como nunca o abraçou, inalar seu perfume cítrico e atirá-lo na cama. Quando caírem cansados sobre os lençóis, suados e cansados, dizer-lhe no ouvido:
  - Fique do meu lado. Não vá.
  Gostaria de pensar que tudo o que teria feito era perder a cabeça. Que o que acontecera fora uma queda momentânea, um impulso, uma tentação. Mas não era. Corações se quebravam, ele sabia. Nunca pensou que ter o coração quebrado era tão doloroso. Ou tão indolor a ponto de esfriar seu sangue para que pagasse a traição com a mesma moeda. Agora já era tarde demais para que consertasse o que fez.
  Com um peteleco, jogou o toco do cigarro no meio fio e apertou-o com a ponta do tênis para apagá-lo e ver as cinzas grudarem na sola.
   voltaria para casa, é claro. Cruzaria a ponte de pedra e correria para casa o mais rápido possível. E ao abrir a porta de entrada, encontraria apenas de roupas íntimas andando em círculos pela sala. Ele beijaria os lábios doces do garoto e quando este, confuso e preocupado, finalmente lhe perguntasse onde fora, apenas diria que fora passear com o cachorro. E acariciaria o pelo marrom do bicho que agora parecia um velho amigo.
  Não valia a pena ficar remoendo algo que não poderia reverter. Teria que seguir em frente. E guardar dentro de si este segredo. Porque, afinal, haverá coisas que ele nunca vá saber. E há também coisas que nunca saberá.

FIM



Comentários da autora


  Então, isso não ficou como eu gostaria que ficasse, mas espero que vocês tenham gostado. Tentei captar a essência e as entrelinhas da música e realmente espero² que tenha conseguido. E também espero³ que vocês comentem. Até a próxima <3