Power & Control

Escrito por Maria Clara Guerra | Revisado por Bella

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Capítulo Um

Feel alive!

   sempre gostou de como livros a faziam viajar. Ela podia ir à outra época, outro país, outra realidade... Só precisava deixar os olhos vagarem pelo livro e a mente viajar pela história. Era tão mágico, mas tão real... Era do que ela precisava para sentir-se viva.
  Era só mais uma das noites de sexta-feira, as noites que passava debruçada sob um livro na mesa velho de carvalho, no canto mais afastado da biblioteca pública de Nova York. Ela ouvia o "tic tac" nervoso de seu relógio de pulso, anunciando que seu tempo estava se esgotando. Ela ouvia os passos nervosos e irritados da bibliotecária, uma senhora de mais de oitenta anos, chamada Philis, querendo encerrar o seu expediente mais cedo, expulsando dali a sua única e mais fiel leitora.
  - São sete horas. Acabou o meu expediente e o horário de funcionamento da biblioteca. – Philis diz seca.
   leva os olhos ao seu relógio. Eram seis e cinqüenta e oito.
  - Não, não são. – seu estômago embrulhou ao contastar que um minuto havia se passado – São seis e cinqüenta e nove. Eu tenho um minuto. – Ela tinha consciência dos olhos de Philis cravados em suas costas como navalhas, mas ignorou. Não sairia dali até o relógio mostrar sete horas.
  - Pois eu digo que são. SAIA DAQUI! – Philis bate a régua de madeira sempre constante, fazendo um estalo ao atingir a parte de trás da cabeça da garota, fazendo-a saltar, fechando o livro de qualquer modo e largando-o ali mesmo (afinal, quem pegaria um livro de histórias sobre a constituição americana?) e andou apressadamente para a saída, os cabelos loiros chicoteando em suas bochechas.
  - VAI LOGO! EU TENHO QUE IR! – Philis parecia irritada demais para uma idosa de aparência doce. Talvez isso explicasse os quatro casamentos, concluiu , ao apressar-se ao atravessa a porta, o ar frio da noite lançando-lhe calafrios pela espinha. Ela gira o corpo a tempo de ver Philis trancando a porta e deslizando em direção ao ônibus que tinha acabado de parar no ponto.
  Enquanto pensava em como iria pra casa naquela noite (de modo algum ela entraria naquele ônibus junto com Philis) e se seus pais teriam tempo para buscá-la, ela ouviu um farfalhar vindo do parque do outro lado da rua. Enquanto procurava a origem desse som, ela viu duas pessoas atravessando a rua e vindo em sua direção. Era uma garota com cabelos ondulados e ruivos, que iam até a linha da cintura, e um garoto de cabelos negros e olhos tão azuis que conseguiu vê-los de longe.
  - E aí? – o menino pergunta ao chegar perto dela, um sorriso um tanto afetado no rosto. dá um sorriso só para não parecer antipática, mas fica quieta. Não era do tipo que sabe conversar, ou que é cheia de amigos. Sempre foi ela por ela mesma.
  - Então... Vai ficar aí a noite toda? – Pergunta a garota depois de quase dois minutos de silêncio. O garoto vai em direção à porta. – Bem que seja meu nome é...
  - ! – o garoto ri como se tivesse contado a melhor das piadas.
  - Cale a boca! Não me chame de , nem se você se tornar minha amiga. Sou . Ou vossa alteza, se você preferir. – ela dá mais um sorriso enquanto ergue uma sobrancelha. Quem eram aquelas pessoas, afinal? – O engraçadinho é o .
  - Consegui! – ele diz, ou melhor, grita. comemora e vai até ele, trocando um hi-5 animado.
  - Conseguiu o... – os olhos de vão até a porta, onde antes estavam e , mas agora, estava escancarada. Ela cerra os olhos e consegue ver os cachos ruivos de lá dentro. corre apressada até a batente da porta, e para, como se tivesse uma barreira invisível impedindo que ela entrasse. – Esperem, vocês vão invadir a biblioteca?
  - Ah, não vamos, querida. – surge na frente dela, sorrindo – Já invadimos. - a risada doce e estranhamente alta de soa ao fundo. – Não vai contar para ninguém, vai? – ele completa.
  - Não... Eu só acho errado. – ela responde, após um pouco de hesitação. – Por que estão fazendo isso? – Com tantos lugares legais para invadir eles escolhem uma velha e empoeirada biblioteca?
  - Para nos sentirmos vivos, baby! – surge atrás de e joga os braços envolta do pescoço dele. – Nós vimos que você foi quase jogada para fora daqui, o que significa que você não queria entrar. E também significa que você queria ter ficado lá lendo. E agora você pode. O que me diz?
  - Isso não vai me trazer problemas, vai? – ela pergunta, segundos antes de sussurrar algo no ouvido do garoto e sair correndo.
  - Não, de jeito nenhum! – Ele desaparece dentro da biblioteca, e lá de dentro grita – Só não toque em nenhum livro das prateleiras!
  - Ok. – murmura para si mesma, dando um passo para dentro, já esperando algum alarme soar, mesmo que e já tivessem passado por ali.
  A biblioteca tinha um ar todo mágico à noite. As prateleiras lançavam sombras nas mesas, e a arquitetura vitoriana do lugar o deixava parecendo uma masmorra. Era lindo.
  - Bu! – pula por de trás de uma estante, segurando uma lamparina a vela nas mãos, fazendo gritar, pulando de susto. ria alto, pousando a lamparina na mesma mesa que mais cedo estava lendo. – Não seja tão assustada, Rapunzel. – toca as pontas dos longos cabelos de , que sorri envergonhada e senta-se em uma das cadeiras, abrindo habilmente o livro, a lamparina iluminando a sua visão.
  Ela mal tinha acabado de ler uma página quando escuta um estrondo alto, e um grito assustado de , seguido por alarme MUITO alto. surge por de trás da seção de livros de aventura e grita os olhos arregalados.
  - QUEM QUE FEZ ISSO?! – aparece a alguns metros, o rosto ainda mais pálido, as mãos tremendo ainda mais ao ouvir sirenes se aproximando. A sede da polícia do bairro ficava na quadra ao lado.
  - Foi um acidente! – ela choraminga, e consegue ver que a outra havia simplesmente derrubado a seção de documentos históricos, que tinham, no mínimo, duzentos anos. corre até , puxando-a pelo braço até .
  - Estamos completamente ferrados. – choraminga temerosa. Ela não devia ter caído na ladainha de e e entrado ali. Era tudo culpa deles. Assim que termina a frase, a polícia começa a entrar. , em choque, paralisa completamente, sendo necessário que lhe desse um tapa para que ela começasse a correr, seguida por , e, logo atrás dela, .
   corre desesperada, desviando por entre prateleiras dos mais diversos livros. O aviso luminoso da saída de emergência gritava em sua mente. Mas, repentinamente, um vórtice dourado, que girava como um furacão, surge a cinco metros de distância. Sua primeira reação é parar, mas essa não foi à reação de , muito menos de . para quando já estão coladas as costas de , que firma os pés no chão, impedindo que caísse. Mas , preocupado demais em olhar para os policiais, tromba com tudo em , que atinge , fazendo os três serem engolidos pelo ‘furacão’.
  Tudo o que conseguia ver era um imenso vértice dourado, girando mais rápido que seus olhos podiam ver e se aproximando mais rápido do que ela queria. estava abraçada á cintura de , que tentava alcançar a bainha da camiseta de , que girava descontroladamente, balançando os braços numa tentativa patética de conter a aproximação do desconhecido.
  - O QUE É... – foi tudo que pode ouvir da boca de antes que os três fossem sugados pelo vórtice, despencando metros e mais metros em direção a um lago.
  O ar foge dos pulmões de , que se debate, desesperada por ar. Seus pulmões pareciam estar em chamas, e tudo que ela pode ver é água, do tom mais azul que existe. Ela começa a nadar em direção á superfície, e quando chega lá, tem vontade de chorar. Mesmos que por poucos segundos, ela pensou que iria morrer, e poder respirar depois disso fez todo o esforço de chegar lá em cima valer à pena.
  Um céu azul escuro com muito mais estrelas que deveria estende-se até enormes colinas. Árvores coníferas estendem-se pela parte de trás do lago, e cascalhos cobrem a margem dele, se transformando em grama ao chegar as arvores. arrasta-se pelo cascalho, os olhos semicerrados ardendo pela água que nele havia entrado, e assim quase batem em um poste de metal alto. Ela apóia-se no metal e se levanta, quase caindo novamente ao ler a inscrição nele posta.

  “Lago Ferris.
  Westery Bound 0.5 km”

  - Ai meu Deus. – ela treme dos pés a cabeça. Ela sempre tinha sonhado em entrar nos livros que lia, mas não em um que o final era, no mínimo, cruel.

Capítulo Dois

There’s a time and a place to die but this ain’t it

  - . , por favor, acorde. – não conseguia conter o desespero. Quando ele saiu do lago, ainda agarrada a sua cintura, pensou que tudo daria certo. Mas, assim que virou o rosto e se deparou com o rosto de sua única e melhor amiga, teve certeza que estava errado.
  A verdade era cruel: parecia um cadáver. Os cachos ruivos estavam grudados ao pescoço pálido, empapados de água, lama e sangue. Ele teve certeza que ela tinha atingido uma pedra quando eles despencaram do vórtice, a única explicação plausível para o corte longo que ia de um lado ao outro da testa dela, seguindo a raiz de seu cabelo. Os lábios dela estavam azuis, e os olhos, arregalados, a dor e o medo impresso neles.
  Tudo que ele pôde fazer, almadiçoando-se por não ter assistido nenhum documentário sobre sobrevivência durante todos os seus quase dezoito anos de existência, foi pegar a garota no colo e cambalear em direção à grama macia ali perto. Agora, ele tentava com todas as suas forças manter sua amiga lúcida com medo que ela caísse no sono e nunca mais acordasse.
  , de frente para , encostada no tronco nodoso de uma árvore, abraçando o seu próprio corpo, abre os olhos, assustada.
  - Eu estou acordada. – A voz dela soou fraca e dolorosa, o que fez se sentir pior ainda. Ele não devia ter insistido em invadir aquela biblioteca. Se não tivesse, estaria bem, provavelmente na casa dele, assistindo pela milésima vez os mesmo filmes de terror que eles assistiam toda sexta-feira à noite.
  - Me desculpe, - toma as mãos da garota às dele, apertando-as com força, como se aquilo de alguma forma fosse salvar a vida dela –, eu vou dar um jeito ni...
  - GRAÇAS A DEUS! – surge atrás de , que se vira assustado. – Eu pensei que vocês tinham parado em outra dimensão, ou que tinham morrido no lago e afundado, ou que alguém tinha pegado vocês e... Enfim, temos que sair daqui AGORA, esse lugar é perigoso demais. Talvez, já que o lago nos trouxe, talvez ele nos leve de volta, não? Não me parece ser má... – os olhos dela se focam em e o queixo dela cai – Meu Deus! O que aconteceu com você?
  - Bati a cabeça numa pedra no fundo do lago. E quase me afoguei. E pelo o que parece, ESTOU PERDIDA EM UMA DIMENSÃO ALTERNATIVA! – quase grita. baixa a cabeça murmurando algo como “sinto muito, vossa alteza”, e embrenha-se no bosque.
  - Não desconte seus problemas na . Ela não fez nada. A culpa não é dela. – diz baixinho, levantando-se – Eu já volto. – e vai atrás da outra, ignorando os sussurros irritadiços de .
   ouvia os passos cautelosos e acelerados de logo a frente dele, e via um lampejo de seus cabelos loiros ali perto, mas temia em alcançá-la. Por que, mesmo que tivesse conhecido ela a menos de uma hora, se preocupava com o bem estar dela? Ele sente bile subir ao estômago e chama pela garota.
  O vulto vira-se e o queixo de cai. Por mais que parecesse, aquela não era . A garota tinha as mesmas feições, o mesmo porte físico, os mesmos cabelos e até mesmo o mesmo ar de esperteza, mas os olhos, os de de um tom azul e vivo, eram roxos e vazios, cílios compridos e curvados emoldurando. A garota o encara por alguns segundos e dá um sorrisinho misterioso, sumindo nas árvores.
  - ? – o garoto quase salta de susto ao ouvir a voz de . Ele vira-se e vê a garota, desta vez com os mesmos olhos de sempre. – Por que está com essa cara? – ele engole em seco e conta sobre a garota de olhos roxos. fica pálida e assente, olhando ao redor. – , é o seguinte: estamos em um livro. Chama-se “O Conto de Westery Bound”, de Ariel Dorph. Ele basicamente conta a história de uma cidade-estado que é dominada por um ditador-tirano. Alguns cidadãos se rebelam e criam a Westery’s Army, para tentar derrubar o ditador e, bem... Eles conseguem, mas, bem... A W.A e o ditador, Sehsse, guerreiam e acabam dando início à uma guerra biologica-nuclear que, devasta boa parte da Terra. Precisamos sair daqui. Agora. – ela olha para as colinas à distância – Se , a garota que acabou de aparecer, de olhos violeta, já está aqui no Lago Ferris, significa que a guerra Sehsse VS Westery’s Army está prestes a começar. E que há algo errado. deveria estar com ela. – está prestes a começar uma pergunta quando é interrompido. – E, não, eu não sei por que ela é supostamente ‘idêntica’ a mim. Vamos até e tentar voltar. É a nossa única chance de salvamento.
  - Você acha mesmo que conseguiremos voltar para casa pelo lago? – ele pergunta, sabendo a resposta. A outra abaixa a cabeça em direção ao chão a faz que não, preocupada. Então uma expressão de choque atravessa seu rosto.
  - Ai meu Deus. , se eu estou certa, e na maior parte do tempo estou, estamos na parte do livro que , que é o herói, pode-se dizer que deveria estar seguindo , vê que o exercito está de acampamento montado nos arredores do Lago Ferris. Temos que sair daqui.
   engole em seco, já se virando para ir até , mas para. não estava ali. No lugar dela, apenas dezenas de soldados.
  Ele cambaleia para trás, empurrando para dentro da floresta. Ele escuta ela tentar dizer algo, mas, ao ver a gravidade da situação, permanece calada, dando passos cambaleantes, puxando pelo colarinho, que anda lentamente para longe dali, tomando o máximo de cuidado para não fazer barulhos algum.
  Crac!
  - Droga. – diz ao ouvir o som de um galho estalando sob o seu pé. Toda a cabeça, emolduradas por capacetes camuflados, viram para os dois, armas em punho. Tudo que consegue é empurrar ‘delicadamente’ para que ela se movesse, correndo o mais rápido que podia, agarrando o braço fino dela.
   corre logo sendo substituído por como guia que parecia saber exatamente para onde ir. Ele vira a cabeça para trás e o seu estômago embrulha. Três soldados seguiam-nos, armas e punhos e rostos sem expressão alguma. Ele volta a focar seu rosto para frente e acelera, empurrando pelos ombros.
  Os dois permanecem correndo ao máximo que podem até que ela para, respirando aliviada. Os soldados não estavam mais ali, foi o que pôde constatar quase alegremente, enquanto sentava-se em uma rocha.
  - ... – ele começa a dizer, culpando a si mesmo pelo desaparecimento repentino dela.
  - Vamos encontrá-la. Temos que achar o Westery’s Army. Eles vão tomar como um ataque á civil e iniciar um conflito; é claro que vai piorar as coisas, mas é nossa única chance de trazer de volta. – corre mais um pouco, então eles se vêem cercados de prédios de poucos andares, carros e pessoas, que assustadas os encaravam, sussurrando algo como ‘é essa a nossa ajuda?’. Mas parece ignorar, pois continua a andar, até que eles estavam na frente de um grande prédio vermelho, um letreiro de led, com algumas letras, já apagadas, piscando.
  - “Wilester, Reynolds and Rombest: Advocacy Center”? Advogados, Rapunzel? Acha que advogados vão nos ajudar? – ele tinha um olhar cético e braços cruzados, olhando com reprovação para a outra.
  - Preste atenção nas letras acesas, seu tapado. – ela revira os olhos, subindo os poucos degraus que a separavam da porta.

  WILESTER, REYNOLDS AND ROMBEST: ADVOCACY CENTER

  - Ah. Agora faz sentido. – ele diz seguindo a garota em direção a porta. Ela bate na grande porta de carvalho, fazendo uma melodia ( perguntou-se se aquela era uma espécie de senha e como ela saberia como reproduzir a melodia, sendo que ela leu o livro, e não o escutou). Um olho azul-gelo surge no enorme olho-mágico no topo da porta.
  - Senha? – uma voz feminina, extremamente doce (e irritante), pergunta.
  - Quando o gavião grita, é hora de voar. – diz sem nem um único traço de emoção na voz. A porta abre-se apenas o suficiente para que os dois possam passar, com certo esforço.

Capítulo Três

Charmy Knight on a Red Motorcycle

   podia jurar que iria morrer. Enquanto guardas a amarravam no tronco nodoso de uma árvore, tudo em que ela pensava é que era culpa de . Se não tivesse corrido em direção ao vórtice, eles não teriam acabado ali. Se ela não tivesse corrido em direção à floresta, não teria seguido-a e poderia ter defendido e salvado , que, sozinha e cercada de dezenas de soldados e tanques de guerra, não pôde fazer nada. Pensava com seus botões em como estaria passando sua sexta à noite se aquilo tudo não estivesse acontecendo quando sente a corda que envolvia seus pulso arrebentar, seus braços, antes envolvendo a árvore, caem, pesados, ao lado de seu corpo, e ela levanta em um salto, se arrependendo logo em seguida, ao sentir-se tonta. Ela começa a correr o mais rápido que pode, mas uma mão segura o seu braço.
  - Por nada. – Um garoto de cabelos loiros compridos e olhos azuis a encarava, um olhar inquisidor no rosto – Quem é você?
  - Quem é você? E por que está me ajudando? – escapa das mãos dele e começa a andar, ele seguindo-a em passos silenciosos.
  - Não responda uma pergunta com outra pergunta! – ele diz, olhando ao redor, a mão esquerda dentro do longo sobretudo preto, fazendo o parecer que saiu de dentro de um retrato dos chefes de estado antigos, como Napoleão. – Eu sou . E por que eu não salvaria? Que tipo de cavalheiro seria eu se deixasse a donzela em apuros para trás? – cora e fica, talvez pela primeira vez na vida, sem palavras.
  Ela respira aliviada a perceber que estava longe daqueles soldados. olha ao redor, e quando contasta que não há ninguém, puxa de dentro de um enorme emaranhado de plantas uma moto vermelha levemente enferrujada, mas o garoto olhava para ela com extrema devoção.
  - Desculpe a demora, Serafine. A ruivinha-que-não-quer-dizer-o-próprio-nome não facilitou muito as coisas. – ele ‘faz carinho’ na moto e logo some nela, jogando o capacete surrado que estava pendurado no guidão para .
  - Serafine? Você deu nome para uma moto velha e enferrujada? – ela cruza os braços. – E o meu nome é .
  - Bem, , eu dei, sim. E ela não é velha e enferrujada. Você que tem a mente limitada. Coloque logo o capacete e vamos logo. – ele parecia preocupado enquanto olhava mais uma vez em direção às colinas.
  - Eu acabei de te conhecer, por que aceitaria subir em uma moto com você? Você pode ser um serial killer. – ela da de ombro, e sentindo uma tontura repentina, apóia-se numa árvore.
  - Bem, princesa, não sei se você percebeu mas eu simplesmente acabei de salvar a sua vida. Mereço um crédito por isso, não? – parecia impaciente. – E seria um desperdício completo te matar. – cora mais uma vez, e enfim coloca o capacete, subindo na moto e envolvendo a cintura de com os braços. Ele da partida na moto e eles desaparecem em direção à cidade.
  O trajeto é curto e logo ela se vê na frente de um prédio vermelho. Um olho do mesmo tom de azul de surge no olho mágico e a porta é aberta. segura o braço delicadamente e juntos entram no edifício.
  Assim que coloca os pés no carpete vermelho do lugar, voa nela, abraçando-a com firmeza.
  - Meu Deus, ! – segura o rosto dela com as mãos - Como veio parar aqui? – olha ao redor e vê ao fundo, os cabelos loiros trançados com flores, uma garota que devia ter dez ou onze anos pulando ao redor dela, segurando uma cesta enorme de flores.
  - É que um garoto apareceu e me soltou e... O que vocês estão fazendo aqui? – ela pergunta, assim que fecha a porta.
  - Um garoto? Eu salvo a sua vida e você me chama de ‘um garoto’? Patético. – ele revira os olhos e vai em direção à garotinha junto a , que por sua vez fica pálida como papel.
  - Que discreta. – se permite rir, pontadas de dor atingindo-a.
  - , não seja má com . – e antes que a garota pudesse protestar, despeja nela tudo o que havia contado a ele mais cedo. O queixo dela cai.
  - Precisamos sair daqui. – treme da cabeça aos pés e precisa apoiar-se na parede, a visão escurecendo. segura-a antes que ela pudesse cair e tudo finalmente escurece.

Capítulo Quatro

The time to win will come for us

   não podia sentir-se mais triste. Assim que entrou na sede da W.A, soube que era uma péssima ideia. E no segundo em que , irmã de , fadada a morrer por conta de uma doença causada pela radiação nos seus meros onze anos de idade, veio receber ela e , ela sentiu vontade de correr o mais rápido que podia, sentiu vontade de atravessar aquela porta e pular no lago, e mesmo que não funcionasse, a sensação da água preenchendo os seus pulmões era bem melhor do que saber que alguém iria morrer e não poder fazer nada.
  E não ajudava em nada. Logo começou a ser simpática, trançou o cabelo de , que mesmo embaraçado e sujo agora parecia belo, e até mesmo ofereceu bolinhos que ela própria fizera. podia afastá-la com apenas um par de palavras, mas não podia. Ela havia aprendido a amar aquela garotinha lendo o livro, e, agora que ela parecia ainda mais real, agora que ela podia tocá-la, não podia conter os sentimentos.
  E tudo só piorou quando entrou na sala com . sabia que ele não morreria, mas aquilo partia-lhe o coração do mesmo modo. Não havia outra pessoa no mundo que ele amava mais do que , e perde-la seria doloroso. Mas ela tinha que parar de ter pena de si mesma e preocupar-se com , que agora se encontrava no andar de cima, sob os cuidados de e . Mas ela não podia sentir-se mais desconfortável.
  - , né? – pergunta, sentado numa poltrona na frente da dela. Ele estava irritado por não ter podido entrar, mas mascarava bem. não conseguia parar de olhar da porta para a janela. Petronella, uma garota de cabelos negros, parte da W.A deveria entrar a qualquer momento e dizer que havia sido seqüestrada por Sehsse ao ir checar as grutas ao leste, escondida. partiria imediatamente em direção às grutas, deixando sozinha sob os cuidados de Petronella, que demonstraria ser uma traidora e intoxicaria a garotinha com a doença que a levaria a morte.
  Só que o problema era que agora não estava sozinha, e , que devia ter ido checar, secretamente, as grutas, havia chegado a cerca de cinco minutos, e agora estava esparramada sobre um dos divãs da sala. E ainda havia outra coisa, algo que alarmou ela mais ainda, e não demonstravam alimentar nenhuma emoção um pelo outro, e tinha sido o amor dos dois que mudara tudo. Se não amasse , ela não teria se sacrificado na fuga das grutas, entrando no caminho de um pequeno missel, destinado ao garoto, intencionalmente.
  - Sim, . – responde dessa vez com os olhos focados em .
  - Você a é assustadoramente parecida com a Srta. Superioridade. Se bem que você é muito mais bonita. – ele pisca e cora. – Só para constar.
  - Eu não sou bonita. – ela diz bruscamente. abre a boca para protestar, mas ela continua - E você deveria estar apaixonado por ela e chamá-la de , e não de ‘Srta. Superioridade’. Mas está tudo errado, mas isso não é tão ruim, assim podemos evitar que pessoas que não deveriam morrer - ela olha para uma foto de num campo de margaridas com um sorriso enorme no rosto, posta numa das paredes – morram, o que pode ser maravilhoso, mas desequilibrar todo o universo e... - as palavras escapam da boca de antes que ela se tocasse de como elas podiam ser graves. repentinamente se senta e perde completamente a fala.
  - Então, , - , corrige – que seja, como você pode saber que ele deveria estar apaixonado por mim? Não que seja difícil se apaixonar por moi – ela pisca.
  - Não seja ridícula. Eu teria que estar completamente desesperado para me apaixonar por você. E o que você quis dizer, ? Explique-se – ele completa, entre dentes.
   suspira. Era uma péssima ideia, mas talvez necessária. Mas estava tudo tão errado! deveria ser doce e sincera, e não petulante e mesquinha. devia ser uma pessoa de poucas palavras, mas o que ele mais fizera desde que chegou foi falar. deveria ser obcecada por , assim como Sehsse, que teria seqüestrado ela naquele nível da história. suspira derrotada e começa a falar. Ela conta tudo. Conta a história do começo ao fim, ignorando os rostos perplexos dos outros.
  - E você acha mesmo que eu acredito? Menina tola. – ri docemente.
  - Calada, “”. – diz. – Se isso for verdade, e é plausível, pois a vi e os outros saindo do lago, estamos numa bela enrascada. – começa a contra-argumentar e sente-se subitamente indisposta, subindo a escadaria que daria no quarto onde estava, e abre a porta, encontrando a garota sentada, e sentados no tapete, jogando um jogo qualquer de cartas.
  - ! – levanta-se, rindo, e vai até ela. – Se livrou da chata da ? Ela é tãoooo irritante, meu irmão só a atura aqui por que ela trás comida. – o queixo de cai. Mais uma das contestações da história completamente anulada, em menos de um segundo.
   simplesmente sorri e senta-se ao lado de .
  - Como está ? – ela pergunta baixinho.
  - Perfeitamente bem e acordada, mas não graças a você. – responde bruscamente e suspira. Deveria simplesmente desistir de qualquer laço de amizade com ela, seria muito mais fácil.
  - Pois deveria dormir agora. – responde, olhando a janela, onde o sol já se porá – você está se recuperando, precisa dormir. Não acha? – pisca para , que esconde o sorriso atrás das cartas. Cabe à responder.
  - Concordo plenamente. – ela voa em direção à porta e saí do quarto junto à ela, o som da irritação de como música para os seus ouvidos.

Capítulo Cinco

We found Love in a hopeless place

   levanta-se agilmente e anda lentamente até , que apertava a xícara de chá tão forte que as juntas de seus dedos estavam brancas como papel.
  - Ei, . – ele senta-se na beira da cama, ao lado dela. – Você não ficou brava, ficou? – Ele encara ela, piscando os olhos rapidamente, do mesmo modo que fazia sempre que queria persuadi-la. ri.
  - Pare com isso! – ela cutuca o garoto. – E, não, eu não fiquei brava. Eu só não vou com a cara daquela garota.
  - A ou aquela garotinha? – responde fingindo ingenuidade. encara-o ferozmente.
  - A , é claro! A é uma fofa, se bem que ela ameaçou por pimenta no meu chá se eu não brincasse com ela amanhã. – sorri para si mesma. sente o estômago revirar. É claro que ele gostava de , ela fora gentil e prestativa o tempo todo. Não entendia por que não gostava dela. E ele amava , e se ignorar uma amizade em potencial fosse necessário para que ela ficasse feliz, então ele faria isso por ela.
  - Olha... Se você não gosta dela, a gente não precisa vê-la nunca mais, ok? Claro que só depois que a gente sair daqui, já que ela é a única que já leu o livro. – ele olha fundo nos olhos de , que olhava para a janela, que mostrava uma cidade que não estava em seus melhores dias, a noite, que em Nova York seria azul escura quase preta, sem estrelas, de um azul tão profundo que era roxo, estrelas pontilhando quase todo o espaço vago, constelações que ele nunca vira antes brilhando forte.
  - , você realmente acha que nós vamos sair daqui? – estremece ao ouvir o seu tom de voz temeroso, e ao sentir os dedos dela entrelaçando-se nos dele.
  - Claro, a sabe o que está fazendo. Se não fosse por ela, eu ainda estaria perdido na floresta e totalmente desesperado por causa de você ter se machucado e... – olha para o rosto da amiga uma outra vez, e percebe que suas bochechas estavam coradas e os olhos dourados focados nos dedos dos dois. – Olha! Você está bem melhor, não está mais pálida! – ele a abraça, aliviado, mas sente o corpo dela rígido.
  - Você é um idiota, além de lerdo. – ela sussura para ela mesma, e então, aumenta o tom de voz. – Eu não sei, não, . Ela disse que está tudo errado, não da pra prever o que vai acontecer. – Ela treme quando ele solta-a.
  - Vai dar tudo certo, . – ele aproxima o rosto dela, as testas tocando-se, narizes a poucos milímetros um do outro. Ele entrelaça a mão vaga na dela e sorri docemente. – Pelo menos enquanto nos tivermos um ao outro.

  - Eu vou para o meu quarto, é aqui do lado. Você vem? Nós podemos brincar de falar mal da ! – sorri, e pisca os olhos azuis cintilando e alegria. sorri, mas a barriga ronca.
  - Eu já vou, pode ser? Só vou lá na cozinha comer algo. – faz que sim com a cabeça e entra no quarto.
   desce a escada dois degraus de cada vez, a fome a fazendo pensar que a última vez que havia comido fora no almoço, que parecia ter sido um século atrás. segue por um corredor, com caules de flores para todos os lados, fazendo-a tocar o cabelo loiro. Punia a si mesma a cada segundo por deixar ela própria aproximar-se de , que podia estar fadada a um destino péssimo.
  Ela atravessa o batente da porta que levava em direção à porta e quase em direção à geladeira, abrindo-a instantaneamente. Ela pega o necessário para sanduíches e fecha a porta, e leva um susto. Sentado no balcão, com um sorriso irônico no rosto, estava , ainda com as mesmas roupas de antes.
  - Protejam suas geladeiras. – ele pisca e joga a pacote de pão para ela, que, agradecida, despeja tudo que tinha pego no espaço vago do balcão, ao lado dele.
  - Não deviam ter mais pessoas? – ele esboça um olhar confuso. – Digo, aqui. Afinal, é a sede da Westery’s Army. Onde estão Petronella, Amber, Vega, Julian, Esther, Liam, Pierre... São só você e ? – ela sentia-se impotente e fraca.
  - Amber, Julian e Pierre foram torturados por Sehsse até a insanidade ou morte. – o queixo de cai. – Esther morreu depois de soltarem algum vírus em sua casa. Petronella está sempre por perto, não sei por que não está aqui. – sente bile subir até a garganta, se sentindo feliz por isso. – E Liam e Vega só estão apavorados demais para agir. Liam namorava Esther, e Vega era irmã dela. – já ia dizer que sabia disse, mas desiste ao ver que ele tinha um olhar sombrio. – Quando você disse que pessoas que não deveriam morrer morrem, estava falando de , não é? – seus olhos estavam baixos, focados no chão. sente-se repentinamente culpada e empurra a comida para o lado, dando-lhe espaço o suficiente para que senta-se ao lado dele.
  - , você é um ótimo irmão. Tanto aqui quanto no livro. Você não pode evitar. Foi algo que aconteceu de repente, sem que você pudesse proteje-la. E ela te ama aqui, e te amou tanto quanto no livro. – Ele repentinamente parece frágil e com medo, o que fez o coração de se apertar. – Você estava ocupado salvando quem você amava. – ele olha para ela, repentinamente.
  - E de certo eu não devia estar salvando a minha irmã? – a voz dele soou seca como unhas num quadro negro.
  - O importante é que isso não vai acontecer aqui. Você não vai sair para salvar , não vai deixar sozinha, e, no fim disso tudo, terá ela com você e uma história emocionante para contar aos seus netos. – ele sorri.
  - Sabe - ele tira uma mecha de cabelo rebelde que havia desprendido-se da trança de e coloca-a atrás da orelha da garota. –, estou feliz por não amar , porque, além de não precisar deixar minha irmã vulnerável, eu posso fazer isso.
  Antes que pudesse pensar, os lábios dos dois se chocam, uma sinfonia de sentimentos explodindo na cabeça de . Os lábios dele eram doces, o que fez pensar no verão, e em como as descrições que as mocinhas de seus livros favoritos faziam sobre primeiros beijos pareciam fúteis agora. Era diferente. Era especial. A mão de toca os cabelos de , e ela sorri, até que repentinamente sente-se triste. Ela não devia fazer isso. No que ela estava pensando? Por mais maravilhoso que parecesse, não era real. Era um personagem fictício, e ela já cometera o erro de se apaixonar por ele, quando ele ainda era feito apenas de tinta e papel. Em carne e osso, a despedida seria ainda mais dolorosa.
  Ela se afasta, saltando do balcão, abraçando a sua comida. Sem uma palavra que seja, ela pega um prato e uma faca, e começa a ir em direção à saída, sem antes ver o olhar ferido de pelo reflexo de uma panela pendurada na parede. Ela vira o rosto na direção dele e sorri, sem jeito.
  - Eu preciso ir. me espera. – e se vira antes de ver a reação dele.
   subia as escadas em direção ao quarto de , correndo, tropeçando nos próprios pés, nervosa demais para pensar, os eventos que tinham acabado de acontecer fazendo o seu estômago revirar. Mas por que sentia-se tão pateticamente feliz?
  Por sorte, ela encontra a porta da garota aberta. estava sentada no chão, cercada de tudo que uma lady inglesa mataria para ter em sua hora do chá. tinha nos lábios o mesmo sorriso irônico do irmão, e percebeu pela primeira vez o quão diabólico ele parecia.
  - e sentados numa árvore. B-E-I-J-A-N-D-O! – ri docemente, e sente que todo o sangue de seu rosto subiu para as bochechas. – Eu estava entrando na cozinha pra dizer que você demora demais e TA DÃM! – ela ri de novo e percebe que não adiantaria nada ficar constrangida. Ela da de ombros e inclina-se para o que realmente interessava no momento: o sanduíche.

  Enquanto isso, traçava um plano. A chance de ter mais poder que qualquer um ali a deixava embriagada; embriagada em sua própria felicidade. E ao observar baixar a guardar, sentindo-se fragilizado pelo que podia acontecer com e permitindo-se tentar se apaixonar, fez ela ter certeza que venceria. A Srta. Superioridade mostraria que realmente era superior.

Capítulo Seis

All I ever wanted was the world

   acordou bem cedo naquela manhã, coisa que ela fazia desde que se dava como gente. Ela percepeu assim que acordou, assustada, que dormira de mãos dadas com , que havia acomodado-se no carpete felpudo ao lado dela.
   desliza para longe das cobertas, soltando sua mão do aperto fraco de . Percebeu pesarosa que continuava com o mesmo suéter e o mesmo jeans que havia vestido ao sair de casa para ir na biblioteca com . Pra que serviria um suéter felpudo perfeito para as noites frias de NY se ela estava em Westery Bound, onde cada dia parecia estar envolto no verão?
  Ela começa a andar em direção à porta, e sentia cada centímetro de seu corpo doer, como se tivesse rolado três lances de escada. Ela queria voltar a dormir, mas não podia; Algo machucava-lhe a mente. parecera-lhe tão preocupado com ela que ela sentiu aquela velha conhecida, a cega esperança, acender-se no seu peito. Havia alguma possibilidade de ter qualquer que fosse o sentimento por ela? Ela sentia seu coração quebrar-se sempre que ele dizia que ela era como uma irmã para ele, mas noite passada... Algo pareceu-lhe diferente.
   desce as escadas lentamente, degrau por degrau, a barriga doendo de fome.
  Quando está prestes a entrar na cozinha, um vislumbre loiro de olhos violeta a joga dentro de um armário embaixo da escada. A sua primeira reação foi o choque. Ela olha ao redor e se depara com prateleiras munidas de coisas que iam de patins à livros e produtos de limpeza e cobertores. Ela corre em direção à porta e bate nela com os punhos fechado, gritos frustrados escapando de dentro de sua garganta.
  - ? – A garota pula assustada e depara-se com uma figura pequena e de aparência fraca. estava encolhida ao lado de uma das estantes de metal presas ao chão, as mãos presas por uma corda num dos pés da estante, os olhos vendados. agacha-se perto dela e tira a venda de seus olhos, assustando-se ao ver lágrimas escorrendo por suas bochechas. Mas, mesmo assim, ela continuava pateticamente linda. solta os pulsos dela da estante. – trabalha para Sehsse. – ela enxuga as lágrimas.
  - Co-como assim? – estremece.
  - Hoje cedo ela apareceu no quarto de . Ela disse que precisava da minha ajuda e eu acreditei. Foi só eu sair do quarto e ela tapou a minha boca e prendeu as minhas mãos. Ela me trouxe aqui e cometeu o mesmo ato que vilões de filmes clichês fazem: contar todo o plano. Ela disse que se juntar a W.A foi um plano desde o começo, mas ela não sabia como desenvolve-lo. Então ela descobriu tudo sobre aqui ser um livro e tal. Mas é aí que as coisas ficam estranhas.
  “ disse que tem sangue feiticeiro nas veias, que é o que explica os olhos roxos. Ela só foi descobrir isso tarde demais. Encontrou o grimório da sua família e colocou a cabeça para pensar. Criou um feitiço para ver o nosso mundo através do manuscrito do livro, que fica na Biblioteca Pública de NY. Aí ela me viu. Viu como éramos parecidas. Ela queria me trazer para cá há semanas, só não tinha oportunidades. Quando conseguiu, vocês estavam comigo. Eu arrastei vocês para cá. A culpa é minha. Tudo que quer é o poder. E fará de tudo para conseguir.”
   estremece. Realmente, tinha sua parcela de culpa mas ela parecia martirizar-se, como se ela tivesse aberto aquele portal, como se ela tivesse arrastado e para dentro do Portal.
  - A culpa não é sua, segura a mão da garota, temerosa. – É de . Foi ele que não parou e acabou empurrando nós duas pra dentro do portal. – pisca e sorri, grata. – De qualquer modo, aqui até que é divertido. É lindo.
  - “Westery Bound é o lugar onde toda a beleza perdida das cidades que o homem já destruiu se esconde” – cita. – É lindo mesmo. Chega ser cruel. , como vamos sair daqui?
  - Daqui armário embaixo da escada ou daqui Westery Bound? – pisca, tentando fazer piada, mas continua séria. – Eu pensei que você tivesse tudo sob controle. – estava com medo.
  - Bem, eu também. Pensei que era só voltar pro lago, mas agora parece irracional. Além de estúpido. Se foi que nos trouxe para cá, só ela pode nos levar de volta.
   estremece quando um calafrio percorre sua espinha. Algo lhe dizia que tudo estava prestes à dar errado.

  - Sehsse pegou e despeja a bomba nas mãos de e , enquanto eles conversavam animadamente sobre como manteiga de amendoim e geléia eram, definitivamente, a combinação mais bizarra de todos os tempos. sabia que eles iriam calar-se na hora que ela deixasse aquela mentirinha escapar, e sabia que eles não hesitariam em partir para as montanhas. E, nas montanhas, ao perceberem que e não estavam lá, poderia mata-los e assim derrubar a revolução, conquistar o poder. Era tão simples que era estúpido. engasga com o seu chá, e derruba o copo de suco que tinha em mãos. sorri internamente, satisfeita consigo mesma.
  - Quando? Como? – pergunta, juntando os cacos de seu copo em cima do pires de , que estava morbidamente serio.
  - Elas estavam do lado de fora, colhendo flores para , e uma combe vermelha parou e um soldado puxou as duas para dentro. Eu tentei ajuda-las mas... – Como uma ótima atriz, faz lágrimas cálidas escorrem-lhe pelo rosto.
  - Não é culpa sua. – diz, com a voz fraca, mas o outro garoto a encarava frivolamente. levanta-se, e, sem uma única palavra, sobe a escada, com passos pesados. Quando volta, armas estão penduradas por coldres em toda a sua roupa, e , segurando uma faca de cozinha, está com ele, parecendo irritada.
  - Eu já disse, . Você não vai. vai cuidar de você. – faz uma cara de nojo ao ouvir aquele nome.
  - Eu não quero que ela fique comigo! – esbraveja e revira os olhos.
  - Sem reclamações. . – ele joga um revolver em direção à , que encara o objeto com nojo. Por ., pensa ele ao atravessar a porta atrás de .
   corre para a janela, e, quando vê que e já estão fora de seu campo de visão, ela sobe as escadas em direção ao seu quarto. Abre uma gaveta, e, dela, tira um punhal, o cabo negro como ébano e a lamina brilhando em uma estranha luz roxa, enfeitiçada. Da mesma gaveta tira algo menos grandioso: uma caixa azul, mas que era essencial para o seu plano. Ela sorri para si mesma.
  Estava na hora.

Capítulo Sete

Don’t try to take this from me

   não sabia onde estava, e sentiu-se imensamente feliz por isso. era mimada e mesquinha, e simplesmente a odiava. Enquanto concluía que estava melhor sem ela, corre em direção ao quarto de .
  As paredes do quarto do irmão eram cobertas de estantes e prateleiras. Dezenas de livros e mais livros, e o lugar onde suas armas deviam estar, vazios. esbraveja uma palavra que nenhuma garota de dez anos deveria saber e olha para a faca de cozinha. Inútil.
  Ela desce as escadas com raiva, disposta a achar algo útil para ir atrás de e para ajuda-los. Talvez o armário embaixo da escada? Era uma possibilidade, pensou ela. Ela vai até a porta do armário e força-a, mas ela não abre. Ela lembra-se de como o seu irmão era obcecado com segurança e trancava tudo. Mas já havia descoberto o seu esconderijo há muito tempo. O vaso chinês do lado da porta da cozinha.
   vai até o vaso e coloca o braço dentro, e sorri quando sente o molho de chaves entre os seus dedos. Quando está prestes a tirar o braço, sente uma picada dolorosa no lado de dentro do cotovelo, mas ignora. Ajudar o seu irmão era mais importante.
   cambaleia até a porta – por que sentia-se tão tonta? – e encaixa a chave no trinco. Quando abre-a, um rolo de papel higiênico voa em direção a ela e atinge a cabeça dela com força.
  - Ai! – ela diz com raiva. Então, percebe que dentro do armário estão e . – O quê...?
  - Oh! Desculpe! Pensamos que era . – diz, e, antes que possa dizer que um papel higiênico não pararia alguém, conta como as duas haviam parado ali.
  - Eu sabia! Sabia que era do mal. – Dessa vez, conta os acontecimentos daquela manhã, o falso seqüestro, e partindo ao resgate delas... Ambos os corações das duas garotas enchem-se de uma cega esperança que tudo daria certo. Mas quebra o encanto.
  - Temos que ajuda-los antes que Sehsse e coloquem as mãos nele. – sente uma pontada de medo cortar o seu ser como uma navalha. Ela olha para e depois para , e ambas têm o mesmo pensamento. Enquanto rouba as chaves de , a empurra para atrás de uma das estantes e as duas garotas correm.
   e correm para fora da sede, trancando dentro, o vento da manhã esvoaçando os seus cabelos. suspira. Precisavam correr.

   nem se da o cuidado de parar Serafine decentemente. Simplesmente freia e salta dela, sem dar-se o trabalho de parar de correr. Ele via uma caverna com uma combe vermelha estacionada a poucos metros; só podia ser ali. Virando a cabeça para dar uma olhadela em , que também corria.
  Ele entra na caverna. Era uma espécie de gruta, com pedras preciosas roxas cobrindo o teto. Algo naquele tom de roxo lhe pareceu familiar e deu-lhe uma vontade repentina de fugir, mas não sabia o porquê. para ao lado dele.
  - Acha que é aqui? – ele pergunta, e, como se esperando uma deixa, uma granada voa, parando aos pé de . chuta a granada para a boca da caverna e corre em direção ao fundo dela, com em seu encalço. – Reposta mais completa impossível. – ele responde ofegante. revira os olhos. Então, percebe que dois túneis abriam-se em direções opostas, nas laterais dos dois.
  - Acho que devemos nos separar. Vai ser mais fácil acha-las e dar o fora daqui se procurar-mos separadamente. – Assim, vira-se e segue pelo túnel da direita.
  Quando o túnel acaba, ele encontra-se na margem de uma espécie de lago, que brilhava em roxo. Por que tudo aqui é roxo? Ele diz para si mesmo, ainda sem conseguir lembrar-se de onde havia visto aquele mesmo tom antes.
  - ? – uma voz diz e vira-se em direção à ela num salto. Presa em uma cadeira, está , mas algo parece estranho. Os olhos, que achou que eram da mesma cor que o Lago Ferris assim que a viu, estavam do tom errado, um azul escuro, quase Royal. Mas mesmo assim, algo parecia atrai-lo para ela. Ele caminha até ela quando houve um crack alto. Vira-se e se depara com um homem de meia idade e cabelos negros gordurosos. Ele tinha um olhar assustado, e forçava um porte orgulhoso. Por que tudo lhe parecia estranho?
  - Westery-Ferris... – ele diz –, descendente dos fundados de Westery, filho dos fundadores da Westery’s Army. – ele ri. – Que, por sinal, morreram pateticamente para salvar uma organização que vai afundar-se sozinha. E você estar aqui, prova que já afundou-se. – O homem lhe dava um imenso nojo. Sua mão voa até o coldre mais próximo. – Sou Sehsse, seu pior inimi... – uma única bala voa da arma de , e crava-se no peito do uniforme vermelho dele, que instantaneamente mancha-se de um vermelho mais escuro. Aquilo estava fácil demais. Chegava a ser suspeito.
   continua seu caminha até , e desata os nós que prendiam-a na cadeira. Ela levanta-se e joga os braços no pescoço dele, e da-lhe um beijo. E, diferente do anterior, que tivera um gosto agridoce de mel e limão, esse era diferente. Era como carvão e... veneno. Os olhos dele abrem-se em suspeita, e fitam os dela. É claro. Aquela não era . O azul não era verdadeiro. Eram lentes. Aquela era .
  Um sorriso diabólico coroa o rosto de , que solta um risinho astuto. Ela leva a mão até o cós da calça e tira o que guardava: a adaga. E, num único movimento, a adaga crava-se no abdômen de .
  A dor era excruciante. E não era só a dor de ter sido apulanhado e envenenado. Era a dor de ter sido enganado.
  - Tão estúpido... – ri enquanto escorrega de seus braços, tombando no chão rochoso, sangue manchando sua camiseta branca incontrolavelmente. – Acreditou que eu era a sua , não? Quem diria... o orgulho apaixonando-se e depois, sendo enganado de modo tão patético. Mas o seu futuro vai ser pior. Armei para que encontrasse e , que, por acaso, estão no armário embaixo da escada, e para que ela própria morresse. Esse mesmo veneno que está correndo pela suas veias nesse momento já deve ter chegado ao coração de sua irmãzinha e parado-o. Que péssimo irmão você é... tsc tsc. – Tudo o que queria era gritar. Ele havia falhado. Havia falhado com a W.A e com a irmã. Ele sentia nojo de si mesmo. – E é mais estúpido que eu achei. Acreditou mesmo que Sehsse existe? Bom, existe, para falar a verdade. Eu sou Sehsse. Te enganei como um patinho! Oh! Está chorando! Pobre ... Mas, tudo bem, não ira punir-se por mais tempo. – ela olha para o lago – No momento em que você tocar as águas do lago... bem, imagine como seria se o seu corpo partisse em dezenas de pedaços para depois virar cinzas. Vai ser algo assim. – não sabia quando tinha começado a chorar: se foi quando disse que sua irmã estava morrendo ou se foi pela dor que sentia. Talvez os dois.
  - Monólogo lindo, . – Uma voz que reconheceu instataneamente soa, e ele quase sorriu. Com o canto do olho, vê batendo palmas com um sorriso malicioso nos lábios. Mas seus olhos destoavam tudo. Mesmo envenenado e com a visão turva por tanto sangue perdido, via o medo nos olhos de . – Mas eu sou uma muito mais bonita. E com toda certeza beijo muito melhor que você. – Agora era concreto: estava surpreso. Paralisado, ali no chão, soube que se não pudesse amar , não conseguiria amar mais ninguém; e mesmo que a cada momento ela o surpreendesse, queria estar com ela o resto de sua vida; mas se não resolvesse aquilo, a vida dele acabaria logo a seguir.
  - Acho que não, . Que bom que chegou a tempo de ver morrer. Seria um desperdício se você continuasse naquele armário. – pisa no peito de e remove a adaga, que agora estava manchada de sangue. Ela sorri. – Prometo que vai doer. E muito. – lança a adaga.
   fecha os olhos. Ela sabia que iria morrer, mas esperava que podia ao menos salvar . Ela sentia-se tão culpada, tão impotente. Ela prepara-se para o impacto, mas ele não chega. Quando abre os olhos, está cercada por uma luz dourada.
  A luz pulsava em diferentes tons, o brilho cegando . Ela escuta a adaga tombar no chão, fazendo um barulho metálico alto. Ela não fazia ideia do que estava acontecendo, mas não ousou perguntar-se o que era. Se aquilo estava salvando a sua vida, então era o suficiente. O brilho começa a cessar e torna-se suportável olhar, então abre os olhos. Quase se arrepende, devido ao susto que levou. Parado na sua frente, estava um anjo.
  Era como se toda a luz tivesse se reunido e formado um corpo. não via feições no rosto, mas sabia que era belo. A presença era tão imponente que recua. Mas não consegue andar. Ela olha para baixo e seu coração quase para.
  Ela estava flutuando. Lá embaixo ela via com um olhar assustado, via um fio dourado escapando pelos seus lábio e voando em direção as asas do anjo. Também viu , que estava pálida como papel, os olhos arregalados, sem vida. sente que vai desmaiar.
  - Quem é você? O que está acontecendo? – ela pergunta voltando-se ao anjo, com a voz trêmula.
  - Isso não interessa, . Estou aqui para restaurar o equilíbrio. Estou aqui para fazer com que você aceite o seu destino. – A voz era poderosa e ecoou pela caverna, preenchendo o silêncio entre os batimentos de . – Você nasceu na dimensão errada, assim como . Vocês são Duplicatas Errantes. Pegaram o lugar uma da outra quando nasceram. Era para você estar em Westery, que não é um livro, e, sim, uma dimensão alternativa, e para estar em Nova York. Um único erro desfez todo o equilíbrio que os anjos, como eu, lutaram para manter. O equilíbrio só vai ser restaurado se você assumir o seu lugar. O presente e o passado recente seriam deletados, apagados, o tempo voltaria para o dia em que você e a sua Duplicata nasceram. Você seria a que Westery precisa, e ela seria a que Nova York quer. Mas foi concebida errado. Ela é simplesmente má, e Nova York não precisa de mais maldade. Por isso está morta.
  Parecia que todas as palavras que – ou ela deveria chamar si própria de ? – sabia tinham sido deletadas de seu vocabulário. Agora fazia sentido; ser tão deslocada de Nova York quanto era em Westery. O ódio que sentia pela outra quase some: ela só agia daquele modo porque fora predestinado que ela devia ser assim. Mas queria apagar todo o seu passado? Queria esquecer seus pais, e , as noites na biblioteca? Ela sentia-se egoísta, mas não pôde evitar. Uma única palavra escorrega de seus lábios.
  - Não. – ela diz, a voz seca.
  - Está sendo egoísta, . Não pode negar o seu destino.
  - Não estou negando o meu destino. Estou escrevendo-o eu mesma. – ela encara-o com os olhos firmes. Então olha para . Se ela aceitasse ser , teria uma vida inteira com ele. Se negasse, de algum modo voltaria para Nova York e deixaria ele para trás. Se ela ter a personalidade que tinha foi escrito nas estrelas, então ama-lo com toda certeza também era. Ela não queria ir embora. Não podia. – Mas eu fico. – se anjos tivessem feições, aquele com toda certeza estaria assustado. – Westery precisa de mim, certo? Por que eu simplesmente não fico? Qual a necessidade de voltar no tempo? Isso afetaria muito mais vidas. Mas eu só fico com duas condições. – lembrou de , que, segundo , estava morrendo. Lembrou-se também de chamando-a de Rapunzel e puxando seu cabelo na biblioteca e de soltando-a no armário embaixo da escada. – Mandar e de volta para Nova York e salvar .
  - Mandar os outros dois é fácil, mas simplesmente curar a garota é difícil. E é necessário que alguém volte para Nova York no... – ele cala-se por longos segundos. – Há uma saída. Se a garota for mandada para Nova York, posso cura-la sob a justificativa de equilibrar o universo. Sei que sabe que aqui ela estaria fadada a morrer, de uma forma ou outra. Essas são as suas condições, ? – faz que sim com a cabeça. – Estão aceitas. Esteja no lago com os que serão despachados em dez minutos. – e então ele some.
   começa a cair. Prepara-se para despencar e quebrar cada um de seus ossos mas não é o que acontece. Quando está a centímetros do chão para, pousa suavemente.
  Ela corre para . Como tinha sido estúpida, esquecido completamente dele.
  A pele dele estava quase cinza, e os seus olhos azuis estavam sem foco. Um fio de sangue escorria pelo seu queixo, saindo de seus lábios. coloca o ouvido no peito dele.
  O coração ainda batia.
  Uma esperança cega preenche seu ser. Então haviam chances, certo? Quando ele solta um suspiro agoniado, perde essa esperança. Ele estava morrendo. Os olhos dela enchem-se de lágrimas e suas mãos tremem. Iria perde-lo antes mesmo de poder te-lo. enxuga as lágrimas, preparada para dizer adeus, mas quando olha para os dedos, para. Suas lágrimas não estavam transparente, apenas água. Estavam douradas.
  Antes que pudesse pensar, uma lágrima pinga na ferida aberta no peito de , que começa a brilhar em dourado, e repentinamente para. Mais lágrimas caem, e o brilho torna-se constante. é envolta por luz dourada pela segunda vez naquele dia. Quando a luz cessa, percebe que ela não acabou. Ela simplesmente moveu-se para dentros do olhos de , que, de azul, foram para o mais belo tom de dourado que já tinha visto. Ele pisca.
  - Como isso...? – ele sussurra e sorri, entre lágrimas, que agora eram do tom normal; como deviam ser. conta tudo o que havia acontecido e ele empalidece, um sussurro com o nome da irmã escapando de seus lábios. – Você vai atrás de e que eu vou para casa, buscar . Se ela não pode viver aqui, que ela ao menos possa viver lá. – e, antes de sair, despeja um beijo nos lábios de , que, ainda sem respirar, corre atrás de e .

   salta da moto assim que avista a sua casa, correndo os metros que faltavam a pé, entrando por uma janela que estava descuidadamente aberta. Tudo em que pensava era que tinha falhado com a irmã, que tinha a deixado indefesa.
  Ele corre para o armário embaixo da escada e a encontra no momento que pisa dentro dele. Um brilho roxo cintilava num dos cantos afastados do armário. Ele cambaleia até lá. estava deitada no chão, respirando com dificuldade, cada veia em sua pele brilhando em roxo. Seus olhos azuis estavam cegos pela dor. toma-a nos braços.
  - Estou aqui. Vai dar tudo certo. – ele resume os acontecimentos anteriores. – Precisamos ir para o Lago.
  - Dói tanto. Faz a dor para, , por favor. – ela soluça, lágrimas escorrendo pelo seu rosto jovem. sente o coração doer.
  - Eu vou, , prometo. Você vai ter uma nova vida em Nova York. Nada de , nada de Guerra, nada de dor... – ele é interrompido.
  - E nada de você. – ela dá um sorriso fraco, cheio de dor. – Uau, é realmente tentador. – a frase termina em uma tosse, que ela reprime com a mão. Quando tira os dedos dos lábios, eles estão manchados de sangue.
  Sem mais nem uma palavra, levanta-se e corre com ela nos braços. A moto era arriscada demais, então ele simplesmente quebra a janela do carro de um dos vizinhos e entra, colocando a irmã no banco de trás.
  Com uma ligação direta, ele liga o carro e vai, a vontade de salvar a irmã maior do que a dor de perde-la.

  Assim que e chegam, o anjo cura a garota, que, entre lágrimas, despede-se do irmão, de , de e de – que achou vagando sem rumo na caverna. – e pula dentro do lago, que agora era na verdade um vórtice dourado; o mesmo vórtice que havia trazido , e para aquela aventura.
   vira-se para .
  - É a nossa vez, não é? – ela sorri. – Aposto que está morrendo de medo. Lembra daquela vez que nós estávamos naquele par... – ela não consegue terminar a frase. a puxa para perto dele e beija-a, do mesmo modo que queria fazer desde a quarta série. Os lábios dela tinham gosto de uma mistura estranha de pêssego e mel, doce e açucarado como ele sempre tinha imaginado.
   ri enquanto bate palmas, enquanto envolve a cintura dela com um braço. Ela não sabe se sorri, cora, ou chora. Ainda não conseguia acostumar-se com a idéia que iria ficar ali.
  - O que estava dizendo, ? – diz , quando ele e , que agora estava mais vermelha que os seus cabelos cor de fogo, se afastam.
  - Que devíamos nos despedir de e . – continuava vermelha. Ela vai até e despede-se com um aceno de cabeça básico. Quando fica frente à frente com , surpreendentemente a abraça forte. – Talvez, se eu tivesse te conhecido antes, nós duas pudéssemos ser amigas. Eu nunca te agradeci por ter nos ajudado. Muito obrigada, . – Quando afasta-se, ela tem lágrimas nos olhos.
   não podia estar mais surpresa.
   despede-se com um aperto de mão para e um abraço e uma piscadinha para . Então da as mãos para e, juntos, eles pulam no lago.
   olha para o céu. Não tinha percebido que já estava escuro. Ela tenta conter as lágrimas. Dois dias atrás ela era apenas uma garota numa biblioteca. E, agora, aquela garota parecia ter existido em outra vida.
   abraça-a com força, enterrando a cabeça em seus cabelos, que a muito haviam soltado-se da trança que tinha feito.
  - Tudo mudou. – ele sussurra.
  - Não. Tudo apenas começou a mudar.

Epílogo

  Assim que os pés de tocaram o chão da biblioteca, ela começou a chorar. Era a mesma sensação que tinha tido quando chegara à Westery pelo portal; como se tivessem tirado-lhe todos os órgãos e colocado novamente de maneira diferente. Mas dessa vez seu peito pesava, a tristeza fazendo cicatrizes pelo seu coração.
  - – a voz de soou á distância –, quanto tempo você acha que passou? – ela vira o corpo e vê o garoto, a chama da vela lançando sombras pela mesa que ele havia se apoiado no que pareciam ter sido semanas antes, o livro que havia começado aquilo tudo ainda aberto no meio. Antes de Westery, antes de , antes de . O coração de se aperta e ela não consegue conter um soluço. Era como se o tempo tivesse paralisado. Como se tudo não tivesse passado de uma mentira.
  - Pouco. Talvez uns quinze minutos, no máximo. Tempo o suficiente para a policia revistar o lugar e não achar nada. – Ela responde, mesmo sabendo que era uma pergunta retórica – É como se tudo nunca tivesse acontecido. – dizer isso em voz alta a fez sentir três tipos diferentes de dor.
  Ela desliza silenciosamente em direção à e coloca a cabeça no ombro dele, deixando os cachos ruivos tamparem as lágrimas, a visão turva. Ele envolve-a com os braços, as lembrança de quando ele pensou que amava alguma outra garota viva em sua memória, fazendo-o rir. Seu único e verdadeiro amor sempre estivera em seus braços, mesmo que apenas como amiga. Ele estava prestes a sugerir que fossem embora quando seu queixo cai em surpresa.
  Inicialmente ele julgou que era apenas a luz fraca da vela fazendo ilusões, mas algo nele dizia que não. Os Conto de Westery Bound brilhava no mais puro dourado, as páginas passando loucamente, até chegar à última, a folha branca brilhando, una. cambaleia até o livro, as mãos envoltas no colarinho de , o puxando a tempo de ver uma imagem formar-se.
  Ele podia ver vestida num longo e delicado vestido de renda branca, ao seu lado, vestido num terno prateado. A imagem muda e agora mostrava sentada à beira do lago; os cabelos loiros, mais cintilantes e compridos do que ele se lembrava; a pele, bronzeada. Ela tinha nos braços um embrulho cor-de-rosa, um bebê. Ele não pôde conter o sorriso no rosto. Ela parecia tão feliz, tão em paz. A imagem muda mais outra vez, dessa vez mostrando e à beira do lago Ferris, de mãos dadas. A imagem torna-se preto e branco e dissipa-se em palavras, embaralhando-se e preenchendo a única página vazia do livro.
   finalmente havia encontrado um final feliz. Não um final. Era o final feliz. Era aquilo que ele passara a vida toda buscando. E foi isso o que ele concluiu ao caminhar de mãos dadas com , ao lago Ferris, de onde a pequena e frágil garota, que um dia ela fora, surgiu numa tarde de verão, quando o terror estava prestes a tomar conta de Westery. Sua vida nunca tinha sido melhor, e a cada momento ele agradecia por ter se permitido amar.
  - Nem parece que foi há tanto tempo – sussurra docemente, a cabeça tombando no ombro esquerdo dele. Ela nunca havia parecido tão linda, ele pensou, se bem que pensasse isso dia após dia.
  - Não seja tão melodramática, . – ele ri ao receber a esperada cotovelada que sempre recebia ao chamá-la assim – Se passaram meros quinze anos. Se bem que em quinze anos muita coisa mudou. E ainda vai mudar. – ele da-lhe o sorriso bobo que só guardava para ela, a mão direita tocando delicadamente a barriga de , o ventre carregando o segundo filho do casal. sorri e olha para o lago, ficando repentinamente séria.
  - Você acha que eles estão bem? – ela sussurra, a voz cheia de medo. gela. Ele sabia que tinha pesadelos com o que poderia ter acontecido com e , que eles poderiam ter parado na dimensão errada, que podiam ter sofrido alguma complicação durante a viagem, que poderiam ter tido problemas por invadir a biblioteca... tentava tranqüilizá-la, mas parecia impossível.
  - Eu tenho certeza. Por que não estariam? – Ele aperta a mão dela como se isso pudesse salva-la de todo e qualquer mal. – Você sente falta da vida que tinha? – dessa vez o medo estava na sua voz. Ele morria de medo que tivesse arrependido-se de ter abandonado a vida que tinha, que tinha se cansado dele. Aquele medo quase irracional era tão forte que as vozes dizendo que ela não o amava preenchiam as batidas de seu coração.
  - Mas é claro que sim – ela vira-se para ele, tomando o rosto dele em suas mãos –, sinto falta das noites de leitura na biblioteca, com Philis me ameaçando com uma régua, sinto falta de e ... Mas eu trocaria tudo isso para estar aqui com você. O que eu construí aqui eu jamais poderia construir em Nova York.
  Como se esperando por uma deixa, uma garota de longos cabelos loiros e olhos azul-escuros sai cambaleando por entre as árvores. Ela tropeçava em seus pés, os cabelos esvoaçando.
  - Mamãe! A Philis me mordeu de novo! – ela tinha lágrimas nos olhos, um soluço entalado na garganta – Eu odeio aquela pata, mãe! – ela faz um bico e toma-a em seus braços.
  - Shhh, ; não é nada. Dê graças a Deus por ser um pato te mordendo, não um cachorro. Sabe, eu conheço uma história em que um cachorro arranca o...
  - ! Quer traumatizar a sua filha? Ignore-o, . – diz, cutucando a bochecha da filha.
  - Mas eu quero saber! Por que ele pode saber e eu não? Isso não é nada justo! – a menininha diz, cruzando os braços, irritada. Ele aproxima os lábios do ouvido da esposa e sussurra um ‘eu te amo’ verdadeiro e puro.
   lembrou-se de quando ter uma família nem passava pela sua mente. Lembrou-se de que aquilo sempre pareceu-lhe impossível, devido à guerra.
  Mas agora Westery não estava sob ameaça; agora tudo estava em paz.
  E ele finalmente podia ser feliz.

Fim."

   soluça outra vez. estava bem e feliz. E se lembrava dela. Ela abraça enquanto os dois vão a passos lentos em direção à porta, as lembranças de uma história que eles jamais poderiam contar brilhantes em suas memórias.
  Quando estão prestes a atravessar a porta, vê uma luz com o canto do olho. Ela já tinha visto antes. Era um vórtice. Um vórtice idêntico ao que havia levado ela e para outra aventura muito tempo antes.
  Ela sorri para ele. Talvez fosse hora de começar outra aventura.

Fim.



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