Esta história pertence ao Projeto Adote Uma Ideia
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Doada por Lelen

Esta história tem 12 capítulos no total.

// A Ideia

Ele é bilionário, poderoso, tem tudo o que quer e casado há quatro anos com a PP. Ele descobre que tem um tumor cerebral e tem pouco tempo mais de vida, o que o deixa em desespero agora que estava começando a aproveitar a vida ao lado da esposa.
Ele tem um irmão gêmeo que foi simplesmente “deletado” da família por seus pais. O bilionário decide reencontrar o irmão e lhe pedir para que tome seu lugar e principalmente cuide de sua esposa quando ele partir.
A PP não tem conhecimento da existência do irmão gêmeo do marido e fica confusa com algumas atitudes diferentes dele.
Desde o começo do casamento, o casal está tentando ter um filho, e a principal sem saber da troca, decide que quer continuar tentando, algum tempo depois, ela descobre estar grávida.


// Sugestões

O verdadeiro marido da principal pode resolver voltar para sua vida depois de algum tempo e pode haver conflitos entre os irmãos pela gravidez da mulher.
Pode haver insinuações mais fortes de sexo, porém, nada muito detalhado.

// Notas

--




Por Amor

Doado por Lelen
Escrito por vários autores

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Capítulo 1

Escrito por Natashia Kitamura

  Aidan

  A primeira vez que a vi foi na aula de Artes na sexta série. Estava sentado em meu lugar costumeiro no fundo da sala com Tom e Gary, meus melhores amigos da época. Entre risadinhas depois de fazer piadas sobre as garotas que entravam com as mochilas maiores que suas costas e brincadeiras com os garotos que não via a exatamente dois meses – hiatos das férias de verão -, achava engraçado como todas as meninas pareciam como as bonecas de porcelana que minha prima Lucy possuía em diversas prateleiras de seu quarto. O colégio onde estudei minha vida inteira desde quando me conheço por gente sempre foi famosa por possuir uma educação asiática; costumes em formar filas no ginásio principal, divididos por ano e tamanho; os professores mal precisavam pedir para nos organizarmos, era tudo automático, parecíamos crianças depois de uma lavagem cerebral. Como sempre, o primeiro dia de aula era repleto de programações em que todos sabíamos ser feito somente para os novos alunos que ingressavam. Fui novo aluno uma vez só, mas não tinha idade o suficiente para perceber todo o esforço do corpo docente em fazer minha entrada, uma grande festa.
   foi apresentada à sala como uma garota que veio de outro estado. As garotas, más como sempre, passaram a cochichar entre si assim que a professora pediu para a novata se dirigir à carteira ao lado da minha, a única vaga depois que Úrsula foi transferida para a turma B. O uniforme consistia em uma camisa branca, o blazer azul marinho possuía os detalhes na cor dourada da escola, assim como a gravata, obrigatória no conjunto. As garotas trajavam saias pregueadas, enquanto nós garotos nos contentávamos com as calças sociais no inverno e bermudas no verão. Às vezes os uniformes variavam em coletes de lã pura, que usávamos por baixo dos blazers; outras vezes, as saias, bermudas e calças azul marinho poderiam ser trocadas por um tom cáqui. Lembro-me bem do momento em que se dirigia para a carteira, me perguntei como poderia existir uma garota que se encaixasse tão perfeitamente dentro do uniforme. A tiara que prendia seus cabelos de caírem à frente do rosto a deixava muito mais feminina e bonita que todas as outras garotas daquela escola.
  Naquele dia, decidi que era a garota com quem me casaria depois de me tornar o melhor piloto de fórmula 1 do mundo.

  De fato, o sonho profissional mudou assim que entrei no colegial e vi que se quisesse ter sido piloto, deveria ter começado mais cedo a praticar. A ideia de herdar a empresa de entretenimento do meu pai acabou se tornando sólida. Contudo, minha decisão de tornar minha esposa não havia sido anulada como todos os meus planos dos tempos da sexta série. Desde a época da decisão até o final do ginásio, me esforcei em parecer o melhor garoto do grupo de nossa sala. passou a fazer parte de um grupo de garotas, o que me fez ver seu sorriso com mais frequência do que quando estava sozinha lendo um livro ou ouvindo música em seu celular.
  Foi no Ensino Médio que ficamos pela primeira vez. No primeiro colegial, a escola tem o hábito de enviar os alunos para pontos turísticos, para que aprendamos um pouco mais sobre a cultura do nosso país. O primeiro ano do Ensino Médio seguiu para uma cidade com uma praia de areia branca e brisa refrescante; honestamente, fora essa primeira impressão, a cidade de Santa Mônica não possuía nada que pudéssemos considerar “cultural”; um lugar de residentes de alto requinte, para nós, estudantes, foi muito melhor, pois o tempo de aula era menor do que o de diversão. Estudávamos sobre a cidade durante a parte da manhã e logo que o almoço chegava, éramos liberados para fazermos o que quiséssemos. Assim que o professor nos liberou para nosso primeiro dia fora da vista dos adultos, chamei para sair comigo de noite. Me preparei durante toda a tarde para o momento em que a beijaria e, iniciando meus hábitos de conseguir sempre tudo o que quero, descobri que ela sempre gostou de mim desde a metade da sexta série.
  Na universidade, frequentei a UCLA, cidade localizada a quilômetros de distância de onde morávamos, mas onde se localizava a sede da empresa do meu pai. , por outro lado, permaneceu em nossa cidade, São Francisco, estudando com a bolsa que seu pai, coordenador de um curso, conseguiu para ela. Naquela época, achei que entraríamos em colapso. Meu ciúme e sua insegurança fazia com que brigássemos como jamais havíamos brigado antes; chegamos a ficar sem nos falar por duas semanas seguidas, nosso recorde até hoje. Durante esses quatorze dias sem contato, tive a certeza de que minha vida era predestinada à ela. Viver duas semanas sem falar com foi mais doloroso que passar quatro anos longe dela, limitando nossos encontros a finais de semana e feriados.
  Quando finalizamos a faculdade, escolheu mudar para Los Angeles e vir morar comigo com a desculpa de que queria fazer sua pós graduação na universidade em que me formei. Tão logo quanto me disse que havia feito sua matrícula, comprei um apartamento com a promessa ao meu pai que descontaria o valor dos meus salários. Meu pai sempre teve a mania de achar que pessoas ricas devem sempre ser humildes e viver como qualquer outro cidadão americano, trabalhando e dando duro para subir na vida; contudo, minha mãe, uma pessoa nascida em berço de ouro – ao contrário de meu pai -, me poupava de algumas dificuldades. Quando disse que gostaria de morar com em um apartamento para nós dois, ela quem fez o pagamento, porque meu pai achava que eu deveria comprar com meu próprio dinheiro.
  Nossa vida conjugal se iniciou de maneira tranquila. Porque nós estávamos há meses sem nos ver, ficamos grudados por alguns meses. é uma mulher tranquila; não se mete em meus problemas a não ser que eu peça e sempre foi uma grande amiga, disposta a me ouvir e me ajudar sempre que pode. Por outro lado, o fato de eu ser tagarela e ela calada me faz ter dificuldade em achar que entendo tudo sobre sua pessoa. Nunca pareceu aborrecida por eu não suprir suas expectativas em alguns casos, contudo, meu ego sempre colaborou em me fazer sentir mal e tentar melhorar mais para minha namorada.
  Há dois anos e meio atrás, então, a pedi em casamento durante uma visita que fizemos a seus pais em São Francisco. Estava seguro sobre minha vida profissional, com uma conta bancária que poderia sustentar centenas de pessoas tranquilamente. Não foi surpresa quando meus sogros concordaram, felizes com meu pedido. Fui o primeiro e único namorado de , assim como ela sempre foi a única garota de minha vida. Tudo o que sei sobre o amor, descobri com ela, por isso, feliz como estou, não me arrependo de qualquer resquício de minha vida.

  O problema maior se iniciou durante uma reunião há um mês.
  É comum empresários que vivem trabalhando terem dores de cabeça frequente. Sempre lidei com a dor e posso dizer que, em um momento da vida, acabei me acostumando com ela sempre presente. Contudo, há um mês a força da dor começou a aumentar, de modo que minha vista se embaçava e a ânsia se aproximava. Ao contatar o médico que desde pequeno cuidou de mim, disse que poderia ser uma vertigem forte. Solicitou alguns exames que não fiz. Claro que não fiz, não há tempo para isso.
  - Aidan, não é como se você pudesse lidar com esses sintomas, como lidou com sua dor de cabeça. – Greg, o médico, disse quando retornei e informei que não havia resultado nenhum de exame, porque não havia os feito. – Se agravado, você pode ter ataques de desmaios; dependendo do local onde estiver, pode ser extremamente perigoso.
  - Doutor, não duvido de nenhum sintoma que é indicado pelo senhor, mas deve entender que não há tempo para isso. Estamos lançando um novo grupo na empresa e é necessária muita atenção para a divulgação...
  - Aidan, não é por nada, mas você sempre culpa o lançamento de novos grupos. Um exame não demora mais que meio dia para ser feito. É uma precaução importante para sua saúde.
  Concordei, certo de que aquela bronca havia sido em vão. Não havia motivo para me preocupar, minha saúde sempre foi saudável. Faço os exercícios matinais orientados pelo personal trainer e garante que minha alimentação sempre esteja de acordo com as exigências de meu corpo. Meu único problema é o excesso de trabalho, que obviamente, não há cura.
  O caminho para casa foi em completa agonia. A dor de cabeça me fazia fechar os olhos com mais frequência; por sorte, contratei o serviço de motorista há algum tempo para poupar horas sem trabalhar durante o trânsito de Los Angeles. Chegando em casa, ouvi cantarolar na cozinha e senti o aroma do jantar que brevemente estaria pronto.
  - Já chegou? – ela disse, quando me viu parado na porta de nossa cozinha. Olhou para o relógio. – Você está quarenta minutos adiantado, então não há nada pronto ainda. Vá tomar um banho e assim que eu... Ei!
  - Senti sua falta. – a abracei enquanto ela mexia no conteúdo dentro da panela. Escondi meu rosto em seu dorso, sentindo o cheiro de seu perfume de sempre, o meu favorito.
  - Bem, este não é o seu recorde. – ela virou seu corpo em minha direção, me abraçando em retorno. – Fui ao médico hoje.
  - É mesmo? – abri um pequeno sorriso. Sem avisar, a dor de cabeça retornou, fazendo com que a voz de ficasse longe por alguns segundos. – Desculpe, não prestei atenção, pode repetir?
  - Aidan, você está bem? Ficou pálido de repente. – suas mãos tocaram meu rosto e foi como medicina. Assim que senti seu toque, a dor diminuiu, voltando à faísca que estou acostumado em sentir.
  - Estou bem, é só a fome. Não comi nada desde manhã; antes que brigue comigo, eu me esqueci. Hoje foi o lançamento dos Holvers.
  - Ah, sim. É verdade. Não gosto quando você se “esquece” de comer. Suas quatro secretárias fazem o quê da vida no trabalho que não lembram de sua alimentação? Sabe quantas vezes já pedi que...
  - Poderia não discutir comigo agora? Tive um dia cheio e a última coisa que quero é ouvir seu tom aborrecido, quando tudo o que eu mais quero é que você me dê carinho. – volto a abraça-la, sentindo um tapa fraco em meu braço.
  - Como pode agir tão imaturamente em casa? Quando o vejo na TV é sempre tão sério e maduro. Quero esse homem aqui.
  - Esse homem está cansado e precisa de cuidado. – me separo dela e sento em frente à bancada que separa a área da cozinha, da de jantar. – Venha ser uma boa esposa para este marido aqui.
  Ouço sua risada e o avental que cobria sua cintura ser retirada e colocada em cima da própria bancada.
  - Aidan, não é o homem quem deve cuidar da mulher?
  - Por Deus, , estamos no século vinte e um. – resmungo, ouvindo mais gargalhadas.
  - Vou me lembrar disso quando vir com algum comentário machista.
  Abro um sorriso enquanto abraço sua cintura e sinto o chamego em minha cabeça. Suas mãos são medicina para minha dores; sem perceber, descanso meu corpo sentado em uma cadeira. Pela primeira vez em meses, sem dor.

Capítulo 2

Escrito por Natashia Kitamura

  

  Aidan sempre gostou de acordar cedo para se exercitar. Na minha opinião, é apenas um hábito que criou para que eu não pegue tanto no seu pé por não cuidar de si. Desde quando nos conhecemos, ele sempre foi uma pessoa espontânea demais. Devido a toda essa espontaneidade, Aidan esquecia de coisas fundamentais, como se alimentar, colocar cuecas na mala ou abastecer o taque do carro. Por sorte, ele conseguiu se apaixonar por mim; mesmo não trabalhando na área que me formei, minha função sempre foi cuidar de Aidan e garantir que fosse feliz em sua vida pessoal comigo. Uma empresa de entretenimento traz muitos problemas para sua cabeça e faz com que seu corpo se desgaste o dobro do que um cidadão empregado normal.
  Assim que o vi adormecido em meu colo em nossa cama, vi que não era o momento certo para falar sobre minha consulta. Há alguns meses tenho abordado o assunto sobre filhos com ele, mas por causa de sua agenda cheia e telefonemas longos, não tivemos tempo de decidirmos se poderíamos ter esse filho ou não. Agora, observando nossa situação e o fato dele continuar esquecendo-se de comer, é bastante claro que a resposta é ‘não’. Nós ainda não podemos ter um filho.
  Tenho tentado faz algumas semanas convencê-lo de ir ao médico para fazer um check up, já que durante todo o ano, sua rotina tem somente a ver com a empresa ou minha vida pessoal. Contudo, sua saúde é sempre posta de lado, o que me deixa preocupada. Ele tem dores de cabeça com frequência e se entope de remédios para minimizá-los, mas já fui informada de que não é uma boa ideia. Dor de cabeça pode ser problema no fígado, que não está filtrando bem o sangue, que consequentemente vai pouco oxigenado para o cérebro, causando as tais dores incessantes. Procuro cuidar de sua alimentação em casa, mas não consigo na maioria das vezes, já que ou ele não come em casa, ou está cansado demais e vai direto para o banho e dormir.

  Decido ir até o centro da cidade procurar por algum remédio homeopático que auxilie nas dores de cabeça de Aidan. A cidade estava cheia por ser verão e estar sempre com um fluxo alto de turistas. Passo por um grupo de adolescentes que estão em frente à uma vitrine cochichando sobre algo. Não consigo evitar minha curiosidade e dou uma olhada de relance só para acabar com o bicho curioso dentro de mim. As meninas estão observando um homem de costas trabalhar em uma tela de pintura. Olho para a placa da loja, que mostra ser um ateliê de arte de um artista plástico. Tenho procurado um quadro para pendurar em meu closet faz um bom tempo. Passei por diversos ateliês e exposições, mas nenhum pareceu bom para observá-lo todos os dias quando vou me trocar. Tentei colocar fotografias, mensagens e até uma santa, mas nenhum pareceu completar o ambiente.
  Acabei decidindo entrar na loja somente para dar uma olhada. Aidan disse que não poderia almoçar comigo por estar ocupado com a agenda do grupo que acabou de debutar, então eu tinha até o final da tarde para voltar para casa e começar a preparar o jantar, já que seus pais viriam para nos visitar.
  A loja era bastante clara, as paredes muito brancas para destacar as cores dos quadros. Achei interessante como o excesso delas acabaram se tornando harmoniosa. A parede de meu closet também é branco; talvez o efeito possa ser o mesmo nele.
  - Olá, sou Vivian, posso ajudá-la?
  - Estou apenas observando, obrigada. – falo minha resposta automática. Vejo o sorriso simpático da vendedora e então se afastar para me dar privacidade na análise. – Na verdade, gostaria que me falasse um pouco sobre os quadros. Estou procurando algo, mas ainda não encontrei em nada do que vi. Talvez com uma explicação eu possa finalmente encontrá-la.
  - Seria um prazer apresentar as obras de . Ele está trabalhando aqui hoje, o que é um milagre. – apontou para o homem de costas. – Ele costuma gostar de trabalhar em seu próprio estúdio. Diz sempre que suas inspirações são as pessoas ao seu redor, mas a verdade já descoberta é que o fato dele ter sido uma criança carente acabou tornando-o mais sensível.
  - Carente? – olhei para as costas largas do artista trabalhando. Claro, não poderia ser diferente. Um artista plástico sem família que se vê jogando suas angústias nas telas. – Bem, então talvez os quadros não sejam para trazer, hum, bons fluídos?
  - Ah, não! Não interprete dessa maneira, senhora! – a tal de Vivian levantou as mãos. – não gosta de negatividade. Em seus quadros espera passar sempre a alegria e o conforto de modo a conseguir passar a energia para o ambiente. Ele não é muito espiritual, mas acredita que um local só se torna bonito com a ajuda de uma arte.
  Abro um pequeno sorriso, compreendendo suas palavras. Finjo que tenho interesse em comprar e digo que passarei outro dia para olhar com mais calma. Vivian entrega o cartão de antes de sair da loja. O grupo de adolescentes continuam lá, cochichando sobre a beleza do artista entre si. Solto uma risada discreta sem que elas ouçam enquanto me afasto do grupo, é ótimo ser jovem e ter tempo para observar artistas pintando.

  Os pais de Aidan chegaram às oito e meia, como combinado entre eu e Karen, minha sogra. Os dois pareciam felizes por estarem nos visitando, mesmo todas as outras vezes senhor North ir embora sem se despedir por causa de uma discussão entre ele e Aidan. Planejei alguns temas para conversarmos que não fosse relacionado à lembrança da empresa.
  - Ele saiu de uma gripe há pouco, mas já quer voltar a trabalhar. – Karen dizia na cozinha, o momento em que nós duas tínhamos para conversar longe dos dois.
  - Acredito que Aidan esteja em uma gripe, mas finge não estar porque não quer que o mande parar de ir à empresa. Já perdi as contas de quantas vezes pedi para ele ir a um médico.
  - Tal pai, tal filho. Desculpe dizer somente agora que está casada com ele, , mas Aidan não irá mudar quando envelhecer. – rimos com o comentário dela. De fato, é inegável que os dois não sejam pai e filho.
  O jantar caminhou tranquilamente. Até a sobremesa, não havíamos falado um ‘A’ sobre a empresa ou qualquer assunto que pudesse haver divergências de opiniões entre os dois. Foi então que Aidan começou a tossir, chamando a atenção dos dois por não ser uma tosse comum ou que pudesse ser ignorada.
  - Você está gripado. – Steven disse, observando Aidan colocar o guardanapo de pano sobre a boca. – Você não está cuidando bem dele, .
  - Steven! – Karen olha para meu sogro, que levanta os ombros. Ele nunca foi de esconder verdades, por mais que elas doam um pouco. Não pude deixar de me ofender, mas tentei não demonstrar importância, já que ele sempre se expressava exageradamente de vez em quando.
  - está fazendo bem o papel dela, pai. – Aidan diz, nervoso por mim. – O senhor não deveria falar assim de alguém que está se esforçando.
  - O esforço deve levar alguém a demonstrar resultados positivos. Você está doente. Isso não me parece um resultado positivo.
  - Foi somente uma tosse, por Deus! – Aidan joga o guardanapo no prato vazio. – Estávamos tendo uma boa refeição, por que teve de começar a ofender a minha esposa?
  - Não estou a ofendendo. Estou fazendo uma observação.
  - Que é ofensivo!
  Aidan não pode discutir muito mais; foi dominado por um ataque de tosses que fez com que eu pedisse para ele ir para a cama e acompanhasse seus pais até a porta.
  - Cuide dele melhor, . Meu filho é meu único herdeiro.
  - Você sabe que ele não diz isso para ofendê-la, não é? – Karen aborda o assunto, sem graça, assim que meu sogro segue em direção ao carro. – Ele está em uma política de tentar não discutir com Aidan, por isso, culpa outras pessoas ao redor para evitar, mas acaba se esquecendo dos sentimentos delas. Não é por isso que não irá gostar de você.
  - Tudo bem, Karen, entendo a preocupação dele. – abro um sorriso de compreensão e a vejo se afastar, aliviada por eu não ter me ofendido.
  Ah, mas eu me ofendi, sim.

  - Por que não vai ao médico? Por que não se cuida e no final, tenho que ficar ouvindo seu pai me dizer que não cuido bem de você? – gritava de dentro do meu closet enquanto Aidan tomava seu banho e fazia a barba para o dia seguinte: - O que custa me ouvir?
  - Querida, eu sei que está...
  - Não me venha com querida! Você ouviu o que ele disse! Aidan. Você vai no médico. Vai fazer todos os exames que ele mandar você fazer até o final dessa semana. Eu não me importo com a nova banda, com a estrutura da empresa. Eles viveram um ano sem seu pai quando ele decidiu viajar para a Suécia. Podem viver sem você por uma semana. – aponto para ele quando o vi sair do banheiro, pronto para protestar. – Eu não irei ouvir mais esse tipo de comentário do seu pai e não irei ficar viúva antes da sua mãe, está me ouvindo?
  - Você está exagerando... – ele diz, entre um riso e outro.
  - Acha isso engraçado? – observo ele entrar no closet e colocar um samba-canção e em seguida o pijama. – Eu estou rindo, por acaso? Pare de rir, Aidan!
  - Tudo bem, me desculpe.
  - Você vai no Greg amanhã. Fará todos os exames que ele pedir até o final da semana.
  - , você sabe que não posso. A empresa está passando...
  - Seu casamento está passando por uma crise, Aidan. A empresa é mais importante que o casamento? – aperto os lábios, ainda mais ofendida por estar sendo pouco caso. – Faça os exames. Você tem até o final da semana ou ligarei para Bryan iniciar a papelada dos divórcios.
  - Você não está falando sério. – finalmente consegui sua atenção.
  - Tente não fazer os exames para ver se estou falando sério ou não. – o olho feio, de modo que o calei. – Eu cansei de você não me ouvir. Não vou ouvir desaforos do seu pai e não vou cuidar de alguém que não quer se cuidar. – pego meu robe de seda e sigo para fora do closet. – Vá dormir na sala.

Capítulo 3

Escrito por Natashia Kitamura

  

  Sentei no meio da praça localizada em uma área nobre da cidade, atualmente, meu ponto favorito para me inspirar em novos quadros. Devido à minha profissão, tenho muito tempo para me dedicar a observar o cotidiano das pessoas e tentar entendê-las melhor. As crianças que brincam e insistem que gritar é a melhor maneira de se comunicarem e serem ouvidos, os pais que acreditam que deixar seus filhos gastarem energia no parque os farão dormir mais cedo sem protestarem, os idosos que caminham em uma tentativa saudável de prolongarem suas vidas felizes; até mesmo os cachorros que obedecem as ordens de seus donos, buscando os brinquedos que eles jogam para se divertirem. Cada um destes fatores já foi tema dos meus quadros. Apesar de serem clichês, minha intenção não é demonstrar o que qualquer pode ver ao se sentar em um parque e gastar uma hora de seu dia olhando para as pessoas ao seu redor. Dentre todas as atividades que essas pessoas e animais praticam, há algo que faz deles iguais: espontaneidade.
  Recentemente tenho utilizando o espontâneo para produzir telas coloridas, mas abstratas, que faça quem está vendo confundir as cores por estar encarando-as com muita atenção. Gosto de saber que minhas obras causam um efeito próximo ao da hipnose, onde o usuário que está com a atenção direcionada nele deixa de pensar em qualquer problema ou situação de estresse. O espontâneo faz com que a vida seja mais divertida para alguns e mais perturbadora para outros.
  Faz sete meses que trabalho no tema ‘espontâneo’. Como artista, sou conhecido por ter meus breves momentos de ‘insight’, como os críticos definem. O que quer dizer, é que de tempo em tempo eu mudo as cores e os movimentos de minhas artes para algo que pode ser o oposto das últimas obras. Depois de um tempo na mira dos críticos, eles passaram a caracterizar minhas criações com “coleções”. Já houve a coleção do estresse, do agradecimento, do orgulho, da esperança, da infância, do mal-estar. Obras abstratas que trazem à tona sentimentos concretos. Por incrível que pareça, os que remetem à negatividade foram aqueles que venderam mais. Fiquei surpreso com o número de pessoas que acabaram por “se identificar” com o que enxergavam nas poucas cores que retratava em obras tristes. Descobri que o ser humano gosta de se sentir miserável e o que antes era a busca de obras que conseguissem alegrar o ambiente em que viviam em um meio de se sentirem melhores, agora eles investem na depressão para que possam seguir com suas vidas.
  Não posso negar que estas “coleções” foram criadas devido à rápida mudança de meu humor. Sou uma pessoa que não gosta de aborrecer aqueles que se dispõem a manterem-se ao meu lado, por isso, costumo guardar tudo dentro de mim. Alguns dizem que sou reservado, outros, isolado. A verdade é que prefiro ser aquela primeira peça do quebra-cabeça que não trará nervosismo por não ser encontrada ou encaixada rapidamente e sim esquecida por ter sido a primeira montada. Não possuo muitas coleções, pois minhas obras só passaram a ser comerciáveis depois que fui descoberto pelo dono de um ateliê que passava na rua onde costumava pintar. Disse que meus quadros tinham potencial e que se fossem vendidos para as pessoas certas, eu logo teria o reconhecimento de pessoas do ramo que pudessem me agregar novas experiências; por elas, as experiências, aceitei ceder meus quadros ao homem que hoje faz de mim o carro chefe de seu negócio, criando um ateliê inteiro somente para minhas obras.
  Minha primeira coleção foi sobre esperança. Este homem que me descobriu e que agora me refiro à empresário usou do meu passado para atrair a atenção de clientes. Sou um órfão que cresceu em um orfanato repleto de crianças animadas e adolescentes mau humorados. Aparentemente, as pessoas esperam que adultos órfãos e que nunca foram adotados possam ser rudes e antissociais. Encontrar um artista plástico que mostrava esperança em seus quadros fazia com que os clientes achassem que não havia pessoa melhor no mundo que soubesse sobre o valor da esperança como eu. Acreditavam que observando meus quadros, conseguiriam entender ou passar a mensagem para as pessoas que olhassem como eles, em busca de incentivo para continuar. A maioria de meus compradores se tornaram fiéis às minhas obras. Eles dizem que consigo descrevê-los através das tintas e formas, mesmo quando bruscamente mudo de coleção para algo novo, imediatamente passam a elogiar mais meu trabalho, como se eu soubesse quando algo diferente aconteceria em suas vidas e eles pudessem descobrir antes porque viram minhas artes. Sem perceber, virei um tipo de pessoa que prevê o futuro desenhando formas que descrevem o meu presente.
  Estou sentado na praça afim de encontrar uma inspiração para o que será o trabalho mais importante da minha carreira até então. Fui convidado para expor uma obra minha na semana de arte de Nova Iorque. É lá onde se encontram os melhores artistas plásticos do mundo. Obviamente não pessoalmente, mas através de seus quadros. Nunca fui do tipo que desejou estar com meu quadro na parede de alguém famoso, mas desde a venda de meu primeiro quadro por mais de seiscentos mil dólares, acabei descobrindo que se alguém estivesse disposto a pagar milhões, eu não me importaria em receber o dinheiro.
  Olho para os lados interessado no rumo que as pessoas estavam tomando. Carrinhos de sorvete, gramado para picnic, ciclovia ou faixas de pedestres. Tudo o que eu via era felicidade, consideração, preocupação, animação... Não era o que eu procurava. Olhei mais um pouco até encontrar uma moça sentada em uma mesa na calçada de um restaurante. Estava sozinha e lia um livro que falava sobre Nietsche. Sua expressão era passiva, calma. Ao virar a folha do livro, molhava a ponta do indicador na língua e mexia a cabeça de acordo com que a folha virava. De vez em quando olhava para o lado interno do imenso ombrelone que a protegia do sol; em uma expressão pensativa, chegava a uma conclusão e então voltava a ler seu livro. Vez ou outra sua atenção era interrompida pelo garçom que trazia sua salada de almoço e uma nova bebida de cor viva. Enquanto observo a mulher viver uma vida agradável, não consigo deixar de lado a satisfação de finalmente, depois de dois dias vindo ao parque em busca de inspiração, ter encontrado o tema a abordar. Tranquilidade. É o que paira sobre a mulher. Seus movimentos, o sorriso de agradecimento, até a conferência no visor do celular, tudo é feito tranquilamente, como se ela não tivesse pressa de viver.
  Rapidamente retiro meu velho celular do bolso e tiro uma foto o mais perto que o zoom de minha câmera me permite chegar e, em passos apressados, sigo até meu ateliê, próximo ao parque. À frente, um grupo de garotas aguarda minha chegada para me cumprimentar e entregar novos cookies de mel e chocolate, meus favoritos. Não sei de onde elas surgiram, mas de um tempo para cá têm sido bastante simpáticas em elogiar meus quadros e divulgar para várias pessoas da região. Minha secretária, Vivian, disse que elas possuem uma queda pela minha beleza, mas prefiro pensar que é porque se encantam com a mensagem que passo através de meus quadros.
  - Você tem a visita de um expositor hoje...
  - Cancele. – digo apressadamente para Vivian, que faz uma careta ao meu ouvir cancelar meu único compromisso do dia. – Eu consegui.
  - Mesmo? – ela pergunta com a agenda em mãos. – Porque este expositor é muito importante e se você não estiver, terei de mostrar as obras eu mesma.
  - É verdade, eu consegui mesmo e quero começar imediatamente enquanto estou exalando inspiração.
  - Claro! Claro, claro, vá em frente, direi que você entrou no “transe”. – sorri e faz o formato das aspas com os dedos. Todas as vezes que tenho uma nova inspiração, ela é direcionada a uma nova coleção. Quando isso acontece, tenho de ficar isolado, longe de barulho e preso à minha própria realidade, que é a que passarei para o quadro. Meus clientes e representantes pelas quais ofereço meu trabalho compreendem ser a fase depois do ‘brainstorm’. Por acontecer com pouca frequência, não costumam protestar.
  Quando me sento para criar uma obra, costumo passar de duas a sete horas trabalhando direto e sem interrupções para sequer ir ao banheiro. Se estou apertado, seguro a vontade, pois sei que uma vez fora, quando volto não é a mesma coisa e perco todo o trabalho feito. Pela primeira vez fiz um quadro dentro de duas horas. Assim que virei minha obra dentro da máquina que realiza uma secagem mais rápida da tinta, saio do meu espaço particular no ateliê em direção à Vivian.
  - Se você tivesse saído há cinco minutos, teria atendido uma moça que mostrou interesse em seus quadros, mas desconfiança nos conteúdos deles quando disse que era órfão.
  - Você precisa tirar a palavra órfão de seu discurso de apresentação. – repreendo sua atitude, mas ela não se importa.
  Vivian e eu somos colegas de orfanato. Ambos fomos do grupo de cinco pessoas que não foram adotados até fazer 18 anos. Todos os anos há pessoas que saem do orfanato por terem atingido a maioridade; algumas vezes meses diferentes, outras vezes no mesmo mês. Eu completei 18 no início de Março e Vivian em Setembro. Assim que ela saiu, foi direto para a universidade estudar economia. Contudo, foi convidada por meu empresário para manter-se ao meu lado e trabalhar comigo. Vivian e eu sempre fomos próximos, por isso, não me importei quando ele anunciou que ela seria minha secretária-empresária, garantindo que entregasse todos os quadros a tempo para ele.
  - Não sei por que você não se acostumou com a ideia de ter a imagem de órfão vinculado aos seus quadros. Nunca foi um problema.
  - Até agora. – fiz uma careta, de modo que ela deu uma pequena risada.
  - Tudo bem, uma moça, não é o fim do mundo. – colocou a mão em meu ombro, como se quisesse me consolar. Abri um sorriso calmo e vi sua expressão mudar. – Deu tudo certo com o expositor, ele sentiu que não pode falar com você pessoalmente, mas compreendeu a importância de mantê-lo isolado durante o processo de criação. Além disso, o fato dele ter visto com os próprios olhos você trabalhando fez com que sentisse mais segurança em aceitá-lo em seu ateliê de vendas em Miami. Como ele disse: - limpou a garganta e mudou sua voz para um tom ridiculamente mais grosso, me fazendo começar a rir. – “Eu gosto de pessoas que tem compromisso com seus próprios negócios.”
  - Quando é que você irá amadurecer? – perguntei entre risadas.
  - Seis meses depois de você. – deu uma piscadela. – Trinta anos não é uma idade velha.
  - Tampouco nova.
  - Tá, tá, você é sempre tão velho, Aidan.
  - E você é sempre tão nova, Vivian.
  Vejo seu sorriso. Nossas saudáveis discussões sempre terminavam em brincadeira, pois costumo ser uma pessoa passiva. Vivian tem temperamento forte, por isso às vezes brinco que ela continua sendo solteira. Ela é uma boa funcionária porque gosta do que faz e é firme em suas falas e decisões, contudo, consegue ser simpática quando necessário.
  - E da onde foi que você tirou inspiração dessa vez? Não foi um cachorro, não é?
  - Qual o problema de se inspirar em cachorros? Eles são objetos de estudos muito interessantes.
  - Para um louco como você, sim. – brincou.
  - É uma mulher. Estava sentada no restaurante em frente à praça lendo um livro. – tirei o celular de meu bolso e abri o álbum de fotos para que pudesse mostrar a foto à ela. – Havia algo nela que transparecia tranquilidade. Tudo o que fazia era com calma e sem pressa. As pessoas precisam mais viver com tranquilidade ao invés de se preocuparem somente em fazer dinheiro ou pensar no menu do jantar. Veja. – viro o visor do celular para ela, que inclina para enxergar melhor, já que a qualidade não estava muito boa. Nunca fui um bom fotógrafo, por isso prefiro as telas.
  - Caramba.
  - O que foi? Você a conhece? – pergunto, interessado na expressão de choque que toma conta de seu rosto.
  - Você não vai acreditar. - ela olha para mim. – É a mulher da crítica ruim. - aponta para a foto.
  - Como?
  - A moça que veio aqui e desconfiou da autenticidade da obra porque você é órfão.
  - Sério? – abro a boca, chocado. – Vá atrás dela.
  - O quê? Você está louco?
  - Não. Vá atrás dela. Quero que a conheça. – corro até a entrada da porta, onde o grupo de garotas continuava presente, mas em quantidade menor. – Não deve estar tão longe se saiu apenas a cinco minutos.
  - , o que você quer...
  - Quero que você a conheça. Quero saber o que a fez desconfiar da minha obra.
  - Pare de ser obsesso, foi só uma pessoa. – a vejo revirar os olhos.
  - Vivian. – seguro em seus ombros. – Se uma pessoa consegue ter um ponto de vista desses, milhares de pessoas também consegue. Além disso, ela é a garota tranquila, preciso saber mais sobre ela. De preferência, diga que você não é do ateliê, não quero que ela venha até aqui reclamar de uma stalker.
  Vivian começou a rir como se eu fosse maluco. Talvez a ideia fosse maluca, mas preciso saber por que a garota tranquila, inspiração do meu quadro que pretendo que seja um viral, mostrou desconfiança nas minhas obras.
  Pode ser que minha seriedade tenha a convencido. Na maioria das vezes Vivian não consegue ter o mesmo ponto de vista que o meu, de modo que há divergências em nossa comunicação, contudo, grande parte dessa maioria ela desiste e resolve fazer o que eu quero, como agora.
  - Tudo bem. – diz em um suspiro. – Mas ela irá lembrar que sou daqui.
  - Então invente uma mentira. – falo, como se fosse óbvio. – Apenas volte aqui depois que tiver informações sobre ela.
  - Que tipo de informações?
  - Do tipo, ela trabalha? O que faz da vida? Ninguém que trabalha é tranquilo assim e ninguém que é tranquilo assim enxerga meus quadros com os mesmos olhos que todas as pessoas exaustas pelo dia a dia enxergam.
  Vivian balançou os ombros e deixou sua agenda com uma das vendedoras. Olhei para ela sair correndo da loja em busca da minha inspiração. Se a mulher conseguiu me inspirar uma vez, além de ser minha pesquisa sobre preferências diferentes, poderá me inspirar em mais obras.

Capítulo 4

Escrito por Laís Carneiro

  Aidan

  Sempre detestei hospitais.
  Nunca soube o porquê, mas algo nessas paredes brancas que fazem nos perder e a cada olhada no nada mais nervosismo encontrar.
  Já faziam duas semanas desde que e eu havíamos discutido por causa de minha completa falta de interesse pela minha própria saúde, naquela mesma noite logo após ela ter me mandado dormir na sala (ela não é de voltar atrás com a palavra, então sim. Eu dormi no sofá), eu enquanto estava deitado no sofá com os olhos fixos em um ponto no teto da sala parei finalmente para pensar nos sintomas que estava sentindo à mais de meses, frequentes dores fortes de cabeça, falta de atenção que na grande maioria das vezes me causavam esquecimento de acontecimentos recentes... Tudo isso, agora quando paro para pensar me começa ao preocupar.

Flashback

  - Sr. Aidan? – A nova secretária havia chegado na minha sala, a menina Eloise era nova, ainda em seus 22 anos estava cursando a faculdade e precisava de um emprego para custear seus tantos gastos e se manter na cidade. , que claro, ajudou no processo de seleção fazendo um questionário para cada uma das candidatas e ela mesma selecionou Eloise como “perfeita”.
  A menina foi atormentada por por semanas, perguntando se eu havia comigo, o que eu havia comido, se eu estava bem e que era para ela me lembrar de cuidar de mim mesmo, e no final de tudo Eloise acabou virando melhor amiga de e consequentemente a X-9 da minha mulher.
  - Eloise, já lhe disse que não precisa me chamar pelo sobrenome. – Sem retirar os olhos da papelada que estava avaliando à mais de horas para a nova campanha, isso normalmente é a causa das minhas maiores dores de cabeça. – Aidan. Me chame assim, ok?
  - Tudo bem, Aidan. – Ela já entrava e fechava a porta atrás de si, foi quando a olhei finalmente e percebi que estava muito bem arrumada. – Não quero lhe incomodar, mas os investidores já chegaram...
  - Como? – Disse olhando para o relógio à procura do dia de hoje, não havia marcado nenhuma reunião – Está beirando à loucura com lhe enchendo à paciência. Não marquei reuniões hoje Eloise.
  - O senhor marcou esta reunião mais cedo. Quando ligou para o seu pai. Não se recorda? – Disse a jovem olhando diretamente nos meus olhos. Eloise tinha um poder de nos avaliar pelo olhar, e quando ela me olhava, com os seus belos olhos castanhos e inquisidores, me sentia completamente violado.
  O pior é que nas mãos de Eloise tinha um papel com a minha letra marcando uma reunião com os investidores para hoje à tarde. Eu não conseguia me lembrar, me esforçava ao máximo para tentar explorar os cantos de minha memória, porém nada vinha. E foi aí que eu percebi, não conseguia me lembrar de nada naquele dia.
  E nem dos dias anteriores.

/Flashback

  - Aidan? – Disse o meu médico que acabava de entrar na sala em que eu estava, algo me diz que ele já estava ali a mais tempo que eu pudesse pensar – Você está bem?
  - Relativamente, sim. – Respondi olhando para suas mãos que continham uns papeis e meus exames que havia feito durante a semana.
  Decidi já fazer esses exames para meus pais e tirarem essa paranoia de doença da cabeça, eles só pensam no pior e eu tenho certeza que é apenas uma dor de cabeça e no máximo um pouco de estrese do trabalho.
  - Aidan, tenho uma notícia muito importante para lhe dar, mas peço que você tenha calma. – Algo no tom dele me dizia que aquilo não era apenas uma dor de cabeça. Eu balancei a cabeça em sinal de aprovação e um arrepio ouriçou os pelos dos meus braços e do meu corpo inteiro. – Você tem um tumor no cérebro muito sério. Um tumor maligno Aidan. Ele se chama Glioblastoma Multiforme e você já está em um grau avançado... De grau VI.
  Tudo no meu mundo pareceu desabar no momento em que ele disse “tumor maligno”, tudo o que eu tinha planejado para um futuro de fazer feliz e finalmente lhe dar o que tanto quer, um pequeno filho ou uma garotinha para chamar de sua. Eu nunca poderei faze-la feliz, estava paralisado e tinha parado de respirar durante uns segundos. O que iria fazer da minha vida? Como iria deixar sofrer? Isso fez meu coração apertar.
  - Aidan? – Perguntava o médico que estava com semblante triste, com certeza ele sabia que eu não tinha mais chances de viver.
  - Quanto tempo? – Ele me olhou com semblante assustado e disse um “perdão?” quase inaudível então já me exaltando, disse mais uma vez já bem mais alto que antes – Quanto tempo?
  - Na maioria dos casos com tratamento certo e um tempo o paciente tem chances de viver de 1 a 2 anos após a descoberta e tratamento do tumor. Porém o seu caso é muito sério e já bastante avançado, com isso lhe daria apenas 14 meses de vida com sorte. Me desculpe Aidan...
  - Não precisa se desculpar... – Meus olhos estavam vermelhos e ardendo e a única pessoa que eu conseguia pensar era minha . – Nem sei como dar essa notícia a ... Eu...
  - Aidan, nem tudo está perdido... Eu vou lhe encaminhar para uma amiga minha, especialista em tumores malignos e uma das melhores neurologistas que eu já tive o prazer de conhecer. Ela conhece esse seu tumor e já a avisei e expliquei o seu caso. Ela é mais ou menos da sua idade, e já tem bastante experiência com tumores. – Explicou o médico me dando um cartão muito bem organizado, onde haviam vários neurônios azuis e pelo que eu conheço de biologia estavam se comunicando com partes mais claras entre um e outro. Havia um nome em destaque e logo abaixo um número de celular. Emma G. Hayes.
  O médico falava comigo como se já tivesse me dando os pêsames pela minha morte. Meu celular tocava insistentemente no meu bolso e deduzia ser Eloise querendo saber onde eu me enfiei no meio do dia e que já havia ligado para ela mais de 1 milhão de vezes. Não queria ouvir ninguém, não queria falar com ninguém, eu mal conseguia enxergar à minha frente e não dava sem rumo pelas ruas da cidade, buscando algo que poderia me dar alguma luz. Alguma... Alguma... Esperança.
  Dava passos pequenos e incertos e percebi que havia chegado em um parque, uma pequena praça onde haviam muitas crianças e mães se divertindo e correndo... Quando de repente me esbarrei em alguma coisa, eu percebi ser um rapaz de altura similar à minha e o rosto tão parecido com o meu... Apenas os olhos, esses eram diferentes eram de um azul intenso ao contrário dos meus olhos verdes. E foi quando percebi que estava praticamente me olhando no espelho, simplesmente não deu tempo de dizer uma palavra, minha visão se embaçou gradativamente e de repente tudo ficou preto. E por um segundo pensei estar morto.

[...]

  Escutava vozes confusas e minha visão ainda estava um pouco embaçada, haviam dois homens no quarto, um vestia branco e deduzi ser o médico. E então minha visão foi clareando aos poucos e percebi estar em um quarto de hospital o médico me olhava curioso e o rapaz... O rapaz! Meu Deus, ele era exatamente idêntico à mim, não precisava tirar e nem pôr se quer um fio de cabelo, nosso corte era igual (estranhamente igual) e nosso físico era parecido, ele era apenas um pouco mais forte que eu, deveria fazer um tipo de luta... Mas isso não importa estou olhando para o espelho!
  - Meu Deus... – Disse me sentando de vagar olhando para o rapaz que me encarava assustado – Quem... O que... Quem?
  - Me pergunto o mesmo, Aidan. – Disse olhando para mim diretamente – Sou . E nós nos parecemos um bocado.
  - . Você é eu. – Disse o olhando de cima ao baixo e de repente o médico chegou no quarto e por um momento não havia percebido que ele tinha saído.
  - Senhores, lhes darei um pouco de privacidade. Porém, o Sr. Aidan já está liberado. – Disse o médico entregando algo para assinar e logo em seguida saiu.
  Nós dois ficamos durante alguns minutos em silencio apenas nos olhando, tinha algo nas mãos, um papel. Não quis prestar atenção nisso naquela hora, eu apenas estava interessado em descobrir como seria possível alguém ser tão parecido comigo sem ser da família. Ele não é da família... Certo?
  - Eu... – Ele suspirou e balançou a folha de papel – Tomei a liberdade de fazer um teste de DNA. Espero que não se importe, mas antes de qualquer coisa... Eu sou órfão, por isso da desconfiança.
  - De maneira alguma... Parei de me importar com coisas fúteis há umas 2 horas atrás... – Lembrei do momento em que o médico disse “tumor maligno” e “14 dias de vida”.
  Acredito que no momento em que as pessoas passam por um momento difícil na vida, por algum risco muito grave, elas parem de se importar com coisas que nunca levariam para frente, coisas não importantes e principalmente nos momentos extremos. As pessoas mudam, e eu descobri isso da pior das piores maneiras.
  - Vou olhar. – Ele abria o papel e aquele barulho de papel sendo rasgado estava me dando mais agonia que outra coisa, então ele parou de abrir – Não pense que eu quero seu dinheiro ou qualquer coisa... Eu jamais faria algo assim, até porque eu tenho condições muito boas...
  - ! Abre essa droga logo. – Disse e ele começou a abrir soltando uma risada nasal olhando para o papel. Fiz o mesmo.
  Enquanto abria o papel minha vida inteira passou diante dos meus olhos, era como se um filme passasse diante de mim. Não imagino o quanto difícil foi passar a vida inteira sozinho em um orfanato, e eu com meus pais, sempre recebendo tudo do bom e do melhor. E o pior, porque meus pais me tirariam meu irmão? Tudo seria tão diferente se tivesse um irmão, esse sempre foi meu sonho e meus pais sabiam disso.
  - Positivo. – Ele abriu um sorriso nervoso enquanto me entregava a folha de papel – Desculpe o nervosismo, mas não é todo dia que se descobre que temos um irmão... Principalmente para um menino órfão.
  - Entendo, . – Olhei a palavra em negrito “Positivo” no papel do hospital e aquilo pareceu tão reconfortante, quase que como tomar banho de chuva em um dia de muito calor.
  Ficamos ali parados olhando um para o outro e em seguida começamos a conversar, como se aquilo fosse apagar 30 anos de branco em nossas conversas de irmãos, como se aquilo fosse aniquilar cada momento em nossas vidas que passamos sozinhos ou da vida de , se perguntando o porquê que ele foi deixado, o que tinham contra ele... Nem imagino como ele devia e deve se sentir sobre ter sido largado. Por meus pais terem o deixado em um lugar como se ele fosse um pedaço de lixo que não servia para nada. E nesse momento eu sentia aversão aos meus pais.
  Nossa conversa devia ter durado umas boas 3 horas, e nesse período eu descobri que era um excelente pintor (o que me lembrava muito e seu amor pelas artes), e que eu já conhecia seus quadros, um deles até estava em meu escritório e foi comprado por Eloise há pouco tempo. não tinha se casado ainda e nem namorava, disse que não era o momento para essas coisas, e que ele no momento estava mais interessado em suas artes.
  - Então eu acabo de conhecer meu irmão e ele me diz que vai morrer em 14 meses? – Ele olhava para mim como se implorasse que eu estivesse brincando.
  - Sim. – Abaixei minha cabeça e logo em seguida o olhei – E não sei como dizer isso à minha mulher... Ela sempre, sempre, em toda a sua vida apenas cuidou de mim. Nada mais. Fez faculdade, mas decidiu ficar em casa para poder ser uma “esposa melhor”. Eu não quero que a vida dela acabe por minha causa...
  - Talvez você deva contar isso que está falando para mim à ela. – Disse olhando em direção à janela que amostrava claramente o céu estrelado do lado de fora. – Mentir não é uma boa saída. Acredite em mim. Experiência própria.
  - Você tem razão... Mas se pelo menos eu pudesse sumir durante um ano, apenas, apara me cuidar sem que ela saiba e que ela possa viver a sua vida sem ficar se preocupando comigo durante 24h por dia, e tivesse um robô no meu lugar... – Olhei diretamente para que só balançava a cabeça positivamente olhando para mim. E a solução dos meus problemas estava bem à minha frente.
  - Não... Não... O que eu te disse sobre mentir? – Ele estava com os olhos arregalados e balançando a cabeça e as mãos freneticamente.
  - ! Você ouviu o que eu disse! Ela não vai viver se estiver comigo na cabeça o tempo inteiro... – Olhei para ele com a melhor expressão de piedade do mundo.
  - Essa doença por acaso afetou a sua cabeça? – Pensou mais um pouco e deu uma risada e eu acabei caindo no “humor negro”, afinal se e melhor rir do que ficar chorando – Você está se ouvindo? Ela tem que pensar em você o tempo inteiro. Ela é sua mulher.
  - Ela não vive a vida. Ela só sabe em se preocupar... Que merda. Eu a amo, e a coisa que eu mais quero nesse mundo é que ela seja feliz. – Passei a mão sobre o rosto me lembrando da do 6º ano. Aquela que ainda sonhava e que tinha planos sobre a sua vida, não ficar cuidando de um marido que só pensa em trabalhar.
  - Não vou fazer isso Aidan. Me desculpe. Não posso. – Olhou para mim e suspirou em seguida.
  - É meu último desejo, . Que ela seja feliz. E ela só será feliz se parar de ficar se preocupando o tempo inteiro comigo. – Abaixei os olhos e olhei para minhas mãos e deixei uma lágrima escapar dos meus olhos.
  - Puta que pariu, Aidan. – se levantou da poltrona e passou as mãos no cabelo que logo ficaram bem mais desarrumados que o normal – Só um ano?
  - Você faria isso por mim? – Disse olhando para ele já em pé também com uma pontada de orgulho nos olhos e com apreensão. Mas eu sentia que em eu podia confiar. Ele, afinal, é meu irmão.
  - O que eu não faria pelo meu irmãozinho. – Ele disse bagunçando também meus cabelos como se eu fosse uma criança travessa e pela primeira vez na vida, eu me senti completo.

Capítulo 5

Escrito por Gabriella Medeiros

  

  Eu estava preocupada. Já passava das oito da noite e Aidan ainda não havia chegado em casa. Para um dia de trabalho normal isso não seria estranho, pois ele muitas vezes ficava até tarde trabalhando, mas hoje não. Hoje ele iria receber os resultados dos exames que fizera e viria direto do hospital para casa, a meu pedido. Eloise já devia estar enjoada da minha voz, de tantas vezes que eu ligara para a pobre coitada. Entretanto, Aidan não atendia as ligações delas e nem as minhas.
  Olhei mais uma vez para o quadro abstrato que comprara naquela tarde, pensando se fizera mesmo o certo. Apesar de minha relutância inicial, resolvi dar uma chance a esse artista, o tal de . No entanto, quanto mais observava a obra, mais sentia que faltava algo, só não sabia o que.
  De repente senti duas mãos em minha cintura. Dei um pulo para frente, gritando de susto.
  Uma risada masculina, muito conhecida por mim, seguiu-se ao meu grito. Aidan.
  - Aidan! – Dei um tapa em seu braço. – Nunca mais me assuste desse jeito!
  - Desculpe, querida – ele me abraçou. Passei os braços em seu pescoço, derretendo contra seu corpo. – Eu não resisti, você estava tão concentrada olhando este quadro...
  - É novo, comprei hoje. É de um tal de ... – Parei de falar, quando o senti endurecer em meus braços. – Aidan? Tudo bem?
  Ele balançou a cabeça e sorriu, mas eu percebi que foi meio forçado. Algo estava errado. Será que... Oh, meu Deus, e se tiver dado algo grave no exame dele?
   - Tudo bem, amor.
  - Seus exames, o que o Greg disse? – Perguntei, preocupada.
  - Ei, amor, tá tudo bem – ele deu um beijo em minha têmpora. – Todas essas dores de cabeça eram culpa do estresse. Greg disse que eu tenho que maneirar no trabalho, talvez tirar umas férias – Aidan suspirou. – Você sabe que não consigo ficar longe da empresa, então não sei o que fazer.
  - Ah, mas eu sei – me afastei de seu abraço e o olhei decidida. – Nós vamos viajar! Você precisa ficar longe daquela empresa.
  - Não sei, querida. Não sei se viajar agora seja uma boa opção pra mim.
  - Aidan, se nós não sairmos daqui por uns dias, eu não sei o que vai ser de você! – Falei, já me alterando.
  - Eu posso trabalhar só meio período...
  - E eu te conheço bem o suficiente para saber que você jamais conseguiria trabalhar meio período!
  - Tudo bem, amor. Vamos fazer o que você quiser. Conversaremos sobre isso depois, amanhã, outro dia, não me importa. Só o que quero agora é você.
  Ele não me deu tempo de dizer mais nada. Seus lábios logo estavam sobre os meus, beijando-me avidamente, quase em desespero. Meu corpo todo se acendeu. Agarrando meus quadris, Aidan me ergueu e eu coloquei as pernas em volta sua cintura. Nós rimos, entre beijos, quando ele esbarrou em uma prateleira do closet. O caminho até a cama foi feito assim, entre risos e beijos. Parecíamos dois adolescentes de novo.
  - Eu te amo, – disse ele, ao me colocar na cama. – Eu te amo mais que tudo.
  - Eu também te amo, Aidan – murmurei, pouco antes de voltar a beijá-lo.

[...]

  Acordei na manhã seguinte sentindo uma mão deslizar por minha barriga. Um sorriso brotou em meus lábios quando um beijo foi depositado em minha nuca. Virei-me em seus braços e beijei-lhe castamente antes de me afastar.
  - Bom dia, amor – Aidan disse com a voz rouca, de sono. – Dormiu bem?
  - Maravilhosamente bem – Sorri enquanto me sentava – E você?
  - Também. Foi uma das melhores noites da minha vida.
  - Jura? – Perguntei, manhosa.
  - Você sabe que sim. Todas as noites com você são memoráveis, mas ontem...
  - Ontem foi bem intenso – senti minhas bochechas ficarem vermelhas. Incrível como mesmo depois de tantos anos de relacionamento eu ainda conseguia corar ao falar de sexo com meu marido.
  - O que acha de mais uma rodada? – Perguntou com as sobrancelhas erguidas. O vermelho em minhas bochechas deve ter se aprofundado, pois ele sorriu maliciosamente, já se inclinando sobre mim.
  - Com você eu topo tudo – respondi, pouco antes de começarmos a nos beijar, dessa vez de modo mais suave que ontem, nos amando lentamente. Ele desceu os lábios por meu pescoço, seios e umbigo, e todos os meus pensamentos racionais desapareceram quando o senti avançar ainda mais em direção ao sul. Eu tinha certeza de que não seria capaz de articular coerentemente por um bom tempo.
  Mais tarde naquela manhã, em que Aidan ficara em casa e não fora para a empresa, nós dois estávamos sentados nas espreguiçadeiras que haviam na área da piscina, aproveitando o sol, rindo sobre coisas bobas, mais relaxados do que já estivemos em muitos dias. Hoje era oficialmente o primeiro dia das férias indeterminadas de Aidan, e até decidirmos para onde iríamos eu faria o possível e o impossível para que ele não tivesse uma preocupação sequer. Para isso, até mesmo liguei para meu sogro – um pouco a contragosto, admito, pois, depois do que dissera sobre eu não estar cuidando direito de meu marido, eu não me sentia confortável em falar com ele – e pedi que encontrasse alguém para ficar temporariamente no cargo de Aidan, enquanto ele tirava um tempo para espairecer e se recuperar de todo o estresse que estava fazendo com que ficasse doente. Incrivelmente, o Sr. North não fez nenhuma objeção ao meu pedido – talvez porque vira o quanto o filho estava sendo afetado por conta do excesso de trabalho -, e chegara a dizer que ele próprio supervisionaria os trabalhos que Aidan havia deixado em andamento. Não que eu acreditasse que Karen fosse deixá-lo fazer isso, não quando ela queria que ele deixasse a empresa de vez e se aposentasse, mas pelo menos me deixava um pouco mais tranquila com relação ao serviço da empresa não ser prejudicado pela falta de meu marido.
  - Aidan? - Chamei-o, me certificando de que não tivesse dormido na espreguiçadeira.
  - Sim... – Ele respondeu vagamente.
  Sentei-me e coloquei os óculos de sol em minha cabeça.
  - Com tudo o que aconteceu, eu não terminei de falar sobre minha consulta no médico, alguns dias atrás.
  - Sim, foi mesmo – Aidan também se sentou e estendeu a mão para pegar a minha. – Como foi sua consulta, amor?
  - A médica disse que não tem nada de errado comigo. Eu estou saudável, meu nível hormonal excelente, e que eu poderia engravidar a qualquer momento. Só que com tudo o que está acontecendo... – suspirei – Acho que vamos esperar mais um pouco antes de ter um bebê. – Eu não queria mostrar o quanto isso me desanimava. Minha maior preocupação agora deveria ser com a saúde de meu marido, nada mais.
  - Querida – ele apertou minha mão -, eu sei o quanto você quer ter um bebê. Eu também quero, nada me fará mais feliz do que ter um filho com você. Por isso, por favor, não deixe que meus problemas com estresse atrasem isso. Vamos continuar tentando.
  - Você tem certeza?
  - Claro que sim. Eu quero ver logo uma mini correndo por aqui
  Eu ri, um pouco mais leve.
  - Você sabe que podemos ter um mini Aidan também, não é?
  - Claro que sei – ele sorriu. – O que vier me deixará feliz. Agora, vamos entrar, porque já estou fome.

[...]

  Já passava das quatro da tarde quando Aidan disse que ia sair. Eu estava lendo um livro na sala: Cartas na Mesa, de Agatha Christie.
  - Aonde você está indo, Aidan? – Não era que quisesse controlar cada passo do meu marido, mas como o único lugar que ele ia era a empresa, eu precisava me certificar de que ele já não estivesse tentando ir trabalhar.
  - Vou só na farmácia, querida. Greg prescreveu alguns remédios, meu colesterol está um pouco elevado.
  - Não demora, tá. Senão eu vou achar que você foi para a empresa escondido. E se você fizer isso eu vou saber, porque já avisei a Eloise para me ligar imediatamente se você aparecer por lá.
  - Eu não estou indo para lá, . Não precisa se preocupar.
  - Vou ficar de olho em você – avisei.
  - Eu sei que vai, querida. – Ele riu, logo em seguida saiu, me deixando sozinha com meu livro, e logo eu me prendi novamente no mistério. Quem teria assassinado o Mr. Shaitana? Seria mesmo um dos assassinos que ele convidara naquela noite, ou seria um dos detetives. Se fosse um dos assassinos, seria óbvio demais. Mas, por que um dos detetives o mataria?
  Fiquei tão envolvida pela história, que quando dei por mim já estava anoitecendo. Mais de duas horas haviam passado desde que Aidan saíra e ele ainda não retornara. Uma ida à farmácia mais próxima jamais demoraria tudo isso.
  Peguei meu celular imediatamente e liguei para a Eloise.
  - Alô? Eloise?
  - Oi, , em que posso ajudá-la? – Ela respondeu.
  - O Aidan apareceu por aí? – Perguntei, inquieta, olhando para a porta de casa.
  - Não, ele não veio hoje para a empresa. Não foi combinado que ele tiraria uns dias de férias? – Eloise soou confusa, e não me surpreendeu. Eu também estava confusa. Se ele não estava lá, onde estaria?
  - Ele saiu e... – Parei de falar quando ouvi a maçaneta da porta se mover. Aidan entrou em casa e eu senti o alívio me dominar. – Esqueça, ele já chegou. Agora vou dar uma bronca nele por ter demorado tanto.
  Eloise riu, antes que eu desligasse o telefone.
  - Uma ida à farmácia não demora tanto tempo, Aidan! – Reclamei ao me aproximar dele. Estranhamente, ele ainda estava parado na porta. – Eu fiquei preocupada com você. – Quando ele não respondeu nada, depois de alguns instantes, eu me aproximei um pouco mais e coloquei os braços ao seu redor. – Aidan? Querido, fale comigo!
  Ele piscou, como se estivesse saindo de um transe, e tirou meus braços dele, se afastando de mim.
  - Err... desculpe – A voz dele soou mais grave que o normal. – Encontrei um conhecido e ficamos conversando em um café, nem vi o tempo passar.
  - Você podia ter me ligado, mas tudo bem – parei, antes que ele ficasse aborrecido por eu estar reclamando com ele. – Vou preparar algo para jantarmos, está bem? – Fiquei na ponta dos pés e o beijei castamente nos lábios.
  - Eu... eu estou com um pouco de dor de cabeça – Aidan disse, quando me afastei. – Vou subir um pouco para descansar. Não precisa se preocupar comigo.
  Observei-o subir a escada, me sentindo atordoada. Por que Aidan estava tão esquisito?

Capítulo 6

Escrito por Gabriella Medeiros

  

  Eu estava prestes a cometer a maior loucura da minha vida. Algo que, além de insano, era um crime. Eu iria me passar pelo meu irmão gêmeo. Irmão sobre o qual eu nem tinha conhecimento até ontem.
  E o fato de eu ter um irmão, gêmeo ainda por cima, não havia se fixado completamente em meu cérebro. A razão de nossos pais não me quererem e ficarem apenas com o Aidan era um questionamento que não saía da minha mente desde o momento em que vi o resultado positivo no exame de DNA. Tinha que haver uma explicação plausível, pois não fazia sentido eles terem tido dois bebês e optado por ficar com apenas um deles. Não quando eles eram ricos e tinham condições de criar confortavelmente as duas crianças. Qual seria o verdadeiro motivo para eu ter sido deixado em um orfanato? Qual?
  Balancei a cabeça em frustração, pois sabia que estas indagações não me levariam a lugar algum agora. Eu teria muito tempo para investigar esse assunto a fundo, e o faria, porque merecia saber. Agora, eu precisava me concentrar no que iria fazer: me encontrar pela primeira vez com a esposa de meu irmão, .
  Aidan havia me dito no dia anterior que queria ter a oportunidade de se despedir da esposa corretamente e que o faria naquela noite, tendo combinado comigo um lugar para nos encontrarmos para que a troca fosse efetuada no dia seguinte. Ele não me dissera para onde estava indo, apesar de eu ter perguntado, mas supus que fosse para a Europa em busca do melhor tratamento. Aidan era jovem demais para morrer agora! E era injusto que eu tivesse acabado de encontrar meu irmão, apenas para perdê-lo.
  Saí do carro, decidindo que que já havia perdido muito tempo, e caminhei para a porta da frente da casa de Aidan. Assim que fechei a porta atrás de mim, fiquei estático, olhando para a mulher a minha frente. Não podia ser. Simplesmente não podia.
  , a esposa de meu irmão, era a mulher que me inspirou. A mesma que não saía de meus pensamentos desde que a vi. Droga, droga, droga!
  Caminhando em minha direção, ela reclamou sobre “minha” demora, alegando que uma ida à farmácia não demorava tanto tempo. Eu ainda estava totalmente sem reação. Apenas quando ela me abraçou e mostrou-se preocupada por eu ainda não ter falado nada, consegui sair do transe em que estava. Por que eu tinha que me sentir tão bem em seus braços? Isso era errado. Eu não devia sentir nada pela mulher do meu irmão. Nada. Mas estava sentindo.
  Afastei-a de mim, colocando uma boa distância entre nós dois. Dei uma desculpa qualquer para “minha” demora em chegar; realmente falei a primeira coisa que pensei, e nem sei se soou admissível. Quando ela falou algo sobre preparar o jantar e me beijou, senti como se estivesse traindo Aidan.
  Falei que estava com dor de cabeça, após ela ter se afastado de mim, e subi rapidamente a escada, me sentindo confuso. Será que aceitar o pedido de Aidan fora mesmo a decisão correta?
  Já no andar de cima, abri todas as portas até achar o quarto do casal, que era o último do corredor. Reconheci porque, assim que abri a porta, vi uma foto enorme de meu irmão com a esposa emoldurada na parede.
  Sentei na cama e passei as mãos pelo cabelo, frustrado. Eu precisava analisar melhor as coisas, antes que saíssem do rumo.

[...]

  - Como assim não poderá vir mais aqui com tanta frequência, ? – Vivian perguntou ceticamente.
  - Estou com algumas coisas para resolver e...
  - Que coisas, ? – Ela me interrompeu. – Eu sou sua secretária, sei todas as coisas que tem para resolver, então deixe de me enrolar.
  Suspirei, e passei as mãos pelo rosto. Eu sabia que esta conversa com Vivian seria difícil, mas não estava preparado para o quanto. Mentir para minha amiga, que administrava minha carreira, era uma missão quase impossível. No entanto, eu precisava arrumar um jeito de fazê-la acreditar na mentira, por isso teria que falar algo que fosse mais fácil dela acreditar.
  - Tudo bem, você venceu! Eu conheci uma mulher e...
  - Oh, meu Deus! – Vivian gritou, me interrompendo novamente. – Quem é essa mulher que conseguiu enfim prender sua atenção, e que vai fazer você parar de vir ao próprio estúdio?
  - Vivian, será que dá para você parar de me interromper?
  - Parei, já – ela disse, rindo.
  - Bem... só o que você precisa saber agora é que eu conheci uma mulher especial. Se as coisas progredirem, então você vai saber mais.
  - Está assim, agora? Nossa, magoou. – Ela colocou uma mão sobre o coração.
  - Não seja dramática, eu só não quero apressar as coisas, tudo bem?
  - Tudo bem, seu chato. Mas não pense que escapará da próxima vez. E vê se não fica muito tempo longe, não deixa essa mulher consumir todo o seu tempo!
  Isso seria muito difícil de fazer, pois estava consumindo todo o tempo que eu tinha e o que não tinha. A estranheza da noite passada ainda estava em minha mente. O modo como tive que tratá-la com indiferença, fingindo ainda estar com dor de cabeça quando desci para o jantar. E isso para não mencionar a hora de dormir... Me deitei o mais distante possível dela na cama, mas não consegui escapar dela em meus sonhos. E isso fazia com que me sentisse enojado de mim mesmo. Ter estes pensamentos com a esposa do meu irmão era muito além de errado.

Capítulo 7

Escrito por Gabriella Medeiros

  

  Eu não conseguia entender. Por mais que tentasse, nada me vinha à mente para explicar essa mudança radical no comportamento de Aidan. Alguma coisa tinha acontecido, eu só não sabia o que. E acabava comigo pensar que talvez fosse algo que eu tivesse feito. Como uma pessoa ia de amorosa em um dia para distante no outro? Seria a abstinência do trabalho que estava causando isso? Aidan estava com raiva de mim por ter feito com que ficasse em casa? Não saber o que estava acontecendo com meu marido estava tirando meu sono. Cada noite em que a cama parecia ter quilômetros – pela distância entre nós, imposta por ele -, um pedacinho meu morria.
  - Sabe – disse Eloise, enquanto remexia seu milk shake -, talvez você devesse mesmo fazer uma viagem com seu marido. Você está com um semblante cansado, os dois estão merecendo umas férias.
  Parei meu copo de suco de ameixa a meio caminho da boca. Como eu podia ter esquecido disso? Aidan estava precisando de férias e, agora, eu também. Os últimos dias haviam sido tão desgastantes emocionalmente que não era de se admirar que eu mesma não recordasse de meus planos.
  Fiquei tão animada para colocar o plano em ação que rapidamente me despedi de Eloise e fui embora da lanchonete em que havíamos parado para lanchar naquela tarde de sábado, depois de termos passado um bom tempo fazendo compras. Quer dizer, Eloise havia comprado muitas coisas, eu não comprei quase nada, apenas alguns livros que estavam na minha lista de desejados e uma caixa com os bombons favoritos de Aidan. E embora eu não houvesse comentado nada sobre a atual distância de meu marido, parecia que meu estado melancólico era bastante perceptível, pois Eloise notou que algo estava errado comigo tão logo nos vimos na primeira loja, e começou a me interrogar sobre os motivos de minha tristeza. Como não quis revelar nada sobre minha vida privada com Aidan, até porque ele era chefe dele, não importando que ela fosse minha amiga, resolvi apenas dizer que andava ocupada com os preparativos para a festa de lançamento de um novo produto, em que eu havia me envolvido, para que Aidan pudesse descansar. Eloise não voltou a esse assunto até o momento em que estávamos na lanchonete.
  Assim que cheguei em casa, peguei meu notebook para comprar as passagens. Aidan poderia dizer o que quisesse, mas nós estávamos partindo para o Havaí no próximo voo disponível. Procurei o melhor pacote disponível, e, por sorte, viajaríamos logo cedo no dia seguinte.
  Deixei o computador de lado e subi para meu quarto, eu queria contar logo a novidade a Aidan e também começar a arrumar as malas. Nada impediria essa viagem. Nada.
  - Querido, nós vamos para o Havaí amanhã! – Falei animadamente, assim que entrei no quarto. Aidan ergueu os olhos do livro que estava lendo na cama – leitura era a única coisa que ele fazia ultimamente, eu mal o via, pois ele passava o dia todo trancado – para me encarar, e fez uma careta.
  - Eu não acho que...
  - Você não tem direito a opinar. Nós vamos e ponto final – disse, decidida. – Nós dois estamos precisando de férias, e eu já tinha dito antes que iríamos fazer uma viagem, portanto, trate de vir me ajudar a fazer as malas, porque amanhã sairemos logo cedo.
  - Desde quando você é tão autoritária? – Ouvi ele falar baixinho. – Não parecia ser assim.
  - Eu só sou autoritária quando preciso ser – respondi, e ele olhou-me chocado. – Não sou surda, Aidan, eu te ouvi. Agora venha aqui me ajudar a tirar as malas do closet.

[...]

  Sol. Mar. Era justamente disso que eu estava precisando. Suspirei, feliz, ao pensar no dia agradável que tive hoje. Aidan e eu nos divertimos, ele se soltou um pouco mais, apesar de não ter sido tanto quanto eu queria. Mas isto estava prestes a mudar.
  Durante o dia nós brincamos no mar, algo que começou comigo jogando água em meu marido e ele fugindo de mim, até que se deu por vencido e entrou na brincadeira, também espirrando água em mim. Agora, à noite, eu iria seduzi-lo. Nunca antes precisei fazer isto em nosso relacionamento, e estava me sentindo um pouco insegura. No entanto, não iria me deixar ficar amedrontada; não podia deixar a situação do meu casamento do jeito que estava.
  Respirei fundo e alisei a saia da minha camisola de renda preta. Encarei mais uma vez meu reflexo no espelho do banheiro antes de ir para o quarto. Aidan estava deitado de lado - do mesmo modo como vinha dormindo nos últimos dias -, com as costas viradas para onde eu dormiria. Deitei-me ao seu lado, o mais próximo que podia sem realmente tocá-lo, e ele se afastou ainda mais na cama. Contive uma onda de frustração e me aproximei de novo, desta vez tocando a pele de suas costas, por baixo da camisa do pijama, com a ponta de meus dedos. Senti sua pele se arrepiar e ele ficar tenso.
  - Aidan... – Sussurrei em seu ouvido.
  Ele se virou um pouco e tirou minhas mãos de cima dele.
  - , por favor, não torne isto mais difícil do que já é.
  Sentei-me, para poder encará-lo melhor.
  - Tornar o que mais difícil? Você é quem está tornando tudo mais difícil aqui, e eu nem sei o porquê! Por que, Aidan? Por que você está me evitando? Eu fiz alguma coisa? – Minha voz estava embargada, e eu odiei isso. Levantei-me da cama, as lágrimas embaçando minha visão.
  - Você não entende,
  - Não entendo o quê? – Virei-me com raiva. – Você é quem está agindo estranho! Eu quero meu marido de volta. Quero amar e ser amada, droga!
  Ele também se levantou, mas não se aproximou de mim. Eu estava cansada disso.
  - Para mim não dá mais, chega! – Gritei e bati a porta do banheiro atrás de mim.
  - , por favor, não faz assim – ele falou do outro lado da porta. – Você sabe que...
  - Sei o que, Aidan? – O interrompi. – Que você me ama? Eu achava que sabia, mas agora não sei de mais nada.
  - Você não sabe o quanto está sendo difícil evitar você, .
  Abri a porta e Aidan quase caiu para a frente.
  - Então por que você está me evitando? – Limpei as lágrimas que haviam escorrido por meu rosto. – Não faz isso comigo, não faça isso com nosso casamento. Seja o que for que esteja na sua cabeça, por favor não deixe que fique entre nós.
  - Não consigo mais, não consigo mais resistir a você – Logo após dizer isso seus lábios caíram sobre os meus, beijando-me com fervor. Agarrei-me a seus ombros e correspondi com a mesma intensidade. Como eu estava com saudade disso!

Capítulo 8

Escrito por Gabriella Medeiros

  

  Eu era o pior ser humano da Terra. Mas não me importava. Realmente não podia ligar menos se o que eu estava fazendo era desprezível. Eu tentei lutar contra, eu tentei. Mas foi simplesmente impossível resistir por mais tempo. era tudo o que eu nem imaginava que um dia fosse querer em uma mulher. Ela era perfeita para mim. E eu estava apaixonado por ela. Apaixonado pela esposa de meu irmão gêmeo, que pensava que eu era seu marido.
  Meu irmão...
  Como estaria Aidan? Teria procurado algum tratamento que estendesse seu tempo de vida? Onde ele estaria nesse momento?
  Pensar em Aidan, além de me trazer uma culpa enorme, também me fazia questionar sobre nossa família. Eu ainda não havia tido oportunidade de entrar no assunto com alguma das pessoas responsáveis por me colocar no mundo, mas iria, eventualmente. Eu queria introduzir o assunto com calma. Falar de uma maneira que eles não se assustassem logo de cara e fugissem do assunto. Eu queria e merecia respostas.
 
  Enquanto pintava mais um quadro inspirado nas observações que fazia de , eu tentava tirar todos estes pensamentos de minha cabeça. Só que não estava fácil abstrair-me destas preocupações.
  - ! – Vivian gritou entusiasmada enquanto subia as escadas até meu ateliê. Se ela mesma não tivesse anunciado sua presença, o som de seus saltos clicando nos degraus teria.
  - O que, Vivian? – Indaguei, passando as mãos no rosto e, tenho certeza, me sujando de tinta no processo.
  - Tão rabugento, . Que bicho te mordeu? Achei que essa mulher misteriosa tivesse te deixado mais alegrinho.
  - Ha ha. Desembucha logo. – Falei de modo irritado. Eu havia perdido a concentração para pintar.
  - Seu chato, eu só queria dizer que sua próxima exposição já está marcada. É daqui a 15 dias! – Ela bateu palmas de entusiasmo.
  - 15 dias? – Arregalei os olhos. – Mas eu... eu ainda não terminei de pintar os quadros, Vivian!
  - Eu sei que você vai conseguir. Você sempre consegue. – E, dizendo isto, ela saiu com uma piscadela.
  Vivian não tinha ideia de que, além dos 15 dias não serem suficientes para completar a coleção, eu havia iniciado uma nova e não conseguia mais encontrar o foco da anterior.

[...]

  Quando cheguei em casa já passava das sete horas de noite, estava exausto depois de tentar a todo custo reencontrar o modo de pintar a coleção, mas nada havia ficado bom. Isto ia ser um desastre. Como eu poderia apresentar uma exposição desse jeito? Eu tinha apenas cinco quadros que se encaixavam em minha ideia anterior.
   estava na cozinha, preparando o jantar e cantarolando. Ela ficava tão linda usando aquele avental de bolinhas, que eu sentia vontade de eternizá-la em uma pintura. Seria em um desses momentos em que ela parava de mexer a massa por um segundo para limpar algo que a tivesse sujado e ria de sua própria bagunça.
  - Aidan! – me saudou, quando apareci na porta da cozinha. – Você finalmente chegou.
  - Sei que falei que voltaria logo, mas...
  - Tudo bem, querido. Estou tão feliz hoje que não irei reclamar disso. Se você precisava espairecer um pouco, é porque era necessário.
  Pisquei, um pouco confuso.
  - Você não vai reclamar?
  - Não – estava tentando esconder um sorriso, mas estava falhando.
  - , por que você está sorrindo? – Perguntei, desconfiado.
  - Você não vai acreditar, Aidan! – Ela gritou, dando a volta no balcão e vindo me abraçar.
  - O que eu não acreditaria, querida? – Questionei quando ela se jogou em meus braços.
  - Eu estou grávida!
  Paralisei. Grávida? ia ter um filho meu achando que era do meu irmão?

Capítulo 9

Escrito por Gabriella Medeiros

  

  A família estava em euforia, eu não cabia em mim de tanta felicidade; era meu sonho estava, enfim, se concretizando. Aidan, no entanto, voltara a agir de modo estranho comigo, algo que eu não compreendia. Esse bebê era tão esperado por mim quanto por ele; desde que nos casamos isto estava em nossos planos. Mas a forma com a qual vinha se comportando nos últimos dias, desde que eu contei da gravidez, não demonstrava em nada que compartilhasse da mesma alegria que eu, apesar de tentar disfarçar, só que eu percebia sua angústia. O que eu precisava entender era o porquê.
  - Você não acha que é um pouco cedo para fazermos uma comemoração? – Questionei à minha sogra, enquanto ela colocava o castiçal na mesa de jantar. Se meu marido não parecesse tão contido, perdido em pensamentos, talvez eu estivesse mais contente com esse jantar em família. Contudo, sentia que precisava me conter diante de sua apatia. - Você sabe – engoli em seco – que o primeiro trimestre é...
  - Não quero ouvir mais nada, ! – Ela cortou meu discurso. – Eu venho esperando por esse neto desde que Aidan se casou você. Sei que não dá para ter certeza de nada, mas, por agora, vamos comemorar essa benção que ganhamos. Nada de pessimismo! – Dei um pequeno sorriso diante de suas palavras. – Falando nisso, onde está meu filho?
  E o meu sorriso morreu.
  - Ele está lá em cima, trancado no quarto.
  - Eu vou buscá-lo. Aidan não pode fugir do jantar de comemoração do próprio filho!
  - Pode deixar que eu vou. Preciso mesmo pegar algumas coisas lá em cima.
  Dirigi-me para a escada e me apoiei no corrimão para subir. Agora que estava grávida todo cuidado era pouco.
  Segui pelo corredor em direção ao meu quarto, mas parei abruptamente ao chegar na porta.
  - Não, Vivian, eu ainda não terminei. – Ouvi Aidan dizer, em um tom aborrecido, provavelmente falando ao telefone. Quem era Vivian? E o que ele ainda não tinha terminado? – Não, o problema não é ela, sou eu. Surgiu algo e minha cabeça ficou toda bagunçada, então você vai ter que esperar mais um pouco para eu terminar. Seja paciente, Vivian.
  Afastei-me da porta, sentindo-me rasgada por dentro. Aidan estava me traindo? Era por isso que ficara tão distante ultimamente? Essa mulher, Vivian, estava exigindo que ele... que ele terminasse comigo?
  Respirei fundo algumas vezes, tentando controlar as lágrimas. Eu não iria chorar, não agora, no momento de comemoração pela concepção do meu bebê. Não ia permitir que nada estragasse isso.
  - Aidan! – Bati na porta. – É melhor descer logo, antes que sua mãe venha aqui te buscar.
  Dei um passo para trás quando a porta se abriu abruptamente.
  - Por que você gritou da porta, ? – Ele perguntou, parecendo confuso.
  - Ouvi que você estava no telefone, não quis atrapalhar. – Tentei conter a mágoa de minha voz, mas acho que não consegui.
  - Eu... – Aidan ficou desconcertado.
  - Vou voltar lá para baixo, ainda não finalizei o jantar. – Comecei a me virar para sair, mas ele me parou, pegando em meu braço.
  - , o que exatamente você ouviu?
  - O suficiente! O suficiente para entender porque você está agindo de modo tão estranho comigo! – Me exaltei, afastando-me de seu toque. – Você achou que eu não fosse descobrir? Por quanto tempo pensou que iria conseguir me enganar?
  - , eu posso explicar. Eu sei que vai soar confuso, mas...
  - Eu não quero ouvir isso agora. Agora irei comemorar a chegada do meu filho.

Capítulo 10

Escrito por Gabriella Medeiros

Aidan

  Cinco meses. Eu não via o amor da minha vida há exatos cinco meses, e isto estava me matando. Me matando mais do que o tumor em meu cérebro. Foi uma loucura pensar que eu poderia ficar afastado dela, me tratando, deixando-a livre do meu sofrimento.
  Eu estava sofrendo mais do que achei ser possível. A mera ideia de que agora estava com , achando que era eu, fazia com que eu tivesse vontade de socar alguma coisa. Estava decidido, eu iria voltar para casa, para minha esposa, para minha família. Queria passar os últimos dias que me restam ao lado da minha mulher, a única que amei em toda a minha vida.

*** * ***

  Minha cabeça estava doendo tanto que eu pensava que fosse explodir. Os remédios já não surtiam mais efeito em mim, era um alívio muito passageiro. Eu estava me sentindo piorar a cada dia que passava.
  - Aidan? – Virei-me na direção em que minha médica estava.
  - Sim, Emma?
  - Receio que o pedido que me fez seja muito arriscado. Você não está em condições de viajar.
  Eu sabia que ela provavelmente seria contra, mas não me importava. Não ficaria mais nenhum dia longe de minha . Nem que tivesse de vê-la apenas de longe, eu me contentaria. O que não aguentava mais era a distância que nos separava; não ver mais o seu sorriso, ou a ruga de concentração que se formava entre suas sobrancelhas quando estava lendo um dos seus muitos livros de filosofia.
  - E você já sabe qual será minha resposta. Eu não me importo. Estou voltando hoje mesmo para os Estados Unidos, Dra. Hayes.
  Ela suspirou e balançou a cabeça em descrença.
  - Não posso mantê-lo aqui contra sua vontade, mas saiba que o que está fazendo é uma loucura.

*** * ***

  Desde que nos casamos, se tornou uma tradição irmos comemorar cada vez que nosso casamento completasse um mês. Inicialmente, íamos para qualquer restaurante que eu escolhesse, geralmente os mais caros e extravagantes, mas conforme o tempo foi passando, assumiu o comando e passamos a celebrar em um único lugar, um restaurante simples, que servia uma comida maravilhosa e que minha esposa simplesmente amava: O Mangi Piacevole Ristorante.
  Era para lá que eu estava indo, pois era noite de mais uma comemoração, e eu tinha certeza de que estaria lá com ele, meu irmão gêmeo.
  Eu não pretendia fazer minha presença conhecida hoje, apenas queria vê-la, de longe. Analisar se havia mudado alguma coisa nesse tempo em estivéramos separados. Teria ela feito alguma mudança no cabelo, como fizera uma vez quando ainda estávamos na faculdade e pintara as pontas do cabelo de azul? Eu sinceramente não me importava com isso, pois sabia que mesmo que mudasse todo o seu exterior, sua essência seria a mesma.
  Sentei-me em uma das mesas mais afastadas do salão, em um local discreto, onde eu sabia que não seria notado, e comecei a buscar o lugar onde minha esposa estava. Quando a garçonete apareceu, para perguntar o que eu iria pedir, olhou-me espantada, como se houvesse visto um fantasma; eu não a conhecia, deveria ser novata, pois não estava aqui das outras vezes que frequentei o restaurante. Pedi apenas uma taça de vinho, e, assim que ela havia saído, voltei a procurar onde estava.
  Não demorou muito para encontrá-la. tinha um brilho, uma energia, que atraía as pessoas em sua direção. Seus cabelos pareciam estar mais longos, mais sedosos, e ela ostentava um sorriso no rosto enquanto conversava com meu irmão. Eles estavam de mãos dadas sobre a mesa. Gostaria de poder ouvir o que estavam conversando; o que a fazia sorrir daquele jeito tão jovial, tão despreocupada.
  Quando minha bebida chegou, tive logo que pedir outra taça, pois a tomei praticamente de um gole só. Precisava do álcool para amortecer a dor em meu coração ao ver que estava bem sem mim. Fora um erro ter voltado, muito egoísmo de minha parte. Estando longe parecia loucura ficarmos longe um do outro, deixando-a acreditar que tudo estava bem, que o marido não estava doente; mas aqui, vendo-a tão feliz, todas as razões pelas quais bolei esse plano louco retornaram. Eu amava demais para vê-la sofrer por minha causa, não quando havia um jeito de essa dor não existir. Eu partiria e ela jamais saberia.
  Pedi a conta e me levantei, era hora de ir embora. Porém, neste mesmo instante, o casal que eu estivera observando de longe também resolveu que queria sair. Foi um choque quando se levantou da cadeira e pude vê-la por completo. A barriga levemente inchada por baixo do vestido que usava foi algo inesperado. Em nenhum momento pensei que poderia ficar grávida dele.
  Tudo começou a girar ao meu redor, apoiei-me na mesa, mas já era tarde demais. A última coisa que vi antes de tudo escurecer foi seu olhar chocado em minha direção.

Capítulo 11

Escrito por Gabriella Medeiros

  

  Caos. Eu poderia resumir as últimas horas com essa simples palavra. Em um momento eu estava prestes a sair com do restaurante e no próximo, ela praticamente corria em direção a uma das mesas. Imagine minha surpresa ao ver meu irmão gêmeo caído no chão. Foi uma grande comoção no restaurante, e , agachada ao lado do verdadeiro marido olhava chocada de um para o outro, sem saber como agir.
  Ela ficou calada até a ambulância chegar. Depois que levaram Aidan para o hospital, ela me encarou com desconfiança, mantendo-se afastada de mim. queria ter ido na ambulância, mas não permiti. Ela estava grávida, precisava estar acomodada confortavelmente, coisa que aquele tipo de veículo não permitia.
  - O que foi isso? – Perguntou de modo estrangulado, já do lado de fora do restaurante. – O que foi isso? – Perguntou novamente, quando não respondi nada. – Explique-me por que há dois de você, Aidan?! Ou será que seu nome não é Aidan?
  - ...
  - Diga!
  - Por favor, vamos sair daqui. Não quero causar uma cena. – Tentei pegar em seu braço, mas ela se afastou rapidamente de meu toque.
  - Não quero que toque em mim. – Falou, chorosa. - Diga, por favor, diga. Eu simplesmente não entendo o que está acontecendo!
  - Vamos conversar em casa.
  - Eu não vou a lugar algum até entender o que está acontecendo aqui – bateu o pé. – O homem que conheci e com quem me casei não tem irmãos, muito menos gêmeo, então me explique como pode haver uma cópia sua aqui? E não me venha com história esfarrapada sobre sósias!
  - Vamos para o hospital, eu explicarei lá tudo o que sei. Quero saber como meu irmão está.
  - Irmão? – Repetiu, assombrada.
  Depois disso, ela não disse mais nada, tampouco fez alguma objeção quando a conduzi até o carro. Eu sabia desde o começo que isso não iria dar certo, que era errado. No entanto, mesmo sabendo, concordei com tudo. Só o que não esperava era me apaixonar pela esposa do meu irmão. Por que Aidan voltara? Onde estivera durante todo este tempo? Por que não avisou que queria voltar para casa? Eu não estava entendendo mais nada.
  Quando chegamos ao hospital, deixou-me ir na frente e rapidamente cheguei à recepção. Perguntei a recepcionista em que quarto estava o paciente trazido de um restaurante, e confirmei que o nome dele era Aidan. Ouvi uma ingestão aguda de ar e me recusei a olhar para trás, para .
  Ao chegarmos a sala de espera, estranhamente, ela não fez nenhuma pergunta. Quando me virei para observá-la, constatei que estava chorando. Fiz menção de me aproximar, mas ela balançou a cabeça veementemente, negando. Vi que ela pegou o celular e ligou para alguém, mas não pude ouvir para quem. Seria para a polícia?
  Alguns minutos depois um médico apareceu. o abordou e questionou como o marido estava, e o que tinha acontecido com ele. Aquilo foi como uma facada em meu coração. O marido dela. Aidan.
  - , como deve saber... – O médico começou a dizer, mas ela o cortou.
  - Não, eu não sei, Greg. Aidan estava me escondendo o que ele tem, então, por favor, seja sincero comigo.
  Nesse momento, o médico olhou em minha direção e arregalou os olhos, entretanto logo se recompôs.
  - Acho melhor nós conversarmos na minha sala, . E ele também virá? – Indagou, olhando para mim.
  - Não, ele fica. – Respondeu friamente.
  Certo, eu merecia a frieza dela. tinha todo o direito do mundo de me odiar. Mas isso não fazia diminuir a dor que estava se apossando do meu coração. Deixei que o peso do meu corpo caísse em uma das cadeiras daquela sala e esperei pela sua volta.
  Contudo, não precisei esperar muito tempo. Não para retornar, mas sim para saber para quem ela ligou.
  Os pais de Aidan (meus pais?) entraram quase sem fôlego na sala de espera. Pararam abruptamente quando me viram. Eles deviam uma explicação, não só para Aidan e eu, como para também.
  - Acho que está na hora de esclarecermos as coisas – falei me levantando e caminhando na direção deles.

Capítulo 12

Escrito por Gabriella Medeiros

  

  Minha mente estava uma completa confusão. Tudo o que pensei conhecer não era verdade. Me sentia como uma bomba emocional prestes a explodir. Por que meu marido resolvera me deixar e colocar outro em seu lugar? Melhor ainda, quem era aquele cara se fingiu passar pelo meu marido, e como eles eram tão parecidos? Ninguém nunca mencionou um irmão, muito menos gêmeo. Com tantos questionamentos rondando minha mente, ainda precisava ouvir Greg explicar o que havia de errado com Aidan. Só de me lembrar de vê-lo caindo e toda a confusão que se armou no restaurante, sentia um mal-estar. Ele permaneceu desacordado mesmo após a chegada da ambulância, o que me preocupou bastante, além disso suas feições estavam pálidas e seu rosto, mais magro.
  - Suponho que Aidan não tenha lhe dito o resultado dos exames, não é, ? – Greg tirou-me do turbilhão de pensamentos em que me encontrava.
  - Creio que há muitas coisas que Aidan andava escondendo de mim, Greg. – Principalmente quanto ao homem que esteve em minha casa durante um tempo e que eu não fazia a menor ideia de quem era.
  - O resultado dos últimos exames que o Aidan fez mostrou um tumor maligno no cérebro, o Glioblastoma Multiforme, que infelizmente já estava em estado muito avançado. Recomendei uma excelente profissional na área para que ele pudesse se tratar.
  - Então ele vai morrer, é isso? – Questionei, com lágrimas já escorrendo por meus olhos. Oh, meu Deus. Eu ia perder meu marido. Meu filho ia ficar sem pai...
  Meu filho, oh não! Meu filho não era filho do Aidan. Eu ia ter um filho do impostor.
  Fui tomada imediatamente pela náusea e tive que tapar a boca e correr para o banheiro do consultório de Greg.
  - ? – O médico chamou do outro lado da porta.
  Eu me sentia tão fraca. Apoiei-me no mármore frio da pia e respirei repetidas vezes.
  - Já passou – falei, quando abri a porta. – Por favor, me desculpe, Greg. Estou me sentindo tão envergonhada.
  - Não precisa pedir desculpas, , de modo algum.
  - Eu só gostaria que você fosse sincera comigo sobre o estado do meu marido. Há tantas coisas que não sei.
  - Eu preciso entrar em contato com Emma para saber se Aidan chegou a procurá-la e se iniciou o tratamento. Só tendo essas informações vou poder lhe dizer o que quer saber.
  Ele não precisava colocar em palavras. Ninguém precisava. Aidan ia morrer.
  Saí da sala dele, tentando controlar as lágrimas, mas não estava sendo fácil. Tudo o que eu queria era descobrir que isso era só um sonho ruim, que nada disto era real.
  - Oh, minha filha, como o Aidan está? – Ergui os olhos para poder encarar minha sogra, cujo rosto estava marcado pelas lágrimas já secas.
  Mordi meu lábio inferior quando senti a umidade novamente descendo por meu rosto.
  - Mal – Foi apenas o que consegui colocar para fora.
  Nós nos abraçamos, compartilhando a dor de saber que alguém que amávamos não estava bem. Pelo canto do olho percebi ele num canto mais afastado da sala de espera. O homem que se passou por meu marido estava com a cabeça baixa, sua postura era de uma pessoa desolada. Afastando-me de minha sogra, resolvi tirar a limpo essa questão que vinha me incomodando.
  - Por que eu nunca soube que Aidan tinha um irmão gêmeo? – Perguntei de forma direta. Não havia razão para ficar enrolando.
  Ela resfolegou, e olhou para trás, para o lugar em que ele estava.
  - É uma longa história, .
  - Acho que mereço respostas, hum? – Eu não ia desistir tão facilmente assim.
  - Tudo bem – ela suspirou. – Vamos sentar ali e eu te conto.
  E ela contou tudo. Ao final de seu relato eu estava mais chocada do que antes. Pouco tempo depois de ter casado, minha sogra descobriu que não podia ter filhos, e isto foi um baque seu casamento, pois o sonho de seu marido era ser pai. Depois disso, não demorou muito para que ele começasse a traí-la. E com a pessoa em quem ela depositava mais confiança, sua governanta. Eles passaram alguns anos tendo um caso, até que ela engravidou, mas foi uma gravidez de risco, culminando com sua morte após o parto. De gêmeos. Meu sogro só confessou a traição após a morte da amante, pois não queria perder os filhos, que iam ser colocados em um orfanato. Sentindo uma pontinha de culpa por não ser capaz ela mesma de lhe dar um filho, minha sogra disse-lhe que podiam ficar com um dos meninos, se ele prometesse nunca mais traí-la, e esse menino seria dos dois; ninguém, nunca iria saber que era fruto de um caso extraconjugal. A outra criança foi mandada para um lar de adoção, e até então, esquecida. Até agora.
  Não sei se falei alguma coisa ou não, uma vez que não sabia como agir diante de tudo isso. A única coisa que queria era poder falar com Aidan. Perguntar como tomou conhecimento de seu irmão gêmeo e por que pediu que ficasse em seu lugar, apesar de já imaginar o porquê. Aidan me amava tanto que não iria querer me ver sofrer, preferindo lidar sozinho com seus problemas.
  Algum tempo depois Greg apareceu e disse que eu poderia ver meu marido, que havia acabado de despertar. Meu coração deu um pulo dentro do peito. Me senti como em nosso primeiro encontro outra vez. Estávamos há muito tempo sem nos ver, era como se tudo fosse a primeira vez.
  Entrei com cuidado em seu quarto, não me atendo aos detalhes, focando única e exclusivamente nele. No dono de meu coração.
  - Aidan... – murmurei ao vê-lo conectado em tantos aparelhos.
  - Meu amor... – sussurrou ele, estendendo a mão para que eu a pegasse. Mas algo estranho ocorreu quando nossas peles se tocaram. Não houve aquela antiga faísca que eu sentia. Foi algo neutro. Oh, Deus!
  - Por que não me disse, Aidan? Por que colocou outro em seu lugar? Eu queria ter estado do seu lado enquanto você se tratava. Eu sou sua esposa, caramba! – Acabei não conseguindo segurar a emoção e soltei tudo o que estava preso dentro de mim, me inquietando.
  - Você não merece sofrer, . Eu não queria que você sofresse. Meu plano teria dado certo, se eu não fosse tão fraco e precisasse vir te ver – sua voz estava rouca, quase inaudível.
  - Aidan, não...
  - Eu preciso falar, , pois sei que o tempo está contra mim. Minha vinda para cá vai acelerar minha morte, a médica me alertou que era perigoso, mas não quis ouvi-la. Tudo que eu queria era te ver. – Ele fechou os olhos, permaneceu com eles fechados por tanto medo que tive medo que não voltasse a abri-los. – Foi errado eu ter escondido as coisas de você, agora eu sei. Mas não me culpe por não querer te ver infeliz. Nem sei o que teria acontecido se nunca tivesse conhecido , meu irmão gêmeo. Eu nem sabia que tinha um irmão! Ele não queria se passar por mim, me disse que era errado e que eu devia contar meu diagnóstico a você, mas fui covarde. Por sorte, consegui convencê-lo. E, depois de tê-los visto juntos no restaurante, não me arrependo da minha decisão. – Aidan respirou fundo, com dificuldade. – – ele beijou minha mão -, não se culpe por sentir algo por outra pessoa. Eu vi que te faz feliz, vocês vão ter um filho juntos. Não se repreenda por minha causa. Eu... – O aparelho começou a apitar, e o aperto em minha afrouxou.
  Me ergui de um pulo da cadeira e abri a porta do quarto.
  - Greg! Greg!
  Mas eu sabia que meus chamados iam ser inúteis. O olhar no rosto de Aidan antes dos aparelhos começarem a apitar me disse tudo. Ele estava me deixando. Dessa vez, para sempre.
  Desconectei-me do tumulto a minha volta, gritos de médicos e enfermeiras, que tentavam a todo custo reanimar quem já havia partido. Contudo, mesmo que não quisesse estar ciente do mundo exterior, havia algo que eu não conseguia evitar sentir. O olhar de , que em nenhum momento me deixava. Sei que Aidan me liberou, dizendo que eu devia dar uma chance sem me repreender, mas não sei se conseguirei. Todavia, não importa que decisão tome no futuro, pois, de uma forma ou de outra ele estará presente em minha vida, na vida de nosso bebê. Independentemente de qualquer coisa, eu sentia que esse era o presente de Aidan para mim. Um filho fruto de um gesto que ele teve por amor.

FIM