Plano B

Escrito por Jessie Prade | Revisado por Lelen

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  - Sim. Eu falei que nós vamos, não falei? Já reservamos o fim de semana de folga. – a garota fez uma careta – Não sei do que você está falando. Sim, Becca, eu e meu marido. Claro. – rolou os olhos – Ok, até lá.
   soltou um palavrão e desligou o telefone, ao mesmo tempo em que ouvia a porta da frente bater.
  - Querida, cheguei!
  Barulho de chaves, passos, objetos sendo largados sobre o aparador. No instante seguinte, uma cabeça apareceu na porta da cozinha, e um par de braços magrelos estendeu um pack de PBR para a garota.
  - Ah! Eu amo você. – ela disse, pegando a embalagem e a aninhando nos braços como um bebê.
  - Eu ou o álcool? – o rapaz perguntou, com um sorriso.
  - Ambos.
  Ele balançou a cabeça.
  - Um mês sem me ver, e você ainda é mais carinhosa com a cerveja do que comigo...
   deu uma risada, e guardou as garrafas restantes depois de separar uma para cada um.
  - Quanto drama...
   a olhou, fingindo-se ofendido.
  - Isso pode ser considerado bullying, sabia?
  Mostrando a língua, ela se aproximou, e o abraçou demoradamente.
  - Senti sua falta, . Como foi a turnê?
  - Legal, mas eu já estava com saudades de casa.
  - Da minha casa, você quis dizer.
   bagunçou os cabelos da garota.
  - Seu apartamento é exatamente igual ao meu, – beijou-lhe o topo da cabeça, afastou-a de si, e caminhou até a geladeira – a única diferença é que aqui tem comida.
  Chamando-o de abusado, pegou as cervejas e foi para a sala, enquanto vasculhava a geladeira. Depois de muito procurar, encontrou uma caixa com sobras de pizza, que ele empilhou em um prato e levou consigo para a sala, sem se dar o trabalho de usar o microondas.
  Sentada ao lado dele no sofá, assistindo a um canal de clipes, a garota abriu uma das cervejas, e deu um longo gole.
  - Nenhuma história interessante para me contar, querido? – perguntou, divertida – Nenhuma groupie querendo seu corpinho ultimamente, ou algo assim?
   enfiou um pedaço de pizza fria na boca.
  - Não vou falar sobre isso com você, pode esquecer. – disse, de boca cheia – Prefiro saber sobre os seus dias.
  Ela pregou os olhos na TV, brincando distraidamente com o rótulo da garrafa.
  - Ah, normal... Trabalhei bastante, assisti a todos os episódios faltantes de One Tree Hill, esperei Dylan dar notícias... Aliás, nada ainda, caso você esteja interessado em saber.
  O músico fechou a cara.
  - Estou interessado é em saber onde esse babaca está morando agora, pra arrebentar a cara dele.
  - !
  - Certo, desculpe. – ele resmungou. – Como você está? Queria ter estado aqui por você, sinto muito.
  Apesar de garantir estar bem, notou que aquilo não era bem verdade, então, tentando melhorar o clima, contou algumas histórias divertidas da turnê. Depois de comerem toda a pizza e beberem a maioria da cerveja, a garota pegou o controle da televisão e mudou de canal, procurando algum filme interessante na programação. Usando de toda a sabedoria, ela escolheu um dos filmes do Harry Potter que estava disponível; de forma que, enquanto prestava atenção na TV, ela tinha tempo para pensar sobre sua história com Dylan.
  Haviam se conhecido em um tribunal, há pouco mais de um ano e meio, ambos os advogados defendendo partes divergentes em um caso. O julgamento durara três dias, e, não contente em ganhar apenas o júri, conseguira conquistar Dylan também. O advogado a convidou para um drink em seu hotel logo ao fim do expediente, no terceiro dia; após dois meses de encontros regulares, já eram oficialmente um casal. Casaram-se em seis meses, sem cerimônia religiosa ou festa, e Dylan, natural da Florida, mudara-se para o apartamento da garota em San Diego.
  Ela admitia que tudo tinha acontecido um tanto rápido, é claro, mas a vida deles como casal era maravilhosa. Ou pelo menos era o que a garota achava até cerca de vinte dias atrás, quando chegou em casa e encontrou um bilhete, na caligrafia do marido, dizendo que ele estava indo embora, sem nenhum motivo ou explicação.
  Esperava todos os dias que Dylan desse alguma notícia, que telefonasse ou aparecesse, mas, passadas três semanas, uma minúscula parte dela se preparava para aceitar que ele não voltaria. Agora tinha mobília para dois, um peixinho dourado que não era dela, pilhas e pilhas de livros e documentos repetidos, e uma porção de produtos masculinos sem utilidade. Sem contar a questão Rebecca Mills, cuja ligação havia lhe lembrado de um compromisso antigo, e que precisava de solução imediata. Contar a verdade para todos estava fora de questão, então ela precisava de um Plano B, e rápido.
  - Dobby, Dobby, cuidado! – a voz de a despertou de seu mundo paralelo, e, enquanto observava o músico, ela quase podia ouvir as engrenagens de seu cérebro trabalhando.
  Olá, Plano B.

  - ... – chamou, e ele apenas resmungou qualquer coisa para indicar que estava ouvindo – Você acha que eu sou uma esposa ruim? Quero dizer, você também iria embora, no lugar de Dylan?
  - Claro que não. – ele respondeu, sem tirar os olhos da televisão.
  - Então, tecnicamente, você está dizendo que se casaria comigo...
  - Em um piscar de olhos. – respondeu, ainda concentrado no filme.
  - Nesse fim de semana?
  Foi quando o rapaz percebeu que aquela conversa estava muito, muito estranha. Depois de debater consigo mesmo por alguns instantes, ele lançou um último olhar de tristeza para a TV e a desligou, virando-se para a amiga em seguida.
  - Do que, diabos, você está falando, mulher?
   deu um sorrisinho fofo, que sabia sempre preceder algum tipo de roubada.
  - Há quanto tempo nos conhecemos, querido?
  Ele pensou um pouco.
  - Desde que você veio morar aqui. Mais ou menos... Seis anos?
  - Isso. E eu nunca te pedi nada...
   deu uma risada.
  - Tá brincando? No dia da mudança mesmo você me fez montar todos os seus móveis! Eu vivo te fazendo favores, ...
  - Ok, então eu tenho mais um para te pedir.
  - Por que eu acho que eu isso vai me meter em confusão?
  - Não vai, eu juro! – ergueu as sobrancelhas, e ela suspirou – É só um favorzinho, um favorzinho mínimo. Eu preciso que... – pigarreou – Preciso que você seja, hm... Meu marido.
  - O QUÊ?
  - Por um fim de semana! – a garota se apressou em explicar – Três dias, , apenas três dias. É uma coisa idiota com a minha turma do colegial que eu tenho de ir.
  O músico esfregou o rosto.
  - Ok, certo, deixe-me ver se entendi: você quer que eu te acompanhe até Astoria, no Oregon, para passar três dias fingindo para todos os seus antigos amigos que somos casados.
  - Não! Eles não são meus amigos, eu detesto a maioria deles. – corrigiu – Mas é basicamente isso. Você está livre esse fim de semana, não está?
   se levantou do sofá, e começou a andar em círculos pela sala, enquanto tentava entender o que, exatamente, queria dele.
  - Isso não faz o menor sentido! – exclamou, agitado, desistindo de ser compreensivo – Não faz! As pessoas conhecem o seu marido, você não pode simplesmente chegar lá e dizer que é casada comigo, ou com quem quer que seja! Eles vão saber!
  - Ninguém vai saber. – ela também se levantou e foi atrás dele – Eles não o conhecem, só sabem o nome dele, então tudo o que você precisa fazer é ser meu Dylan por um fim de semana.
   a olhou, sem acreditar. Achava que a ideia era que ela se tornasse a Sra. por alguns dias, mas aquilo era muito mais complexo. Ele não conseguiria se passar por Dylan Walters nem se quisesse; eles tinham tipos físicos diferentes, personalidades diferentes, empregos diferentes. Não tinham uma única característica semelhante, e seria louca se realmente achasse que aquilo iria funcionar.
  Ela se adiantou e lhe segurou as mãos.
  - Por favor, . Você é o meu melhor amigo, eu preciso de você. – insistiu, apelando para o lado emocional do rapaz – Não quero chegar lá e confirmar as previsões de Rebecca sobre a minha vida amorosa ser um fracasso. Não posso dar essa satisfação àquela vaca horrorosa. – o rapaz ficou parado por um segundo, apenas observando as mãos dos dois entrelaçadas, sem dizer nada. Ainda não parecia comovido, então acrescentou. – Eu cozinho para você, e lavo a sua roupa. Por um mês.
  Ele ergueu os olhos.
  - Você não superou mesmo as rixas do colegial, huh? – disse, enfim, e abriu um sorriso atrevido – Ok, foda-se, vamos fazer isso.
   deu pulinhos animados, e o abraçou.
  - Obrigada, obrigada. Serei a melhor esposa de fim de semana do mundo, pode acreditar!

  Nos dias que se seguiram, houve todo o tipo de preparação. forçou o amigo a comprar roupas novas – "você não vai aparecer lá vestindo essas suas regatas horríveis, e não se atreva a levar algum desses bonés!" –, e passou basicamente todo o seu tempo livre dando ao amigo informações detalhadas sobre Dylan, seu emprego, história de família, o que gostava de fazer. detestava o jeito apaixonado e esperançoso que ela soava quando falava do marido foragido, como se o idiota não a tivesse deixado há quase um mês, mas não dizia nada para não a magoar.

  Na tão esperada manhã de Sexta Feira, ele acordou com o cheiro de café que vinha da cozinha, e a voz de cantando Mayday Parade. O rapaz se levantou, e arrastou-se pela casa, vestindo apenas boxers pretas. Ao passar pela sala, tropeçou nas duas malas da garota, largadas bem no meio do caminho entre o corredor e a cozinha.
  - Eu vou pegar as chaves de volta se você continuar aparecendo aqui tão cedo. – resmungou, vendo-a arrumar a mesa.
  - E aí ninguém virá abrir as janelas enquanto você passa meses tocando sua música ruim pelo mundo. – ela respondeu, dando de ombros – Já arrumou suas malas?
  - Mala. No singular. – se sentou à mesa – Você sabe que passaremos apenas três dias lá, não sabe? Por que, pela bagagem absurda que eu encontrei na sala, não é o que parece.
   rolou os olhos.
  - Não me admira o fato de você não ter uma namorada, , já que não entende nada sobre garotas. – colocou uma xícara de café na frente do músico.
  - A única coisa que eu não entendo sobre garotas – ele bebeu um gole antes de continuar – é por que elas precisam levar tanta coisa para uma viagem de fim de semana.
  - Dã! Uma mala para as roupas e outra para os sapatos, é claro. – ela, então, deu a volta na mesa, e vasculhou sua bolsa atrás de alguma coisa – Aqui, coloque isto. – estendeu-lhe uma aliança dourada.
   ergueu uma sobrancelha.
  - O quê, você não vai se ajoelhar e me pedir em casamento?
  - Vá se ferrar, . – largou o anel no colo dele, que o colocou no dedo, e os dois tomaram café da manhã recapitulando os pontos principais do que aconteceria no fim de semana.

  O voo de San Diego para Astoria, com conexão em Portland, levou pouco mais de três horas. dormiu a viagem inteira, mas , preocupado, só conseguia pensar em todas as formas como aquela ideia maluca poderia dar errado.
  Desembarcaram às 11:15h da manhã. Andando lado a lado com a garota, empurrando o carrinho com as malas enquanto cruzavam a área de desembarque, ele finalmente verbalizou os temores.
  - Você tem certeza que ninguém vai descobrir, certo? Não quero me meter em confusão.
  - Não se preocupe, querido, a única pessoa que conhece meu marido está... – olhou em volta – Ali. !
  - ! Dylan! – as garotas se abraçaram, e olhou por sobre o ombro da amiga, franzindo a testa em seguida – Hmm... Você não é o Dylan.
   olhou dela para , os olhos arregalados, sem saber o que dizer.
  - Longa história. – a advogada disse – Temos tempo para um café?
   olhou no relógio.
  - Claro, venham comigo.
  Os três seguiram para uma cafeteria na praça de alimentação do aeroporto, onde contou tudo o que tinha acontecido, desde o dia em que Dylan fora embora até aquela manhã.
  - Sabe, na minha opinião, – disse, ao fim da história, olhando de cima a baixo – você fez uma ótima troca.
  - Não é uma troca! – respondeu, na defensiva – Não estamos juntos, está me quebrando um galho, estamos nessa apenas para não dar satisfação alguma à Rebecca Sou-Uma-Vaca-Insuportável Mills.
  A outra deu de ombros.
  - Foi uma ideia inteligente, nesse caso. Mesmo depois de você confirmar presença, na semana passada, ela continuou dizendo a todo mundo que duvidava que você realmente viesse, ou que viria sozinha. Acho que na verdade ela só está insegura por causa de Bob. – olhou outra vez – É uma droga isso tudo com Dylan, mas arrisco dizer que seu Plano B é melhor que o original.
  - Ah, eu tenho muito bom gosto...
   fechou a cara.
  - O Plano B está bem aqui com vocês, não sei se alguém reparou.
   deu uma piscadinha.
  - O Plano B não tem um irmão pra me apresentar ou algo assim?
   tocou o braço de sobre a mesa, e se inclinou na direção dele, com um sorriso divertido.
  - A única pessoa que sempre me venceu no quesito "vida amorosa de merda" é a . – explicou – Ela é casada com os plantões de doze horas do hospital estadual, nunca teve um relacionamento sério na vida.
  - E você não me ajuda em nada contando esse tipo de coisa para o meu fornecedor de pretendentes, , assim nunca vou conseguir meu marido rockstar! – a garota brincou, enquanto se levantava – Agora temos que ir, são vinte minutos de estrada até o hotel.

  O Cannery Pier Hotel ficava ao norte de Astoria, sobre um píer cerca de duzentos metros para dentro do Rio Columbia, na divisa com o estado de Washington. Segundo , a construção fora por muito tempo uma fábrica de enlatados, comandada pela cooperativa de pescadores de Oregon até cerca de 1940. Apesar de estar desativada há mais de setenta anos, apenas recentemente a área abandonada se transformara no luxuoso hotel que encarava, de boca aberta, sentado no banco traseiro do Bentley de .
  - Certo, estão entregues. – a motorista disse, desligando o carro.
  - Você não vai ficar? – segurou o braço dela, em pânico – Não faça isso comigo, eu só vim por causa de você!
  - Vou passar esse fim de semana com meu marido, o plantão de doze horas. – deu de ombros – Não se preocupe, você vai ficar bem. Além do mais – deu uma rápida olhada para trás – , ou Dylan, ou sei lá como você vai chama-lo, vai te ajudar com o pior.
  Os três saíram do carro, e um funcionário do hotel apareceu para carregar as malas. Depois de encaminharem a bagagem, e trocaram abraços com a garota.
  - Divirtam-se, crianças. – ela disse, ao se separar do músico – Sejam responsáveis, e se algum dos dois ficar com medo e quiser voltar para casa, é só me ligar que eu venho busca-los.
  - Vou me lembrar disso, pode ser que seja necessário. – sorriu – Obrigado pela carona. E vá nos visitar qualquer dia desses, deixarei pronta uma lista enorme de pretendentes para você.
   ainda ria quando deu a partida no carro e deixou o estacionamento, acenando ao longe. segurou a mão de , e respirou fundo.
  - Ok, vamos nessa.

  Depois de fazer o check-in na recepção, eles foram encaminhados até o quarto, acompanhados pelo funcionário com as malas. deu a gorjeta dele, e o rapaz agradeceu curvando-se ligeiramente, depois deixou o quarto e fechou a porta atrás de si.
  Assim que eles ficaram sozinhos, a garota se jogou na cama, fechando os olhos.    olhou em volta do quarto.
  - Você deveria ter dado o dobro da gorjeta ao garoto, só pela quantidade de malas que o coitado teve que... Nossa, olhe essa vista! – abriu a porta de vidro, e foi até a beira do deck, olhando com admiração os barcos que passavam pelo rio.
   se levantou da cama, e caminhou até ele.
  - Lindo, não é? – apontou o enorme arco de metal à direita deles – Aquela é a ponte que liga Astoria a Point Ellice através do rio Columbia. Ela mede mais ou menos 7km, é o único meio de ir de Oregon a Washington.
  O músico virou para ela, e testa franzida como se algo tivesse acabado de lhe ocorrer.
  - Por que você nunca fala daqui?
  - Porque eu odeio esse lugar. – ela deu as costas à linda vista, e voltou para o quarto – A paisagem é de tirar o fôlego, mas todo o resto é insuportável.
   a seguiu para dentro.
  - Eu não entendo. Lá fora, – apontou vagamente para o rio atrás de si – o jeito como você falou... Parecia sentir saudades.
  A garota pensou por alguns segundos, e suspirou.
  - É difícil de explicar. Você não está acostumado a cidadezinhas provincianas, não sabe como um lugar como esse é limitado. Ou como te limita. – deu de ombros – Às vezes até sinto falta daqui, só não o suficiente para voltar. Tenho tudo o que quero em San Diego. – arrumou os cabelos, e pegou sua bolsa – Mas como isso significa que eu não venho para cá desde o colegial, esse vai ser um almoço bem estranho... Venha, eles devem estar nos esperando no restaurante. – pegou o amigo pela mão, e os dois saíram do quarto.

  Ainda de mãos dadas, eles cruzaram o hall do hotel, e entraram na área do restaurante. Como já era de se esperar, todos os olhares se voltaram para o casal, em parte por que ninguém via há quase dez anos, e em parte porque destoava um pouco do grupo de homens ali.
  - Acho que já entendi o que você quis dizer. – ele sussurrou no ouvido da vizinha.
  Rebecca Mills se levantou, e caminhou até eles, balançando os cabelos e os quadris.
  - , querida, você veio! – abraçou-a, depois se virou para , medindo-o por inteiro – E você deve ser o Sr. Walters.
  - Dylan, por favor. – o rapaz respondeu, com um sorriso, e apertou a mão que ela estendia.
   vestia calças justas e uma camisa xadrez, com as mangas enroladas até os cotovelos. O olhar de Rebecca se demorou um pouco em todas as tatuagens que ele tinha à mostra, mas ela logo se recompôs.
  - Venham, sentem-se. O almoço acabou de ser servido.
  Devia haver cerca de cinco outros casais de antigos amigos, ali, que e o marido de mentira cumprimentaram de longe, antes de se acomodarem à mesa.
  Ninguém estava muito diferente, a garota reparou. Algumas das mulheres haviam mudado a cor dos cabelos, alguém tinha engordado, também tinha gente mais magra. Todos estavam casados. Rebecca, em especial, não havia mudado basicamente nada, o que deixara um tanto decepcionada. Sabia de fonte segura que ela já tinha três filhos, esperava que a mulher estivesse pelo menos um pouco fora de forma.
  A comida, por outro lado, estava deliciosa. fora várias vezes interrompida com perguntas, mas conseguiu comer tranquilamente, apenas ignorando os olhares curiosos.
  - Diga, , como foi que vocês arranjaram tempo para viajar até aqui neste fim de semana? – uma das garotas, Susan, perguntou – Sabemos que a agenda dos dois vive lotada...
  - Foi ideia de Dylan, na verdade. – ela respondeu, forçando um sorriso, e apertou o joelho de sob a mesa, que ergueu os olhos do prato e apenas balançou a cabeça – Estamos perto do nosso primeiro aniversário, e ele achou que seria bom unir o agradável ao mais agradável ainda, visitando antigos amigos e aproveitando uma segunda lua de mel nesse lugar maravilhoso.
  - Ah, o primeiro ano de casados... – Rebecca deu um cutucão no marido – Lembra do nosso primeiro ano, querido? Antes das crianças, nós costumávamos viajar em fins de semana românticos assim o tempo todo... Hoje é aula de ballett, treino de futebol, piano, francês... – virou-se para Bob – Esse fim de semana será ótimo para relembrar os velhos tempos, não é, amor?
  - Hm, claro, linda. – ele deu um beijo no rosto da esposa, e voltou a comer.
  - Onde estão seus filhos, Becca? – perguntou.
  - Com a minha mãe. Esse é o único fim de semana do ano que passamos longe deles... – ela sorriu – Estamos todos tão felizes por você ter conseguido vir dessa vez, querida, falamos de você o tempo todo por aqui.
  - Ah, tenho certeza que sim. – a outra balançou a cabeça, e enfiou um pedaço de lasanha na boca.
  Depois do almoço, todos se encaminharam à sala de leitura para alguns drinks. Enquanto deixavam o restaurante, segurou o braço da amiga, e eles esperaram todos saírem primeiro.
  - Que gente mais estranha. – ele sussurrou, fazendo careta.
  - Cidade provinciana, eu te falei. – deu de ombros, entrelaçou os dedos nos dele, e então o arrastou para fora, seguindo os outros casais.
  Na sala de leitura, separaram-se. Ela se juntou às outras mulheres, e foi recebido no grupo dos homens, com um copo de whiskey oferecido por Bob. Ele aceitou a bebida, e agradeceu, bebendo um gole em seguida.
  - Então, Dylan, onde você trabalha?
  Apesar dos exaustivos treinamentos durante a semana, no momento em que aquela pergunta foi feita, a mente do músico se esvaziou. Onde, diabos, Dylan Walters trabalhava?   Como não conseguia se lembrar do nome daquela ou qualquer outra firma de advocacia da cidade, disse a primeira coisa que lhe veio à cabeça:
  - Pearson Hardman.
  Um dos outros rapazes – ele ainda não havia decorado o nome ninguém além de Rebecca Mills e seu marido Bob – o olhou estranho, fazendo-o achar que tinha estragado tudo.
  - Você não tem cara de advogado... – disse, enfim.
   inspecionou a si mesmo por um instante, depois lhe devolveu o olhar estranho.
  - O que você quer dizer?
  - Ah, você sabe, os... E as.. – o homem gesticulou vagamente, apontando no próprio corpo os lugares onde tinha piercings ou tatuagens – Bem, deixe para lá.
  Antes que a situação ficasse muito estranha, se juntou a eles, abraçando o marido de mentira pela cintura.
  - Dylan é o garoto de ouro deles. Consegue acordos incríveis, e perdeu apenas um único caso que foi a julgamento, em toda a sua carreira... – sorriu, e se inclinou na direção dos outros rapazes, como se fosse contar um segredo – Para mim.
  Enquanto os outros pareciam surpresos, balançou a cabeça, divertido.
  - Não sinto vergonha de ter perdido para a melhor advogada da cidade. – deu de ombros - Ela me humilhou, e fez isso do topo dos sapatos de salto mais alto que eu já vi em toda a minha vida.
  A garota deu uma risada, estreitando o abraço.
  - Eu amo você.
  - E eu – se inclinou para lhe beijar a testa – amo você.
  - Podemos sair daqui um pouco? Estou cansada.
  - Claro, meu amor, o que você quiser. – ele devolveu o copo a Bob – Senhores, até mais tarde.

  Quando se fecharam no quarto, sozinhos, lhe acertou um soco no ombro.
  - Pearson Hardman? Você é retardado por acaso?
  - Ei! – ele se esquivou de um tapa – Eu entrei em pânico, tá legal? Esqueci o que tinha de dizer.   - Bem, seu pânico quase ferrou a gente! Rebecca é uma dona de casa desocupada que passa o dia inteiro vendo séries de TV, certamente saberia de onde você tirou isso, Mike Ross!
  O músico tirou os sapatos e a camisa, e se largou na cama.
  - Sabe, é engraçado porque ele finge ser um advogado, e eu estou fingindo ser um advogado e... – ao ver o olhar sério da garota, ele desfez o sorriso – Desculpe, não teve graça. – deu um tapinha no espaço vago na cama, chamando-a – Diga, você vai me explicar por quê, exatamente, odeia Rebecca tanto assim? Vocês se tratam com educação, e ainda assim parecem inimigas mortais.
   suspirou, e se deitou ao lado dele.
  - Robert Mills.
  - Robert M... Bob? – arregalou os olhos – Aquele Bob?
  Ela assentiu.
  - Antes de se casar com Becca, ele foi meu namorado. Ficamos juntos cerca de dois anos. – No último ano do colegial, eu decidi que iria estudar na Universidade da California, mas Bob não queria que eu fizesse faculdade, muito menos em outro estado.
  - Cidadezinha provinciana.
  - Agora você está entendendo, não está? – ela deu um sorrisinho – A ideia era nos casarmos após a formatura, e então eu passaria o resto dos meus dias cuidando da minha casa e da minha família. Acontece que eu, como toda mulher inteligente do século XXI, queria construir uma carreira.
   se virou de lado para olhá-la.
  - Ele terminou com você por causa disso?
   pensou por alguns segundos.
  - Não naquele momento, mas o nosso relacionamento ficou bastante abalado. E foi aí que Rebecca apareceu. Ela vivia dizendo a todo mundo na nossa escola que, por causa do meu capricho por independência e sucesso profissional, eu acabaria sozinha com meus treze gatos num apartamento de cobertura.
  - Essa é uma grande amiga.
  - Ela poderia muito bem ser a Taylor Swift, se tivesse algum talento musical, já que o sonho da vida dela era se casar e ter um milhão de bebês. Não tinha planos de deixar Astoria ou até mesmo fazer faculdade, e foi assim que ela colocou as garras em Bob. Eles se casaram em menos de um ano, logo após a formatura.
  O rapaz franziu a testa.
  - Que... Vadia.
   não conseguiu segurar a risada.
  - Tudo bem. Ela está presa aqui nesse fim de mundo, servindo de empregada para o marido machista e seus três remelentinhos mimados, e eu tenho tudo o que sempre quis. Na verdade, do jeito que as coisas terminaram, estamos as duas satisfeitas.
  Na opinião de , se ela o tinha subornado para acompanha-la até ali, apenas para provar aos outros o quanto era feliz, talvez não estivesse tão satisfeita assim.
  Ele se virou outra vez, e os dois ficaram apenas encarando o teto por um tempo.
  - . – chamou, enfim – Você acha que Dylan me deixou de vez?
  Pelo visto estavam pensando a mesma coisa.
  - Eu não sei. – o músico respondeu.
  - Quer dizer, - ela se virou para ele – todas as coisas dele ainda estão no nosso apartamento. Se Dylan tivesse ido embora para valer, teria levado todas as roupas, os livros, Trevor...
   virou o rosto na direção dela.
  - Quem, diabos, é Trevor?
  - O peixinho dourado. – ela rolou os olhos – Diga, ele vai voltar, não vai?
   demorou um pouco a responder.
  - Voltando ou não voltando, ele já é um idiota por ter ido embora, em primeiro lugar. – virou-se para o outro lado, dando as costas à garota – Descanse um pouco, , a viagem foi cansativa, e será uma noite longa.

  O ginásio da escola fora decorado com balões azuis e amarelos para aquela noite, e, logo na entrada, via-se uma faixa que dizia "Knappa High deseja boas vindas à turma de 2004".
  - Por quanto tempo precisamos ficar aqui? – perguntou, fazendo careta. – Eu já quero ir embora.
   a cutucou nas costelas.
  - Paciência, pequeno gafanhoto. Vamos entrar, cumprimentar as pessoas, beber até um de nós ficar bêbado, e depois voltar ao nosso agradável hotel no píer; tudo bem pra você?
  Cinco minutos mais tarde, ele a olhava de boca aberta, enquanto tirava um cantil da bolsa e completava seu copo de ponche com vodca contrabandeada do hotel.
  - O quê? – ela o olhou – Até um de nós ficar bêbado, você disse.
  - É, eu disse. – passou um braço pela cintura dela, e eles se juntaram a um grupo de antigos alunos.
   não parecia desconfortável, mas notava-se que estava entediada. Olhava em volta o tempo todo, dava respostas curtas e objetivas, e sempre reenchia o copo quando trocavam de grupo, caprichando no álcool. Nas duas primeiras horas, o único momento em que a garota realmente prestara atenção foi ao lhe perguntarem como ela e o marido haviam se conhecido.
  - Ah, essa é uma ótima história... – disse, bebendo um gole – Como vocês já sabem, Dylan também é advogado. Nós estávamos nesse caso de discriminação de gênero, minha cliente contra uma empresa idiota do Tallahasse.
  - E eu era o advogado da empresa idiota do Tallahasse. – acrescentou – Voei até San Diego para o julgamento, que durou três dias.
  Ela assentiu.
  - Ao contrário do que todos vocês achavam na escola, eu me tornei uma ótima advogada, – os outros ex-alunos se remexeram no lugar, desconfortáveis. – e venci o caso.
  - Eu me apaixonei por ela já no primeiro dia – o rapaz continuou, desviando a atenção para si – mas esperei até o fim do julgamento para convidá-la para um drink. Ela disse...
  - Eu disse – o cortou – Que não saía com perdedores, e fui embora. – deu uma risada – Claro que eu sabia onde ele estava hospedado e fui lá mais tarde, mas a expressão no rosto dele foi impagável. Agora, se vocês nos dão licença, – a garota ergueu o copo vazio - todo esse papo sobre drinks me deixou com sede.
  Foram de mãos dadas até a mesa das bebidas.
  - Aquela história é verdade? – perguntou, enquanto enchia os copos de ambos.
  - Claro que não, eu quase chorei de felicidade quando ele me chamou pra sair. – ela respondeu, e olhou em volta, franzindo a testa. Depois, tirou os copos das mãos do amigo, colocando-os na mesa, passou os braços em torno no pescoço dele.
  Quando ela aproximou os corpos dos dois, a segurou pela cintura para mantê-la no lugar.
  - O que você está fazendo?
  - Relaxa, , - ela sussurrou – não vou te morder. – sorrindo, subiu na ponta dos pés e beijou o rapaz nos lábios. Ele, surpreso, apenas ao sentir um puxão nos cabelos retribuiu o beijo, passando os braços por suas costas e a erguendo levemente do chão. Quando se separaram, a garota sorriu novamente – Obrigada, Bob não parava de nos encarar.
   olhou em volta discretamente.
  - Ele não é único, olhe ali.
   olhou na direção que ele indicava, e uma das garotas junto a Rebecca desviou o olhar rapidamente.
  - Aquela é Susan, ela e Russell estão hospedados no quarto ao lado do nosso. Acho que ela gostou de você. – a garota deu um sorriso travesso – Susan é legal. Podemos contar a verdade a ela, se você estiver interessado e não tiver nenhum problema com mulheres casadas...
   deu uma risada, e balançou a cabeça.
  - Certo, nada mais de ponche batizado para a senhora. – deu um passo trôpego para longe, mas ele se adiantou para ampará-la – É, querida, acho que já podemos ir embora, agora.
  Ele ajudou a esposa temporária a caminhar, e foram se despedindo das pessoas, uma por uma. Ao chegarem ao grupo de Susan e Rebecca, a última ergueu as sobrancelhas.
  - Tão cedo?
  - É. – sorriu – Meu marido acha que eu bebi demais, e tem medo que eu acabe fazendo algo desnecessário, como por exemplo dizer a todo mundo aqui que você é uma...
   cobriu a boca dela com uma das mãos.
  - Ela sempre fica assim engraçadinha quando passa da conta... – deu um sorriso amarelo aos outros, e a afastou do grupo. – Você é inacreditável. De verdade. Inacreditável. – resmungou, rebocando a garota para fora do ginásio. – Vamos ver se conseguimos um táxi.

  Conseguir o táxi foi relativamente fácil, enfiar a garota lá dentro também. Por outro lado, convencer o motorista de que ela não vomitaria no carro dele deu um certo trabalho. O senhor de cabelos grisalhos parava no acostamento o tempo todo, perguntando se estava tudo bem, ou se ela precisava descer do carro, e desta forma a viagem levou o dobro do tempo.
  Ao pararem no estacionamento, enfim, pagou, agradecendo várias vezes, e deu a volta no carro para ajudar a vizinha. aceitou a ajuda e o acompanhou até o hotel, tropeçando nos próprios pés e rindo sozinha enquanto ele a guiava pela cintura.
  Caminharam lentamente pelos corredores, e pararam em frente ao quarto onde estavam hospedados.
  - Shh. – fez, enquanto procurava a chave nos bolsos.
  - Shhhh... – o imitou, com o dedo indicador nos lábios, depois caiu na risada.
  O músico abriu a porta o mais rápido de pôde, entrando no quarto e puxando a garota consigo. Trancou novamente a porta, e, quando se virou, já estava sobre ele. Ela passou os braços por seu pescoço, e, como fizera no ginásio, subiu na ponta dos pés para lhe beijar os lábios. Novamente o pegara de surpresa, mas dessa vez se recuperou mais rápido, levando uma mão aos cabelos dela enquanto lhe apertava a cintura com a outra.
   era uma garota inteligente e divertida, além de bonita, e que beijava incrivelmente bem. Mas estava bêbada. E era casada. Assim, usando toda a força de vontade de que dispunha, ele a afastou de si.
  - Ok, vamos dormir antes que você faça algo de que vá se arrepender, sua contrabandista alcoólatra.
  Ele a ajudou a tirar o vestido e os sapatos, e a deitou na cama. Contornou o móvel, enquanto também tirava as próprias roupas.
  - Sabe, - disse, jogando-se no espaço vago ao lado da garota – eu já imaginei isso de formas variadas, mas o que está acontecendo nesse exato momento é muito mais bizarro que todas elas.
   virou o rosto para ele, os olhos semiabertos.
  - Você já me imaginou de lingerie, bêbada na sua cama, ?
  Ele se remexeu no lugar.
  - Hm, bêbada não...
  A garota ergueu as sobrancelhas.
  - Eu sou casada, sabia?
  Sem pensar muito, rolou sobre ela na cama.
  - Uhum... – abaixou o rosto até seu nariz tocar o dela – Nesse fim de semana comigo, certo?
  Um telefone tocou, e pulou para longe de , quase caindo da cama. Esticou-se até o criado mudo, praguejando, e pegou seu telefone celular.
  - Acho que é o seu... – comentou, ao ver a tela sem nenhuma notificação.
   apenas resmungou algumas coisas, e se virou na cama, puxando o lençol até o pescoço.   O músico se levantou, e caminhou até a bolsa da garota, largada no aparador desde que o casal chegara ali. Ele pensou por alguns segundos, ciente de que ela não gostaria que alguém mexesse em suas coisas, mas a curiosidade falou mais alto que o bom senso, e ele rapidamente encontrou o celular de .
  Quatro chamadas não atendidas de horas atrás, e duas mensagens de texto, todas do marido dela, Dylan. Movido por algum instinto estranho que não sabia identificar, apagou as mensagens, guardou o telefone novamente na bolsa da garota, e voltou para a cama, desligando as luzes no caminho.
  Quando se enfiou sob os lençóis, se virou novamente e o abraçou, apoiando a cabeça em seu peito.
  - O que era, afinal? – perguntou, ainda de olhos fechados.
  - Ah, nada importante. – o rapaz respondeu.
  - Imaginei. – ela se ajeitou melhor – Boa noite, Dylan.
   fez uma careta.
  - Boa noite, .

  Na manhã seguinte, ele acordou mais cedo que a esposa de mentira. Tirou-a de cima de si com cuidado, saiu da cama, e se vestiu silenciosamente, vendo-a dormir agora abraçada ao travesseiro dele. Um sorriso involuntário se formou em seu rosto, mas ele balançou a cabeça, e foi até a porta, pegando a carteira e o celular no aparador.
   já estava quase saindo do quarto quando a ideia passou por sua cabeça. Recuando alguns passos, ele lançou um olhar à garota ainda adormecida na cama, ao mesmo tempo em que enfiava uma das mãos na bolsa dela novamente, caçando o telefone celular. Mesmo sabendo que aquilo provavelmente lhe causaria problemas, ele desligou o aparelho, guardou-o no bolso, e enfim, deixou o quarto, olhando para trás uma última vez antes de fechar a porta com cuidado.
  No hall de entrada, cumprimentou algumas pessoas, sorridente. Foi até o balcão da recepção, e pediu que levassem o café da manhã de para o quarto deles em uma hora, depois seguiu até o restaurante. Depois de se servir, acomodou-se em uma das mesas mais vazias, ao lado de um casal de conhecidos, e comeu, conversando com eles entre garfadas. No meio da refeição, seu telefone tocou, e fez uma careta ao ver o nome no visor. Pediu licença, e saiu para o estacionamento, para atender a ligação.
  - , o que você...? Não. – resmungou – Eu disse, Astoria! Fazendo um pequeno favor a uma amiga... Sim, essa amiga. – rolou os olhos – Ora, cale a boca. Ok, escute. Não, não... Escute. – andou em círculos enquanto ouvia o companheiro de banda falar, segurando o celular com força – Certo, fique quieto por um segundo, sim? Amanhã faremos uma reunião e resolveremos esse problema. Podemos adiar a turnê por alguns dias, ou escolher outra banda de abertura, tanto faz... Isso, isso. Certo, então, até amanhã.
  Ao fim da ligação, enfiou o telefone no bolso outra vez, e, virando-se para voltar ao restaurante, deu de cara com a garota ruiva da outra noite.
  - Oi! Hm... Susan, não é? – deu um sorriso amarelo – Não tinha te visto aí, o que você está fazendo aqui fora?
  A moça o olhou.
  - Descobrindo que você não é quem diz ser.
   se mexeu no lugar, passando o peso de uma perna para outra.
  - Do que você está falando? – perguntou, sem conseguir conter o pânico no olhar.
  - Eu sabia que você não me era estranho, mas não conseguia lembrar onde já tinha visto esse rostinho. Então ontem à noite, durante a festa, eu lembrei que você está no meio de vários outros garotos estranhos colados na parede da minha sobrinha adolescente. – ela inclinou a cabeça para olha-lo melhor – Você não é Dylan Walters. Não é o marido de .
   a pegou pelo braço, arrastando-a pelo estacionamento. Eles se agacharam atrás de um carro, e o rapaz suspirou.
  - Meu nome é , eu toco numa banda chamada , e é minha vizinha. – fez uma careta – Você vai contar para alguém?
  - Isso depende...
  - Oh, Deus... – gemeu, cobrindo o rosto com as mãos – O que você quer? Dinheiro? Um autógrafo para a sua sobrinha? Ou...? – ergueu as sobrancelhas sugestivamente, dando a entender o sentido daquela frase não dita.
  Susan gargalhou.
  - Ora, por favor, já deu uma boa olhada no meu marido? Com o que me espera em casa todas as noites, acredite quando eu digo que não tenho o menor interesse em você.
  O músico pensou um pouco.
  - Não sei se fico feliz ou muito ofendido com isso. – resmungou – Diga, você vai contar a alguém ou não?
  Ela estreitou os olhos.
  - Por que vocês estão fazendo isso, afinal?
  - O verdadeiro Dylan é um babaca que deu no pé, - fechou a cara – e não queria dizer isso à Rebecca. Ela é minha melhor amiga, e eu não queria vê-la sofrendo, então aceitei vir com ela e fingir ser aquele idiota por um final de semana. – lançou-a um olhar pidão – Por favor, por favor, não conte a ninguém.
  - Tudo bem. – Susan se levantou, alisando as roupas – Apenas tenha certeza que está realmente ok com isso. Afinal, é apenas por um fim de semana, e você até pode se passar por outra pessoa, mas não há como fingir sentimentos que não existem. – com um aceno de cabeça, deu as costas e o deixou ali, escondido atrás de um carro, pensando no assunto.

   permaneceu no quarto a manhã inteira, curando a ressaca. Quando foi até lá chama-la para o almoço, encontrou-a revirando as malas e atirando roupas para todos os lados naquele quarto já bastante bagunçado.
  - Você viu meu telefone celular? – ela perguntou, assim que o viu à porta – Já procurei por tudo e não o encontro em lugar algum!
  - Hm, não... – o rapaz respondeu, tentando não parecer suspeito, e enfiou as mãos nos bolsos.
  - Será que o deixei na festa, ontem? Aliás, eu levei alguma bolsa para a festa, ontem? Aliás, - ela deixou de remexer em suas coisas, e coçou a cabeça – como nós voltamos de lá? Acho que exagerei um pouco no ponche batizado, não me lembro de muita coisa... – fez uma careta – Eu disse ou fiz algo ofensivo?
   riu, aliviado com a mudança de assunto.
  - Acho que não. – deu uma piscadinha – Eu fiquei com você o tempo todo para evitar maiores danos...
   contornou a mala aberta no meio do quarto, e o abraçou.
  - Você é o melhor marido de fim de semana do mundo.
  - Provavelmente. – o rapaz a abraçou de volta, beijando-lhe o topo da cabeça – Vem, vamos comer, tenho certeza que o seu celular vai acabar aparecendo uma hora ou outra.

  Logo após o almoço, por insistência de – o único forasteiro –, o grupo saiu em visitação aos pontos turísticos. Primeiro parques e praças, e depois museus – sendo Oregon Film Museum o preferido do californiano, que passou a maior parte do tempo na seção dedicada ao filme Goonies, seguindo pessoas aleatoriamente enquanto gritava "Sloth quer chocolate" até uma aos risos o arrastar para fora da antiga prisão. Na última parada, no fim da tarde, chegaram ao Astoria Column, um farol desativado e transformado em mirante.
  - Astoria é um saco, não é? – a garota perguntou, enquanto subiam as escadas da torre.
  - De forma alguma. – respondeu, em tom divertido – Estou achando essa viagem na verdade bastante... Puta que pariu!
  O topo do mirante proporcionava vista perfeita para a cidade, e, mesmo vivendo na famosa costa dourada e tendo visto o mundo inteiro em turnê, a imagem do sol se pondo refletida no Rio Columbia deixou o rapaz sem fala.
  - Vamos, me dê o seu celular! – estendeu a mão – Vou achar alguém para tirar uma foto nossa.
  - Eu tiro! – Rebecca se ofereceu, e a outra lhe entregou o telefone – Ok, beijem-se, a foto vai ficar linda. – o casal se entreolhou – Rápido! – ela insistiu, e e uniram os lábios num selinho constrangido – Ora, por favor! Esse é o melhor que pode fazer, Dylan?
  Ele se remexeu no lugar.
  - Não, mas você está me deixando desconfortável...
  - Beije-a de uma vez, homem!
  Como se sua vida dependesse daquilo, puxou a garota pela cintura e a inclinou para trás, dando-lhe um beijo de cinema enquanto Rebecca os fotografava. Quando se separaram, pareceu um tanto desorientada, e ele sorriu. Os dois foram até a outra garota.
  - Você me assusta. Pra caralho. – tirou o celular das mãos de Rebecca, e olhou a foto – Ficamos bonitos, amor. – disse, sorridente, e olhou por cima do ombro – Hey, estão jogando aviõezinhos daqui de cima, parece divertido! – dando um beijo rápido na vizinha, ele se afastou.
   estava preparada para se despedir e segui-lo, mas Rebecca segurou seu braço.
  - Podemos conversar?
  - Becca, olhe, - ela suspirou - eu sinto muito se disse algo desagradável ontem à noite, eu...
  - Você não disse nada. – a outra a interrompeu – Mas acho que queria dizer, e eu não posso realmente culpa-la por isso. Na verdade, gostaria de te pedir desculpas. Você sabe, por tudo o que aconteceu no colegial. – a advogada abriu a boca para responder, mas ela continuou – Eu era uma idiota naquela época, fiz e disse muitas coisas que não deveria.
  - Bem, nisso nós concordamos. – complementou, baixinho.
  - Eu disse que você nunca conseguiria o que queria, e olhe só para nós duas agora! Você se deu muito bem na California, tem a carreira dos seus sonhos, um ótimo apartamento e um marido completamente apaixonado por você.
  Ela olhou na direção em que Rebecca apontava, rindo e se divertindo com as pessoas que ela abandonara ao deixar o Oregon. Lembrou-se de quando se mudara para San Diego, daquele apartamento enorme só para ela, das madrugadas e fins de semana desperdiçados no trabalho. De Dylan.
  - É. – respondeu vagamente – Eu tenho tudo o que queria.
  - E eu não tenho nada.
   então a olhou.
  - Não diga isso, Becca, você tem a vida que sempre quis! Tem sua casa, seus filhos, seu marido...
  - Não, eu... – Rebecca suspirou, e olhou em volta antes de continuar – Bob e eu estamos nos separando. Nós... Ninguém sabe ainda, esse fim de semana era para ser nossa última tentativa, mas desde que chegamos ao hotel ele mal fala comigo. – esfregou os olhos – Por todos esses anos eu vivi pela minha família, pelo meu lar. Nunca tive um emprego, não sei ser independente. Se Bob realmente for embora, não saberei o que fazer. E as crianças? O que eles...?
  - Calma. – a outra lhe segurou as mãos – Vai ficar tudo bem. Vocês provavelmente só estão passando por uma crise, acontece na maioria dos casamentos.
  - Você acha que caímos na rotina?
  - É possível. – concordou – Filhos mudam muito a vida do casal, talvez vocês precisem de mais tempo sozinhos para se lembrarem de como era no começo do casamento.
  A outra fungou.
  - Aposto que nunca teve problemas com o seu marido. Eu olho para vocês dois e vejo um casal perfeito.
  Aquele comentário fez com que se sentisse péssima, e um tanto arrependida por coagir a viajar milhas e milhas para mentir por ela.
  - Não existem casais perfeitos, Becca, existem apenas casais imperfeitos que superam as dificuldades. – disse – Você e Bob vão superar.
  - Como?
  - Bem, isso depende de vocês. – a garota pensou um pouco – Diga, o que vocês costumavam fazer quando eram recém-casados? – a outra abriu um sorriso malicioso, e ela fez uma careta – Eu quis dizer em público!
  - Oh! – Rebecca coçou o queixo, esforçando-se para se lembrar – Bem, tinha esse bar no centro, e nós costumávamos ir até lá todos os Sábados...
  - Perfeito! – bateu palmas – Tem um na rua do hotel. Avise a todos, nós vamos lá esta noite.
  - Tem certeza?
  Ela apertou o ombro da antiga colega de classe, olhando-a diretamente nos olhos.
  - Você vai conseguir o seu homem de volta hoje, acredite em mim.

  Horas mais tarde, deitado na cama de casal do quarto deles, observava enquanto esta se arrumava.
  - Você tem certeza disso? – ele perguntou, com a testa franzida.
  A garota largou a toalha na cama ao lado dele, e se enfiou num vestido preto justo e sem mangas antes de responder.
  - Eu prometi a ela. – virou-se de costas – Aqui, feche o zíper para mim, sim?
   engatinhou pela cama, e ficou de joelhos, subindo o fecho do vestido.
  - Com tudo que aconteceu entre vocês na época de escola, não sei se eu faria o mesmo no seu lugar. – se curvou para calçar os sapatos, e ele se esticou para fora da cama, tombando a cabeça um pouco para o lado a fim de ver melhor – Você tem uma... – a garota se ergueu novamente, e ele se ajeitou na cama – Alma... Maravilhosa.
  Ela deu uma risada.
  - Você faria o mesmo, . – olhou-o – Está pronto? Podemos ir?
  O rapaz assentiu, e a acompanhou até a porta. Quando destrancou a fechadura, ele segurou em seu braço.
  - Escute, sobre aquele beijo, mais cedo... Desculpe, eu sei que foi meio exagerado, mas Rebecca me mete um medo danado!
  - Compreensível... – ela respondeu, divertida. Abriu a porta, deu um passo para fora, e o olhou por sobre o ombro, dando uma piscadinha – Além do mais, não foi sacrifício algum, você é um ótimo beijador...
   segurou a mão dela, após fechar a porta, e eles foram ao encontro dos outros casais.

  O Desdemona Club ficava a duas quadras do hotel, e já estava bastante cheio quando eles chegaram. O grupo se encaminhou diretamente às mesas de sinuca, liderados por , que logo pegou um taco do suporte. Bob, de mãos dadas com Rebecca, ergueu as sobrancelhas.
  - Você joga?
  - Claro. – ela deu de ombros – Você não? Aposto que posso te vencer.
   se juntou à amiga.
  - O que me diz, Bob, que tal uma partida de duplas? Rebecca?
  Ela mexeu nos cabelos com a mão livre, meio sem graça.
  - Ah, bem, eu não sei jogar...
  Bob se inclinou na direção dela.
  - Ora vamos, Becks, eu ajudo você...
  Depois de fazer um pouco mais de drama, ela acabou aceitando. E estava falando a verdade, no final das contas; realmente não sabia jogar. Entretanto, Bob ficou mais do que satisfeito em se curvar por trás dela o tempo todo e ajuda-la a fazer suas jogadas. Perderam a partida, obviamente, mas aquele era apenas um detalhe.
  Ao fim do jogo, outras duplas entraram em seu lugar, e os rapazes foram até o bar buscar bebidas, enquanto e Rebecca se juntavam ao resto do grupo, numa mesa, perto do palco onde uma banda local começava seu show.
  - Você está se saindo bem, Becca. – a primeira disse, tentando não falar muito alto – Ele parece de ótimo humor.
  - É. – a outra sorriu – Acho que gostou da quebra na rotina. Obrigada, .
  - Sem problemas. Escute. – aproximou-se dela, falando em seu ouvido – Quando voltar, eu vou sair para dançar, e você vem comigo. Bob vai te seguir, e aí você dança com ele, certo?
  - Ok, dançar com Bob. – Rebecca franziu a testa – Mas quem é ?
   congelou.
  - O quê?
  - O quê?
  As duas fizeram careta.
  - A música está muito alta, não consigo te ouvir direito! – gritaram, quase ao mesmo tempo, depois deram risadas.
  - Eles estão vindo. – mudou de assunto – Faça exatamente o que eu fizer.
   se aproximou dela, estendendo-lhe uma garrafa de Corona. Ela o beijou em agradecimento, pegou a cerveja e bebeu um gole.
  - Vamos ver o show! – anunciou, levantando-se, e foi até a pista junto com Rebecca e as outras garotas.
  Como previamente combinado, deu de ombros e as seguiu. A atitude causou uma agitação no resto do grupo, que não queria que ele fosse considerado o melhor marido, quando surgisse a comparação numa noite de garotas qualquer. Todos eles já tinham ouvido algo de suas esposas a respeito de quão bem o tal Dylan tratava , e não queriam ficar atrás. Desta forma, foram todos até a pista.
   se colocou atrás de , passando um dos braços por sua cintura.
  - Causamos uma reação em cadeia nos casais dessa cidade. - disse, divertido, e a beijou no pescoço.
  Ela riu, e o olhou.
  - Tudo isso porque você é o melhor marido do mundo.
  - E eu sou, não é mesmo? – ele brincou, falando em seu ouvido – Tão bom que quase não pareço real.
  Rindo, lhe deu uma cotovelada, e ele estreitou o abraço, enchendo o pescoço e o ombro dela de beijos.
  Continuaram lá por algum tempo, assistindo o show, bebendo e dançando. Becca e Bob estavam visivelmente se dando muito bem, trocando beijinhos e carinhos, sorrindo um para o outro.
   notou aquilo, e se sentiu um tanto satisfeita. Cutucou , que se abaixou um pouco para ouvi-la.
  - Acho que o nosso trabalho aqui está feito. – apontou discretamente o casal.
  - Então vamos dar o fora daqui. – ele a puxou pela mão, e foram em direção ao bar.
   pediu duas cervejas, pegou-as, e deixou o dinheiro sobre o balcão. Estendeu uma para , eles brindaram e beberam; então ele a pegou pela mão novamente, puxando-a para fora da multidão.
  Quando acharam um canto tranquilo, se recostou a uma parede, e o rapaz parou de frente para ela.
  - Sabe, - ele começou – esse fim de semana está sendo bem legal. Obrigado pelo convite.
  - Imagine, você está me ajudando a sobreviver a isso tudo... – a garota respondeu.
   deu uma risada.
  - Admita que você gosta dessas pessoas. – fez careta, e ele riu – Você está se divertindo aqui. Você gosta deles, e sente saudades, admita.
  Ela deu de ombros.
  - Talvez. Mas isso não quer dizer que eu vou voltar a morar aqui.
  - Que bom, porque eu gosto de ter você do outro lado do corredor. – ele largou a garrafa vazia numa das mesas, e apoiou as mãos na parede, aproximando-se – Eu gosto, mesmo.
   não se moveu. Não tentou afasta-lo, nem pareceu desconfortável. sabia que provavelmente não deveria fazer aquilo, mas já estava ali. Ele queria, ela também parecia querer; podiam aproveitar o momento, e se preocupar com o significado daquilo apenas quando necessário. Se algum dia fosse mesmo necessário.
   esperou que fizesse o primeiro movimento, e ele fez. Quando a beijou, a garota derrubou a garrafa de cerveja dela no chão, e os dois riram. Era o primeiro beijo real entre eles, sem ninguém observando. Mas não era estranho, nem novo. De alguma forma, era exatamente o que um esperava do outro.
  Com as mãos agora livres, a garota passou os braços pelo pescoço do vizinho, subindo na ponta dos pés; a ajudou, dando-lhe equilíbrio ao segurar em sua cintura. O beijo, que começou tranquilo, foi ganhando intensidade; e a banda tocava um rock dançante ao fundo, mas ninguém estava realmente ligando. O rapaz foi descendo beijos pelo pescoço e ombro de , mexendo em seu cabelo.
  Ela, então, sem pensar, fez a única coisa que não se pode fazer em uma situação daquelas.
  Disse o nome errado.

   parou o que estava fazendo, chocado. Sabia que não devia se sentir daquela forma, mas estava furioso. Bem, além disso, sentia-se idiota, também. vinha lançando pequenas provocações o dia inteiro; andando de lingerie pelo quarto, pedindo-o para fechar o zíper nas costas de seu vestido, dando piscadelas, tocando-o o tempo todo. Apenas aproveitara a chance de uma possível amizade com benefícios, ou até mesmo... Bem, definitivamente não imaginara que a garota estivesse enganando a ele e a si mesma por todo o tempo.
  - . – enfatizou, zangado – O nome é .
  , sem saber o que dizer, apenas o observou se afastar, certa de que tinha feito besteira. A pior de todas.
  A verdade é que ela não entendia porque pensara em Dylan exatamente naquele momento, depois de um dia inteiro sentindo como se estivesse ali com . O verdadeiro , não ele fingindo ser seu marido. O que ela conhecia há mais de seis anos, que carregava as compras para ela, que não se importava com fuso-horário e a ligava às quatro da manhã depois de um show no Japão; que tinha lhe dado uma chave de seu apartamento, que tinha uma chave do apartamento dela. Que a acompanhava nas corridas no parque, às seis da manhã, mesmo tendo acabado de voltar de turnê, ou estando de ressaca de uma balada. Que a aguentava quando reclamava do trabalho, que lhe contava piadas, que a ensinara a jogar Halo e Assassin’s Creed. O que era seu melhor amigo.
  Muito daquilo havia se perdido no último ano, com a mudança de Dylan para San Diego, e pensar naquilo naquele momento a deixou triste. era seu cara preferido, e provavelmente estava magoado, furioso, e se sentindo humilhado. Ela precisava fazer algo a respeito.

  O rapaz estava fechando a porta do quarto quando apareceu, ofegante e segurando os sapatos de salto na mão.
  - Meu Deus, como você anda rápido! – ela disse, entre uma respiração e outra, entrando no quarto sem pedir licença. Fechou a porta, e largou os sapatos no chão. – Escute, eu...
  - Não, escute você! – a cortou, apontando o dedo em seu rosto – Qual é o seu problema? O que você acha que está fazendo, afinal?
  - Eu...
  - Eu, eu, eu... Sim, você! – o rapaz exclamou, soando frustrado – Olhe, olhe. Ok. Se você quiser o , pois muito bem, o está aqui. Ficar comigo fingindo que eu sou aquele babaca com quem você teve a ideia idiota de se casar? Não vai acontecer.
  A garota não conseguia pensar direito com aquele ataque de raiva dele, não tinha o que dizer. Tudo o que sabia era que precisava fazer algo, e rápido. Mesmo sem ter certeza de qual seria o resultado, fez a primeira coisa que passou por sua cabeça: puxou-o pelos ombros e o beijou.
   a afastou, parecendo irritado.
  - Você ouviu o que eu disse? O-o que você está fazendo? – gaguejou, atrapalhado, quando ela o beijou no pescoço, ao mesmo tempo em que ia abrindo os botões de sua camisa.
  - Estou tentando tirar as roupas do meu vizinho, melhor amigo e rockstar favorito. – respondeu, afastando as mãos dele das suas e continuando o trabalho – O nome dele é , e, no momento, ele está dificultando bastante as coisas, mas tudo bem. Eu tenho o talento especial de sempre dar um jeito de fazer as coisas como eu quero.
  O rapaz fechou os olhos com força quando ela moveu as mãos do último botão de sua camisa para a fivela do cinto. A raiva havia desaparecido no momento em que a vira parada na porta do quarto, com os cabelos bagunçados e os sapatos na mão, depois de correr duas quadras atrás dele. Já a havia perdoado; aquilo, contudo, era todo um outro nível. Ele tinha pensado no assunto, no caminho entre o bar e o hotel, e decidira que talvez fosse melhor que não tivessem levado nada adiante. Aquela era sua melhor amiga, e ela era casada. Haveria consequências.
  - Você sabe o que está fazendo. – apesar do tom de voz, era na verdade uma pergunta.
  - Sim.
  - E amanhã?
  - Não tenho ideia.
  Ele pensou por meio segundo.
  - Ok, foda-se.
  Voltando ao plano original de se preocupar quando a hora chegasse, a empurrou contra a porta, virando-a de costas e descendo o zíper do vestido enquanto beijava seu ombro. Um rápido movimento de ombros da moça, e a peça estava no chão. No instante seguinte, a camisa do rapaz já lhe fazia companhia no carpete.
  Beijando-se, e despindo um ao outro, eles foram aos tropeços até a cama, onde se deitou sobre a garota, descendo os beijos e tirando peças de roupa até que não houvesse mais nada no caminho.
  E não errou o nome.
  Nenhuma das vezes.

  Na manhã seguinte, ele acordou com o barulho do chuveiro. Levou um tempo para se localizar, depois se arrastou para fora da cama, pegando seus jeans do chão e vasculhando os bolsos atrás do telefone celular. Nenhuma chamada perdida. Era domingo, onze e quinze da manhã. A noite anterior havia sido uma loucura. E por falar nisso...
   já tinha recolhido todas as roupas espalhadas pelo chão, quando a porta do banheiro se abriu, e saiu de lá enrolada em uma toalha branca felpuda. Ele ainda não havia chegado a uma conclusão sobre como agir dali em diante, então esperou que ela dissesse algo, mas a garota apenas sorriu e disse o "bom dia" habitual, como se aquela manhã não fosse nada diferente de todas as outras.
  E talvez não fosse mesmo, o rapaz concluiu. Tinham dormido juntos, o que era ótimo; ninguém estava constrangido, o que também era ótimo; e o relacionamento deles não fora afetado, o que era maravilhoso. Eles podiam ser amigos com benefícios, certo? Tudo estava bem, podiam repetir aquilo.
  Estaria ela pensando em repetir?
  - ... falando com você!
   balançou a cabeça, e apareceu diante de seus olhos, ainda enrolada na toalha, com as mãos na cintura.
  - Desculpe, o que você disse?
  Ela rolou os olhos.
  - Acho que você ainda está dormindo... – disse, divertida – Não vai se arrumar? Temos que juntar nossas coisas, almoçar e dar o fora, tudo em menos de duas horas.
  - Claro. Vou só tomar um banho, minhas coisas já estão praticamente prontas. – ele baixou o olhar para as mãos, e notou que segurava o vestido da garota – Aqui, isso é seu. Volto logo. – estendeu o vestido, e a beijou na bochecha. Depois, pegou as roupas que vestiria e se encaminhou ao banheiro.
  Tomou um banho rápido, vestiu-se, e escovou os dentes. Em cerca de dez minutos, voltou ao quarto.
  - Pronta? – perguntou.
  - Quase. – respondeu, e passou por ele para ir até o banheiro novamente.
   jogou suas coisas de qualquer jeito dentro da mala. Antes de fechá-la, esticou o pescoço na direção do banheiro, e viu, pela porta entreaberta, a garota concentrada em passar lápis nos olhos. Pegou rapidamente o telefone dela, que tinha escondido entre as roupas, e fechou a mala.
  - Ei, querida, achei seu celular! – gritou, e ela apareceu à porta. – Estava caído debaixo da cama... Acho que ficou sem bateria.
  - Ah, que ótimo, achei que ele estava perdido para sempre. – suspirou, aliviada – Jogue aí na minha bolsa, chegando em casa eu o carrego.
  Ao terminar de se arrumar, a garota dobrou todas as peças de roupa e as colocou organizadamente dentro da mala, enquanto a observava, deitado na cama, já pronto para sair. Desceram juntos, de mãos dadas, e encontraram o resto no grupo no meio do caminho para o restaurante do hotel. Becca e Bob não estavam com eles.
  - Eles foram os últimos a deixar o bar, voltaram bem mais tarde que todos nós. – explicou uma das mulheres, Beth, com um sorriso malicioso – Provavelmente se divertiram demais ontem à noite, se é que vocês me entendem, e ainda estão dormindo.
   não discutiu; Deus sabia o quanto ele tinha se divertido.
  Mesmo com a ausência do casal organizador, o almoço seguiu como o planejado. A refeição foi servida ao meio dia em ponto, e eles comeram em meio a conversas animadas e brincadeiras. Logo após a sobremesa, reuniram-se na entrada do hotel para uma foto oficial do grupo. e se despediram dos antigos/novos amigos com abraços apertados e promessas de uma nova visita em breve, e o rapaz voltou ao quarto para buscar as malas enquanto sua esposa de mentira esperava pelo táxi.
  Chegaram ao aeroporto cerca de dez minutos antes do esperado, graças ao taxista e sua assustadora habilidade de encontrar atalhos. E agora que estavam sozinhos, finalmente pensando sobre os acontecimentos da noite anterior, a espera pelo avião parecia interminável. não sabia o que dizer, mas ao mesmo tempo queria que tocasse no assunto, pois eles não podiam simplesmente fingir que nada tinha acontecido. Não se quisessem que as coisas voltassem ao normal, e ela tinha um palpite de que nem assim isso aconteceria.

  A volta para casa foi horrível. estava sendo extremamente cortês, carregando as malas e andando ao lado da garota, mas eles gastaram boa parte das três horas de voo com cuidadosos esforços para evitar qualquer tipo de contato físico. , com a testa apoiada no vidro, olhava as nuvens pela janela, pensando em como iniciar a conversa, já que pelo visto não o faria. Este, por sua vez, de olhos fechados e com fones de ouvido, recapitulava tudo o que tinha acontecido naquele fim de semana: tinham se divertido, visitado vários lugares fantásticos, tirado inúmeras fotos, rido, brincado. E, é claro, o sexo incrível.
  Agora estavam ali, evitando até mesmo tocar um o outro.
  Por volta das cinco da tarde, descendo do táxi em frente ao prédio onde ele e moravam, chegou à conclusão de que o desconforto que sentia era na verdade culpa. Não por ter fingido ser outra pessoa, ou ter aproveitado o fim de semana na companhia da vizinha, muito menos por ter dormido com ela, mesmo com todas as complicações que aquilo provavelmente lhe causaria. Sentia-se culpado porque fizera aquilo tudo sem saber das tentativas de Dylan de entrar em contato com ela. O conhecimento daquilo seria determinante para todos os eventos do fim de semana, especialmente a noite de sábado, e se sentia péssimo por tê-la enganado; afinal, o fato de a garota não saber que Dylan tentara falar com ela não a fazia menos casada com ele. E ela mereceria saber, era seu direito decidir por si mesma se queria falar com ele ou não, se queria tentar outra vez ou se aquele era mesmo o fim do casamento. Tentara dizer a si mesmo que estava fazendo aquilo por ela, mas a verdade é que não queria Dylan de volta à vida da garota, não apenas porque ele era um idiota, mas porque sua presença ameaçava o espaço no dia-a-dia dela que levara muito tempo para conquistar. Aquilo era essencialmente egoísta, e o fazia se sentir duplamente mal, pois parte da culpa só existia porque ele sabia que seria descoberto assim que ligasse o celular. Como não podia fazer nada a respeito daquilo, decidiu que seria melhor contar logo a verdade, antes que ela ficasse sabendo por outra pessoa ou eventualmente descobrisse sozinha.
  Assim, quando a garota colocou a chave na fechadura, ele segurou seu braço. ergueu os olhos, e ele rapidamente afastou a mão, colocando-a no bolso.
  - Eu, hm, posso falar com você?
  - Oh, claro. – ela deu um sorriso sem graça, e abriu a porta – Desculpe pela bagunça, eu... – parou a frase na metade ao ver Dylan sentado no sofá, segurando o controle da televisão.
  Mesmo tendo se passado um mês desde que estivera naquele apartamento pela última vez, ele ainda parecia em casa ali. Os cabelos estavam um pouco mais curtos, e ele deixara a barba crescer, mas fora isso era o mesmo Dylan que lhe deixara um bilhete apaixonado num dia e um de despedida no outro. queria soca-lo e abraça-lo ao mesmo tempo, por isso permaneceu parada à porta, olhando-o sem dizer nada.
  - Onde, diabos, você estava? – ele perguntou.
  A garota pareceu atordoada.
  - Onde... O quê?
  - Eu não viria até aqui sem falar com você primeiro, mas você não atendeu minhas ligações, não respondeu minhas mensagens, e depois desligou o celular. – o rapaz desligou a TV, e se levantou – Tive que tomar medidas drásticas. Por que me ignorou o fim de semana inteiro, querida?
   deu um passo adiante, parando ao lado de , e cruzou os braços, sério.
  - O que você está fazendo aqui, otário?
  Dylan devolveu o olhar.
  - O que você está fazendo aqui, otário?
  O músico ameaçou dar mais um passo, mas colocou uma mão em seu peito, mantendo-o no lugar.
  - Calem a boca, os dois! – olhou de um para o outro – Do que você está falando, Dylan? Você sumiu por um mês, não retornou nenhuma das minhas ligações ou mensagens ou deu qualquer sinal de vida! Você que vem me ignorando esse tempo todo, você que foi embora!
  - Eu estou te ligando desde Sexta à noite para resolvermos essa situação! – Dylan exclamou – Foi tudo uma confusão, uma fase horrível que já passou. Eu amo você, querida. Eu sinto a sua falta, e quero que as coisas voltem a ser como antes.
  A garota mordeu o lábio, em dúvida.
  - Você quer?
   se mexeu, fazendo-a aplicar um pouco mais de força no braço que ainda o barrava na altura do peito.
  - . – o músico chamou – Uma fase ruim? Uma confusão? – deu uma risada – Não, espere, foi um mal entendido, certo? Ele não pretendia realmente ficar uma porra de um mês inteiro fora! – apontou para o advogado – Tenho certeza que você tem uma ótima explicação para isso, Walters.
  - Eu tenho a verdade, – Dylan respondeu – e já a teria ouvido, não fosse o surto de rebeldia possivelmente encorajado por você que a induziu a ignorar todas as drogas das minhas ligações!
  Ela o olhou, furiosa.
  - Surto de rebeldia? Eu nem recebi ligação ou mensagem alguma! Meu celular ficou largado debaixo da cama do hotel o fim de semana inteiro, o achou hoje de manhã e ele estava sem... Espere aí. – com a mão ainda apoiada no peito do rapaz, sentiu-o se encolher um pouco. Lentamente virou o pescoço na direção do vizinho – Sobre o que você queria falar comigo? – o rapaz não respondeu, e ela o agarrou pela gola da camisa – ?
  - ...
  - Oh meu Deus. – ela o largou, cobrindo o rosto com as mãos – Vá embora, , acho que não precisamos mais conversar.
  - Calma, , eu juro que posso exp...
  Antes que o rapaz pudesse terminar a frase, ela o empurrou no peito outra vez, fazendo-o dar um passo atrás, e então fechou a porta, quase o acertando no nariz.
  Do lado de fora, encostou a testa na porta e fechou os olhos, pensando em como tudo começara bem e terminara tão incrivelmente mal. Deveria ter contado a verdade muito antes. Bem, não. Não deveria ter mentido, em primeiro lugar. Escondera o celular da garota para não ter mais de dividi-la com Dylan, e agora não tinha parte alguma dela, então o plano se mostrara idiota e bastante ineficaz. Ficar parado à porta vizinha, contudo, humilhando-se gratuitamente para ninguém, não consertaria as coisas. Assim, ele decidiu dar a um pouco de espaço e tempo, antes de se humilhar pessoalmente e com mais vontade assim que surgisse a oportunidade. O músico então juntou suas coisas, e foi ao próprio apartamento, do outro lado do corredor. Tinha um pedido de desculpas a preparar.

  A tal oportunidade não surgiu, e por um bom tempo não viu ou teve notícias da vizinha. Agora que Dylan estava de volta, ele não queria correr o risco de ir até o apartamento em frente e ser recebido pelo advogado; assim, a única coisa que pôde fazer antes de sair em turnê foi deixar à porta dela um pequeno vaso com uma única tulipa Black Horse e um cartão. Teve de fazer um certo esforço e precisou de ajuda dos companheiros de banda, mas tentou não ligar ou mandar mensagens para a garota nos primeiros dias de turnê na Europa. Queria dar o tempo que achasse necessário para entender todos os motivos que o levaram a fazer o que fizera, e queria também ele mesmo entender esses mesmos motivos. Os dias passaram, e foi ficando cada vez mais difícil de telefonar, de modo que a primeira vez que falou com a garota em mais de um mês foi ao encontra-la em frente a seu apartamento, logo que saiu do elevador. Ela estava sentada no chão, de pernas cruzadas, e tinha um pequeno aquário com um peixe dourado no colo.
  - Você não me ligou nenhuma vez. – disse, sem se levantar.
  - Não sabia o que dizer. – ele respondeu, colocando a mochila encostada na parede ao lado dela, e enfiou as mãos nos bolsos – Mas eu ia passar no seu apartamento assim que largasse minhas coisas em casa.
  Ela se levantou.
  - Não, não ia.
  - Tem razão. – assentiu – Quando voltamos do Oregon, e tudo aquilo aconteceu, você me disse que não queria falar comigo. Imaginei que fosse entrar em contato quando o quisesse, – fez um gesto vago na direção dela – e aqui está você.
   abriu espaço, e ele enfiou a chave na fechadura, abrindo a porta e indicando para que ela entrasse. A garota parou no meio da sala, e colocou a pequena redoma de vidro sobre a mesa de centro, mas não se sentou no sofá. , por sua vez, levou a mochila até o quarto, tirou os sapatos e o casaco, e voltou, parando de frente para ela. Indicou o aquário com a cabeça.
  - Esse é o Trevor?
  - Dylan foi embora.
  Agora aquela era uma boa surpresa. O músico tentou não parecer animado demais quando assentiu.
  - Ele pediu o divórcio?
  - Eu pedi.
   ergueu as sobrancelhas.
  - Você?
  - Dylan não estava satisfeito com a minha promoção na empresa. Segundo ele, eu o forcei a sair porque nunca parava em casa, e não tinha mais tempo para a família. – ela rolou os olhos – Ele me deu vários motivos idiotas que supostamente explicavam sua ausência, e se ofereceu para voltar para casa, desde que eu deixasse meu cargo de sócia sênior na Gibson Dunn e fosse trabalhar para ele naquela filial idiota da Fidal. Eu vi isso como um grande e gordo selo de propriedade, e o mandei se ferrar.
  O rapaz, que continuava olhando o aquário, abriu um sorrisinho.
  - Pensei que o peixe fosse dele.
  - Abandono de lar. – , explicou, colocando as mãos na cintura – Resolvi mostrar a ele porque eu sou uma das principais advogadas da melhor empresa dessa cidade, e arranquei-lhe até as calças. Praticamente tudo o que era nosso, incluindo o peixe, agora é exclusivamente meu.
   deu uma risada.
  - Eu poderia dizer que sinto muito pelo seu divórcio, mas nós dois sabemos que não é verdade, e eu não quero que você pense que eu desenvolvi uma inclinação a mentir para você.
  - Por que você escondeu meu telefone celular?
  O rapaz coçou a nuca. Tivera mais de um mês para pensar no assunto, e estava em acordo consigo mesmo a respeito de suas motivações. Não que não fosse óbvio, de qualquer forma, mas não sabia se era o que a garota queria ouvir.
  - Você estava gostando de estar em Astoria, eu não queria que ficasse chateada.
  Ela o olhou, séria.
  - Pensei que você tinha dito que iria mais mentir para mim.
  - Eu não estou! Esse é um dos motivos.
  - Não é o principal.
  O rapaz ergueu as mãos em frustração.
  - Se você não acredita que você era minha principal motivação, todos os outros motivos serão insuficientes, principalmente porque a sua felicidade está diretamente relacionada à minha, e eu gostei demais daquele fim de semana. Não só aquela noite que, aliás, você até hoje finge que não aconteceu, mas o fim de semana inteiro. E eu esperava que se conseguisse ganhar um pouco mais de tempo para o Plano B, – apontou para si mesmo – você veria que o seu Plano A é na verdade uma droga, porque ele é, , é o pior Plano A de todos os Planos A da história e você sabe disso, e é por isso que eu escondi o seu celular, porque o Dylan é um idiota e eu acho que você deveria ficar comigo e não com ele. Pronto, era isso o que você queria ouvir?
   falou por bons minutos sem pausa para respirar, gesticulando e fazendo caretas. esperou que ele se calasse e retomasse o fôlego, antes de puxa-lo pela gola da camiseta.
  - Era exatamente o que eu queria ouvir. – disse, subindo na ponta dos pés para lhe beijar os lábios.
  Eles se beijaram por um tempo, até o rapaz finalmente segura-la pelos ombros, afastando-a delicadamente, com as sobrancelhas erguidas e um sorrisinho de lado.
  - Então eu continuo sendo seu Plano B?
  - Bem... – passou os braços pelo pescoço do rapaz – Há uma vaga para Plano A, se você estiver interessado. O último ocupante fez uma bagunça e tanto, mas acho que algumas melhorias podem ser feitas para seu sucessor.
  - Eu posso promover algumas melhorias... – a puxou para perto – Pra começar, você está usando roupas demais.
  - Isso tem uma solução rápida. – ela respondeu, dando um passo atrás e tirando a camiseta.
  - É um bom começo. – o rapaz disse, enquanto a ajudava a tirar o resto. – Sabe, acho que vou gostar desse negócio de Plano B que vira A...
  - Uhum..... – respondeu, com os lábios colados nos dele.
  - Mas você ainda vai lavar a minha roupa e cozinhar para mim por um mês.
  A garota recuou, com a testa franzida.
  - O quê?
  - Trato é trato. – , sorriu – Ah, e o peixe é todo seu.



Comentários da autora


Se você conseguiu ler até o final, parabéns. Ficou enorme, eu sei HAHA enfim, o prazo pra mandar isso está estourando, então não vou ficar perdendo tempo aqui, beijos beijos!