Pictures And Some Memories

Escrito por Angel | Revisado por Angel

Tamanho da fonte: |


Parte do Amigo Secreto 2 - Equipe 2014

  Estava sentado em meu lugar de sempre no ônibus de minha banda. Estávamos em uma turnê pelos Estados Unidos e essa era o sonho de todos os rockstars. Costumava ser o meu também. Mas agora não parecia mais um sonho, estava mais para pesadelo. E tudo se resumia a uma garota. . Eu a havia deixado justo no melhor momento que estávamos vivendo. Demorei tanto a encontrar uma garota tão simplesmente perfeita para mim como ela, e parti poucas semanas depois. Não era justo. Mas esse era meu trabalho. Era da música que eu vivia e uma turnê era apenas ossos do ofício. Você pode me chamar de louco por estar achando que o meu maior sonho se tornara um pesadelo por causa de uma simples garota, mas o que eu podia fazer? Eu estava completa e irremediavelmente apaixonado por ela. E era tudo, menos simples. Ela era linda, inteligente, delicada, fofa e... bailarina. Era a minha bailarina. E olhando pela janela para aquela estrada solitária, cruzando os estados e estando há milhas de distância das pessoas que eu amava, eu só conseguia pensar que tudo que eu mais queria era estar ao lado dela. Abraçando-a apertado, acariciando seus cabelos longos e sentindo o cheiro de sua pele. Só queria estar com ela mais uma vez. Mas eu não podia e isso me matava. Eu teria muitos dias de viagem pela frente, e ver estava tão longe de acontecer que isso fazia meu coração partir-se em milhões de pedaços. O que me restava dela eram fotos e algumas lembranças, o que aparentemente me deixava ainda pior. Porque tudo que eu queria era reviver aqueles momentos. Não queria estar olhando para ela através de fotos, queria estar olhando em seus olhos. Não queria estar remoendo lembranças, queria estar ao lado dela construindo novas.
  Pisquei e então percebi que estava chorando. Isso não estava nos meus planos. Eu não queria chorar. Não podia chorar dentro daquele ônibus. Não enquanto meus amigos fanfarrões estivessem acordados, cantando e fazendo a maior festa. Não quando eles pudessem me ver. Eu sabia que não perdoaria se me visse chorando. Ou ele iria pegar no meu pé até o fim de nossas vidas ou faria o motorista parar no primeiro pub que aparecesse para bebermos. Eu preferia a segunda opção, embora beber não me animasse. Não mais. Eu não queria bebidas. Eu queria a .
  Enxuguei as lágrimas traiçoeiras que escaparam de meus olhos rapidamente, para que ninguém visse que eu estava chorando. Eu seria motivo de chacota pelo restante da turnê — e possivelmente da vida —, e isso era tudo que eu não precisava. Concentrei-me na música que tocava em meus fones, mas isso não era de grande ajuda, já que a música me lembrava dela.
  Olhei novamente para a janela, vendo aquele mar de casas e prédios passar como um borrão. Já que eu não podia estar com , a única coisa que eu poderia pedir era para que Deus cuidasse dela enquanto eu estivesse longe.   De repente, eu já não via mais as ruas escuras e frias, eu estava de volta ao dia que a conheci...

  Flashback on

  Eu estava ensaiando com os meninos para um show muitíssimo esperado por nós havia anos. Tocaríamos no melhor e mais conhecido pub da cidade. A coisa seria grande e não poderíamos ser menos que perfeitos. Muitas gravadoras mandavam representantes para ficarem de olho nos possíveis novos talentos. E aquele pub era especificamente muito bem frequentando por esses representantes. Só pessoas de alta categoria tocavam lá e, para uma banda iniciante como a minha, era uma chance imperdível, uma oportunidade perfeita. Desde que tivemos a ideia de montar a The Maine, era nosso sonho coletivo tocar no Angel’s. E desde que recebêramos a tão esperada proposta, tudo que fazíamos era ensaiar loucamente. Tínhamos exatamente duas semanas para nos prepararmos e, embora tivéssemos feito isso desde a aurora dos tempos, ainda parecia pouco tempo. Estávamos agitados e frenéticos na maior parte do tempo, gritando uns com os outros por causa de nosso tempo escasso. Mal comíamos e dormíamos. Tudo em função de fazer a melhor apresentação possível. Então estava fora de questão ir à festas ou o que quer que fosse. Por isso, meu coração quase saiu pela boca quando minha irmã me fez um convite.
  — , preciso falar com você. — disse enquanto jantávamos certa noite com nossos pais. Fazia alguns dias que eu não comia direito e nem parava para me sentar com minha família nas horas das refeições, mas meu pai tinha me obrigado a parar e respirar um pouco, fazer uma refeição saudável juntamente com a família.
  — Hum, fale. — Disse, tomando um gole de suco de laranja em seguida.
  — Eu quero que você vá à minha apresentação de balé. — Ela disse simplesmente.
  — E quando é? — Perguntei, desconfiado. Ela sempre queria que eu fosse a uma apresentação dela, e eu de fato ia sempre que estava disponível, mas aquele convite inesperado me deixou com a pulga atrás da orelha. conhecia muito bem minhas regras dos últimos dias. Eu não estava livre pela próxima semana.
  — Sexta-feira à noite. — Ela disse, terminando de comer sua comida e largando os talheres. Sabia que esse gesto queria dizer que ela sabia que teríamos uma discussão.
  — Você sabe que eu não posso.
  — E por que não?
  — Porque eu tenho um show muitíssimo importante na semana que vem. Show esse que a The Maine espera há anos. E nós precisamos ensaiar muito. Não estarei livre para nada até fazermos esse show.
  — Mas eu quero que você vá. É importante para mim.
  — Eu sei, mas nesse eu realmente não poderei ir. Fazer esse show também é importante para mim.
  — Mas você não tem que escolher entre mim e o show, não é no mesmo dia. Você só tem que sair daquele maldito porão por duas horas apenas.
  — Duas horas é tempo demais. Eu preciso mesmo ensaiar. — Terminei de tomar meu suco, me preparando para me levantar. Não tínhamos mais o que falar, e eu sairia dali antes que começássemos a discutir.
  — Sente-se, . — Meu pai disse com a voz autoritária. Quando ele usava aquele tom de voz era melhor não discutir e fazer logo o que ele mandava.
  Fiquei onde estava esperando que ele dissesse o que queria. Ele me encarou por um tempo e depois voltou sua atenção à expressão de expectativa de .
  — Você vai nessa apresentação da sua irmã. É inclusive você quem vai levá-la até lá.
  — O quê? Você não pode estar falando sério. — Falei incrédulo. Olhei para , que estava sorrindo triunfante. Então entendi por que ela abordara aquele assunto justamente no jantar. Eu queria matá-la naquele momento.
  — É claro que estou. — Meu pai falou sério. — Você está agindo como um maníaco ultimamente, e ir a esse espetáculo te fará bem.
  — Não me fará bem algum. — Resmunguei.
  — Você vai e fim de papo, . Eu não estou te pedindo nada, eu estou mandando.
  Suspirei, derrotado. As ordens de meu pai sempre tinham que ser cumpridas à risca. Mas mesmo assim tentei me escapar.
  — E se eu não quiser ir?
  — Você vai. — Ele disse confiante.
  — Mas, e se por acaso eu não aparecer em casa naquele dia?
  — O que quer que você esteja pensando em aprontar, não vai funcionar. Não comigo. Se você não for, eu irei cortar sua mesada. E sem ela você não é nada.
  — Mas pai...
  — Mas nada, . Você vai e pronto, não há mais o que discutir.
  — Você não entende que esse show é meu sonho? — Perguntei revoltado. Me arrependi de ter dito aquilo assim que vi a expressão no rosto do meu pai. Eu não fora justo. Meu pai sempre me apoiara em todos os meus projetos com a banda, e ficara muito feliz quando soube que iríamos nos apresentar no Angel’s. Não era justo falar com ele daquele jeito.
  — Você sabe muito bem que eu entendo. E meu Deus, , eu não estou te proibindo de fazer esse show. Nem é no mesmo dia! Só estou pedindo para acompanhar sua irmã.
  — Você e a mamãe não vão? — Perguntei, olhando para ambos.
  — É claro que vamos. Mas eu terei um compromisso e só poderei chegar em cima da hora. Não terei tempo para levar a , então vai ficar por sua conta dessa vez.
  — Que ótimo. — Revirei os olhos.
  — Deixa de ser chato, . Se você ficar assim toda vez que fizer um show importante, não quero mais ficar de perto de você. — disse.
  — Fica quieta, tampinha. Eu sempre fui às suas apresentações de balé, poderia me livrar dessa pelo menos uma vez, né?
  — Não. Eu quero que você vá. Será a última apresentação do ano, então é importante. — Ela deu de ombros, mas eu sabia que aquilo era, de fato, muito importante para ela.
  — Tudo bem. — Cedi porque sabia que não teria outra escolha mesmo.
  Ela sorriu e terminou de tomar seu suco. Respirei fundo, tentando pensar em como contaria aquilo para meus amigos e colegas de banda. O iria surtar...

  Era sexta-feira à noite e eu estava esperando minha adorável irmã mais nova terminar de se arrumar para sua tão esperada apresentação. Não entendia o porquê da demora, já que ela não tinha muito que escolher, uma vez que a roupa de balé fora escolhida pela professora de dança e o cabelo era o mesmo para todas aquelas garotas, aquele famoso coque que eu já estava enjoado de ver.   Fiquei pensando que eu poderia muito bem estar ensaiando loucamente ao invés de estar ali esperando por ela, mas ao lembrar-me do quanto estava feliz com tudo isso, eu me sentia melhor. E meus amigos tinham entendido perfeitamente e aceitaram melhor do que eu jamais imaginara. Eles iriam sair para algum bar ou pub qualquer enquanto eu estivesse fora, o que era de se imaginar que eles estavam exaustos com aquela nossa rotina e iriam aproveitar o tempo para se divertir um pouco. Todos estavam mesmo precisando de uma folga.
  Quando finalmente desceu ao primeiro andar, percebi o quanto ela estava linda. E nervosa. Suas mãos tremiam muito e eu fui o caminho todo tentando distraí-la com minhas brincadeiras bobas.
  Quando chegamos ao teatro municipal, o lugar estava completamente cheio. Havia tantas pessoas por ali que mais parecia um show de rock do que uma apresentação de balé. Pelo jeito, não mentira quando disse que aquilo era realmente importante.
   precisava ir para o camarim se juntar às outras meninas, e me indicou o lugar que eu deveria me sentar. Por sorte fiquei na segunda fileira, o que me daria a chance de assistir ao espetáculo perfeitamente bem. Acomodei-me confortavelmente em minha poltrona, certo de que pegaria no sono nos primeiros cinco minutos da apresentação. me odiaria por isso, mas o que é que eu podia fazer se aquela música lenta despertava meus sentidos do sono?
  Segundos antes de a apresentação começar, meus pais chegaram, e minha mãe me mandou sentar corretamente. Como se isso importasse para mim... Se eu quisesse, poderia dormir sentado mesmo.
  Quando o espetáculo começou, as luzes foram apagadas, deixando a plateia sob a escuridão do teatro. As cortinas do palco se abriram e uma música lenta, porém desconhecida para mim, começou a tocar. Aquela música era diferente das que costumavam ser tocadas nas apresentações de , o que me deixou levemente curioso, muito embora os acordes fossem tão calmamente tocados que eu já estava ficando sonolento.
  Mas assim que um pequeno facho de luz se acendeu sobre o palco, meu sono desapareceu. Dançando sozinha para aquela multidão, estava a garota mais linda que eu já vira em toda minha vida. Seus movimentos eram suaves e graciosos, como realmente deveriam ser de todas as bailarinas. Era a primeira vez que ela se apresentava, eu não tinha dúvidas. Eu tinha certeza de que a teria notado se ela tivesse participado de algum dos espetáculos que eu assistira. Era impossível não notá-la.
  Prestei atenção ao espetáculo como nunca antes, atento a cada movimento daquela garota. Eu estava intrigado com seu jeito tão leve, doce e delicado. Queria saber seu nome, do que ela gostava, de onde ela era. Queria saber tudo sobre ela. E ao mesmo tempo em que eu queria que a apresentação acabasse para poder ir falar com ela, eu também queria que nunca acabasse para que eu pudesse vê-la dançar para sempre.
   lançava olhares furtivos em minha direção sempre que lhe era permitido, e pela expressão em seu rosto, eu sabia que ela notou que eu estava completamente embasbacado pela sua colega. E então entendi. Era por isso que ela queria tanto que eu viesse ao seu espetáculo. Porque ela queria que eu visse aquela garota. Quais eram suas verdadeiras intenções, eu só saberia quando falasse com ela no fim da noite.
  Os minutos se arrastaram e então o espetáculo acabou. Aplaudi fervorosamente, mais para aquela perfeita estranha do que para minha irmã propriamente dita.   Nem esperei muito para sair de onde eu estava e ir atrás da garota, que sumiu de minha vista muito rapidamente. Fui advertido por meus pais, que no mínimo, achavam que eu estava louco para ir para casa. E pela primeira vez na vida, eles estavam errados sobre isso.
  Corri em direção ao camarim, que também era muito conhecido por mim, mas o amontoado de pessoas ficava cada vez maior e eu não conseguia localizar nem a garota misteriosa e nem minha adorável irmã. Empurrei as pessoas, recebendo algumas reclamações e resmungos, mas por fim, consegui chegar ao meu destino. Ninguém se surpreendeu ao me ver ali, até por que, era muito comum eu aparecer por ali depois das apresentações para esperar por .
  Procurei a garota misteriosa entre aquele monte de bailarinas, mas não a encontrei. Nem mesmo estava ali. Frustrado, sentei-me em uma poltrona que havia por ali, e fiquei esperando uma das duas aparecer. Os minutos se passaram e nem sinal de ambas. O camarim aos poucos foi se esvaziando, até que só uma cabine de vestiário estava ocupada. Só podia ser . Mas se era , onde estava a outra garota? Será que ela passara despercebida por mim? Duvidava que fosse isso. Eu não perdera nenhum movimento desde que entrara ali, ela devia ter ido direto para casa depois de sair do palco. Que ótimo. Mas pelo menos eu perguntaria a sobre ela.
  Fui até a única porta fechada e bati uma vez. Nenhuma resposta. Bati de novo e novamente ninguém respondeu, mas eu podia ouvir um farfalhar vir ali de dentro.
  — , eu não estou com paciência para as suas brincadeiras. Ande, saia daí. — Falei e minutos se passaram sem que eu recebesse alguma resposta. — Anda logo, menina. Preciso te perguntar uma coisa.
  — Que coisa? — Sua voz soou alguns segundos depois.
  — Por que não me respondeu antes? — Ela ficou em silêncio de novo. Suspirei. — Quero saber quem era aquela garota nova.
  — Por quê? — Ouvi uma risadinha.
  — Porque sim. É a primeira vez dela aqui, não é?
  — Na verdade, não. Quer dizer, ela faz parte da minha companhia há muito tempo e já se apresentou nas vezes que você não veio.
  — E por que ela decidiu se apresentar hoje?
  — Porque eu pedi.
  — E você tem esse poder todo sobre ela? — A ouvi rir de novo.
  — Não. Ela sempre ficava nos bastidores coordenando nossa equipe. Ela era assistente da minha professora, mas a partir do ano que vem, será ela quem irá comandar tudo.
  — Bom, talento ela tem para dar e vender, né? — Falei e riu de novo. — Quer parar de rir? Aliás, por que é que você não saiu daí ainda?
  — Com pressa?
  — Claro. Quero ir atrás da garota, embora eu ache que não vá encontrá-la. — Suspirei. — Como é o nome dela, aliás?
  — .
  — Belo nome.
  — Não tanto quanto ela, imagino.
  — Com certeza. — Falei soando mais encantado do que eu gostaria, e ela riu. — Pare de rir e saia logo daí.
  Ouvi novamente sua risadinha, dessa vez mais baixa. Virei de costas para a porta, esperando que ela decidisse sair dali de uma vez. Quando a aporta foi aberta, nem mesmo me virei em sua direção, apenas a peguei pela mão, puxando-a para fora do camarim. A ausência de reclamações me deixou desconfiado e então me virei para trás. Para minha surpresa — e felicidade, devo acrescentar —, não era quem estava ali, mas a garota misteriosa, .
  — Mas o quê? Eu... Como...
  — Ideia da sua irmã. — Ela disse, rindo. Sua risada era tão encantadora quanto ela.
  — Hum, bem, me desculpe. Pensei que fosse a .
  — Tudo bem.
  — Mas, não era ela que estava lá? — Apontei para o camarim atrás dela.
  — Sim, mas eu estava lá também. Sempre nos trocamos juntas quando eu preciso me apresentar.
  Então se ela estivera lá dentro o tempo todo, me ouvira falar dela. Senti meu rosto arder de constrangimento. Tinha certeza que estava parecendo um tomate.
  — Está tudo bem? — Ela perguntou.
  — Você ouviu o que eu disse.
  — Sim. — Ela riu. — Não se preocupe querido, você também é encantador. — Ela apertou minhas bochechas.
  — Como você... . — Ri e ela assentiu. — Aproveitando que a armou tudo, podemos ir para outro lugar então? — Sorri inocentemente e ela assentiu, pegando minha mão.
  De onde aquela garota fantástica havia saído?

  Flashback off

  Voltei para o presente com um sorriso nos lábios. tinha sido tão encantadora e tão cheia de atitude naquele nosso primeiro encontro que me recusava a acreditar que ela pudesse ser real. Mas ela era. Real, encantadora, linda, perfeita. Minha delicada e doce bailarina...
  Depois daquele dia, nós nunca mais nos desgrudamos. Os meses que se seguiram foram os melhores de toda minha vida. e eu sempre saíamos juntos e era como se fôssemos namorados, muito embora eu não tivesse feito o pedido formal. Não achei que precisasse, mas então a The Maine conseguiu seu destaque, gravação de CD, shows e apresentações, uma turnê. Meu tempo com ela tornou-se escasso, e agora eu desejava poder ter aproveitado mais nossos momentos.   Peguei o álbum de fotos que eu agora carregava comigo, e comecei a folheá-lo. Partia meu coração ver a tão sorridente em todas aquelas fotos, ver o quanto fomos felizes durante aqueles breves meses. Tudo que eu tinha dela estava ali. Novamente desejei poder estar com ela, nunca tê-la deixado. Mas então outra lembrança invadiu meus pensamentos...

  Flashback on

  Estava com em uma Starbucks da rua da minha casa, fazendo planos para uma futura viagem que faríamos para Nova York no próximo verão, quando recebi uma ligação de , dizendo que tinha algo importante para dizer mas que não podia ser por telefone. Fiquei nervoso e as piores coisas passavam pela minha cabeça naquele instante.
  Arrastei comigo, como sempre. Ela ia comigo para todos os lugares possíveis. Sempre me acompanhava com um sorriso no rosto, e daquela vez não era diferente. Pensei que minha tensão e nervosismo pudessem deixá-la nervosa também, mas ela parecia perfeitamente calma e feliz. Quase como se soubesse o que queria me dizer.
  — Você sabe o que o quer? — Perguntei e ela declarou o óbvio.
  — Sim. Quer dizer, tenho uma leve impressão de que sei.
  — E o que é?
  — Não posso contar. É surpresa. — Ela riu e eu fiz uma careta.
  — Não é justo eu ser o único a não saber o que é.
  — Tenho certeza de que você não é o único. Só o sabe por enquanto.   Não gostei de saber disso, e tentava dizer a mim mesmo que não tinha motivos para sentir ciúmes de e .
  Cheguei à minha casa em tempo recorde, encontrando e os outros garotos da banda espalhados pelos sofás da sala. Eles pareciam todos prestes a ter uma síncope, menos , é claro. Os outros suspiraram de alívio assim que me viram, então imaginei que só estava esperando por mim para falar o que quer que fosse.
  — E então? — Perguntei.
  — Afobado como sempre. — riu.
  — Acho que hoje não sou o único. — Apontei para meus colegas de banda que se encontravam tão frenéticos quanto eu.
  — Certo. — disse, parecendo se divertir com alguma coisa. — Bom, o que tenho para dizer é o seguinte: a The Maine vai sair em uma turnê pelos Estados Unidos na semana que vem.
  Ele nem bem terminou a frase e os gritos começaram. Nos abraçávamos e gritávamos de felicidade. O sonho de nossas vidas estava se realizando e mal podíamos acreditar.
  Foi então que me lembrei de . Ela nos observava de um canto, um sorriso em seus lábios perfeitos.
  — Tem dedo seu nisso? — Perguntei assim que cheguei perto dela.
  — Não necessariamente meu. — Ela riu. — Só dei umas dicas para meu pai.
  O pai de tinha uma empresa de organização de eventos, conhecida no estado todo por conseguir promover bandas que estavam iniciando suas carreiras.
  — Por que fez isso? — Perguntei.
  — Bom, não era seu sonho e dos meninos? Eu só dei uma forcinha. — Ela deu um sorriso tão radiante que por um momento esqueci-me de minha preocupação. — Por quê? Não gostou?
  — É claro que eu gostei.
  — Então?
  — É que essa turnê significa que vamos ficar separados por alguns meses.
  — Eu sei, mas é necessário. Esse é seu sonho, sua carreira que vai deslanchar a partir de agora. É uma oportunidade perfeita.
  — Eu sei, mas...
  — Mas nada, . Você irá e dará seu melhor. Lembre-se que é o seu maior sonho.
  — Mas e você? E nós, como ficamos?
  — Vou esperar por você.
  — Promete?
  — Prometo.
  E então ela beijara meus lábios suave e intensamente, como se quisesse selar sua promessa.

  Flashback off

   prometera esperar por mim, mas por que isso não me deixava tranquilo? Eu morria de medo de que ela conhecesse e se apaixonasse por outra pessoa enquanto eu estivesse fora. Tinha medo que ela se cansasse de falar comigo apenas pela internet ou pelo celular. Tinha medo de que ela achasse que ficar com um músico não era uma boa ideia. Tinha medo de que ela desistisse de mim.   Eu sabia que ela podia estar passando pelo mesmo dilema que eu nesse exato momento. Mas se ela pudesse estar dentro de minha mente agora, saberia que eu não teria olhos para outra garota pelo resto dos meus dias. Era ela quem eu... Amava.
  Meus devaneios foram interrompidos por , que se sentara ao meu lado animado, dizendo que estávamos muito próximos do local do show. Demonstrei o máximo de empolgação que consegui, mas isso não o enganou.
  — Pensando na ? — Ele perguntou.
  — O que você acha? — Suspirei e ele assentiu.
  — Você provavelmente já sabe disso, mas vou falar mesmo assim. A ama você, . Ela prometeu te esperar. Sei que é difícil ficar longe de quem a gente ama, mas você tem que aprender a conciliar as coisas. Quando você voltar, ela estará lá. Se você a ama, precisa confiar nela.
  — Você está certo, embora você não possa entender realmente o que é isso se você não ama ninguém. — Eu ri.
  — Assim você me ofende.
  — Você entendeu o que eu quis dizer.
  — Eu sei. Mas eu sinto falta da minha família, o que é praticamente a mesma coisa. E se ter uma garota na minha vida significa que vou ficar chorão que nem você, então eu prefiro ficar desse jeito mesmo. — Ele riu e eu dei um soco em seu braço. sempre conseguia me animar.
  — Tudo bem, eu vou tentar parar de resmungar tanto.
  — É assim que se fala.
  Fizemos um high five e então o motorista nos informou que tínhamos chegado.

  Quando entramos no palco e cada um assumiu seu lugar, senti que estava sendo fixamente observado. É claro que eu estava sendo observado, havia milhares de pessoas na plateia acompanhando cada movimento nosso. Mas eu sentia um olhar em particular me encarando, como se quisesse chamar minha atenção. Procurei a origem daquele olhar, esperando que eu não estivesse ficando louco e paranoico. Foi então que eu a vi. . Ela estava ali em toda a sua perfeição. Pisquei algumas vezes, tentando me certificar de que não estava mesmo ficando louco. Mas ela continuava ali, e assim que nossos olhares se encontraram, ela sorriu. E então eu soube que tinha feito a escolha certa. era a pessoa que ficaria comigo até o fim da vida. Ela estava ali para me apoiar, para dizer que também sentia minha falta e estaria comigo onde quer que eu fosse.

Fim!



Comentários da autora


Bom, espero que você tenha gostado Mari, porque escrevi com muito carinho. <3 Eu me inspirei na letra de uma das minhas músicas preferidas, então essa short é muito especial pra mim. Espero que seja para você também. Queria aproveitar para te agradecer, porque você sempre está me dando toques quando faço algo errado, haha. Obrigada! <3