Pernas Fechadas

Escrito por Nicole | Revisado por Mel

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  A vida não era fácil. Nunca fora. E nós sempre fazemos questão de dificultar ainda mais.

  >Março de 2010

  Ainda era inverno em Londres, mas era possível identificar os primeiros traços do início da primavera.
  Eu estava feliz, verdadeiramente feliz. Faria um mês que eu estava com um rapaz, talvez o homem dos meus sonhos. Todos os dias eram divertidos quando estava do seu lado e, quando não estava, o dia conseguia ser vazio. Sim, eu era uma pessoa carente.
  Mark e eu nos conhecemos no aniversário de um amigo em comum. Tal amigo que não lembro muito bem e não era muito chegada. Tivemos um interesse mutuo um no outro e, bem, sorrisos aqui, troca de olhares ali, mão se tocando 'acidentalmente'... Antes do final da festa, ou, antes mesmo de sabermos os nomes um do outro, estávamos emaranhados nos lençóis de uma das camas daquele apartamento. Sim, eu não sou a pessoa mais difícil do mundo. Para falar a verdade, eu sou uma mulher bem fácil. Isso mesmo, desculpa desapontá-lo.
  Nossa história de amor começou naquele quarto que cheirava a incenso, suor e cerveja. Enquanto recuperávamos a respiração e acalmávamos nossos corações, eu perguntei seu nome e já falei o meu. Mark ficou quieto o resto do tempo e após estarmos novamente no nosso estado normal, ele avisou que precisava de um banho e levantou-se para ir ao banheiro. Enquanto estava lá, comecei a pensar em tudo o que havia acontecido.
  Eu havia acabado de terminar com um verdadeiro idiota e agora o destino colocava no meu caminho um Deus Grego - ótimo na cama - que estava terrívelmente apaixonado por mim. Quero dizer, era óbvio que eu havia o enlouquecido com minhas técnicas de sedução e meus sorrisos naturais. Mas ainda sim não achei que ele fosse se apaixonar tão rápido. Era possível ver o amor dele pela minha pessoa ao julgar pelas suas ações. Por exemplo, quando ele havia saído do banheiro e sem trocar palavra alguma comigo ou ao menos olhar-me começou a trocar-se de roupa; ou, quando ele se preparou para sair do quarto sem despedir-se ou pedir meu número, isso provava que ele era tímido. Eu amava homens tímidos. Quando ele estava pronto para abrir a porta e ir embora perguntei descaradamente se ele não queria meu número.
  - Ahn... Ah claro, seu número... - Ele respondeu sem graça e deu um sorrisinho ao terminar.
  Dei-lhe meu número e avisei que iria esperar ele me ligar. Meu dom era não ser tímida. No século XXI as mulheres precisam ser bem atiradas, eu seguia a regra à risca.
  Um dia.
  Dois dias.
  Três dias.
  Uma semana.
  Quinze dias.
  Mark não havia me ligado.
  Tudo bem, eu não desisto fácil. E eu tinha certeza que era pela timidez. Me amaldiçoei por não ter pedido seu número e fui dar o meu jeito.
  Menos de dois dias depois eu já tinha seu número e na mesma hora o liguei. Ele estranhou eu ter ligado e perguntou quem havia passado o número para mim. Mark era um fofo, aposto que queria agradecer. Respondi e após conversarmos um pouco, insisti para nos encontrarmos novamente. Mark resistiu, mas acabou cedendo. Tímido, educado e difícil, quem diria, huh?
  Nosso primeiro encontro não foi diferente da primeira vez que nos encontramos. E nem o segundo encontro foi diferente do primeiro. Sempre que nos encontrávamos íamos para um hotel, ou para casa dele. Mas apesar disso, eu sabia que ele aproveitava o momento que passávamos junto e, contato que eu estivesse com ele, não me importava o lugar ou o que fazíamos.
  Era o aniversário de um mês desde nosso primeiro encontro - no aniversário do meu amigo não tão conhecido. Eu iria surpreendê-lo. Eu havia tricotado um cachecol para dá-lo. Apesar de não ser boa o suficiente com trabalhos manuais, eu achava que aquele estava bom o suficiente. Não tinha a chave da casa dele - ainda. Eu sabia que se não fosse eu controlar a relação, ele já teria me dado a chave do apartamento e a do carro. Ele estava perdidamente apaixonado. O porteiro já me conhecia e por isso deixou que eu subisse sem precisar de autorização. Cheguei na frente de seu apartamento e toquei a campainha. Uma garota seminua atendeu a porta. Ela vestia apenas uma blusa masculina e eu não estava interessada no que estava na parte de baixo. Arqueei a sobrancelha e perguntei se Mark estava.
  - Quem gostaria? - Perguntou a mulher.
  - A namorada dele. - Eu me perguntava quem era ela.
  - Namorada? - Questionou com deboche. - Ele está no banho, vou chamá-lo.
  Era uma garota gentil.
  Bom, o que se sucedeu não é algo que me orgulha muito ou me lembra. Eu faço questão de esquecer coisas traumáticas, mas apesar disso, eu ainda tenho flashes daquele dia.
  Mark saiu do banho e questionou o que eu estava fazendo ali. Eu falei que era uma surpresa pelo nosso aniversário de um mês. O mesmo riu cínicamente e perguntou se eu entendia qual era a situação que estava acontecendo naquele lugar.
  - O que você quer dizer? - Arqueei uma sobrancelha tentando entender.
  - Basta olhar ao redor, . - Respondeu arqueando os braços e com o tom calmo. - Você acabou de encontrar uma mulher seminua na minha casa e eu estava no banho. Não lhe é familiar essa situação?
  - Seja claro.
  - Eu acabei de transar com ela, . Seja esperta!

  Após isso eu me lembro das lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Mark não estava apaixonado. Ele não era tímido.
  Oh não. Mark era um cafajeste. Ele tentou apenas uma transa sem compromisso, ele havia conseguido. Eu fui a ingênua. Como fui burra!
  Sai do apartamento de Mark. Mas não sem antes perceber que, ironicamente, o cheiro daquele lugar lembrava incenso, suor e cerveja.
  Eu não estava com raiva de Mark, apesar de que se o visse na rua talvez chutasse aquilo que ele tanto se orgulhava. Eu estava com raiva de mim mesma. Ele não era o primeiro que fazia aquilo comigo, mas era o primeiro que abrira meus olhos:
  - Você é ingênua, . Você criou uma relação e achou que eu estava apaixonado por você, e eu nem demonstrei interesse! Imagino o que não acontece com um homem quando ele lhe fala algumas palavras carinhosas.
  - Por que você continuou comigo, se não queria nada? - Perguntei querendo saber de toda a verdade. Eu precisava de um choque de realidade.
  - Você não se importa com o lugar e nunca pediu que eu fosse carinhoso, você estava satisfeita com qualquer coisa. - Maldito, era verdade. - Mas eu já havia cansado dessa relação de mentira e já queria me livrar de você a muito tempo.
  - Eu achei que fossemos compatíveis com nossos corpos! Você me disse isso! - Gritei desesperada. Tudo era mentira?
  - Eu menti! E nem foi difícil. - Falou com descaso enquanto se encostava à parede. - Para falar a verdade você nem era tão boa de cama assim.

  Espera um pouco...
  Eu não era boa de cama. Esse era o meu problema?
  Eu tive outros namorados e todos terminavam comigo sempre depois que transávamos - o que significava no primeiro encontro. Nenhum durava muito e, eu achava que o problema fossem eles. Ledo engano. O problema era eu? Por que eu não era boa de cama.
  Em março de 2010, quando Londres começava a dar os primeiros sinais da primavera, eu decidi. Eu não seria uma mulher fácil e nem uma mulher solteira. Juntaria o útil ao agradável: Eu iria me comprometer com a castidade e todo ano comemoraria meu aniversário de namoro com o celibato tardio.

  Março de 2011

  Um ano. UM ANO! Eu estava sozinha há um ano.

  Não era ruim, mas não era bom. Eu sou uma pessoa carente. Então eu sinto falta do calor humano. Mas sempre que me lembrava de tudo o que havia acontecido na minha vida quando eu ainda estava com a mente aberta para relacionamentos, a carência sumia e o orgulho de saber que eu estava a um ano sem chorar por homem algum, aquecia meu peito.
  Aquilo era felicidade.
  Todo mundo conhece a Lei de Murphy, certo? Começo a desconfiar que a minha vida fora criada baseada na mesma.
  Alguém já percebeu que TODO mundo faz aniversário em Março? É incrível. Sua mãe, seu primo, seu amigo, sua amiga, a amiga de uma amiga, uma pessoa que você acabou de conhecer. Todo mundo nasce em Março. É uma semana no mês para cada aniversário, o mês mais longo do ano, não é?
  Lá estava eu no aniversário de uma amiga. Amiga essa que conheci após o incidente com Mark. Todos na festa estavam comemorando o aniversário dela, e eu aproveitava para comemorar meu aniversário de castidade. Ninguém sabia dessa minha decisão, nem mesmo - a aniversariante. Eu tenho quase certeza que ela acha que sou lésbica. Quero dizer, desde que nos conhecemos nunca estive com ninguém, e vivo recusando encontros que ela me arranja. Se eu fosse ela, pensaria o mesmo. Mas era vergonhoso demais contar à ela a minha decisão. Era um alívio e a minha salvação, mas eu tinha vergonha até de pensar nisso.
  Eu sei o que está pensando: Oh Meu Deus, ela vai acabar sozinha por causa de uma desilusão amorosa!
  Mas não - apesar desse ter sido o plano inicial.
  Eu decidi me 'guardar' até achar o cara certo. Acontecia isso no século XIX, certo? Não conheço muitas pessoas que reclamaram por terem esperado pela pessoa certa. Não que eu conheça pessoas que estavam vivas no século XIX.
   era popular. A casa dela estava lotada de pessoas. Eu não sabia que era possível conhecer aquela quantidade de pessoas. Na verdade, eu não sabia que era possível conhecer aquela quantidade de homens! Naquele lugar abafado só tinham umas vinte mulheres e mais de trinta homens. Eu queria sair dali. Eu estava há um ano sem um homem e, agora ficar num lugar que cheirava a testosterona não era seguro. Eu tinha um objetivo a cumprir.
  - Espero que você se divirta na festa. - Foram as palavras de quando ela saiu do meu lado e foi se atracar com um homem. Jesus, Jesus. Aquele lugar era um bordel! Eu precisava achar a saída dali.

  Eu tentava passar pelas pessoas e procurava a saída. Era mais saudável comemorar meu aniversário na proteção do meu quarto assistindo alguma coisa nada romântica. Depois eu iria me desculpar com por sair sem nem ao menos me despedir.
  - Ouch.
  Oh droga. Alguém havia esbarrado em mim. Oh, olá chão.
  - Você está bem? - Olhei para cima de dei de cara com os olhos mais bonitos que já havia visto na minha vida. Olhos azuis. Olhos azuis masculinos. Se parar para pensar bem, talvez eles nem fossem tão bonitos, talvez fossem bem comuns, mas como eu estava no chão e estava a um ano de abstinência, tudo que é do sexo oposto é incrivelmente mais bonito - na minha atual situação... - Você está bem?
  - Hã? Estou, estou sim. Supimpa. - Supimpa? Quem fala supimpa hoje em dia? Mas com aqueles olhos me encarando com um ar tão preocupado, era impossível raciocinar naquela ocasião.
  Esqueça tudo o que eu falei sobre os olhos mais bonitos da minha vida. O sorriso que ele me deu depois de me ajudar a levantar consegue vencer até sorriso de propaganda de pasta de dentes. Tão perfeito.
  Agora que eu estava de pé era possível observar melhor suas feições. Ele era mais alto que eu, loiro e como já sabem com os olhos/sorriso mais lindos que havia visto.
  - Bem, acho que devo me apresentar... - Coçou sem graça a cabeça enquanto me encarava e esticava a mão. - Sou . Me desculpe mesmo. - Ele não parava de se desculpar.
  - Sou . Já disse que está tudo bem, . - Sorri naturalmente (umas das minhas técnicas de sedução).
  Nesse momento senti um baque na minha cabeça. Encarei o produto - . Sirene vermelha. A aparência dele era perfeita demais. Aquilo era problema. Eu precisava me afastar.
  - Bem, . Foi um prazer, mesmo. - Comentei apressadamente, acenando enquanto voltava a me direcionar para a saída.
  Pude ver um último olhar confuso naquele rosto divino. É, mi amigo, aposto que nenhuma mulher te rejeitou até hoje, né? Bom, ninguém seria tão louca quanto eu para fazer tal proeza.
  Felizmente eu estava vacinada contra rapazes bonitos com olhos e sorrisos conquistadores.

  Luz solar. Barulho dos carros. Celular tocando. Que horas eram? Seis da manhã? Não era possível ter uma noite de sono. Oh, não mesmo.
  Levantei xingando a décima geração de Adam Levine, por me acordar com aquela voz divina. Ao vivo ele não me acordava, né? Olhei o relógio percebendo que não era exatamente seis da matina. Eram quase duas horas da tarde, já estava mesmo na hora de acordar; era isso o que acontecia depois de se entupir de açúcar e ficar hiperativa até às quatro e meia da manhã. Atendi o celular e percebi que era um número desconhecido.
  - ?
  Sempre que eu via um número desconhecido, eu achava que era o começo de um romance digital. Que a pessoa da minha vida havia me ligado por engano e a partir daquele momento nós iriamos nos apaixonar perdidamente e depois contar aos nossos filhos como foi o nosso encontro. Bom, mas isso foi quando eu tinha um corpo de vinte e idade mental de quinze anos. Agora eu tinha um corpo de vinte dois com uma idade mental crescendo gradualmente. Eu não acreditava mas em um romance digital do tipo.
  - Quem gostaria? - Perguntei enquanto caminhava em direção à cozinha. Eu estava morta de fome.
  - ... - Arregalei os olhos e parei em frente da mesa. - Você se lembra de mim? O cara de ontem. Bem, o da festa. - Sorri um pouco. Era impressão minha ou ele estava nervoso? - Eu pedi seu número para a e, bem, estou te ligando.
  - Ah sim, - fingi que tinha acabado de me lembrar - da festa. No que posso ser útil? - Dei uma risada e me sentei enquanto começávamos a conversar.

  Janeiro de 2012

  Eu estava enlouquecendo literalmente. Iria fazer dois anos que eu estava sozinha. Mas era por um motivo nobre. Tinha que ser.
  Eu estava com os nervos à flor da pele. Não aguentava mais, podemos dizer que estava no meu limite. Eu estava carente! Estava precisando de algum contato físico.
  Eu havia criado uma grande amizade com desde o telefonema de Março do ano passado. Ele não se desgrudava e aonde quer que eu fosse ele estava junto. falava que aquilo era um sinal do destino, já que costumava estar sempre com uma garota diferente, mas desde que começamos a conversar ela nunca mais havia o visto com outra garota que não fosse eu.
  Era difícil acreditar que era do tipo pega-geral, já que comigo ele sempre foi um cavaleiro e demonstrava que queria estar com uma menina apenas. Mas, julgando pela aparência e a minha primeira impressão, ele definitivamente parecia do tipo que ficava com uma garota diferente no café da manhã, no almoço e na janta.
  Era sábado e estávamos na casa do namorado de , Dom. Ele estava comemorando só Deus sabe o que. Tudo relacionado à precisa ter festa, não precisava de motivo. Eu não era muito fã de festas, mas aquela estava completamente impossível. Minha tolerância à álcool nunca fora alta, por isso eu evitava beber, mas com o coquetel que tinha naquele lugar era impossível parar no segundo copo. Além de que eu estava com uma dor de cabeça horrível - culpa da falta de uso do óculo. Miopia era um lixo.
  A lei de Murphy não me deixava em paz, nem um segundo da minha vida. Pouca tolerância a álcool e dor de cabeça dos infernos, já era uma coisa para me deixar preocupada. Agora juntando minha inevitável carência, era uma junção perigosa. E foi após pensar nisso que eu decidi me retirar daquele lugar com tanta luminosidade, álcool e homens sem camisa. Subi as escadas e me deitei para ver se passava pelo menos um dos meus problemas - apesar de saber que a minha necessidade de uma pessoa ao meu lado não passaria só por ficar deitada na cama.
  Aquele quarto era o meu forte, ele era perfeito. Estava tudo escuro e o barulho do andar de baixo não chegava tão alto no quarto, parecia até uma simples melodia, quase Mozart. Fechei meus olhos e esperei o sono vir.

  Sonhos. Pelo menos neles eu podia cuidar da minha carência.
  Eu era uma princesa. Estava em um castelo sob um terrível feitiço e por isso eu recebia um mau tratamento de todas as outras princesas que estavam ao meu redor. Qual era o meu feitiço? Bem, nenhum príncipe queria se casar comigo. Todas as outras princesas já estavam comprometidas e, eu sabia que se demorasse muito eu acabaria sozinha.
  Eu estava em um baile onde se comemorava o casamento de uma princesa qualquer com um príncipe extremamente gato. Todos dançavam e tinham seus pares, eu sabia que estava em um lugar que não me pertencia e, mesmo sabendo que era horrível, eu invejava aquelas que estavam na companhia de um príncipe. Saí daquele lugar que me despertava um sentimento tão ruim e fui em direção ao jardim. Era uma noite bonita, por isso me sentei em um banco qualquer daquele lugar e encostei minha cabeça no encosto enquanto fechava meus olhos. Eu tinha dor de cabeça até em sonhos. Senti uma leve pressão em meus lábios e uma aceleração familiar em meu coração. Suspirei. Eu conhecia aquele perfume, era de . Sorri durante do beijo, ele beijava muito bem. Ainda com os olhos fechados, me agarrei em seus ombros e busquei por mais contato. Era um sonho, eu tinha o direito de acabar com minha carência pelo menos daquele jeito e, ainda mais com . Aquele por quem eu estava atraída desde a primeira vez que vi.
  Senti um peso sobre meu corpo e percebi que estava sem ar. Eu precisava de ar durante um sonho? Bem, nunca havia tido um sonho tão intenso como aquele. Antes que morresse sufocada, abri meus olhos e percebi que não havia sido totalmente um sonho. estava em cima de mim e me olhava intensamente. Arqueei uma sobrancelha tentando recuperar meus sentidos e meu juízo. Mas antes que pudesse, senti ele me beijando novamente. Eu sei que deveria recusar, mas era impossível. Eu podia sentir meu coração se aquecendo com o carinho que proporcionava durante o beijo.
  O beijo não era suficiente. Eu senti isso da minha parte e dele. Os beijos foram direcionados ao meu pescoço, e eu estava entorpecida. Ele sabia o que fazia! Eram sensações conhecidas, mas naquele momento pareciam tão novas. Eu não sabia o porquê. Talvez fosse pela abstinência. Passei a mão pelo seu tronco e senti seus os músculos contraídos. Desastradamente tentava tirar aquela camiseta, mas era uma tarefa difícil, ainda mais quando sentia as baforadas de ar de em meu pescoço e pequenos beijos perto do meu ouvido. Ninguém nunca havia tão... delicado comigo. Enrolei sua camisa pelo seu tronco e finalmente consegui tirá-la, sorri divertida e suspirei um 'Yay' comemorando. Senti uma risada durante os beijos e logo depois os mesmos cessaram e me vi sendo observada.
  O rosto e o pescoço de estavam vermelhos. Ele sorria enquanto me encarava. Me senti corando pela atenção. Eu ainda estava vestida e ainda sim sentia vergonha. passou a mão pelo meu rosto e continuou me observando. Seus olhos azuis sempre foram carinhosos quando me olhava. Sempre. Mas dessa vez, havia paixão. Ou amor.
  Juntou sua testa com a minha e voltou a encostar seus lábios com os meus. Senti suas mãos segurarem a barra da minha camiseta e senti um click em minha mente:
  Para falar a verdade você nem era tão boa de cama assim.
  Com os olhos arregalados, afastei do meu corpo. Ele me olhou confuso. Comecei a me levantar e passei a mão na cabeça sentindo o choque da realidade bater contra mim. Eu quase havia jogado dois anos no lixo. Qual era o meu problema?
   ainda me encarava enquanto eu levantava e colocava meus sapatos, eu precisava sair dali, quase havia fraquejado.
  - ? - Perguntou levantando-se e tocando no meu braço para me olhar. Puxei meu braço e percebi que o movimento o deixou em tanto choque quanto eu.
  - Desculpa, , - Lamentei-me. Não era culpa dele os meus problemas. - Mas eu não posso fazer isso.
  - Por que? - Perguntou enquanto se sentava na cama e pegava sua camiseta para vesti-la. - Quero dizer, nós estávamos quase...
  - Eu sei! Mas eu não posso fazer isso. - Repeti.
  - Sério, qual é o problema, ? - questionou me olhando. Ele parecia mesmo confuso. Tudo era claro até demais em seus olhos. - Eu estou sempre com você e, te trato bem. Qual é o meu problema? Eu preciso saber para consertar.
  - O problema não é seu. - Neguei e me sentei ao seu lado. Não era mesmo. Ele era até perfeito demais. - O problema sou eu.
  - Eu não te entendo. Nós nos damos bem, você nunca está com ninguém e, está mais que claro que nós gostamos um do outro. - Me olhou finalmente. - Por que você não facilita, então?
  - É complicado. - Eu não poderia contar justo para ele, algo que nem a minha melhor amiga sabia.
  - Eu tenho tempo. - Deu de ombros e sorriu. E lá estava o bom e velho .
  Eu tive que contar algumas partes e, omitir outras. Ele parecia não acreditar completamente no que eu falava, mas ainda sim, não riu em nenhuma parte do meu relato ou comentou sobre alguma passagem, fiz meu próprio monólogo e, ele foi um bom ouvinte.
  - Resumindo. Você decidiu não se envolver com ninguém à menos que essa pessoa seja a única? - Finalmente perguntou quando percebeu que eu não havia acabado.
  - Sim, - Respondi sorrindo de lado. - Me desculpa.
  - Não, sem problema. - Novamente deu de ombros. - Talvez seja melhor mesmo, nós continuarmos como amigos. Não sei se aguentaria te perder.
  - Eu também não. - Sorri. - Você não tem ideia de como eu me sinto mais leve depois de ter te contado. - Confessei.
  - Eu consigo imaginar. - se levantou e me estendeu a mão enquanto mostrava um sorriso como se planejasse alguma coisa. - Esse ano nós iremos comemorar seus dois anos de... como eu deveria chamar isso?
  - Virgindade tardia. - Respondi prontamente enquanto o segurava pela mão.
  - Certo. Comemoraremos dois anos de sua 'Virgindade Tardia' e um ano de amizade. O que acha? - Perguntou enquanto abria a porta.
  - Estou ansiosa.
  Contar para havia sido melhor do que eu imaginava.

  Março de 2012

  - Oi, gata do 202. Tem como permitir a entrada do seu gato loiro?
   estava na portaria. Aquele era o aclamado dia. O dia de todos. Iriamos comemorar um ano de amizade e, por ele saber da minha promessa, também comemoraríamos dois anos de sucesso com a minha promessa. estava em uma viagem no Havaí com Dom, por isso, não tínhamos festa naquele dia.
  Nossa amizade havia crescido desde aquele dia. E apesar de eu ter me sentido mal durante alguns dias por ter quase quebrado a minha promessa, eu havia entendido que aquilo havia sido uma prova de força. Para testar minha força de vontade eu precisava de desafios como aqueles.
  Era sábado e iríamos ficar o dia inteiro em casa. Eu tinha as pizzas recém chegadas na mesa da cozinha e trazia os chocolates e o vinho.
  - A razão da sua vida chegou. - anunciou sua chegada.
  Eu estava procurando algum filme para assistirmos. Eu estava com muita vontade de uma comédia romântica ou drama. Vi o título de 'O diário de uma Paixão', Noah seria o protagonista da minha noite. Eu esperava fervorosamente que em um futuro próximo eu conseguisse um Noah. Ele era o cara perfeito.
  - O que é essa embalagem? - Perguntei enquanto ele guardava o chocolate no armário e me dava a embalagem para colocar na geladeira.
  - Bolo. - Respondeu simplesmente me olhando e se sentando enquanto pegava um pedaço de pizza e comia. - Precisamos comemorar do jeito certo.
  Sorri após ouvir aquilo e fui me juntar à ele. Comemos e em seguida fomos nos acomodar na sala com os chocolates para assistirmos o filme.
  - Diário de uma paixão? - perguntou ao ver o nome no inicio do filme.
  - É uma das histórias de amor mais lindas do mundo. - Respondi enquanto me aconchegava ao lado de .
  - Assim que acabar o filme precisamos comer o bolo. - Mudou totalmente de assunto. - Estou com desejo. Devo estar grávido.
  - Claro que está.

  Os créditos do filmes estavam subindo e já estava na mesa com um sorriso do tamanho do mundo enquanto pulava na cadeira e pedia por bolo como uma criança de cinco anos.
  - Só falta você pedir para cantar parabéns. - Comentei sorrindo enquanto colocava o bolo em cima da mesa.
  - Seria uma boa ideia, mas iria demorar ainda mais para comer.
  O bolo era uma delicia. Não importava a que hora ou em que ocasião, bolo com recheio de amora era sempre o melhor.
  - Agora que terminamos, - começou após algum tempo de silencio entre nós dois. - Vamos começar a troca de presentes.
  - Troca de presentes? - Que história era aquela?
  - Sim, - respondeu empolgado. Ele estava saltitante demais naquela noite. - Eu começo. - Foi para a sala em busca de alguma coisa.
  Ao voltar ele não parecia o mesmo. Todo a empolgação de antes parecia ter desaparecido. Ergui a sobrancelha procurando com os olhos o presente em suas mãos. Não parecia ter algo ali.
   sentou-se novamente na minha frente e esperou alguns minutos para voltar a falar:
  - Há um ano, eu bati em uma mulher na casa de uma amiga em comum. - Começou e eu o observei. O que ele queria contando uma história? - Ela foi a primeira garota que me deu um fora tão claramente, em toda a minha vida. - Sorriu enquanto me olhava fixamente. Seus olhos azuis estavam mais claros do que nunca. - Eu liguei no dia seguinte para ela e, a cada dia que passa eu consigo perceber que não posso viver sem ela.
  - o que- - Não pude terminar a frase e perguntar o que diabos aquilo significava. Fez um Shhh indicando que não havia acabado de falar ainda. Me calei.
  - Há algum tempo, ela me rejeitou pela segunda vez. E logo em seguida me contou uma história. Disse que por causa de um otário qualquer, que falou um monte de besteiras para ela, apenas por causa dele, ela decidiu se comprometer em uma promessa. E apesar de parecer tão estranha aos olhos dos outros, eu que a conheço, sei que é algo muito real para ela. - mexeu as mãos em seus bolsos e voltou a falar. - Eu não sei se ela percebeu, mas eu sou sincero desde o começo com ela. E eu quero fazer com que ela perceba que nem todos os homens do mundo são tão idiotas quanto aquele, ou todos os outros que ela encontrou até agora. Talvez, ela tenha simplesmente começado com o pé esquerdo, na vida amorosa. Talvez, a promessa não precise mais continuar e ela tenha finalmente encontrado o homem da sua vida, mas ela não vai saber se não der uma chance para ele. - Suspirou e levantou as mãos na mesa, junto com uma caixinha delicada.
  - O que é isso? - Eu estava mais do que confusa. O que aquilo queria dizer?
  - Eu já fui rejeitado duas vezes. - Continuou falando enquanto empurrava a caixinha na minha direção. - Hoje estamos completando um ano de amizade e você dois anos de 'Virgindade tardia'. Eu queria saber se nós podemos esquecer essa promessa e comemorar outra coisa ano que vem.
  - O que você quer comemorar ano que vem? - Perguntei enquanto abria e via duas alianças de prata lá dentro. se levantou e colocou uma delas no meu anelar direito.
  - O que você acha de comemorar um ano de namoro no ano que vem?

  A vida não era fácil. Nunca fora. E nós sempre fazemos questão de dificultar ainda mais.
  Mas talvez, exista alguém que nos faça ver que nada é tão difícil quanto parece - pelo menos não quando temos alguém do nosso lado. Alguém que consegue te fazer ver o porquê de nada ter dado certo no passado.
  Nada deu certo antes, por que só existe um certo e não adianta tentar consertar ou procurar nos errados.



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