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Escrito por Duda Wimmer | Revisado por Mariana

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  - Como qualquer história de amor, nós esperamos aqueles finais felizes e clichês, que nós fazem ter fé no amor e na humanidade. Gostamos do sentimento da paixão pelos poros, gostamos dos carinhos e do afeto. Do relacionamento sentimental e carnal. Mas normalmente o felizes para sempre é tão abrangente que algumas pessoas sempre vem a falhar na hora de narrar uma coisa tão complexa. É claro que o amor existe, é claro que ele ultrapassa barreiras e move montanhas, o amor é a coisa mais perto da magia no mundo e o mundo é recheado dela. Graças, certo? Algumas mágicas uma hora podem acabar. E o que nos resta fazer é aplaudir e ir embora, levamos a curiosidade e a experiência conosco. Que lindo, como será que eles fizeram? Vou aprender a fazer igual!. E nós aprendemos e levamos tudo em conta, para fazer o nosso espetáculo o mais duradouro possível, porque no fim, as cortinas se abaixam e o que resta foi o que foi feito entre um holofote e outro. E não é triste, porque normalmente vale a pena. Nós só rezamos para que além de ótimo, ele seja bem longo.


  A porta foi aberta e a mulher baixa e morena entrou em casa, sem notar a presença do seu homem sentado nas escadas, a esperando chegar. A luz foi acesa pela mesma e a voz dele ressoou pelo cômodo.
  Ele estava lá, sem vacilar se levantou. Sua expressão preocupada e bem levemente desconfiada era óbvia.
  - Não te vi aí. - Foi o que ela falou com a voz arrastada, não se sabia dizer se era cansaço ou álcool.
  - Onde você estava? - Ele ignorou o comentário dela, querendo uma resposta logo.
  O engraçado é que tudo aquilo não era necessário. Ela não o trairia, óbvio, mas mesmo assim ele sentia uma necessidade de prensá-la na parede, tentar retirar algo que não existia só para se sentir menos mal consigo mesmo.
  Era frustrante para ele o fato dela ser tão ou mais honesta quanto ela se dizia ser.
  Ele gostaria de ser assim. Quem não gostaria? Ser a pessoa que os outros confiam de olhos fechados e mãos amarradas, sempre a procuram quando precisam de um motivo pra sorrir ou pra ter um motivo para sorrir. Era fácil ser conquistado por uma mulher como ela, e com aquele homem não teria sido diferente.


  - Eles eram namorados, vó? - A menina mais velha interrompe a avó no meio da história.
  - É claro que não, idiota! Eles já estavam casados. - A caçula emburrou a cara, não gostando da interrupção. - Deixa a vovó contar!
  - Eles não eram nem namorados, nem casados. - Ela responde as duas crianças, sorrindo. - Eles estavam noivos, namoravam há anos já e noivaram na primavera daquele ano. - Os olhinhos da mais nova brilharam.
  - E por que o clima estava tão estranho? - O menino que estava calado até então, jogando no celular, se pronunciou já interessado.
  - Bom, porque as coisas estavam meio complicadas entre eles. - Ela olhou pros netos, checando se eles tinham mais alguma objeção antes de voltar a narrar.


  A mulher que normalmente estava radiante, na hora estava com olheiras e com a postura de quem se carrega o mundo nas costas, e de fato carregava, era o seu mundo nas suas costas.
  O noivado do casal era recente, ainda se falava pelos cantos. Ainda se podia ouvir as vizinhas falando “Mal posso esperar pra ver como esse casamento vai ser”, mas o mundo estava meio nublado para os pombinhos, o casamento estava marcado para dali a cinco meses e nada podia dar mais errado para o amor.
  O homem estava se sentindo péssimo. Diante de todas as circunstâncias, ele sabia que o noivado que ele mesmo planejou estava em risco, a agonia era quase palpável. Apesar de tudo que fizeram, vê-la naquele estado partia seu coração. Era como se ela estivesse desprovida a qualquer tipo de felicidade.
  - Isso é mesmo relevante? - Ela desconsiderou a pergunta do noivo, depois de um tempo dando um tratamento de silêncio. Se acomodou no sofá, exausta, como se rezasse para que aquela conversa não acontecesse.
  - É, é sim! - Ele se alterou, subindo o tom de voz - Você é minha noiva, tenho direito de saber.
  - Ah sim! Claro. Obrigada por esclarecer, já estava aqui me esquecendo. - Ela respondeu irônica, se afundando cada vez mais no sofá. Não era costumeiro ela procurar briga, mas aquele dia estava sendo tão merda que...


  - Vovó! - A menina mais nova falou espantada pelo palavreado, tampando as orelhas e negando com a cabeça.
  - Ah, minha querida, me desculpe. Não conte à sua mãe, sim?


  Aquele dia estava sendo tão cansativo que aquele sofá já era mais que suficiente para ela se sentir confortável e dormir.
  O homem não sabia o que responder, mas queria comprar briga, queria ter pelo que discutir, mesmo confiando nela, ele se sentia tentado a arrumar confusão.
  - São uma da manhã! Você me deve pelo menos uma resposta descente! - Ele se aproximou do sofá batendo os pés.
  - Vai se fo... ferrar! - Ela gritou. - Isso é uma babaquice, sabia? - Ele a olhou confuso e ela se levantou, de saco cheio daquilo. - Esse noivado, esse namoro de anos, essa coisa que a gente tem que nós nos acomodamos. Eu sei que você nunca foi fiel a mim, Tom, e eu nunca esperei que você saísse pras festas e voltasse sem me trair. - Ela agora estava parada a sua frente e ele estava estremecido com as suas palavras. A verdade costuma doer quando jogada na cara. - Mas, Tom, eu te amo, eu sempre te amei, desde que nós nos conhecemos quando tínhamos treze anos, mesmo quando eu namorei outra pessoa depois de terminar com você, eu sempre voltei pra você. E o que eu ganho com isso além de ser feita de trouxa? - Ela conseguiu terminar de falar no tom mais baixo possível.
  - Eu... Sinto muito. - Isso foi tudo que ele conseguiu responder na hora, ele nunca fora bom com palavras, tentou continuar com um discurso idiota e inútil, mas ela o interrompeu.
  - Eu amo você, cara! - Ela soltou como se carregar aquilo fosse um fardo, e talvez fosse. Ela respirou fundo e fechou os olhos, tentando se acalmar. - Tom... as coisas não deveriam ser assim, sabe? - Ela dizia com uma voz baixa, as lágrimas caíam de seus olhos, a dor que ele estava sentido no coração talvez fosse o mais literal possível. - Deveríamos casar, ter nossos filhos, viajar todas as férias de verão com eles, ter nossas bodas de ouro, contar para os nossos netos nossa clichê e orgulhosa história e sermos felizes para sempre. Como a gente sempre disse que seria, no auditório depois do recreio quando a gente matava aula, você se lembra?
  - E por que essa história agora? Eu sei de tudo, eu estava presente, droga! Você fala como se estivesse acabando. - Ele colocou a mão na testa, sentindo o suor acumulado.
  - E está. - E o silêncio que prevaleceu no lugar poupou ambos. Ele não sabia o que responder pelo choque, e ela não conseguia dizer mais nada. A ficha de ambos estava caindo.
  - Olha – ele foi o primeiro a se pronunciar -, eu sei que tudo está dando errado, eu sei que sou um babaca quando quero, mas eu te amo mesmo. Eu só não sei explicar, é como se...
  - Eu entendo. - Ela finalizou, sem querer papo furado. Estava acabando. Ele não estava preparado para ter um relacionamento como aquele, ambos eram jovens, estavam no auge dos seus vinte e três anos, tinham tanto a curtir. Ela queria calmaria e ele ainda estava atrás da agitação que o mundo tem a oferecer. Ela entendia isso...
  - Entende? - Ele mesmo não entendia, como ela poderia?
  - Entendo, é claro, Tom! Você terminou o colegial namorando, passou a faculdade namorando, fazendo tudo às espreitas. Agora está noivo e vendo tantas responsabilidades na sua cara que não sabe o que fazer. Eu entendo isso! Eu entendo que você precisa quebrar muito a cara com a vida, que você precisa sofrer muito ainda, precisa beber até cair, precisa ter quantas meninas quiser sem peso na consciência depois. Nós estamos em patamares diferentes e eu só fui idiota de perceber agora. Eu não vou fazer de um casamento um fardo, não é isso que representa. Nós não seríamos felizes para sempre nunca, se houvesse um prêmio de casamento fracassado, o nós ganharíamos.


  - Você tá de brincadeira comigo? Ela vai abrir mão do amor da vida dela assim? - O garoto já estava sentado ao lado da irmã para ouvir a história melhor. - Que idiota! - A mais velha sorriu e concordou.
  - É uma idiotice, né? - Todos três netos concordaram. - Mas o amor é uma idiotice, se vocês querem saber, só não espalhem. - Ela botou o dedo na boca, pedindo segredo. - Vocês vão saber como é, tem uma hora que o sentimento é tão grande que não cabe mais em nós então nós precisamos dividir com alguém. E precisamos ter esse alguém pra dividirmos. O problema desses dois é que um tinha amor demais pra compartilhar e o outro não sabia como receber.
  - Então termina assim a história? Ela vai embora cheia de amor e ele fica pra trás? Que tipo de história é essa, vó? - A mais nova estava com os olhinhos lacrimejados, chateada pelo desfecho da história.
  - Calma, meu bem.


  - Então... Acabou? - O 'acabou' ecoou pela sala, ou foi só a imaginação dela? Ela não conseguia falar, era como se tivessem roubado sua língua, ela só fez assentir.
  Com o tempo que foi preenchido por pensamentos, ela já tinha decidido o que faria. Ela não deitaria e choraria até desidratar, ela faria tudo que sempre quis com ou sem o amor de sua vida. Ela escreveria seu livro pendente, daria suas palestras, viajaria para os lugares que queria ir, sozinha. Só e apenas ela. Não parecia má ideia, era até animador.
  Percebeu que dissera seus planos em voz alta quando seu futuro ex-noivo se dirigiu até uma parede e encostou nela, negando com a cabeça.
  - Nós vamos ficar bem. Não nascemos grudados um no outro. - Ela disse firmemente, mantendo-se forte e demonstrando toda segurança que não existia. Seu sofrimento era profundo, mas sua determinação era cravada.
  Ele só conseguia olhar para o chão, como se nada fizesse sentido. Não sabia se ele estava chorando ou não, mas não se deu o trabalho de tentar ver quando foi em direção às escadas pro seu quarto.
  - Emma... - Ele a segurou levemente pelo braço, antes que ela fosse para o quarto. - Algo no meu coração me diz que isso tudo está muito errado. - Ela concordou.
  - E está mesmo, mas não isso não quer dizer que eu não vá ficar bem no final. Se for pra ser, a vida vai se encarregar disso por mim. Eu só estou cansada demais pra tentar manter uma coisa que não existe mais. - Ela respirou fundo e abriu o sorriso mais fraco e forçado da sua vida. - Eu não vou deixar de te amar nunca, nunca mesmo. E mesmo se nada nunca der certo pra gente, eu vou continuar te amando, porque você é o meu único grande amor e minha maior decepção.


  - E acaba assim? - O garoto levanta revoltado. - Fala sério, vó! - Ele sai bufando até o sofá e se joga de novo no mesmo. - Que perda de tempo.
  - Ei, revoltadinho. - A grisalha rola os olhos - A história desses dois acabou assim, infelizmente. Mas a história dos dois individualmente continuou por muito tempo. - As atenções de seus netos foram reconquistadas. - Quando ela saiu de casa, ela conseguiu mesmo terminar um dos seus livros, conseguiu seguir em frente, viajou, conheceu gente nova, deu palestras e mais palestras e se vocês querem saber, até achou um novo amor.
  - E como foi? - A mais jovem quis saber.
  - Ah, é óbvio que não foi maior que seu primeiro, mas foi forte e verdadeiro, e cresceu até não poder mais. Claro que não foi perfeito, que amor é perfeito, né? - As crianças assentiram, mesmo sem ter nenhuma experiência, o que a avó dizia poderia ser lei. - Ela realizou seus sonhos, teve seus filhos, viajou com eles todas as férias de verão, teve sua bodas de ouro...
  - E ele, vó? O que aconteceu com ele?
  - Ah, ele também teve uma vida muito boa. Aproveitou a vida ao máximo, até o dia que encontrou uma pessoa que ele resolveu montar uma família e realizou os sonhos também, viveu até a vida dizer chega. - A avó disse nostálgica, já sentindo as lágrimas quererem sair.
  - E a vida não fez o trabalho? - A mais nova perguntou chateada.
  - Ah, não. Não dessa vez. Mas ela fez o que dissera: nunca esqueceu-se dele, do grande amor da vida dela. Hoje em dia, eu relaciono o amor deles com uma cicatriz permanente em ambos, está lá, mas você nem sente mais direito, o que te resta é a memória de como ela foi parar ali.
  - Mamãe chegou! - A mais velha de todos gritou quando a porta foi aberta e a mãe das crianças entrou cheia de agasalhos e com um guarda chuva.
  - Oi, amores! - Falou e olhou pro relógio. - O que vocês ainda estão fazendo acordados, pestinhas?
  - Vovó estava nos contando uma história de amor triste! - O bico das meninas foi enorme, a avó soltou uma risada e apertou os olhos pros netos.
  - Ah é? História triste vai ser a que vocês vão contar para os seus filhos se não forem dormir agora! - A mãe fingiu que ia atrás deles e as crianças correram para os quartos rindo. - Oi, mãe. - Se jogou no sofá e fechou os olhos. - Estava contando qual história? - Sorriu para a mais velha, que tentava se acomodar melhor na poltrona.
  - A minha, meu bem. - Sentiu uma dor nas costas e nas pernas, o dia havia sido tão longo como não vinha sendo há muito tempo. Não parara de chover desde o dia anterior, quando recebera a notícia do falecimento daquele que ela fez questão de nunca esquecer, mesmo com sua mente já desgastada.
  - Essa é a melhor de todas, mãe.

  So i'm on my way, I leave today, If i get away

FIM



Comentários da autora


(12/07/2014): Olá, olá, sociedade! Eu ainda estou com aquela meta de postar todas as minhas shorts reescritas, o que eu não esperava é que na hora de reescrever, eu fosse mudar TANTA coisa, nessa até o título antigo foi pro lixo! A short versão 1.0 chamada “I'll Be Ok” e modificada “I'll Be Ok at All” na época que eu já a postei em outro site – já tinha fic com o nome ;\ - era basicamente uma short de uma página de uma briga do Tom e da Gio (GDs digam oi) e eles terminavam o namoro.
Agora que eu falei deles, vocês começaram a relacionar algum fatos da vida de ambos na fanfic, né? HAHA
Enfim, com o tempo passado, o Tom e a Gio casados, o Buzz aí com nós, eu achei muito no sense a fanfic, então dei uma mudança DRÁSTICA nela, tanto que nem pude usar a essência da fic, que era a música I'll Be Ok. Mas eu gosto bem mais dessa que a versão anterior, to apaixonada inclusive!
E não, não vale a pena ir procurar no google a versão 1.0 da fanfic, se eu já não retirei, você perderá seu tempo lendo algo tão ruim HUE.
Se quiserem me encontrar, vocês podem me achar no twitter , no meu grupo de fics no facebook, no meu ask.fm ou no meu e-mail também (dudawimmer@gmail.com), juro de pé junto que eu não mordo!
Ok, chega de N/A. Beijos da BunDuda!