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ATENÇÃO!

História NÃO RECOMENDADA PARA MENORES ou PESSOAS SENSÍVEIS.

Esta história pode conter descrições (explícitas) de sexo, violência; palavras de baixo calão, linguagem imprópria. PODE CONTER GATILHOS

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Para me refazer

Escrita porKelsea
Revisada por Lelen

Capítulo 1

Tempo estimado de leitura: 16 minutos

Observar o jardim era um dos poucos momentos capazes de colocar um sorriso sincero no rosto de Clarice. A dama da sociedade apoiava os cotovelos graciosamente sobre a parte inferior da janela enquanto sua mente refletia sobre o quanto sua vida havia mudado em tão poucos anos.   Tudo começou quando a sonhadora artista deixou sua pequena residência em Petrópolis a fim de tentar a carreira de pintora na cidade grande. O som das rodas do trem ainda ecoava em sua memória, assim como as batidas fortes de seu coração. Seria uma vida nova, em um lugar onde não conhecia ninguém. E se tudo desse errado? E se nunca alcançasse o sucesso? E se estivesse condenada a passar o resto da vida fazendo algo que não ama? Lavar roupas sem dúvidas era uma atividade digna, entretanto a mulher de fios ondulados queria mais do que passar os seus dias realizando uma atividade apenas para sobreviver. Por esse motivo, mesmo não send
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o fácil, a aspirante a desenhista decidiu sair da zona de conforto de uma vez por todas.
  Todavia, quando seus sapatos velhos pisaram nas ruas da capital pela primeira vez, ela jamais poderia imaginar que seu destino estaria ali, em uma mansão recheada de quadros caros, mas nenhum de sua autoria, até porque, com tantos afazeres exigidos pelo “cargo” de esposa, a artista nem se lembrava da última vez em que havia pegado em um pincel, mesmo tendo sido eles, de certa forma, os responsáveis por fazê-la passar de simples lavadeira em Petrópolis, para integrante de uma das famílias mais ricas e poderosas do Rio de Janeiro.
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  No início, Juliano Alencar parecia o homem mais romântico da face da Terra. Chegou tímido, encarando de longe enquanto Clarice tentava vender uma de suas obras de arte, sem sucesso. Entretanto, quando tudo parecia perdido e a jovem estava prestes a desistir, ele apareceu.
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  — Me desculpe, senhorita, não pude deixar de notar o seu talento com os pincéis, essas cores. Por acaso são flores da Imperatriz? — O jovem magnata colocou as mãos para trás como um perfeito cavalheiro.
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  Clarice, pela primeira vez desde que tinha se instalado à frente daquela galeria onde algum dia pretendia expor, sentiu seus olhos se iluminarem. Ainda era difícil de acreditar que alguém naquela cidade tão grande tivesse reconhecido as flores típicas do lugar onde havia nascido.
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  — Sim, exatamente! O senhor as conhece? — Seu tom de voz saiu mais empolgado do que gostaria, afinal, não pretendia parecer uma desesperada por atenção, mesmo se sentindo dessa forma por dentro
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  Juliano soltou uma risada discreta, porém charmosa.
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  — Se eu conheço? Tinha um jardim enorme na minha antiga casa.
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  — O senhor é de Petrópolis?
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  — Não, sou daqui mesmo, porém sempre vou a cidade imperial a negócios. E adoro.
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  — Incrível! Eu sou de lá.
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  O homem de terno cinza e fios grisalhos encarou a jovem de cima a baixo. Apesar dos cabelos bagunçados e das roupas simples, a tinha achado bastante atraente.
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  — E está no Rio há muito tempo?
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  — Não, acabei de chegar. Vim tentar a sorte.
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  — Mas você já trabalhava com arte, não é? Porque com um talento desses...
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  O elogio fez a jovem sonhadora sentir as bochechas queimarem.
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  — Imagina, na verdade eu era lavadeira.
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  — Ah, não é possível, alguém que pinta desse jeito precisa ser uma artista profissional! — Havia sinceridade o suficiente na fala do galanteador para convencer uma jovem inocente.
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  — Imagina, o senhor é muito gentil. Para ser sincera, esse sempre foi meu sonho.
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  — E com certeza irá realizá-lo! Na verdade, posso te ajudar!
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  — Jura, o senhor é olheiro de arte?
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  — Não, sou empresário do ramo de cosméticos. Dono de uma das maiores empresas do país. Já deve ter ouvido falar, a Perfumaria Carioca.
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  A mulher não conteve a empolgação.
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  — Claro que sim! Eu uso os seus produtos o tempo todo!
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  — Olha, então será um prazer maior ainda ajudar uma cliente fiel! Eu tenho alguns amigos no ramo das artes e posso te apresentar para eles.
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  — Sério?
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  — Claro. Tenho certeza de que eles vão adorar sua arte assim como eu. Ainda tem algum quadro sobrando?
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  Clarice deu uma risada, sem dúvidas o empresário havia percebido que havia muitos, porém era educado demais para comentar.
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  — Muitos, quer dizer, eu cheguei a pouco e infelizmente até o momento ninguém se interessou, além do senhor, claro.
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  — Bom, se é assim, eu vou querer comprar todos!
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  Clarice ficou a um triz de desmaiar.
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  — Como é?
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  — Isso mesmo, eu quero os seus quadros para pendurar na minha mansão e na minha sala na sede da Perfumaria Carioca. Essas maravilhas precisam ser apreciadas!
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  — Eu nem sei o que dizer.
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  — Diga que quando se tornar uma artista famosa irá se lembrar de mim!
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  — Mas é claro, senhor…
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  — Juliano, Juliano Alencar. — Ele estendeu a mão de forma muito além de cordial.
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  — Clarice, Clarice Dourado.
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  — É um prazer enorme te conhecer! — O magnata beijou de forma delicada as mãos da mulher dando início ao que parecia um conto de fadas.
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  Desde aquele momento, o dono da perfumaria se fez presente. Todos os dias aparecia naquele mesmo lugar e levava flores da imperatriz. Depois de alguns dias, deu o próximo passo e a convidou para ir a um clube, onde dançaram a noite inteira. Clarice foi se acostumando e gostando cada vez mais de sua companhia, os dois saíam juntos, conversavam, tudo parecia perfeito, ainda mais a partir de certo momento em que Juliano a pediu em noivado! Clarice ficou tão empolgada com os preparativos do casório que até mesmo se esqueceu de suas pinturas. A cerimônia foi notícia em todos os principais tabloides do Rio daquela época.
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  A aspirante a pintora famosa havia se tornado conhecida por outro motivo e por outro nome: Clarice Alencar. No início, deslumbrada pelos privilégios que a nova posição lhe proporcionava, como usar roupas novas e luxuosas, frequentar os restaurantes refinados, deixou seus sonhos de lado, de vez em quando questionava o marido sobre a promessa feita ao se conhecerem. Juliano, com seu habitual charme manipulador, segurava suas mãos e repetia:
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  — Meu bem, eles estão ocupados agora, mas no momento certo eu direi a eles sobre você. Agora por enquanto, porque não pendurar outro de seus quadros pela casa?
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  A esposa recatada colocava um sorriso falso no rosto e obedecia. Muitas vezes quis insistir, procurar os olheiros sozinha, mas os inúmeros compromissos exigidos pela alta sociedade, como recepções, festas e o gerenciamento dos empregados, a impediam.
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  Certo dia, porém, enquanto arrumava a casa, encontrou algo que tocou fundo em seu coração e pareceu acordar a jovem esperançosa ali adormecida: seu primeiro rascunho. As linhas eram tortas pois seu traço ainda era de iniciante, porém vê-los foi a fagulha que precisava para se lembrar do que a arte significava. De repente, nem mesmo os inúmeros luxos eram mais suficientes para preencher o vazio que corroía seu peito. Como pode ter deixado sua identidade e seu sonho morrerem dessa forma? Era como se toda sua alma e energia estivessem sendo sugadas durante todos esses anos sem que percebesse, ou melhor, até percebia, mas não queria enxergar de fato o que isso realmente significava.
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  O vento em seu rosto a trouxe de volta ao presente, um presente que agora estava disposta a mudar. Sob testemunho das flores, decidiu que era hora de tomar uma atitude, era hora de recuperar seus sonhos. Com um sorriso nos lábios, deixou a janela e foi até o armário e segurou, satisfeita, a lingerie vermelha, a favorita de Juliano, sabendo que ele não é, no momento certo, a esposa tiraria proveito dessa fraqueza para conseguir o que tanto queria desde que havia decidido colocar os pés naquela maldita cidade.
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  Mesmo Clarice não indo tanto à fábrica, os seguranças a reconheceram, provavelmente das inúmeras fotos saídas nos tabloides, e a deixaram entrar sem nenhum problema. A mulher respirou fundo enquanto colocava os pés no elevador. Seu coração pareceu sair pela boca quando este parou no andar do escritório do marido. Um último suspiro e algumas palavras de encorajamento para si mesma a seguraram por alguns instantes no portão principal.
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  “Você consegue Clarice, é uma artista”
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  Homens de terno apressados, seguidos por assistentes de óculos grossos passavam de um lado para o outro a ignorando, provavelmente devido à pressa. Ela sabia qual era a porta correta, porém a mesma era guardada por uma secretária que, diferentemente das outras, parecia se importar com a própria aparência, sua testa coberta por uma franja castanha e seu sorriso meigo de alguma forma a fizeram se sentir acolhida, entre outras sensações que não conseguia descrever.
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  Um pigarro foi o suficiente para chamar a atenção da jovem trabalhadora.
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  — Posso ajudar? — Sua voz era doce como uma flor. E seu sorriso mais brilhante que as estrelas. Clarice não pôde evitar observá-la por alguns segundos, sem dúvidas a formosa mulher daria uma excelente modelo para uma de suas obras.
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  Estranho, a artista nunca havia tido vontade de pintar pessoas, nem mesmo depois de Juliano insistir algumas vezes, ela nunca conseguiu captar a imagem do cônjuge em uma tela, papel. Mas desenhar aquela mulher, de certa forma parecia certo…
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  — É… — O nó em sua garganta fazia as palavras saírem com dificuldade. — Gostaria de falar com o senhor Juliano Alencar — afirmou enquanto apertava os dedos.
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  — Desculpe, mas o senhor Alencar é um homem muito ocupado e não recebe qualquer um, quem gostaria?
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  A mulher pensou em se revelar, mas considerando que a jovem e bela secretária de seu marido, diferentemente dos seguranças na entrada, parecia não ler tabloides, era sua chance de ser reconhecida pelo que era.
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  — Diga que é a sua artista favorita.
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  A jovem trabalhadora exibiu o sorriso mais brilhante que Clarice já tinha tido o prazer de testemunhar.
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  — Ah, é uma artista, que incrível, geralmente não ajudo ninguém, pois posso ser demitida, mas acho que nós mulheres batalhadoras devemos nos apoiar.
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  Foi a vez de Clarice sorrir de orelha a orelha. Era incrível como uma única frase daquela desconhecida a havia encorajado muito mais do que seu próprio marido durante anos.
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  — Só um instante, eu vou comunicá-lo de que está aqui!
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  — Obrigada.
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  A secretária caminhou em direção a sala de Juliano e para alívio de Clarice, saiu em alguns instantes.
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  — Muito bem, o senhor Juliano irá recebê-la agora.
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  — Nem sei como te agradecer.
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  — Imagina. — A trabalhadora se sentou novamente à sua mesa. — Mostre a ele do que é capaz.
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  A esposa de Juliano se limitou a acenar, gesto retribuído com um sorriso e um tinino por parte da secretária.
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  O som da maçaneta girando fez seus dedos tremerem, contudo, não havia mais volta.
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  — Pode falar, meu amor! — Juliano exclamou sem tirar os olhos do documento à sua frente.
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  — Então sabia que era eu? — Sua voz saiu sexy enquanto se encaminhava na direção do marido e o abraçava por trás.
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  — Claro que sim, meu amor, quem mais é minha artista favorita? Ainda bem que a incompetente da Zélia não te barrou, senão eu a demitiria na mesma hora.
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  “Zélia, então era assim que a dona do sorriso brilhante se chamava, um belo nome, para uma bela mulher”. Mas no que estava pensando?
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  — Imagina, ela foi um amor — se limitou a responder a fim de não revelar o misto de emoções que havia tomado seu peito ao conversar com a secretária.
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  — Mesmo assim, por que não se identificou? E a que devo a honra dessa visita surpresa?
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  — São muitas perguntas. — Clarice começou se sentando no colo do marido. — O que foi? Uma esposa dedicada não pode fazer um agrado para o marido que trabalha tanto?
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  — Pode sim, mas você nunca fez isso.
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  — Bom, estou fazendo agora e sabe o que eu trouxe? — ela sussurrou no ouvido do empresário, finalmente conseguindo sua atenção por completo.
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  — O quê?
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  Com um olhar ela exibiu a champanhe trazida em uma sacola e por fim retirou o casaco, exibindo a blusa transparente que deixava a lingerie à mostra.
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  — Ah não, você não fez isso, meu amor, assim não aguento, vai, vem cá.
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  — Com todo o prazer. — Ela abriu a garrafa antes de a entregar ao magnata.
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  Ela beijou de forma delicada o pescoço do marido o levando ao deleite. Ele estava rendido, aquele era o momento ideal…
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  — Já que você perguntou, tem sim um outro motivo para eu ter vindo aqui…
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  — Ah é, eu sabia, e o que foi? — Juliano sussurrou enquanto ainda aproveitava as carícias da esposa. — Quer um perfume novo? Sabe que tem acesso ilimitado ao estoque da fábrica.
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  Clarice suspirou antes de continuar, era agora ou nunca.
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  — Na verdade… eu estava pensando, você sempre adorou tanto minha arte… O que acha de eu desenhar as embalagens da nova coleção de sabonetes da perfumaria carioca?
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  Juliano soltou uma risada, porém dessa vez não uma risada doce, mas sim de tom zombeteiro.
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  — Ah, meu amor, você é hilária, por isso que eu te amo.
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  Clarice arregalou os olhos enquanto se afastava.
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  — Não é piada, Juliano. — Seu tom era firme. — Você sempre adorou minha arte, disse que me apresentaria aos olheiros, mas até hoje nada. Por que não me dá uma chance? Já pensou? As minhas pinturas exibidas em todas as farmácias? — Suspirou, deixando seu lado sonhador se expressar.
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  — Meu amor, eu amo sua arte, ela é maravilhosa, mas para mim, para nós, é melhor a maternos assim, como uma diversão.
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  Aquela foi a gota d’água. Pela primeira vez, a mulher enxergou o homem frio com quem tinha se casado. Com a raiva subindo a garganta, ela vestiu o casaco às pressas e arrancou de forma voraz a bebida das mãos do insolente.
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  Ainda desnorteada, ansiando por sair daquele lugar, acabou esbarrando na secretária atraente, derrubando champanhe não somente por toda sua roupa, mas por todos os papéis em suas mãos, papéis estes que com certeza a bela jovem estava levando ao escritório de Juliano.
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Lelen

Eu nem assisti a novela inteira, fiquei pegando uns pedacinhos quando passava na frente da TV, mas eu sempre tinha vontade de esfregar a cara do Juliano no asfalto. Aqui, aparentemente vai permanecer a vontade, né HAHAHAHAH
Bora que eu quero ver essas mulheres florescerem!

Kelsea

não é??? Ele era a personificação do cara babaca e machista. E você tem razão,aqui essa vontade vai permanecer igual kkkkkk. Só digo que elas irão florecer muuuito…

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