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#008 Temporada

Paper Crown
Alec Benjamin



Paper Crown

Escrita por Geo | Revisada por Natashia Kitamura

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// PRÓLOGO

Essa é a história de uma rainha, cujo castelo caiu ao ma. Ela sobrevirá? Talvez, mas nunca mais será a mesma.

 Olá, meu nome é , . Eu sei, não é um nome muito comum, mas vamos ser sinceros, britânicos possuem um gosto peculiar por nomes estranhos e não ligam nadinha em colocar um nome incomum em seus filhos. Eu não sou britânica, moro em Londres, mas não nasci aqui, só para deixar claro, mas meu pai era, era porque ele não está mais aqui, nem ele e nem a minha mãe, ela faleceu durante o meu parto, e quanto ao meu pai, ele me deixou não faz muito tempo, só alguns meses.
 Hoje estou sozinha em um mundo completamente desconhecido por mim, um mundo estranho e complicado, onde eu não consigo ser a rainha que meu pai sempre falou. Não que eu pertença à realeza, muito pelo contrário, mas era assim que meu pai me chamava, ele me presenteou com uma coroa de papel, e desde então ele passou a me chamar de “minha rainha”, geralmente os pais chamam suas filhas de “princesas”, mas meu pai era diferente, e isso sempre o tornou mais especial.
 A minha história não é um conto de fadas, na verdade, é algo mais obscuro, uma menina de 19 anos, órfã e praticamente sem teto, já que eu vivo no apartamento em que morava com o meu pai, e digamos que ele não deixou muitas economias para eu conseguir me manter aqui para o resto da vida. Os últimos meses estão sendo terríveis, eu já nem sei mais quem é a , não sei mais o que fazer; estou sozinha no mundo e completamente perdida, porque ainda não aprendi a me virar.
 Digamos que eu vivo em chamas. Meus dias passaram a serem vazios, sem muita cor ou brilho, sem sal, na verdade, sem nenhum tipo de tempero, é como se eu estivesse perdida em um lugar não muito bonito, e eu arrisco dizer que ficarei perdida por muito tempo, até porque não acredito que um dia alguém consiga me fazer voltar a ser feliz; e enquanto o meu dia de partir não chega, eu vou vivendo, ou tentando viver.

// CAPÍTULO I

“Olá , sou eu, seu vizinho . Desculpa estar te incomodando novamente, mas é que eu queria saber se você já tem uma resposta, seria legal ter a sua companhia esta noite, se por acaso você estiver disposta, estarei te esperando às 21hrs no hall do prédio.”
 E mais uma vez ele havia mandado mais um bilhetinho por debaixo da minha porta, bom, para quem não sabe, é meu vizinho, ele era amiguinho do meu pai e parece que agora que o senhor Walter resolveu ir embora, se sente na obrigação de tentar me tirar do escuro; ah, e só para deixar claro, não é uma velho louco, ele é muito novo, acho que uns quatro anos mais velho que eu, ou menos, não sei na verdade.
 Fazia algum tempo que ele insistia em me levar consigo para algum lugar que eu nunca parei para escutar o nome, nunca nem dei muita atenção, posso até ser um pouco mal educada às vezes, mas é que eu não suporto o fato dele achar que deve ser meu amigo, só porque ele era do meu pai. Muitas vezes eu escutei meu pai falar o quanto ele era legal e parecia um filho para ele, e quantas vezes o próprio falava o mesmo do meu pai ser um pai para ele, não acho que ele lidou muito bem com a notícia, mas era muito mais complicado para mim.
 A gente nunca sabe quão ruim é perder os pais, até chegar o dia em que eles se vão. Foi muito difícil passar 19 anos sem uma figura materna do meu lado, como está sendo realmente muito difícil passar esses meses sem o meu pai, sabendo que dessa vez não é só uma pequena viagem de trabalho. Antes até fosse.

[•••]

 Já eram bem umas 22hrs quando o som da minha campainha soou pelo cômodo, o que já era meio estranho, pois ninguém nunca vem aqui. Na verdade, não existe nenhum ser humano para vir me visitar ou algo do tipo, a minha preguiça era tão grande que eu queria não sair nem da minha cama, quanto mais atender a porta, mas como nada é legal na minha vida, a droga continuou tocando e tocando.
 - Já que você não apareceu lá embaixo, eu resolvi passar aqui. – Eu até devia imaginar que seria essa criatura.
 - Talvez eu não apareci porque não estava com vontade de sair.
 - , não pense que eu estou com pena de você, eu só queria encontrar uma maneira de te ajudar.
 - Desculpa, mas eu não preciso de ajuda, sair com você, seja lá para onde for, não vai me ajudar em nada.
 - Isso você só saberá se um dia aceitasse sair comigo.
 - Eu não tenho vontade de sair com você.
 - Quando é que você vai deixar de construir esse muro de auto defesa? Deixa de ser cabeça dura, eu não estou aqui por pena, eu estou aqui para te ajudar.
 - Eu já disse e torno a dizer, eu não preciso de ajuda, a única coisa que eu preciso é ficar sozinha.
 - Você está sendo egoísta consigo mesma, eu tenho certeza que o Walter não está contente com esse seu comportamento.
 - Eu preciso ir dormir, obrigada por sua preocupação, mas por instante, eu não preciso dela.
 E foi assim que mais uma vez o levou portada na cara, parceria que ele nunca se cansava ou que ele nunca fosse entender. Não era nada com ele ou contra ele, era apenas a minha vontade de ficar sozinha, eu não queria sequer me distrair, não queria parar de pensar, ou até chegar a esquecer do rosto do meu pai, por deixar que novos lugares e até novas pessoas surgissem para apagar as lembranças que eu tinha dele, e foi assim, com esse angustiante pensamento, que eu me entreguei ao sono.

[•••]

// CAPÍTULO II

 Tempo. O tempo é o processo mais cruel de tudo. Ele passa, e com ele, vai levando tudo que já foi bom: as lembranças, as angustias, as sensações inexplicáveis da vida; tudo que é bom, o tempo passa levando. Já faz 9 meses, longos nove meses sem ele, sem meu paizinho, e cada dia que se passa, eu me lembro menos de sua face, de sua voz, de seu toque, e isso me deixa tão frustrada, tão absorta, nem sei mais o que eu faço da minha vida.
 - Eu sinto muito a falta dele também. – Não demorei para reconhecer aquela voz rouca, ela era bem conhecida, afinal, era a única que tentava a todo custo manter algum contado.
 - Seria anormal não te encontrar aqui. – falei, ainda observando o túmulo do meu pai. Sim, estou no cemitério, e o , meu vizinh,o também. Era comum eu encontrar ele por ali. Ele sempre aparecia, acho que ele tem a mesma mania que eu de contar os meses e fazer uma visita quando cada um deles se passa.
 - Seria anormal eu não estar aqui. – ele falou depois de um tempo. – Seu pai foi um grande amigo, e um grande pai também, seria egoísmo da minha parte não recordar dele.
 - Ele gostava muito de você.
 - Eu sei, mas ele gostava ainda mais de você e não deve estar gostando nadinha da forma em que você está vivendo.
 - Eu apenas não consigo viver.
 - Você só fala bobagens.
 - Não é bobagem, você apenas não entende porque não é com você.
 - Não é agora, mas já foi, e eu aprendi a lidar com isso.
 - É diferente.
 - Não é diferente, é mesmo que perder, não perdi meu pai, nem minha mãe, eu nem ao menos cheguei a conhecê-los, e pode ter certeza, não foi fácil crescer todos esses anos sem uma família e aprender a se virar sozinho.
 - A sua situação é diferente justamente porque você não chegou a ter nenhum contando com seus pais.
 - Isso não me torna menos órfão.
 - Você nem sabe se ele estão vivos.
 - Para mim eles não estão, como para eles eu não estou também.
 - De qualquer forma, é diferente.
 - Não vou discutir, mas pensa, seu pai não estar feliz em ver você destruindo sua vida, ele iria querer que você seguisse em frente.
 Talvez meu pai estivesse mesmo triste por eu estar acabando com o retorno da minha vida, mas no momento eu não ligo; eu não sou tão forte quanto o , e nem devo conseguir ser um dia. A história dele é diferente da minha: ele foi abandonado pelos pais quando ainda era um bebê, não conviveu com nenhum dos dois e nem ao menos sabe quem são eles. No meu caso, por mais que eu não tenha conhecido a minha mãe, eu sempre tive o meu pai por perto, ele sempre foi meu porto seguro e sem ele aqui comigo, eu me sinto perdida, completamente sem rumo.

[•••]

// CAPÍTULO III

“ Olá, , fiquei sabendo que hoje é o seu grande dia, como eu sei que você não atenderia a porta, ou que talvez se atendesse fecharia na minha cara, decidi te desejar felicitações por meio de bilhete. Como já estamos habituados a nos comunicarmos assim, sem mais delongas, FELIZ ANIVERSÁRIO, PAPER CROWN! Seria ótimo se você abrisse a porta e pegasse o pequeno embrulho que deixei para você, um grande abraço do seu não-amigo, .”

 Sim, hoje é o meu aniversário, o primeiro sozinha. É até legal da parte do se esforçar para lembrar disso. Lembro que no ano passado ele ajudou o meu pai a fazer uma pequena e tão linda surpresa para o meu aniversário. Talvez esse ano não fosse diferente, talvez ele ainda fosse chamar o e juntos iriam fazer uma surpresa novamente, e eu ficaria feliz de novo, só por ele ter se preocupado em me agradar, apenas do jeitinho dele. Quando abri a porta para checar qual seria o tal embrulho na qual tinha se referido no bilhete, não fiquei tão surpresa assim; era o próprio que estava ali na frente da minha porta segurando realmente um embrulho na cor cinza.
 - Feliz aniversário, ! Por favor, não fecha a porta minha cara. – ele falou entregando o embrulho.
 - Não é por falta de vontade que não farei isso.
 - Eu agradeço, espero que goste, escolhi a cor cinza porque achei que combinaria com você, já que você agora é uma menina obscura.
 - Não pense que eu achei engraçado.
 - Não vai me convidar para entrar e comer um pouco do seu bolo de aniversário?
 - Não, até porque eu não tenho bolo de aniversário para comer.
 - É uma pena, mas se você quiser comemorar eu posso providenciar um rapidinho.
 - Eu agradeço, mas estou muito bem assim.
 - Nem no seu aniversário você fica mais dócil.
 - Obrigada pelo presente, , agora você já pode ir.
 - Não tem pelo que agradecer, apesar de ser uma garota azeda, eu ainda simpatizo com você. Até mais, grande .
 Não esperei ele sair, apenas fechei a porta e voltei para meu quarto com o embrulho nas mãos. Não vou mentir que eu estava curiosa para saber o que seria esse presente, e eu não achava que o me conhecesse o suficiente para saber comprar algo que me agradasse, mas ao abrir aquele singelo presente, descobri que ele poderia, sim, me conhecer, até mais do que eu pensava. Ele havia me presenteado com uma correntinha cujo pingente era uma espécie de coroa de papel amassado, igual a que meu pai me deu quando eu era mais nova; atrás do pingente estava escrito Crown e isso me deixou tão feliz, era como se eu pudesse voltar no tempo e ter a minha coroa de papel amassada de volta, e eu tinha, mas agora em forma de correntinha e, por mais que eu quisesse tanto evitar qualquer contato que fosse com o , eu jamais poderia deixar de agradecê-lo por aquilo.

[•••]

// CAPÍTULO 4

 Os últimos dias após o meu aniversário foram totalmente sem explicação. Eu finalmente deixei que o enfim conseguisse me tirar um pouco da minha realidade, não que agora eu estivesse indo para festas, passeios e afins, mas pelo menos alguns minutos de conversas no apartamento dele ou no meu. não era uma pessoa ruim, pelo contrário, ele era paciente, muito legal, e fazia de tudo para que eu me sentisse bem, e isso era o meu maior medo, me sentir bem queria dizer superar, superar algo que eu não queria, de maneira alguma, e por esse motivo eu sempre me privava, me privava de tudo e todos, mas isso estava meio impossível, contudo, enquanto fosse apenas eu e o , eu ainda tentaria.
 - Chá de boldo ou camomila? – ele perguntou saindo de minha cozinha.
 - Existe alguma diferença entre os dois?
 - O gosto, talvez, não sei, escolhe um.
 - Camomila, tem o nome mais legal.
 - Tomara que o gosto seja ruim, aí você aprende a não ir pelo nome. Nunca julgue o livro pela cara, .
 - Nunca julguei, mas no caso do chá eu posso ir pelo nome.
 - Depois não vá se arrepender.
 - Esse chá por acaso é tão ruim assim?
 - Não sei, nunca provei chás. Para ser sincero, eu nem gosto de chá, mas como a senhorita não aprecia um bom café, tenho que embarcar nessa de fazer chá.
 - Primeiramente, eu nunca te falei que ao invés de café preferia chá, na verdadem eu não sou nem fã de café, muito menos de chá.
 - Então por que você me deixou comprar esses chás?
 - Eu achei que você gostava, estava tão interessado em escolher eles, eu só queria vir embora, então não liguei muito no que você comprava.
 - Ótimo, eu gastei dinheiro à toa.
 - Não seja por isso, se você comprou chá, então tomaremos chá, assim podemos relaxar um pouco. – e ele não falou nada, apenas voltou para cozinha.
 Depois do meu aniversário, meu nível de aproximação com o aumentou gradativamente. Ele já frequentava a minha casa, e eu, só as vezes, aparecia pela casa dele. Não posso dizer que as coisas estão melhores, mas posso afirmar que estão melhorando aos poucos, talvez seja preciso eu me acostumar com o vazio, até que um dia ele seja preenchido.

[•••]

 Esperar e se esconder é o que eu mais faço, não está sendo fácil, cada dia que passa minha vida perde mais um pouco de sentido, eu já nem sei mais o que é viver.
 - O que temos para hoje é... Ghost? Esse filme é de que ano, mil novecentos e bolinhas? Acho que ainda nem era nascido.
 - Ele é de 1990, era o filme preferido da minha mãe.
 - Como você sabe que era o filme preferido dela?
 - Meu pai quem me contou, a gente costumava assistir juntos quando sentíamos falta dela.
 - Então ele está descartado, não precisamos desenterrar lembranças hoje.
 - Não se desenterra o que nunca foi enterrado.
 - Você e suas frases melancólicas.
 - Não são melancólicas, são realistas.
 - Acho que você deveria enxergar ao seu redor. Sua vida não acabou, , você precisa parar com isso, você pode desencadear até uma depressão.
 - Desencadear, é? A minha depressão já é comprovada.
 - E qual foi o médico que deu este diagnóstico?
 - E precisa? Tenho todos os sintomas.
 - Você poderia calar a sua linda boquinha e só abrir ela quando for para falar algo produtivo.
 - Não me ocupo em falar nada não produtivo.
 - Tá bom, cale a boca e venha assistir antes que eu desista e te deixe sozinha.
 - Acho que já estou acostumada a viver sozinha mesmo.
 - Você não tem jeito mesmo, .

[•••]

 Um beijo seria capaz de mudar uma vida? Talvez sim, talvez nada e nem ninguém poderia explicar o quão confusa eu estava a uns 30 minutos atrás. Na verdade, eu ainda estou. havia me beijado, assim, do nada e sem nenhum motivo aparente, foi uma coisa boa, mas ao mesmo tempo ruim. Naquele momento eu me perdi, eu esqueci todos os meus problemas e me limitei a viver apenas aquele momento, mas não durou muito tempo e a minha ficha caiu, agora me sinto completamente perdida, perdida e trancada em meu quarto, tudo que eu mais queria agora era estar no colo da minha mãe, contando para ela como foi o meu primeiro beijo, pois é, foi o meu primeiro beijo, por isso que eu fugi, por isso que eu estou aqui, sem saber o que fazer. É incomum uma garota de 19 anos nunca ter beijado, mas saibam que não é impossível, o meu nível de socialização era bem baixo, então não tive muitos índices de interesse masculino pela minha pessoa, acho que sempre passei despercebida, até o resolver me notar, e isso tinha que acontecer justamente agora.
 - , eu já pedi desculpas, sai daí. – Já fazia um tempo que ele estava do outro lado da porta do meu quarto implorando para que eu saísse de lá. – , é sério, se você não sair, eu vou entrar.
 - Eu não vou sair.
 - Então eu vou entrar.
 - A porta está trancada.
 - Por que você não saí? Me desculpa, se você não gostou ou aconteceu alguma coisa, eu não sei, mas eu juro que não vou mais tentar nada, só saia daí, por favor.
 - , vai embora, por favor.
 - Não, até você sair daí e me falar que está tudo bem.
 - Está tudo bem, agora só me deixa sozinha, por favor.
 O silêncio que se apossou alguns minutos depois do meu pedido, só poderia significar que ele havia ido embora, eu não podia falar o que eu estou sentindo, um relacionamento nessa altura do campeonato está fora de cogitação para eu, está sendo o cara mais legal que eu já conheci, mesmo que no início eu tenha relutado bastando para me manter longe dele, mas no final eu não consegui, ele só estava tentando cumprir a promessa que fez para o meu pai, e no finalzinho ele quase conseguiu, mas as coisas foram tomando outros rumos, eu não posso dizer que estou apaixonada por ele, até porque isso não seria justo comigo agora, e eu realmente espero que ele também não esteja, porque também não será justo com ele.

// CAPÍTULO 5

 Já se passaram alguns dias depois do ocorrido entre eu e o . Ele não parou de vir aqui, nem mudou comigo. É um pouco estranho ter ele do meu lado depois de tudo que aconteceu, mas enfim, a minha vida continua a mesma. Todos os dias eu acordo e vejo que minhas forças estão quase se esgotando. Eu cresci em um mundo que só existia eu e meu pai, nunca fui de ter muitos amigos ou sair para festinhas, toda a minha infância e metade da adolescência foi assim, em um mundo particular, onde só existia nós dois e eu era muito feliz assim, até perdê-lo.
 - Terra chamando . – , como sempre, estava na minha casa, só faltava ele começar a dormir aqui, mas aí já seria muita folga.
 - Estava apenas distraída.
 - É, eu percebi, estava falando sobre a minha viagem.
 - Ah, sim, para onde vai ser mesmo?
 - Canadá, você deveria vir comigo.
 - Não pretendo ir a lugar algum.
 - , eu acho que você deveria, sei lá, sair mais um pouco, já se passaram tantos meses, acho que já está na hora de seguir em frente.
 - Quando chegar a hora eu vou saber, por enquanto, me deixe do jeito que eu estou.
 - Não pense que eu quero pegar no seu pé ou algo do tipo, é só que eu me preocupo de verdade com você.
 - Não precisa se preocupar, eu estou bem do jeito que eu estou.
 - Não sei, não vou conseguir ficar longe de você.
 - E por que não?
 - Já me acostumei com a sua presença, vai ser estranho e solitário.
 - Serão apenas alguns meses, você volta logo.
 - Promete me esperar?
 - Você fala como se eu realmente fosse a algum lugar.
 - Quem me garante, não é mesmo?
 - Não precisa garantir, eu não tenho para onde fugir.
 - Fico mais aliviado ao saber disso.
 - Esse diálogo está tão estranho.
 - Não acho, estamos sendo dois bons amigos conversando sobre a viagem de um e o quanto vamos sentir falta um do outro.
 - Sim, realmente, eu sentirei sua falta, mas por favor, não fique se achando por isso.
 - Não ficarei, eu sempre soube que você me amava.
 - Acho que você está me confundindo com você mesmo, aliás, a única pessoa que nutre sentimentos aqui é você.
 - Tá certo, senhorita Coração de Pedra, eu sei e você também sabe o que cada um sente, e eu espero muito pelo dia em que você vai admitir e nós dois vamos nos casar e ter vários filhos.
 - Sente e espere.
 - Tô esperando.

[•••]

 Londres, dia 23 de Junho de 2018, poderia, sim, ter sido um dia comum, mas não foi. O dia até amanheceu bonito, mas ele tinha seus motivos para ficar assim, até porque no céu chegava uma pessoa muito especial, e mais uma vez eu fiquei sozinha. Parece que Deus resolveu tirar todas as pessoas que eu já cheguei a amar na vida, posso sim dizer que eu amava ele, apesar de nunca admitir, ele não merecia uma pessoa como eu, sem luz, sem vida. Eu que deveria estar no lugar dele naquele maldito avião, mas o destino é tão indecifrável. Mais uma vez eu estava ficando para trás, e mais uma vez foi me arrancado o que mais me fazia bem nos últimos tempos. Que motivos para viver eu tenho agora? A minha ficha ainda não caiu, queria muito estar sonhado e, quando eu acordar, perceber que tudo isso é uma mentira e que os dois homens da minha vida estão aqui, do meu lado, na sala, conversando sobre jogo; era o assunto mais discutido entre os dois. Eu lutei com todas as minhas forças para não me apaixonar pelo , mas parece que foi em vão e eu não pude nem aproveitar os momentos que passamos juntos. Mesmo eu sendo meio grossa, e tentando afastar ele de todas as maneiras, o ditado mais realista que existe no mundo é aquele que diz que só damos valor a algo, quando perdemos. Eu sou a prova viva disso. Eu não fiz nenhuma questão de me esforçar para ter ele ao meu lado, eu não fiz nenhuma questão em me esforçar para reconhecer o quando ele estava tentando ser a pessoa mais legal e atenciosa do mundo comigo, estava conseguindo me tirar da escuridão e agora parece que eu me afundei mais ainda nela e por isso que eu apenas não posso mais continuar aqui, eu não posso continuar sozinha, não tenho forças para isso, sinto em não ter vivido tudo de bonito aqui na Terra, mas eu espero que eu consiga viver lá no céu.

// EPÍLOGO

De:
Para:
Assunto: Estou te esperando

 Eu sei que eu falei e falei por diversas vezes o quanto eu te odiava, ou melhor, o quanto eu te odeio, mas em toda relação existe o ódio, eu nunca fui boa em expressar alguma coisa, até porque isso é muito novo para a minha velha pessoa. Desculpa se sempre sou chata, se sempre te quero longe, mas o meu longe é te querer perto; nunca teria coragem em falar isso na sua frente, mas o nosso beijo foi tão maravilhoso, eu nunca irei me esquecer, espero que o senhorito não volte muito convencido, porque eu posso muito bem fingir que não enviei esse e-mail. É isto, , queria te dizer que você tem sim um motivo para comemorar quando esse e-mail chegar aí, era só isso mesmo, espero que você tenha tido uma boa viagem, te vejo em breve e que esses 6 meses passem rapidão.
 Com muito amor, Crown.

Pois essa é a história de uma rainha, cujo castelo caiu ao mar, sabendo que não tem ninguém que será um rei que virá e salvará sua rainha.