Open Your Eyes

Escrito por Júlia Oliveira | Revisado por Lelen

Tamanho da fonte: |


  - De zero a dez, Doutor, - a mãe suspirava no corredor – qual a chance de sobrevivência? – perguntou, colando as palmas das duas mãos, quase orando.
  O médico hesitou com a pergunta. não soube decidir se pensava, indeciso ou se procurava uma maneira melhor de dar uma notícia horrenda a uma família.
  - Três, senhora – soltou logo, fechando os olhos logo após, completamente frustrado e até temendo a reação da família ali em pé a sua frente.
  Senhor e Senhora sucumbiram à dor ao mesmo tempo: se abraçaram, não acreditando no tamanho da dor. O irmão não soube reagir de outra maneira, apenas encostou sua testa na parede enquanto as lágrimas lhe escorriam pelas bochechas.
  , ao contrário de todos os outros, correu. Feito um raio. Acabou esbarrando em alguns carrinhos com o almoço dos pacientes, em uma enfermeira que segurava uma agulha e mais algumas pessoas enquanto passava – voava, se preferirem – para fora do hospital, queria sair de perto, fugir daqueles mentirosos. Eles não entendiam a alma dela, muito menos seu fogo.

  Evitou o elevador, demoraria demais pra chegar até o sexto andar, e ainda mais para chegar ao térreo. Pulou para as escadas – encontrando mais alguns empecilhos. – mas chegando um pouco mais rápido pra fora do hospital.
  Lá, a atmosfera soava um pouco menos densa. O ar parecia mais “respirável”, mas a dor, oh, essa ainda não cessara. Evitou olhar pras pessoas a sua volta, deviam se perguntar qual o problema desse garoto? Não que se importasse, ele realmente só conseguia pensar em , presa em uma cama de hospital, e só hoje voltaria a receber visitas.

   era um pássaro. Tinhas asas. Liberdade, todo um mundo pra conhecer. Nem tinha se quer a visto dentro do hospital, mas sabia que a garota estaria em seu maior pesadelo enquanto estivesse presa. Ah, sua garota. Queria sentir seus braços calorosos de volta, seu cheiro, ouvir sua voz. Seu beijo, seus corpos colados...
  Balançou a cabeça com força: não ia deixar que seus pensamentos se tornassem ainda mais dolorosos, bastava-lhe a sensação de arrependimento. Brincara a vida toda com aquele coração, que julgava ser tão forte, mas na verdade, era tão fraco quanto uma flor. Ela sempre fora sua. E ele nunca fora dela. Não até aquele momento em que realmente notara o que estava acontecendo. Não tinha direito de chamá-la assim, mas sua garota estava morrendo. Agora se arrependia profundamente por ter feito tudo o que fizera com ela. Enquanto caminhava, automaticamente, para o parque ao lado do hospital, se martirizava, chicoteava a si mesmo em seu próprio pensamento. Como pudera ser tão estúpido? Brincar com ela? Com aquele coração?

  Entrou no parque sem dar um pingo de atenção para o palhaço que tentava – inutilmente – animá-lo com alguma gracinha que só faria efeito em crianças. Por que não podiam deixá-lo sozinho para que ele pudesse por as idéias no lugar? Suspirou, bagunçando ainda mais os cabelos e procurando por qualquer banco que estivesse distante de toda a aglomeração de pessoas felizes que povoavam Londres naquele sábado. Invejou-os por poderem curtir sua vida enquanto a dele estava a um passo de não viver mais.
  Ótimo, quando a garota estava prestes a deixar de pisar no chão, ele se tocava que ela era sua vida. Nessa vida, você só dá valor quando perde – ouviu a voz da avó aconselhando no começo da adolescência. Mesma época que a conhecera, quando ela ainda era uma menina saudável que andava de skate. Podia ter se tocado que ela era a garota certa nessa época, quando não havia tantos empecilhos, e muito antes dele quebrar o coração da pequena tantas vezes, muitas e muitas vezes por semana. Teria evitado um desastre.

  Arrastou-se até um banco – relativamente afastado – do parque. Estava em sua metade, quebrado. Sentou-se no pouco que restara apoiando os cotovelos nos joelhos e tapando os olhos com as mãos: sentiu lágrimas.
Fora o estopim. Tinha fugido do hospital, fugido da tarefa de consolar seus – quase – sogros e dar uma de bom moço. Piorado a situação quando nem quisera olhar pra cara do médico e perguntar o que ainda podia ser feito. Não quis nem se importar com tudo que estava a sua volta. Fugira, e ainda por cima: chorara. Igualzinho a um bebê.

  Não conseguia se lembrar da última vez que chorara tanto. Ficou entre quando, aos 10 anos, quebrara a perna e o imbecil do demorara uma eternidade pra levar a sério as exclamações de a sério e quando tinha caído de bêbado em seu aniversário de 21 anos e todos os seus amigos resolveram falar sobre suas experiências amorosas e como se sentiam em relação ao outro. Depois de um ponto, eliminara as duas possibilidades. nunca tinha chorado tanto.
  O nó em sua garganta não parecia desabrochar, quem diria desaparecer. Seu peito doía com se alguém tivesse o socado por três dias diretos. Seu coração comprimia-se cada vez mais, a esse ponto deveria parecer com uma uva passa, ou nas melhores possibilidades uma ameixa seca. A dor era causada não só pela – evidente – perda da garota, mas como ter notado o quanto ela é importante, apenas no fim.

  Começara com um cansaço descomunal. Buscava-a em casa para um passeio e a garota desmaiava com a cabeça escorada na janela. Ligava pra saber como ela estava, estava dormindo. Depois veio as ligações de madrugada, febre forte e repentina. Perdeu peso e passou a ser uma pena. Os sangramentos vieram quando todos da família já pareciam preocupados. Então veio a Anemia devido a baixa produção de hemácias. Linfocitose fora detectada durante o hemograma. E a orgulhosa continuava a dizer – eu não estou doente, me tirem daqui, não estou doente! – e então a Leucemia Linfóide Crônica se transformou em Síndrome de Richter que, geralmente tem prognóstico ruim.
  Seu estado fora só piorando, até que chegou onde estava agora: Infecção generalizada. Volto a repetir: prognóstico é ruim.
  Mas eram tão extremamente parecidos! Tentou se imaginar: e se tivesse sido menos orgulhosa e aceitado o tratamento quando as primeiras hemorragias apareceram? Se tivesse parado de trabalhar? Se ele tivesse cuidado dela, como ela sempre cuidara dele?

  Não podia ficar ali mais, já era escuro, o sol já havia se posto. Secou as lágrimas, sentindo que agora elas não adiantariam de mais nada. Precisava concertar as coisas, acabar com aquela palhaçada de usá-la como brinquedinho sexual. Ela não era só isso, nunca fora e nem nunca mais será. Ela era a mulher da sua vida. A garota do “para sempre”. Mesmo que tudo aquilo com a doença e as últimas semanas soassem estranhas e falsas: a realidade é que ele não podia deixá-la ir embora. Não agora, quando ele tinha finalmente resolvido concertar as coisas.

  Levantou-se do banco, encontrando o parque vazio. Não ia mais desperdiçar um minuto sem ela. Caminhou em passos largos para o hospital. Sentia-lhe a ansiedade escorrendo pelas entranhas enquanto caminhava em direção ao elevador.
  Pressionou o botão número seis do elevador vazio. Aquilo era hora de chegar a um lugar daqueles? Não importa, aquilo era um hospital. Ouviu levemente os apitos nervosos do elevador, pareciam contar suas batidas desaceleradas e doloridas, podia apostar que seu coração estava em seus pés de tão pesado. Suspirou, tamborilando os dedos dentro do bolso da calça jeans escura, o elevador se arrastava até o quinto andar.
  O pobrezinho achara que ao chegar ao andar desejado, a ansiedade iria embora junto com o elevador. Dois enganos: o elevador continuara parado em seu lugar, e a ansiedade parecia ter apenas aumentado. Bufou, olhando em volta e automaticamente sabendo o caminho que deveria seguir. Não que sua ansiedade tivesse diminuído, mas seus pés caminhavam feito robôs, em movimentos que ele nem notava estar fazendo enquanto passava por aqueles corredores tristonhos e doentios. Podia ouvir alguns resmungos das enfermeiras que não gostaram de sua atitude independente. O que podia fazer se se sentia ligado a ela? O que podia fazer se sabia exatamente o numero do quarto, corredor, sala e inclusive o RG do Médico? Que estaria na pior se algo ocorresse de errado.

  Perdeu o ritmo quando chegou à porta do quarto. A necessidade de vê-la era maior do que a necessidade de respirar, mas precisou acalmar-se. Escorou-se no batente da porta e respirou fundo três vezes. Ansiava vê-la, precisava vê-la, mas não aguentaria se ela estivesse ligada a milhões de tubos, não queria sequer imaginar se ela estivesse com aqueles temidos tubos de respiração dentro do nariz, esse o repudiava.

  Olhou pra cima, como se fizesse uma pequena prece. Suspirou novamente e finalmente pos a mão direita na maçaneta empoeirada – pensou que tivesse exigido o melhor. Se aquilo era o melhor, não queria saber o que os outros estavam recebendo – e a girou, tentando não encarar o chão.
  Seu coração agora batia em sua garganta. Não que ela estivesse amarrada em vários fios, mas havia um aparelho ridículo contando seus batimentos, e além disso: apenas o soro. Mas parecia ter perdido metade de todo seu peso, as bochechas já não estavam mais tão coradas e seu olhar triste a deixavam com a aparência ainda mais doentia.

  Caminhou lentamente em direção a ela. Continuava a ser um idiota, mas agora era um idiota que tinha consciências de seus erros. mantinha os olhos castanhos abertos, sonolentos e com leves tons cansados de vermelho. Passou seus dedos pela bochecha dela.
  - Só faltava você. – suspirou, sua voz antes era firme e polida, agora era fraca.
  - Todos já vieram te ver? – perguntou, imaginando a bagunça que fizera ao receber a notícia.
  - disse que você viria – ela disse, enquanto concordava com a cabeça – eu quis que não.
   sentiu uma facada em seu estômago. Como assim não queria que ele viesse?
  - Por que não? – perguntou, ainda acariciando sua bochecha.
  - Porque eu estou farta... – sua voz de um leve falsete – farta de acreditar que sou a sua única garota.
  - Hey, Hey – sussurrou, sentia a necessidade de ser extremamente delicado com ela – eu vou concertar isso.
  - Como, ? – ela sussurrou em troca.
  - Te tornando a minha única garota. – tentou soar confiante. Era a verdade. A partir daquele momento, os dois fariam o que quisessem, o que gostam. Ele não ia ficar feito um idiota desperdiçando tempo com as garotas erradas se a certa estava tão ao seu alcance. Não mais. Ia corrigir aquele erro, nem que fosse a última coisa que fizesse.
  - ... – ela voltou a sussurrar. Era inacreditável ouvi-la daquela maneira. Vê-la em uma cama de hospital ainda descia em sua garganta. Quieta? Também dava pra engolir. Mas falando baixo? Não, isso era de mais. era menina de sair berrando aos quatro ventos tudo que queria, tudo que ela achasse certo ser gritado aos quatro ventos. – estou em um hospital. – suspirou, - presa – a palavra doera tanto em quanto em . Era frustrante pros dois. A garota já dera a volta ao mundo, e mesmo assim: ainda tinha muito lugar pra visitar. Não queria parar agora e ter que ficar presa naquelas quatro paredes azuladas que não lhe davam vista para nada, só lhe cercavam, dizendo: fique quieta, se comporte, obedeça e talvez saia viva daqui. – não quero ouvir suas mentiras daqui.

  Aquilo arrancara-lhe o coração do peito. Estava criando coragem pra dizer o que tinha acabado de pensar enquanto estava sentado no parque. Sim, sabia, tinha total noção de que era o cara mais estúpido do mundo, mas ia dar um jeito naquilo. Afinal, ele é . E agora, sabia qual era a garota certa.
  - Hey, - chamou a atenção da garota, depositando sua mão em sua bochecha, enquanto acariciava as ondas de seus cabelos. – posso ao menos me defender?
  - Mais? – a garota arregalou os olhos, impaciente. Estava farta de mentiras. Não era o suficiente ruim estar presa em um hospital? Queria ir embora e nunca mais olhar na cara daquele cretino. Era um idiota, um belo merda, um filho da puta...
  - Eu sei que você está me xingando internamente – interrompeu os pensamentos da garota, de uma forma bem rude – mas eu tenho uma coisa pra te dizer, de uma vez por todas. – soltou um sorriso fraco. Coisa que não fazia desde que recebera a notícia que estava no hospital. – só escuta, tudo bem? – encarou seus olhos, agora tinha certeza que a garota ouvia seus batimentos cardíacos.

  Ela sentia o pouco sangue que lhe restara correndo em suas veias enquanto o garoto – não, agora era um rapaz. Ele estava prestes a perder a coisa mais maravilhosa que já encontrara na face da terra para o Céu, ou viraria um homem naquela hora, ou saísse por aí dizendo que era Gay – a encarava firmemente. Sentia que dessa vez a palhaçada não seria tão mentirosa assim. Pela primeira vez, achou que o que vinha era a mais pura verdade.
  - Estou fodido de novo. – começou, tentando controlar sua própria respiração – eu não deveria mentir hoje, então o que vou dizer agora é a mais pura verdade – deu um suspiro, temia tanto a reação da garota – eu sei que sou um imbecil, que apareço no seu apartamento toda vez que não consigo me dar bem em alguma pub imundo no Soho e todas as vezes que eu bebo o suficiente pra não conseguir arranjar uma carona ou dirigir até em casa. – soltou as mãos da garota e parou de encará-la nos olhos, era vergonhoso confessar tudo aquilo de uma vez só. Sou um orgulhoso de merda. – e isso, então, se resume a toda madrugada de sábado pra domingo.
  Era a mais pura das verdades. , ao contrário das outras vezes, sentia isso nos olhos dele. Algo estranho, sentia-se ligada a ele, como se seus corações batessem no mesmo compasso.
  - E eu também sei que você é a melhor mulher do mundo. – suspirou, bagunçando ainda mais o cabelo com as mãos. Oh, como ela amava aquilo. Era fascinada pelas madeixas do rapas, ainda mais daquele jeito tão... desarrumadas. – principalmente por que nunca me deixou lá fora na chuva, no relento, no frio, quando deveria ter feito isso – enfatizou, olhando-a com carinho.  – e sei também que nunca vou te merecer ou ser o suficiente pra você.
  Mas já era. Era mais do que o suficiente pra ela – era o inalcançável, o perfeito, o longínquo. Mesmo que fosse aquele imbecil que vomita seu banheiro todo, era o homem que ela amava. Mesmo que acreditasse que tal sentimento não fosse recíproco – afinal de contas, ele vivia se engraçando com loiras oxigenadas em boates – ela o amava. Tanto que chegava a doer.
  Mesmo com todos aqueles sentimentos à tona, não era a hora certa de dizer isso pra . Não. Queria vê-lo rastejando um pouco, por mais que tenha “avisado”, jogado sinais e indiretas, era hora dele aprender por si só. Mesmo que doesse.
  - Mas, acontece, que eu não posso mais desperdiçar um minuto sem você. – concluiu, soltando o pouco ar que tinha em seus pulmões para fora – sou um imbecil, um filho da puta, um merda, um orgulhoso... – se interrompeu. Ela ficara tanto tempo calada que achara estranho, resolvera checar se ainda estava ouvindo – mas sou um imbecil, idiota, mera, filho da puta orgulho que te ama.

  Ela sentiu seu coração bater mais rápido. Mas que merda! Quem tivera a estúpida idéia de entrelaçá-la com aquele pedaço ridículo de plástico que fazia questão de “bipar” toda vez que seu coração batia? Aquilo era uma deslavada invasão de privacidade. Podia esconder suas feições dele, suas reações internas poderiam ser caladas... Mas seu coração agora podia ser ouvido do outro lado do quarto. Acelerado, batia tão forte que a assustava: quer dizer, ele nunca tinha dito aquilo pra ela! As três palavrinhas chegavam a ser torturantes e irônicas. Nunca, nunca, mesmo depois de anos de convivência conseguira ouvir as três, a agora estavam ali, ressoando pelo quarto, levitando, como nuvens. Como se o que acabara de acontecer entre aqueles dois não fosse uma grande reviravolta, como se os dois não estivessem em uma luta particular e interna. Ora, quem precisava de cuidados agora era ela. Ele tinha total condição de cuidar dela. Era o que faria: a partir de agora, até o fim de suas vidas.

   ficara sem reação. Se seu coração batera daquela maneira, era algo importante pra ela. Era pra ele, mas não fazia idéia de quanto era pra ela, afinal, ele não estava amarrado àquele aparelho, mas se estivesse também faria um grande alarde.
  Trocaram olhares cúmplices, ele caminhou até o lado direito da garota, enquanto o aparelho ainda lhe contava as batidas – ainda aceleradas. pegou sua leve, franca e pálida mão, passou-a em seu próprio, ela gostou do carinho, amava o rosto dele, a barba, o nariz... Tudo. Ela sorriu automaticamente, aliviada, pareceu que estava em casa em um domingo de manhã, não em um hospital. Ele gostou de vê-la assim, sentiu como se ela estivesse melhor.

  Em um suspiro, tirou a mão dela de seu rosto e depositou-a em seu peito. Sobre o coração. Fora uma surpresa pra , o coração dele batia tanto quanto o seu. Rápido, nervoso, aflito, parecia que ia explodir! Era torturante estar ali presa, mas era extremamente bom vê-lo daquele jeito tão... Venerável. Por algum milésimo de segundo achou que ele fosse o doente ali. Sentiu-se bem, quando finalmente notou que aquelas batidas aceleradas significavam que ele se sentia da mesma forma que ela. Ele a amava. Ela o amava. Os dois só queriam, não só deveriam, mas tinha a obrigação de ficar juntos.

  Ela tirou a mão direita do peito de , ele quase protestara, mas ela apenas passara a acariciar novamente seu rosto. Como era lindo. Ele fechara os olhos, apenas aproveitando o carinho da garota, era extremamente aconchegante: se sentia em casa quando estava com ela. Mesmo em um hospital, aquilo não seria diferente. Aproximou-se, ávido por mais. Ela deixou nascer um sorriso tímido e bobo nos lábios, enquanto ficavam cada vez mais próximo.
  Foi quando ela selou seus lábios. O bip do aparelho cessara no mesmo instante, teve a audácia de pensar que era o fim, mas, vejam, era apenas o começo. Seus lábios se encaixavam de uma maneira tão incrivelmente perfeita que pareciam moldados. As línguas bailavam, juntas, sincronizadas, felizes, completas, feitas uma para a outra. Era o grande momento, pareciam ter esperando aquilo pela vida toda, pra estar vivendo aquilo naquele momento. Só aquele, imortalizado em suas memórias como o começo de um novo tempo, talvez.
  Sentia-se tão completos que podiam estourar de felicidade. Não que fosse o primeiro beijos do dois, mas aquele envolvia menos desejo, mais amor, mais sentimentos, era mais intenso e absolutamente preciso. Era o beijo do final do filme, o primeiro beijo dos mocinhos da novela, o beijo em que a garota deve levantar uma das pernas delicadamente, como nos desenhos. Não era apenas um beijo, era O beijo.
  - Me diz que vai sair daqui. – ele pediu, depois de desfazerem o beijo.
  - Vou – garantiu, enquanto ele colava suas testas.
  - Vou ficar esperando. – sorriu, dando-lhe selinhos. Os lábios de lhe pareciam tão, tão belos agora. – eu te amo.
  As três palavras flutuaram pelo quarto novamente, mas agora ela tinha uma resposta adequada, e um coração menos acelerado.
  - Eu te amo.



Comentários da autora