O Número Um
Escrita por Nicole Manjiro
2010, Fevereiro
Era um final de tarde quente de verão quando o viu pela primeira vez.
Ele, em todo o seu esplendor, rindo no meio de um círculo de amigos, enquanto segurava um copo com cerveja gelada em uma mão, e a outra estava apoiada no ombro de um dos amigos, o motivo da risada de todos, em um bom sentido. O grupo parecia se divertir, sem precisar de nenhum fator externo para distraí-los.
– O nome dele é . – , sua nova melhor amiga, disse ao lado.
– Quem? - olhou para a moça, que lhe fez uma cara de quem não seria enganada.
– Já vi esse olhar em várias garotas, . - ela diz. – O chama muita atenção, estudo com ele desde o jardim de infância.
Fazia sentido que ele chamasse a atenção das pessoas. Ele era, de fato, muito bonito. Os cabelos escuros, sedosos e bagunçados, não eram volumosos, mas não parecia que ele fosse sofrer de calvície em algum momento no futuro. Apesar de magro, era alto e tinha os ombros largos. O sorriso era bonito e os olhos, em um tom amendoado que, naquele momento, talvez por conta da luz do sol que se punha, pareciam dourados. De costas, ele não parecia o tipo de homem que atraía os olhares das garotas, parecia um cara possível de se encontrar todos os dias na rua. No entanto, naquele momento ele parecia mais um tipo de deus.
havia acabado de se mudar para Santos, era a primeira vez que morava em uma cidade praiana, apesar de já ter se mudado quatro vezes desde a infância. O pai era agente imobiliário, e a mãe, dona de casa, por isso, ela e a filha estavam sempre ao dispor do homem, que por ser bom no que fazia, era constantemente convencido a mudar de agência, com a promessa de um salário maior e melhores benefícios.
No entanto, para , aquela seria sua última mudança. Pelo menos contra sua vontade. Entraria em alguma universidade de medicina ali mesmo no litoral e, se o futuro permitisse, só sairia dali para estudos com a premissa de voltar. Estava cansada de se mudar e ter de se adaptar a um novo ambiente toda vez. Ao contrário do que muitas pessoas falavam em forma de consolo, ela teria uma vasta lista de amigos, mas aquilo era uma mentira. Na idade jovem, era fácil fazer uma nova amizade, de modo a se esquecer das antigas, pouquíssimas presentes no cotidiano. Ela mesma já não sentia mais falta de Julia, de Jundiaí, cidade em que nasceu, nem de Amanda e Carla, de Pindamonhagaba, a segunda cidade. Já Luana e Ana Júlia já eram um caso diferente, as três passaram o maior tempo que já ficou em uma cidade, cinco anos, então havia um apego maior, além de Ribeirão Preto ter sido a última cidade em que viveu, tornando tudo recente demais.
Estava no cursinho, porque não era fácil ingressar em medicina, e com a mudança no ano anterior, não foi possível focar o bastante para se passar no curso tão competitivo por pessoas do país inteiro. No entanto, a situação veio para melhor: logo no primeiro dia conheceu , moradora local da cidade desde o nascimento. Na primeira semana, já sabia se locomover muito bem de transporte público, e conheceu pessoas legais, sendo bem recebida pelo grupo de amigas de . Apesar disso, foi na segunda semana que ela conheceu , logo na saída do cursinho. Ele era de outra turma e, pelo que disse, também queria a medicina.
– Vai ter uma festa hoje, na cobertura de uma amiga nossa no canal 6. Vou apresentar ele para você lá, então não pode faltar. - a amiga disse para , que ergueu uma sobrancelha.
– Não estou interessada nele.
– E eu não sou santista. - a garota riu. – Relaxa, ele é legal e está solteiro. Você também é legal e está solteira, então que problema tem?
“O medo de ser rejeitada?” pensou, mas deixou a questão na mente.
A verdade era que nunca havia beijado ninguém até então. Com quase 19 anos, praticamente todo mundo já havia transado, e ela mal sabia o que era ter a boca de outra pessoa colada na sua.
Suspirou, decidindo que deixaria as coisas acontecerem. Havia dito para a psicóloga da cidade anterior, na última sessão, que daria uma chance para as oportunidades que surgissem. Tinha o hábito de ser teimosa e orgulhosa, e precisava cuidar desses dois defeitos, já que eles a controlavam mais do que o oposto.
As coisas, então, aconteceram muito bem.
cumpriu com o que havia dito e apresentou para e, depois de longos três meses de fica-não-fica, os dois finalmente ingressaram em um relacionamento sério. Tudo era uma grande novidade para , já que era o seu número 1. O primeiro a beijá-la, o primeiro a levá-la para um encontro, o primeiro a lhe dar um presente romântico e um buquê de rosas vermelhas. Também foi com ele a primeira vez de , e o primeiro a enfrentar o pai, que se viu surpreso pela presença de um homem na casa, quando voltou do trabalho em uma sexta-feira.
No início do ano seguinte, foi quem tocou a campainha do apartamento dos pais de , para que pudessem conferir, juntos, o resultado do vestibular que ambos haviam prestado. não acreditava muito em sinais ou coisas exotéricas, mas quando a lista de aprovados saiu e o nome dos dois apareciam nela, foi inevitável pensar que era para eles permanecerem juntos, afinal, aquela era a única instituição que os dois haviam escolhido juntos.
2014, Dezembro
“Você vai na festa do Carmel hoje?”
olhou para a mensagem de enquanto saía do banho. Ponderou sobre qual resposta daria. Não sabia se preferia ir e se divertir com os amigos dos dois, ou ficar em casa e estudar um pouco. Estava no quarto ano e criara o hábito de, após o término das aulas, revisar o conteúdo em casa, apenas para reforçar o entendimento das matérias dadas. Preferia assim, a deixar para estudar tudo no final de semana, ou pior, para as provas.
Mas estava cansada. Havia estudado antes de entrar no banho, mas apenas por uma hora e meia. A mãe já havia desistido de pedir para ela descansar, por isso, agora a obrigava a jantar com os pais, como meio de tirá-la da frente dos livros e do computador. Entendia que um médico precisava estudar muito, mas a filha não parecia ter tempo livre para ela mesma, e quando tinha, usava-o inteiro com o namorado. E apesar dos pais aprovarem o rapaz, sabiam que um ser humano precisava cuidar de si mesmo.
Dessa forma, iniciou-se a regra do “jantar com os pais” de segunda a quinta, já que às sextas ela saía com os amigos – por incentivo dos pais, do namorado e dos próprios amigos –, e logo em seguida um banho, para a moça relaxar o corpo antes de voltar para a mesa de estudos.
Naquele dia, em específico, a turma de medicina de e estavam animados, pois era um final de semana antes da turma fazer a última viagem de final de ano, antes do início do quinto ano, quando começava o tão esperado internato. O grupo estava animado por poder viajar, a maioria, sendo um deles, por um presente dos pais, que se viam satisfeitos em ter os filhos finalmente terminando uma fase da medicina.
A turma iria para o Rio de Janeiro, já que cidade praiana era o requisito básico para a turma, que consistia em metade dos integrantes se dedicando ao surfe.
Mas como passariam sete dias longe dos livros, queria adiantar um pouco a matéria, para não perder o hábito e também não ficar com peso na consciência.
“Tenho que terminar de estudar.”
“Quer que eu vá praí?”
“Não, ou não me deixará estudar, rs.”
“Tudo bem se eu for?”
“É claro, divirta-se!”
“Te aviso quando chegar em casa, te amo.”
“Te amo.”
sorriu ao terminar de responder , e deixou o celular ao lado em sua mesa, sentando-se após respirar fundo. Queria se divertir, mas queria ainda mais estar preparada para o próximo ano. Estava animada para começar o internato e, apesar de saber que quer seguir o caminho da obstetrícia, uma parte de si lhe dizia que a neurocirurgia também era uma boa opção para ela.
Perdida nos estudos e nos pensamentos, não percebeu que havia gasto tempo demais com a cara enfiada nos livros, e só foi se dar conta quando ouviu o canto dos pássaros no lado de fora do prédio. Sempre que acontecia, era porque o dia estava amanhecendo.
Preparou-se para dormir, já que se permitia descansar mais nas manhãs de sábado e, antes de fechar os olhos, pegou o celular para ver se havia ignorado alguma mensagem ou ligação. Esperava ver algo de , que sempre avisava quando chegava em casa. Apesar de não ter exigido nada do namorado, o próprio tomava a iniciativa, pois ele mesmo gostava que ela lhe desse a satisfação quando saía com as amigas, para que dormisse tranquilo. Não havia nenhuma mensagem dele não lida, nem ligação perdida. Estranhou, mas logo imaginou que a festa devesse ter sido boa. Já havia acontecido antes, dele mandar mensagem às 9 da manhã porque bebeu bastante e não quis voltar para casa dirigindo, e acabou dormindo na casa do amigo até a manhã seguinte.
O caminho até Búzios era longo. De Santos, eles alugaram uma van que os levaria até o aeroporto de Congonhas, onde pegariam um voo até o Rio de Janeiro, e então alugariam carros com 4 pessoas em cada um, para se dirigirem até a cidade. Lá, duas casas vizinhas para 12 pessoas cada foram alugadas pelos alunos da sala II da turma de medicina. Após oito horas da partida de Santos, às 5h, eram quase 13h30 quando , , Gael e fechavam a porta do quarto e ligavam o ar condicionado para se acomodarem.
– Que casa achadão, amor. – Gael disse, jogando-se em uma das duas camas de casal que havia no quarto em que os dois casais dividiriam.
– Agradeça à , ela quem achou. E para melhorar, é do mesmo dono, o que fez com que conseguíssemos um descontinho.
– Boa, ! - Gael parabenizou a amiga, que abriu um sorrisinho enquanto olhava o tamanho dos armários e também do banheiro. Começou a tirar as coisas das malas dela e de , que a ajudava da maneira que podia, até Rubens abrir a porta e praticamente exigir que os dois ajudassem a arrumar a área da churrasqueira.
– Acho que teremos que ir para o mercado. - disse, sentando-se na cama em que organizava a roupa dos dois, antes de colocar nas gavetas. – Ana disse que a Tamires está insuportável por conta do término, e não vai aguentar ouvir nem mais um lamúrio dela. Além disso, você é melhor com contas.
– Mas eu já cuidei da parte da casa.
sentiu o silêncio por parte da amiga e ergueu a cabeça para observá-la, dando de cara com uma expressão que claramente dizia “é você ou o Pedro”. Pedro, apesar de ser uma ótima pessoa, era terrivelmente desatento aos detalhes, quando a questão não era relacionada à medicina. Ninguém havia entendido, até então, como aquele ser humano tão preguiçoso e relaxado conseguia ser um dos melhores alunos da sala.
– Tudo bem…
– Ótimo. Acho que os meninos daqui a pouco voltam com o carro e então poderemos ir. Enquanto isso… - se levantou e foi até a porta, abrindo-a e olhando para os dois lados, antes de fechar e virar a chave, trancando-as ali dentro. – O que você achou dessas duas meninas novas?
Ela se referia a Andressa e Nadia, duas alunas do último ano de medicina que eram muito amigas de Pedro, que para completar a casa vizinha, chamou-as para irem junto. Inicialmente ninguém achava que elas fossem aceitar, já que é praticamente uma certeza de que no último ano do curso não houvesse quase tempo para respirar, que dirá tirar uma semana de folga. Mas as duas conseguiram, e ali estavam. Eram bonitas, simpáticas e carismáticas. Logo fizeram amizade com todos, mas Nadia principalmente com Gael, o que logo soube o motivo da conversa com .
– Elas são legais.
Observou os ombros da amiga caírem em desânimo.
– Não é? Estou me sentindo péssima.
– Eu também percebi o quanto Nadia e Gael se deram bem, mas você tem que dar um voto de confiança nele, nunca fez nada que merecesse sua desconfiança.
– É verdade. - a amiga suspirou. – É só que… você sabe, o Eduardo…
– Tudo bem. Seu ex te traiu e foi um canalha. Mas nem todos os homens são assim. O Gael não é assim. Além disso, temos que concordar que ele é simpático com todo mundo.
– Mas e se elas confundirem…
– Amiga, isso é um problema delas, não é? Contanto que ele seja sempre fiel a você.
– Pare de ser tão racional! Quero falar mal delas! - riu, fazendo com que risse junto. – Mas você está certa. Só é mais forte que eu.
– Para ser sincera, você tem toda razão de se sentir assim. Houve um trauma no passado que justifica essa reação, mas não perca muito tempo pensando nisso. O Gael é uma pessoa boa e você também, e elas apenas são legais.
– Que bom que você é tão racional, amiga. E que bom que você tem esse lado humano de lidar com as pessoas, hahaha! Não aguentaria uma médica fria e calculista me tratando.
apenas jogou o travesseiro na amiga como resposta, que riu e passou a arrumar os próprios pertences no armário ao lado, até as duas serem chamadas por Tamires para irem ao mercado, ouvindo, no caminho até o automóvel, que viu que o ex-namorado estava em Angra dos Reis com a família, mas que havia visto algumas garotas diferentes no fundo dos stories no Instagram. logo tratou de mudar de assunto quando entraram no carro, pois viu que Ana não estava brincando quando disse que usaria seu réu primário com a amiga.
Os dias da viagem passaram voando. A turma, dividida entre as duas casas, revezavam festar um dia em uma casa, outro dia em outra, para que não houvesse prejuízo nenhum para nenhum dos lados. Além disso, eles gastavam boa parte do dia passeando pelas diversas praias que haviam na região e procurando as que tinham ondas boas para surfar.
achou que passaria boa parte do tempo com . Apesar dos dois serem o tipo de casal que não pareciam um casal quando estavam com os amigos, por não precisarem ficar grudados o tempo inteiro, eles só acabam ficando juntos na hora de dormir. Isso, pelo menos, os dois faziam na mesma hora, ela uma vez pensou.
E então o último dia chegou e, apesar do lindo dia que a cidade oferecia para a turma, o clima era de tensão.
– Você vai falar com ela? - perguntou para após o almoço, quando parte da casa deles ainda estava na casa vizinha, para evitarem o estresse que rolava ali.
– Mais tarde. Ela precisa ficar um pouco sozinha.
– Mas o Gael…
– Se você falar qualquer coisa para defendê-lo, nós vamos ter que discutir, . - ela o olhou séria, vendo-o logo concordar com a cabeça. Sabia que não tinha o que falar sobre o amigo que havia terminado para ficar com a quase formanda. E, apesar de não necessariamente ter traído , também não foi completamente honesto com ela, o que causou uma enorme desavença dentro do grupo, separando-os entre os que estavam do lado da garota e os que estavam do lado do amigo, este mais por companheirismo do que outra coisa.
Naquele momento, no entanto, somente , Ana e Tamires se encontravam na casa. Os demais decidiram ficar na casa ao lado fingindo que nada aconteceu, apenas para não tornar tudo mais difícil para as duas pessoas que optaram por não se trancar no quarto para chorar, como .
– Ela está lá faz uma hora. - disse.
– Ela está bem. - o respondeu. – Estou com ela no WhatsApp.
– Ah - ele limpou a garganta –, bem, a reação dela deu a entender que…
– Ela agiu daquela maneira porque ela teve a confiança dela estraçalhada mais uma vez, . Mal consigo imaginar como ela deve ter se sentido com a situação. - ela suspirou, fechando os olhos em pesar pela amiga. – E eu havia dito no começo da semana que ela não precisava se preocupar, pois Gael era uma pessoa boa.
– Ele é uma pessoa boa, . Que fez uma coisa errada, mas isso não o torta uma pessoa ruim.
– Desculpe achar o cara que humilhou minha melhor amiga na frente de todo mundo um energúmeno.
– Ele não a humilhou…
– Desculpa, - Tamires se intrometeu, chamando a atenção do casal –, mas escolher o momento em que absolutamente todo mundo está presente para falar que se apaixonou por outra pessoa é sim humilhá-la.
não respondeu. Manteve-se silencioso até decidir que era melhor voltar à casa do lado, quando disse que ele não precisava ficar ali, já que ela e as duas amigas ficariam por . Ele levou um pouco de comida para as três, que agradeceram mas acabaram não tocando em nada. Após meia hora, decidiram subir, onde encontraram ainda chorando.
– O que mais me machuca, é todo mundo achar que ele fez a coisa certa. - ela disse, entre soluços, quando Ana perguntou se ela estava melhor. – Como que fazer isso é a coisa certa?
Nenhuma das três amigas falaram nada. Sentaram ao redor da amiga, que tinha o rosto muito vermelho e inchado. Ainda sem dizer nada, se levantou e começou a fazer a mala de Gael, pois ele certamente dormiria em qualquer outro lugar da casa, e não ali. Talvez até fosse tirado do quarto. Talvez os dois trocassem com Ana e Tamires, para que as quatro passassem a última noite juntas, antes de voltarem para a vida em Santos.
Ninguém disse, porém, que Gael dormiu com Nadia na casa ao lado. Além disso, a organização dos carros mudou para que o ex-casal não fosse juntos, e trocou de lugar com no avião, para que ela fosse ao lado da amiga, e não ao lado do agora ex.
– Nós te levamos, amiga. - disse para quando a van desceu todas as malas.
– Obrigada - ela respondeu com a voz baixa, enquanto ignorava com toda tranquilidade do mundo, a presença de Gael e Nadia, que faziam sua parte em manter-se afastados da moça.
se despediu dos amigos, assim como e os dois foram para o carro do garoto, que havia deixado ali no ponto de encontro, a casa de república dos garotos. disse à amiga quando pararam em frente à casa dela, que mais tarde passaria lá para jantarem juntas. Os pais de dificilmente ficavam em casa por conta do trabalho em São Paulo.
– Como você acha que o grupo irá ficar? – perguntou para a namorada, que suspirou e ergueu os ombros. – Gael foi bem claro quando disse que não cortaria laços com ninguém.
– Acho que vai depender da . Honestamente, ele foi muito egoísta. Antes dele, ela estava no grupo, e agora ela quem vai ter que ficar se virando em aguentar ver o ex?
– Tentei conversar com ele sobre isso, mas ele estava muito confiante de que nada mudaria, se dependesse dele.
– É fácil para ele falar.
– Pois é. - suspirou e segurou na mão da namorada, puxando em direção aos lábios e depositando um beijo lá. – Acho que teremos duas festas de ano novo para ir.
– É… - suspirou também. – Mas você sabe que minha prioridade é minha amiga, não é?
– Achei que fosse eu. - ele brincou, tirando um sorriso dela.
– Sempre a primeiro.
– Claro - ele disse, irônico –, porque se não fosse por ela…
– Exato. Não estaríamos juntos. - ela sorriu. – E tem também o fato dela ser a melhor amiga do mundo para mim.
– Eu sei. Jamais faria você ter de escolher entre nós dois. Sei que me daria mal.
– Muito bem. - ela diz, fazendo-o rir. – Mas você é a segunda pessoa mais importante para mim.
– Bem, melhor do que nada. – ele ergueu os ombros, sorrindo. – Ei, que tal eu…
– Nem pensar. É o último final de semana dos meus pais. Vou passar com eles.
– Tudo bem… venho no domingo então. Jantar de despedida, não é?
– Isso mesmo, vamos pedir um japonês. - ela saiu do carro assim que ele estacionou em frente ao apartamento da família de .
O pai finalmente havia conseguido uma boa proposta para se mudar para São Paulo. Desde Jundiaí, o homem sempre teve vontade de morar na cidade, que tinha bons imóveis, se entrasse na agência certa. Após doze anos, ele recebeu uma oferta irrecusável de um cliente que havia aberto, há cinco anos, uma agência que vendia imóveis de luxo na zona sul da cidade. A mãe de , como sempre, decidiu acompanhar o pai, já que a filha estava muito bem e cursando a faculdade. Eles manteriam o apartamento da filha, que também serviria de opção de veraneio para a família. Para , nada mudaria, já que os dois desceriam a serra sempre que pudessem, uma vez que levava menos de 1 hora entre as duas cidades, para levar marmitas de comida para a filha. Os dois ficaram hesitantes sobre a mudança, porque nunca deixaram para trás, além disso, a maior preocupação com a filha, era o fato dela se esquecer de se alimentar quando estudava, o que acontecia praticamente todos os dias. e os tranquilizou, dizendo que ficariam de olho nela, mas ainda assim, os dois decidiram que, no começo, voltariam todos os finais de semana para o litoral, para levar marmitas e deixar no congelador.
2016, Janeiro
– Você é um orgulho para nós, minha filha! - a mãe de a abraçava pela décima vez naquele dia.
“Acabou.” pensou, sorridente. A primeira parte de sua vida finalmente acabou. Olhou ao redor, onde pessoas integrantes de suas duas famílias – a por parte de pai, e a de mãe – a olhavam com sorriso estampado em todos os rostos.
– A primeira médica da família! – o pai gritou, feliz, com a taça de champanhe em mãos.
“À !” Todos gritaram em coro.
Todos estavam em um dos melhores restaurantes da cidade, onde os pais de fizeram questão de fazer uma reserva para toda a família, para que todos pudessem celebrar a formatura da nova médica. A cerimônia da entrega dos diplomas havia terminado tarde, mas o dono do restaurante, que era amigo próximo dos pais, garantiu que, naquele dia, fecharia mais tarde só para eles.
Assim, ao invés de fazer com a maioria dos alunos e ir para a cobertura de Pedro, no canal 6, se despediu e disse que celebraria com a própria família, que veio de várias partes do Brasil só para comemorar com ela o grande feito. Mesmo assim, sabia que chegaria mais tarde para buscá-la e irem para a festa. achava que teria muito tempo para celebrar a formatura no baile que aconteceria no sábado, e também na churrascada que marcaram na casa de Tamires, no domingo.
– E para qual área você vai, ? - a tia perguntou.
– Ginecologia - ela respondeu com um sorriso.
– Ela sempre gostou de ficar vendo vídeos de parto.
– É, mãe, mas eu quero mesmo é ir para a área de mastologia, cuidar das mamas.
As pessoas ao redor sorriram com carinho para a garota que, ainda nova, perdeu a madrinha que tanto amava para o câncer de mama, porque ignorou os sintomas iniciais e demorou para começar um tratamento adequado. Esse foi o motivo maior de ter optado pela ginecologia obstetrícia, e não ter partido para a neurocirurgia, assunto que ela achava mais fascinante. Achava que faria mais pelas mulheres, sendo médicas delas.
A família de sempre foi harmoniosa. Apesar de morarem longe uns dos outros, estavam sempre unidos em datas comemorativas como essa. A mulher tinha muito orgulho de pertencer a um grupo familiar em que não havia brigas ou problemas como as que ouvia dos amigos. Não saberia como seria, se convivesse com pessoas violentas, egoístas ou de mau caráter.
surgiu na festa depois de uma hora. Ainda que tivesse comparecido à formatura da amiga, teve que ir visitar um cliente, pois, como dizia, uma advogada não tinha exatamente um horário útil, assim como alguns outros profissionais. Deu um lindo vaso de orquídeas para a amiga, e uma sacola que acabou sendo uma linda caneta de grife.
– Para te dar sorte. - ela disse para , que a abraçou, feliz por tê-la como amiga.
Uma hora e meia depois, a família se despedia e os funcionários do restaurante arrumavam tudo para serem liberados logo. Passava da meia-noite e todos queriam descansar, para aproveitar a praia no dia seguinte. estava livre, pois seu plantão no hospital havia acabado no dia anterior.
– Você vai no Pedro? - perguntou quando a maioria já havia ido embora. Os pais fechavam a conta com o dono do restaurante, e olhava para o celular, já que mandou uma mensagem para e ele não respondeu. Devia estar celebrando com a família ainda.
– Você quer ir? - perguntou à amiga, que hesitou em responder.
Assim como havia dito para na última viagem feita com o grupo de amigos, tudo dependeria da maneira como reagiria. A garota decidiu que era melhor se afastar, principalmente porque Nadia se mostrou uma pessoa ruim perto dela, enviando foto dos dois e estando em todo lugar que sabia que ela estaria. Com esse comportamento, as garotas do grupo não gostaram da maneira que a amiga foi tratada, muito menos o pouco caso que os amigos estavam fazendo, por isso, eles se separaram, ficando mulheres de um lado, e os homens do outro. e , por serem o único casal que ainda namorava, tinham sempre 2 lugares para ir em datas como o natal e o ano novo.
– Vamos passar lá para você cumprimentar a todos. Não é justo você não celebrar com sua turma da faculdade, só porque eu não falo mais com eles. Além disso, todo mundo vai ter a prova de que estou muito melhor sem o Gael, o que não se pode dizer o mesmo dele.
Essa era uma verdade. Após o término abrupto dos dois, decidiu cuidar de si, começando um tratamento com psicólogo e fazendo alguns procedimentos estéticos para ter o corpo que achava bonito. Achava que tudo ficaria bem, se ela estivesse bem consigo mesma, e foi exatamente o que aconteceu. Ainda que não tivesse achado, até então, uma pessoa com quem se relacionar, também não estava à procura, porque seu foco agora era na vida profissional. Havia entrado em um dos melhores escritórios de advocacia de São Paulo, que também era um dos melhores da América Latina. Tinha sempre muito trabalho, e também muitas festas.
Gael, por outro lado, ainda trilhava o árduo caminho da medicina, enquanto Nadia havia se formado, mas decidiu que queria ser influencer, o que mostrou-se ser mais difícil do que as blogueiras aparentavam ser. E então, no meio do ano anterior, ela engravidou. Foi um terror para o grupo, porque ela culpou Gael por tudo, e ao mesmo tempo, exigia diversas coisas.
– Pelo menos eles continuam juntos. - disse, sentada no lado passageiro do carro de , que riu.
– Movidos pelo ódio, mas juntos.
– Deixa de ser venenosa! - riu com a amiga. – Eles estão pensando no que é melhor para o bebê.
– Não desejo nada de mal, já passei dessa fase há algum tempo. Mas não posso evitar pensar que o mundo realmente dá voltas.
sorriu, feliz pela amiga estar bem. Depois que ela entrou no escritório, sua postura mudou para a de uma mulher mais independente e às vezes pouco altruísta. Mesmo assim, imediatamente voltava à amiga de sempre quando estavam juntas.
– E aí? Decidiu ir para São Paulo?
– Vou ficar aqui, , você sabe.
– Cara, eu não consigo te entender! - ela olhou para a amiga no momento em que o semáforo mudou para o vermelho. – Lá você vai conseguir muito mais, você passou na melhor!
não respondeu. Olhou para as ruas escuras e pouco iluminadas.
– Você não está fazendo isso por causa do , né?
– Achei que você me conhecesse melhor, .
A amiga bufou com a resposta que recebeu.
– Você sabe que um dia terá que se mudar. Se não for de cidade, vai ser de casa. Além disso, essa não é uma mudança ruim. Poxa, eu tinha certeza de que finalmente sairia daquela república e iríamos nós duas morar juntas em um apê perto da Paulista, sair para baladas após o seu plantão e eu mal dormir antes de ter que ir para o escritório.
– Caramba, que específico.
– Para você ver como eu já tinha tudo perfeitamente arquitetado para nós. - ela mudou a marcha para a quarta, andando em uma velocidade baixa, apenas porque queria mais tempo para convencer a amiga. – Ainda dá tempo de aceitar, não dá?
– Até terça que vem, mas eu não vou mudar de ideia, amiga, desculpa.
– O passou em outra?
– Não, só nessa. Mas ele está feliz, porque era exatamente a que ele queria. Era isso ou o SUS.
– E qual o problema do SUS, ele é incrível, não é?
– É, mas você não pode escolher onde quer ir. Te mandam para algum lugar e ele não quer correr esse risco, se não precisa.
– E quando vocês casam?
riu.
– Daqui a alguns anos.
– Sério? Já vai fazer 6 anos.
– Estamos muito focados na profissão.
A amiga bufou mais uma vez e não discutiu. Para ela e várias outras pessoas, os dois poderiam já ter se casado. Na verdade, nunca mencionou, mas se ela não estava casada, certamente não era por escolha própria. disse que apenas se casaria quando tivesse uma renda satisfatória. E ela não podia brigar contra isso. Ele vinha de uma família de muitos irmãos e o pouco que recebia era para pagar os fixos e não dar mais despesas para os pais.
– Você quer ficar aqui? Não vou demorar. – disse quando a amiga estacionou o carro na vaga mais próxima da portaria do apartamento de Pedro.
– Não sou tão medrosa assim, amiga. - disse, saindo também.
As duas tiveram a permissão para entrar e, ao chegar na cobertura, se depararam com uma festa barulhenta e cheia de gente. Havia muita gente conhecida, e também muita desconhecida. Elas foram cumprimentando todos que reconheciam, os olhos de em busca de , que ainda não havia respondido sua mensagem.
– Olha só quem decidiu aparecer! - Pedro gritou, claramente embriagado. – E olha! A sumida! Fiquei sabendo que está ganhando rios de dinheiro em cima dos empresários ricos.
– Eu, infelizmente, ainda não. - disse, rindo. – Mas voltemos a nos falar daqui a cinco ou seis anos.
– Escuta - interrompeu os dois –, viu o por aí?
– ? - Pedro fez uma careta. – Ei, Cocão! Viu o aí?
– Ele não tinha saído? - o cara respondeu da mesma forma que Pedro, gritando.
– Ele já não voltou? - a garota ao lado de Cocão comentou. – Vi ele faz uns vinte minutos.
apertou os lábios. No último ano, criou o hábito de exigir coisas dela e não fazer o mesmo, como avisar quando chegasse em casa ou responder às mensagens com rapidez. Ela já estava cansada do comportamento dele, e por mais que tentasse fazer o mesmo, já era um hábito seu.
– Acho que ele saiu, hein. - Pedro disse.
– De novo? - Cocão gritou. – Sei lá, vê na varanda!
suspirou e olhou para , que fez um sinal com a cabeça para ela ir em frente e procurasse o namorado. Essa era uma festa para celebrar a formatura dele também, então era normal que estivesse bêbado como Pedro.
Por ser um duplex, subiu para o segundo andar, após ver que ele não estava no primeiro. Estava para abrir a porta do primeiro quarto, quando ouviu a porta do banheiro no fundo do corredor abrir e ele sair com uma toalha enrolada na cintura.
– Oi, linda. - sorriu. – Você demorou.
– E você não me respondeu. - ela respondeu, esperando-o ir até ela. – O que aconteceu? - olhou para o corpo desnudo dele.
– Ah, o Gael deu a louca de novo por causa da Nadia, vomitou o jantar inteiro em cima de mim. Peraí que vou pegar uma roupa do Pedrão antes. - ele seguiu para o quarto do amigo e foi direto para o closet. – Por que não está bebendo?
– Vou sair com a .
– Ela está aqui?
– Claro, é minha formatura. - ela riu.
– Nossa, você quer dizer. Deveríamos passar juntos. - ele a puxou para um beijo. – Que tal uma rapidinha?
– Você nunca dá uma rapidinha, seu safado. - ela dá um tapinha nele, vendo-o sorrir. – Que tal amanhã? Ela está com Pedro e não sei o que a Nadia pode fazer se ver ela. Ela anda meio louca desde que engravidou.
– E a senhorita ginecologista não sabe dizer o porquê? - ele brincou, descendo os lábios pelo dorso de seu pescoço, enquanto erguia a barra do vestido e descia a calcinha da namorada.
– Isso, meu amor, não é uma questão ginecológica, muito menos hormonal. - ela terminou de fazer o trabalho, jogando a peça para um lado e pulando em seu colo. – Isso é trabalho para um psiquiatra, porque aquela mulher é louca.
respondeu com um murmúrio, já mal dando atenção para o que a companheira dizia. Caminhou com ela para dentro do banheiro e só saíram após vinte minutos.
O baile de formatura da turma de medicina era sempre um dos mais esperados do ano. Por ser uma turma em que nem alunos, nem pais ou responsáveis se importavam em economizar para celebrar, o evento era gigante, com artistas famosos se apresentando, e tendo duração até após o sol raiar.
estava já calçando seus chinelos quando percebeu que não havia voltado. Ela estava com as amigas dançando na pista e percebeu que fazia mais de meia hora que ele lhe havia dito que iria buscar algo para beber.
A festa já passava das três da manhã e metade da família se preparava para ir embora, enquanto a outra pedia para que ficassem mais.
A formanda se despediu de todos que precisavam descansar e ignorou a ausência do namorado, decidindo que o procuraria após a ida da família.
Eram quase quatro e meia quando ela finalmente o encontrou, bebendo com alguns amigos em um dos diversos bares espalhados pelo local.
– Foi produzir a cachaça, amor? - ela gritou para o namorado, que mostrou-se surpreso com ela. – Não esperava me ver? - ela riu, deixando que ele a puxasse pela cintura para mais perto dele.
– Desculpa, minha família decidiu ir embora e aí encontrei com uma galera. E seus pais?
– Já foram todos também. Tentei te ligar para se despedir deles, mas claro que você não atenderia. Sorte que vi seus pais antes deles irem.
– Foi mal, linda. Você já quer ir?
– Você quer?
– Só se você quiser.
Ela riu e o beijou.
– Vamos. - sussurrou com os lábios ainda grudados no dele. Imediatamente, se despediu dos amigos e puxou para fora da festa. Os dois passaram pela mesa da família dela, onde as amigas ainda estavam aproveitando os comes e bebes, e disse que iria embora.
Dentro do carro, foi surpreendida por , que reservou um quarto de hotel para os dois. Lá, o ambiente estava todo decorado com rosas e balões. Por um momento, ela achou que ele fosse pedi-la em casamento, mas era apenas sendo , um homem que a amava e mostrava, sempre que podia, o tamanho de seu amor pela namorada.
Depois dos dois passarem em suas casas para se trocar, foram direto para a festa que aconteceria na casa de Tamires. Nele estariam, além dos formandos, alunos e ex-alunos do curso.
A primeira pessoa que encontrou, foi a anfitriã e Ana, suas melhores amigas do curso. Além de terem feito o ano inteiro de cursinho juntas, passaram também próximas, todos os 6 anos de curso. Passou um tempo com as duas, enquanto se unia ao próprio grupo de amigos.
O tempo passou voando, até surgir de repente e arrastar para o quarto de Tamires, trancando a porta logo em seguida. A garota estranhou o comportamento da amiga, mas ao olhar para seu rosto, viu uma expressão apreensiva, o que só podia significar alguma coisa ruim.
– O que aconteceu? - perguntou.
– … - começou, mas parou. Mordeu o lábio, outro sinal de que o que tinha para falar não era uma boa notícia. A amiga raramente tinha papas na língua quando se tratava de falar verdades. Com uma rápida linha de raciocínio, soube que o assunto era ela.
– Eu prefiro que você vá direto ao ponto, como faz sempre. Eu aguento.
– Não acho que irá aguentar. - considerou o “ir direto ao ponto” demais, pensou. Mas preferia assim. Se fosse doer, que acontecesse rápido, para passar mais rápido. – Eu só quero dizer, que acabei de descobrir a notícia, e que estou prestes a usar meu réu primário com uma pessoa, dessa vez é de verdade.
– Nossa - ergueu as sobrancelhas –, o que Gael e Nadia fizeram dessa vez?
– Infelizmente, não foi nenhum dos dois. - a amiga olhou para a recém-formada. – Foi .
permaneceu calada olhando para a melhor amiga, que inclinou a cabeça para frente, como se exigisse uma reação.
– Você não vai dizer nada?
– Você precisa primeiro me contar o que foi que ele fez.
– Ah! Bem, desculpe, estou… bem, estou chocada ainda. É que… - ela suspirou e então se sentou na cama de Tamires, desatando a falar ininterruptamente como quando está empolgada. – Pedro me mandou uma mensagem ontem de madrugada falando que precisava conversar comigo, achei que era sobre Gael, então o ignorei, mas quando acordei hoje, ouvi o áudio que ele enviou.
Ela então mostrou o celular e, com a conversa já aberta, apertou o play no primeiro de vários áudios mandados por Pedro. O som era alto, o que significava que ele estava na festa. As duas logo puderam ouvir a voz dele:
“, caralho! Atende a porra do celular! Sei que não nos falamos a séculos, mas o que preciso falar não é sobre você ou qualquer pessoa que acabou entrando e saindo da sua vida. É sobre e . Queria poder dizer que acabei de saber, mas a verdade é que eu já sabia faz um tempo. Lembra da Andressa, a amiga da Nadia que foi com a gente para a praia no dia em que você cortou de vez laços com todo mundo? Ela e estão saindo. E, caralho! Estão saindo desde aquela época. Em uma das festas aqui em casa, no começo do ano passado, peguei os dois em um dos quartos, achei que ele estava ajudando ela, porque aquela mulher é louca, mas eles estavam transando. Transando! Fechei a porta e fingi que não vi. Pensei em ir correndo para , mas lembrei que ela estava meio puta comigo porque fizemos um trabalho juntos e acabei fazendo a apresentação meio bêbado e… enfim, isso não vem ao caso. Ela não iria me ouvir. Porque eu não tinha credibilidade para falar sobre o assunto no momento, e também porque era claro pra todo mundo que ela amava o . E então ele veio falar comigo preocupado, dizendo repetidamente que foi um erro e que amava a , que havia sido só aquela vez e que estava bêbado. Dei-lhe uma puta bronca, eu juro pelo meu diploma! Ele disse que nunca mais faria isso. E eu acreditei, porque, caralho, o é gente boa. Todo mundo ama ele. Mas então os dois começaram a sumir nas festas, e então ouvi umas paradas de que o e a Andressa estavam se encontrando na casa da Nadia. Porra, estou com isso entalado na garganta desde então. Pra ser sincero, nunca mais vi os dois se pegarem, então não tem como eu provar, mas agora, agora aqui na festa eu quero dizer, parece que a está indo embora com a família, pelo menos foi o que o disse, e então ele sumiu com a Andressa. Vi os dois. Vi com meus olhos. Eu estou bêbado, , mas não a ponto de confundir os dois. Coloquei o Gael contra a parede agora e ele disse que os dois nunca deixaram de se ver. Porra! Ele me deu um baita sermão. Para eu não me meter na relação do , que ele sabia o que fazia. Mas a não merece esse merda. Nem sei porquê estou tentando falar com você. Acho que você acreditaria em mim. Não sei aonde a está. Tem uns caras dizendo que o volta dentro de uns 40 minutos. Caralho, , estou muito puto. E não deveria nem estar, não sou próximo da . Deveria ter contado para ela naquela praia. Deveria ter contado…”
Em seguida, murmúrios e mais murmúrios de arrependimento, seguidos de palavrões foram ditas por Pedro, mas parou o áudio por ali.
– Vim direto para cá. - ela disse, enquanto olhava para o celular da amiga boquiaberta, os olhos vidrados e a respiração falha. – Não sei quem mais sabe. Na verdade, pensando bem, eu acho que deveria ter ido até o Pedro primeiro, para tirar uma satisfação…
– Chame-o. - a cortou e desviou o olhar do nada, para a amiga. – Chame o Pedro aqui.
não a questionou. Levantou silenciosamente e saiu do quarto após destrancar a porta. Durante os 15 minutos que permaneceu sozinha no quarto, conteve a vontade de chorar, assim como também manteve os punhos bem fechados, evitando acabar com o quarto de Tamires. Precisava quebrar alguma coisa. Parte de si negava. Conhecia . Ele era seu. Não era possível que ele tenha feito tamanha barbaridade por mais de um ano.
Lembrou-se de seu posicionamento quando ela esperava acalmar os nervos durante a fatídica praia. Ele tentou lhe dizer que Gael não estava completamente errado e que era uma boa pessoa. Sentiu uma lágrima escorrer ao se recordar. Além da mágoa, havia raiva. Raiva por se sentir humilhada. Raiva por ter sido feita de boba. Raiva por achar que ele era o homem da sua vida.
Ouviu o som da porta se abrir e então passos indicarem que mais de uma pessoa entrou.
– … - a voz de Pedro surgiu fraca, ao mesmo tempo que o som da porta sendo trancada surgia ao fundo.
– Sente-se e me conte. - ela olhou para o até então amigo, que engoliu seco e concordou com a cabeça. – O que ele faz aqui? - apontou com a cabeça para Cocão, que mantinha o semblante culpado no rosto.
– Ele sabe mais. - Pedro respondeu.
– E tenho provas.
permaneceu calada, ponderando se estava preparada para ver as tais provas. Ouvir a história era uma coisa, mas ter ciência de que os fatos eram verdadeiros, era uma situação completamente diferente. Estava pronta para ouvir o que Pedro tinha para dizer, mas não havia se preparado para ver o que Cocão tinha para lhe mostrar.
– Você primeiro. - ela disse para Pedro, que engoliu seco e hesitou. – Não vai me dizer que inventou essa história porque estava bêbado ontem?
– Não. - ele respondeu. – Queria ter inventado. Olha, , me desculpa. Você… bem, ninguém merece passar por essa situação...
– Vá direto ao ponto, Pedro, ela consegue aguentar! - o cortou, recebendo um olhar feio do homem, que suspirou e voltou ao assunto.
– A verdade é que na praia de 2014, antes do Gael terminar com a , nós estávamos na casa branca, só os caras, conversando na piscina.
– Quem estava?
– Eu, Gael, Jorge, Cocão, talvez o Breno. Falávamos sobre a vida, sobre o que esperar do internato, e então a conversa ficou séria.
“O Jorge estava pensando em pedir a namorada em casamento e daí surgiu o assunto. Foi quando o Gael disse sobre a Nadia. Que tava louco por ela, que havia uma química. E então o Jorge o julgou, porque ele é todo religioso, dizendo que traição é pecado e tudo mais. O resto de nós ficamos só observando, achando graça, porque é o que nós fazemos. E aí o Gael soltou uma de que ele pelo menos valia mais que o , que transava com a Andressa desde o primeiro dia. Falamos pra ele parar de beber, porque a viagem tava indo em uma direção perigosa, mas ele continuou. Abriu a boca mesmo. Disse que ele e ela já se conheciam de um estágio que ele fez na clínica que ela estava participando no internato, e que ela ajudou ele pra caralho. E rolou um lance sexual entre os dois, mas que o não deixou acontecer porque tinha você. Só que na praia foi mais intenso. No primeiro dia, quando vocês foram no mercado, os dois sumiram por uns 40 minutos. O Gael disse que estavam transando no quarto, e assim foi enquanto iam buscar carvão ou qualquer coisa no mercado.”
amaldiçoou sua boa memória. Lembrou-se de todas as vezes que se manteve longe de . De como em nenhum dos 7 dias, ele a tocou como costumava fazer quando queria transar. Achou que por estarem dividindo o quarto com outras pessoas, ele não faria, mas ele fazia, sim, na presença de outros. A tocava como um sinal de que terminariam transando enquanto assistiam a um filme na casa de alguém, ou quando iam a alguma festa. E, naquela praia, não houve toque. Não houve tentativa. Não houve nada, apenas o homem romântico que ele sempre foi quando não estava com um apetite sexual em alta.
– Honestamente, não acreditei no Gael. estava agindo como ele mesmo e praticamente sempre ao seu lado. Achei que foi só um papo para a gente não julgar a cagada que ele iria aprontar. Mas aí rolou a minha festa de final de ano e eu peguei os dois no quarto de hóspedes da minha casa. Eu vi os dois transando. E então o me levou pra um canto com a maior cara de arrependido e mostrou-se desesperado. Repetia toda hora que amava você, que não conseguia ver o futuro sem você do lado dele. Fiquei quieto esperando ele chegar a uma conclusão. E aí ele me pediu para não te contar. Falei que não queria me meter nesse rolo, mas que você era gente boa e não merecia esse tratamento. Ele concordou, disse que pensaria no assunto. Que não aconteceria mais.
– Mas aconteceu. - Cocão disse ao lado de Pedro. – E não foram poucas vezes. Em algumas festas, principalmente as da república, perguntava para ele onde você tava e ele dizia que você estava estudando. Antes que qualquer um perguntasse, ele já emendava com a informação de que você sabia que ele estava lá, e estava tudo bem com isso.
“Tudo bem se eu for?”
Quantas vezes ele lhe perguntou isso pelas mensagens? Quantas vezes ela sorria, achando adorável ele se preocupar com a opinião dela, quando só pesquisava o território para não ser pego. Por isso ficava bravo quando ela não lhe respondia ou dizia aonde ia.
– Quais são as provas?
Cocão suspirou. Tirou o celular do bolso e mostrou um vídeo. reconheceu a república onde metade dos garotos da turma moraram até então. As imagens mostravam uma festa comum, e então, ao fundo, e Andressa entre beijos. Beijos quentes. Durante os 40 segundos de vídeo, viu com clareza a traição de seu namorado. O homem que achava ser o seu primeiro e único. A quem confiava a vida.
– A Andressa é uma maluca. Ela mandou prints da conversa dos dois e também fotos deles em quartos de motel para a turma do internato. Estou saindo com uma garota, a Carol. Ela é uma turma depois da de Andressa, mas disse que muita gente sabe sobre os dois, porque a louca envia sempre fotos e vídeos deles saindo juntos para diversos lugares.
– Quem sabe? – perguntou.
– Muita gente.
– Fale os que a gente conhece.
– Bem… praticamente todos os caras daqui. - apontou para o andar de baixo.
– E por que diabos ninguém falou para a ? - gritou. – Caralho, Cocão!
– Eu realmente não tinha certeza. E também não tinha provas! - Pedro falou mais alto, em desespero. Pelo silêncio do outro, soube que era porque eles não eram próximos. Cocão era melhor amigo de infância de Pedro, participava da roda por conta disso, mas nunca foi nada mais próximo, principalmente das garotas. – Desculpa, , de verdade.
– Eu preciso ficar sozinha.
– …
– Agora. - ela disse decidida, vendo os três se entreolharem e então saírem do quarto silenciosamente, fechando a porta logo em seguida.
Então permitiu-se desmoronar. Chorou copiosamente, da maneira mais silenciosa que conseguiu. Permaneceu ali durante quarenta minutos inteiros, até recuperar-se. Não podia ficar naquele lugar. Não queria ter de enfrentar , o homem que ela amava. Que droga, ela ainda o amava. Talvez seja por isso que se afastou de todos naquela época. Porque não deixa de amar uma pessoa somente porque ela a traiu. A dor é maior justamente porque o amor está ali.
Olhou-se no espelho do quarto de Tamires e, após 10 minutos, decidiu que não tinha o que fazer sobre a cara inchada, mas pelo menos os olhos já não estavam tão vermelhos.
Ao abrir a porta, deu de cara com . Teve vontade de chorar mais uma vez, pois somente a amiga para ficar de guarda ali, enquanto ela se desmanchava dentro de sua própria dor.
– Você está bem?
– Não.
– Vai ficar. - ela abraçou , dando-lhe carinhosos tapinhas nas costas. – Você vai ficar ótima.
– Obrigada.
– Pelo quê, sua louca?
sorriu para , apertando a mão da amiga.
– Por ter vindo imediatamente para mim, me contar.
Ela não lhe respondeu, apenas abriu um pequeno sorriso de quem desejava força. Porque ela já havia passado por aquilo. Duas vezes. E sabia que era uma dor absurda. Não era só um namorado que perdia, era um companheiro, um futuro, um sonho, uma experiência. Precisava de tempo para absorver tudo e então deixar a angústia e a dor irem embora. Havia um bom caminho para a amiga percorrer, mas ela estaria ali, assim como esteve quando aconteceu com ela.
As duas caminharam para o primeiro andar, onde a festa acontecia como se nada tivesse acontecido. Tamires e Ana logo se aproximaram para perguntar se estava tudo bem, se ela queria algum remédio. logo entendeu que provavelmente disse que ela passava mal dentro do quarto, e preferia ficar sozinha até a dor passar.
– Você fala para elas, eu tenho que resolver tudo. - disse a , que concordou.
– Vamos lá para fora. Não podemos falar sobre isso aqui. - e então as duas seguiram, preocupadas e curiosas, a amiga para a rua, onde não havia ninguém senão carros passando vez ou outra.
foi para o lado oposto, até o fundo da casa, onde a música do samba tocava alto e as pessoas conversavam e riam alto. Ao passar pela porta, sentiu o estômago vibrar ao ouvir a gargalhada de . Viu Pedro e Cocão a olharem e saírem de perto.
– Se você precisar… - Pedro apontou para um canto, mostrando onde ficaria.
A moça não lhe respondeu, apenas olhou para , que ao vê-la, abriu um sorriso que até horas atrás ela achava que era tudo para si.
– Precisamos conversar.
– Ei, o que acha de irmos conhecer Ilhabela? O Jorge está dizendo que foi para lá pedir a namorada em casamento e que é…
– Precisamos conversar. - ela repetiu, séria, fazendo-o parar e falar e olhá-la com mais curiosidade.
– Aconteceu alguma coisa?
– Vamos embora. - e deu-lhes as costas para se afastar, mas ele segurou seu braço.
– Mas a festa ainda não acabou.
– - ela se virou para o namorado, que deu um passo para trás após ver a expressão em seu rosto –, você quer que eu termine com você na frente de todo mundo ou em particular?
– C-como… - o rapaz gaguejou, mas deixou o copo que segurava para Gael pegar, e seguiu para a rua, ignorando todo mundo que o chamava. – …
– Nós vamos nos falar só quando sairmos daqui.
E então, quando saíram da casa, Ana e Tamires estavam juntas de , as caras fechadas, os braços cruzados, e prontas para acabar com a raça de .
– Você não presta, . - Tamires tomou a iniciativa.
– Assim, gratuito? - ele perguntou. – O que está acontecendo?
– Me diga você, , o que está acontecendo? - virou-se para ele, explodindo em raiva. – Por que, de repente, após a melhor noite da minha vida, metade da minha rede de contatos me aborda com fotos, vídeos e histórias suas com a Andressa? Por quê?
E então o homem se calou. Poderia ser o choque, mas as quatro amigas sabiam que dentro de sua cabeça, ele se perguntava quem havia lhe dedurado.
– , vamos conversar. Eu posso explicar, não é tudo isso o que...
– Pare de ser hipócrita! - ela lhe deu um tapa. – Pare! Seja honesto uma vez, , uma só vez! Vídeos. Fotos. Prints de mensagens. Você acha que eu sou o quê? - e deu outro tapa em seu peitoral. – Sua querida amante fez questão de espalhar para a cidade inteira!
– É mentira! , é óbvio que…
– Caralho, hein, . - interveio. – Você vai mesmo mentir na frente de uma advogada? Ta todo mundo com a foto de vocês dois pelados em tudo quanto é motel da região.
– É pedir muito para você me respeitar pelo menos uma vez? – perguntou, a raiva aumentando assim que sentiu uma lágrima cair sem sua permissão. – O que foi que eu te fiz? Por que você fez isso comigo? Eu quero entender o motivo que…
passou as mãos pelos cabelos, desesperado. Abriu e fechou a boca diversas vezes. mostrou-lhe, nesse meio tempo, todo o conteúdo que Cocão tinha em seu celular, que foi enviado pelo atual rolo, que pediu aos demais contatos. E então, ao ver nos olhos do homem que não havia mais escolha, ela e as duas amigas deixaram os dois sozinhos na rua.
– Eu só posso dizer que não foi você, . E eu não sei porque exatamente eu fazia... Eu só… gostava da adrenalina. Ao mesmo tempo, tinha medo de te perder. Porque você é uma mulher para a vida, . Qualquer um que me pergunte com quem quero passar o resto da minha vida, não hesito um segundo em dizer o seu nome. Eu amo você como nunca amei mais ninguém. Mas realmente não consigo explicar o motivo para eu… me desculpa, pelo amor de Deus, . Se você quiser espaço, eu…
– Eu quero você longe de mim, .
– , por favor, não faça isso…
– . Se você me tocar, eu juro que grito. - ela disse entredentes, vendo-o dar um passo para longe. – A raiva que estou sentindo… você… tudo para mim foi uma mentira.
– Não! Não foi uma mentira, , eu amo você!
– Não, , não ama. Você pode achar que ama, mas você só ama a si mesmo. Uma pessoa que faz isso o que você fez… você é egoísta. Você viu minha reação quando aconteceu com a . Foi divertido me ver nervosa, quando estava ignorante ao fato de que você fez pior?
O homem abriu a boca e pediu que ela não pensasse dessa maneira. Mas a raiva fazia querer bater nele a ponto de ser presa. A ponto de ele precisar entrar em salas de cirurgia dezenas de vezes para consertar o corpo deformado. Porque era exatamente dessa maneira que ele tratou seu coração. Como lixo.
– Eu vou dizer uma vez, porque é tudo o que posso fazer por você. - ela olhou bem nos olhos dele. – Você vai sumir da minha vida. E você não vai ousar tentar contato comigo pelos próximos anos. E se um dia eu quiser falar com você, eu tomarei a iniciativa. E você não vai mais falar sobre mim. Porque você não tem o direito. Você não tem o direito de nada!
– , por favor…
– Por favor? Por favor é o que você deveria ter implorado quando transou com a Andressa pela primeira vez naquela praia! Agora você não vai falar mais nada, porque não importa o quanto tente, pra mim você morreu, .
E sem dizer mais nada, virou as costas e foi embora. Embora da vida de , e também da vida que ela achava que seria a dela.
2020, Dezembro
– Doutora, a Paula Soares já está aguardando.
– Pode pedir para entrar, obrigada, Sara.
olhou para o computador onde havia a ficha com os dados do acompanhamento médico da paciente. O som da porta de correr soou quando a mulher com um brilho nos olhos entrou. Imediatamente a médica se levantou e foi até a moça, que abriu um enorme sorriso ao lado do marido.
– Boa tarde, doutora!
– Como vão mamãe e filhinho? - ela sorriu para a moça, que imediatamente sentiu-se acolhida, como sempre foi desde sua primeira consulta. O marido, sorridente e calado, sentou-se ao lado da esposa e respondeu à pergunta da médica sobre o estado de saúde. No entanto, toda a atenção não demorou a se voltar para o personagem principal daquele consultório. Allan estava com seis meses e evoluindo bem, assim como a mãe não enfrentava nenhuma dificuldade além das comuns para as mães de primeira viagem.
– Caramba, quantas consultas você teve hoje? São quase onze horas!
– Eu só precisei passar no quarto de algumas mães de cesárea. Como a doutora Solange não pode vir, tive que cobrir os pacientes dela, então mal tive tempo de comer.
– E eu achando que você ficaria mais livre ao terminar a residência.
riu do comentário de . Era claro que as coisas estavam apenas começando. Apesar de ter terminado a residência há um ano e já pensasse em ingressar em mastologia, sua superior orientou para que aguardasse dois anos e utilizasse esse trabalhando na equipe do hospital.
As duas moravam juntas em São Paulo. Enquanto trabalhava no mesmo escritório de quando se formou, na Avenida Brigadeiro Faria Lima, passava praticamente o dia inteiro em um hospital no Morumbi. A vida das duas, no primeiro ano de na cidade, era como imaginou: cheio de festas, noites mal dormidas e dores de cabeça por conta das ressacas.
Os pais de não discutiram quando a filha anunciou que preferia morar com a amiga, mesmo tendo um quarto enorme para ela na residência deles. Ambos sabiam que precisava se recuperar do término com o ex-namorado, que apesar de não saberem o que aconteceu, desconfiavam que não havia sido amigável, já que a filha disse que o rapaz nunca mais apareceria na frente de nenhum deles, se fosse inteligente como se achava. Assim, o pai de achou um ótimo apartamento para as duas dividirem, com um quarto a mais para as vezes que os pais de quisessem pousar na cidade.
– E você? Quando vai casar?
– Deus me livre! Se for por mim, nunquinha! - exclamou. Ela namorava a dois anos um homem que conheceu em uma das festas da firma. Era um cliente importante que quis se aproximar dela, mesmo a moça fugindo com todas as forças. Porém, no final das contas, ela cedeu, pois ele era extremamente charmoso. – Ele também não quer, então é perfeito!
A médica sorriu em ver a amiga finalmente em uma relação que achava ser a ideal para si. Após anos fugindo de relacionamentos, finalmente tinha uma vida amorosa saudável, que a fazia sorrir na maior parte do tempo, já que o homem era divorciado e tinha uma filha com quem dividir a atenção. Ainda assim, ela se dava bem com a menina, que, de acordo com , a adorava.
– E você? Como vai?
– Trabalhando?
– Idiota! - elas riram. – Ninguém de interessante?
– Amiga, eu sou G.O. Convivo com mulheres a maior parte do tempo.
– Bem, e a outra parte?
tacou um pedaço de pão que ia colocar na boca, em direção à amiga, fazendo esta rir. Entretanto, não respondeu mais nada, o que foi o suficiente para a outra gritar, animada.
– Quem? Quando? Aonde?
– O nome dele é Leandro. Entrou esses dias na equipe. É cerca de três anos mais velho, veio de Ribeirão Preto. Estamos trocando mensagens.
– Trocando mensagens? - riu. – Tá bom!
– É verdade! - exclamou. – Ainda estamos nos conhecendo.
Mas a verdade real era que não se sentia atraída por Leandro, mesmo ele sendo um colírio para os olhos de qualquer pessoa. Era um homem trabalhador, bom no que fazia, simpático e, pelos rumores vindos do hospital em que estava até então, muito fiel. Mas ela não estava interessada. A marca que deixou só há pouco cicatrizou e ela queria aproveitar a liberdade que essa sensação lhe trazia. Sentia-se feliz por ter superado tudo, não sentindo mais remorso nas vezes que se pegava lembrando de toda a situação. Agora, ela admitia que sentiu-se mal, sim, mas que era coisa do passado.
E agora ela sabia que encontraria um novo amor. Talvez não no momento, mas mais para frente. E então ele será seu verdadeiro número um. O primeiro a realmente merecer o seu amor e o seu futuro.