Olhos Na Escuridão

Escrito por Sabrina Pires | Revisado por Mah

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Prólogo

  Se você pensa que essa é uma história comum, estás enganada. Essa é uma história de amor diferente. Amor entre uma garota e os livros.
  Como você se sentiria se acordasse um dia e não pudesse mais ler?

Capítulo 1

  Minha mãe conta que quando eu era apenas uma menininha, sempre fora apaixonada pelas letras, ficava horas e horas brincando com o alfabeto de E.V.A., que ganhara de presente de aniversário de uma das crianças que morava no mesmo prédio que eu. Mesmo sem entender o que eram letras, palavras ou sequer frases, eu já as construía a meu modo, com os meus significados.
  Os anos foram passando e eu continuava a brincar com aquele mesmo alfabeto surrado, algumas letras estavam um pouco destruídas, mas ele continuava sendo meu brinquedo favorito. Começava a entender o significado das palavras, mamãe lia todas as noites pra mim os mais diversos contos de fadas. Em noites de tempestade, contava-me histórias de terror inventadas por ela, ou lendas urbanas que me faziam ficar a noite toda acordada.
  Aos cinco anos, quando já sabia ler praticamente tudo, ganhei meu primeiro livro. Foi o conto “A Bela Adormecida”, minha mãe já havia me contado a história quando eu era menor. Minha felicidade foi tão grande ao abrir o embrulho e ver o livro novinho em folha, com uma dedicatória de minha mãe na capa, que minha primeira reação foi cheirá-lo. Até hoje me lembro do quão emocionante foi esse ato.
  Sempre que podia pedia para minha mãe comprar livros pra mim. Desde que me entendo por gente, eu sempre tivera o sonho de ter uma biblioteca somente para mim. Quando completei 15 anos, já com uma quantidade considerável de livros, meus pais me deram a tão sonhada biblioteca. Transformaram o antigo quarto do meu irmão que se casou um ano antes num espaço somente para mim, e tudo escondido, apenas descobri no dia do meu aniversário. Eu apenas havia notado a falta dos meus livros no meu quarto.
  Hoje, com 21 anos, tenho cerca de 500 livros na minha biblioteca. Ler se tornou um vício desde meus cinco anos quando ganhei um livro. Você deve estar se perguntando se eu li todos os livros que há na biblioteca, certo? E eu lhe respondo: li todos eles. Até mesmo os que eu não gostei, que foram um sofrimento para ler.
  Os amantes do livros devem estar achando que minha história é um sonho. No entanto, não é.

Capítulo 2

  Há mais ou menos dois meses, estou correndo atrás de oftalmologistas para poder continuar admirando e me encantando com os livros. Descobri que tenho uma doença chamada catarata.
  O oftalmologista explicou que a Catarata é uma patologia que consiste na opacidade do cristalino ou de sua cápsula. Ela é uma doença oriunda de vários fatores como: traumatismos, idade, diabetes, uso de medicamentos. O primeiro sintoma é a visão turva e depois a cegueira progressiva.
Não consegui descobrir ainda o motivo do aparecimento desta doença, mas ela também pode ser hereditária.
  Desde então, não tenho conseguido me concentrar mais em minhas leituras, pois a catarata já está em um grau avançado e nem mesmos os óculos que o ‘oculista’ mandou que fizesse me ajudam. Cinco minutos de leitura, indicam dois dias com dor de cabeça forte.
  Meus dias estão sendo cinzentos, pois minha maior paixão é ler, e eu não estou podendo desfrutá-la.
  Quando descobri que eu posso não voltar a ler mais, fiquei desesperada. Eu não sei viver sem meus livros. Passei três dias trancada na biblioteca, chorando. Podem achar que isso é besteira, mas minha paixão por livros é como outra paixão qualquer.
  Qual garota nunca chorou por um garoto, por quem era apaixonada? Ou pelo término de um namoro? Qual criança nunca chorou por perder um brinquedo do qual não vivia sem? Meus livros são minha vida. Não há palavras que possam explicar amor tão grande. Já me perguntaram uma vez o motivo de amor tão intenso pela leitura. E eu lhes respondi:
  - Não há como explicar. Um livro é uma história diferente. Me transporto para o lugar onde a história se passa, faço parte da vida da personagem, vivo intensamente cada sentimento que ela vive. Sorrio quando ela sorri, choro juntamente com ela, vivo cada aventura, cada sonho. E assim são os livros para a minha vida. Um sonho, uma vida que posso viver em um mundo totalmente diferente, sem precisar sair de algum lugar. – e em meu rosto surgia um sorriso.
  Meu sonho era poder levar essa paixão por livros para as crianças que não têm a oportunidade de ter contato com livros. Estava tudo pronto para eu poder fundar a minha ONG para as crianças do Lar D’avilla, onde haveria uma biblioteca e duas vezes na semana haveria contação de história para as crianças pequenas que ainda não aprenderam a ler, e para aquelas que o sabem. Mas como irei ler para elas?
  Meus dias têm se passado assim, aproveitando o curto tempo que consigo ler. No momento estou lendo O Diário de Anne Frank, esse foi o primeiro livro que comprei com meu dinheiro. Já o havia lido, e com tanta dificuldade que tenho encontrado nesse momento de sofrimento, encontrei acalento na história que é contadas nas páginas deste livro.
  “Quando escrevo, sinto um alívio, a minha dor desaparece, a coragem volta. Mas pergunto-me: escreverei alguma vez coisa de importância?"
  – O Diário de Anne Frank.

  Assim como para Anne era um alívio fugir de seu mundo escrevendo, para mim é com a leitura. Essa garota de apenas 13 anos, nas páginas de seu livro, me ensinou a ser forte e a lutar por tudo o que eu quero.
  E neste momento é lutar para não perder minha visão.

Capítulo 3

Seis meses depois.

  - Querido, tenho achado a tão triste esses últimos meses. – Minha mãe estava provavelmente sentada na mesa, e o meu pai em sua frente.
  - Vida, não é pra menos. A vida de nossa pequena era ler. – Ele diz, sua voz parece cansada. – Faz três meses que não a vejo com um livro na mão.
  - Me corta o coração vê-la assim. Não há mais a alegria, o sorriso em seu rosto. Apenas tristeza. Queria poder fazer algo por ela. – ela respira fundo, seus olhos provavelmente cansados, parecem olhar na direção para onde eu me encontro – escondida - continuando – me sinto tão impotente diante dessa dificuldade que estamos passando.
  - Calma querida, isso vai passar. Basta termos fé em Deus, ele sabe o que é melhor para nossa pequena. – Eu escutei uma voz, que parecia ser a da cadeira que a minha mãe estava sentada, e depois do silêncio. Acho que eles estavam se abraçando.
  Voltei para a minha biblioteca, encontro um pouco de dificuldade, pois consigo enxergar apenas vultos, o que me ajuda é saber onde os móveis da casa estão postos, porém, ainda esbarro com frequência nos mesmos. Sentei-me ao chão e fechei os olhos pensando no que acabara de ouvir.
  Sabe, aquela sensação de querer fazer algo para não ver as pessoas que você mais ama tristes, mas... Não saber o que fazer? Estou assim, preferia mil vezes estar morta a ouvir minha mãe e meu pai tendo conversas desse tipo. Fico imaginando quantas vezes minha mãe já chorou por minha culpa, e isso me agonia, eu queria poder tirar toda essa tristeza deles.
  Ouço os passos de minha mãe se aproximando, passos mansos, mas firmes. Ela bate na porta abrindo uma fresta, viro minha cabeça em sua direção, e falo:
  - Oi, mãe.
  - Pequena, venha comer, o almoço está na mesa. – Ela diz estendendo-me o braço para que eu pudesse chegar à mesa com mais facilidade.
  Nos últimos meses minha visão diminui drasticamente. Tentei usar a ‘vara’ para saber onde não há móveis ou qualquer coisa que eu possa esbarrar. Meus pais afastaram os móveis para facilitar o meu transitar dentro de casa, mas, mesmo assim, em alguns momentos ainda acontecem pequenos acidentes.
  Já corremos em diversos oftalmologistas, mas nenhum garante que eu voltarei a enxergar com a cirurgia. Minha mãe já não sabe mais o que fazer. Tenta de todas as maneiras possíveis fazer com que eu saia de casa, para dar uma volta, me divertir, no entanto, não quero receber nem minhas amigas. A única que ainda converso é a Caliane, que insiste muito para que eu a atenda. Fora isso, ninguém. Passo a maior parte do tempo em minha biblioteca.
  Minha mãe já me viu várias vezes sentada ao chão, abraçada com algum de meus livros, chorando. Corta-lhe o coração, mas ela tem feito tudo o que está ao seu alcance para que eu me sinta à vontade e bem.

xx

  - Filha, tenho uma surpresa para você depois. – minha mãe falou com um sorriso no rosto.
  - O que é, mãe? – digo melancólica. – O Doutor disse que vou poder fazer a cirurgia e garantiu que voltarei a enxergar e poder ler novamente? – Questionei com um leve sorriso nos lábios em esperança que essa fosse a verdade.
  - Infelizmente, ele ainda não garantiu isso. – Rosalinda falou triste. – Mas, ainda sim, acho que vais gostar da surpresa.
  Após jantarmos, fui escovar os dentes e como de costume me dirigi à biblioteca, minha mãe ficou por alguns segundos observando-me me esgueirar pela casa. Um esbarrão, um segundo de pausa em meu caminho e depois continuo meu trajeto, tão familiar a meus pés. Minha mãe não conseguiu conter as lágrimas. Lavou a louça da janta, ao terminar antes de ir para a biblioteca, meu pai a interrompeu em seu trajeto, abraçando-lhe e depositando um leve beijo em seus lábios. Olhando em seus olhos, ele disse:
  - Amor, não chore, isso não é bom para você, nem para . – Enxuga carinhosamente os olhos de minha mãe.
  - Farei o possível para ser, amor. – Ela diz forçando um sorriso. E toma seu rumo para a biblioteca.
  - Com licença, pequena. – Falou, entrando em meu canto.
  - Entra mãe. – Digo sorrindo fracamente em sua direção.
  - Filha, eu sei o quanto você ama a leitura. – Ela respira fundo, e continua: - Sei também o quanto isso tudo tem sido difícil para você. Hoje passei em frente à biblioteca e vi um livro novo para você.
  - Mas mãe... – Começo a dizer, ela já sabia quais palavras sairiam de meus lábios, respirei fundo segurando as lágrimas.
  - Calma, pequena. – Sorriso – eu sei que ias me dizer que não consegues ler. A surpresa é que comprei duas edições. Um, mandei ‘traduzir’ para braille, e o outro começarei a ler para você, assim como fazia quando eras apenas uma garotinha.
  - Mãe, não sei nem o que lhe falar. – Digo sorrindo, minha mãe sentiu seu coração acelerar em me ver depois de tanto tempo, sorrindo, feliz. Levantou-me e a abracei forte. – Mas mãe, eu não sei braile!
  - Bom, tenho outra surpresa. Onde mandei que traduzissem o livro havia indicação de professores. – Minha mãe não conseguia conter tamanha felicidade em me ver feliz e ansiosa. – Seu professor se chama , e suas aulas começam amanhã!

Capítulo 4

  A campainha toca, ouço minha mãe caminhando até a porta para ver quem era. Ela conversa com alguém e passos seguem em direção para a biblioteca onde eu me encontrava sentada desde cedo com algum dos meus livros que eu já não conseguia mais ler.
  Minha mãe bate na porta e abre uma fresta, dizendo:
  - Filha, seu professor de Braile chegou. – Levantei e segui em direção a minha mãe para receber ele que eu sabia se chamar .
  - Oi. – Falei, com um misto de frustração e timidez.
  - Oi . – Ele disse, aproximando-se de mim. Continuou: - Primeira lição. – Ele disse pegando minhas mãos de leve levando-as a seu rosto. – Agora é assim que você irá conhecer as pessoas. Diga-me, como achas que eu sou? – Senti que ele sorria.
  - Não sei, não consigo imaginar. – Falei triste.
  - Eu sei que você é apaixonada por livros. Responda-me, como é que você vê os protagonistas do livro? – Ele disse calmamente, e como minhas mãos ainda estavam em seus rosto com as dele em cima das minhas, senti que ele ainda sorria.
  - Eu imagino. – Respondi.
  - Então, use sua imaginação, como se eu fosse o personagem em um livro que estavas lendo.
  - Ok, tentarei. – Eu disse com um pequeno sorriso nos lábios. Antes que eu continuasse, ele disse:
  - Ok, você fará da seguinte maneira: – Senti que ele fechou os olhos e levou sua mão ao meu rosto. – Você irá tocar meu rosto e descrever o que sentes e como achas que eu sou. Assim. – ele disse e senti que ele percorria suas mãos levemente em meu rosto, descrevendo-o.
  - Entendi. – Falei, alargando ainda mais meu sorriso. Acho que vou gostar do . Deslizei minhas mãos por seu rosto, e uma alegria foi surgindo em meu coração que há tanto tempo só via tristeza e lamentações. Eu estava novamente começando a conhecer o mundo a partir de uma nova perspectiva. – , você tem mais ou menos a minha altura, percebo isso, pois não necessito erguer muito o braço para sentir seus cabelos macios. – Deslizei minhas mãos sentindo os detalhes de seu rosto. – Olhos grandes, lábios fartos e macios, nariz médio, sua pele é macia, sem muitas marcas. Somente algumas marcas de expressão quando você sorri, mas nada que o impeça de ser bonito. – Senti minhas bochechas corarem.
  - Parabéns, você passou no primeiro teste. – Ele sorria. – É assim que você irá descobrir o mundo, através de suas mãos. Elas serão seus olhos e lhe mostrarão tudo o que não consegues ver.
  - E como farei para ler? – Perguntei diretamente, pois minha expectativa está nisto. Voltar a ler. Poder voltar a entrar no mundo de onde eu jamais deveria ter saído. O mundo da leitura, minha vida.
  Minha expectativa era tão grande que quase não me contive em gritar para saber se ele me ouvia. Porém, o fiz. Esperei tamborilando os dedos na mesa onde nos encontrávamos sentados agora.
  - Bom, antes de realmente começar a lhe ensinar a lidar com o braile – Ele sorria, falando com uma paixão tão grande sobre o assunto que a cada segunda meu coração acelerava. Pode parecer estranho, mas saber que é com ele que aprenderei a ler, que eu não consigo explicar como estou me sentindo, é uma alegria com uma mistura de medo. – Vamos começar aprendendo de onde ele veio, como surgiu. Vamos ver um pouquinho da história.
  - Entendi. - Eu disse com um sorriso nos lábios. Fazia tanto tempo que eu não sorria dessa maneira que eu mesma fiquei surpresa.
  - Pronta para começar? – Ele disse, batendo de leve com a sua mão na minha.

Capítulo 5

No outro dia

  - Oi, senhora Rosalinda. – cumprimenta minha mãe entrando na porta.
  - Oi , fique à vontade. – Minha mãe disse apertando-lhe a mão em cumprimento. – A está ansiosa esperando essa aula. – Minha mãe tinha que me entregar.
  - Que bom, fico muito feliz quando meus alunos ficam ansiosos para aprender coisas novas. – Eles vieram conversando até a biblioteca, onde meu pai havia instalado uma mesa e duas cadeiras para que pudesse estudar sem ser incomodada.
  - Oi, . – Ele me cumprimentou, me assustando.
  - Oi, . Você me assustou. – Falo, levantando e caminhando em sua direção. – E, por favor, me chame de .
  - Sim, senhorita . – Ele disse sorrindo levemente. – Pronta para começar nossa aula de hoje? Soube que você está ansiosa para isso.
  - Não acredito que minha mãe lhe contou isso. – Falo, sentindo minhas bochechas esquentarem, e aposto que elas ficaram rosadas. – Com certeza estou pronta. Venha, sente-se. – Pego em sua mão o levando até a mesa onde eu estava sentada folheando um livro.
  - Vejo que estavas com um livro em mãos. – Ele fala pegando o livro na mão observando o título “Um Amor para Recordar”. – Ótima escolha, a história de Jamie Sullivan e Landon Carter, linda história.
  - Sim, realmente muito linda. – Eu disse, sorrindo melancolicamente, pois fazia tanto tempo que eu havia lido que ouvir em falar em leitura me deixava depressiva. – Mas vamos à aula? Estou curiosa pra saber o que você preparou para mim.
  - Ok, é pra já. – disse sentando-se ao meu lado. O ouvi remexendo em algumas folhas. – Ah, antes que eu esqueça, trouxe um presente para você. Bom, na verdade é um presente da sua mãe.
  - Eu não acredito que já ficou pronto. – Eu falo virando-me em sua direção, meu coração acelerou, meu livro novo. – Não vejo a hora de poder lê-lo sozinha. Minha mãe comprou-o e está lendo pra mim, mas não é a mesma coisa de eu poder me sentar em um canto qualquer da minha biblioteca e poder ler, sem ser perturbada por ninguém, poder ler e reler um capítulo que eu tenha gostado ou tenha tido dificuldades para entender. Não tem a mesma magia.
  - Eu consigo sentir o amor que tens pelos livros, e isso me emociona. Pois hoje em dia, os jovens estão tão ligados às tecnologias, jogos, baladas. É tanta futilidade. Enfim, vamos deixar de enrolar e começar logo nossa aula. – Ele disse com um riso suave.
  - Vamos. – Eu falo, guardando em minha mente as palavras dele “Eu consigo sentir o amor que tens pelos livros, e isso me emociona”.
  - Bom, como eu já havia lhe dito ontem, nossa primeira aula será sobre o contexto histórico. Como surgiu, em que época surgiu, em que local, o “pai” do Braille. – Percebia em seu tom de voz o quanto ele era apaixonado por sua profissão, professor.
  - Uhum, estou pronta para ouvi-lo. – Eu disse sorrindo. Eu estava muito feliz, pois hoje começaria a reaprender a ler.
  - Ok, vamos lá. O Braile é um sistema de leitura feito através das mãos, tato, por pessoas cegas ou com baixíssima visão. Foi Louis Braille no ano de 1827, em Paris, que o inventou. Louis perdeu a visão quando tinha três anos de idade, e quatro anos mais tarde ele ingressou em um instituto para cegos em Paris. Quando completou seus dezoito anos, ele se tornou professor do instituto. – Ele riu divertido.
  - Que foi? – Pergunto preocupada, será que eu havia feito alguma besteira sem perceber?
  - Nada. É que você está tão concentrada no que estou falando. Nenhum dos meus alunos, até hoje, demonstrou tanto interesse quanto você pelas aulas. – Mesmo sem vê-lo, eu sabia que ele sorria. – É... é muito gratificante ver e ensinar as pessoas quando elas demonstram dedicação e interesse pelo que você ensina.
  - Tenho certeza que nenhum de seus alunos era apaixonado por livros como eu sou. Ninguém tinha um sonho de se tornar alguém na vida. Não tinha o sonho de abrir uma ONG para levar livros e contar histórias para crianças carentes. Ninguém é como eu sou. E tenho certeza que jamais existirá alguém como eu, com os mesmo sonhos e os mesmos ideais.
  - Com certeza não existirá. – Ele disse afagando meu ombro. – Onde paramos... ahn...
  - Estavas falando sobre Louis Braile, que aos dezoito anos tornou-se professor no instituto em que estudou.
  - Isso, que ótima aluna você é. – Ele riu levemente. – Então, em 1827 Louis ouvir falar de um sistema de pontos e buracos que fora inventado por um oficial para que fosse possível ler mensagens durante a noite onde seria muito perigoso acender as luzes. Fazendo algumas adaptações neste sistema em alto relevo, ele criou seu método, então chamado Braile.
  - Então, Louis Bralie era cego desde os seus quatro anos de idade e aos dezoito anos ele criou um sistema em que as pessoas com deficiência visual pudessem ler.
  - Isso mesmo . – Ele diz todo orgulhoso. – O Braile é um alfabeto convencional onde os caracteres são indicados por pontos em alto relevo. Assim o deficiente visual consegue distinguir por meio do tato. Com seus pontos relevantes é possível fazer até sessenta e três combinações que podem tanto representar letras simples e acentuadas, pontuação, até mesmo números, sinais matemáticos e até notas musicais.
  - Graças ao sistema Braile então que hoje sou capaz de aprender a ler, mesmo sem ter visão? – Pergunto curiosa.
  - Isso mesmo . Graças a esse método que Braile criou há quase 200 anos que serás capaz de aprender a ler e a escrever novamente, mas de um modo totalmente novo.
  - Hm, mas o que me preocupa mesmo é se serei capaz de aprender e compreender o braile. Meu medo é não conseguir acompanhar, não ser capaz de gravar as formas de cada letra, palavra, número.
  - Fique tranqüila, é para isso que estou aqui. – Ele sempre calmo. – Me diga o que você sabe sobre o braile? Ou o que pensavas que era.
  - Eu sabia que era um monte de bolinhas onde as pessoas cegas conseguiam distinguir com seus dedos e formar letras, frases, parágrafos e textos. Mas nunca havia me interessado em ir atrás mesmo para descobrir quem havia inventado, ou como ele havia sido descoberto. Confesso que fiquei surpresa quando você falou que foi um garoto apenas com 18 anos que o criou, ainda mais sabendo que ele era cego desde os seus três anos de idade.
  - É, realmente isso é de deixar qualquer pessoa boquiaberta. Me diga qual são as letras do alfabeto.
  - A, B, C... W, X, Y, Z. São essas as letras do alfabeto, as letras K, W e Y são consideradas letras estrangeiras, algumas pessoas não as consideram como parte do alfabeto brasileiro, assim, as citando de forma separada. No entanto, nunca pensei desta maneira, para mim elas fazem parte do alfabeto, apenas são palavras pouco usadas.
  - Ok, vejo que você foi uma ótima aluna de português. Eu trouxe para você um alfabeto em braile. – Ele colocou a folha em cima da mesa, segurou minha mão direita e a deslizou levemente sobre a folha. - O que sentes? – Ele perguntou para mim. (para quem nunca viu um, aqui tem uma foto)
  - Uma infinidade de pontos, onde não sou capaz de identificar nada. – Falei um pouco confusa e com medo de não conseguir prosseguir.
  - Fique tranqüila, minha intenção neste momento não é fazer você entender algo. É apenas para que você tenha um primeiro contato. Veja que para sentir o alto relevo não é preciso de força nem fazer muita pressão no papel.
  - Sim, consigo perceber isso claramente. Quando pressiono o meu dedo com um pouco mais de força vejo que tenho mais dificuldade de identificar as diferenças que existem conforme vou deslocando o meu dedo. – Falo, deslizando minhas mãos no papel. – O Bralie é lido do mesmo modo como em leituras “normais” da esquerda para a direita?
  - Boa pergunta, . O Braile funciona do mesmo modo como nas leituras “normais”. Ele também é lido da esquerda para a direita. No começo é normal que você tenha dificuldade em identificar as letras. Mas conforme o tempo for passando e o quanto você se dedicar estudando, você em pouco tempo estará lendo com mais facilidade. Nunca se esqueça de uma coisa. – Ele disse.
  - O quê? – Perguntei sorrindo.
  - A dificuldade faz parte do processo de aprendizagem. Então não desista por achar que você nunca conseguirá ler. Pois, sim, você irá conseguir ler, só vai precisar de paciência e dedicação. Algumas pessoas depois que pegam prática conseguem ler até 200 palavras por minuto. – Ele sorriu, afagou meu braço e continuou. – E já percebi que você é uma aluna aplicada.
  - Obrigada por essas palavras, tenho medo de não conseguir aprender o Braile, parece ser tão difícil.
  - Não vou dizer que é fácil, pois não é. Mas também não é um bicho de sete cabeças. – Ele disse rindo. – Me digas, o que achas que significa o primeiro conjunto de pontos da ponta superior esquerda?
  - Bom, a única coisa que consigo observar é que há um ponto mais espesso, largo e cinco mais estreitos. Mas, pelo bom senso de essa ser uma tabela do alfabeto e por chute, essa é a letra A. – Fiz careta por estar chutando e por medo de levar bronca.
  - Bingo, acertou. A letra “A” do alfabeto é representada por um ponto mais largo no canto esquerdo seguido por dois pontos mais estreitos logo abaixo e mais três pontos do mesmo tamanho dos anteriores à direita. - dizia contente e animado com o desempenho que eu tive hoje. - E para encerrarmos a aula de hoje, quero que você me conte, o que essa aula significou para você?
  - Sinceramente? - perguntei, mas sem dar tempo para que ele pudesse responder, continuei: - Vejo o início de uma nova fase da minha vida. Onde poderei voltar a fazer, pelo menos, o que eu mais amo, que é ler. E uma luzinha no fim do túnel para eu voltar a acreditar que poderei abrir minha ONG.
  - Fico feliz em saber que sou o responsável por isso. - Ele disse com um sorriso estampado em seu rosto.
  Continuamos conversando por algum tempo.

Capítulo 6

Meses depois

  Point Of The View ~ Bonassoli

  - Oi, , como você está? - Cheguei a casa de , encontrando-a sentada na varanda de sua casa, tomando sol e lendo seu terceiro livro em braile.
  - Oi , estou ótima. - Ela disse, sorrindo na minha direção, continuando: - Estou com um dos meus melhores companheiros, como não poderia estar bem?
  - Que bom, fico muito feliz em saber que estás contente. - Eu digo, me aproximando e beijando seu rosto.
  Desde o primeiro dia em que soube da história da , algo dentro de mim despertou. Sabia que essa não seria uma aluna qualquer. Porém, jamais imaginei que em algum momento de minha vida me apaixonaria por uma aluna. Mas jamais quebrarei a regra que aprendi quando estudava, e a mais importante - todos - os professores diziam: “jamais se envolva com um aluno, não importa que tipo de sentimentos existam. Leve sempre consigo a ética.”
  Todos os dias quando acordo, meus pensamentos voam diretamente até , desejo saber o que ela está fazendo, qual livro ela está lendo, se ela está feliz, triste. É algo novo que não sei explicar, nunca havia me sentido dessa maneira, chega a ser perturbador. Até mesmo quando estou trabalhando me distraio pensando nela, querendo vê-la. E o que devo fazer? Sinceramente? Estou totalmente perdido.
  É uma mistura doida de sentimentos. É atração, paixão, amor, um pouco de cada um, tudo junto e misturado. É difícil colocar em palavras esse sentimento que está surgindo e arrebatando meu coração fortemente. Sempre que eu a vejo, sinto meu coração batendo mais forte. Em alguns momentos, tenho a sensação de ouvi-lo bater tão alto que tenho medo de que alguém ouça, as pernas ficam bambas, as mãos suam, e se não fosse o assunto das aulas, não saberia o que falar, até as palavras que fazem parte do meu dia a dia faltariam.
  - Eu que fico feliz em poder estar lendo, poder sentir o cheiro de livro novo, imaginar, sonhar e viver a vida de um personagem cada vez que a página de um livro é virada. - Ela fala com tanta emoção que me coração se enche de alegria só em ouvir, jamais imaginei ter uma aluna como a , tão apaixonada por leitura. - E eu tenho muito a agradecer a você por isso. Você não faz ideia do quanto me doía entrar na minha biblioteca e ver todos os livros parados, sabe quantas vezes eu tirei um livro da estante, sentei ao chão abraçada e chorei? - ela respirou fundo, sua voz estava carregada de emoções, podia identificar um toque de triste com misto de alegria. - Hoje, eu já posso vir aqui fora e ler, ou fazer isso em qualquer lugar que eu queira e possa.
  - Você não precisa me agradecer por nada disso. Se hoje você está novamente lendo, foi por esforço e dedicação sua. E eu sei que a cada dia você aprenderá coisas novas. Mas agora deixemos de lado um pouco o seu livro e essa melancolia que se instalou e vamos fazer uma aula diferente.
  - E o que teremos pra hoje? - Ela disse colocando um sorriso no rosto, e que sorriso, vê-la sorrir desta maneira fazia com que eu esquecesse de qualquer dúvida, tristeza, dificuldade ou indecisão e lutasse por meus sonhos. - Você sempre me surpreendendo.
  - Que bom, e tenho muito o que lhe surpreender ainda. - Eu falo com um sorriso de canto. - Quanto tempo faz que você não sai pra passear? E ir à consultas com oftalmologista não conta.
  - Nossa, faz muito tempo. Faz tanto tempo que não faço a mínima ideia de quando foi a última vez.
  - Então vamos. - Eu digo, sem dar tempo para que ela pensasse muito.
  - Calma, preciso me arrumar e avisar minha mãe. - Ela fala em um tom um tanto quanto autoritário.
  - Fique tranquila, você está linda! - Falo, colocando uma mexa de seu cabelo atrás da orelha. - E sua mãe já está sabendo do nosso passeio.
  - Não saio sem me arrumar. - Ela diz batendo o pé. ”Af, mulheres”, é o primeiro pensamento que me vem a cabeça, an an, na verdade, o segundo. O primeiro foi que ela está linda, sem necessidade de arrumação.
  - Ok, lhe darei cinco minutos. - Falo, entrando com ela.
  Aguardo na sala enquanto ela se encaminha para seu quarto para se arrumar. E esse tempo serviu apenas para que mais pensamentos e indecisões e medos surgissem em minha cabeça.

Capítulo 7

  Passei a maior parte da noite em claro pensando no passeio que o havia planejado para mim. Apesar de minhas amigas cansarem de vir me convidar para passear, eu não sentia vontade e nem ânimo para isso. Todavia, quando o me convidou hoje, me bateu uma saudade e uma ansiedade em poder sair na rua, passear e poder jogar conversa fora. Apesar de ele ter dito que seria uma aula. Mas não posso considerar o dia de hoje assim.
  Fomos ao parque e ficamos sentados em um banco que estava debaixo de uma imensa árvore, que ele me contou que estava ali fazia milhares de anos e que sua altura era aproximadamente 36 metros. Uma figueira que me pareceu muito linda com o modo de como ele a descreveu.
  Apesar de eu não enxergar mais, eu consigo imaginar as formas, as cores de uma maneira tão perfeita - ao menos para mim - que eu fico emocionada. Um rapaz passou por nós vendendo rosas ele falou: “uma rosa para a jovem donzela, moço?”. Eu já havia ganhado rosas uma vez de meus pais quando completei 15 anos de idade, mas nunca a vi da maneira como a vi hoje. Eu a toquei e ao sentir a leveza de suas pétalas, me emocionei, senti lágrimas escorrerem por meu rosto.
  Com isso, senti a proximidade de também - meu coração bateu forte, borboletas reviraram em meu estômago - senti ele enxugar as lágrimas e acariciar brevemente minhas bochechas com o seu polegar. No entanto, com a mesma rapidez que houve a aproximação, ele se afastou de mim. Senti que havia algo estranho, e meu coração ficou apertado, será que eu havia feito algo errado?
  Logo voltamos pra casa, hoje ele me ensinou muitas coisas e a mais importante de todas foi: Que jamais devemos deixar de viver intensamente cada momento de nossa com medo do amanhã. Eu estava me privando de muitas coisas desde que descobri a minha doença e que a chance de cura é mínima. Deixei de lado minhas amigas, meus sonhos, minha faculdade. Deixei de viver por causa de algo que é mínimo perto dos meus sonhos, da minha felicidade, da minha vida!
  Não é por não poder mais enxergar com meus olhos, que devo deixar de enxergar com o meu coração. Que devo desistir de tudo o que venho sonhando desde garotinha!
  O cansaço tomou conta de mim, e com esse pensamento adormeci profundamente. Uma noite tranquila e com um sonho perfeito, mas um tanto quanto estranho. Sonhei que eu e o estávamos juntos passeando. Ele com um sorriso imenso de orelha a orelha, com uma felicidade que não se continha, e o mais incrível: eu estava da mesma maneira.
  E foi com um sorriso no rosto que acordei pela manhã.

  - Bom dia, pequena. - Minha mãe falou ao adentrar em meu quarto abrindo as cortinas para o sol entrar.
  - Bom dia, luz do meu dia! - Eu falei contente.
  - O que aconteceu, filha? Viu o passarinho verde? - Minha mãe falou estranhando a minha felicidade, pois desde que minhas aulas começaram que meu humor havia mudado, acordava todas as manhãs disposta e com um sorriso no rosto. Porém, até eu mesma me surpreendi com tamanha a alegria que eu senti hoje.
  - Senti borboletas no estômago. - Fui direta. E me encaminhei para o banheiro fazer minha higiene matinal para descer para o café da manhã.

  - Filha, recebemos uma ótima notícia hoje! - Minha mãe falou toda contente, eu acho que quem andou vendo o passarinho com olhos verdes foi minha mãe - sim, meu pai tem olhos verdes - ela estava com um brilho diferente nos olhos hoje, conseguia notar apenas ouvindo sua voz. Não sei, não há como explicar.
  - Qual foi está notícia maravilhosa, mãe? - pergunto na expectativa. - Papai, ganhou na mega-sena?
  - Não, filha. Mas é tão boa quanto esta! - Minha mãe responde.
  - Então me conte logo, mãe. - Falei, tentando conter a excitação, não queria acreditar que poderia ser minha cirurgia.
  - Filha, o oftalmologista entrou em contato, e conseguimos uma vaga para você fazer sua cirurgia daqui três meses.
  - Sério, mãe? Eu não acredito, eu não tinha mais esperança de poder fazer essa cirurgia, tanto tempo já se passou. Tantas coisas aconteceram que eu não esperava mais por essa notícia! - Falei, já sentindo as lágrimas escorrendo por meu rosto, mas estas eram lágrimas de alegria. Mamãe e papai vieram me abraçar.
  - Sério, filha! Nós também não acreditamos que isto está acontecendo! - Meu pai fala, beijando minha testa.
  Tomamos nosso café e me encaminhei para a biblioteca esperar o para a nossa aula.
  Ah, o , eu já não sei mais o que seria dos meus dias sem ele. Desde que ele entrou neles, tudo se encaminhou. Eu voltei a fazer o que eu mais amo, que é ler, já montei todo o projeto da minha ONG na cabeça e depois dessa notícia ótima, só espero que o aceite o convite que farei a ele. Ensinar braile as crianças com baixa visão.
  - MÃÃÃÃÃÃE - gritei da biblioteca.
  - Que foi, pequena? - minha mãe perguntou da porta para mim.
  - Já não era para o ter chegado? - Pergunto preocupada, ele nunca se atrasou para as aulas.
  Nesse momento meu coração martelou descompassado, algo de ruim estava prestes a acontecer, sabe aquele momento em que você tem uma sensação ruim? Que apesar de todas as notícias boas que você recebeu, há uma que poderá lhe deixar abalada?
  Eu tive esse pressentimento, o que não me agradou. Aguardei mais algumas horas, então pedi para que minha mãe telefonasse para ele, porém, não houve sucesso, ele não atendeu as ligações.
  Fiquei lendo “O Livro do Amanhã”, que conta a história de uma menina que encontrou um livro, que na verdade era um diário, onde “ela” escrevia todas as noites o que aconteceria no dia seguinte. Nessa noite, eu desejei poder ser essa menina e escrever meu futuro, colocando nele o para sempre em minha vida.
  Pode parecer estranho, mas ele me abalou. Você deve estar pensando que eu me apaixonei pelo meu professor. Mas não, só que não posso negar que existe um sentimento diferente aqui dentro do peito, sinto meu coração batendo mais forte só em pensar nele, o que tem se tornado algo comum nos meus últimos dias.
  Adormeci nessa noite pensando no .

xx
Três meses depois.

  Ouço a campainha tocar, vozes que vão se aproximando cada vez mais. Deve ser algumas das minhas amigas que vieram me visitar. Fiz minha cirurgia há dois dias, e hoje pela manhã recebi alta.
  O meu oftalmologista disse que a cirurgia foi um sucesso e que a chance de eu voltar a enxergar é grande. Só que nessas primeiras semanas não se pode garantir nada, terei que retornar daqui um mês ao consultório para fazer novos exames, para saber se é definitiva a volta da minha visão.
  Mas fui proibida de forçá-la e de ficar em ambiente com claridade excessiva, assim, passo a maior parte do meu tempo em meu quarto ou na biblioteca lendo alguns de meus livros em braile.
  A voz que ouvi na sala, agora está bem mais próxima e já pude distinguir, esta não era a voz de nenhuma das minhas amigas. Sim, era a voz de nada mais nada menos que do .
  - Filha? Com licença, tens visita. – Minha mãe falou abrindo a porta do meu quarto.
  - Entre, mãe. E pode deixar o entrar também. – Falei, com um sorriso fraco nos lábios.
  - Oi, . – ele disse, com as bochechas vermelhas.
  - Mãe, você pode nos dar licença, por favor? – Eu pedi, sorrindo para ela.
  - Claro, meu amor. – Ela disse, fechando a porta atrás de si.
  - Por que você sumiu? Me deixou sem aulas, não deu notícias, nem atendeu nenhum dos meus telefonemas? – eu falei brava.
  - , me perdoa, mas eu fui obrigado a fazer isso. Você não tem noção do quanto era ruim vir a sua casa todos os dias, e ter que te tratar apenas como minha aluna. Sendo que eu vivia pensando em você, querendo tomá-la em meus braços e poder te aninhar em meu colo, beijar teus lábios. Poder ser muito mais que apenas um professor ou um amigo para você. Mas eu sei que você jamais entenderia se eu tivesse lhe dito isso durante aqueles dias. Você jamais entenderia, se eu tivesse feito isso naquele dia em que fomos à praça pela primeira vez. – ele para, olha em meus olhos, respira fundo e continua – eu lutei durante esses últimos três meses contra esse sentimento que crescia dia após dia no meu coração, eu quis arrancá-lo de todas as formas possíveis, mas não fui capaz. Fiquei sabendo da sua cirurgia há alguns dias. Por acaso a Caliane passou por mim na rua e comentou que você iria fazer a cirurgia. Eu já não suportava mais tanta saudade, eu precisava te ver, nem que fosse pela última vez. Sei que jamais deveria estar te falando uma coisa dessas. É antiético, pois eu sou e sempre serei o seu professor!
  - Shiiii. – Falei. – Para, por favor. Não diga mais nada. – coloquei meu dedo em seus lábios para que ele ficasse quieto. E apenas perguntei:
  - Por que só agora?
  - Porque somente agora eu tive coragem de assumir o que eu sinto. Deixei de lado o medo. – Ele falou olhando para o chão.
  - Você deveria ter dito isso há muito tempo. – Falei, virando seu rosto carinhosamente, para que nossos olhos pudessem se encontrar.
  - Eu te amo. – Ele falou me abraçando. Acariciei seu rosto, permitindo que ele fizesse o mesmo. Ficamos alguns minutos apenas com nossas testas encostadas, absorvendo tudo o que acabamos de declarar um ao outro. Nos abraçamos forte, sua boca estava a centímetros da minha. Ele sussurrou “eu te amo” e selou nossos lábios com um beijo.

FIM



Comentários da autora


  Ficaram com um gostinho de quero mais? Estou já com um projeto para uma segunda parte para essa estória. Espero que todos tenham gostado. Terceira fanfic da promoção 3anosATF. Leia também:
  Lembranças de um Passado Distante e Uma carta Inesperada