Olá, Sr Estranho

Escrito por Mare-ana | Revisado por Mariana

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  - Não, vou sair um pouco. – disse contra o microfone para meus amigos no Skype enquanto recusava uma partida do MOBA que jogávamos todos os dias.
  - What! – ouvi meu amigo gritar do outro lado. – Aonde você vai?
  - Comprar comida.
  - Agora? – Foi a vez de outro amigo gritar. – É quase meia-noite!
  - Ai, foda-se. O negócio é aqui perto, já volto.
  Tirei o fone do ouvido e saí de casa. A noite estava bastante agradável, da maneira que eu mais amava; o clima morno com um vento gelado batendo. Coloquei o capuz de meu casaco e abaixei a cabeça enquanto andava rapidamente. Meu bairro não era super perigoso, mas também não era conhecido pela segurança.
  Caminhava olhando para o chão, e hora ou outra olhava para os lados. Deserta. A rua estava completamente deserta. Não sabia se isso era bom ou ruim, por isso apenas continuava seguindo meu caminho. Meu destino era uma padaria 24h que ficava a mais ou menos duas ruas da minha. Era só seguir reto, virar e andar duas quadras.
  Virei a rua, e ouvi uma música muito alta tocando no salão de festas chique que tinha ali. Claro, final de semana, festa. Sempre assim. Um motivo para que eu quase nunca passasse naquela rua nos fins de semana era aquele salão. Geralmente ficava cheio de pessoas na calçada, e quando eu passava, todas me encaravam, como se eu fosse algum tipo de alien ou sei lá.
  Mas não hoje. Hoje a calçada estava completamente vazia. Nenhuma alma viva no local. Graças a Deus.
  - Hey, moça! – ouvi uma voz masculina surgir da sombra, e dei um pulo de susto. – Desculpe, não queria assustar. – o rapaz riu, vindo agora na minha direção, entrando no feixe de luz. Ok, talvez a calçada não estivesse tão vazia assim.
  - O que você quer? – eu perguntei rude, cruzando os braços na frente do corpo.
  - Ui! – ele riu, colocando as mãos para o alto, como quem se rendia, e chegou mais perto. Era um rapaz bonito, usava um terno com o paletó aberto, revelando a blusa social branca e a gravata vermelha frouxa. Parecia ter a minha idade, e segurava um cigarro na mão. – Não vou fazer nada. Só queria saber se você tem um isqueiro. – ele apontou para o cigarro.
  - Não, desculpe. – sorri triste, e ele imitou. – Mas na padaria deve ter. Pelo menos pra comprar...
  - Qual padaria?
  - Fica logo na esquina... Estou indo pra lá, se quiser me acompanhar...
  Ele sorriu e fez que sim com a cabeça. Voltei a caminhar e ele andou logo ao meu lado. Suas mãos estavam no bolso, e ele sorria para o céu, deixando o vento bater em seu rosto e bagunçar seu cabelo. Por algum motivo, aquela cena me fez rir.
  - O que foi? – ele sorriu para mim.
  - Nada. – ri mais alto, o fazendo levantar as sobrancelhas. – Estou rindo de você, todo bobo, olhando o céu.
  - Ah. – ele sorriu fraco. – Estava só querendo pegar um pouco de ar. Lá dentro estava insuportável.
  - Você estava naquele salão chique? – perguntei e ele apenas fez uma careta. – E como foi parar sozinho aqui fora?
  - Como eu disse, lá dentro estava insuportável. É festa de debutante da minha prima, um saco. Cheia de menininhas chatas e que gritam.
  - Não é de todo ruim. – dei de ombros e ele me olhou curioso. – Tem a comida de graça né?
  - Frutos do mar. Sou alérgico.
  - E o bolo?
  - Não posso com doces.
  - É cara, você é bem zoadinho. – eu ri, e ele me acompanhou.
  - Na verdade, eu estou morrendo de fome.
  - Então sorte a sua que estamos em uma padaria. – eu ri enquanto a abria a porta do estabelecimento. Poucas pessoas estavam no local, e fui direto para a parte onde faziam lanches. O rapaz desconhecido me acompanhou, e começou a olhar o cardápio.
  - O que você vai comer?
  - Um x-egg-bacon.
  Ele me olhou estranho e logo sorriu.
  - Perfeito. – ele disse. Chamou a garçonete e pediu dois x-egg-bacon. – Vamos nos sentar? – ele apontou para uma mesa próxima à janela.
  Meu plano inicial era ir à padaria, pedir meu lanche e levar para comer em casa. Mas já estava lá, e tinha aquele moço bonito me chamando pra comer com ele... Por que não? Se ele quisesse fazer algo comigo já teria feito, certo?
  Apenas acenei com a cabeça e nos sentamos, enquanto esperávamos nossos lanches ficarem prontos.
  - Que interessante essa padaria 24h. Queria que tivesse uma dessa onde eu moro.
  - Mora muito longe?
  - Não. – ele riu. – Mas não moro nesse bairro. Aliás, me chamo . – ele estendeu a mão, todo formal.
  - . – apertei sua mão e ri.
  - ... O que fazia andando sozinha a essas horas?
  - Estava vindo comprar comida. Tenho fome.
  - É um horário perigoso. Eu poderia ser um estuprador, sabia?
  - Aham, tem mesmo cara. – disse irônica e ele fingiu estar ofendido.
  Conversamos mais alguns minutos e nosso lanche chegou. Comemos muito devagar, pois toda hora parávamos para conversar ou fazer algum comentário idiota sobre algum assunto idiota. Depois que terminamos de comer, ficamos ainda mais alguns minutos apenas conversando. era um cara muito engraçado, me fazia rir todo o tempo. Finalmente decidimos que era hora de ir e fomos pagar. fez questão de pagar o meu, já que eu havia levado um total estranho para comer e havia impedido que ele definhasse de fome no meio da rua (palavras dele).
  Saímos da padaria e ele acendeu seu cigarro. Odiava cigarro. O cheiro me fazia passar mal, e tentei fingir que tudo estava bem, mas não sou muito boa nisso.
  - Isso vai acabar te matando, sabia?
  - Viver muito não está em meus planos. – ele deu de ombros e tragou mais um pouco, soltando a fumaça para o alto.
  - Se você está dizendo... – eu disse, parando de andar, já que havíamos chegado em frente ao maldito salão de festas.
   deu uma última tragada no cigarro e o jogou no chão, pisando em cima para apagá-lo. Ficou de frente para mim e sorriu.
  - Obrigado pelo lanche. E pela companhia.
  - Disponha. – sorri também.
  Ficamos mais um tempo nos encarando, sem saber exatamente o que fazer. Como se despedir de alguém que acabou de conhecer, e que conversou por pouco mais de meia hora?
  - É sério. – ele quebrou o silêncio. – Você salvou minha noite. Me diverti mais em meia hora numa padaria com você do que em três horas nessa festa irritante.
  - Você exagera.
  - Talvez. – ele continuava sorrindo. E, por Deus, ele tinha um sorriso lindo. – Deveríamos manter contato. Posso anotar seu telefone?
  - Claro. – eu disse e passei o número de meu celular para ele.
  - Certo. – ele guardou o celular após anotar meu número e tirou um saquinho de Halls preto do bolso. Pegou um e me ofereceu. Aceitei e o olhei curiosa. – Meus pais estão lá dentro, e meio que não sabem que eu fumo. Não quero falação na minha orelha.
  - Entendo... Bom, vou indo então. Hm... Tchau...
  Ele me olhou e sorriu. O vento ainda batia forte, e bagunçava nossos cabelos. aproximou-se de mim e tirou o pouco de minha franja que caía em meus olhos. Apoiou sua mão esquerda em meu rosto e lentamente aproximou-se de mim e beijou minha bochecha. Pude sentir o cheiro da menta misturada ao cheiro que cigarro, o último agora quase imperceptível. Fiquei realmente impressionada ao notar o quanto o cheiro era bom.
  - Adeus, . Até qualquer dia. – sorriu novamente, e então deu as costas e entrou no salão, desaparecendo do meu campo de vista.
  Corri até em casa, e, assim que cheguei, coloquei os fones de ouvido novamente.
  - Galera? – perguntei.
  - Nossa! – meu amigo mais escandaloso gritou. – Chegou agora? Foi fabricar a comida, é?
  - Ai, para de ser idiota.
  - , você não tinha falado que o local era perto? Por que demorou tanto?
  Eu apenas sorri e olhei para a bala em minha mão. Abri-a e coloquei na boca. Ao mesmo tempo, meu celular vibrou, e vi uma nova mensagem no whatsapp de um número desconhecido, mas por algum motivo eu já sabia de quem se tratava.
  “Espero que você esteja livre amanhã. –
  Sorri mais ainda.
  - Não foi nada, gente. – respondi meus amigos no Skype. – E aí, ninguém vai chamar pra uma partida?

FIM



Comentários da autora


  Hey galera!
  Bom, decidi postar essa fic aqui porque... Não sei porque xD
  Foi uma ideia que eu tive no ano passado, quando estava morrendo de fome e tive que ir no posto 24h que ficava perto da minha casa, e tava tendo uma festa no salão chic e pessoas ficaram me encarando x:
  Enfim.
  Espero que vocês tenham gostado dessa \õ/
  Até qualquer hora :3