O Cara Certo

Escrito por a href="mailto:helengregorio.meirebarros@gmail.com">Helen B | Revisado por Larissa Martins

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  - ? – escutei a voz de do outro lado da linha e respirei fundo, sabendo o que viria a seguir. – Eu não consigo superar que ele me superou – a ouvi fungar e contei até dez mentalmente. – Meu coração ainda dói quando eu os vejo juntos – ela começou a chorar e eu me esforcei para não ir até a casa dela.
  - Volte a dormir, . Ele não é o cara certo pra você – ela apenas concordou e suspirou.
  - Eu amo você – sussurrou e aninhou-se no travesseiro, pelo o barulho que ouvi. – Obrigado por ser um bom amigo – sentei na borda da cama e fui até a varanda, com o celular no alto falante.
  - Até amanhã, , também amo você – ela desligou e eu apenas bati em minha testa. – Você é um otário, ! Um otário! – dei um murro na parede e voltei para minha cama, tentando dormir.

***

  - Você acha que eu devo atender? – olhei para o celular que ela me mostrou, onde o nome de piscava na tela, coloquei um sorriso na cara e assenti.
  - Claro! Vocês podem até voltar! – vi seus olhos brilharem e ela dar pequenos pulinhos, para depois beijar minha bochecha, então caminhou até uma área reservada do parque e sentou em um banco, revirei os olhos e percebi que pouco tempo depois, lágrimas começaram a cair pelo rosto dela, fiquei confuso e fui até lá depois que a ligação terminou. – ? Quer me dizer o que aconteceu? – ajoelhei em sua frente e enxuguei algumas lágrimas.
  - Ele disse que eu deveria esquecê-lo de vez e que nós nunca mais iríamos voltar, disse também que eu fui só uma distração – senti vontade de espancar a cara dele até ela desaparecer, mas apenas foquei em .
  - Vamos pra casa? Não há mais motivos para ficarmos aqui, esse babaca estragou tudo – bufei e a estendi um lenço que havia no bolso da minha jaqueta. – Sabia que iria precisar – completei, dando de ombros após ver sua cara confusa.
  - Vamos – ela entrelaçou nossos dedos e colocou a cabeça em meu ombro.
  Fui fazendo palhaçadas durante o caminho e ela ou gargalhava ou me batia, o que me fazia rir da cara de brava que ela fazia. morava um pouco longe do parque - umas nove quadras -, então o percurso foi consideravelmente grande, mas quando paramos em frente à porta da casa dela, vi em seus olhos que ela não queria estar ali.
  - O que houve, ? Por que ficou triste? – acariciei seu rosto com as costas da minha mão e ela inclinou um pouco o rosto, sentindo o carinho.
  - Quando eu colocar minha cabeça no travesseiro, eu vou pensar nele e em tudo o que vivemos, e eu não quero isso – o silêncio prevaleceu e ela logo deu de ombros e bufou, fazendo uma careta engraçada, que me rendeu uma risada. – Te ligo amanhã às dez - ela beijou minha bochecha e entrou em casa.
  - Você está na friendzone de novo! Parabéns, ! – sussurrei para mim mesmo e revirei os olhos, caminhando para casa.
  Entrei em meu quarto e peguei uma folha de papel, decidido a escrever uma música e, quem sabe, fazer me notar como além de amigo, como um namorado em potencial - ou algo assim. Depois de colocar as ideias no papel e organizá-las eu finalmente consegui a letra, mas faltava a melodia, então liguei para os meninos e combinei de encontrá-los no dia seguinte para compô-la.
  Aquela noite eu coloquei minha cabeça no travesseiro e consegui dormir sem problema algum, minha mente parecia estar limpa e eu sabia que era por ter colocado tudo o que sinto em um papel. Era isso o que a música fazia por mim: deixava-me com a mente calma e limpa, como se não tivesse nenhuma preocupação. Quando eu sabia que não era assim.
  Na manhã seguinte, , e encontravam-se na minha sala de estar, com a música que escrevi em mãos. logo voltou sua total atenção para a guitarra em seu colo, dedilhando alguns acordes, fazia o mesmo com seu baixo e , bem, estava com a cara na minha geladeira.
  - Acho que já temos algo – falei, após repassarmos os acordes e batidas que criamos.
  - Realmente espero que dê certo – disse, levantando-se e estralando os dedos. – ‘Tô mortinho! – os meninos riram e eu me engasguei com o refrigerante após ouvir a risada de .
  - Amanhã nos encontramos no estúdio para gravarmos? – eles assentiram e foram até a porta.
  - Boa sorte com a sua garota do coração partido – deu tapinhas amigáveis em meu ombro e eu assenti, no fim, acabaria precisando do máximo de sorte possível.
  - Obrigado, cara, eu realmente vou precisar – ele riu e desceu os degraus, entrando no carro com os meninos, acenei para eles e entrei novamente em casa. – Seja o que Deus quiser – joguei-me no sofá e liguei o videogame, não tardando a receber uma chamada de no Macbook ao meu lado.
  - Quer jogar GTA comigo? Não tem nada de interessante aqui em casa. Minha mãe, Josh, John e Agatha foram para a casa do lago e eu resolvi ficar. Me tira desse tédio, ? Senão eu vou ter que ligar pro meu pai e ele vai me pedir para ir visitá-lo e você sabe que eu odeio a vadia que ele chama de esposa – ela bufou e virei meu olhar para a tela do Mac.
  - Já pensou se eles têm um filho? A criança seria um pé no saco se puxasse ela, sorte minha que seus pais são ótimas pessoas – ela olhou-me confusa e eu controlei-me para não rir. – Você já é insuportável, imagina se eles fossem chatos? – ela fechou a cara e virou-se para o outro lado, sorrindo maliciosamente e me mostrando o nome de na tela de seu celular.
  - Estou pensando em chamá-lo para cá, vai que ele me tira deliciosamente desse tédio infernal? – fechei as mãos em punho e respirei fundo, controlando-me. – Ele não me acha insuportável, pelo contrário, sempre diz que eu sou uma das pessoas mais legais que ele já conheceu – descontei minha raiva no personagem de GTA na tela da TV e não olhei mais para o Mac.
  - Então quando você precisar chorar no ombro de alguém, que tal ligar pra ele de madrugada? Ou então pede pra ele tirar você da fossa quando o babaca do te usar – ela parecia surpresa e não tardou a desligar a ligação, então eu percebi o que havia feito. – Droga! – gritei, jogando o controle na parede.
  Por sorte, ele não quebrou ou sequer arranhou, mas não posso dizer o mesmo do retrato que estava ao lado da TV, onde havia uma foto dos meninos, da e de mim, sorrindo no parque de diversões, coloquei a mão sobre a minha cabeça e tentei pensar em como pediria desculpas, mas o toque da campainha me interrompeu, era ela, e quando percebi que apanharia a pressionei contra a parede do lado de fora e a beijei.
  Pensei que ela fosse me bater e pedir para parar, mas ela apenas passou os braços por meu pescoço e acariciou meu cabelo. Coloquei-a para dentro e fechei a porta com o pé, caminhando em direção ao sofá, com ela em meu colo, voltamos a nos beijar até lembrarmos que era preciso respirar.
  - Ótima forma de não me fazer te bater – nós dois rimos e ela colocou a cabeça na curva do meu pescoço, dando um beijo lá, depois começando a subir e eu tentava me controlar para não levá-la até o meu quarto.
  - Pensei que tivéssemos combinado de não fazer mais isso – apontei para nós e ela deu de ombros.
  - Precisamos quebrar o que prometemos quando as circunstâncias pedem – um sorriso malicioso surgiu em seus lábios e ela voltou a distribuir beijos por meu pescoço e a mordiscar minha orelha. – Descontrole-se, , eu sei que você quer isso tanto quanto eu – ela sussurrou em meu ouvido e eu apertei sua cintura, sentindo seu sorriso. – Agora estamos nos entendendo – ela sorriu sapeca e voltou a atenção para meu pescoço.
  Levantei do sofá e começamos a nos beijar, ela entrelaçou minha cintura com suas pernas e eu caminhei até minha cama - nunca agradeci tanto por meu quarto ser no primeiro andar. Não tardou para minha camisa ser jogada pelo quarto, ou para estarmos seminus, comigo beijando seu pescoço e lábios. Eu sabia o que aconteceria quando acordássemos e ela visse o que havia acontecido, mas eu não ligava, apenas queria fazê-la minha por uma noite, antes que ele voltasse a povoar seus pensamentos.
  Estávamos deitados em minha cama, apenas enrolados em lençóis e – do ponto de vista de – totalmente arrependidos, coisa que não era verdade, mas eu sabia que ela ainda gostava de , e que talvez nunca parasse de gostar, mas eu precisava arriscar e seria no próximo show, daqui a dois dias.
  - Sabe, , eu acho que... – ouvi meu celular tocar em algum canto do quarto e fui atrás da minha calça, bufando por sempre acontecer algo quando eu estava prestes a me declarar, atendi de mau gosto e ouvi a voz de do outro lado, avisando que faríamos a passagem de som às sete no dia do show, apenas concordei e desliguei. – Você vai para o show daqui a dois dias? – ela assentiu e aninhou-se em meus braços, colocando a cabeça em meu peito.
   não demorou a voltar a dormir, mas eu fiquei encarando o teto, pensando em como me declararia, até que a ideia de tocar Heartbreak Girl brilhou em minha mente. Daria um jeito de colocá-la na playlist do show o mais rápido possível, antes que alguém sugerisse outra música para ser a última do show, então me levantei e liguei para nosso empresário, dando a sugestão da música e me responsabilizando pelo o que minha sugestão acarretaria.

***

  Era o dia do show, e eu estava em um poço de nervos, controlando-me a cada instante para não pirar, pois teria que me manter calmo até o fim do show, quando eu cantaria a música de – que por sinal estava linda com aquele vestido florido e o cabelo amarado em um rabo de cavalo torto, eu acho -, eu pedi para que ela ficasse no backstage, mas por fim, ela ficou na primeira fila, bem de frente para o lugar onde eu ficaria o que só aumentava o frio em minha barriga.
  - Prontos? – perguntou e nós assentimos, começando a tocar Try Hard.
  Após várias músicas, chegou a hora mais temida por mim, o que fazia os garotos – mais precisamente – me zoarem, no fim das contas, eu mesmo estava me zoando, só sei que na hora em que os primeiros acordes começaram, eu fechei meus olhos, colocando o máximo de sentimento que eu podia, para demonstrar a ela que eu era o cara certo.
  E eu era.

FIM



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