Not You, It's Me

Escrito por autumn night | Revisado por Mariana

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Capítulo 01

  — Quer me contar de novo porque estamos comprando um vestido de festa a essa hora da manhã de um sábado?
  Sentada no sofá marrom de couro, Penélope observava a amiga experimentar vestidos pelos últimos 30 minutos sem gostar de nada.
   girou nos calcanhares e encarou a ruiva com um olhar de reprovação.
   foi a 4 casamentos nos últimos 6 meses, e fazia questão de sempre usar um vestido novo. Mesmo que não conhecesse os noivos, ou qualquer um dos convidados, ela queria estar impecável.
  — Você prometeu que ajudaria sem julgar.
  — Não prometi nada. Você vai pelo menos se dar bem dessa vez?
  — Quantas vezes tenho que repetir que não é um encontro sexual? Eu aceito encontros para acompanhar pessoas em casamentos.
  — Não consigo ver qual a graça disso. Um encontro sem final feliz?
  — Comida e drinks de graça?
  Desde que colocou no seu perfil do Bumble que estava disponível para ser acompanhante de casamentos, recebeu muitos convites, e por mais que adorasse conhecer pessoas novas que jamais veria novamente, seu trabalho na rádio a impedia de aceitar todos eles. Dessa vez o casamento era muito mais chique do que os outros e merecia uma atenção especial.
  — O que acha desse?
  Ela girou e fez uma pose para Penélope.
  — Não. Esse não valoriza seus peitos, você tem peitos lindos.
  Ela se levantou e chegou mais perto de . As duas se viraram para o espelho inspecionando a área do busto do vestido.
  Ela tinha razão, tinha belos seios naturais e não tinha vergonha de exibir o que as madames ricas de Manhattan pagavam para ter.
  — O que você tem aí com um decote discreto, mas nem tanto?
   questionou a vendedora que as observava em silêncio.
  A mulher correu para os cabides da loja em busca do vestido perfeito.
  — Só acho que se você está indo a encontros podia pelo menos se divertir de outro jeito, se é que me entendes?
  Penélope moveu as sobrancelhas para cima e para baixo com um sorriso malicioso.
   suspirou, tirou o vestido por cima da cabeça e ficou de calcinha e sutiã na frente da amiga. Penny e eram mais que amigas, também eram colegas de trabalho na Rádio Lit onde apresentava um dos programas de rádio mais populares da cidade, o Nigth Nigth Show.
  — Hoje não, Satanás. Não vamos ter essa conversa.
  — O quê? Já faz quase um ano desde que ficou solteira e os únicos machos que tem dormido na sua cama são seus gatos.
  — Fala baixo! Quer que todo o Soho saiba disso?
  — Talvez a vergonha pública te faça agir.
   ignorou a amiga e se enrolou em um robe de seda que o brechó oferece aos clientes.
  Desde que terminou seu namoro de quase 5 anos meses atrás, ela decidiu que não queria se envolver com ninguém tão cedo. O término foi estranho e apesar de agora saber que não amava seu ex, ela sofreu bastante com o jeito que as coisas aconteceram.
  A vendedora voltou com um vestido diferente, ela tinha um sorriso triunfante no rosto, como se soubesse que iria gostar daquele.
  — Obrigada.
   entrou na cabine novamente.
  — Qual é mesmo o nome do cara que você vai acompanhar?
  — , e não, eu não vou te falar o sobrenome para você correr para o Instagram e fuçar a vida dele.
   saiu da cabine vestida no quarto vestido daquela noite, Penélope olhou para ela, sorriu e apontou para o par de sandálias Jimmy Choo que mandara trazer de casa. Então, fez um giro com o dedo, mandando que a amiga se virasse. Quando se olhou no espelho, abriu um sorriso largo. Além do decote na frente e atrás, o azul destacava muito bem o marrom dourado da sua pele.
  — Uau! Estou gostosa.
  — Sim, eu disse que você precisava de um decote — Afirmou Penny com um tom de voz petulante.
   juntou os cabelos no alto da cabeça simulando um penteado. Ainda não havia decidido o que fazer com ele.
  — Pareço uma estrela de cinema.
  Penny torceu o nariz.
  — Você parece uma estrela de cinema sem precisar fazer muito. Odeio você por isso.
  Quinze minutos depois, entregou o cartão de crédito para pagar o vestido e uma calcinha de renda minúscula e muito cara que a amiga a obrigou a comprar junto.
  — Obrigada, Penny — agradeceu. — Não sei o que faria sem você.
  — Eu também não sei o que você faria sem mim. Boa sorte no seu não encontro.

***

  No fim, precisaria realmente de sorte.
   era um problema. Olhos azuis, lindo, charmoso e sexy . As fotos no aplicativo não fazem justiça à sua beleza. Com seu cabelo desarrumado e seu sorriso sem-vergonha com dentes perfeitos brilhando debaixo da luz néon da pista de dança. E ele a encarava com um olhar de luxúria. Ele a tocou a noite toda, segurou sua mão durante a cerimônia, apertou sua cintura enquanto falava com os convidados e ela precisou se controlar todas às vezes que sentia queimar quando a mão dele tocava a pele nua dos ombros dela.
  O casamento foi perfeito. Famílias ricas realmente sabiam como gastar dinheiro. As noivas e seus convidados já haviam tomado conta da pista de dança. Apenas os mais velhos estavam no bar. E , porque seus pés doíam de tanto dançar.
  O som de alguém limpando a garganta ao seu lado a tirou dos seus pensamentos. Ele estava muito próximo, bem mais do que o apropriado para dois quase desconhecidos, ela sentia o calor do seu corpo. Ele estava inclinado sobre o balcão do bar, uma fina camada de suor na sua nuca, não usava mais o paletó do terno de grife. levou a mão até a gola da camisa e afrouxou mais um pouco o nó da gravata abrindo dois botões, deixando-a ver de relance os músculos do seu peito.
  Ele era ainda mais sexy suado daquele jeito.
  — Hurricane, por favor — Ele disse para o barman.
   tentou não ficar olhando para ele, mas não podia perder a oportunidade de dar mais uma conferida na sua bunda perfeitamente ajustada à calça do terno feito sob medida. Ela tentou disfarçar o sorriso, mas era tarde demais e ele já a encarava de volta quando ela finalmente voltou seu olhar para o rosto dele.
  Envergonhada por ser pega encarando, ela desviou o olhar, bebericando imediatamente o seu drink esquecido no balcão do bar. Tentou agir naturalmente, mesmo que a voz dele causasse no seu corpo uma série de coisas inapropriadas de se falar em voz alta.
  — Está se divertindo?
  O homem a olhava com desejo. Seus olhos percorreram o corpo dela demorando um pouco mais no decote do vestido que deixava as costas desnudas até a cintura onde a seda azul-marinho formava um grande laço. achou que o decote frontal seria o destaque do vestido, mas estava enganada.
  — Sim.
  O drink amarelo e decorado com cerejas foi colocado na frente dele em uma taça de cristal.
  — Posso te pagar uma bebida?
  — A festa é open bar. — Ela pontuou sorrindo.
  — Estou tentando flertar com você, .   Enquanto ele sugava seu drink, ela não conseguia parar de encarar os lábios dele, e quase demorou demais para responder.
  — Você não deveria.
  — E por que não?
   pegou uma cereja do seu drink e levou até a boca, mordendo a fruta bem devagar. respirou fundo e deu mais um pequeno gole no seu Dry Martini antes de respondê-lo.
  — Eu deveria ir embora.
  — Ou — disse ele olhando nos olhos dela — você poderia ficar. Estou hospedado aqui nesse hotel.
  As palavras dele a fizeram sentir um calor repentino embaixo do vestido.
  — Você é sempre assim tão direto?
  Ele enfiou a mão no bolso da calça e tirou um cartão chave, colocando na mão dela.
  — Não tenho vergonha de falar o que quero.
  Os dedos dela se apertaram em volta do cartão. Aquele encontro era para ser totalmente platônico, como tudo virou de cabeça para baixo no momento em que os dois se viram pessoalmente?
  — O que é isso?
  Perguntou fingindo inocência.
  — Eu passei a noite inteira pensando em te levar para cama. E a não ser que eu tenha interpretado errado as nossas trocas de olhares, você também estava pensando nisso.
  Internamente, agradecia que a pele negra não deixava as bochechas vermelhas ficarem muito aparente, pois ela tinha certeza que estava corada. Mas sempre teria a desculpa do álcool, e para garantir ela virou o resto do seu drink.
  — Você é mesmo muito confiante. — Disse tentando fingir indignação.
  Ele sorriu. Deus, que sorriso perigoso. desviou o olhar para não se atirar em cima dele. se inclinou para falar mais perto do seu ouvido.
  — Quarto 505. Dê uma passada lá mais tarde, se você quiser.
  A respiração dele soprou de leve no seu ouvido, causando um arrepio.
   enfiou o cartão na bolsa de mão cuidadosamente antes de responder.
  — Talvez.
  Essa a melhor resposta que podia dar naquele momento. Não se sentia confiante o suficiente para dizer sim ou não para aquele homem. Penny ficaria brava com ela por não aceitar a proposta imediatamente. É apenas uma noite, e não há mal nenhum em se divertir um pouco, ela diria.
   voltou ao seu lugar com um sorriso satisfeito no rosto.
  — Não vejo a hora de talvez ver você mais tarde.
  Ele sugou os últimos resquícios do seu drink sem tirar os olhos dela.
  — Foi um prazer conhecer você, .
  Ele se despediu com uma piscadela e voltou para a pista de dança, deixando-a com seus pensamentos. Ela olhou para o relógio que ficava na parede atrás do balcão do bar e ficou surpresa de perceber que já era mesmo bem tarde. A Limusine que a trouxe estava esperando para levá-la para casa quando ela estivesse pronta. Não era como se não lembrasse como sexo casual funcionava, mas nos últimos meses ela não sentiu vontade de se aventurar desse jeito por aí, ninguém a fez sentir vontade de fazê-lo. Seu corpo já havia decidido o que queria, mas sua mente ainda tentava listar os motivos para não ceder à tentação.

***

  Parecia impossível, mas sentia sua carteira um pouco mais pesada com o cartão-chave do hotel dentro dela. Devagar ela começou seu caminho em direção aos elevadores, com cuidado para não pisar no longo vestido. Quando finalmente parou na frente do quarto de , ela hesitou. Aquilo era uma má ideia. Ela ainda podia desistir e pedir um táxi. Mas ela não queria desistir. Era uma batalha do seu cérebro contra o seu corpo, e nesse momento seu corpo estava vencendo o seu bom senso.
  Ela esticou a mão para passar o cartão pelo sensor da porta, mas antes que tivesse a chance, ela se abriu e apareceu, cabelo molhado e ainda pingando, calça de moletom posicionada muito baixo em seu quadril e o peitoral à mostra.
  — Finalmente!
  Ele disse e agarrou-a pela cintura, puxando-a para dentro do quarto. O primeiro beijo foi frenético, ele a apertou contra seu peito e ela sentiu sua cabeça girar. Ela esperava que fosse bom, mas não esperava os fogos de artifício, ou o tremor que se seguiu por todo o seu corpo quando ele tocou nela. Uma onda de calor a inundou, começando dos seus lábios até o bico dos seus seios cobertos pelo fino tecido do vestido. Com os dedos enfiados nos cabelos dele, ela o puxou para mais perto. a beijava como se estivesse faminto. Ele beijou sua bochecha, sua orelha, sua clavícula. Devagar ele deslizou as mãos pelos seus ombros deixando as alças finas do vestido deslizarem pelos braços dela, as mãos frias acariciavam a pele nua. A calça dele foi tirada em um instante, as joias que ela usava tiradas de qualquer jeito e num piscar de olhos estavam na cama. se contorcia, deixando escapar alguns gemidos ainda tímidos, os lábios dele deslizaram pelo seu pescoço e fizeram uma trilha pelos seus seios, barriga até suas pernas. Ela se perdeu na sensação enquanto ele alternava em usar a língua e os dentes para marcar suas coxas.
   tentou falar, mas não conseguiu formular nenhuma frase.
  — Por favor!
  Ela disse, porque era tudo que importava naquele momento.
  Quando finalmente ele completou a missão de vestir a camisinha, eles se ajeitaram até ela estar sentada no seu colo, e sem esperar começou a se mover hipnotizada com a sensação de senti-lo tão fundo dentro dela. Ele acariciava seu quadril com movimentos circulares enquanto dizia o quanto ela era bonita, ou o quão apertada ela era. Seus beijos ficaram mais desesperados à medida que ela se movia mais rápido em cima dele, suas coxas tremiam pelo esforço. Ela gemeu o nome dele, quando sentiu um orgasmo delirante e explosivo lhe atingir enfiando as unhas com força nos ombros dele.
   gemeu forçando os quadris para cima em busca do seu próprio alívio e nunca pensou que um homem pudesse ficar tão lindo enquanto gozava, aquela era uma visão que com certeza tiraria seu sono por meses.
  Ele a segurou até suas respirações se acalmarem. Quando ele saiu de dentro dela, sentiu seu corpo ainda formigando com os efeitos do seu orgasmo.
  Por um momento os dois ficaram em silêncio.
  — Preciso de um banho.
  Ela disse finalmente.
  — Agora não— disse puxando-a de volta para a cama — Nós não terminamos.

***

  Mais tarde naquela noite, tocou seu corpo dizendo tudo que queria fazer com ela e a fez gozar usando sua boca. Ela deveria ter ficado saciada depois de dois orgasmos poderosos, mas quanto mais ele a tocava e beijava seu corpo, mas ela o queria dentro de si. Ele a levou para o banheiro carregando-a no colo e a fodeu por trás embaixo do chuveiro segurando uma perna dela para chegar mais fundo. agradeceu pelas aulas de Yoga durante a primavera no Central Park. Foi rápido e intenso, e os dois gozaram juntos. Depois disso ele pediu que ela ficasse para dormir, e ela aceitou, porque estava exausta e dolorida e não porque queria dormir de conchinha com alguém.
  Na manhã seguinte, acordou com o sol entrando pela janela e esquentando seu rosto. Rolou na cama e percebeu estar sozinha, e então escutou o som do chuveiro. Ela tinha apenas uma chance. Rapidamente encontrou seu vestido e começou a se preparar para sumir dali, e ela quase conseguiu. Mas saiu do banheiro com uma toalha enrolada na cintura e um sorriso de orelha a orelha. Como era possível alguém ser tão atraente?
  — Você não estava pensando em sair de fininho, não é? Você precisa ficar pelo menos para tomar café da manhã comigo, quero te conhecer um pouco melhor.
   estava muito distraída admirando o corpo molhado dele para dizer não.
  — Ok! Só café da manhã.

Capítulo 02

  — Então, fale sobre você, .
   arqueou a sobrancelha e deu um gole bem grande em seu cappuccino antes de falar.
  — O que você quer saber?
  — No seu perfil dizia que você é radialista? Isso é tão legal.
   atacava uma omelete sem cerimônia nenhuma, falando de boca cheia, não havia rastro do homem elegante que ela conheceu na noite passada. Ele parecia bem à vontade na presença dela.
  — Tenho um programa de rádio de segunda a sexta das 9h à meia-noite.
  — É o emprego dos seus sonhos?
   ficou um pouco surpresa com o rumo da conversa, mas decidiu entreter por mais algum tempo.
  — Sim. Sempre fui apaixonada pelo rádio, era um sonho de criança, e quando terminei a faculdade eu fui atrás do que queria.
   finalizou e deu uma mordida em um sanduíche de mussarela de búfala e tomates italianos, aproveitando a oportunidade de comer algo tão refinado.
  — Hum…
  — O que foi?
  — Por que está em um aplicativo de encontros? Você é linda, inteligente e simpática.
  — Obrigada! Mas como deixei claro no meu perfil, não estou procurando relacionamento agora. Tenho trabalhado muito e a vida de solteira não é tão ruim.
  — Por que casamentos?
   ficou em silêncio e deu outra mordida no seu sanduíche para ganhar tempo. Não tinha uma explicação para ele.
  — Eu não sei... Acho que apenas gosto de comer e beber de graça.
   assentiu olhando para ela como se buscasse a verdade que ela não queria revelar.
  — Esperei uma resposta mais romântica. Achei que diria que sonha com o seu próprio casamento. Esse foi meu segundo casamento esse ano, e agora sou oficialmente o único solteiro do meu grupo de amigos.
  — Você é jovem, não está curtindo a vida?
  — Já curti bastante na faculdade. Já tenho o emprego que queria e um apartamento próprio, agora quero uma família. Eu cozinho muito bem, sabia? Prometo cozinhar para você no nosso próximo encontro.
   não era mais tão jovem e inocente a ponto de acreditar que todo aquele flerte era real. era perigoso para sua paz de espírito.
  — Chega de falar de mim, o que você faz da vida, afinal?
   não respondeu imediatamente, estava de cabeça baixa cortando outra omelete em pedaços perfeitamente quadrados.
  — Sou corretor financeiro. Trabalho em Wall Street.
  — Uau! Daqueles que vemos nos filmes que ficam gritando e falando no telefone o tempo todo?
   olhou para ela, parou de mastigar e fingiu ficar pensativo por um momento antes de abrir um sorriso.
  — A mídia exagera bastante, nós temos dias mais tranquilos, mas é um pouco estressante sim.
   olhou o relógio na parede e se assustou.
  — Eu preciso ir. Preciso alimentar meus gatos.
  — Você tem gatos? Eu amo gatos.
  — Sim… Eu também. Por isso preciso mesmo ir.
  — Espera — ele disse limpando os lábios com um lenço — Me deixa te levar até a porta.
   quase protestou, a suíte não era tão grande e a porta ficava a menos de 2 metros de onde os dois estavam sentados. Mas era realmente difícil dizer não para aquele homem.
  Atenta ela o observou tirar a toalha que o cobria e sem nenhum pudor desfilar até o outro lado do quarto para pegar a calça de moletom largada no chão. Ele claramente já tinha percebido o efeito que causava nela.
  — Quando vou ver você novamente?
  Oh!
  Então ele estava falando sério. parecia ser um cara legal, e ela esperava não ter que dispensá-lo tão diretamente. trocou a bolsa de mão algumas vezes enquanto pensava nas palavras certas.
  — Isso foi muito divertido. Mas você sabe que isso não vai dar certo.
   abriu a boca para falar algo, mas ela não deixou que ele começasse.
  — Você tem um ótimo emprego, é muito charmoso e você parece pronto para se amarrar a alguém. Acredito que você não vai demorar a achar uma pessoa que tenha tudo que você procura. Mas esse alguém não sou eu.
  — Então você concorda que eu sou um bom partido?
  Perguntou sorrindo, nem um pouco abalado pelo fora que acabou de levar.
   sorriu, mas não respondeu.
  — Tchau, — ela disse — Me convide para comer de graça no seu casamento.
   a puxou pela cintura e colocou os lábios nos dela em um último beijo rápido e carinhoso.
  — Você com certeza vai estar lá.

***

  Na semana seguinte, estava na rádio revendo os últimos detalhes para o programa daquela noite. Tinha tido um dia terrível cheio de reuniões com a administração.
  A janela atrás da sua mesa estava aberta e dava para a rua. O Sol estava se pondo devagar atrás dos edifícios. Ela podia escutar o barulho da cidade lá embaixo, o ruído das buzinas e a agitação dos táxis. Mas naquele momento o telefone tocando insistente era o que incomodava de verdade.
  — Senhor Lemont, como vai?
  Sentada em uma mesa de frente para a sua, Penny atendeu o telefone com sua voz mais educada. Fazia menos de 30 minutos desde que havia saído de uma reunião com aquele homem, e isso estragou seu humor.
  Ela ajeitou-se na cadeira e acenou para a amiga dispensá-lo.
  — Sinto muito, mas teve que sair para resolver algo antes de entrar no ar mais tarde. Sim, eu entendo que é importante.
  Penny revirou os olhos.
  — Claro, eu posso anotar tudo e passar para ela quando ela chegar... Não se preocupe, vou dar o seu recado… Obrigada por ligar, Senhor Lemont.
  Penny desligou o telefone segurando a risada.
  — Não tem graça nenhuma. Esse homem me alugou por quase duas horas apenas para discordar de tudo que decidi para o especial de aniversário do programa. Não quero saber o que ele disse, vou lidar com isso amanhã.
  — Ok. Você quem manda.
  Uma voz limpou a garganta chamando a sua atenção para a porta do escritório.
   a encarava com o seu usual sorriso charmoso enquanto desfilava até a sua mesa. sentiu seu corpo ficar tenso.
  — O que você está fazendo aqui?
  Ele se aproximou com um sorriso torto.
  — O que parece que estou fazendo?
  — Parece que você está me assediando no meu local de trabalho.
  Ele deu uma risada que ecoou pela sala.
   não esperava ver novamente. Mesmo que nas primeiras noites que se seguiram após o encontro deles ela tenha sonhado várias vezes com a noite que eles tiveram.
  — Você não me deu seu telefone, e desativou seu perfil no Bumble. Tive que descobrir em que rádio você trabalha.
  — Você não precisa do meu telefone.
  — Você já mudou de ideia sobre sair comigo outra vez?
  Uma risada boba ameaçou escapar. Droga, aquele homem mexia com ela.
  — Então, você é o famoso ?
  Penny se levantou e foi até ele.
  — Famoso? tem falado de mim? Coisas boas, eu espero. Muito prazer.
  Ele estendeu a mão e Penny a sacudiu.
  — Sou Penélope, melhor amiga da e também produtora do programa que ela apresenta. O prazer é meu.
  — Penny, por que você não vai pedir para alguém na cafeteria preparar um chá para o senhor ?
   abriu um sorriso forçado.
  Penny assentiu e olhando para os dois com um sorriso malicioso disse:
  — Já entendi, vou deixar vocês dois a sós.
   desabotoou o botão do terno azul-marinho e sentou-se na cadeira do outro lado da mesa. reparou nos mocassins italianos e aquele terno alinhado só podia ser Calvin Klein. Ele tinha dinheiro e sabia como gastá-lo. Sentiu um golpe de desejo no seu ventre tão forte que precisou respirar fundo para se controlar. Era difícil resistir a um homem bonito e elegante como aquele.
  — O que você realmente veio fazer aqui?
  — Estou esperando o número do seu telefone. Sai mais cedo do trabalho e resolvi vir te ver.
   suspirou e analisou suas opções. Não era como se um número de telefone fosse um sinal de que ela estava interessada. Que mal isso causaria?
  — Se eu te der meu telefone, você não pode me ligar no horário de trabalho, e nem na parte da manhã, eu durmo até tarde.
  — Eu prometo. Você está livre esse fim de tarde?
  — Não vou sair com você.
  — Não é um encontro. Apenas um drink com um amigo.
  — , você… Somos amigos agora?
  — Com certeza não somos inimigos.
  Ela suspirou novamente. Mas cedeu à vontade dele. Rasgou uma folha do bloco de notas e anotou o seu número. Quando segurou o papel, ela não soltou.
  — Estou falando sério, não me ligue quando eu estiver trabalhando ou dormindo.
  — Eu prometo.

***

  Uma ótima noite para você que está me fazendo companhia essa noite! Onde quer que você esteja, você está muito bem sintonizado na Lite FM. Eu sou e esse é o The Night Night Show. Vamos para um breve intervalo comercial e na volta temos nossa informante misteriosa nos contando as últimas fofocas das celebridades nova-iorquinas. Não saia daí!

***

   cumpriu sua palavra e não telefonou para ela, mas as mensagens de texto começaram às 10h15 da manhã do dia seguinte.
   já havia lidado com homens insistentes antes e tinha certeza que logo iria fazer exatamente como os outros e se cansar de tentar. Mas isso não aconteceu, e as mensagens não paravam de chegar. E no fundo não queria que ele parasse. Então ela fez a única coisa possível nessa situação e respondeu todas as mensagens dele.
  E assim ela descobriu que adorava falar e tinha sempre um assunto interessante para ela. Ele também não tinha problemas em falar sobre sua vida pessoal e contou a ela que visitava os pais pelo menos uma vez por mês.
  Ele sempre comia coisas saudáveis e de repente estava pedindo salada no almoço sem perceber.
   era atencioso, gentil e engraçado. Definitivamente perigoso para sua paz de espírito.
  E depois começaram os presentes. No meio da manhã um entregador aparecia com o brunch completo no seu apartamento e no fim da tarde, quando ela chegava na rádio, ele mandava o seu chá preferido. Ela não podia negar que gostava de ser mimada, ser cuidada pelo seu parceiro era sua parte favorita de um relacionamento, só que ela e não estavam em um relacionamento.
  Na sexta-feira, no fim da tarde, bebericava seu chá de camomila quando entrou pela porta do escritório com um buquê de flores imenso nas mãos.
   sentiu seu estômago se repuxar de um jeito estranho. Seriam essas as famosas borboletas?
  — O que você está fazendo aqui?
  Ela disse tomando o último gole do seu chá antes de jogar o copo descartável no lixo.
   caminhou até ela e sentou-se na beirada da mesa.
  — Estava por perto, e resolvi dizer "oi".
  Ela o encarou em silêncio.
  — Ok, ok. Eu saí cedo do trabalho e decidi te visitar.
  — E as flores?
  — São para você.
  Parecia ridículo ficar tão abalada com um buquê de flores. Mas ela não podia negar que o jeito que estava apreensivo esperando uma reação dela era fofo.
   levantou-se e recebeu o buquê de suas mãos.
  — Elas são lindas, obrigada.

***

  — Vocês não transam desde a festa de casamento? Estão esperando a lua de mel?
   não entendia porque Penny estava surpresa, mas ela meio que também ficou, quando não tentou levá-la para cama na primeira oportunidade que os dois ficaram sozinhos novamente.
  — Fala baixo! Que mania de falar sobre minha vida sexual para todo mundo ouvir.
  As duas estavam no supermercado há quase uma hora, andando pelos corredores quase vazios. Penny empurrava o carrinho e vez ou outra jogava algum salgadinho, ou comida congelada dentro dele sem prestar muita atenção no que estava comprando. Ela não tinha uma lista. Penny não costumava fazer planos. invejava esse desprendimento.
  — Não. Ele flerta bastante, mas não tenta nada. Ele é um cavalheiro, compra comida para mim, flores, ele até foi levar e buscar meus bebês no veterinário semana passada quando eu disse que não ia ter tempo para nada no dia do programa especial de aniversário.
  Penny jogou algumas caixas de uvas sem sementes no carrinho, provavelmente a única coisa saudável que ela levaria para casa.
  — Então, qual o problema? Você queria que ele tentasse algo?
  — Claro que não. Você sabe que não sou adepta a sexo casual, e não quero me envolver com ninguém agora.
  — É, ok, ok, me poupa desse papo outra vez. Já decorei esse discurso. Então, por que não dispensa ele? Aposto que ele não iria mais atrás de você.
   não sabia o que dizer. Pelos últimos meses, ela havia se concentrado totalmente no trabalho e iniciado essa jornada de autodescoberta. Após passar tanto tempo comprometida, ela estava feliz solteira. E então apareceu na sua vida e estava sendo bem difícil ignorar que gostava da companhia dele.

***

  Quando apareceu no seu apartamento domingo à noite com uma caixa do seu chocolate favorito e um convite para um drink, novamente não teve forças para rejeitá-lo.
  — Um drink.
  Ela disse tentando manter o tom sério.
  — E então você vai para sua casa e eu volto para a minha.
  — Combinado.
  Ele concordou imediatamente.
   dirigiu até o bar próximo dali. O lugar era novo, ficava na cobertura de um prédio moderno e depois de 3 ou 4 Dry Martínis, parou de contar.
  — Não é que eu tenha medo de relacionamento. Eu só não quero me envolver com alguém por algo que pode não ser real.
  Ela encarava diretamente enquanto ele beliscava as batatas fritas que havia pedido.
  — Eu acredito no amor e acredito em finais felizes. Só não sei se vou ter um.
  A pose de mulher independente e durona era perfeita para fingir que não sentia nada. Mas sentia, seu coração não estava quebrado, só estava adormecido. E por algum motivo esses sentimentos estavam ressurgindo de algum lugar desconhecido dentro do seu peito. Ela sempre teve facilidade de permanecer no controle da situação. Até conhecer , e agora sentia uma porção de coisas, e se manter no controle não era mais uma opção.
  — Acho que todo mundo tem um pouco de medo do amor, e de se envolver de verdade com alguém.
   estava tão bonito debaixo da luz baixa do bar.
  — Eu conheci um cara na faculdade e ficamos juntos por quase 5 anos. Ele era o namorado perfeito, tudo que eu sempre quis: apaixonado, carinhoso e totalmente dedicado. Nós morávamos juntos e tudo parecia ótimo até que um dia ele me pediu em casamento. E então, meu mundo caiu, eu percebi naquele momento que eu não o amava, nunca o amei. Eu certamente me importava muito com ele, e adorava o nosso relacionamento, mas quando ele falou em passar o resto da vida comigo eu percebi que nunca o amei de verdade.
   a olhava em silêncio, atento a cada palavra. deu mais um gole no seu drink.
  — Eu surtei. Deixei ele falando sozinho e fui mais cedo trabalhar, não voltei para casa aquela noite e não consegui dormir. Eu não queria me casar com ele, eu não o amava. Perceber isso foi muito doloroso para nós dois. Eu me senti horrível, sentia como se tivesse o enganado por anos.
  — Não foi sua culpa. Você foi honesta quando percebeu e tomou a decisão certa.
  — Eu sei. Agora eu sei que não foi minha culpa, mas levou alguns meses até que pudesse me sentir normal novamente.
   passou muito tempo escondendo aqueles sentimentos. E então, do nada, ela conta tudo para um homem que ela mal conhecia, coisas que apenas Penny e a sua terapeuta sabiam.
  — Me desculpa, falei demais. Por que eu sempre falo demais quando estou com você?
  — Significa que você se sente bem à vontade na minha presença. E, , você pode falar o que quiser comigo. Principalmente sobre seus sentimentos.
  Ele riu, aquele sorriso que fazia seu rosto se iluminar inteiro. O sorriso perigoso que sempre fazia querer agir de maneira impulsiva. Ela não era conhecida por agir sem pensar, mas na presença dele, ela sempre queria fazer coisas estúpidas como beijá-lo ali no meio daquele bar lotado. Ou talvez fosse o martíni entrando na corrente sanguínea.
  — Devíamos ir embora.
  — Claro, posso te levar, ou chamar um táxi para você.
  — Eu quis dizer que quero ir para sua casa.
  Ele arregalou os olhos.
  — Você tem certeza? Não quero que se arrependa de nada amanhã.
  — Sim, . Me leve para sua casa.

***

  São exatamente 11h55, o que significa que o programa está chegando ao fim. Quero aproveitar esse momento para agradecer a você por me fazer companhia nessa noite super quente de verão. Vamos encerrar escutando Taylor Swift, Stay Stay Stay. Você está escutando a 105,5 Lite FM, eu sou com o The Night Night Show, desejo a todos uma boa noite e até amanhã.

***

  — !
  — O que foi?
  — Você está bem? Vamos embora, está ficando tarde.
  — Claro. Estou ótima.
  Levantou-se colocando o celular que segurava dentro da bolsa.
  — Faz cinco minutos que estou falando sem parar e você não está ouvindo.
  — Só me distrai um pouco. Me desculpe.
  — Sério, o que aconteceu?
  Ela suspirou fundo e juntou-se à amiga caminhando para o elevador.
  — não me liga há uma semana. Ele passou 4 dias em Boston e chegou essa manhã e ainda não me mandou nenhuma mensagem.
  — E por que você não liga para ele?
  — Por que eu faria isso?
  — Por que você claramente está começando a gostar dele? E por algum motivo que não entendo está tentando fingir que não se importa.
  — Penny, como você sabe que gosta de mim desse jeito?
  — Você está falando sério? Vocês estão saindo há mais de um mês. Ele aparece aqui quase todos os dias para atrapalhar nosso trabalho e flertar com você. Você é cega?
  — Talvez ele só goste de sexo.
  — Você disse que vocês não transaram quando você dormiu na casa dele.
  — Rolou alguns amassos no sofá, mas ele disse que eu não estava sóbria. Então, ele me deu um pijama dele e dormimos de conchinha. Ele tem sido muito paciente.
  Penny a encarou com um olhar incrédulo por um momento antes de falar.
  — Aquele homem está caidinho por você. Está na hora de arrumar um namorado, . E nem pense em dizer que está feliz solteira para o resto da sua vida. Sei que você não é igual à maioria das mulheres que sonham com bebês e uma casinha de cerca branca, mas você tem um cara legal interessado em você.
  — Mesmo que eu queira. Não tenho certeza que ele me quer, ele não me procurou mais. Deve ter se cansado.
  — Só tem um jeito de descobrir.
   não tinha certeza se estava preparada para saber a resposta daquela pergunta.
  Durante a semana ela realmente sentiu falta de como ele aparecia todos os dias no escritório com flores, doces, chá e tudo que ele sabia que ela gostava. Sentiu falta das piadas sem graça, do sorriso presunçoso e não podia negar que queria muito beijá-lo outra vez.
  Encontrar o amor de verdade não era mais o bastante para , agora ela sabia que nunca seria o bastante. Havia o prazer, o respeito e a amizade. Ela sabia que queria tudo aquilo, mas também sabia que não encontraria se não desse uma chance para seu coração.

***

   decidiu fazer algo impulsivo e dirigiu até o apartamento de . Já eram quase uma da manhã e ele provavelmente já estava dormindo, mas ela sabia que se esperasse até o dia seguinte, não teria coragem de falar o que queria.
  — ? Aconteceu alguma coisa?
   não parecia que estava dormindo, na verdade, ele parecia bem alerta.
  — Você ainda gosta de mim?
  Perguntou e antes que ele tivesse chance de assimilar a pergunta, ela continuou.
  — Ainda quer ter um relacionamento comigo?
   se encostou contra o batente da porta cruzando os braços.
  — A resposta é sim para as duas perguntas. Eu achei que estava sendo óbvio.
  Um alívio imenso tomou conta dela ao ouvir aquilo.
  — Vou voltar para a terapia semana que vem. Achei que estivesse bem, mas ainda não consigo me sentir 100% segura dos meus sentimentos. Se vamos tentar fazer isso, você vai precisar ser paciente comigo.
   endireitou o corpo, seu rosto se transformando à medida que ele tentava compreender o que aquilo queria dizer.
  — Ok, fico feliz que você queira melhorar.
  — Ainda não acabei. Nunca gostei de depender dos outros. Mas não me importo que você cuide de mim.
  Ele abriu um sorriso bonito, aquele lindo sorriso que ela tanto sentiu falta nos últimos dias.
  — Eu adoro cuidar de você.
  — Eu sei que às vezes meu humor é péssimo e que pareço fria, mas não é você, sou eu. Só que dessa vez eu sinto que pode ser de verdade, é diferente de tudo que-
   a interrompeu pressionando seus lábios nos dela. Parecia uma eternidade desde que os dois se beijaram pela última vez. sentiu seu corpo relaxar quando ele a envolveu nos seus braços e a puxou para dentro do apartamento. Ele encostou suas costas na porta fechada, interrompendo o beijo.
  — Então, isso significa o que eu acho que significa?
  — Significa que eu quero que você seja meu namorado.
  O sorriso dele aumentou.
  — , eu espero ser seu último namorado.

FIM



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