Nothing You Could Do
Escrito por Inês | Revisado por Natashia Kitamura
O meu estômago revirou quando o vi. Milhões de memórias passaram em alta velocidade no meu cérebro. Imagens que já pensava ter esquecido, vozes aveludadas pelo sono numa chamada às 6 da manhã, o primeiro beijo e o último. A imagem das nossas mãos dadas, encaixadas perfeitamente como se tivessem sido moldadas uma pela outra. A nossa história repetiu-se uma e outra vez na minha cabeça. Estava a ficar sufocada, as lágrimas que me inundavam os olhos foram engolidas com vontade, como se eu fosse uma simples criança a quem um brinquedo havia sido negado. A verdade era que era um pouco mais complicado do que isso. Olhei para o celular, envergonhada. Quanto mais o tempo passava, mais perfeito eu o via. Quase sentia o peso do olhar dele na minha cara. Olhei para ele percebendo que me seguia com os olhos. Quando percebeu que eu o olhava, sorriu. As memórias repetiram-se, uma e outra vez. E de novo. Ver aquele sorriso desarmava-me, ver aquele sorriso trazia-me de volta ao estado do qual tentava fugir desde que o conhecia. “Bom dia”, ouvi-o murmurar com a voz aveludada das chamadas. De novo, as memórias. Todas. Não sobrava uma. Aproximei-me dele, para cumprimentá-lo, a pernas a tremer, as borboletas no estômago que já deveriam ter saído dali a muito, muito tempo. O cheiro dele era o mesmo, o seu calor também. Aproximou-se de mim, deu-me um beijo em cada bochecha e os nossos narizes roçaram um no outro. Mordi o lábio para não rir e ele fez um meio sorriso. Fui-me embora, ainda com o turbilhão de memórias na minha mente que estagnaram no preciso momento que ele se aproximou.
Cheguei a casa e deitei-me no sofá. No escuro, sem luz alguma. Encarei o teto e deixei que as memórias voltassem sem impedimento algum, pela primeira vez em oito meses. Com elas, vieram as minhas lágrimas que molhavam toda a extensão das minhas bochechas, desde os olhos até ao queixo. Lembrei-me dos nossos abraços apertados, em que ele me dava beijos no pescoço e sussurrava-me ao ouvido uma e outra vez que estava arrependido de alguma das porcarias que tivesse feito. Lembrei-me de quando as minhas mãos estavam geladas e ele entrelaçou os seus dedos nos meus e pôs as nossas quatro mãos no bolso da sua sweater. Depois deu um beijo no meu nariz, inocente, engraçado. Lembrei-me de quando me beijou de repente e depois pediu desculpa, como se tivesse sido um erro. A seguir, abraçou-me, deu-me um beijo fofo na bochecha e voltou a beijar-me. Quando me lembrei dos nossos primeiros beijos, já soluçava incansavelmente, incapaz de parar de chorar. Pensando bem, deixar que aquelas memórias voltassem talvez não tivesse sido tão boa ideia quanto isso. A porta bateu com força. Era ele. Ele era o único que nunca usava a campainha. Era uma forma de ambos sabermos que era o outro do outro lado. Talvez se ignorasse, ele se fosse embora. As lágrimas haviam secado, mas os meus olhos inundados de promessas que não haviam sido cumpridas e da história mal acabada, estavam longe de estar secos. A porta voltou a bater.
- Eu sei que estás aí. Abre, vamos conversar. - pediu. Permaneci em silêncio. Levantei-me derrotada, limpando a cara, podia ser que devido ao fato de eu ter as luzes apagadas ele não poderia ver que eu tinha acabado de chorar.
- Diz. - disse.
- Esteve chorando. - constatou. Revirei os olhos. - Sabe como é que eu percebi? - antes de me dar tempo para responder, continuou. – Você tinha medo do escuro. Odiava ficar sozinha no escuro, tanto que muitas foram as noites em que faltava a luz e eu vinha correndo para tua casa. A não ser que estivesse chorando e não quisesses ver-se no espelho, cheia de lágrimas, rebaixada.
- Pois há coisas que nunca mudam.
- Posso entrar? - perguntou. Assenti e ele entrou com as mãos nos bolsos das calças. Fechei a porta, lá vinham as malditas borboletas. Preparei-me para ligar a luz, mas ele me parou. - Desculpa. - disse.
- Desculpa por que? - perguntei. - Não fez nada de mal.
- Por te ter magoado, por te ter ignorado durante este tempo todo, por... Te ter feito chorar. - sentia-o cada vez mais próximo de mim. As minhas pernas tremiam, os braços estavam arrepiados. Ele continua a conhecer-me melhor do que qualquer pessoa.
- Eu…
- Não diga nada. - Mandou. – Não diga nada. Se for dizer que não te fiz chorar, mais vale manter-se calada, porque eu sei que é por minha causa que você está assim. - bingo. Do nada, senti dois braços a envolverem-me. Aquele abraço reconfortante, aquele cheiro. Era ele na sua forma mais autêntica. - Você merece melhor.
- Eu não quero melhor. - deixei escapar num sussurro.
- Eu estava dizendo que merece o melhor de mim. Da minha parte. - levantei a cabeça e olhei-o nos olhos. Subitamente, meus olhos voltaram a inundar-se de lágrimas. Senti seus polegares juntos aos meus olhos, limpando as lágrimas que tentavam cair insistentemente. - Não chora, por favor. – pediu, dando-me um beijo na testa.
- O que é que isto significa? - perguntei afastando-o devagar.
- Significa que agora é sério. Não haverá terceiras pessoas, nem a sua mãe, nem os meus amigos. Não vai haver nada. Só tu e eu, pequena. - Voltou a se aproximar. Não via nada naquele escuro ensurdecedor, mas sentia-o ali. Tão perto, tão verdadeiro. - Confia em mim. - senti meus dedos serem entrelaçados nos seus, levantados e depois beijados por um par de lábios macios, que eu já conhecia melhor do que os meus próprios. – Te amo. Pena que só percebi isso depois de te magoar. - Abracei-o de repente. Deus, como eu tinha saudades daquele cheiro, daquela presença.
- Vamos sair daqui. - disse-lhe com um sorriso.
- Ah, queres ir para o quarto, sua safada? Estou a ver… - riu, levando-me a rir também.
- Eu referia-me ao país, vamos para outro lugar.
- Então nada de quarto? - perguntou engraçadinho. Não lhe respondi.
- Senti sua falta. - Murmurei.
- Eu também. - abraçou-me de novo e deu-me um beijo no queixo. Olhei-o nos olhos, que mal conseguia distinguir no escuro. Beijou-me carinhosamente. Ali, no meio da minha sala, no escuro, percebi que não havia nada que ele pudesse fazer que me fizesse deixar de gostar dele. O que eu queria agora era comprar dois bilhetes só de ida para o sitio mais longínquo que pudesse existir.
- E agora? Nada de quarto? - perguntou controlando o riso.
FIM
é a minha primeira fanfic na internet e claro, no site por isso nem sei muito bem o que dizer aqui kkk. Eu considero esta fic o meu bebé porque já ando desde o natal a aperfeiçoa-la e acho que o produto final ficou muito bom. Para além disso todos os acontecimentos foram meio que inspirados na minha pseudo-história de amor. Espero que gostem tanto dela como eu gostei !