Not Always We Have A Sunday So

Escrito por Gabriele Manhães | Revisado por Laura Weiller

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  Tudo era calmo, como um típico fim de tarde de domingo. O silêncio da rua era substituído de vez em quando por algum som de carro ou moto, mas mesmo assim, tudo era entediante. O céu estava nublado, as folhas voavam e o vento parecia ter um som diferente. Em casa, estávamos todos; papai vendo o futebol, como sempre, meu irmão fazendo algo pelo quintal, mamãe assistindo a um programa qualquer e eu, trancada no quarto, na companhia dos fones de ouvido e do notebook.
  Dei pause no “Without you” e fui até a cozinha pegar algo pra comer, mas voltei pro quarto com uma garrafa cheia de Coca-Cola. Trouxe de volta o notebook pro meu colo, e olhei as horas no celular, 17:17. Está bem, isso nunca significava nada mesmo. Continuei viajando na música, agora ouvindo One Direction, e teclando com a melhor amiga. Conversávamos sobre coisas do cotidiano, mas o assunto “garotos” nunca ficava de fora. Até que o celular vibra, era uma daquelas correntes – chatas e que eu nunca repasso -, vinda de um amigo meu. Como já é costume, joguei o celular de volta na cama e virado para baixo. Uns três minutos se passaram, e o celular volta a vibrar.
  “Mas que diabos! Quando um começa a repassar essas correntes, todos começam.”
  Mesmo assim fui conferir, e para minha surpresa, o celular escreveu o nome dele, no ícone de “nova mensagem”. A partir daquele momento, eu já sabia que ele, não me mandaria uma corrente boba dessas, ele não. Mas, o que seria então? O que eu vou ler quando eu a abrir? Será que ele sentiu minha falta, ou só teve vontade de me mandar uma sms? Fiz uma pausa antes de lê-la, não queria alimentar esperanças. Preferia acreditar que era uma mensagem de “boa tarde” ou algum verso, talvez.
  “Oi, boa tarde minha linda. Sei que fiquei sumido por um tempo, mas queria saber se a gente pode conversar.”
  Aquela mensagem me fez abrir um sorriso bobo instantaneamente. Não sabia quais eram suas intenções com isso, mas era uma mensagem dele,. Lógico, a gente pode conversar.
  “Oi, boa tarde meu anjo. É, você sumiu, seria bom conversar com você depois de tanto tempo.”
  Acho que fui sensata com essa resposta. Não podia pensar que, só por ele estar querendo conversar, isso significaria algo mais, se é que me entendem. Não demorou muito, e outra mensagem chega ao meu celular.
  “Foi mal mesmo em ter sumido, mas achei que estava sobrando, sei lá. Enfim, isso não vem mais ao caso, passou. Queria conversar com você, mas será que rola de ser pessoalmente?”
  Da última vez em que ele me disse algo parecido, um momento incrível foi vivido. Claro que eu podia ver ele, eu tinha que ver ele. Mesmo que minha razão me dissesse o contrário, meu coração ainda tinha o seu nome escrito.
  “Claro, eu também prefiro que seja assim. Mensagens ainda não demonstram sentimentos! Onde pode ser?”
  Meu Deus, eu estava prestes a ver ele de novo, estava prestes a olhar dentro daqueles olhos negros e simplesmente viajar.
  “Você é quem sabe! Estou disponível a hora que quiser, até de madrugada. Kkkk”
  Como sempre, brincalhão! No meio da conversa, mamãe entra no quarto dizendo que ia pra algum lugar com meu pai e meu irmão, fazer alguma coisa pra alguém. Eu não consegui prestar atenção. Eu iria ficar sozinha em casa por algumas horas, e ideia melhor não me veio à mente: Vou dizer que ele pode vir aqui!
  “Ah, bobinho! Bem, meus pais vão sair em dez minutos. Quer vir aqui em casa?”
  Não, esse convite não tinha más intenções. Esse só foi o jeito que eu achei de não adiar muito essa conversa tão esperada.
  “Eu vou sim. Mas, desde que eles não cheguem e peguem a gente no flagra.”
  “Flagra”, oi?
  “Então está bem, assim que eles saírem, te mando uma mensagem. O caminho, você já sabe. Beijos!”
  Assim, só restava esperar que a casa ficasse vazia. Eu tinha a certeza de que essa conversa iria mudar algo, tinha que mudar algo, porque nada fazia sentido. Ele some, passa meses tendo meu número de telefone só pra enfeite, e agora me procura querendo conversar?! Eu só queria que as coisas mudassem pra melhor.
  Por volta de uns 20 minutos se passaram, e finalmente, eu podia pedir para que ele viesse. Mandei uma mensagem – aliás, foi à mensagem que mais me deixou com as pernas bambas na vida – falando que o caminho já estava livre.
  “Ok! Chego ai em 10 minutos.”
  Agora, dez minutos me separavam dele, só dez! Não sabia o que dizer, o que vestir, em qual cômodo da casa nos acomodar. Coloquei “We Found Love” da Rihanna e fui procurar uma roupa decente pra pôr, afinal era domingo, e eu estava com uma muda de roupa qualquer. Quando acabo de fechar o computador, o interfone toca e meu coração agora não já não pulsava mais, explodia. ERA ELE, e na porta da minha casa! Tentando disfarçar a voz, que agora estava trêmula, o mandei entrar.
  Boné não ultrapassando o meio da testa, olhos negros e cachinhos perfeitos. Ele caminhava até a porta da sala parecendo não ter outro lugar pra olhar a não ser o meu rosto. Senti tanta falta disso, senti tanta falta dele!
  - Nossa, como você está bonita! – Ele disse me dando dois beijinhos no rosto.
  - Obrigada. Você nunca perde a chance de me elogiar, não é?
  - Nunca, nunca.
  - Vamos entrar?
  Sentamos na sala mesmo. Eu em uma poltrona e ele na segunda. A televisão estava ligada, tinha acabado de começar um Quis qualquer, num canal qualquer.
  - Bem, eu vim aqui porque…
  - Calma, vou pegar alguma coisa pra beber. – O interrompi.
  Bem, não sabia o que oferecer. Mas, fui pelo meu gosto, ou melhor, todo mundo gosta de COCA-COLA. É, vai ser isso mesmo.
  - Então, como vão as coisas? Muitas novidades pra me contar? Temos todo o tempo. – Eu disse, agora entregando o refrigerante à ele.
  - Não tenho muitas novidades, só sei que escolhi caminhos errados e resolvi tentar consertá-los. - Eu não tinha certeza, mas já sabia onde ele estava querendo chegar.
  - Por mais difícil que seja sempre tem como você voltar e trilhar novos caminhos. Só depende de você. – Ele tinha que entender isso, ele tinha.
  - Mas e se esses “caminhos” dependerem também de outra pessoa? – Agora ele tinha parado de prestar atenção na televisão e olhou diretamente nos meus olhos.
  - Você só vai ter o direito de prosseguir, se essa “segunda pessoa” souber que é seu guia. Concorda?
  - Sim. Então, se é assim, eu tenho que dizer, né? – Agora ele voltou a desviar o olhar.
  - É, você tem! – Ansiosamente, eu esperava que tudo o que ele dissesse fosse destinado a mim.
  - Minha linda, eu quero começar um novo caminho, um novo caminho com você. Percebi que você seria uma companhia perfeita, a minha companhia perfeita. – Agora, ele voltava a olhar nos meus olhos, profundamente.
  - Não dá pra acreditar. Você aqui, na minha casa, na poltrona da minha sala, me dizendo o que eu sempre quis ouvir. Fora do comum!
  - Mas pode acreditar, é verdade. Quando a gente se conheceu, achava que você iria ser só “uma a mais” na minha vida, mas ai isso foi crescendo, e agora, posso dizer que…
  - Que…? – Por favor, diz o que eu mais quero ouvir?!
  - Eu me apaixonei por você.
  Naquele momento, eu sentei ao lado dele e levei minhas mãos em seu rosto. Sabia, de algum modo, que o que ele tinha acabado de dizer era verdade. Faltaram-me palavras, e a única resposta perfeita que eu encontrei foi beijá-lo. Como eu esperei pra ter ele de novo, perto de mim. Como eu quis que aquele momento incrível saísse dos meus pensamentos e se tornasse real.   - Eu quero. – eu disse, com a mão em sua nuca.   - Quer o quê, exatamente?   - Você! – no mesmo momento, ele me beijou.   Ficamos ali por mais alguns minutos. Falamos sobre como “andava” nossas vidas, quais eram as últimas novidades, chegamos até a comentar sobre o nome dos nossos três filhos, daqui a algum tempo – sim, a gente estava sonhando alto, e era bom.
  Já tinha se passado duas horas desde a saída dos meus pais, e eu sabia que eles estavam prestes a voltar. Mesmo não querendo, pedi pra que ele fosse embora. Não podia correr o risco de nos pegarem sozinhos em casa. Se eu pudesse, seria óbvio que eu ficaria pra sempre com ele, naquele mesmo sofá, com a cabeça dele em meu colo e fazendo cafuné, mas não dava.
  - Eu vou, mas dessa vez eu não vou te deixar mais menina. – Ele disse dando uma risadinha de lado.
  - Tenho certeza que não. Não vou te perder de novo. – Agora, eu tinha o beijado mais uma vez.
  Levei-o até o portão com a certeza de que tudo seria diferente. E, dessa vez, me bateu uma sensação de segurança, mesmo com ele se afastando de mim. Foi diferente. Sabia que ele ia voltar, ele tinha que voltar pra mim.

FIM



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