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#33ª Temporada

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Pitty



Nossa Frequência

Escrito por Kendall

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  Sentir um véu sob o rosto e ter a cintura esmagada por um vestido branco é o sonho de quase todas as meninas, afinal todas anseiam viver seu momento especial, em que olham para frente e veem aquela pessoa, responsável por fazer seu coração bater mais forte, enquanto caminha em direção ao amado ou amada, parece entrar em uma frequência que só os dois sabem, é algo surreal. Não que Sarah não gostasse de casamentos, pelo contrário, os adorava, porém enquanto suas amigas ficavam sonhando em estar naquele altar de mãos dadas com o cara mais bonito da cidade, ela ficava atenta à organização dos padrinhos e à escolha de arranjos, eram esses detalhes que faziam seus olhos brilharem, sua maior realização era ver a cerimônia acontecendo ali em sua frente.
  Claro que se encontrasse alguém especial, não seria contra trocar alianças algum dia, afinal todos sonham com o verdadeiro amor, contudo, a garota de fios loiros e compridos sempre se sentiu mais como a fada madrinha do que como a cinderela, por assim dizer. Assim sendo, quando era convidada para casamentos preferia gastar seu tempo ajudando a resolver algum problema de última hora ou investigando como tudo havia sido preparado do que se imaginar entrando atrasada com um salto alto desagradabilíssimo.
  Não por acaso, aos vinte cinco anos a jovem havia se tornado uma cerimonialista renomada! Conhecida pelo seu bom gosto e excelência, através de seu espírito de liderança, Sarah se realizava dando as ordens e seu melhor para que o evento saísse como o esperado e fosse maravilhoso tanto para os noivos quanto para os convidados, a troca de alianças, o sorriso envolto por lágrimas no altar sempre a deixavam muito contente.
  Todavia, naquela tarde chuvosa enquanto encarava o cenário da cerimônia do dia seguinte, refletia que pela primeira vez gostaria de estar ali em pé, usando um vestido branco e sorrindo, não por ter realizado o sonho de alguém, mas sim por ver a sua frente aquele rosto que havia feito morada em sua mente desde que reapareceu em sua vida, um rosto que amanhã ela veria coberto por inúmeras camadas de maquiagem, mas para ela era muito mais bonito cheio de olheiras e envolto por um cabelo amassado, estes tão familiares durante o período da faculdade.
  Hayley, ao contrário de Sarah, era uma pessoa mais relaxada, por isso quando a futura cerimonialista já estava com tudo pronto para ir a aula, a amiga ainda dormia, seus olhos fechados a deixavam tão serena e ainda mais bonita ainda, como Sarah tinha vontade de poder tocar aquela pele morena que devia ser tão macia e sentir aqueles lábios tão carnudos no seu. Céus, esse era o problema de se nutrir uma paixão secreta por sua colega de quarto, mas não pode evitar. O cheiro de Hayley, sua risada, tudo sobre a garota de cabelos pretos ondulados era tão hipnotizante.
  Ao ver na tela de seu celular que já eram sete e meia, como era de costume. Sarah puxou os cobertores da amiga, esta começou a reclamar antes mesmo de abrir os olhos.
  — Hayley, anda logo, vamos nos atrasar. - Afirmou tentando não olhar fixamente para aqueles grandes e lindos olhos castanhos.
  — Você não podia ter me deixado dormir e dar uma desculpa para o “Querido”?
  Esse era o apelido “carinhoso” que as duas haviam dado ao professor de inglês dos óculos grossos, senhor Romero.
  — Mas você está pendurada em faltas, lembra?
  Hayley deu um suspiro de desânimo ainda sem sair da cama.
  — Ah, quer saber? Foda-se. Você fala que eu tive uma dor de barriga sei lá. Se eu tiver que ouvir aquele velho babão contar sobre a bisavó dele mais uma vez enquanto cospe em mim eu surto.
  — Não, porque eu já fiz isso mais de uma vez e ele não está mais acreditando nas suas desculpas, como sua amiga, se você não levantar agora eu vou ter que tomar medidas drásticas…
  — Ah não, você vai ligar a porra daquela música alta de novo? A reitora já falou sobre isso. - A voz de Hayley soou rouca.
  — Não, vou fazer melhor do que isso… - Afirmou Sarah antes de subir na cama da amiga e começar a fazer cosquinhas.
  – Ah não, você tá de sacanagem, sabe que eu sinto cócegas.
  — Exatamente. — Ficar tão perto de Hayley, sentir sua respiração, um pedaço de sua pele, era uma tortura, mas ao mesmo tempo tão natural.
  Hayley disparou a rir e implorou para que a amiga parasse, mas nada deu certo, então em um ato de desespero, ela jogou seu travesseiro no queixo da amiga. Depois de sentir o leve impacto em seu rosto, a futura cerimonialista ficou séria.
  — Hayley Foster, você não deveria ter feito isso porque agora vai ser guerra.
  – Ah, é mesmo? — Provocou a morena com um tom que Sarah jurou ser sensual.
  — Sim, guerra de travesseiro.
  Naquela manhã, as duas perderam a aula do “querido”, mas havia valido a pena.
  As lembranças consumiam a mente de Sarah até que Izzy, a chefe responsável pelo buffet, a trouxe de volta ao presente perguntando:
  — Qual vai ser o recheio do bolo, geleia de uva ou de morango?
  — As noivas é que precisam escolher. - Respondeu a loira ainda distraída pelas doces memórias na qual se encontrava submersa apenas alguns segundos atrás.
  — Geralmente sim, mas a Hayley e a Shelby pediram pra você escolher tudo, esqueceu? Eu já finalizei todos os salgados e doces que serão servidos só falta o bolo, porém preciso da sua decisão — O fato de Izzy tentar segurar o riso deixou a cerimonialista ainda mais desconfortável.
  — Claro, tem razão. — Sarah sentiu suas bochechas corarem, mas era uma profissional e não podia se deixar distrair daquela maneira. — Neste caso, geleia de morango, a Hayley vai gostar.
  Mesmo tendo sido a responsável pela escolha, Sarah sentiu uma dor no coração, ao pensar que o bolo servido em uma ocasião que a deixava tão triste teria o mesmo recheio de uma que a havia deixado tão feliz. A jovem precisou segurar as lágrimas ao se dar conta de que o casamento de Hayley com outra pessoa teria o mesmo gosto que ambas sentiram no que a ex universitária considerava o melhor piquenique de sua vida. A faculdade havia promovido uma excursão para Paris como parte de um intercâmbio cultural.
  As instalações históricas de Versalhes possuíam inúmeras lendas e histórias arrepiantes, porém enquanto a guia falava sobre como Luís quatorze não dormia deitado, tudo em que Sarah conseguia prestar atenção era na maneira como Hayley abria a boca de tédio, mas fingia interesse quando a mulher de nariz grande e voz fina a olhava. A loira era louca pelo jeito descontraído da amiga, era impossível ficar cinco minutos no mesmo ambiente que ela e não rir.
  O jardim do palácio era ainda maior do que esperava, um lugar cheio de belezas naturais e diante da água cristalina, Sarah não pôde deixar de imaginar como o reflexo de Hayley ficaria deslumbrante. Já havia ouvido histórias sobre como aquele lugar era tão grande que algumas pessoas até podiam se perder ali, às vezes até de maneira intencional… mais uma vez a então estudante, se viu submersa em pensamentos sobre como seria se ela e Hayley fossem um casal e ficassem ali por horas e horas…
  — Muito bem, vocês podem explorar esses jardins por dez minutos e nos encontramos aqui. — instruiu a guia trazendo Sarah de volta à realidade.
  — Então, como temos pouco tempo, pra que lado você gostaria de ir?
  Hayley deu uma risada maliciosa antes de sussurrar:
  — Sarah, você acha mesmo que vamos ficar aqui só dez minutos?
  A fala fez os pelos do braço da loira se arrepiarem.
  — O que quer dizer?
  — Vem comigo!
  Ela olhou em volta com os olhos preocupados, mas ao mesmo tempo cheios de curiosidade.
  — Hayley, o que você? — perguntou Sarah tentando controlar o coração que batia mais rápido do que uma bomba em seu peito.
  — Confia em mim.
  As duas caminharam lado a lado até uma parte mais escondida do jardim, Hayley foi para trás de um arbusto e Sarah a seguiu ainda tremendo por imaginar as intenções da colega de quarto, será que era mesmo verdade?
  — Muito bem, eu te trouxe aqui porque seria um crime vir a esse jardim maravilhoso e não fazer um piquenique! — exclamou a morena retirando de sua bolsa uma baguete e um pote de geleia de morango.
  — Você se lembrou!
  — De que você gosta de morango e queria experimentá-la com uma autêntica baguete francesa?
  — Como?
  — Porque todo dia você coloca geleia de morango no seu café da manhã, mas só passa na parte de fora da torrada. E um dia com a boca suja de geleia virou pra mim e perguntou: nossa, essa geleia ficaria ótima em uma baguete francesa.
  Os lábios de Sarah formaram um enorme sorriso de satisfação.
  — Eu nunca poderia imaginar que você prestasse atenção nesse tipo de detalhe. — Sua voz emocionada não escondeu o quanto a garota loira estava surpresa.
  Hayley apesar de mexida respondeu com uma risada.
  — Ah Sarah, por favor, você é minha colega de quarto, melhor amiga, a pessoa que me acorda todos os dias quando eu não quero ir para a aula, você é muito importante para mim! Para ser sincera, se eu não dividisse o quarto com você e não tivesse com quem reclamar das aulas do “querido”, essa faculdade não teria a menor graça.
  Uma lágrima escorreu de maneira involuntária pela bochecha de Sarah.
  — Também não é para chorar! — Riu Hayley disfarçando a emoção
  — Me desculpa, é que pra mim você também é muito especial, eu adoro te acordar todos os dias e fazer guerras de travesseiro.
  — Bom, chega de sentimentalismo, vamos para o piquenique?
  — Claro.
  Hayley passou delicadamente um pouco de geleia sob a baguete e depois a dividiu em duas entregando um dos pedaços para Sarah. Seus dedos já haviam se tocado inúmeras vezes, porém naquele instante, escondidas atrás de um arbusto no jardim do famoso palácio de versalhes, ambas sentiram algo especial.
  — Saúde! – Exclamou Hayley esticando a baguette na falta de um copo.
  — Saúde! — Sarah fez o mesmo.
  A vontade da jovem era ficar submersa naquelas memórias pelo máximo de tempo que pudesse já que o presente, no momento era sombrio, um lugar onde a maior felicidade que já havia sentido havia sido jogada no lixo e sem chances de ser recuperada. Contudo, a realidade sempre chama de volta e ela fez isso através da vó feminina de Izzy.
  — Perfeito, a geleia de morango vai ficar ótimo! Boa escolha!
  A cerimonialista forçou um sorriso que por sorte durou até Izzy sair, porém ele desmoronou logo em seguida e revelou seu verdadeiro sentimento, tristeza. Se soubesse o que aquela maldita ligação significaria em sua vida, ela jamais teria respondido, se soubesse o quanto esse reencontro bagunçar sua cabeça, jamais teria aceitado fazer esse casamento, jamais teria marcado aquela reunião com Shelby e nunca teria vivido o momento onde descobriu porque existiam tantas canções sobre corações partidos.
  Sarah sempre marcava o primeiro encontro com clientes em um café para maior conforto, não demorou muito para ela reconhecer a futura noiva. Ela e Shelby se deram bem logo de cara, a futura cliente foi só elogios ao trabalho da loira e disse confiar nela cem por cento, tudo às mil maravilhas até a garota deslumbrada de olhos inocentes avisar que sua noiva viria do estava atrasada. Aquele momento ficaria preso na mente de Sarah como um chiclete.
  — Perdão pelo o atraso… - se desculpou uma voz adocicada que não havia mudado e era mais do que familiar aos ouvidos da garota.
  Durante aquele segundo as perguntas que Sarah prendeu durante esse anos nos confins de sua mente para não a atormentarem voltaram com força total: Haveria Hayley mudado o jeito de falar? Ainda teria problemas para acordar cedo? Continuava sentindo cócegas na barriga? Os cinco meses que passaram juntas tinham significado algo? E principalmente: Teria ela também esperado ansiosamente por esse reencontro? A garganta de Sarah gritava para que ela colocasse todas essas dúvidas para fora, porém ao mesmo tempo, estava ali como uma cerimonialista, seu trabalho era tudo para ela, não podia jogar sua reputação fora, por alguém que nem mesmo de dignou a responder suas mensagens depois da formatura. Por anos, Hayley não passou de uma doce lembrança que contra a vontade de Sarah invadia seus sonhos e se fazia presente nos momentos onde a loira precisava se lembrar de que haviam mais coisas na vida além de uma carreira.
  A jovem sempre se sentiu como a fada madrinha, se satisfazia dessa forma, mesmo quando, às vezes seu coração gritasse que ela não havia tido seu final feliz, sua razão tentava fazê-la acreditar na mentira que ajudar os outros a terem seu momento mágico era o suficiente e funcionou por um tempo. Até aqueles malditos olhos castanhos voltaram para sua vida.. Pela primeira vez ela sabia que se tivesse a chance, trocaria sua carreira sem nem pensar duas vezes e estaria no lugar de Shelby. Em um mísero segundo, a jovem entendeu que tudo que havia construído nos últimos anos, não era nada perto do que poderia ter vivido com Hayley, do que elas poderiam ter sido juntas, se não tivessem se afastado…
  A primeira vez que Hayley não respondeu a uma mensagem foi como se uma parte de Sarah tivesse sido arrancada sem anestesia. Agora, sem avisar, essa parte havia voltado, porém não era mais dela, essa era a parte mais torturante.
  Encarar aquela pele morena cujo gosto ela já havia experimentado, aqueles lábios carnudos que agora beijariam outra boca. Por mais que se esforçasse, não conseguia deixar de pensar que um dia aqueles lábios eram só seus. Por uma noite, pareceu não haver mais ninguém na populosa cidade de Paris. Durante algumas horas, Sarah podia jurar que a torre Eiffel havia sido feita somente para que as duas vivessem naquele instante.
  A altura era algo que fazia as pernas de Sarah tremerem, olhava para as casas abaixo e sentia sua respiração acelerar, porém como mágica tudo sumiu quando ela sentiu aquele toque suave e viciante em sua mão.
  — Ei, relaxa, eu estou aqui com você! Além do mais nada pode ser pior do que ter que limpar o meu vômito. Confia em mim.
  Sarah se rendeu a uma risada enquanto se lembrava de quando a morena entrou no quarto bêbada e foi direto para o banheiro.
  — Ai, só você mesmo pra me fazer rir em uma hora dessa! - Declamou colocando as mãos de leve sob os ombros da amiga.
  — Deixa de bobagem, Sarah.
  — Não, é sério, Hayley, você é a pessoa que mais me faz rir no mundo, eu não consigo ficar cinco minutos no mesmo lugar que você sim dar uma risada.
  – Claro que consegue! Na verdade, vou propor um desafio, eu trouxe uma garrafa de champanhe e dois copos, nós duas vamos colocar um pouco na boca, segurar, nos encarar pelo máximo de tempo, quem rir primeiro, engolir ou cuspir.
  O peito de Sarah tremeu visto que passar muito tempo encarando os belos e seduzentes olhos negros de sua companheira de quarto não era uma boa ideia, contudo a loira não podia demonstrar sinal de fraqueza.
  — Eu topo! — Exclamou antes de colocar o líquido na boca.
  Menos de um minuto depois, Hayley revirou os olhos de uma maneira que Sarah não resistiu e cuspiu a bebida torre abaixo. Os xingamentos em francês que vieram logo em seguida fizeram as duas cair na risada.
  — Viu? Eu disse, é impossível passar dois minutos no mesmo lugar que você sem rir.
  – Bom, eu tenho outra ideia pra te provar que isso não é verdade! — Provocou Hayley se aproximando de maneira perigosa enquanto o coração de Sarah batia mais forte que um tufão
  — Ah é mesmo, qual?
  Com um sorriso sedutor, ali mesmo sob as luzes da torre Eiffel, a morena encostou seus lábios nos de Sarah. A fazendo entender porque Paris era considerada a cidade do amor.
  O arrepiante sabor daquele beijo, carimbou a boca de Sarah de uma maneira que ela ainda conseguia senti-lo, uma pena não ter feito o mesmo com Hayley. Afinal a morena agia como se elas fossem apenas velhas conhecidas, essa verdade tão dolorosa para Sarah foi constatada na primeira vez em que ficaram sozinha.
  A jovem especialista em casamentos havia agendado com Shelby uma visita a um salão que elas estavam analisando para ser o local da cerimônia, pelo menos com a noiva de Hayley por perto, era obrigada a manter o profissionalismo e a não tocar em todos os assuntos inacabados que atrapalham suas noites de sono, contudo, seu coração saiu pela boca quando naquela tarde, Hayley entrou pela porta de maneira sozinha. A cerimonialista esperava no mínimo um sorriso, porém tudo que a morena fez foi acenar de maneira tímida. Sarah tinha esperanças de que Hayley estivesse tão mexida com a situação quanto ela.
  — E então, onde está a Shelby? Ela é quem estava mais ansiosa para ver esse local — Indagou evitando encarar diretamente a ex colega de quarto.
  — Ah, ela teve um compromisso de última hora, mas ela disse que te manda uma mensagem explicando depois.
  — Entendi, mas se ela for igual a noiva, tenho certeza de que não vai dar satisfação nenhuma. — Alfinetou de maneira forte enquanto sentia as lágrimas na porta de seus olhos.
  Hayley levantou a sobrancelha e encarou Sarah como se ela tivesse acabado de dar um vexame em uma festa.
  — Jura? Você quer mesmo falar sobre isso?
  A loira estava cansada de continuar na dúvida, por isso resolveu colocar as cartas na mesa:
  — Como não? Nós tivemos algo bonito da faculdade, eu te amava, nós prometemos continuar nos falando mesmo depois de seguir caminhos diferentes, porém você simplesmente sumiu e me deixou imaginando o que eu teria feito de errado. Agora volta, prestes a se casar e ainda me chama para organizar o evento? Caramba! Uma outra pergunta: Você sabia quem eu era quando decidiram me chamar?
  Hayley deu longo suspiro enquanto colocava as mechas negras para trás da orelha, gesto que Sarah, por mais que tentasse não reparar, ainda achava muito sexy.
  — Muito bem, já que é tão importante para você… Sim é claro que eu sabia quem era você quando te contratei, poxa, você é a melhor cerimonialista da cidade e eu não ia deixar de te encontrar só por causa do rolo rápido que tivemos na faculdade.
  Sarah naquele instante queria arrancar os ouvidos, então era assim que Hayley definia o que haviam vivido…
  — E sobre eu ter sumido, as pessoas crescem, Sarah, na faculdade nós fazemos promessas bobas que não cumprimos, eu conheci gente nova, amadureci, me apaixonei e tenho certeza que o mesmo aconteceu com você. Por isso não vejo motivo para que não possamos ir em frente com isso de forma civilizada como duas adultas.
  Arrancar a pele teria doído menos do que escutar aquelas palavras, mas Sarah não podia se deixar abater, Hayley tinha razão em um aspecto, ela também havia seguido em frente, construindo uma empresa bem sucedida! Por mais difícil que fosse, as lembranças de um passado incrível não poderiam dominá-la. Por isso, engolindo a mágoa, respondeu:
  — Verdade, você está certa, eu também segui frente com a minha carreira e tudo mais. Além disso, nós duas somos adultas, também não vejo motivo para não termos uma boa relação de cerimonialista e cliente.
  — Ótimo! Que bom que estamos de acordo!
  Por mais que quisesse nas palavras que saíram de sua boca com tanta convicção, no fundo ainda era difícil encarar a morena e não se lembrar das vezes em que beijou seu pescoço, ou das inúmeras risadas tolas que deram até a madrugada. Hayley era divertida e havia sido seu tudo durante a faculdade, porém mesmo que fosse doloroso, ela precisava aceitar: Aquela Hayley por quem ela havia se apaixonado, não existia mais, tudo que podia fazer era guardá-la em uma canção que só elas sabiam o que realmente significava.
  “A thousand Years” da Christina Perri ecoava pelo quarto enquanto Sarah se encontrava envolta nos braços de sua amada.
  — Essa música é perfeita, sabe? — Exclamou antes de girar.
  — Mais perfeita ainda porque eu estou dançando com você! — Sussurrou Hayley.
  — De agora em diante, essa vai ser nossa música! Porque não importa o que aconteça, eu vou te amar por muito mais mil anos, Hayley Foster! — Declarou Sarah antes de juntar seus lábios ao da amada em um beijo apaixonado.
  Envolvida nas doces e doloridas memórias, Sarah foi para casa cantarolando a canção onde ela havia guardado Hayley para sempre.
  O dia do casamento era sempre o mais agitado, imprevistos, convidados indesejados, últimos detalhes que demoram mais do que o esperado para ficarem prontos e nessa cerimônia ainda tinha o agravante de tentar não raptar uma das noivas para fugir com ela antes da cerimônia.
  — Está perfeita! — Exclamou a loira enquanto terminava costurar um botão no vestido de Shelby.
  — Ah, Sarah, muito obrigada você é um anjo, não sei o que faria sem você!
  — Imagina, não foi nada, eu sempre tenho um botão e uma linha branca para esse tipo de acidente.
  — Por isso você é a melhor cerimonialista que poderíamos ter! Agora aquela costureira, vai ver só…
  A ira de Shelby sumiu quando uma música começou a ecoar no salão indicando que era sua vez de entrar.
  Como parte de seu trabalho, Sarah também precisava checar Hayley. A morena estava mais linda do que nunca com os cabelos ondulados envoltos em um coque, os olhos maquiados cuidadosamente e o vestido branco, parecia ter sido feito para o seu corpo, Sarah não podia evitar desejar desesperadamente ser a responsável por retirá-lo na noite de núpcias.
  — Está pronta? — Indagou tentando afastar os pensamentos indevidos, uma missão quase impossível, visto que se encontrava com as mãos no vestido de Hayley e seu doce cheiro ainda passava para ela como um fluxo perfeito.
  — Sim, eu estou! — Afirmou a morena, aparentemente sem um pingo de dúvida em sua voz.
  — Certo, vou pedir para colocarem sua música então…
  Seus dedos tremiam enquanto apertavam o botão do walktalk.
  — Muito bem, pode colocar a música da Hayley!
  — Ok, mas eu preciso te avisar: Ela pediu para mudar a música de entrada dela de última hora! - Respondeu o responsável pelo som.
  Sarah arregalou os olhos tentando não ter um ataque cardíaco.
  — O quê? Como assim?
  Foi o que saiu de sua boca antes de seus ouvidos identificarem as primeiras notas de “A thousand Years” da Christina Perri. Tudo que Sarah se debulhou em lágrimas enquanto retribuía o sorriso emocionado que Hayley lançava a ela. Por um louco instante ela se permitiu ter esperanças.
  - Vou te fazer uma última pergunta: Se as coisas tivessem sido diferentes. Você acha que poderia ser a gente ali?
  A resposta veio uma frequência que só as duas conheciam.

FIM