%Choi% %Aidan% suspirou pela centésima vez naquele dia. Ele estava às vésperas de uma importante prova da faculdade, mas não conseguia se concentrar o bastante para estudar. %Lee% %Rachel% era tudo no que conseguia pensar. %Rachel% era a melhor amiga de sua irmã mais velha, uma mulher de 29 anos que o encantava com sua personalidade radiante e seu jeito um tanto desastrado às vezes.

  Com certeza era estranho pensar que aquela mulher havia visto ele nascer e crescer e, por vezes, tinha sido sua babá e talvez tivesse trocado suas fraldas… Um pouco constrangedor se ele se permitisse pensar bem sobre o assunto, mas não importava o quanto ele pudesse se sentir envergonhado de vez em quando ao imaginar aquelas coisas, não mudava o fato de que ele estava apaixonado por %Lee% %Rachel%.

  Fazia cerca de um ano desde que havia entendido que aquele descompasso nas batidas de seu coração, a euforia e a certa timidez que sentia quando a via não eram simples reações de um garoto vendo sua antiga babá que devia saber de histórias terríveis de sua infância. Ele havia tentado confessar seus sentimentos à sua noona diversas vezes, mas o fato de ela, toda vez, o olhar como se fosse o menino mais fofo do mundo e, por vezes, apertar suas bochechas como faria com uma criança não o ajudavam em nada a não ser a concluir que ele não tinha a menor chance com ela.

  Sua falta de concentração atual se dava pelo fato de que na noite anterior ele finalmente havia conseguido dizer o que estava sentindo para %Rachel%. Os dois estavam comemorando a abertura da empresa de marketing que %Lee% e suas amigas de faculdade finalmente tinham decidido tirar do papel. As quatro amigas - que incluía %Choi% Soyeon, su irmã mais velha - sediaram uma festa para os familiares e amigos no local do escritório e todos estavam animados. Encorajado por um pouco de álcool - nada demais, mas o suficiente para deixar o lado mais impulsivo de %Aidan% se destacar - ele caminhou em direção à %Rachel% que estava distraída escolhendo um dos cupcakes à mesa enquanto segurava uma taça de champanhe.

  Ao se virar, a mulher acabou por se atrapalhar sobre os saltos e, mais rápido do que poderia pensar, %Aidan% já estava ao seu lado para ampará-la, segurando-a com firmeza pela cintura e ajudando-a a se pôr em pé novamente.

  — Oh, wow… — %Rachel% murmurou rindo um pouco sem graça enquanto se endireitava, com certa relutância, %Aidan% deixou-a se afastar, por um instante se esquecendo completamente do que estava determinado a fazer quando chegou ali. — Obrigada, %Dannie%!

  %Choi% sorriu ao mesmo tempo em que engolia em seco. Era hora…

  — Noona, será que podemos conversar? — perguntou, tentando não pensar muito no que estava prestes a dizer ou em como aquilo poderia terminar.

  — Claro. — %Rachel% sorriu animada da forma que %Aidan% adorava - embora aquele não fosse lá um bom parâmetro para qualquer coisa já que ele amava todas as formas de sorrir dela.

  Os dois caminharam para o hall de entrada do lugar e então a moça se virou para o mais novo, esperando o que ele tinha a dizer.

  %Aidan% suspirou.

  — Noona… Eu gosto de você — murmurou sem se dar ao luxo de enrolar muito ou fazer firulas.

  — Ah, que bom, né? — %Lee% riu divertida. — Quer dizer, nós nos conhecemos faz uma vida, seria meio estranho se você não fosse com a minha cara.

  %Choi% suspirou mais uma vez enquanto massageava a base do nariz. É claro que ela não entenderia de primeira o real significado de suas palavras. Ele deveria ter previsto aquilo, definitivamente.

  — Não, noona… Eu… Gosto gosto de você.

  %Aidan% percebeu que %Rachel% estava pronta para responder qualquer coisa, mas que enfim havia desistido quando enfim compreendeu para onde tudo aquilo estava caminhando. Foram os segundos mais longos da vida de %Choi% %Aidan% e, apesar de estar tentando ignorar tudo e só se deixar levar naquela situação, ele já podia imaginar a que fim aquela conversa levaria.

  — %Dannie%… — Ela começou o encarando da forma que ele sabia que significava que ela estava tentando ao máximo ser delicada e não magoar ninguém. — Eu acho que talvez você esteja confundindo as coisas…

  %Aidan% soltou um riso nasalado e sem nem um pouco de humor.

  — Acredite, noona, não estou — respondeu firme.

  Foi a vez de %Rachel% soltar um risinho, o tipo de riso que ela soltava quando estava nervosa ou desacreditada.

  — Olha, tudo bem, você pode estar sentindo alguma coisa a mais por mim, %Dannie%, mas… É só uma coisa platônica que a maioria das crianças corre o risco de sentir por quem cuidou delas. — Ela disse aquilo como se soubesse muito bem do que estava falando.

  — Eu não sou mais uma criança, %Rachel% — %Aidan% murmurou quase se sentindo irritado com aquela forma de ser tratado, mas a verdade era que ele já esperava por aquilo.

  — Você ainda é o irmão mais novo de vinte e um…

  — Vinte e dois — o rapaz corrigiu-a quase que automaticamente, como se aquele número fosse fazer qualquer diferença para %Lee%.

  — … Vinte e dois anos da minha melhor amiga.

  — E qual exatamente é o problema nisso? — %Aidan% questionou mesmo tendo uma ideia da resposta.

  — %Dannie%, nós dois estamos em fases completamente diferentes das nossas vidas — explicou em um tom quase exasperado. — Você praticamente começou a descobrir a vida agora e eu…

  — E você…?

  — E eu já passei por isso e tô pronta para uma coisa completamente diferente — concluiu após alguns instantes de silêncio.

  Em sua cabeça, %Aidan% queria protestar e fazer %Lee% %Rachel% entender que ele não se importaria em pular aquela fase de sua vida para poder viver com %Rachel% a dela, mas sabia que não faria a menor diferença para ela. Afinal, o que uma mulher como ela iria querer com um cara como ele? Ele mal havia começado a faculdade de medicina, ainda precisava estar constantemente com o nariz enfiado em livros universitários e em pouco tempo teria que se preocupar com residências e um rumo para a carreira, enquanto isso, %Lee% %Rachel% já tinha traçado todos os seus objetivos na vida e já começava a riscar sua lista com cada item alcançado.

  — Eu acho que a gente devia só… Seguir em frente como sempre fomos, %Aidan% — concluiu ela por fim, virando-se atrapalhada e nervosa de volta para a porta de entrada, se desequilibrando por alguns segundos. Mais uma vez, %Aidan% a segurou, evitando que caísse. Ela pigarreou tentando se manter séria. — Eu tenho certeza de que você vai encontrar a mulher certa para você, %Choi%. — Sorriu pequeno e se afastou, deixando %Choi% %Aidan% para trás.

  Naquele instante, diante da pilha de livros que deveria estar estudando, o cérebro de %Aidan% revirava aquela cena da noite anterior em busca de alguma brecha que lhe diria que as coisas poderiam ter terminado de forma diferente, mas a verdade era que, não importava quantas vezes ele repassasse o ocorrido em sua mente, as coisas sempre levavam ao mesmo fim.

  O que mais o irritava na situação é que %Rachel% tinha razão. Eles de fato estavam em momentos diferentes da vida e ele praticamente havia começado a “viver” há pouco tempo, tendo decidido o pouco de seus objetivos havia pouco mais de dois anos. Ainda tinha alguns anos até poder riscar o “se formar” de sua lista, mas ao menos o “decidir a carreira” ele já havia feito. Não havia muito mais do que aquilo em seus objetivos de longo prazo, além de “independência” e “casa própria”.

  Com mais um suspiro, %Aidan% adicionou em sua lista mental de objetivos mais um item que, apesar de ter sido acrescentado por último, estava no topo de prioridades: “viver tudo o que se tem para viver”. %Choi% %Aidan% podia ser uma pessoa bastante tranquila e maleável, mas quando colocava algo na cabeça, dificilmente desistiria e poderia chegar ao nível da teimosia ao insistir no que queria. E ele estava disposto a ir longe para alcançar aquele objetivo implícito do último item adicionado à sua lista.

  — Certo, vamos lá, %Choi% %Aidan%. — Sorriu para si mesmo enquanto finalmente começou a ler os textos que precisava estudar com alguma concentração. — Sua vida acaba de começar.