Nobody Knows

Escrito por Ana Paula | Revisado por Cáàh

Tamanho da fonte: |


  - NIALL! Isso não tem graça! Devolve ela pra mim! - a menina dizia e corria atrás do menino de cabelos loiros.
  - Quem manda você ficar toda metida e egoísta? - ele disse e mostrou a língua.
  - Tá bom Niall, eu brinco de pega-pega com você depois, mas agora me devolve ela! - ela para e cruza os braços na frente do menino.
  - Ok... - ele devolve a boneca para ela e dá um tapa leve no braço dela. - TÁ COM VOCÊ!
  Eles corriam e gritavam. Brigavam e brincavam. Em um minuto ela chorava, no outro ele pedia desculpas. Em um momento ela sorria e ele a provocava. As horas se passavam rápido naquele bosque. A menina se sentia feliz. Completa.
  - Niall, você promete que nunca, NUNCA vai me esquecer? - ela disse quando finalmente se sentaram na velha casa da árvore feita pelos pais das crianças, que eram amigos antes deles.
  - E como eu poderia esquecer minha melhor amiga? - ele disse sorrindo.
  - Mas um dia a gente vai crescer, e se acontecer igual minha mãe e meu pai?
  - Eu nunca vou te abandonar , eu te amo. - ele disse e a abraçou.
  Ambos tinham 8 anos. Duas crianças, com um amor fora do comum uma pela outra.
  - Niall, posso fazer uma coisa que eu vi num filme?
  - Aham, o que é? Porque eu vi um filme de guerra que os soldados tinham que se arrastar pela lama e... - Ela o beijou. Um selinho. Coisa de criança. Pura inocência. Puro amor.
  Eles se separaram e ela deu um sorriso que ia de orelha a orelha.
  - Até amanhã, melhor amigo! - ela deu um beijinho, dessa vez na bochecha dele, e pulou da casa. Ela corria em direção à saída do pequeno bosque que cercava a cidade, e ele ficou lá com a mão sobre a boca, olhando espantado. Mal tinha a perdido de vista e abriu um sorriso.
  - Até amanhã, melhor amiga. - ele disse sozinho.

------------x------------

  Os anos se passaram e a promessa nunca foi quebrada. Nunca tocaram no assunto daquele beijinho. Era infantil. Inocente. Ela tinha agora 14 anos, e ele 15.
  - Niall, vamos logo! Minha mãe vai ficar brava se eu me atrasar pro almoço de novo! - ela gritava em frente à escola, enquanto o menino estava encostado no muro beijando uma menina diferente. Era sempre uma menina diferente.
  - Nossa , você é muito estressada...
  - É Niall, a gente pode só ir logo?
  - Qual foi? Tá estressadinha por que hoje?
  - Qual o nome dessa?
  - Milena.
  Silêncio.
  - ?
  - Hm?
  - Esse tênis é novo? - ele disse apontando para os pés da menina.
  - É sim, comprei ontem...
  - AGORA NÃO É MAIS! - ele disse e deu um pisão forte no pé da garota, sujando o tênis de terra.
  - NIALL! VOCÊ ME PAGA! - ela disse e saiu correndo atrás dele. Quando chegaram ao bosque, já riam e se zoavam.
  - Então, até amanhã ...
  - Até... Não demora pra passar lá em casa, hoje eu já quase fiquei de fora na primeira aula!
  - Ok ! - ele a chamava de . Era um apelido carinhoso, mas que a irritava tremendamente. Ele saiu em direção ao bosque. Seriam vizinhos se não fosse o tal bosque.
  A menina chegou em casa, almoçou quieta e subiu para o quarto. Ela não era mais aquela menininha inocente, que deu o primeiro beijo no menino com quem costumava brincar na casinha da arvore. Ela estava crescendo, e seus sentimentos com relação a ele estavam mudando.
  Ela subiu até seu quarto e trancou a porta. Colocou alguma musica pra tocar alto e deitou na cama. E chorou. Por que ela não podia ser como a tal Milena? Ou Rafaela, ou Rute, ou Bianca? Ou qualquer uma delas? Como eles eram amigos? Ela era a menina quietinha, que gostava de esportes, e não de festas, que preferia ficar a noite lendo um bom livro em casa do que aos beijos com um carinha do time de futebol. Aliás, ela queria ficar aos beijos com um carinha do time de futebol, mas não um carinha, o cara. Ele.
  Os anos continuavam se passando. Ele com qualquer uma, e ela sozinha. Sempre foi assim. Era pra ser assim. Pra sempre. Ela sabia disso, mas saber não significa gostar.
  2 anos se passaram, pra ser mais exato, e ele tinha se inscrito para um programa de talentos. The X Factor. Ele estava nervoso. Partiria no dia seguinte para se aventurar nesse novo "mundo das estrelas".
  - PROMETE QUE NÃO VAI ME ESQUECER!
  - , eu já prometi umas 50 vezes!
  - PROMETE MAIS UMA VEZ CARAMBA!
  - TÁ BOM ! EU PROMETO! EU NUNCA VOU TE ESQUECER TÁ BOM? NUNCA, NUNCA, NUNCA, NUNCA! - ele gritou e a abraçou. Eles estavam no bosque. Em baixo da casinha da arvore, encostados no velho tronco.
  - Sabe do que eu me lembrei agora?... - ela perguntou depois de um tempo.
  - Não, do quê?
  - Você se lembra daquela vez... quando a gente era pequeno... e... ah, deixa pra lá...
  - Você me beijou? Como eu posso esquecer? Foi meu primeiro beijo!
  Ela corou.
  - Eu... me desculpe por aquilo. - ela estava tremendamente envergonhada.
  - Se desculpar pelo quê? Por isso? - ele disse e a beijou. Um beijo quente. Não tão inocente como o de anos atrás. Suas línguas se enroscavam loucamente. Eles se separaram e sorriram um para o outro.
  - O que foi isso, Niall?
  - Nada , só pra relembrar...
  - Aham, sei... - ela mal disse isso e eles se beijavam novamente. -E ISSO AGORA? FOI O QUÊ?
  - Pra eu lembrar enquanto estiver viajando. - ele disse e a deu mais um selinho. - esse foi porque deu vontade.
  Eles riram.
  - Ei babe, eu tenho que ir. Está ficando tarde... Promete que vai se cuidar? E que não vai me esquecer?
  - É claro que prometo ... Eu te vejo em algumas semanas.
  E foi com mais um beijo que eles se despediram. As tais semanas se passaram, chegou o dia de ele voltar. Ela o esperava na casa da árvore, como tinham combinado. Ele tinha conseguido uma banda no tal programa. Ela assistira sempre, e torcera por ele. Ele sairia em turnê na próxima semana, e ela queria aproveitar ao máximo essa ultima semana com ele. Ela colava uma foto na parede da casinha, que era enfeitada com fotos deles e dos pais deles, de quando eram crianças e de todas as confusões que se meteram. Na foto que ela colava, os dois tinham cerca de 12 anos, ele estava sem camisa e ela com a camiseta do time de futebol da escola. O Niall tinha feito o gol da vitória, e tirou a camiseta para pôr nela. Eles seguravam um troféu e sorriam.
  - Eu lembro desse dia... - ele disse. Ela se assustou, não tinha o visto chegar.
  - OI NIALL! - ela correu e o abraçou.
  - Oi ! - ele disse entre as risadas. - eu morri de saudades...
  - Morreu nada! Se tivesse morrido não tava aqui!
  - Larga de ser boba! - ele disse e a beijou.
  - E esse foi porque...
  - Porque eu tinha me esquecido qual era seu gosto.
  - E qual é?
  - Não sei, talvez morango. Ou chiclete de uva...
  - Talvez um pouco dos dois... - ela sorriu e o beijou. - você tem gosto de menta.
  - Eu me preparei para esse beijo, oras! - eles riram e ficaram ali trocando beijinhos.
  A semana ia passando, e suas tardes se resumiam aquilo. Correr pelo bosque, tomar sorvete no parque, e trocar beijos na casa da árvore. Faltava um dia pra ele sair em turnê com a banda. One Direction era o nome dela.
  - Eu queria que você pudesse ficar pra sempre... - ela dizia.
  - Eu queria poder ficar para sempre , mas agora eu quero seguir meu sonho também! E eu queria que você seguisse o seu...
  - Meu sonho não é tão simples de ser alcançado, Niall...
  - E qual é o seu sonho?
  - Talvez um dia eu pense em te contar...
  - Como assim? Sem segredos lembra?
  - Aham, mas todo mundo tem seus pequenos segredinhos...
  - Se você não contar... eu vou...
  - Você vai o que garoto rebelde? - ela disse zombando dele.
  Ele foi pra cima dela e começou a beijar. Esse era um beijo único. Carnal, selvagem. Eles ambos tinham segundas intenções. 16 e 17 anos. Sabiam o que queriam da vida. Pra que esperar mais?
  Ele levantou a blusa dela enquanto a deitava no chão de madeira da casinha. Ela tirava a camiseta dele. Os beijos dele foram descendo para o ombro dela, e ela foi bagunçando o cabelo dele. Primeiras experiências. Experiências que levariam para sempre. No fim de tudo, estavam deitados ali naquele chão sujo, onde costumavam brincar todos os dias desde que se conheceram. Ela o abraçava, e ele tinha os olhos virados em direção ao teto.
  - No que você está pensando? - ela perguntou.
  - Em tudo que aconteceu agora. Quero me lembrar disso pra sempre! Eu nunca imaginei você tão... - ele interrompeu o próprio pensamento.
  - Fala logo!
  - Gostosa... - ele disse corando.
  - Anos de corridas pelo bosque ajudam em alguma coisa... - ela disse e se levantou para colocar de novo a roupa.
  - Onde você vai?
  - Pra casa ué! Tá de noite já Niall, você devia ir também. Amanhã você vai viajar.
  - Mas...
  - Não discute comigo! Não quero você cansado amanhã! Você não começa a turnê depois de amanhã? Tem que descansar bastante! - ela sorria.
  - Ok amor... - Ele se levantou e se vestiu também. - Eu te amo sabia disso?
  - Eu também Niall, sempre amei, e sempre vou amar! - ela disse o abraçando. - mas agora eu preciso ir.
  Ela começou a correr assim que sentiu que ele não podia mais vê-la. Ela chorava muito.

  's POV
  O que eu tinha acabado de fazer? Ele viajaria no dia seguinte. Me esqueceria. Começaria a vida no mundo dos famosos. Mas não, o que nós tínhamos era especial demais. Ele prometeu que ligaria todo dia. Ele sempre cumpre suas promessas. Ele não me deixaria no passado. Afinal, ele era meu mundo. Era meu único amigo. Ok, eu conversava com outras pessoas, mas só por causa dele, que sempre foi popularzinho! O que seria de mim sem ele toda tarde para conversar?
  Cheguei em casa e me tranquei no quarto. Precisava pensar sobre tudo que estava acontecendo. Acabei dormindo. Acordei com uma mensagem dele.
   "Eu estou entrando no avião. Amanhã prometo que te ligo. Eu te amo. .xx Niall"
  Eu abri um sorriso. Ele não me esqueceria. Ele me ligaria no outro dia, como ele tinha prometido.

  Niall's POV
  A viagem foi horrível. O temor em deixá-la para trás, o medo com relação à nova vida, o nervoso sobre as apresentações.
  Cheguei a Londres. Fui direto para o lugar onde faríamos nosso primeiro show profissionalmente. Apesar do nervoso, o show foi um sucesso.
  - Ei Niall, você foi muito bem! - era Louis.
  - Valeu cara, você também... - eu estava cansado, deitei na cama e dormi, eu sei que tinha prometido ligar para ela, mas qual o problema em esperar mais um dia? Ela não se importaria...

------------x------------

  Mas ela se importava. Ela esperou a noite toda pelo telefonema, mas ele não veio. Nem na noite seguinte. Nem na outra. Nem nunca.
  O contato foi cortado completamente. Não era justo. 16 anos completos da mais pura amizade. E agora estava tudo terminado.
  Sempre que a musica deles tocava, ela saia de perto ou tapava os ouvidos. Ela não gostava de ouvir a voz dele.
  Ela começou a andar com pessoas novas. A menina que gostava de esportes parou de correr para poder passar a tarde no shopping com alguns amigos. A garota que preferia passar as noites lendo um livro de cavaleiros e dragões agora passava as noites em alguma festa bebendo com más influências. As patricinhas do colégio a invejavam. As líderes de torcida eram suas novas companhias. Os caras do time de futebol a disputavam. Os nerds com quem ela costumava conversar tinham nojo do que ela se tornara. Ela tinha trocado a camiseta cor de rosa e a calça jeans rasgada por um vestido curto e salto alto. O cabelo, antes sempre preso em um rabo de cavalo ou em um coque, agora era jogado para o lado como o de todas as outras vadias nas festas em que ia.
  Ela não se reconhecia. E preferia assim. Ela teve que se adaptar. Estava sozinha desde que ele fora em bora. Na verdade, aquilo tudo era pra ele. Se ele preferia as garotas normais, (lê-se vadias), era o que ele teria. Mas nem aquilo adiantava. Ela nunca mais o viu. E ela gostou daquele estilo de vida. Agora ela não tinha nem sequer um amigo verdadeiro, mas todos sabiam seu nome. Os meninos com quem ela ficava se gabavam, e as meninas com quem conversava já se consideravam suas melhores amigas.
  Na realidade, ela estava na fossa. A mãe tinha desistido de brigar, e o pai não a visitava mais. Ela saía de noite para ir a alguma festa e voltava na manhã seguinte, não lembrando de nada do que tinha feito. Tudo era diferente, mas com o tempo ela aprendeu a transformar a dor e a saudade, em loucura. Uma tatuagem que fez, era tudo que precisava para se lembrar dele. Um trevo de quatro folhas, na nuca, onde ninguém nunca via, devido aos cabelos soltos e cumpridos que agora ela exibia. Um segredo dela. Um pedacinho que ela guardou da vida passada. Onde guardava o seu sonho mais profundo e todos os momentos em que passou com ele.
  Ele? Ele estava sempre em turnê, ou muito ocupado com alguma entrevista ou sessão de fotos. Ele nunca a esqueceu. Mas também nunca ligou. Um dia se tornou uma semana, que se tornou um mês, que se tornou um ano, seguido por outro.
  Ele finalmente voltaria para casa. Levaria os colegas da banda para conhecer sua cidade natal. E ele estaria feliz, se não fosse por uma única coisa: ela. Eles nunca mais se falaram depois daquele dia. Daquela primeira vez. Ele prometeu ligar e nunca ligou. Já ela, nunca respondeu as mensagens ou os twetts que ele mandava.
  Eles desembarcavam do avião, cumprimentavam as fãs, tiravam fotos e davam autógrafos, mas ele estava quieto, mais do que o normal.

  Niall's POV
  - Ei cara, você ta bem? - era Liam.
  - Aham, só estou... com medo...
  - Por voltar pra cidade natal?
  - Mais ou menos isso mesmo...
  A gente entrou na van que nos levaria para a casa dos meus pais. Chegamos lá em poucos minutos, já que a cidade era um tanto pequena, e nunca tinha trânsito.
  - NIALL!
  - Oi mãe! Oi pai! - eu os abracei. - Deixa eu apresentar os meninos, Louis, Liam, Zayn e Harry...
  - Não precisa apresentar não filho, sua mãe me fez decorar o nome de todos assim que o primeiro CD saiu... - meu pai ria e apertava a mão dos outros.
  - Ei caras, deixem suas coisas aí, entrem e se acomodem, eu vou ali, e já volto. - eu disse sorrindo, e segui em direção ao bosque.
  Ah, o bosque! Tudo parecia tão igual, mas também tão diferente! A luz do sol da tarde ainda batia nas folhas, fazendo o chão ficar colorido de laranja e verde. As árvores ainda se juntavam no topo, nos dando a impressão de estarmos presos ali. Os pássaros ainda cantavam e o som do riacho ainda estava ali. Tudo como eu me lembrava, mas mesmo assim faltava algo. O som da risada dela. O sorriso dela ao olhar pra trás enquanto corria. Os cabelos presos num rabo alto que balançavam quando ela corria na minha frente. Os beijos dela. O cheiro dela. O bosque estava igual, mas vazio.
  Fiz o mesmo caminho que fiz durante toda a minha vida, mas quando cheguei ao lugar onde costumava ficar nossa árvore, nossa casa, nossas fotos, onde estavam nossas lembranças, tinha só um tronco seco. A casinha podia ser encontrada a alguns metros dali, toda quebrada, provavelmente a velha árvore caiu durante uma tempestade. Mas não fazia tempo que o lugar estava daquele jeito. No resto do tronco da árvore que caiu, eu podia ver várias marcas de canivete. Nomes, palavras. Confusas e apagadas. Algumas recentes e outras mais velhas. As fotos tinham sido recolhidas. Só restava uma. Ela e eu. A última foto que tiramos antes de eu partir, onde eu abraçava ela pela cintura e ela estava com os braços levantados, segurando a máquina que tirou nossa foto. Estava pregada do lado de fora da casinha. Já tinha as margens corroídas, e ao seu lado, escrito na madeira da casinha que apodrecia, eu pude ler. "Eu te esperei." Aquilo me chocou. Só uma pessoa podia ter escrito aquilo. . Me sentei ao pé do resto da árvore, onde demos nosso... segundo, é, segundo, beijo. Lá, eu podia ler meu nome diversas vezes. Podia ler o nome de todos da banda. Podia ver marcas de dias sendo riscados. Muitos dias. Podia ver sangue também. Podia ver marcas de canivete. Marcas do ódio.
  Voltei para casa chocado.
  - Ei mãe, o que aconteceu com a velha casinha?
  - Aquela casinha da árvore? Caiu num temporal no fim do ano passado. Quase matou a . - ouvir o nome dela me deu calafrios.
  - Como assim quase matou ela?
  - Ai filho, ela não é a mesma. Ela está... diferente. Em uma noite que chovia muito, ela estava na casinha, onde costumava ficar sempre. Eu às vezes ia até o bosque, e via ela muitas vezes lá. Passei a ver menos com o tempo. Mas pelo menos uma vez por semana ela estava lá. Nessa noite, ela estava lá. Caiu um raio na árvore e ela começou a pegar fogo. Foi seu pai quem chamou os bombeiros. O fogo começou um pequeno incêndio. Os bombeiros a salvaram. Ela... digamos que ela só estava lá. - ela estava escondendo algo. E eu precisava saber o que.
  - Ah, então foi isso... ok mãe, eu vou dormir. - já subia rumo ao quarto, onde os meninos jogavam videogame, quando meu pai me chamou no escritório:
  - Filho, vem cá, a gente precisa conversar... - ele estava sério. - Sua mãe não tem coragem de te falar tudo. É melhor você saber de uma vez, antes de ficar chocado. A , ela não é mais a mesma, como ela disse. Ela anda agora com as líderes de torcida, apesar de não participar da equipe. Na verdade, ela não pratica mais nenhum tipo de esporte. Na noite em que a árvore caiu, ela tinha... - ele parou para respirar um pouco. - Ela tinha tentado se matar Niall. Se não fosse pelos bombeiros, ela teria sido queimada junto com a árvore. Ela estava inconsciente quando a árvore começou a pegar fogo. Ela tinha cortado os pulsos. Sobreviveu por um milagre. Quando fomos visitá-la no hospital, ela disse coisas horríveis para mim e para sua mãe. Ela não queria que tivéssemos chamado os bombeiros. Ela queira morrer. A mãe dela já desistiu dela. Ela não é a menininha que brincava de pega-pega com você no bosque. Agora ela é a vadiazinha que passa as noites em festas bebendo.
  Eu não podia acreditar no que o meu pai falava. Ela não podia ter mudado tanto. Não a . Não a minha . Fui direto para o meu quarto. O Zayn foi lá ver o que tinha acontecido. Eu não me importava em segurar o choro. Ela estava mudada. E eu sabia que a culpa era minha.
  - Ei cara... - o Zayn ia dizendo, quando viu que eu chorava. - cara, você 'tá bem? O que houve?
  - Eu pisei na bola com uma pessoa. Uma pessoa que eu amo muito.
  - Aquela menina? não é? Você fala dela muito pra gente...
  - É Zayn, só que eu acabei de descobrir que ela mudou muito. E a culpa da mudança fui eu.

  's POV
  Acordei com a ressaca de sempre. Eu tinha aula hoje? Não sabia ao certo. Foda-se também! Eu não estava a fim de ir pra aula. Acho que iria até o bosque depois de comer alguma coisa.
  - Bom dia, filha. - Era minha mãe. Eu sabia que ela já tinha desistido de mim. Mas eu amava ela. Ela sempre foi boa pra mim e não merecia o que eu fazia ela passar. Mas mesmo assim, eu não podia evitar.
  - Oi mãe, bom dia... - disse tentando manter o tom de voz.
  - Você vai à escola hoje?
  - Não, vou ao bosque.
  - Vai sair de noite?
  - Aham.
  - Vai onde?
  - Não sei...
  - Ok então. - ela estava acostumada a nunca saber onde eu estava. Não ligava mais, eu acho. Só perguntava pra parecer que se importava.
  - Eu 'tô com fome.
  - Tem suco na geladeira... AH! ! Você não vai adivinhar quem está na cidade! - ela se animou.
  - Quem mãe?
  - O Niall! E toda a banda! Você devia ir se encontrar com ele! - ela não sabia que ele era a causa de todos meus problemas. Na verdade, ninguém sabia, com exceção dos pais dele, talvez, que acabaram "salvando minha vida" uma vez, e eu falei tudo que pensava pra eles. Para ela, nós ainda éramos amigos.
  - Aham mãe, depois eu ligo pra ele, talvez...
  - Pra quê ligar? Vai lá na casa dele. Ele está lá.
  - Não mãe, mais tarde eu vou.
  - Ok então, mas vai trocar de roupa, você tem que ir no médico hoje...
  - Por quê? Ah é... a psicóloga... Ok, já volto. - subi as escadas e coloquei um short curto e uma blusa colada. Uma sapatilha preta e deixei meus cabelos enrolados e armados jogados de lado, me lembrando de tampar bem a tatuagem. Ninguém conhecia ela. Estava frio. Pensei melhor e peguei um moletom vermelho e curto que eu tinha. Estava parecendo... uma vadia. E era isso que eu queria. Enfim, entrei no carro e minha mãe já estava lá.
  - Eu tenho que passar num lugar antes ok filha?
  - Tanto faz mãe. - pus o fone de ouvido. Começou a tocar Stairway to Heaven, e eu olhava pela janela do carro enquanto pensava em que festa eu iria de noite.
  Com algum tempo andando de carro, eu comecei a reconhecer aquele caminho. Espera, eu sabia onde esse caminho me levava. Fazia anos que eu não seguia aquele caminho!
  - Mãe, onde exatamente você precisa ir mesmo?
  - Ah é! Na casa do Niall. A mãe dele nos convidou pra almoçar lá e conhecer os garotos.
  - NÃO MÃE! EU NÃO POSSO IR!
  - Por que menina?
  - PORQUE EU ODEIO AQUELE MENINO MÃE! ME DEIXA DESCER! EU PRECISO DESCER!
  - NÃO MENINA! Agora para de fazer escândalo que a gente ta chegando. Você vai estar em casa a tempo pra ir nessas suas festinhas.
  Chegamos e ela me obrigou a descer do carro. Minha vontade era sair correndo para o bosque. A mãe dele abriu a porta.
  - Oi, Godiva - ela cumprimentou minha mãe, mas pareceu espantada a me ver. - ? Eu nunca imaginei que você viria! Como você conseguiu realizar essa proeza, Gô?
  - Só contei onde íamos quando estacionei o carro aqui na porta. - elas riram e eu bufei. Eu ainda estava com os fones de ouvido. Agora eu ouvia Dream On. Não pretendia tirar aqueles fones de ouvido.
  - Entrem, entrem. Os meninos foram no supermercado comprar umas coisas que eu pedi. Mas enquanto esperamos eles voltarem, vamos conversar na sala, o Bobby está lá.
  Entramos naquela sala. Tudo continuava igual. Bobby também se espantou a me ver ali. Eu sentei no canto do sofá e aumentei o volume no máximo. Cansei-me de ficar ali sem fazer nada.
  - Eu vou ao bosque. - disse me levantado rapidamente e não esperando ouvir nenhuma resposta. Também, se eles tentassem me impedir, não adiantaria, eu iria do mesmo jeito, e eles sabiam disso.
  Quando estava a alguns metros do começo do bosque, vi o carro do Niall chegando. Os meninos começaram a descer do carro e eu comecei a correr em direção ao bosque. Tinha saído de lá bem a tempo.
  Cheguei ao que tinha sobrado da casa da árvore. Tinha esquecido meu casaco lá na casa do idiota. Merda! Estava frio. Encostei-me ao tronco e tirei o canivete do meu bolso. Fiz mais um pauzinho ali. Era há quantos dias eu não o via. E eu não tinha o visto ainda. Eu podia continuar com a marcação. Começou a chover, a chuva aumentava mais e mais de intensidade, e apesar de serem 13h, parecia estar de madrugada. O céu estava escuro e me lembrava daquela noite.
  Lembro-me ainda.
  Eu tinha ido a mais uma festa, e fiquei com alguns caras lá, mas ao contrário do que todos pensavam quando eu só voltava de manhã pra casa, eu não tinha dormido com ninguém depois do Niall, geralmente eu ia para o bosque e dormia lá. Mas essa noite foi diferente. Já era o 3º cara que eu beijava na noite. Ele me seguiu até um beco, que eu usava de desvio para chegar ao bosque. Lá, ele falou que queria fazer comigo o que todos faziam. Eu neguei, o empurrei pra trás, mas ele... bom, ele fez uma coisa ruim comigo. Mal terminou, ele vomitou e desmaiou do meu lado. Minha blusa estava rasgada e minha saia toda manchada com o DNA dele. Puto. Consegui chegar até a casinha. Chovia muito. Eu estava péssima. Aquele bêbado que me estuprou me fez lembrar da minha vez com o Niall. Eu não queria continuar com aquilo. Achei o canivete que eu guardava ali e sem pensar muito, comecei a enfiá-lo nos meus pulsos. Dois cortes no direito e um no esquerdo. Cortes profundos. Cortes mortais. Eu vi o relâmpago que caiu, mas apaguei. Acordei no hospital...
  Eu não queria ter sido salva. Não tinha pensado muito naquilo. Mas pensava agora.
  Olhei para os meus pulsos e vi as cicatrizes. Já fazia um ano. Olhei para o canivete que tinha em minhas mãos. Era o mesmo daquela noite. Pensei em acabar com tudo aquilo de novo. Ele estava de volta. Quando eu me arrisquei a pensar que ele nunca voltaria. Ele volta, e ainda trás uma trupe de palhaços com ele!
  Estava molhada até os ossos. Tremia de frio. Rodei o canivete nas minhas mãos, já decidida que fazia aquilo de novo. Dessa vez definitivamente.

  Niall's POV
  Eu chegava em casa com os meninos. Ríamos de alguma bobeira que o Louis falou, até que vi a tia Godiva no sofá. Congelei.
  - OI NIALL! QUANTO TEMPO! - ela me abraçou.
  - Oi tia Godiva... - eu não conseguia chamá-la só de Godiva, era força do hábito!
  - A acabou de sair. Foi no bosque. - O QUÊ? A ESTAVA ALI?
  - Ah, depois eu vou lá atrás dela. - disse tentando parecer não ligar.
  Estávamos lá sentados, contando pra tia Godiva as coisas dos shows, como era estranho estar em uma cidade por dia e tudo mais, quando começou a chover mais forte.
  - Eu acho melhor eu ir embora. A chuva está ficando forte agora, e aquela menina esqueceu o casaco aqui ainda. Se ela aparecer, digam que eu estou em casa. - ela parecia nem ligar pra .
  - Ok Gô, mas ela provavelmente está no bosque...
  - Eu sei disso, daqui umas duas horas ela vai pra casa.
  A tia Godiva saiu e minha mãe falou pra mim:
  - Ei Niall, acho melhor você ir procurar a no bosque, está chovendo muita forte e já é quase noite, leva algum dos meninos junto...
  - Eu não quero intrometer eles nisso mãe...
  -Eu vou com você Niall - Harry se ofereceu.
  - Ok então.
  Colocamos capas de chuva e nos embrenhamos no bosque. Estava realmente frio. Vi ao longe o tronco que sobrou. Vi a silhueta de uma garota sentada ali. Ela girava um canivete nas mãos.
  - ? Minha mãe mandou eu vir te procurar - O QUE EU ESTAVA FAZENDO? 2 ANOS SEM FALAR COM ELA E EU FALO ISSO?
  Ela virou pra trás espantada. Ela estava diferente. O cabelo estava solto e tampava seu belo rosto. Usava uma roupa curta e estava descalça. Levantou-se quando me viu e saiu correndo. Fiquei chocado. Não esperava aquela reação. Ela não olhou pra trás. Ela ainda corria tão rápido quanto o vento. Vê-la correndo, com os cabelos molhados balançando atrás do corpo, me lembrou quando apostávamos corridas ali.
  Voltamos pra casa ensopados e resolvemos ir a uma festa. O Harry não tocou no assunto do que tinha acontecido no bosque. Fiquei agradecido por isso.
  Chegamos à festa e estava bem cheio. Os meninos passavam os olhos já procurando uma vítima. Ficamos Zayn e eu na mesa.
  - Ei Niall, olha aquela menina ali... - ele disse e apontou para um grupinho de meninas que dançava sensualmente, com vestidos curtos e saltos enormes.
  . Era a do meio. Sapatos de salto pretos e um vestido mega grudado azul. As curvas do seu corpo estavam em evidência. Aquele corpo que eu fui o primeiro a ver e que agora tantos já deviam ter aproveitado.
  Levantei-me e fui até bem perto dela. Ela me viu, mas não parou de dançar. Fixamos os olhares um no outro.

  's POV
  Já fazia um tempo que o vi entrar. Na verdade, eu não estava tão surpresa. Depois do choque que levei ao vê-lo de tarde, encontrá-lo ali não foi tão impactante. Quando ele me viu, eu fiz questão de olhar bem no fundo dos olhos azuis dele. Estava na hora de provocar.
  Ele veio na minha direção. Eu não parei de dançar. Começou a tocar "I Love Rock'n Roll" na versão da Britney Spears. Perfeito. Andei até mais perto dele. Vi confusão nos olhos dele. Ele não me reconhecia, e era isso que eu queria.
  Andei na sua direção no ritmo da musica. Cheguei perto dele e me virei de costas. Desci próxima dele e subi com as costas quase apoiadas nas pernas dele. Algumas pessoas se juntavam pra ver minha performance. Eu continuava dançando no compasso. Fazendo movimentos sexys o suficiente para deixá-lo sem reação. Eu estava provando pra ele de uma vez por todas que eu não era mais aquela menina que ele iludiu. Quando levantei meus braços e joguei a cabeça pra trás, pude perceber que ele encarou as cicatrizes nos meus pulsos. O QUE EU ESTAVA FAZENDO? Abaixei os braços depressa. Fiquei sem reação por um minuto, quando ele me abraçou e disse no meu ouvido:
  - Por que você fez isso com você mesma?
  E eu, com lágrimas nos olhos, cuspi a verdade na cara dele.
  - POR SUA CULPA, PORRA!
  Saí andando, ignorando todas as pessoas na festa olhando para mim. Saí pelos fundos. Tirei o salto. Eu não suportava mais aquele fingimento. Eu não era aquilo. Eu gostava de correr. Eu gostava de ler durante a noite toda. Eu não gostava daquela gente. Eu não gostava do que eu tinha me tornado, e ele ali, só me fez admitir tudo isso que eu já sabia. Joguei os saltos por ali mesmo. Amarrei meu cabelo para cima, num coque frouxo, como não fazia faz tempo. E corri. Corri sem olhar para trás. O mundo estava desmoronando. O céu estava tocando o chão. Eu não iria chorar. Eu vou sobreviver. Eu vou superar. Meus pés me levaram sozinhos até o começo do bosque enquanto minha mente divagava. Parei antes de entrar e respirei fundo.
  Comecei a correr. Senti que poderia voar. Senti-me livre. Corri e corri. Corri mais rápido do que jamais tinha corrido. Cheguei à velha casinha. Peguei o canivete que tinha deixado ali mais cedo e escrevi na madeira, respondendo uma pergunta feita por ele há tempos atrás.
   "Qual era meu maior sonho? Meu maior sonho era viver com você para sempre."
  Acabei de escrever e pensei em correr de novo. Mas meus pés não queriam se mover. Senti meu corpo se amolecer e estava prestes a cair quando senti duas mãos firmes segurando minha cintura.
  - Me desculpa. - era aquela voz grave que eu evitava ouvir.
  - Desculpar pelo quê? Tudo que aconteceu, foi sempre culpa minha. - Eu não iria chorar, e apesar de ter os olhos cheios de lágrimas, consegui segurá-las.
  - Por isso. - ele disse e me beijou. E o pior: eu correspondi. Eu não devia. Eu estava tão confusa. Mas eu esperei aquele beijo por tanto tempo. - Aliás, bonita tatuagem. - ele disse quando paramos de nos beijar. Eu esqueci que estava com o cabelo preso. Minha tatuagem estava à mostra.
  - Eu fiz pra você. Foi ela que me manteve com o mínimo de sanidade. - abri meu coração pra ele.
  - E o seu desejo, é o mesmo do meu. - eu não resisti, e sorri. - Eu te amo , me promete que nunca mais vai se machucar ok ? - ! Fazia quanto tempo que eu não escutava aquilo?
  Nos beijamos mais e mais vezes. O final de semana passou e eu me livrei de absolutamente todos os vestidos de vadia e de todos os saltos ridículos que eu não suportava.
  Chegamos de mãos dadas na escola segunda-feira. Eu estava com uma camiseta cor de rosa de gola V, uma calça jeans rasgada, um tênis Nike preto e o cabelo preso num coque, exibindo para quem quisesse ver minha tatuagem. Ele usava uma camiseta lilás e uma calça jeans, acompanhada de um tênis de uma marca que eu não conhecia.
  Ninguém me reconheceu. Ou reconheceu e ficou muito surpreso pra falar comigo. Eu contei pro Niall tudo que tinha acontecido comigo nos últimos 2 anos no dia anterior, e choramos juntos.
  Eu não o culpava por nada. Na verdade, não culpava ninguém. E ali estava a velha de novo. Que gostava de correr, de livros de cavaleiros e dragões e do Niall. Do Meu Niall.

------------x------------

  Os anos se passaram, e podemos ver um casal de aproximadamente 27, 28 anos, a mulher está grávida e o homem carrega uma menininha de uns 2 anos no colo. A menina era morena como a mãe, mas tinha olhos azuis como os do pai. A mulher tinha o cabelo preso num coque e mostrava uma tatuagem de trevo de quatro folhas na nuca. Eles andavam de mãos dadas e riam. Eles ficaram juntos para sempre. Como sempre sonharam.

FIM



Comentários da autora