Naufrago
Escrito por Geovanna Egias | Revisado por Isadora
Parte do Projeto Sorteio Surpresa - 1ª Temporada // Tema: Naufrágio
POV, 20 December – Fernando de Noronha
Acontece que quando você está sem sentir nada, é bom. É relativamente bom, ou deveria ser, mas nem sempre é bom. Às vezes você acaba sofrendo de solidão, de perda, e de muita nostalgia. E nostalgia era tudo o que eu sentia agora, voltando para as belas praias de Fernando de Noronha, depois de uma série de shows com a banda, foram os piores shows da minha vida para falar a verdade. Eu não sentia mais música, não sentia mais amor, nem por estar ali nem mais por nada. Eu me tornei nesses últimos dois anos a pessoa mais fria possível.
Agora Fernando de Noronha, me trazia de volta a tempos bons, mesmo eu estando em tempos ruins. Aquela praia me lembrava do amor, em nostalgia, me fazia beirar um colapso.
Naqueles mesmos dias de três anos atrás, do mesmo mês, da mesma praia, minha vida foi virada de ponta cabeça, foi mordida, rasgada e colada pela mesma pessoa. Ela me fez me sentir como nunca antes, eu faria qualquer coisa por ela, mas ela jogou isso fora, me trocou por outro cara.
Flashback – 3 anos antes – Fernando de Noronha
- Hey baby, hello! – ela tentava gritar na tentativa de que eu abrisse os olhos e tirasse os fones, porém ela era uma desconhecida. Os cabelos loiros, ficando mais bonitos à luz intensa do sol e os olhos verdes misturados ao azul mudavam inquietamente.
- Oi, eu falo português, você não? – eu perguntei confuso arrumando meus cabelos e jogando os fones no meu colo.
- Eu falo, o lesado que parece um americano metidinho que eu achei que não falava. – ela revirou os olhos, explosiva então?
- É eu falo e sou americano. – dou de ombros ignorando-a – O que precisa?
- Saber para que lado fica esse hotel. – ela me mostrou um panfleto.
- Eu te levo se quiser, mas fica tipo na outra praia, eu estou com meu iate aqui perto posso te levar até lá. – eu sorri simpático.
- Se você puder. – ela deu de ombros soando um pouco arrogante, uma estrela de hollywood.
- Me acompanhe moça. – eu sorri, pegando o óculos de sol e o iPod e andando em direção ao iate, ela ia logo atrás reclamando de algo qualquer.
- Sou , impossível você não saber quem sou eu moço. – ela parou em minha frente.
- É não sei. – ri irônico dando passagem para ela embarcar no iate – É impossível você não saber quem eu sou.
- Não sei, por que eu saberia? – ela disse imponente – Sou uma das mais prestigiadas Angels da Victoria’s Secrets. – ela deu aquele sorriso um tanto convencido, como naquele seriado: Gossip Girl, o sorriso de Blair logo após revirar os olhos.
- Porque a minha banda é tipo uma das melhores e mais prestigiadas que tem. – eu sorri convencido.
- Pouco me importa. – ela deu de ombros, se sentando no sofá do iate enquanto eu dirigia pouco mais a frente – Mas o que faz aqui no Brasil?
- Pouco te importa. – eu repeti a frase dela fazendo a mesma revirar os olhos.
- Tanto faz. – ela deu de ombros antipática.
- ! O IATE TÁ PERDENDO O CONTROLE, TÁ UMA TEMPESTADE MUITO GRANDE, ... – eu gritava do comando do iate, e ela estava num cômodo qualquer, parecia ter percebido o descontrole do iate e correu para baixo. Foi rápido demais, o barco perdeu o controle mas por sorte estávamos de colete, mas não impediu que caíssemos em alto mar e por fim eu perdi todo o controle de tudo, eu perdi o controle da minha vida a partir daquele momento.
Acordei com as luzes do sol direto em mim, em minha volta tinha areia, só areia e árvores, não havia civilização, mas a praia era linda, aliás, Fernando de Noronha. Observei o lugar e a poucos metros do lugar onde me encotrava, aonde as ondas se quebravam, estava a garota loira caída toda molhada, eu pensei um pouco, retornando a memória da noite anterior, o iate... tinha perdido o controle e acabamos caindo no mar.
- ! – corri em sua direção, me ajoelhando na areia molhada, tentei chacoalha-la para ver se a mesma acordava, ela abriu os imensos e belos olhos, agora mais esverdeados.
- Quem é você? – ela perguntou confusa, se sentando e provavelmente levando um choque imenso ao ver a enorme praia deserta e os destroços do iate pelo mar da ilha deserta.
- Não se lembra? Ontem o iate perdeu o controle. – ela me olhou como se eu houve-se pirado.
- Não, nada disso, eu nunca estive num iate, o último lugar que estive foi meu apartamento em Los Angeles... – ela parou para pensar, como se estive em dúvida de seu apartamento - Espera, qual meu nome? De onde eu vim?
- Seu nome é . – acontece que eu tinha pouquíssimas informações, eu não sabia nem ao menos seu sobrenome, eu não sabia de onde ela vinha, ou quem ela era além de ser uma modelo da VS. Ela tinha perdido a memória.
- E o seu, qual é? Como viemos parar aqui? – ela me encarou séria se levantando e observando uma mala parada no meio da areia mais adiante da praia, já seca devido o enorme sol e tão quente.
Flashback off
30 December, Fernando de Noronha
Naquela época aconteceu tudo e eu mal sabia que ela era o tesouro daquela praia deserta, mal sabia eu que ela me abandonaria assim que sua memória voltasse. E foi aí que ela foi embora, mas eu tenho que contá-los por partes, caso contrário, vocês não irão entender.
Acontece que agora eu estava em um apartamento em Fernando de Noronha, de férias obviamente, a minha banda era uma das mais faladas do momento, desde a primeira vez em Fernando de Noronha ficamos mais famosos; e ela mais bonita e mais prestigiada no ramo de modelo. Mas seguimos rumos diferentes.
- “Senhor , você tem novos recados...” – a secretaria eletrônica começava a dizer – “Alô , poderíamos sair qualquer dia desses, aqui é a Jenifer”. “Cara, temos ensaio com a banda em meia hora, não esquece”. “Ei, quanto tempo. Achei seu número depois que eu remexi nuns papéis antigos, fomos vizinhos na infância, me retorna aqui é a Alissa”. “, preciso de você às oito da manhã, amanhã aqui na gravadora”. “Oi, aqui é a , . Sei que há muito tempo que não nos falamos, mas eu queria te convidar para o meu casamento. Amanhã à tarde eu levo o convite em sua casa”. “, posso ir à sua casa para terminarmos o que começamos ontem? – riso pervertido – Aqui é a Susan”. “Quando vamos sair de novo? me retorne acho que você tem meu telefone”.
Acontece que eu parei de ouvir as mensagens e entrar num colapso a partir que eu ouvi o nome dela e a mesma disse sobre casamento. Eu estava perdendo o controle, porque ela eu já havia perdido a tempos. Passei a mão sobre meus cabelos, frustrado, e comecei a chutar tudo o que havia ali no meio do apartamento. Acabei jogando vasos no chão, quebrando alguns portas retratos, que por fim tinham fotos nossas, acabei entrando num eterno colapso, porque eu acabei escrevendo textos, que mal eu sabia que tinha alguma serventia, acontece que a ironia, é que a escritora da história sempre foi ela, ela tinha boas teses, bons textos, boas e inspiradoras frases.
Flashback
- Precisamos fazer um abrigo ! – ela pegou várias folhas enormes e muito cipó, me fez pegar muita madeira. Achamos algumas coisas que acabaram sendo trazidas com a maresia, como bolsas térmicas de comida, que tinha no meu iate.
Foram dias trabalhando no abrigo, por fim ficou como uma cabana, passávamos dias tentando relembrar as coisas, enquanto eu a contava as coisas que eu havia feito em minha vida, enquanto ela se revoltava e por fim acabava ficando estressada consigo mesma por não lembrar de absolutamente nada sobre si mesma. Além do seu apartamento em Los Angeles e bom eu não tinha nada para falar sobre ela, pois não tinha me falado nem seu sobrenome antes do acidente. Os dias se passavam e, por contagens de noites, julguei ter se passado uma semana desde o acidente. Nossa cabana estava bem feita e segura, equipada desde com coisas que tínhamos no iate, como alguns colchões, kits de medicamentos, comidas e achamos nossas malas também, então não tínhamos dificuldades totais, além de os celulares terem pifado e não dar sinal de forma alguma.
Certa noite, eu fui até a praia, para observar o luar, que estava lindo. Achava que ela estava já dormindo, mas estava sentada na beira do mar, as mãos nos olhos e fungava, passando insistentemente a mão sobre os olhos, as ondas quebravam aos seus pés esmaltados de preto, já desbotados. Segui até ela me sentando ao seu lado e a abraçando.
- Eu não sou ninguém . – ela resmungou, falando embargado devido o choro insistente – Eu não devo ter futuro algum se não me lembro ao menos quem eu era.
- Mas eu sei quem você era e sei que seu futuro vai ser incrível . – sorri torto observando as ondas agora se quebrarem em nossos pés e a lua subir cada minuto mais ao alto no céu estrelado.
- E quem eu era? – ela me observou, sua pupila muito dilatada devido a escuridão.
- Eu não tive ao menos tempo de te conhecer direito, eu só sei que você saía em capas de revistas, tinha inúmeros caras aos seus pés, você era bonita por fora, só por fora. Mas eu prefiro agora, você não se lembra direito de quem era, mas por dentro você está melhor, você está mais amável.
Mais três dias se passaram, pássaros cantavam no alto do mar, alguns coqueiros deixavam aquela praia mais bonita, àquela altura do campeonato, de dez dias de convivência conversávamos sobre tudo, riamos de qualquer bobeira e acabávamos passando o tempo com coisas bobas; de dia eram castelos de areias e à noite ela me ensinava a dançar valsa a luz das estrelas. Mas cada dia era alguma coisa nova, cada dia encontrávamos mais coisas perdidas do iate em que tínhamos vindo.
- Ei ! Olha que lindo dia! – ela ria e dançava na beira da praia, dançando com água até os tornozelos, ela usava um vestidinho branco de praia e ria, dançando ali, como se o sol lhe cantasse uma música de verão. Foi essa minha visão quando eu abri a porta da cabana naquela manhã e, bom, foi uma das melhores.
- Está mesmo e me diz o motivo de você estar tão deslumbrante? – eu ri, indo até ela peguei uma flor e coloquei em seu cabelo, ela ria e passou o braço ao redor da minha nuca sorrindo.
- Não sei, eu só sei que temos que ser mais intensos. – ela sorriu, passei meus braços por sua cintura e ela grudou nossos lábios, inesperadamente. Ela só o fez. Deixando que aquele belo dia de sol se tornasse melhor ainda. Quando o beijo se dissipou, ela girou como se fizesse parte de uma dança toda ensaiada e por fim tudo aquilo acabou com dois patetas caindo no mar de tanto dançar e ficando ensopados.
- Geo, olha o que eu achei e por um milagre não sei como não estragou. – eu ri, mostrando a ela meu iPod.
- Hmmm, o que você tem aí? – ela riu e se sentou na areia pouco à frente da cabana me puxando pela mão, eu coloquei uma música do Jason Derulo, e por fim acabamos rindo.
- Sabe, você tem razão, devemos ser mais intensos. – ela riu e concordou com a cabeça.
- Bom dia . – ela sorriu e eu lhe roubei um selinho às dez da manhã. Bom, por olhar para a posição do sol, parecia ser dez da manhã ao menos.
- Bom dia loira. – eu ri e ela me puxou para fora tinha uma mesa pro café da manhã.
- Bom, eu achei a mesa e mais umas coisas do iate, se quiser dar uma olhada depois. – ela deu de ombros – E eu estava com fome, se quiser me acompanhar no café da manhã.
- Mas é claro. – eu ri, a puxando pela cintura e a beijando.
POV
(continuação do flashback)
Acabamos por ouvir “I wish” do Emblem3, que era o que estávamos fazendo afinal, para nós não era um desejo, não queríamos pois tínhamos isso. Era só nós dois, num mundo nosso, num lugar só nosso, com histórias só nossas como aquela vez que acabamos nos perdendo numa trilha no meio do mato e até acharmos rumo a praia, graças a mim que saí correndo para longe de um bicho que nos seguia; nem olhei para trás para ver que animal era, só corri. Agora que estávamos juntos, não oficialmente, mas estávamos, sem pedidos de namoro, só sendo intensos.
- Eu não lembro o que eu fazia antes, não lembro como era e como eu levava a vida em Los Angeles. Só me lembro de Los Angeles. – ela deu de ombros sorrindo – Mas eu me sinto tão livre, tão espontânea e estou adorando isso. Me questiono se quando eu voltar... – quando eu disse aquilo meio que fiquei em dúvida se um dia eu voltaria para Los Angeles, fiquei em dúvida se haveriam possibilidades de sairmos dali um dia – Vou ser tão intensa como estou sendo.
- Eu sou obrigado a concordar. – ele riu, aquele sorriso que fazia meu estômago remexer e aqueles olhos castanhos tão convidativos – Seria muito intenso se eu lhe dissesse que te amo?
- Nada é muito intenso, não nesse momento, porque eu estou vivendo muito intensamente, então não existe muitos mais muito. – eu ri, me juntando a que acabou por afagar meus cabelos – Eu também te amo. – já tinha escurecido e as estrelas brilhavam no céu e já estávamos a um mês naquela ilha deserta.
Os beijos desciam por meu pescoço, e minhas mãos percorriam o tórax do mesmo. Em seguida minhas mãos se tornaram ágeis e atiraram a camiseta branca dele na areia, ele parece ter se alertado com aquilo, que por fim me aproximou mais beijando-me e apertou minha bunda o que acabou nos colando mais ainda. Caímos na areia rindo entre os beijos, suas mãos percorriam minhas coxas enquanto as minhas apalpavam seu abdômen, na mesma intensidade em que meus beijos desciam pelo pescoço do mesmo. Suas mãos grandes e ágeis subiram por meu vestido tirando o mesmo, nossos beijos se tornavam mais intensos, mais quentes, mais precisos, cada parte, por menor que fosse, era explorada um pelo outro. E foi aí que nos sentimos completos, juntos ali, nus no meio da praia com todo aquele céu estrelado para nós, toda a vida esperaria por nós. Após jogar um cobertor por cima de nós, eu acabei adormecendo apoiada em seu tórax. E acordando com um beijinho na testa.
Uma semana se passava mais uma vez, o tempo corria, e parecia que quanto mais o tempo corria mais o medo surgia. E se eu fosse alguém que eu não queria ser quando voltasse para minha antiga vida, e se eu não for ninguém, e se eu for alguém que eu mesma odiaria ser. É como se eu estivesse sendo empurrada para um lugar que eu ao menos sei onde é e o que vou me tornar por lá. Estive andando pela praia quando o chegou com uma espécie de caixa, parecia ser feita de alumínio ou alguma coisa impermeável, e a prova d'agua. Ele suava, e aquilo parecia tão pesada, ele a jogou no chão.
- Olha o que eu achei. – ele abriu e tinha três sinais de fumaça e um tele comunicador, ele começou a tirar tudo e pôr no chão – Estamos salvos! – ele comemorou rindo e me dando um selinho, mas por fim eu tinha medo do que aconteceria agora. Imediatamente ele esticou um dos sinais de fumaça e apertou, o mesmo subiu para o o céu.
- Alô! Estamos perdidos! Socorro, alguém. – ele dizia no aparelho e eu o observava mordendo os lábios de curiosidade.
- “ALÔ, ESTAMOS PROCURANDO POR ESSE APARELHO NESSE EXATO MOMENTO, AGUARDEM! ESTAMOS ENVIANDO UM HELICÓPTERO, POR FAVOR ME DIGAM O SEU NOME E QUEM ESTÁ COM VOCÊ”
- está comigo, sou . – ele suspirou aliviado como se nossa salvação estivesse ali e realmente estava, mas o medo agora era uma parte de mim. Quando me levantei para adentrar na cabana para pegar comida ou algo do tipo minha pressão abaixou e tudo começou a girar insistentemente e por fim ficou preto, foi aí que eu vi que tinha me estatelado no chão.
POV
- ! – eu corri até a mesma a pegando no colo, um helicóptero surgiu no alto de nós dois e eu ainda tentava acorda-la. Alguns paramédicos desceram do helicóptero que parou na areia me ajudando a carregá-la para o helicóptero para voltar para casa finalmente, ela parecia inconsciente demais, ela não acordava, era agonizante.
- Vamos te ajudar , vamos leva-los de volta para Los Angeles, também é de lá, não? – eu assenti com a cabeça ainda meio pasmo.
***
Assim que descemos de volta a Los Angeles estava repleto por paparazzis, uns perguntavam nossos paradeiros e outros só se importavam em perguntar o que eu tinha com a . Ela foi encaminhada a um hotel e uma enfermeira iria junto só pra deixá-la confortável. Foram dois dias depois que eu recebi a notícia que ela havia acordado.
POV
Eu já não sabia de nada, parecia que estava faltando uma parte de mim, parecia faltar uma parte da minha vida, mas eu só me lembrava do comum, me lembrava da minha infância, dos meus pais, do colegial, dos amigos, das farras, me lembrava de tudo, exceto pelo último mês, parece que a última coisa que eu fiz antes de dormir não foi Fernando de Noronha, porque eu não me lembro de nada depois de ter visto aquele cara que eu não sei o nome na praia, e puf acabou as memórias, do nada eu estou aqui em Los Angeles na minha vida comum. É estranho, parece que faltam coisas a serem adicionadas à minha vida, mas não tem como, eu não fiz nada, essas coisas não podem surgir e eu não posso ter perdido a memória do nada.
- , temos uma entrevista as duas da tarde, confirma? – minha secretária apareceu enquanto eu observava Brigita preparar o café da manhã,
- Não Claire, desmarca, não estou muito bem. – ela afirmou fazendo uma ligação.
Naquela tarde eu saí de casa e acabei esbarrando com o cara que eu me lembro ter visto em Fernando de Noronha e ele fez questão de me parar, o que foi relativamente estranho.
- Ei , espera. – ele me encarou no meio da rua, me deixando confusa.
- Sim, oi, quem é você? – ele me segurou pelo braço, mas eu tirei de suas mãos bruscamente o encarando.
- Sou , , eu fico feliz por você ter se recuperado daquele desmaio desde a ilha. – ele sorriu se inclinando para me beijar mas o empurrei, cara estranho.
- Não conheço você, nunca fui para uma ilha e nem desmaiei, me desculpe você deve ter se confundido. – sorri fraco colocando os óculos de sol e me virando de costas para o mesmo e saindo em direção ao Shopping.
Um ano e meio se passou desde o tal incidente do cara de Fernando de Noronha ter parado e me dito sobre ter ficado feliz por um desmaio que nem ocorreu. Acontece que todos me olhavam e diziam: “Está tudo bem?” “Como foi na tal ilha?” E eu parecia alucinar, sempre estive bem, nunca estive em tal ilha além da de Fernando de Noronha que não aproveitei sequer uma hora. Nessa altura eu iria me casar, eram na verdade negócios, o cara era famoso, bonito, legal... Por que não? Afinal era tudo uma paixonite, eu sentia que estava esquecendo parte importante da minha vida, mas talvez eu estivesse mesmo alucinando porque eu não poderia esquecer de algo importante, quando se é importante não se esquece.
Flashback off
Los Angeles, 10 January – Friday night
- , você está tão linda. – minha mãe entrou no quarto onde eu tinha acabado de vestir o enorme e caríssimo vestido branco e me encarava no enorme espelho do hall do apartamento. Vesti os saltos altos vermelhos, sim vermelhos, agora questione a moda. Apesar que não aparecia tanto, pois o vestido era longo demais.
A minha maquiadora da Victoria Secrets apareceu deixando leve e com muito brilho, e destacando-se apenas os lábios num vermelho que faria a igreja virar as cabeças. Um colar de pérolas da minha avó, que ela fez questão que eu usasse e cabelos soltos volumosos, que se prendiam a uma presilha de brilhante junto ao pequeno véu – Está na hora querida.
Quando minha mãe pronunciou aquelas palavras meu corpo se arrepiou por inteiro e parecia levar uma corrente elétrica por minha coluna, aquilo estava errado, engoli em seco e entrei no enorme carro que me esperava em frente ao Hotel, no caminho até ele foram paparazzis por todo lado, eu me sentia embrulhada, me sentia enjoada e com um nó na garganta. A enorme igreja de Los Angeles estava ali parada por mim, minha mãe depositou um beijo em minha bochecha e eu entraria sozinha na igreja, respirei fundo e foi esse o momento em que as portas enormes se abriram por minha entrada e a marcha nupcial tão clássica começou a tocar, segui em direção a Henry que me esperava sorrindo no altar, eu caminhei até o meio do tapete vermelho assim como os sapatos, unhas e lábios, mas me deu uma tontura imensa, tudo parecia começar girar e flashs não existentes de momentos não vividos, de uma praia deserta e o garoto que tinha me parado na rua, , surgiam em minha cabeça me fazendo achar que estava ficando louca mesmo.
POV, 10 January – Los Angeles
Ela não lembrava, ela deveria ter perdido mais uma memória, mas durante, até eu perceber isso, eu jurei que ela o fazia por não fazer questão de mim, não fazia questão de nada, aliás, de volta a antiga vida, de volta a antiga ela. Ela certamente lembrou- se de quem era e esqueceu-se de quem foi naquele mês naquela ilha. Eu voltei no dia 6 de Janeiro, eu tinha ficado agoniado desde aquela maldita mensagem de voz dela, a final tudo nela me agoniava, o que mais me agoniava era saber que ela tinha me deixado. Ela não tinha feito contato desde então, mas chegou um convite em meu apartamento, o casamento aconteceria na maior igreja de Los Angeles, a central, hoje, sexta feira às seis da tarde, de acordo com o convite, se iniciaria ao pôr do sol. “Assim como o sol se vai neste horário para renascer radiante todos os outros dias de nossas vidas.” E foi aí faltando vinte minutos, eu resolvi aparecer no casamento, corri para o banho, me secando e enfiando um terno e gravata, cabelos bagunçados e sem tempo para arrumar, era minha última chance.
Meu carro quebrou na metade do caminho o que me fez praguejar e sair correndo em direção a capela naquele sol dos infernos de LA.
POV, 10 january, Los Angeles – 18:45h
- Henry Daniels, você aceita , na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, ama-la e respeita-la... – o padre dizia os enormes discursos de fidelidade, da qual não existia nenhuma entre mim e o noivo, era marketing, era uma tentativa fracassada de amor. Quando minha mente vagou por aí, parecia que meus joelhos iriam desabar e eu cairia ali no meio da igreja, mas me mantive em pé com olhos fechados. A tontura voltou e os flashs, agora mais vividos, agora mais persistentes, me mostrando que aquilo era tudo o que eu tinha feito naquele mês que eu não me recordava. Flashs do iate perdendo o controle, flashs da ilha, flashs da dança a luz das estrelas. Fariam três anos que eu tinha o ignorado e foi ali que meu coração vacilou e eu percebi que eu tinha esquecido meu amor, eu não podia casar, não agora, minha mente tinha me traído, tinha me feito vacilar várias e várias vezes. Tinha feito eu perder toda a minha intensidade.
- Eu aceito. – ele sorriu para mim que naquela hora que deveria ser a melhor da minha vida, eu carregava uma expressão séria e apática, quase chorosa.
- E você , aceita Henry... – a voz do padre parecia se abaixar porque eu me virei no mesmo momento para porta que fora escancarada por um homem que eu tão bem conhecia e o som daquela porta me tomou toda a atenção, os cabelos completamente despenteados, suado e ofegante, parecia ter corrido até ali – . – o padre me repreendeu, eu fiz sinal para que ele me desse a palavra e ele assentiu me observando, desci alguns degraus de onde eu estava.
- Bom dia convidados, bom muitos de vocês sabem que o casamento é algo que muda completamente nossas vidas, às vezes para melhor, às vezes pra pior. – alguns convidados riram – E eu dizia tanto em ser intensa, de viver a luz das estrelas, de nos libertar. – eles me encararam confusos e Henry tentou me puxar de volta para o altar, mas eu recusei sua mão, continuando encarar na porta da igreja – Acontece, que vocês não conhecem essa pessoa que eu fui, mas lhes garanto essa foi a melhor “eu” e sabe o que eu fiz com ela? Fiz com o amor que ela me trouxe? Joguei fora com a mesma intensidade que ela o me deu, ela me tomou.
- Posso prosseguir o casamento senhorita ? – o padre me encarou e eu neguei com a cabeça.
- Acontece meus caros convidados, que eu me esqueci, tinha me esquecido de quem eu era naquela ilha, eu tinha me esquecido e foi aí que eu fui intensa. E então eu voltei e esqueci-me de quem eu fui na ilha, voltei a ser um robô da mídia. Passaram-se três anos. – houve um murmuro da parte dos convidados “três anos de quê?” – De Fernando de Noronha, três anos que eu fui intensa, que eu dançava na beira da praia, cantava “Scar Tissue” do Red Hot. – e agora era essa música que tocava em minha mente e eu lembrava cada vez mais de tudo que aconteceu há três anos, agora o amor parecia me possuir, eu parecia velejar por aí, parecia me sentir leve mesmo estando com um pesado vestido de noiva. Eu me sentia leve apenas de olhar pelos olhos castanhos brilhantes de na porta de entrada da igreja – Padre, convidados, Henry.
- Sim? – ele disse sorrindo e eu abri um sorriso maior ainda.
- Toque Scar Tissue para mim. – a banda assentiu e colocaram para tocar a música que soava tão minha – Nós temos que ser intensos Henry, temos que procurar a nossa felicidade caros convidados e padre temos que amar, não é?
- É sim senhorita . – ele sorriu em concordância.
- Eu deixei meu amor fugir de mim, assim como um fugi naquele voo de volta para Los Angeles, há três anos. – eu sorri abertamente, sentindo a música – E não posso deixa-lo fugir mais uma vez, eu tinha esquecido junto à minha amnésia temporária, da minha intensidade, da minha felicidade. Mas revirando por dentro de mim assim que entrei nessa igreja, eu descobri que a minha felicidade não estaria aqui, minha intensidade é como o sol, dia está fraco mas ainda existente e quando eu me obrigaria a casar, eu a apagaria, assim como dias nublados, assim como um lugar sem sol. Mas eu gosto de ser intensa, gosto de ser como o sol nos dias mais bonitos. Olhe pela aquela porta escancarada por aquele moço, padre.
- O que tem? – ele me encarou e eu naquele ponto eu sorria livre e intensamente.
- Olha o sol que faz lá fora, olha a intensidade com que ele brilha. – eu sorri – Se eu fizer isso, ficarei nublada e eu não posso me casar. – a igreja ficou num silêncio espantoso – Porque não foi com Henry que eu senti a intensidade, foi com a mesma pessoa que me fez esquecer de tudo que há de errado, me fez esquecer até de quem eu fingia ser, e me mostrou que eu devia ser quem eu realmente sou. Então me desculpe padre, mas eu não aceito me casar com Henry Daniels. Sr. Padre, olhe de novo para aquela porta aberta, olhe aquele cara que a escancarou, acontece que foi com ele que tudo começou, eu não posso me casar desse jeito, não posso deixa-lo partir mais uma vez.
- Mas como... – Henry estava indignado naquele ponto, eu girei como um passo de dançar no meio do tapete vermelho da igreja, mas então eu sorria, eu me sentia intensa, e eu não poderia deixar a intensidade me abandonar mais uma vez, foi quando eu corri para os braços de , o beijando, ele não hesitou em prolongar o beijo, quando minha mão já seguia a acariciar seu rosto e as suas em minha cintura bem definida pelo vestido branco de noiva.
Quando o mesmo se encerrou os convidados se levantaram com expressões sérias, mas me surpreenderam e aplaudiram me arrancando um enorme sorriso. Nossas mãos se encaixaram perfeitamente e agora eu sentia que a parte que eu achava que era incrível era mais que isso, mesmo eu a esquecendo eu sentia que ela era incrível, e era muito mais, ela era intensa assim como as férias de Fernando de Noronha.
- Obrigado, mas eu não posso, Henry você é incrível, merece alguém que te ame de verdade. Tchau. – eu sorri me virando e saindo da porta da igreja sendo recebida intensamente por um mar de paparazzis, mas eu me sentia tão bem que já não me importava mais. Eu sai da igreja mas não foi acompanhada com meu marido, fui acompanhada da minha intensidade e de um amor esquecido dentro de mim, traído por uma memória falha.
- Eu amo você. – corremos para praia, eu ainda com o enorme e belíssimo vestido branco, saltos altos brevemente arrancados para ir parar nas mãos de e o mesmo que vestia terno e gravata, pisando naquela areia, vivendo como se não houvesse amanhã.
- Eu também amo você baby. – eu sorri sussurrando em seu ouvido, enquanto “Scar Tissue” para sempre tocaria por mim, enquanto o sol sempre brilharia, uns dias menos, outros mais, mas ele sempre estaria ali fazendo o que ele tem em comum comigo: Ser intenso.
FIM
HELLO BABYS, EU AMEI ESCREVER ESSA FIC! Tipo eu me inspirei demais, eu sonhei demais, vaguei por uns mundos muito bons enquanto eu a escrevia. E ela virou tão meu xodó que eu resolvi fazer outra shortfic como uma “Lembranças de Fernando de Noronha.” Vão ser eles contando detalhadamente o um mês e meio que passaram naquela ilha, o que fizeram, o dia à dia, brigas e tudo mais. Vou postar o link do meu twitter a @GeoEgias. Enfim, obrigado por deixarem eu me sentir intensa.