Não Vou Desistir de Você
Escrita por Nicole Manjiro | Revisada por Especial Criativo
Ano – 2000
– Gabriel, esta é Sophia, ela ficará conosco a partir de agora.
O garoto de 12 anos, agachado na caixa de areia que o pai havia construído para si dois anos antes, olhou para cima e pode ver o perfil de uma garota, timidamente escondida atrás de sua mãe. A mulher fez com que a menina se aproximasse do filho e encarasse quem seria seu novo irmão.
Sem dizer nada, Gabriel estendeu a mão e lhe entregou uma das pás que estava usando para cavar.
– É um forte. - ele explicou para a garota, que aceitou o objeto apenas porque sentia não ter outra escolha. Atrás de si, o casal que a havia pego do orfanato formavam um muro que a impedia de fugir e achar um lugar para se esconder. Decidiu prestar atenção no que o menino à sua frente dizia: – Você coloca a areia aqui e bate bem… assim. - e fez a ação com menos cuidado do que ela faria em seguida. – E aí nós viramos o balde… assim.
– Ah. - foi tudo o que ela disse quando viu a torre de areia que se formou. Começou a cavar assim que Gabriel se afastou para lhe dar espaço. Preferiu concentrar sua atenção exclusivamente na atividade importante que o garoto havia lhe dado, já que só havia um balde, peça fundamental na criação do forte.
– Enquanto vocês brincam, farei um lanche. - a voz da mãe de Gabriel disse, se afastando com um sorriso no rosto, acompanhada do pai.
A relação de Sophia e Gabriel foi uma surpresa positiva para os pais. Quando decidiram que queriam uma filha, acharam que o filho talvez estranhasse a chegada de uma nova criança. Falaram com psicólogos quando a representante do Serviço Social os questionou sobre a reação do filho biológico. Todos queriam ter a certeza de que Sophia seria bem aceita na nova família. Entretanto, ninguém imaginaria que os dois fossem se dar tão bem.
Na primeira noite, quando Sophia se afundava em pesadelos, Gabriel saiu de seu quarto e foi até o da nova irmã, deitando ao seu lado e segurando sua mão bem forte. Um mês depois, os pais aceitaram que o melhor era os dois dividirem o quarto, já que nem um, nem outro fazia o uso dos ambientes sozinhos.
Na escola, Gabriel a apresentava para todos os amiguinhos e brigava com aqueles que não queria aceitá-la, por não ser irmã biológica dele. Protegeu Sophia quando ela precisou e incentivou-a a levantar a cabeça e arriscar-se quando necessário.
Foi por esses e outros motivos que, quando a Assistente Social tocou a campainha dizendo que houve um engano, e que Sophia deveria ser levada de volta, houve um enorme rebuliço. A garota já havia criado raízes afetivas com a família que haviam dito que seria dela para sempre; os pais, indignados, não queriam outra garota, e Gabriel não queria longe de si, a melhor amiga.
Mas a lei favoreceu aos pais biológicos de Sophia, e mesmo sem saber se seria seguro para ela voltar para os braços daqueles que a haviam abandonado há tantos anos, o Serviço Social retirou-a da família de Gabriel e a devolveu àqueles que realmente a haviam colocado no mundo.
E desde então, Gabriel nunca mais ouviu falar sobre Sophia.
Ano – 2021
Os gritos eram ensurdecedores. Porém, o que mais atordoava Gabriel, eram as mãos que tocavam-no em lugares que ele não havia permitido.
Ser uma personalidade pública não era fácil.
Sua ascensão se deve a uma série de televisão que participou como coadjuvante e, em seguida, ter conseguido o papel principal em um filme de herói que ficou famoso no mundo inteiro. Agora, ele é um dos astros mais cotados de Hollywood, com ofertas e mais ofertas para estrelar em filmes e propagandas.
Sorriu para as fãs, que não conseguiam controlar a alegria de estarem de frente com o rosto mais bonito do mundo, de acordo com uma revista famosa. Gabriel não concordava, mas jamais diria isso para alguém. Enquanto a sorte estivesse ao seu lado, ele se aproveitaria dela.
Saiu do Brasil com a intenção de fazer um curso através do futebol, mas foi descoberto por uma agência de modelos, que lhe oferecia uma quantia razoável para modelar; ajudava a pagar uma conta ou outra em Los Angeles, mas nada demais. Até que, em meio a uma brincadeira, um diretor o viu atuando com um amigo e o chamou para uma audição. Lá, conseguiu o papel coadjuvante; mas seu rosto era encantador, e o corpo, incrível. Logo conseguiu um bom agente e outra audição, desta vez para um filme em que interpretaria um herói. Deixou a universidade de lado e pagou um visto de estudante em um curso de teatro indicado pelo agente, fundamental para melhorar os pontos fracos. Com o combo talento + beleza, conseguiu o papel e, desde então, tem aproveitado a boa vida que o dinheiro e a fama traziam.
O homem que tudo tem, disse a matéria de uma revista importante. Gabriel a leu enquanto ia de um trabalho para outro. Encarou a própria foto, tirada de um banco de imagens, e a nota de chamada; o agente disse que havia vendido horrores, mas ele não se importava com aquela informação; em sua cabeça, só havia o pensamento de que não. Ele não tinha de tudo.
Há exatos 20 anos, Gabriel vem procurando pistas de onde está a garota que foi sua irmã por menos de um mês. Quando criança, perguntava todos os dias sobre a garota para os pais. Ao se tornar adolescente, se uniu aos pais na ação de procurar por notícias de Sophia, mas, de acordo com o Serviço Social, os pais sumiram do mapa. Houve uma série de transtornos, envolvendo processos e mais processos; no final, os pais não queriam outra filha e o Serviço Social teve de lhes pagar uma indenização que foi usada para pagar detetives que, infelizmente, não conseguiram nenhuma informação relevante sobre o paradeiro da criança.
Quando recebeu seu primeiro salário, Gabriel abriu uma poupança. Lá, ele depositava todo o dinheiro destinado exclusivamente à busca por Sophia. Ao contrário do que muitos achavam, a família não desistiu de encontrar a irmã e filha desaparecida.
– Você precisa focar na sua carreira, Gabriel. - o agente lhe disse, assistindo ao homem terminar de arrumar sua mala.
Havia recebido uma ligação dos pais, direto do Brasil, dizendo que, pela primeira vez, o detetive contratado havia encontrado uma pista importante sobre Sophia. Os pais haviam mudado o nome dela no registro, e por isso estava sendo impossível de rastreá-la. Gabriel pediu para que eles esperassem por ele antes de irem de encontro a ela. Ligou na mesma hora para um amigo que possuía um jato particular e perguntou se era possível levá-lo para São Paulo. O amigo disse que sim, já havia feito o trajeto antes. E então Gabriel lhe transferiu o valor para a viagem de ida e a volta do amigo.
– Depois, Jake, depois.
– Gabriel!
– É Sophia, Jake! - Gabriel gritou, virando para o agente e grande amigo. – Venho procurando por ela desde que ela deixou a casa dos meus pais. E agora… agora tenho a chance de vê-la novamente.
O amigo deu um passo para trás. Sabia da história de Gabriel. E também sabia que, no momento em que acontecesse algo nas investigações, o artista deixaria qualquer coisa para se dirigir à irmã postiça desaparecida. Ele só não esperava que fosse acontecer de fato. 20 anos separados...
– Então você deve me garantir que voltará em uma semana.
– Jake…
– Eu não sou Deus, Gabriel. Posso segurar as pontas por uma semana, mas mais do que isso é loucura. Você está incrivelmente famoso, mas não a ponto de poder ignorar as demandas de Hollywood. As coisas acontecem rápido por aqui, cara. Para sairmos dos holofotes, basta piscarmos.
A celebridade olhou para seu empresário e suspirou. Assentiu com a cabeça, os dois certos de que, caso algo acontecesse em São Paulo, Jake teria de ir ele mesmo buscar pessoalmente Gabriel, pois este não voltaria por vontade própria.
– Seu nome é Anna Saraiva. - o homem contratado pela família disse, sentado na mesa de jantar da cobertura que Gabriel havia comprado para seus pais, na zona Sul de São Paulo. – O nome dos pais no registro era outro, e nenhuma autoridade teve a inteligência de lhes pedir os documentos para comprovação. Assim, foi fácil realizar a mudança no nome da garota.
Gabriel olhou para os pais, tão nervosos quanto ele. Pode enxergar como eles estavam ansiosos para verem Sophia, ou melhor, Anna.
– Os pais morreram há 8 anos em um acidente de ônibus. Anna vive sozinha em Guararema. É médica.
– Médica? - a mãe levou as mãos ao rosto, emocionada. – Os pais biológicos…
– Não posso confirmar, mas não há registros criminais de nenhum dos dois. Me parece que adquiriram uma pequena casa no município de Guararema, que agora pertence à moça.
– Obrigado. - o pai de Gabriel disse, recebendo toda a papelada do relatório que o detetive havia feito.
– Eu poderia pedir um autógrafo? - o homem olhou para Gabriel. – Meu filho mais novo…
– Claro. - ele sorriu para o homem e pegou uma folha de papel em branco, escrevendo uma mensagem para o filho do detetive, que foi embora mais satisfeito por poder oferecer algo para o filho mais novo se animar, do que com a bolada de dinheiro que receberia com o trabalho feito. – E então - Gabriel olhou para os pais. – amanhã?
– Amanhã. - os dois assentiram.
Emocionados, a família trocou um forte abraço.
Antes de dormir, Gabriel olhou para o céu estrelado e se perguntou como Sophia reagiria ao vê-los. Ela os reconheceria?
O município de Guararema era uma cidade pequena, pacata, que vivia do turismo. Sua população se resumia a adultos com mais de 40 anos, idosos e crianças. Os adolescentes e jovens adultos saíam da cidade, em busca de mais aventuras e entretenimento.
Gabriel vestiu um boné e óculos escuros. Por sorte, a quarta-feira era de sol e céu sem nuvens, de modo que não pareceria um estranho no meio da rua. Ele e seus pais seguiram até o pronto-socorro da cidade, onde uma secretária os atendeu, perguntando em que poderia ajudá-los. Antes de responderem, Gabriel tomou a frente e disse que sua mãe não estava passando bem, e que o pai estava preocupado, por isso decidiram trazer a mulher para uma consulta de rotina.
O registro no sistema foi feito e, logo em seguida, uma curta triagem até chegar à médica. Quando o som com a senha da mãe de Gabriel soou, o coração dos três foi a mil.
Caminharam juntos até a pequena sala. Lá, Sophia olhava para o computador, provavelmente lendo a ficha da próxima paciente.
– Senhora… Cruz. - a voz saiu serena, parecendo até um tanto alegre. – Dores no peito? Ah. - surpreendeu-se ao ver uma família inteira, e não somente a mulher. – Por favor, sentem-se. Vou pedir que tragam mais uma cadeira…
– Tudo bem, doutora, ficarei em pé. - Gabriel disse, o peito apertado. Ela não se lembrava?
Sophia abriu um pequeno sorriso e desviou o olhar para a mulher, que já tinha lágrimas nos olhos, o que transformou o semblante da médica para algo sério.
– Está sentindo muita dor?
– Não, não… - a mulher disse, emocionada. – Você… - limpou a garganta ao sentir a voz trêmula. – Você me lembra muito da minha filha.
Sophia sorriu ao perceber que tudo não passava de uma associação emocional. Já havia tido pacientes assim; eram muito fáceis de lidar. Bastava que lhes desse o que precisava: atenção.
– Ela também é médica?
– Sim, apesar de não saber que eu sei.
Sophia inclinou a cabeça para o lado, ligeiramente confusa com a afirmação da paciente. Olhou para os acompanhantes, que não pareciam compartilhar da confusão, por isso, voltou-se para a mulher:
– Vocês não se falam?
– Ela foi tirada de mim quando era muito nova.
Sophia não respondeu. Gabriel viu nos olhos dela, a dúvida. Em seguida, a médica abriu um pequeno sorriso, que o homem imediatamente pôde confirmar a pouca dúvida que tinha sobre a identidade da moça; era ela. Era Sophia. Aquele sorriso, Gabriel guardou em seu coração. Foi o primeiro sorriso que a irmã mais nova lhe deu, quando ele se deitou com ela na cama que os pais haviam escolhido com tanto cuidado, na primeira noite dela na casa da família. O pesadelo assombrava a menina e a fazia chorar assim que os pais deixavam o quarto; Gabriel se esquivou em um dos momentos em que os dois deixavam o quarto e iam para o próprio, e deitou-se debaixo das cobertas, passando os braços pelos ombros da menina e puxando-a junto a si. Viu, de cima, o sorriso tímido da menina, confortável com a proteção.
Foi aquele sorriso que Gabriel via toda vez que se olhava no espelho e as lembranças de Sophia apareciam no lugar de seu reflexo. Lembrou-se dos sorrisos que vieram em seguida daquele, mais felizes e espontâneos, abruptamente interrompidos pela separação.
– Estão de férias em Guararema? - a médica perguntou.
– Viemos conhecer a cidade - o pai respondeu. - Você é daqui, doutora?
Sophia olhou de relance para a família e então retornou o olhar de volta para a tela do computador:
– Sou de Jundiaí, mas me formei em Mogi das Cruzes. A senhora poderia se sentar na maca? Vamos dar uma olhada nesse peito. Tem o costume de fazer exames de rotina?
– Não, doutora. - Gabriel respondeu pela mãe. – Eles ainda acham que são jovens.
– Vocês parecem jovens. - ela olhou com carinho para a mulher, que abriu um sorriso. – Mas mesmo os mais novos precisam manter os exames em dia. Respire fundo para mim? Isso…
Durante breve segundos, o único som que podiam ouvir, era o da respiração da mãe de Gabriel. O pai limpou as lágrimas nas costas da mão e respirou fundo.
– Vão aproveitar o natal na cidade? - Sophia percebeu o longo silêncio e decidiu quebrá-lo para deixar os pacientes à vontade. – Guararema é famosa pela decoração natalina.
– Nosso filho mora no exterior, fazem alguns anos que não passamos juntos. Você passa o natal com sua família?
Sophia abriu um pequeno sorriso.
– Passo com minhas amigas.
– Seus pais devem ficar tristes.
– Meus pais… hum… eles faleceram faz um tempo.
– Oh! Sinto muito… - a mãe de Gabriel olhou para o marido, que mexeu nas mãos de forma nervosa. – Você deve sentir muito a falta deles.
A médica não respondeu. Manteve o sorriso sereno no rosto e passou a, mais uma vez, desviar a atenção para a saúde da mulher. Por fim, receitou algumas vitaminas e pediu que ela praticasse algum exercício de baixa intensidade.
– É importante manter os exames de rotina em dia com seu médico. - ela explicou, mostrando que estava para finalizar a consulta. – Isso garante que, caso algo assim ocorra, o médico possa saber o que pode haver de errado. Aqui estão alguns pedidos de exames que seria bom fazer e passar com seu médico, mas se quiser, pode verificar com ele se é necessário fazer tudo.
– Obrigada, doutora.
– Tenham um ótimo dia.
Os pais saíram com um sorriso no rosto, mas Gabriel não se conformou. Ela pareceu se lembrar deles, ou será que foi engano dele? Será que ela esqueceu de tudo? Será que sofreu um acidente que apagou sua memória? Sophia não passou mais que um mês junto deles, mas se tornou importante para todos; será que eles não foram marcantes na vida dela também?
– O importante é saber que ela está bem. - a mãe disse dentro do carro, enquanto Gabriel dirigia para longe da cidade. – Já se passou muito tempo, não podemos exigir que ela se lembre de nós.
– Ela cresceu muito bem. - o pai disse. – Não me pareceu infeliz; acalmou meu coração.
Mas Gabriel não se acalmou como os pais. Queria um contato maior. Queria que ela retribuísse a lembrança. Desistiu de muita coisa para encontrá-la, e agora que conseguiram, a deixariam para trás?
Olhou para a vista da cafeteria. Escolheu um lugar particular, para que não fosse interrompido por algum fã. Notícias já corriam de que ele estava no Brasil, e seus fã-clubes fizeram um ótimo trabalho descobrindo sua agenda, estando em absolutamente todos os lugares que ele ia. No entanto, para a ocasião, Gabriel não queria nenhum fã. Não queria nenhum jornalista ou paparazzi. Este era um assunto particular e ele fazia questão de manter assim.
A porta de correr rangeu, mostrando que sua convidada havia chego. Olhou na direção do som e viu o rosto de Sophia, séria e um pouco hesitante.
– Obrigada por vir.
– Você… é mesmo…
– Gabriel Cruz. - ele se levantou e cumprimentou, no estilo americano, com um aperto de mão, a médica e irmã desaparecida.
– Na carta…
– Achei que você iria ignorá-la. - ele sorriu. – Mandei para você já faz cinco dias.
– Achei que era trote. - ela disse, sentando-se na frente dele. – Não é todo dia que se recebe uma carta de um integrante da família que me adotou.
– Você não nos reconheceu?
Sophia terminou de se acomodar e olhou para Gabriel.
– Reconheci sua mãe no momento em que ela entrou.
– Nossa mãe. - ele a corrigiu, mas ela não procurou fazer o mesmo. – Por que não nos disse?
– Achei que vocês haviam morrido. Foi a notícia que chegou a mim.
– Seus pais contaram?
Ela assentiu em resposta.
– Eles cuidaram bem de você?
Sophia suspirou. Olhou para o copo à sua frente e perguntou se a bebida era para ela, após confirmado, gastou um tempo com o líquido, até decidir falar:
– Não eram maus, mas não nasceram para ser pais. Tinham um negócio clandestino, por isso me tornei médica. Queriam alguém de confiança. Eles nunca me destrataram, só eram exigentes.
– Você não chegou a procurar por nós?
– Não. - ela suspirou. – Eles haviam dito que vocês haviam sofrido um acidente. Quando tive idade o suficiente para ir atrás da informação sozinha, estava ocupada demais com a profissão e tentando não perder meu CRM.
– Nós procuramos você desde o momento em que saiu pela nossa porta.
A afirmação de Gabriel pegou Sophia de surpresa.
– Mesmo?
– Seus pais foram muito bons em se esconder e esconderem você. Mudaram seu nome, não foi? Somente um detetive descobriu o fato, por isso fomos até você.
Gabriel pôde enxergar a notícia reverberando dentro da mente da médica. As pupilas se moviam rapidamente de um lado para o outro, como se buscassem um lugar para encaixar a informação.
– Vocês ficaram todo esse tempo… mesmo?
As lágrimas surgiram assim que Gabriel concordou com a cabeça. Sophia levou as mãos à boca e abaixou a cabeça. Murmurou palavras que ele não pode muito bem ouvir, mas também não estava interessado. Levantou-se e foi até o lado oposto da mesa, puxando a cadeira de Sophia para trás e em seguida envolveu-a em um forte abraço.
– Você nunca deixou de fazer parte da nossa família. Era para ser você o tempo todo, a nossa caçula.
Sophia chorou nos braços de Gabriel, como na primeira vez que foi alvo de piada dos amigos de escola. E como naquela vez, o irmão mais velho somente manteve os braços firmes ao redor da irmã, sussurrando em seu ouvido para que não se preocupasse: iria protegê-la a todo custo.
Ele a levou para a residência dos pais em São Paulo naquele dia. Lá, houve mais choro, mais abraços e mais promessas de que tudo ficaria bem. Sophia ficou para jantar e contou como foi parte de sua infância, e também o que se lembrava do mês que passou com sua família.
Um mês depois, Gabriel recebeu a notícia de que Sophia havia se mudado para São Paulo, já que deu certo a transferência, a pedido de um amigo próximo dele, para o hospital mais perto da residência dos pais. Ela moraria com eles até decidir que era hora de voltar a morar sozinha; mas isso demoraria para acontecer, afinal, precisavam colocar em dia, todo o tempo perdido.