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#011 Temporada

Cecília
AnaVitória



Não Esqueça Jamais

Escrita por Nicole Manjiro

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  Sentei na sala escura. Eu não queria luz. Não queria nada que mostrasse esperança ou qualquer coisa positiva. Porque eu estava vivendo um pesadelo. Talvez o maior deles.
  Sempre fui uma garota doce, admito. Me apaixono com facilidade e dou tudo de mim para todos que amo. Às vezes, essas pessoas quem impõem os limites sobre as outras, para que eu acabe não me machucando. As amo ainda mais por causa disso.
  A melhor delas, foi .
  Eu o conheci no trabalho. Ele era da área de T.I e eu, de marketing. Ele não gostava de se comunicar, já eu, amava. Achei incrível quando ele se obrigava a ir nos happy hours da empresa, porque eu estava lá. Ou quando ele alugava filmes na locadora e virava motivo de piada para os amigos, mas não se importava.
  Com o tempo, ouvi sua declaração de amor. Eu já estava apaixonada há meses.
  E cuidamos um do outro. Ele, mais de mim do que eu dele, era o que sentia.
  Quando decidimos morar juntos, foi como um sonho de criança. A brincadeira de casinha agora era realidade. E foi tudo maravilhoso. Durante a gripe, ele chegava com remédios e uma refeição completa, feita com amor e dedicação. Quando as cólicas menstruais apareciam, eu adormecia sentindo o carinho de sua mão na região do útero, mantendo-o quente e massageado. Eu cuidava de toda a nossa roupa e da limpeza da casa, enquanto ele cuidava da cozinha e dos banheiros. Era harmonioso, gostoso.
  Até que entramos na rotina.
  Acordar, irmos para a empresa. Recebi uma oferta melhor, então já não nos víamos sempre. Fiz novas amizades, o que fez com que nós dois já não compartilhássemos dos mesmos amigos. Eu saía para um lado, ele para outro. Por causa disso, nossos horários de limpeza não batiam mais.
  Cada dia que passava, encontrávamos menos coisas em comum para compartilhar.
  – Precisamos conversar. – eu disse, uma noite.
  – Pode ser mais tarde? – ele pegava um casaco no armário. – Tenho uma reunião de equipe agora e o chefe pediu para que seja presencial.
  Assenti. Eu não me intrometeria em seu trabalho. Não queria ser um fardo maior.
  Sem perceber a seriedade que eu estava tentando demonstrar, ele deu um beijo em minha bochecha e saiu correndo.
  Aquele dia, a reunião foi até às 9 da manhã do dia seguinte.
  E assim fomos indo. Cada vez que um pedia para conversar, o outro tinha alguma programação.
  E então, do nada. Ele fez o anúncio:
  – Eu encontrei outra pessoa.
  Não soube como reagir. Quis bater nele, mas nunca conseguiria. Não sou de demonstrar minhas emoções tristes dessa maneira agressiva.
  Ele explicou como a outra pessoa era alegre e compartilhava dos mesmos interesses. Como ela se importava com ele e estava sempre em contato.
  Como se eu nunca tivesse feito isso.
  De repente, me senti mal. Enquanto o via arrumar suas coisas para partir, o vazio começava a me preencher. E vi o quanto eu o amava.
  Mesmo não sendo recíproco, eu não queria que ele fosse. Não queria que me deixasse. Não queria que cada parte dele no apartamento sumisse.
  Mas sumiu. Em um passe de mágica, como se não tivéssemos tido uma história, ele deixou um envelope com o que disse ser o dinheiro dos gastos do mês e, juntos de seus amigos – que antes eram meus também – recolheu todas as coisas e foi embora, deixando sua cópia da chave pendurada na moldura com ganchos ao lado da porta.
  Eu não tive tempo de me despedir. De tentar pedi-lo para reconsiderar. De entender por que ele não tentou fazer dar centro entre nós dois.
  Quando meu cérebro voltou a funcionar, minhas pernas nos levaram para a garagem, mas já era tarde demais. Ele não estava mais lá. O porteiro avisou que ele havia deixado a placa e o controle do portão.
  Sem ressentimento nenhum, ele foi.
  – Você não percebeu que ele estava se afastando? – Paula, minha amiga, perguntou no dia seguinte.
  Neguei com a cabeça.
  – Acho que estava focada demais em tentar melhorar e encontrar a melhor maneira de voltar a ser como antes. – novamente, senti as lágrimas voltarem. – Ele não me deu nem a chance de retruca-lo. Como se... como se...
  – Ele já estivesse decidido.
  Assenti.
  Paula ficou do meu lado, fazendo carinho em minhas costas e ajudando a enxugar todas as lágrimas que não paravam de cair.
  – Amiga... em breve, eu não garanto agora, mas em breve... isso vai passar. Essa dor vai passar. – ela disse, baixo. – E então você vai conseguir enxergar melhor tudo o que aconteceu e por que as coisas aconteceram assim. Até lá, você só precisa se lembrar constantemente de viver.

  No final das contas, Paula estava certa.
   havia me deixado porque se empolgou com uma nova relação. Ele fez o mesmo com a garota com quem me traiu, e com essa outra também.
  O problema, percebi finalmente, não era eu.
  O mais importante de todas as lições aprendidas foi que, mesmo no meio da dor, do luto e da tristeza, o importante é não se esquecer de viver. Porque isso, no meio de toda a tormenta, costuma ser o que mais desejamos parar de fazer.

FIM