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#009 Temporada

Naked
James Arthur




Naked

Escrita por Bells

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Agosto

  Sexta-feira, 22h38m
  Teu vestido preto e curto era altamente provocante e fazia com que todos os olhos masculinos no salão te seguissem.
  Você sabia disso.
  Você queria isso.
  Teu corpo acompanhava a batida eletrônica que saia das caixas de sons do DJ localizado sobre a pista de dança.
  Era uma festa e tanto. E para poucos.
  Não era para você estar ali, mas ninguém precisava saber e nem se importavam.
  O show que dava compensava sua cara de pau de estar onde não devia.
  Teus olhos de gatos estavam em alerta, a pista estava cheia, mas nenhuma daquelas pessoas era a que queria.
  "Onde você está, pequeno gafanhoto?" pensou enquanto sorria pra um cara que se aproximava com uma bebida vermelha, provavelmente batizada. Pegou o copo e o passou pra alguém qualquer sem que o loiro de olhos azuis notasse e continuou dançando, se afastando.
  Sem distrações.
  E foi então que quem esperava entrou no salão. O DJ pausou o som e pegou o microfone:
  - Senhoras e senhores, e com vocês o homenageado da noite: Albert Floyd.
  Uma salva de palmas tomou conta do lugar e você se juntou aos outros deixando o sorriso se alargar no rosto.
  A hora tinha chegado.
  Albert levantou os braços e pediu para que voltassem a diversão pegando uma taça de champanhe logo em seguida.
  Com passos lentos você foi se aproximando até estar frente a frente ao grande magnata da atualidade.
  - É um prazer enorme conhecê-lo, Sr. Albert. Sou uma grande fã dos seus projetos com a tecnologia e o meio ambiente – tua voz era doce e envolvente, sabia o que estava fazendo. Era mestra nisso.
  - Por favor, me chame apenas de Albert. Fico feliz em saber da tua admiração pelo meu trabalho. Posso saber qual seu nome? – o homem parecia encantado com o brilho de teus olhos, com sua juventude. Não era segredo para ninguém que ele gostava de pessoas jovens ao seu redor. Talvez fosse para espantar a velhice que já lhe batia a porta com seus 59 anos.
  - – deu a mão a Albert em um cumprimento e soube naquele momento que ele estava preso na sua teia.
  - Tomaria uma taça comigo, jovem? – ele perguntou, pegando outra taça de champanhe da bandeja de um garçom que por ali passava.
  Sorrindo, você aceitou, deixando que apenas um sussurro saísse de teus lábios ao inclinar a cabeça de lado.
  “Limpo.”
  Albert e nenhum dos outros convidados notou qualquer coisa estranha vinda de você. Uma moça tão linda não poderia esconder nada de ruim. Por isso, ninguém ouviu, ou se deu conta de seu sussurro, muito menos Albert Floyd.
  A noite foi agitada, a casa do magnata estava tomada por mil convidados, sem eufemismo. A mansão era grande o suficiente para abrigar todos os amigos, colegas, jornalistas e penetras. Era praticamente impossível não se perder com tanta gente junta, e se misturar era a coisa mais fácil que três jovens poderiam fazer.
  Quatro se contarmos com você e cinco com o motorista da vez, parado na rua aos fundos da mansão cintilante e iluminada.
  Aos poucos as pessoas foram saindo, a comida foi acabando, a bebida perdendo o tom, as pernas ficando cansado. Era o início do fim.
  Você ficou a noite toda com  Albert, conversaram, dançaram, beberam, riram. Ao fim da festa pareciam íntimos, como se soubesse todos os segredos deles, e ele nenhum teu, você era esperta o suficiente para contar apenas o essencial.
  Levantou da mesa onde estavam dizendo que precisava ir ao banheiro.
  - Estarei aqui lhe esperando, querida. – disse pegando sua mão e dando um leve aperto.
  Você sorriu fazendo um carinho no rosto dele e disse que não iria demorar. De fato você entrou no banheiro, surpreendeu-se com a sorte grande que teve dentro do pequeno cômodo, mas jamais voltou à mesa com Albert.

  Sábado, 01h05m
  A rua estava escura, mas os faróis da van preta piscaram indicando seu lugar. Sorriu sentindo o coração bater forte contra o peito.
  Abriu a porta e entrou.
  - Hello, boys. – disse, fazendo questão de mostrar aos quatro rapazes a joia que brilhava no teu pescoço.
  O loiro ao volante deu partida deixando para trás uma rua deserta e alguém alguns dólares mais pobre.
  - Que colar é esse, ?
  - Meu colar novo, gostou, amor? – Você perguntou virando-se para trás e dando um beijo rápido no garoto de cabelos escuros.
  - Espero que não tenha feito nenhuma besteira. – o loiro que dirigia disse.
  - Não, Luke, eu não fiz nenhuma besteira. – rolou os olhos voltando a olhar para frente enquanto mexia no colar de diamantes com a mão.
  - Então nos conte, como conseguiu? Estamos curiosos. – Luke continuou, deixando claro sua insatisfação.
  - Fui ao banheiro e encontrei uma velha mais pra lá do que cá que pediu minha ajuda enquanto vomitava todos os coquetéis que tinha tomado a festa toda, só me aproveitei do momento. A ocasião faz o ladrão, não é assim que dizem? – Finalizou  com um sorriso enorme nos lábios.
  Antes de Luke protestar o moreno, Calum, interviu:
  - Tudo bem, isso não é problema agora. Sinto informar que a quantia no cofre era bem menos do que esperávamos.
  - O quê? – Você e Luke disseram juntos.
  - Isso mesmo, só tinha uns 25 mil, no máximo.
  - Michael, você nos garantiu que seria um ganho grande, como explica isso? – O loiro ao seu lado não virou a cabeça só porque estava dirigindo, mas você sentiu a raiva emanar dele como um vulcão entrando em erupção e isso não era nada bom.
  - Sim, eu sei, mas como eu poderia saber da quantia exata? Só trabalhei naquela casa por dois dias e como jardineiro, se fosse pego no quarto do cara iria tudo por água abaixo antes mesmo de começar. – Michael disse nervoso tentando se explicar.
  Realmente, sua parte no plano não era das mais fáceis, mas ele cumpriu como pode, só por isso não houve mais reclamações por parte dos outros. Ele fez o seu melhor, o jeito era aceitar.
  - Pega leve, Luke. – tua mão pousou rapidamente sobre a do loiro e sentiu ele se arrepiar, talvez fosse só o vento frio que entrava pela janela aberta. – Michael fez o que dava, e 25 mil é melhor que nada.
  - Concordo com a , na verdade, até acho que nos saímos bem. – o moreno disse atrás de você enquanto massageava de leve teu ombro. Você sorriu para ele, não deixando transparecer seu nervosismo abrupto.
  - E este é o Calum, sempre concordando com a . – Luke resmungou parando em um sinal.
  - Cara, o que te deu hoje? Tá nesse mau humor desde o começo da noite, meu Deus! – Calum respondeu sério.
  A tensão no carro era perceptível, ninguém ousou falar nada. E seguiram o resto do caminho em silêncio.
  Só voltaram a falar quando Luke foi deixando cada um em sua respectiva casa.
  - Reunião amanhã às 10h, Ash e Michael. – Calum informou aos dois, que dividiam um loft no bairro central da cidade.  
  - Ok, até mais, galera.
  Luke voltou a dirigir e agora só restavam três no carro, ele, você e Calum.
  Quem olhasse de longe, não notaria nada de estranho, eram apenas três amigos juntos. Nada demais.
  Mas aquilo era mais que uma relação de amizade e só apenas um do trio não sabia disso. Ou aparentava não saber.
  - Bom, eu sou o próximo. Dorme comigo hoje, ? – Calum perguntou enquanto digitava algo em seu celular.
  Talvez por esse motivo não tenha visto o olhar que você e Luke trocaram.
  - Hoje não vai dar, Erick tá reclamando que não tô dormindo em casa faz tempo – era uma desculpa esfarrapada, mas também era uma desculpa aceitável. Teu irmão realmente andava reclamando dos sumiços, mas não era por isso que você ia dormir em casa hoje.
  - Ah, tudo bem então. Se cuida, te amo. – o moreno abriu a porta assim que Luke parou o carro, deu um beijo rápido em você e saiu.
  Um namorado complacente, sonho de todos. Você não tinha do que reclamar, não é mesmo?
  - Então...
  - Seu apartamento, o Erick vai ficar em casa hoje.
  Luke apenas assentiu e não falou mais nada.

  Sábado, 01h58m
  Os beijos eram carregados de desejo, as mãos cheias de luxúria. Tua respiração se misturava com a de Luke de uma forma que parecia que eram um só. Assim que ele abriu a porta do pequeno apartamento vocês entraram de uma forma embaralhada, e ao fechar a porta ele encostou teu corpo contra a parede sentindo cada parte da tua pele.
  - Quero ficar só com o colar. – você disse deixando o vestido cair ao chão.
  Luke apenas lhe fitou com os olhos fervendo de desejo e logo recomeçou os beijos que não tardariam a acabar na cama.
  Um simples e clichê caso de traição. Não foi novidade ontem e não seria amanhã.
  A cama estava uma bagunça só e seus corpos faziam parte daquilo. Você estava deitada com a cabeça no peito de Luke e não falavam nada, apenas aproveitavam o silêncio do momento, como se a qualquer minuto aquela paz fosse acabar. E acabou.
  - Deveríamos ir embora daqui. Você e eu.
  Pousou o queixo sobre o peito do jovem e sorriu sem entender direito o que ele dizia.
  - Não podemos, Luke.
  - Não podemos ou você não quer? – Seu olhar era feroz, estava carregado de um ressentimento que você já estava se cansando de ver.
  - Não posso deixar o Calum para trás, temos todo uma vida juntos. E o nosso esquema? Os outros? Tá disposto a largar tudo? – Você disse sentando. No fim, sempre acabavam tendo essa mesma conversa, com os mesmos argumentos e respostas afiadas.
  - Eu cansei. Pensei que esse roubo seria o suficiente para dar o pé daqui, mas tô disposto a fazer mais um, o maior, e então sair. Você vem junto? – Ele levantou-se começando a se vestir.
  - Eu não posso fazer isso, por que insiste nessa ideia? Está tão bom assim.
  - BOM PRA QUEM? – Luke esbravejou jogando a camisa que iria vestir no chão com um soco. – Eu não aguento mais ter que te encontrar as escondidas, ter que olhar pro Calum todos os dias e fingir que não tô apaixonado pela namorada do meu melhor amigo. Que não durmo com ela nas noites que ela não dorme com ele.
  Você estava assustada, nunca tinha visto ele assim, tão tomado pela raiva, com os olhos injetados de ódio, bufando como um animal em fúria. Se enrolou no lençol e se colocou de pé indo até ele.
  - Desculpa, eu sei que tudo isso é difícil para você, para mim também é. Queria que tudo fosse mais fácil. – tentou lhe abraçar, mas ele a impediu, te segurando pelos braços.
  - Não quero mais desculpas, é só isso que você consegue me dar, migalhas e desculpas. Você me ama? – Os olhos azuis dele fitavam os seus de forma intensa, tentavam te ver por dentro. Te decodificar, te desnudar. Mas você era forte, e nunca abaixava a guarda pra ninguém, muito menos para ele.
  - Isso não se trata de amor. – você desconversou desviando os olhos dele. Ele lhe soltou a fazendo dar dois passos para trás.
  - Se trata do que então? Do quanto você consegue ser vagabunda e ficar com dois caras ao mesmo tempo?
  O barulho do tapa foi alto, mas não doeu tanto quanto queria que tivesse doído. Luke esfregou a mão no lado do rosto que rapidamente ficou vermelho e sorriu amargurado.
  - Eu não te entendo, eu juro que tento, mas não consigo. Uma hora diz que não pode viver sem mim e outra hora diz que não pode largar o Calum. Como é isso, ?
  A vergonha chegou até você, seu corpo mesmo coberto pelo lençol parecia estar nu para o mundo, você parecia estar desprovida de pele. As lágrimas rolavam pelo seu rosto sem sua permissão, mas você não fez nada para impedi-las.
  - Essa é a vida que eu escolhi viver, Luke, amo a adrenalina que cada trabalho me proporciona, é como me sentir viva a cada minuto e o Calum... Nos amamos desde os nove anos de idade, nós somos mais que namorados, somos uma só coisa. Desculpa. – em nenhum momento você olhou para ele, não queria ver a decepção mais uma vez estampada naqueles olhos que amava tanto, daria tudo para conseguir largar tudo e ir com ele. Mas simplesmente não podia, era mais forte que você. Tudo lhe prendia ali, naquela vida com aquela pessoa.
  Você ouviu quando ele saiu do quarto e voltou jogando algo contra seu corpo que rapidamente foi ao chão. Seu vestido.
  - Se veste e vai embora.
  Você se assustou com a forma direta e grossa que ele falou, mas nada disse. Deixou o lençol cair e começou a se vestir sem se importar com a exposição.
  Luke em nenhum momento lançou um olhar para seu corpo. Ele estava mesmo decidido.
  - Então o quê? Acabamos? – Você perguntou finalmente recebendo o olhar do loiro.
  - Não começamos nada para terminarmos. Só vai embora e não volta mais.
  Você então se deu conta que o que tinham havia chegado ao fim. Sustentou seu olhar ao dele e não conseguiu enxergar a pessoa que tinha beijado minutos atrás. Ele não estava mais ali, você tinha o perdido. E quando se deu conta disso sentiu um buraco no peito, mas não deu o braço a torcer e aceitou, saindo do quarto e da vida de Luke sem dizer uma só palavra.

  Domingo, 10h00m
  Estavam todos reunidos, a conversa que teriam ali parecia ser mais importante do que estavam acostumados, você sentiu isso no instante que chegou a casa de Calum.
  - Hey, . – ele te recebeu com um sorriso acolhedor e um beijo cheio de afeto. Você não conseguiu não olhar para a expressão de Luke: fechada, mas que nada demonstrava.
  - Oi gente, desculpe a demora, me atrasei um pouco. – você disse sentando-se ao lado de Calum.
  - Sem problema, Luke chegou ainda a pouco também. – Ash respondeu, sem notar o que poderia estar insinuando. Mas não tinha problema, porque você não estava com Luke de qualquer maneira, não mais.
  - OK, vamos então ao centro da questão: Luke tá deixando a equipe, só vai participar do próximo trabalho, que será seu último. – simples assim seu namorado jogou a bomba sobre a mesa.
  Teus olhos rapidamente encararam o loiro sentado à sua frente, o que ele queria com isso? Seu corpo começava a fervilhar de raiva.
  - E eis que os outros também querem sair. – Calum finalizou olhando para você.
  - O quê? Como assim? Isso é algum tipo de motim? – Agora sua raiva estava no nível máximo. Eles não podiam fazer isso com você. Ele não podia fazer isso com você.
  - Acho que tá na hora de eu parar, estamos nisso há quatro anos e já tenho dinheiro suficiente para abrir meu restaurante. – Michael respondeu de um jeito acanhado, com medo que tua reação só piorasse.
  - Você não pode tá falando sério Mic, nenhum de vocês pode. E você, Calum? Quer pular fora também? – Voltou o corpo para o garoto ao teu lado.
  Ele passou a mão pelos cabelos negros e respirou fundo. Ele não precisava dizer nada a resposta estava estampado no rosto dele.
  - Acho que estamos numa posição confortável e parar agora seria o ideal. Em quatro anos conseguimos muito e ainda vamos fazer um último trabalho, podemos conseguir muito mais. Pense, , melhor acabar agora do que numa prisão.
  - Você nunca foi medroso desse jeito. É o quê? Luke que colocou essa ideia na cabeça de vocês? – Dessa vez você se virou para ele o fitando com toda raiva que poderia expressar através de um olhar.
  Ele soltou uma risada respondendo em seguida:
  - Eu só disse que estou saindo, não fiz a cabeça de ninguém. Eles só pensaram um pouco e chegaram às suas próprias conclusões.
  - Isso, . Eu quero muito voltar para faculdade de jornalismo, e é meio difícil conciliar a vida que levo agora com a vida acadêmica. – Ash disse batucando de leve na mesa. Estava nervoso, todos pareciam estar com medo da tua reação, menos Luke claro.
  - Isso é traição.
  - Por favor, amor! Ninguém tá nisso para sempre, cada um tem o direito de seguir com a sua vida.
  - Mas vocês agiram pelas minhas costas e isso não é justo. Eu não quero sair, e aí? Como fica? – Sua voz aumentou uma oitava e as mãos de Calum seguraram as tuas que tremiam.
  - Só fica calma e tenta entender o lado de cada um. Luke disse que tem um trabalho com um ganho alto, poderíamos sair dessa com chave de ouro.
  Sua risada foi alta e sem um pingo de graça. Soltou as mãos do moreno e se virou para Luke.
  - Então diga, qual seu maravilhoso trabalho? – Teu sorriso de escárnio em nada afetou o outro. Ele parecia estar imune a qualquer ação tua e você o odiou ainda mais por isso.
  - Vamos assaltar a casa do meu avô.
  Teu queixo quase caiu, mas conseguiu recuperar sua surpresa a tempo.
  - Que tipo de loucura é essa? Rouba dos seus agora, Luke? – Você não podia negar, alfinetar o garoto estava sendo uma boa forma de exorcizar a raiva que ainda fervilhava no seu sangue.
  - Meu avô nunca foi um exemplo que quero seguir, ele odeia a mim e meu pai, para ele somos a ruína da minha mãe, sua amada filha morta. Enfim, o ganho será de cem mil dólares. – finalizou cruzando as mãos sobre a mesa e fitando cada um e deixando o olhar pesar por último sobre você.
  - Nossa, cem mil? Como pode ter certeza, cara? – Michael exclamou com os olhos arregalados.
  - Minha avó me ama acima do ódio do velho, então fiz uma visita a ela quando ele não estava e conferi o cofre.
  - Seria vinte mil para cada um. Melhor ganho que poderíamos ter em quatro anos. – Calum disse com um sorriso animado.
  - Não vamos com tanta sede ao pote. E como entraríamos? A segurança deve ser pesada pra quem tem essa quantia num cofre em casa. – você disse a Luke.
  - Meu avô é o cara mais pão duro que existe na face da Terra. Ele não gasta dinheiro com segurança, acredita que mora na vizinhança mais segura da cidade. O máximo que ele tem são duas câmeras no portão de entrada que não vai ser por onde vamos entrar. Tem uma entrada escondida na lateral esquerda do muro que fica de frente para uma área de mata. Mais alguma pergunta?
  E ali ficaram por incontáveis horas refinando o plano, tornando cada pequeno ponto importante. Nada poderia dar errado, aquele era o trabalho da vida deles. E tudo precisava sair perfeito.

  Segunda, 00h05
  A noite estava calma. Não se ouvia um único barulho, seja animal ou humano. Você estava no carro junto com Calum, suas funções hoje era vigiar enquanto os outros entravam na casa.
  - Eu ainda acho isso tudo uma palhaçada. – sua voz estava distante e um pouco irritada.
  - Vai dar tudo certo, acho que esse é melhor caminho que podemos seguir agora. – Calum respondeu tocando seu rosto de forma carinhosa. – Você vai ver.
  - Se você acha, mas o que vamos fazer? Eu não me vejo fazendo nada. – bufou cruzando os braços.
  A risada do garoto te fez olhar para ele e sorrir também. Ele era lindo, suas covinha eram apaixonantes, tudo nele era perfeito. Sentiu a consciência pesar ao lembrar do que fez a ele e do que continuaria fazendo se Luke não tivesse terminado tudo, ele não te merecia e você sabia disso.
  - Você pode fazer o que quiser, é só querer, vamos estar juntos nessa, nunca se esqueça disso. – disse entrelaçando suas mãos e a beijando em seguida.
  - Desculpa. – foi tudo que conseguiu responder. Quase um vômito de culpa.
  - Não existe absolutamente nada para te desculpar. – o olhar dele era intenso e parecia conter vários significados que você não conseguiu decifrar.
  - Eu não mereço você, não mesmo.
  - Para com isso, . Hoje é o começo da nossa nova vida.
  Você sorriu tentando se sentir feliz com as palavras de Calum, mas algo ainda te incomodava. Talvez fosse a decisão que pesava sobre suas costas. Ir embora com Luke e deixar tudo para trás ou ficar com Calum e deixar a pessoa que ama ir embora?
  Era uma decisão complicada para você. Calum estava na sua vida há anos e deixá-lo era praticamente impossível, você simplesmente não conseguia. O amor que sentiam um pelo outro era mais forte que qualquer laço. Era isso que Luke não entendia, era difícil até para você entender, mas era assim.
  De repente, seus pensamentos foram interrompidos por uma saraivada de estalos e não demorou a notar que eram tiros.
  - Ah não, tiros. Vou abrir as portas do fundo, fique no volante. – Calum gritou saindo do carro.
  - Não, volte, Calum! – Você gritou de volta tomando seu lugar. Mas Calum já estava abrindo as portas traseiras da van.
  Os tiros ficaram mais altos e logo os três garotos surgiram correndo e gritando.
  - Mas que merda... – foi tudo que você conseguiu dizer enquanto ligava o carro e via um homem de estatura baixa, mas de forma corpulenta com uma arma comprida nas mãos e xingando enquanto atirava sem parar.
  Só um milagre fazia com que ele não acertasse um único tiro.
  - Vamos, vamos. – a voz de Calum gritava quando todos se jogaram dentro do carro.
  - Que droga aconteceu? – Você perguntou enquanto dava partida no carro.
  - O avô do Luke estava esperando a gente na frente do cofre com uma espingarda e aí começou a tirar para todo lado feito um louco. – Ash falava enquanto arfava por quanto da corrida nada programada.
  - Eu sabia que isso não ia dar certo. – foi tudo que você disse antes de ouvir tiros contra o carro e o grito de alguém antes das portas fecharem.
  - Tá tudo bem aí atrás gente? – o desespero e o medo tomaram conta de seu corpo.
  Ninguém a respondeu.
  Você não queria olhar para trás e provocar algum acidente por isso gritou novamente, dessa vez mais alto:
  - Tá tudo bem aí?
  - Não, . É o Calum. – Ash respondeu.
  - O que foi?
  - Ele levou um tiro.

  Segunda, 00h30
  Fazia mais ou menos uns três minutos que você havia estacionado a van em uma rua deserta e longe pelo menos uns 30km da casa do avô de Luke.
  Fazia mais ou menos uns dois minutos que você saiu do volante e se jogou na parte traseira do carro, sem se importar com nada, tudo que queria era apenas ver e ouvir Calum respirando.
  Fazia mais ou menos uns trinta segundos que você não parava de chorar segurando o corpo do garoto no braços. De alguma forma você sentiu o carro começar a se movimentar, alguém que você não prestou atenção tinha assumido a direção e tudo bem, porque tudo que você conseguia fazer agora era chorar e pedir para Calum aguentar e não morrer.
  - Vai dar tudo certo, você não vai morrer. Não vai!
  Os olhos dele estavam meio fechados e ele arfava sem parar tossindo às vezes, sangue escorria pela sua boca e a parte da frente de sua camisa branca era um mar de sangue. Você estava um mar de sangue também.
  - Tudo bem, . – ele disse tossindo logo em seguida.
  - Não fala nada, se poupe, por favor! – Você olhou para quem estava ao seu lado, Michael e perguntou desesperada. – Estamos indo para um hospital, não é? Precisamos ir para um hospital.
  - Luke está nos levando para o mais próximo, tudo vai dar certo. Ele vai ficar bem. – Você conseguia ler a mentira estampada no rosto do garoto. A dor também estava lá.
  Será que a tua expressão era a mesma?
  - Tá ouvindo? Você não vai morrer. – sua voz saiu bem decidida próxima do rosto de Calum.
  Ele procurou sua mão e a segurou de forma fraca, te fitando de forma intensa.
  - Eu sempre soube. – tossiu prosseguindo logo depois. – E tudo bem, te amo e só isso importa.
  Você não conseguia entender o que ele queria dizer com essas palavras até notar a cabeça de Luke olhar para trás e te encarar. Uma luz vermelha tomava conta do rosto dele, um sinal vermelho com certeza. E então você entendeu e chorou ainda mais.
  - Me perdoa, por favor, me perdoa. Eu te amo! – choramingou enterrando a cabeça no peito do garoto e só então notou que ele não respirava mais. – Calum? Calum? Acorda! Acorda! Ele não tá respirando. Luke o hospital tá perto? Ele não tá mais respirando!
  Você não se lembra de muita coisa depois disso. Mãos seguraram seu corpo tentando te afastar do corpo frio de Calum, mas você se debatia e se recusava a soltá-lo. Olhos azuis cheios de lágrimas dizia para você ficar calma, mais nada poderia ser feito. Você se lembrava de ter xingado ele e dito que jamais o perdoaria por isso.
  Depois era tudo um breu.
  Um breu de dor e vazio.

  Setembro
  Sexta, 15h20
  Tua flor preferida é violeta. Tua cor favorita é roxo. Tua comida preferida é bolo de carne. Tua pessoa favorita era Calum.
  Não é impossível seguir depois que se perde algo, só é difícil e agonizante. Você sentiu isso durante esses trinta dias que se passaram.
  Desde a hora que se deu conta que ele havia morrido nos teus braços, até o momento em que viu seu caixão descer pela terra.
  E a dor só piorava. E a raiva também. Raiva de você mesma, raiva de Luke, raiva do avô dele que acertou um único tiro no peito da tua pessoa favorita no mundo.
  Até que você chegou a uma conclusão: a vida não era injusta, as pessoas que a tornavam injusta. Decisões erradas tornavam as coisas injustas, más escolhas, maus caminhos. Você, Calum, Luke, Ash e Michael tornaram suas vidas injustas e agora pagavam por isso.
  Simples assim.
  O bilhete do trem estava na tua mão a tanto tempo que já estava parcialmente molhado pelo seu suor. O esticou com cuidado sobre a perna.
  - O trem sai em dez minutos. – Luke disse sentando ao seu lado com dois copos de café. Um para você e outro para ele.
  - Irlanda deve ser linda. – você disse bebericando a bebida quente.
  - Sim, é. Lembro pouco de lá, mas são lembranças boas.
  - Seria uma nova vida, – teu olhar caiu sobre o dele e você sorriu sem emoção.
  Estar ao lado de Luke era conflitante, era como se existissem duas de você, uma que o amava tanto que não conseguia tirar os olhos de suas íris azuis, seus cabelos loiros, sua barba por fazer, seu sorriso tentador. Já a outra só queria jogar esse café quente no rosto dele e apreciar os seus gritos enquanto a bebida queima sua pele, ela o odiava. Ele tinha tirado Calum dela e isso ela não podia perdoar.
  Era complicado escolher qual das duas você queria dar espaço. Por enquanto você conseguia controlar a situação, mas teria que chegar a uma decisão logo. Só tinha mais sete minutos.
  - Sim, seria. Eu também sinto a falta dele todos os dias, mas temos que seguir em frente.
  - Como você acha que ele sabia de nós? – Foi tudo que conseguiu perguntar.
  - Eu não sei, devemos ter dado algum furo. Ele te amava acima de qualquer coisa, ele era um cara incrível. – Luke disse com um sorriso triste fitando o nada.
  - Sim, ele era e nós só o sacaneamos.
  Luke virou a cabeça para você e assentiu se dando conta da merda que haviam feito.
  - Tudo que podemos fazer agora é tentar andar na linha, sermos o melhor para nós e para quem estiver do nosso lado. Por ele e por nós.
  Você refletiu as palavras de Luke e deixou que cada uma delas tomasse seu lugar dentro de si. E então deixou que uma parte sua prevalecesse sobre a outra.
  - Trem com destino à Irlanda saindo em dois minutos! – uma voz feminina falou chegando a todos os espaços da estação.
  - É nossa hora. – Luke disse levantando-se e estendo a mão para você.
  - Eu não vou. – colocou o copo ao seu lado e se levantou ficando de frente para ele.
  Luke enfiou as mãos nos bolsos da calça e fitou seu rosto sem demonstrar nenhuma reação.
  - Não seria o caminho certo ir com você agora. Não estou pronta, não sei se um dia estarei, mas seguir com você depois de tudo o que aconteceu não é fazer o certo para mim. Desculpa. – uma lágrima rolou pelo seu rosto e você imediatamente a limpou não querendo ser sentimental justo agora.
  Ele sorriu tocando de leve sua bochecha onde a lágrima tinha estado minutos atrás. Você sentiu cada parte do seu corpo reagir a ele, mas se manteve forte. Isso era por você e por Calum, e por suas escolhas erradas durante todo esse tempo.
  - Te espero na Irlanda, . – e lhe deu um beijo na testa seguindo em direção ao trem.
  Agora sim você se permitiu soltar algumas lágrimas. Ver ele indo embora era como abrir um novo buraco no peito, mas  um mal necessário. Para os dois.
  Tua pessoa favorita no momento era você mesma.

FIM