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Ideia #053

Doada por Lelen (@justnarcisism)

// A Ideia
– Ela é aparentemente o sonho de qualquer garoto, linda, sexy e misteriosa;
– Ela esconde um segredo;
– Ele tem namorada e é feliz com ela;
– Ela o quer e fará de tudo para consegui-lo.

Gostaria que a principal fosse “A” bitch da história, e que desse atenção a personalidade e o lado psicológico dos principais; a principal fazendo de tudo (de tudo MESMO) para conseguir o garoto, a dúvida do rapaz entre sua namorada e o alvo de seus fetiches, e o drama da namorada com todo o “caso”.


// Sugestões

Gostaria que o título fosse “My Toxic Valentine” se possível.

// Notas

Seria legal se a fic mostrasse os três pontos de vista: Principal (a bitch q), favorito e namorada (que também pode ser principal, por que não?).




My Toxic Valentine

Escrito por Juliana Oliveira

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Capítulo 1

  Encarei a neblina lá fora, meus olhos ainda um pouco embaçados pelo fato de ter acabado de acordar. Dei um alto suspiro e me dirigi ao meu closet.
  Peguei a primeira roupa que vi, apesar de adorar ficar horas e horas pensando no que vestir, criando então algo extremamente chamativo. Maquiei-me como de costume e não deixei de lado o batom vermelho em meus lábios grossos. Borrifei algumas vezes o meu melhor perfume, peguei minha bolsa e desci as escadas. Minha mãe tomava café na cozinha enquanto prestava atenção nas tragédias que passavam na televisão.
  - Bom dia. – eu disse seca. – Cadê o ? – meus olhos percorreram a cozinha, procurando pelo meu irmão.
  - Bom dia pra senhorita também. – ela me retribuiu da mesma forma. – Seu irmão não dormiu em casa, vai ter que ir a pé.
  - Droga! – suspirei e fui em direção à porta. A faculdade não ficava muito longe dali, porém eu odiava a ideia de ter que sair naquele frio e caminhar algumas quadras. Eu era mimada. E sabia muito bem disso.

   POV
  A vi de longe. Podia encontrar semelhanças com qualquer garota daquela faculdade. Mas não. Ela era diferente. Eu reconhecia o barulho de seus saltos há metros de distancia. Seu perfume adocicado dominava o ambiente em poucos segundos. não era uma garota qualquer. Era A garota. Talvez a causa das minhas dores de cabeça. Mas eu adorava o fato de que ela sentia algo por mim. Apesar de ser a garota, talvez, mais bonita e mais sexy daquela faculdade, ela era fria, misteriosa. Com poucos amigos, as pessoas a olhavam com indiferença, ou talvez respeito demais. As meninas com certeza a invejavam, pois ninguém naquele lugar conseguia se equilibrar tão bem num salto todos os dias, todas as manhãs. Eram poucos os meninos que tentavam algo com ela, mas ela era incrível, sem duvidas nenhuma. Como sempre, seus lábios estavam cobertos por um batom vermelho, ela andava com certa tensão, talvez pelo frio que estava fazendo. Estava sozinha, e provavelmente seu irmão não viria a aula hoje. A encarei dos pés a cabeça, ela apenas jogou um olhar esnobe para mim, passando então pela porta.
  - ? O que você acha? – me cutucou.
  - Sobre o quê? – eu a olhei confuso.
  - O que eu acabei de falar. ! Você não presta atenção em nada do que eu digo.
  - Não é verdade, eu só estava... Distraído.
  - Sei... – ela disse franzindo o cenho para mim. Tentei tirar aquela garota da minha cabeça e prestar atenção na minha namorada.
   POV Off

  O barulho dos meus saltos ecoava pelos corredores enquanto eu ia até meu armário. O abri lentamente enquanto tirava alguns livros de dentro.
  - Bu! – dei um pequeno pulo. Senti meu coração estourar dentro de mim. Encarei a garota ao meu lado.
  - . Que bela forma de se dar bom dia á alguém. – a olhei, séria.
  - Ih, acordou de mau humor? Nem sei por que pergunto, você sempre é assim. – ela soltou um riso se encostando no armário ao lado.
  - Obrigada pelo elogio. – sorri torto. – Vamos? – minha amiga me acompanhou até a sala, nós duas nos sentamos e para minha sorte, ou talvez azar, o casal de pombinhos sentou na nossa frente.
  - Esses dois não se desgrudam um minuto. – encarava o casal, que mais se beijavam do que prestavam atenção na aula. Revirei os olhos.
  - só pega mulher nojenta. – apoiei meu cotovelo na mesa, apoiando por fim meu queixo na minha mão.
  - Ainda não tirou ele da sua cabeça? O garoto tá feliz, . Para com isso.
  - Posso lhe dizer uma coisa? Ah, mas você já deve saber. – sorri falso. – Quando eu quero uma coisa, eu nem preciso de muito esforço, porque eu consigo.

  A manhã foi típica de uma segunda feira, preguiçosa e sem graça. Faltando dez minutos para a última aula acabar, lembrei-me da ausência do meu irmão, que resultava em ter que voltar a pé, como havia vindo. Bufei.
  O sinal bateu, dei um beijo na bochecha de e desci as escadas do enorme prédio. Garoava fraco fazendo tudo ficar difícil de se enxergar. Tentei acelerar os passos pela rua, na esperança de chegar mais rápido em casa, ouvi de longe um carro vindo, e ele foi parando lentamente me acompanhando, olhei para o lado.
   .

  - Quer uma carona? - ele disse ao abrir lentamente a janela do carro, me encarando dos pés a cabeça. Desviei o olhar e continuei andando.
  - Não.
  - Para de cu doce. Entra aí.
  - Não, acho que sua namoradinha não vai gostar.
  - Você mora do lado da minha casa, , para de bobagem.
  - Grande coisa, tenho duas pernas.
  - Tudo bem então... - ele disse derrotado. Parei no meio do caminho e ele parou também. Apoiei os ombros na janela do carro.
  - Até que não é má ideia. - o olhei no fundo dos olhos. Ele riu irônico.
  - Não entendo você.
  - Adoro te fazer não me entender. - eu disse ao bater a porta do carro e em seguida colocar os cintos de segurança.
  O silencio tomava conta de nós dois. estava concentrado na rua, que sem duvida ficava um caos quando estava chovendo.
  - Sua namorada é tão sem graça.
  - Hm, que bom que sou EU quem tem que decidir isso.
  - Grosso.
  - Estúpida. Você mal a conhece.
  - Ainda bem. Já pensou fazer parte do circulo de amigos daquela menina? - dei um riso alto - Brincadeira. Ela só é meio sonsa demais... Não faz seu tipo.
  - E quem faria? - ele me encarou. Cerrou os olhos levemente esperando uma resposta.
  - Nem te conto. - meu olhar malicioso o fez abrir um sorriso, ele balançou a cabeça e voltou seu olhar para a rua. Adorava provocar , era um dos meus passatempos preferidos. Adorava o deixar irritado, curioso.
  - Obrigada. - eu disse depositando um beijo em sua bochecha quando seu carro parou na frente da minha casa, de fato éramos vizinhos, mas nunca havia precisado de uma carona dele, já que meu irmão raramente faltava às aulas. - Ops, deixei uma marquinha de batom aí, melhor lavar, antes que a veja. - pisquei para ele, que revirou os olhos. Abri a porta do carro e entrei em casa.

Capítulo 2

  Passava a maior parte do dia no meu quarto. Adora ficar sozinha. Minha companhia era melhor do que qualquer pessoa que pudesse me incomodar e me encher com seus problemas o dia todo. As únicas pessoas que eu gostava/não me incomodava de ouvir desabafos era do meu irmão e da . Somente.
  Ouvi a porta se abrir lentamente e um par de olhos me encarar. O perfume dele invadiu o local e o cheiro de menta da sua boca foi liberado quando seus lábios chegaram perto de minha testa. Eu estava na cama, ouvindo música e tentando ler um livro.
  - Ficou braba? - meu irmão se sentou do meu lado, seus braços me envolveram e senti certa falta de ar com toda aquela melosidade dele.
  - De você ter dormido fora de casa e me deixado ir a pé pra escola? Imagina, . Eu adoro passar frio e chuva.
  - trouxe você na volta, sua mentirosa. E de manhã não estava garoando. - estalei os olhos, como quem queria uma explicação. Ele riu, entendendo. - Ele me contou.
  - Desde quando você e o conversam sobre alguma merda? - o cutuquei.
  - Desde quando somos vizinhos a vida toda e mesmo com três anos de diferença nos damos bem. - ele deu um sorriso irônico.
  - Ah, claro. Esqueci desse detalhe. - revirei os olhos, os voltando para meu livro.
  - E desde quando o ensinei a como lidar com as garotas. - meu irmão sem duvidas nenhuma adorava me provocar.
  - Não deu muito certo não é mesmo? Olha a namorada dele, por favor, , até você combina mais com ele do que ela. - ri maldosamente.
  - Ciúmes?
  - Talvez.
  - Para com isso, você é linda, vai achar alguém que te mereça. - ele me olhou nos olhos, logo depois me beijando na bochecha.
  - Você sabe quem eu quero. - fiz bico.
  - Tenta ver a realidade, por favor, e tira isso da cabeça. - ele me apertou ainda mais entre seus braços. - Vamos comer alguma coisa fora?
  - Mamãe não está em casa?
  - Não, vai trabalhar até mais tarde hoje, o que quer dizer, sem jantar. - ele fez beicinho. - Vamos, tira essa calça de moletom, coloca seu salto, se anima, te espero lá embaixo.
  - Olha minha cara de quem ta animada.
  - Eu sei que você tá, vamos, por favor, faz tempo que não saímos juntos...
  - Ok . - eu disse levantando da cama e o empurrando pra fora do quarto. - Me dê vinte minutos.
  - Já disse que amo você?
  - Não, mas eu também te amo. - abri um sorriso e fechei a porta.

  Desci depois do tempo prometido, vinte minutos. Antes de chegar ao pé da escada, senti de longe um vento frio trazendo consigo um perfume masculino completamente maravilhoso.
  E eu sabia exatamente de quem era.
  Nunca confundiria com garoto algum.
  Nunca.
  - Ah, ! - meu irmão disse dando um tapa em sua costas. - E aí.
  - Estou atrapalhando? - ele riu ao me ver toda arrumada. Isso, olha mais.
  - Não, a gente...
  - Estava de saída. - eu sorri entrelaçando os braços em volta do pescoço do meu irmão. Agora, na mesma altura que eu, por conta de meus saltos inseparáveis. - Não quer vir com a gente?
   me jogou um olhar congelante e logo riu em seguida, completando.
  - É, vem com a gente, aposto que vai ser divertido.
  - Acho melhor não, a combinou de passar lá em casa depois e...
  - Que bom que aceitou! Vamos. - eu disse o pegando pela mão e o puxando pra fora de casa. O céu já estava escuro e meu estomago implorava por comida.
  - Você não tem jeito mesmo. - me encarou.
  - Adoro não ter. - sorri para ele moleca.

  Conversa vai, conversa vem, e eu já tinha comido o suficiente. e beberam um pouco e digamos que eu os tenha acompanhado. parecia aflito o jantar inteiro. Com certeza por causa da namorada, argh. Que menininha mais sem graça que ele foi arrumar. Aposto que se fosse eu no lugar dela, estaríamos nos divertindo muito agora.
  - Vou ao banheiro, já volto. - disse já se levantando. O segui com os olhos até lá.
  Quando meus olhos se voltaram para , ele me encarava.
  - Qual o problema?
  - O que acha que vai conseguir com isso?
  - Com isso o quê? - ergui as sobrancelhas soltando um pequeno sorriso dos meus lábios.
  - Não se faça de desentendida.
  - Quem está se fazendo aqui, é você. - aproximei minha mão da sua e a acariciei. Ele apenas observava sem cessar o acontecimento. Seus olhos se encontraram com os meus.
  Senti a mesa tremer com pouquíssima intensidade, quase impossível de se perceber. Observei a tela do celular de que piscava mostrando sua namorada ligando. Uma foto dos dois aparecia e o nome embaixo “”. Ele livrou sua mão da minha e agarrou o aparelho com certa tremedeira.
  - O-Oi . – ele disse. Seus olhos estavam fixos no galheteiro de cima da mesa e ele se embaraçava com as mãos. Pude ouvir a voz dela do outro lado da linha. Como essa menina grita...
  - ? Onde você está? – ela dizia irritada.

  - Er... Eu vim com o jantar, e... – ele se enrolava com as palavras.
  - O quê? Como assim? Nós tínhamos combinado de nos vermos e você simplesmente saí sem dar satisfações?
  - , espera, fica calma que eu já to ind... – antes de ele terminar e acabar com a nossa noite, agarrei o celular da mão dele, fazendo-o fazer uma cara aterrorizada para mim.
  - Hey , amor. Estamos numa pizzaria, será que podia ligar para o depois?
  - ? O que você está fazendo aí? Por que vocês estão juntos? Passa para o , eu quero falar com ele agora ! – ela gritava, fiz uma cara enjoada e estendia a mão com a intenção de tirar o aparelho de mim.
  - Olha, querida, sou irmã do se você esqueceu, nós só estamos jantando, fica tranquila, logo ele estará em casa, beijinhos, meu bem. – abri um sorriso malicioso ao apertar o “desligar” na tela.
  - Espera aí, quem você pensa que é pra pegar meu celular desse jeito, falar essas bobagens pra minha namorada? – ele dizia inconformado. Senti vontade imensa de rir de toda aquela situação.
  - Sabe, você fica muito mais sexy quando está nervoso. – seu rosto corou e ele revirou os olhos, me deixando sem resposta.

  - Obrigada . – disse ao sair do carro.
  - Capaz, nos vemos por aí? – meu irmão disse já abrindo a porta de casa.
  - Claro. Até. – ele disse e na tentativa de se virar, o puxei pelo braço. Ele bufou, me encarando.
  - O que você quer?
  - Quero que você pare de ser infantil. – eu disse ainda o segurando. Ele me olhou, indignado. O que eu disse demais?
  - Eu? Infantil? – ele deu risada. – Só pode ser brincadeira.
  - Então prova. – aproximei meu rosto do seu. Apesar dos saltos eu ainda era certamente mais baixa que ele, seus olhos percorreram meu rosto, parando nos meus. Envolvi meus braços em seu pescoço e suas mãos pousaram lentamente na minha cintura, me fazendo arrepiar. O cheiro do seu perfume provavelmente ficaria na minha roupa depois, fato. Nossos lábios foram se aproximando e se encontraram delicadamente em um selinho.
  - E você acha que trair minha namorada é provar que não sou infantil? – ele separou nossos lábios e me olhou sério.
  - Não, é óbvio que não. Eu quis dizer, resistir a mim. – abaixei o olhar, envergonhada esperando sua resposta. Sua mão ergueu meu queixo. Um sorriso se formava em seu rosto.
  - Eu já disse que você não tem jeito? – ele riu encostando nossos narizes.
  - Já, e eu já disse que adoro não ter? – sorri maliciosamente e agora um beijo de verdade se formava.

  - Vaaaamos, acorda . – sentia a cama balançar, mas que diabos é isso. Ergui lentamente o tapa olhos de dormir e encontrei um abrindo minhas cortinas.
  - Olha, eu sei acordar sozinha ok? – eu o encarei, furiosa. Odiava ser acordada pelos outros. Sentei-me na cama.
  - Ah é? Pois faltam exatamente quinze minutos para a sua primeira aula, e, bom... Você ainda esta de camisola. – ele ergueu as sobrancelhas. Dei um pulo
  - O quê? Quinze minutos? Meu Deus. – levantei da cama em um pulo, atropelei pelo caminho e peguei a primeira roupa que vi, corri para o banheiro desesperada.
  - Te espero lá embaixo. – ele deu uma pequena batidinha na porta dando risada. Bufei.
  Diferente de como eu esperava, mal me olhou e quando isso aconteceu seu olhar era de ódio. Argh, aquela menina fazia a cabeça dele, com toda a certeza. A relação dos dois estava um tanto estremecida pelo que eu percebi nas aulas. Eu não queria exatamente sentir amor por ele. Eu queria ele pra mim, é óbvio. Mas algo mais fútil de vez em quando me pregava na parede. Talvez apenas pelo fato de “Tenho o para mim”. Mas não era apenas isso que eu queria. Ou que sentia.
  - Menos D, senhorita . – o professor de biologia colocou minha prova sobre a carteira, um olhar desesperado surgiu. – Recuperação amanhã.
  - O quê? Como? – eu protestava. – Amanhã é muito próximo... Não dá tempo de estudar. – eu a olhava, incrédula, seguia com meus olhos o professor entregando as provas. Quando entregou a ultima, sentou-se em sua carteira e nos observou, esperando devido silencio.
  - Bom, como vocês sabem, temos apenas mais uma semana de aulas. – ele fez uma pausa. – Pois bem, a metade da sala está de recuperação e infelizmente ela terá que ser feita amanhã, preciso entregar as notas o quanto antes.
  - Ta, e o como você espera que a gente consiga nota? – fez cara de nojo para ele. Que apenas retribui com um olhar de “Será que posso terminar de falar? Obrigada”. Ela se calou.
  - Separei duplas de estudo. E antes que vocês achem um absurdo não poderem ir com seus amigos... É melhor que lembrem que isso está fora de cogitação, sendo que todas as “panelinhas” da turma estão no mesmo buraco.
  O professor ajeitou algumas folhas enquanto a sala inteira mantinha silêncio. A recuperação dele era conhecida por todos. Por ser uma das piores, claro.
  Depois de muito remexer as folhas, ele tossiu e começou a falar.
  - Bom, vocês se decidam como e aonde vão querer estudar, espero que as pessoas que estão a salvo da recuperação ajudem os que estão. Lembrando que a biblioteca está aberta e temos algumas salas livres a tarde, então, fiquem à vontade. – ele fez uma cara de deboche terrivelmente nojenta. – , você vai estudar com a Kelly.
  - Mas... – ela dizia alternando os olhares para seu namorado e Kelly. Ambos não estavam de recuperação, então imagino que ela gostaria de estudar com seu namoradinho.
  - Posso terminar?
  - Mas professor! Pense comigo, seria bem mais fácil se eu estudasse com o .
  - já tem uma dupla, tudo bem? Será assim e ponto.
  - Quem vai ir com ele? – ela disse furiosa e senti algumas faíscas de ciúmes ali. Aquela aula sem duvidas não podia piorar. De recuperação e tendo que aguentar essa nojenta, por favor, né.
  Apoiei minha cabeça no braço, deitando-me na mesa. Suspirei alto e comecei a brincar com uma caneta.
  - ... Vejamos. – ouvi sua voz pausar. – .
  - O quê? – eu disse ao levantar minha cabeça e notar os olhares para mim.
  - Algum problema Srta ? – o professor me encarou.
  - Não, nenhum. – eu dizia tentando disfarçar o que havia acabado de fazer. Nem tive tempo de reparar na cara que a deve ter feito. Com certeza não foi uma das melhores.

Capítulo 3

  - Achei que não ia mais vir. – ele me olhou dos pés a cabeça soltando um sorriso torto.
  - Me atrasei, desculpa. Licença. – respondi ao entrar em sua enorme casa. De fato eu nunca havia entrado lá, apesar dos vários anos de convivência como vizinhos e frequentando a mesma escola. Observei a sala sem dar muito bandeira. – Bonita sua casa.
  Ele apenas sorriu. – Vem. – disse subindo as escadas, subi logo atrás.
  - Espero que não se assuste com a bagunça, bom... eu tentei arrumar do jeito que imaginei que não se assustaria. – ele soltou uma risada gostosa, envergonhado. Entrei em seu quarto e ele fechou a porta.
  - Já pode casar.
  - Não sei cozinhar, mas se arrumar o quarto já é o suficiente. – ele deu de ombros. Dei risada e continuei observando. Na parede estava sua cama, de solteiro, coberta por um edredom extremamente bem esticado sem um amasso sequer. Alguns livros lotavam a prateleira no canto da parede. Um mural de fotos me chamou a atenção. Algumas dele com , já era de se esperar, e outras, com seus amigos. O quarto era num tom azul claro com uma única parede coberta por um azul marinho de outro mundo. Do outro lado, havia uma escrivaninha com seu notebook aberto sobre ela.
  - Então, vamos? – ele disse apoiando alguns livros em cima da cama e se sentando ao chão, me sentei do lado dele.
   sem duvidas seria o professor particular que eu tanto procurava. O que ele falava em 5 palavras o professor não conseguia me fazer entender em 30. Talvez eu pudesse agradecer a ele o resto da minha vida pelo fato da ajuda que esta me dando, leia-se, me fazendo passar de ano. Ele explicava com calma e voltava, se necessário, vinte vezes para que eu entendesse.
  - Então, uma coisa que também ajuda, são os exercícios da página 84. Se você quiser resolver em casa e depois me mostrar, tudo bem.
  - Irei fazer isso. – dei um riso. – E esse livro aqui, também ajuda? – me estiquei até alcançar o livro cujo estava do lado esquerdo de .
  - Ei, o que é isso no seu braço? – em questões de segundos ele segurou na minha mão prendendo meu braço nela. Puxei com firmeza.
  - Nada. – eu disse tentando desconversar e puxando a manga da blusa para baixo.
  - . – ele me encarou.
  - Por favor, não é nada. – eu dizia seca, minha garganta arranhava e minhas mãos começaram levemente a suar.
  - Então porque esta pedindo, por favor? – ele me encarou. – Me mostra o que é isso. – ele segurou na minha mão. – Por favor.
  Ergui lentamente uma das mangas da minha camiseta, deixando a mostra algumas marcas. Ou seja, cicatrizes, porque nem chegavam perto de ser recentes. Vi os olhos de se arregalarem e logo depois serem invadidos por dó. Talvez a palavra certa.
  - O que é isso?
  - Quer mesmo saber?
  - Se eu estou perguntando...
  - No 9º ano, em que eu fiquei afastada da escola por um tempo, lembra?
  - Sim, o que tem a ver?
  - Eu estava numa clinica. – minha voz falhou. Ele franziu o cenho.
  - Clinica? De quê?
  - Exatamente do que esta pensando. Lembra daquele namorado que eu tinha? Quando a gente terminou, eu fiquei muito mal. A tinha se mudado no ano anterior, meu irmão estava numa viajem do trabalho e bom, eu não tinha muito com quem conversar... – fiz uma pausa.
  - Por que nunca me procurou?
  - Sinceramente, . Você tinha os seus amigos, era um tanto popular. E eu? Era apenas, eu. A menina estranha do colégio, que todos zoavam por ter pouquíssimos amigos. Uma das minhas “fontes” de popularidade daquele colégio era o , você sabe disso. Não que eu namorasse ele por isso, óbvio que não. Mas as implicâncias diminuíram quando começamos a namorar, e depois que tudo acabou, eu me senti sozinha, sem chão. E ele era pra mim, como uma proteção a minha volta. Entende? – ele assentiu com a cabeça. – Bem, depois que terminamos, eu acabei faltando a escola a alguns dias, você deve se lembrar vagamente, éramos da mesma sala aquele ano. Eu tentei superar, mas as pessoas me olhavam com indiferença e diziam que eu não tinha sido “suficiente” para ele. Duas semanas depois, meus pais se separaram, eu não estava bem, e tudo parecia piorar, foi virando uma enorme bola de neve. E teve o dia em que ela “explodiu”.
  Senti meus olhos queimarem. Respirei fundo e continuei.
  - Meu pai saiu de casa. Minha mãe nunca precisou trabalhar. Meu pai dava tudo, e quando ele foi embora nós tivemos que nos virar. Ela trabalhava até tarde em uma loja o que resumia, para mim, mais tempo sozinha. Meu irmão tentou voltar pra cá para ficar comigo, mas o patrão dele não deixou. Cansada de ficar chorando pelos cantos em casa, eu decidi frequentar algumas festas do .
  - Do ? – ele me interrompeu. – Sexo, bebidas, drogas...?
  - Sim. Exatamente. – concordei. – Você sabe como as festas eram, resumidas nisso, claro. Lá em me sentia melhor, não me sentia sozinha, fazia coisas que todo mundo estava fazendo e me sentia bem por isso. Quando minha mãe descobriu, por falta de opções, ela começou a me “trancar” em casa. Quando eu digo trancar, digo, tudo! Portas, janelas... Pode até parecer absurdo e ao mesmo tempo engraçado. Me sentia um animal, enfim... – dei um riso sem nenhuma vontade. – Eu não a julgo, afinal, o que mais ela poderia fazer? Ela tinha que trabalhar, meu irmão estava longe, e eu não tinha mais ninguém. Foi aí que comecei a me cortar.
  - Por isso as cicatrizes?
  - Sim. – eu assenti. Passei a língua sobre os lábios, os umedecendo. não tirava os olhos de mim por um segundo sequer, o que me deixava desconfortável. Meus olhos queimavam e eu tentava ao máximo segurar tudo aquilo dentro de mim. – Sem as festas, sem as drogas, sem “diversão”, toda aquela tristeza me tomava novamente. Pode parecer ridículo, mas eu não tinha outra opção, não tinha mais o que fazer. Definitivamente eu estava sozinha, sem ninguém.
  - Mas, o que aconteceu depois? Como você foi parar na clinica? – eu sentia certa tensão em sua voz, por favor, não chore .
  - Então... Eu tive que voltar a sair por conta da escola, mas a questão era que, eu não ia pra escola, eu ia pra casa do . Só que em uma dessas “idas”, eu não voltei.
  - Como assim não voltou?
  - Eu acabei esquecendo de tudo e fiquei lá. Na real, eu não me lembro do que aconteceu. Meu irmão, que naquela ocasião teve que pegar um voo urgente pra cá antes que minha mãe tivesse um AVC já que não sabia onde eu estava e imagina as condições em que eu estava, me contou que eu estava meio desacordada, na rua, com uns garotos estranhos, nenhum deles era o . E depois de algum tempo na clinica, eu descobri que havia se mudado. Meu irmão conseguiu um trabalho aqui e ficou para cuidar de mim. Por isso somos tão unidos.
  Mordi os lábios, esperando uma resposta, mas sem olhar para o rosto de em hipótese alguma. Na verdade, eu não cobraria resposta alguma de alguém que acaba de ouvir tudo isso.
  - E foi depois de tudo isso que me tornei tão fria. Na verdade eu acho, né. – sorri forçado. – Não queria ter feito isso com a minha mãe, nem meu irmão. – meus olhos ardiam e minhas mãos suavam. – Me sinto tão culpada. – dessa vez eu não aguentei, acabei caindo no choro ao lembrar de tudo aquilo, o tamanho sofrimento que eu causei nas duas pessoas mais importantes da minha vida.
  - Ei, . Se acalma. – senti os braços de me envolverem. Ele encostou minha cabeça em seu peito e mexeu lentamente nos meus cabelos. Eu soluçava, eu sabia que tinha que chorar, sabia que precisava tirar tudo aquilo de dentro de mim. – Shiii... – ele me abraçava forte. – Vai ficar tudo bem. Você tem a , que está de volta, sua mãe, seu irmão. E você tem a mim . Eu sei que nunca nos demos muito bem, desculpa por tirar conclusões precipitadas sobre você. Mas eu sempre vou estar aqui. – ele depositou um beijo na minha testa.
  - Obrigada por me entender. – sorri ainda com os olhos derramando.

Capítulo 4

  - Então, deixo claro agora mesmo que não vou com a sua cara. – jogou um convite nas minhas mãos. – Mas o fez questão de te convidar e levar sua amiguinha junto. – ela fez cara de nojo para mim e . – Meu aniversário, ás nove, no sábado. Vejo vocês lá. Ela deu meia volta e sumiu no corredor. Dei graças a Deus por ser o último dia de aula e eu não ter que aguentar aquela menina além daquela festa maldita.
  - O que ela tem? – balançou a cabeça, confusa. – Estou começando a acreditar que ela é meio pirada. Nós vamos nisso mesmo?
  - Não perderia nunca.

  - Como estou? – passei a mão alisando meu vestido preto básico com recorte em coração nas costas. Em meus pés, uma meia pata na cor vinho.
  - Linda. – sorriu. – Vamos?
  - Vamos. – peguei minha clutch e saímos em direção à casa de , que não ficava muito longe dali.
  A casa sem duvidas estava muito bem decorada. Havia uma piscina nos fundos com algumas velas acesas na superfície. Bebidas por todos os lados e eu definitivamente não estava me adaptando muito bem aquele local.
  Depois de ficar um pouco mais a vontade com algumas pessoas em um canto, deu as caras a mim. Sentou-se do meu lado depositando um pequeno beijo extremamente formal na minha bochecha.
  - Ta gostando?
  - De certa forma, sim. – dei risada.
  Depois de algumas horas conversando, percebi extremamente bêbada. Estava com alguns meninos e não parecia muito feliz com isso. Ele se levantou e seguiu até ela, a puxando para um canto, percebi a fúria em seus olhos e que aquela conversa não estava sendo nada boa. pouco se importava com o que ele dizia, e depois de muitos gritos que eu não conseguia distingui o que falavam, deu as costas e passou pela porta de saída sem olhar pra trás. Ela deu de ombros e continuou bebendo com seus “amigos”. Oi? É isso mesmo que aconteceu?
  Morrendo de cansaço e de vontade de ir pra casa, eu e seguimos sozinhas pelas ruas desertas. Me despedi dela com um abraço apertado e entrei em casa. Deixei pelo caminho meus sapatos. Observei as luzes piscando na arvore de natal, levando com elas um sorriso meu.
  Passei no quarto do meu irmão, que dormia feito um anjinho, depositei um beijo em sua testa.
  - Boa noite, .
  Depois daquela noite, eu queria minha cama, precisava sem duvidas, descansar.

Capítulo 5

  - Feliz Natal, amor. – eu disse a dando a ele uma caixa enorme envolta por uma fita vermelha com glitter dourado. Adorava ser exagerada. Estávamos na varanda da minha casa, sua família havia vindo passar o natal com a minha. Ficamos observando a noite iluminada lá fora, ainda faltavam alguns minutos para a ceia, e mesmo não sendo típico de natal, e sim do ano novo, alguns vizinhos soltavam fogos no céu.
  - Desse tamanho? Hm... Vejamos. – ele sorriu feito uma criança.
  - Espero que goste. – sorri envergonhada.
  Na caixa eu havia posto vários presentes, já que não havia me decidido o que dar de natal para . Um perfume, uma camisa, um livro e alguns CSDs da suas bandas favoritas.
  - Já falei para você que você definitivamente não existe? – ele fez uma cara boba, me dando em seguida uma pequena mordida na bochecha.
  - Hm, não sei, acho que já. – dei risada. – Fico feliz que tenha gostado.
  - Agora é a sua vez. – ele se virou pegando uma caixa branca com um enorme laço rosa. Me entregou em seguida. Desenrolei o laço com o maior cuidado possível e tirei a tampa, abrindo em seguida o papel seda que enrolava algo.
  - Ah , por favor... – observei o sapato meia pata com spikes dourados no salto. Vou te bater.
  - Por quê? Não gostou? – ele fez um beicinho.
  - Se eu não gostei? Eu amei! É lindo, como soube que eu queria esse? – fiz bico. – Eu adorei.
  - Ainda tem mais... – ele me alertou.
  Puxei o outro papel de seda e dei de cara com um vestido maravilhoso em um tom pastel. O abri no ar e com toda certeza, senti meus olhos brilharem.
  - Com tão pouco tempo de convivência, como acertou meu gosto? E olha que eu sou muito enjoada. – ele riu.
  - Observo você a mais tempo do que você imagina. – mordi o lábio o encarando, ele riu.
  - Eu amo você.
  - Eu também amo você.
  - Feliz Natal. – ele disse encostando nossos narizes e os roçando, como um beijinho de esquimó. Me encarou com seus enormes olhos .
  - Obrigada por fazer o meu natal feliz. – ele abriu um largo sorriso e encostou nossos lábios, dando espaço para um beijo.

FIM

Nota: Hey Lelen (: Espero que tenha gostado da fanfic! Realmente fiquei com um pouco de medo, por isso acabei adotando uma ideia sua para a fic. Talvez não tenha ficado exatamente do jeito que você imaginou, mas eu me esforcei ao Maximo para que te agradasse. Penso que você também gostaria que fosse uma longfic, e não uma short, mas, enfim. Haha. Outro detalhe é o natal deixando sua marquinha no final da fic, sei que não era obrigatório, mas acho o natal tão lindo, e aproveitando, o “adicionei” aqui. Apesar da fanfic ser uma short, separei ela em partes para ficar mais fácil de ler. Espero realmente que tenha gostado da fic, desejo a você um ótimo fim de ano! Tudo de bom! Um beijo, Juliana.