My Soldier

Escrito por Asioleh | Revisado por Feer

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Capítulo Único

  Medo. Essa era a palavra que me definia nesse momento. Eu estava agoniada no nosso apartamento enquanto ele estava por aí servindo o nosso país. Não conseguia comer direito e nem dormir, já fazia 7 meses que ele tinha sido convocado para honrar sua pátria, e eu aqui, com medo do que poderia acontecer. Engraçado como nós só pensamos no ruim.
  “Mas é claro ! Seu namorado está no meio de uma guerra, e sim, a qualquer momento alguém pode bater em sua porta, te avisar que está morto.” Era o que minha consciência dizia. Queria que ela estivesse errada a qualquer custo.
  Eu e namoramos à 2 anos. Ele é a pessoa mais especial para mim, me ajudou em um momento muito difícil na minha vida, sempre foi meu melhor amigo desde então.
   tinha sido convocado para servir o país, foi a segunda pior notícia para mim, depois da morte de meus pais.

  Flashback on:

  Eu estava na cozinha do meu apartamento, preparando um almoço para mim e . Não morávamos juntos, mas passava boa parte do seu tempo aqui. Na verdade, revezávamos, às vezes eu ficava um tempo em sua casa, e ele, um tempo aqui.
  Ele estava assistindo jogo de futebol na televisão, quando a campainha toca.
  - Amor, atende pra mim por favor. – Gritei para da cozinha.
  - Tudo bem – levantou do sofá e caminhou até a porta abrindo-a.
  Depois de uns cinco minutos, ouvi silêncio. Não estava entendendo nada, e fui falar com .
  - Amor? – Perguntei, me aproximando – Quem era? – Perguntei, me virando para ele – , porque você está com essa cara? Está me assustando – Falei olhando para os seus olhos , enquanto ele olhava fixamente para a carta em suas mãos.
  - Apenas leia – Me entregou a carta e indo para a cozinha pegar um pouco d’água.
  A carta simplesmente dizia que deveria servir ao país. Ele era nascido nos Estados Unidos, morávamos em Nova Iorque.
  Eu simplesmente não conseguia falar, minhas mãos começaram a tremer, suar frio e minha cabeça começou a doer na hora. Não, isso não poderia ser verdade.

  Flashback off

  Desde aquela notícia, mudou totalmente. Ele estava quieto e falava pouco. Três dias depois, ele teve que partir. Há sete meses, não tenho notícias dele.
  Nenhuma carta. Já perdi as contas de quantas noites passei sem dormir, pensando no pior que poderia acontecer. Várias ideias mirabolantes pesavam em minha mente, fazendo o terror e a angústia tomar espaço em meu coração. Minha amiga , me visitava frequentemente, ela era um amor. Me ajudava com tudo aqui em casa, e me fazia companhia.
  Meu dia era praticamente a mesma coisa. Acordava, ia para a faculdade, almoçava e ia para o trabalho, voltava só as sete da noite. Nos fins de semana raramente saia, e quando saía, era ou para visitar , ou para levar Maggie para passear, minha cadelinha.
  Estava sentada nas cadeiras na sacada de meu apartamento. Eu adorava aquela vista que tinha, com a brisa refrescante batendo de leve em meus cabelos. Sempre tomava um chá com sentado ao meu lado. Conversávamos assuntos aleatórios, como foi o nosso trabalho, planos para o futuro e sobre nossos sentimentos.

[...]

  Hoje era segunda-feira, levantei sem ânimo nenhum para ir à faculdade. Olhei-me no espelho, meu rosto estava péssimo, olheiras gritantes e cara de morta. Me despi e fiquei embaixo do chuveiro no máximo 10 minutos. Saí, coloquei calça jeans, blusa simples e um casaco pesado. Estava chegando dezembro, época bem fria em Nova Iorque.
  Eu detesto Natal, aquele clima natalino me faz ficar mais depressiva do que já estou. Não quero passar meu natal com a família de . Não que sejam pessoas ruins, longe disso. Mas eu queria estar com ele. Queria que ele estivesse aqui comigo, trocando presentes e carinhos nessa data.
  Eu não tinha a mínima ideia de quando voltaria. Daqui 1 dia? 2 semanas? 5 meses? 2 anos? Eu realmente não sabia. Isso era o que mais me agoniava. Não ter notícias dele, não saber nem onde ele está.
  Peguei as chaves do meu carro, minha bolsa e saí. Eu fazia faculdade de engenharia, juntamente com . Ela era minha única amiga aqui. Tinha colegas, claro, mas nenhuma comparada à ela. Ela me ajudava em tudo, tudo que eu precisava.
  - Bom dia, flor do dia! – fala toda sorridente caminhando ao meu lado – Como foi o fim de semana? – Ela perguntou logo se arrependendo – Nem precisa me responder. Eu já sei. – Falou um pouco envergonhada.
  - Não tem problema – Falei sincera entrando pelo portão da faculdade – Meu final de semana foi como sempre. E como foi o seu?
  - Foi bom. Fui à aquela festa que eu te convidei – falou aparentando cara de tédio – Ainda bem que você não foi. Rolou briga e barraco no final, todo mundo foi embora mais cedo.
  - Nossa, quanta elegância – Falei e logo após rindo do meu próprio comentário desnecessário – Cadê Jack?
  - Aqui minhas flores! – Jack apareceu do nada, com o seu jeito pouco chamativo.
  Jack era nosso amigo gay. Ele era umas das pessoas mais doces e engraçadas do mundo. Junto com , ele é uma das melhores pessoas para se conviver.
  - Como vai minha flor mais especial? – Perguntou virando pra mim, fazendo ficar indignada – Sai Melzinha, você é mato – Falou fingindo limpar os ombros.
  - Olha quem fala, senhor Jack escândalo – olhou com um olhar cúmplice para o rapaz.
  - Nem ouse Bennet! – Jack disse se fingindo de ofendido.
  - Perdi alguma coisa? – Perguntei e tendo a confirmação de .
  - Jack deu escândalo na festa sábado. Ficou bêbado e com ciúmes de um de seus bofes.
  - Não acredito que contou! Era segredo, 'tá? – Jack se virou para e apontou o dedo pro seu rosto – Não confio mais em você, cobra!
  - Enfim, eu estou bem sim Jack, obrigada por perguntar. – Falei enquanto íamos para o pátio. O sinal demoraria ainda uns vinte minutos para bater – Aliás, vão passar o natal com quem?
  - Com minha família – Jack disse bebericando um pouco de sua água – E você?
  - Ainda não sei – Falei fitando meus próprios pés.
  - vai passar o Natal comigo, qualquer coisa. Não é? – olhou para mim intensamente.
  - Não sei não . Agradeço o convite. Acho que esse ano prefiro ficar sozinha em casa.
  - Você é quem sabe – disse pegando a água de Jack – Não vou insistir porque sei que você é teimosa. Não ache que não estou insistindo porque não quero que você vá. Eu quero sim, e muito.

[...]

  Já havia se passado duas semanas, era véspera de Natal. Eu, e Jack nos falávamos sempre. Não iria passar o Natal com . Eu estava bem em casa. Disso eu não tinha certeza.
  Nas condições de agora, estava sentada no sofá, quentinha e bebendo chocolate quente. Seria um cenário perfeito para uma pessoa solitária, que adoraria ficar assim, mas eu não. Meu coração doía, doía de saudades dele.
  A preguiça de ir ao mercado era maior que a vontade de comer algo bom na ceia. Não estava com a mínima vontade de preparar algo requintado para passar o natal sozinha. Salgadinhos, doces e um chá estava ótimo para mim.
  Vinte e três horas, e quarenta minutos.
  Observava a vista lá de fora, as ruas totalmente enfeitadas com luzinhas típicas de natal. Acho que isso era a única coisa que gostava desse clima natalino. As ruas estavam vazias, obviamente, todos estavam devidamente acolhidos em suas casas, casas de familiares e de amigos, para comemorar o natal. Eu estava imersa em pensamentos. Estava pensando em minha vida, enquanto passava um filme bobo na televisão sobre a data especial.
  Eu pensava em realmente tudo, na minha infância, em meus pais, em meus parentes distantes, em , em tudo. Mas o que mais fica gravado em minha memória, era o dia em que o conheci.

  Flashback on

  Há 6 anos atrás, estava no supermercado, áa mando de meus pais. Eu realmente detestava fazer compras. Eu tinha dezoito anos na época, e ele, dezenove. Foi algo muito simples que fez nós nos conhecermos.
  Estava eu, com minha altura gigantesca de 1,60, tentando pegar um pote de maionese na última prateleira, quando vejo um braço se esticando ao meu lado e alcançando o que eu tanto queria.
  - Toma – O rapaz de olhos me deu a maionese – Acho que deveriam colocar banquinhos ou escada aqui.
  - Haha, engraçado. – Falei em um tom sarcástico – Obrigada.
  - Disponha – O rapaz falou e logo imitou uma desajeitada reverencia. – , prazer. – Ele estendeu a mão para mim.
  - – Estendi a mão de volta, a qual ele apertou – .

  Flashback off

  Eu estava viajando em meu próprio mundinho, lágrimas escorriam pela minha face. Por que comigo?
  Eu perdi meus pais, e agora não tenho tem notícias do meu namorado. O que eu fiz de tão errado assim Deus?
  A campainha toca.
  É o porteiro, talvez. Sempre entregam cartões de natal para os moradores do prédio.
  Levantei do sofá, deixei minha xícara na mesinha de centro e calcei meus chinelos.
  Girei a chave da porta, e sem olhar no olho mágico, abri.
  Eu não podia acreditar.
  Era ele.

  Eu realmente não sei como não desmaiei ali mesmo.
  - Loui...- Comecei a falar mas fui interrompida.
  - Não fale nada meu amor – disse. Ele estava com uma expressão cansada. Os cabelos estavam mais compridos. Os olhos não tinham o mesmo brilho alegre de sempre. – Eu senti tanta sua falta – me abraçou tão forte que perdi meu ar. Já estávamos chorando junto faz tempo.
  - Por que não me deu noticias? O que aconteceu lá, ? Me conte tudo por favor – Disparei as palavras nele, sem nem pensar direito.
  - Eu vou te explicar. – me guiou até o sofá – Não tínhamos meios de comunicação lá. Estava o caos. Toda hora eu pensava em como você estaria. Eu sei que você não deve ter dormido e nem comido direito, eu te conheço muito bem. Eu passei tantas coisas ruins lá, que o que eu mais queria era estar ao seu lado, com você em meus braços. Lá, eu percebi que você é a única mulher que me completa. Não que eu não soubesse disso, é claro, mas com todo aquele caos, eu sabia que o melhor para mim era voltar para casa e olhar em seu rosto e dizer o quanto eu te amo. – Nessa altura, nós dois já chorávamos alto – Eu quero poder viver a minha vida inteira com você, . Quero acordar e ter a certeza que a mulher mais perfeita do mundo vai estar ao meu lado. Quero essa mulher que mesmo com raiva, é linda. Quero amar você com todos os seus defeitos. Pra mim não importa se você é desajeitada, desastrada, não saber cozinhar muito bem, insiste em deixar suas coisas espalhadas em meu banheiro, me faz arrumar meu quarto sempre que você vai pra casa. Quero poder compartilhar minha vida mais do que já compartilho com você. Quero meu sobrenome em seus documentos. Quero uma casa cheia de crianças correndo pra lá e pra cá. Eu quero ter uma família com você. Eu sei que esse tempo todo foi difícil, mas não tive escolha.
  - Eu senti muito a sua falta sim. – Falei beijando-o. Ah, o seu beijo. Como eu estava com saudades. Era um beijo urgente, apaixonado e cheio de saudades.
  - Eu quero te pedir em casamento, . – falou depois de nos separarmos do beijo. Ele tirou uma caixinha vermelha em formato de coração, abriu-a, lá tinha um anel maravilhoso. – , futura , você aceita se casar comigo?
  - Você ainda tem dúvida? É claro que eu aceito!
  quele era o dia mais feliz de minha vida. Engraçado como o amor tem que passar por vários testes para se firmar. Como é difícil a sensação de perder o amor da sua vida. Agora, eu sabia que meu destino era ao lado de . Ao lado de uma das pessoas que eu mais amo.
  A vida é como um teatro, temos que atuar conforme é nos propostos. Seja as decisões, por mais difíceis que sejam, temos que encará-las de frente. Sempre há uma luz no fim do túnel. Mesmo que as esperanças sejam quase nulas, não podemos desistir por nada.
  E esse foi o meu melhor Natal… Não precisava de muita coisa para estar feliz. Eu precisava apenas dele.
  Ficamos assistindo televisão e comendo porcarias. Aproveitados nossa noite inteira juntinhos. Eu me sentia mais leve, tranquila e completa. Eu estava completamente feliz. Ao lado dele…
  Ao lado do meu soldado.

Fim...



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