My Fairy Tale

Escrito por Danielle Aquino | Revisado por Lelen

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“Alguns infinitos são maiores que outros.”
- A culpa é das estrelas, John Green.

Prólogo

  Abril, 2016.

  A vida não é um conto de fadas. É por isso que eu não vou deixar minha filha - se eu tiver a sorte de ter uma um dia - assistir aos mentirosos filmes de princesas antes que ela consiga entender que aquilo é tudo um bando de mentiras. Você não simplesmente esbarra no príncipe encantado num desses momentos em que não está esperando e ele te resgata daquilo que te aflige. Você não recebe a ajuda de anãozinhos simpáticos, xícaras falantes ou de uma fada madrinha quando você não sabe mais o que fazer para lidar com uma situação desesperadora. Tudo isso é mentira. Tudo isso te ilude até você perceber que a vida não é essa maravilha toda.
  Bom, era isso que eu pensava até entrar naquele avião e cruzar o oceano Pacífico até Sydney, na Austrália. Depois daqueles quatro voos e quase 30 horas de viajem, a vida me provou que não vivemos um conto de fadas cem por cento do tempo, é verdade, mas, às vezes, o conto de fadas acontece. No meu caso, está acontecendo por quase oito meses. Meus anãozinhos/xícara falantes/fada madrinha são meus quatro colegas de apartamento maravilhosos. E meu príncipe encantado se chama .

Um

  Agosto, 2015.

  - Com licença, eu preciso entrar na ala de embarque agora? - Pergunto para a moça que está checando os cartões de embarque dos passageiros para os voos domésticos no Aeroporto Internacional Tancredo Neves de Confins - BH.
  Ela não responde minha pergunta. Apenas pega o papel amarelo da minha mão, que indica que meu voo sai em 30 minutos, que devo ir ao portão 25 para meu embarque e que minha poltrona é a número 6A.
  - Seu embarque já começou, então sim. - Ela diz com uma expressão que questiona minha inteligência.
  Eu sei ler, então eu realmente sei que preciso entrar. Mas uma parte de mim - a parte que estava morrendo de medo de ficar 17 meses longe da minha família que estava me encarando a dois metros de distância - precisava que alguém me dissesse que era aquilo mesmo que eu precisava fazer. É meu sonho, afinal de contas, certo?
  - Bom, eu realmente preciso ir. Meu embarque já começou.
  Assim que eu disse essas palavras, minhas duas irmãs lindas e carinhosas e minha mãe igualmente maravilhosa começaram a chorar. Eu? Chorei junto com elas, claro. Chorei dando-lhes os abraços apertados  - que eu descobriria depois de alguns meses vivendo do outro lado do mundo - que faziam uma falta do caralho. Chorei porque, apesar de eu estar sim vivendo o meu sonho, não é fácil dizer adeus. Eu as veria de novo, claro que veria. Mas, bom, o coração não entende isso assim, da forma que a gente quer que ele entenda. Ele só entende que você não vai ver aquelas pessoas por um bom tempo. E é aí que as lágrimas aparecem, inevitavelmente.
  Assim, voei para São Paulo chorando. Despachei minhas duas malas de 18 quilos (cada) para Sydney com um sorriso no rosto, mas com os olhos vermelhos e marejados. Meu celular decidiu não aceitar o wifi do aeroporto nem fazer ligações mais, dando-me desde então o gostinho amargo do que seriam minhas próximas 30 horas de vida. Mas, bom, eu estava apenas começando o que seria o melhor e mais emocionante período da minha vida. Na teoria eu sabia bem disso, e na prática, a coisa toda acabou me surpreendendo mais do que eu de fato imaginava.

Dois

  Setembro, 2015.

  - Eu simplesmente não aguento mais! - reclamo pelo Skype com minha melhor amiga, . Ela está no Brasil, onde são três horas da manhã de sábado. Felizmente, dorme tarde e tem dedicado seus fins de semana a me aturar. Deus sabe que os dias não têm sido nada fáceis…
  - Amiga, calma, respira fundo. Daqui alguns dias o chega e as coisas vão melhorar. - ela diz na tentativa de me acalmar.
  - , você não tá entendendo! Eu não aguento mais ouvir inglês e mandarim o tempo todo… - começo a dissecar o rosário de reclamações e lamentos que ela provavelmente já conhece de cor e salteado.
  Primeiramente: por que mandarim se eu estou na Austrália, onde o idioma oficial é o inglês? Porque eu estou fazendo a merda de um curso para aprender melhor a porcaria do inglês e, obviamente, não existem europeus na minha sala. Só tem asiático lá. (Nada contra asiáticos, diga-se de passagem. Tenho amigas chinesas que amo, inclusive. Mas sendo bem sincera: é bem irritante não ter nem noção do que as pessoas ao seu redor estão falando). E não, eles não aproveitam a ocasião para falar ingles. Pra ser sincera, duvido muito que eu não falaria português  com meus amigos se eu tivesse a chance também.
  Quando você sai de casa e vai pra outro país viver lá sem a sua cultura de rodeando, algumas coisas que você não prevê muito bem antes acontecem subitamente. Claro que primeiro você tem aquele momento de êxtase de estar em um solo de uma nação economicamente desenvolvida. A Austrália é uma Europa ensolarada de fato - isso ficou claro pra mim no instante que entrei dentro do táxi naquele aeroporto, me virando para fazer o motorista muçulmano entender meu inglês na época ridículo (eu falava pouco mais que “the book is on the table” na ocasião). Tudo limpo, organizado, mão inglesa - volantes do lado direito dos carros e tudo mais. Prédios com aquela arquitetura antiga entre meio a prédios modernos e espelhados. Pessoas bem arrumadas, limpas, andando tranquilamente mandando mensagem em seus iPhones por todos os lados. É diferente, te impressiona, te faz questionar o que deu errado na história do Brasil que um país com metade da idade do nosso teve muito mais “sorte” (bom, considerando idade o momento que os europeus colonizaram ambos os lugares).
  Mas então, tudo isso vira rotina. Letreiros escritos em inglês, todo mundo falando em inglês com aquele sotaque fofo que mistura o britânico com o americano de uma forma que você nem sabia que era possível, andar na rua sem medo de ser assaltada, o transporte público funcionar apropriadamente, o supermercado ser auto-atendimento, os bancos não terem filas, parques limpos (e um parque verde e lindo em cada esquina), praias maravilhosas… O ser humano se acostuma rápido às coisas boas. Em um mês, tudo isso já é parte da sua rotina - você nem se lembra direito como era viver antes das coisas serem assim. E é aí que o que você ama começa a fazer uma falta filha da puta.
  Ouvir português, almoçar arroz e feijão, lanchar pão de queijo ou coxinha, entender tudo o que as pessoas falam sempre, não ter medo de soar idiota apenas ao simplesmente fazer um pedido de comida numa cafeteria. Isso sem mencionar os amigos e a família porque a saudade é uma “torneira” que você passa a evitar a abrir - é muito difícil fechá-la uma vez que você faz isso.
  - Você não vai! Daqui alguns dias o chega aí e você vai ouvir mais português do que gostaria, você vai ver! - tenta me animar.
   é um dos meus amigos mais próximos que vem fazer intercâmbio junto comigo. Ele chega em cinco dias e mal posso esperar para abraçá-lo no aeroporto. Eu de fato tenho esperanças de que as coisas vão melhorar quando ele estiver por perto. Uma delas, espero que seja arranjarmos um lugar pra morarmos juntos.
  Atualmente estou vivendo numa casa em que uma japonesa mora com o marido no segundo andar e aluga dois quartos no térreo para pessoas de fora. Não divido o quarto com ninguém e os guris que moram no outro quarto praticamente não param em casa - quando estão em casa, me atrapalham a dormir xingando em mandarim durante a madrugada toda jogando algum jogo infernal. A dona do lugar é uma chata, que reclama se eu deixar um copo na pia por mais de duas horas. Desse modo, estou há cerca de trinta dias sem saber como é sentir que tenho uma casa. Pode parecer bobo, mas faz uma falta desgraçada quando tudo o que você pode chamar de fato de casa está há 14 mil quilômetros de distância.

  Alugo o ouvido de até às cinco da tarde para mim (quatro da manhã no Brasil), quando ela precisa ir dormir e eu preciso ir me arrumar porque as seis tenho um jantar com um cara que estou saindo.
  A Austrália é um dos países mais diversificados culturalmente do mundo. É mais fácil encontrar australiano filho de europeu/sul americano/norte americano/muçulmano/asiático do que australianos filhos de australianos de fato. Portanto, meu affair do momento é uma mistura de grego com italiano, nascido e criado em Sydney. E talvez ele até fosse bastante interessante e uma grande história para contar se as coisas não estivessem indo rápido demais.
  Não me entenda mal: eu gosto de atenção quase como toda garota de 22 anos gosta. Eu adoraria um passaporte australiano tanto quanto qualquer outra brasileira apaixonada por este país lindo gostaria. Mas se teve uma coisa que aprendi no meu primeiro mês fora de casa conhecendo gringos e entendendo que eles são simplesmente gente como a gente é que nada disso adianta se a química não acontece. Naquele dia, a  pouca química  que existia acabou de ir para o ralo quando chegamos ao restaurante e, sentados à mesa que ocuparíamos, estavam o pai e a irmã dele - os únicos familiares que ele tinha.
  - Quem são essas pessoas, John? - pergunto gaguejando não porque meu inglês é tão limitado que não consigo formular essa frase com segurança, mas porque não posso acreditar que ele trouxe a família inteira SEM me avisar primeiro.
  - Grande passo pra gente: hoje você vai conhecer minha família.
  Três dias depois disso, terminamos por mensagem de texto mesmo porque passei os três dias evitando-o e ele me atirou um monte de acusações através do Whatsapp - que eu estava tratando-o como se ele fosse lixo e ele não merecia isso e blábláblá.
  Um mês de Austrália e já deixei de ser a boba que é enrolada e me tornado a bitch heartbreaker (vadia arrasa-corações). Coisas que acontecem num intercâmbio.

Três

  Dezembro, 2015.

  - Não acredito que você ainda vai estar viajando no Natal! - reclamo com , um dos meus colegas de apartamento, meu segundo favorito, no caso.
  Já estou morando na Austrália há quatro meses, então a saudade é minha maior reclamação agora. Sinto falta da nossa comida, mas já conheço alguns refúgios felizes para me alimentar na cidade - restaurantes brasileiros são, aliás, muito queridos e super frequentados por aqui. Divido um apê super legal e bem localizado com quatro caras lindos e fofos - nossos amigos se referem a nossa pequena “família” como “ e seus quatro maridos”. Por isso, passar o Natal sem será uma missão difícil.
  Quer saber outra verdade que o intercâmbio te ensina? Os amigos são mesmo os irmãos que seu coração escolhe. E bom, meu amor pelos meus amigos que moram comigo é um tipo de amor que eu ainda não havia experenciado por ninguém. Você conhece as pessoas de uma forma diferente - de uma forma que te mostra defeitos e qualidades pontuais que sem essa convivência você não teria descoberto. E você as ama por essas qualidades e defeitos também. Você aprende que suas necessidades são tão importantes quanto as delas. Você se preocupa de forma genuína com essas pessoas que não saíram do mesmo útero que você saiu, mas que você descobre que se tivessem seu sangue talvez não se parecessem tanto contigo - talvez você nem amasse tanto quanto você as ama. E você mata e morre por seres humanos que conhece há poucos meses, mas parece que fazem parte da sua vida desde que você veio ao mundo.
  , , e mudaram minha vida. Gosto de pensar que nós resgatamos uns aos outros todos os dias. Damos colo e carinho uns aos outros, dividimos experiências, nos ajudamos financeiramente, emocionalmente, psicologicamente, academicamente… Somos próximos de uma forma que até completamos as frases um do outro e meio olhar basta pra entendermos o que está se passando na mente da outra pessoa. Eu sou a rainha do lar, como a única garota presente…  Então posso dizer definitivamente que agora sim eu me sinto em casa.

Quatro

  Fevereiro, 2016.

  - Mike, eu já te disse que já deu. Você é lindo sim, mas isso não quer dizer que o mundo gira ao redor do seu umbigo. Vê se cresce e aprende isso logo - falo pelo telefone com Michael, um dos caras mais gatos e mais egocêntricos que já conheci na vida.
  Aparentemente, brasileiras são adoradas por outras nacionalidades (fica a dica, meninas!). Não me surpreende mais ver tantas moças “Brs” casadas com gringos de todos os cantos por aqui. Você diz que é brasileira e já fica automaticamente mais linda e gostosa por isso. Mike encontrou em mim a pessoa que sabe lidar do jeito certo com seu jeito egoísta e convencido. Minha paciência para o sexo masculino reduziu para um décimo do que era antes quando cheguei em Sydney - simplesmente porque a fila anda e essa teoria se tornou o fato na minha vida.
  - Por que tão agressiva? - ele pergunta com a maior cara de pau do mundo.
  - Eu não sou agressiva, eu te falo a verdade. Eu já te disse que se você quiser sair como gente, eu posso até pensar no seu caso. Suas maluquices, como me ligar agora as duas da manhã esperando que eu abra a porta da minha casa pra você?! Isso nem pensar! Agora pare de me atrapalhar a dormir e vá atormentar outra pessoa. Boa noite. - desligo sem esperar que ele me responda e coloco meu celular no modo avião porque não quero mais ser perturbada. Amanhã é o primeiro dia da Oweek (Semana de Orientação da Universidade de Sydney, onde estou estudando) e não quero passar o dia todo pregada.
  Percebi nos últimos quase seis meses que eu não cresci apenas em termos de cuidar de mim mesma porque não tenho a possibilidade de me esconder atrás da minha familia quando tudo der errado e tudo mais. Percebi que aprendi a não deixar que os outros me magoem ou me desrespeitem, e isso inclui pequenas coisas em relacionamentos também - como as tentativas oportunistas de Mike de entrar nas minhas calças como se tudo que eu tivesse a oferecer são minhas genitálias. Claro que eu sei jogar esse jogo - a gente aprende com a vida, afinal. Mas você tem que saber a hora de parar. 

Cinco

  Fevereiro, 2016.

  - A Universidade de Sydney possui mais de duzentas sociedades. Junte-se a uma delas, faça amigos, descubra novas coisas sobre os seus interesses e aproveite a vida universitária… - um aluno repete como um papagaio distribuindo bolsas com a programação da Oweek e outras tralhas de brinde dentro.
  O dia está lindo. Há stands de sociedades por todos os lados, assim como de patrocinadores - bancos, empresas de telefonia, lojas, casas de eventos… Ganhamos de tudo, inclusive comida e doces, enquanto paramos para conversar com os representantes das diversas sociedades - existe sociedade pra tudo, de fotografia, medicina, direito, esportes à filmes infantis e chocolate.  Aderi às sociedades de estudantes latino-americanos e empreendendorismo juvenil - eles tinham propostas boas sobre direitos das mulheres e coisas do tipo, então fiquei interessada.
  - Quer se registrar pra nossa sociedade também? - ele me pergunta com aqueles olhos azuis incríveis que me deixam desconcertada automaticamente. Estou paradona ao lado de enquanto ele coloca seus dados na ficha de inscrição para a sociedade de motos e snowboarding. , um dos meus “maridos”, tem uma moto, então faz sentido ele se interessar. Sempre achei a ideia interessante porque meu pai e meu irmão adoram, mas não sei nem andar de bicicleta, então não é de fato a minha praia.
  - Não, não, eu só estou acompanhando ele. - sorri para o cara alto e bonito com um sotaque britânico surpreendentemente fácil de entender.
  - Bom, se o seu namorado está se inscrevendo talvez fosse uma boa ideia você participar também, não acha?
  - Ele não é meu namorado e não sei pilotar nem uma bicicleta, então vai ficar pra próxima. - respondo com uma risada.
  - Alguém deveria te ensinar, poxa. - o louro comenta.
  - Quem sabe um dia? - dou de ombros.
  - Amiga, eles estão dando óculos escuros de brinde! - grita me puxando pela mão na direção stand da Chilli Beans. - Quem era o gostoso te dando mole, hein? Eu não atrapalhei nada, ne? - meu melhor amigo pergunta enquanto corremos para tentar descolar os tais óculos.
  - Não sei, não perguntei o nome dele. E não, você não atrapalhou nada não, migo. - rio.
  Vejo o “gostoso me dando mole” os outros dois dias que vou a Oweek com meus amigos, mas não conversamos de novo, e não é como se eu estivesse pensando nisso. Ainda não sei o que fazer com Jack - um cara que estou ficando há alguns meses, que me levou pra sair no dia dos namorados me confundindo totalmente sobre suas intenções porque se comportava a maior parte do tempo como se eu fosse apenas sua booty call -, e eu estou surtando tanto com as aulas que estão para começar que pensar em me complicar mais ainda imaginando os babies com outra pessoa não é minha ambição neste momento.
  E foi daí que aprendi outra lição com o intercâmbio: algumas pessoas simplesmente tem que entrar na sua vida.

Seis

  Fevereiro, 2016.

  - Eu ainda não acredito que a gente simplesmente deu match no Tinder. - eu ri e assoprei meu chocolate quente. Estou agora diante do “gostoso da Oweek”, em um dos cafés da UniSydney, almoçando (porque almoço na minha vida agora é um sanduíche, um pedaço de pizza, um chocolate quente ou qualquer outra coisa rápida de se comer; saudades arroz e feijão).
  - Você foi simplesmente cruel comigo na Oweek. Não recebi nem um “até logo” como despedida. - dramatiza.
  - Cotadinho. - sorrio. - disse “óculos escuros de brinde”. Como eu poderia resistir a essas palavras mágicas?
  Aquela conversa dura mais três horas, passa por assuntos que incluem desde minha vida em Belo Horizonte  (onde estudo) e Sete Lagoas (onde minha família mora e onde nasci) no Brasil até a vida dele em Plymouth, na Inglaterra, e em Sydney pelos últimos quatro anos (ele está no terceiro ano de Engenharia Mecânica na UniSydney) e o que pensávamos sobre tamanhos de pênis, peitos grandes e número de parceiros sexuais - ninguém cita valores específicos, o que já faz com que ele cresça mais ainda no meu conceito por não ter perguntado sobre o meu número. É fácil conversar com . Eu não me preocupo em não soar uma vadia cruel, em ser politicamente correta, em bancar a santa puritana. Eu simplesmente sou eu e ele parece ser simplesmente ele também, e isso não apenas basta como também faz com que eu me sinta extremamente feliz e à vontade.
  - Não acredito que você nunca viu neve! - ele diz surpreso me acompanhando até o ponto de ônibus.
  - Nunca vi! O frio mais intenso que já encarei foram oito graus aqui mesmo em Sydney. No Brasil neva no sul, em alguns lugares, mas eu nunca viajei muito.
  - Bom, eu vou fazer snowboarding no inverno aqui e você esta convidada se quiser. - ele diz casualmente.
  Sorrio para sem saber exatamente o que responder.
  - Ok, isso soou como alguém super carente que já está fazendo planos para o futuro, não soou? - ele ri. - Não foi o que eu quis dizer. - emenda.
  - Tarde demais, . Já estou imaginando nossos oito babies lourinhos. - brinco.
  - Caramba, acho que isso não vai dar certo. Eu quero ter nove. - ele diz falsamente desapontado.
  Meu ônibus já está parado no sinal, a poucos metros da parada onde estou esperando por ele, então o que me resta é me despedir daquele cara incrível que eu ainda nem imaginava o tanto que mexeria com as minhas estruturas dali em diante. 
  - Foi muito legal te conhecer de verdade hoje.
  - Igualmente, . - ele diz e me dá um beijo de leve no rosto antes de falarmos um “a gente se vê” e eu partir para casa.

  Uma das melhores coisas em é que ele não me sufoca depois disso, mas também não me dá a chance de questionar se ele também está interessado em mim. De alguma forma, nós simplesmente encaixamos. Percebo isso de novo quando, mais tarde no mesmo dia, ele me chama para saírmos no fim de semana. Tenho certeza quando saímos de fato no sábado, nos beijamos, conversamos, rimos e mal chego em casa e já estamos trocando mensagens planejando nos encontrarmos  novamente no dia seguinte.
  Assim, sem que eu perceba, minha vida de intercambista me ensina outra coisa: a pessoa certa simplesmente se encaixa pra você. Não existe complicação, drama, mistério ou sofrimento. Quando o cara gosta de você de verdade, você sabe. Quando você o empolga e ele te empolga da mesma forma, a sensação que você tem é de que a coisa foi feita pra você, de que você está pronta, de que aquilo é o certo - não importa se vai acabar quando você voltar pro seu país em Dezembro. Você não precisa se forçar a sentir química - ela apenas existe. foi o príncipe que eu não acreditava que existia apenas pelo fato de ele ser real, de não ser perfeito, de me “resgatar” de uma forma que eu não imaginava que eu precisava de fato - eu sempre me convenci tanto de que sozinha me basto que eu não me permitia admitir que eu precisava de alguém pra me mostrar que existe um cara que se encaixa pra minha pessoa, e não há nenhum crime nisso. Uma pessoa que faz com que eu me sinta transbordar porque completa eu já sou. Se ele vai estar comigo pra sempre? Eu não sei. Mas eu sei que “alguns infinitos são maiores que outros”. E mesmo que meu felizes para sempre só seja por alguns meses, que a realidade despenque sobre mim de uma forma que eu não estou preparada quando eu chegar em casa e tiver que viver toda a minha realidade com frustrações enormes de novo, que eu ainda saiba dar valor às pequenas coisas que eu aprendi que são fundamentais para mim quando vim para cá, para o outro lado do mundo, viver esse conto de fadas maluco e maravilhoso.

Epílogo

  Abril, 2016.

  Uma amiga uma vez me disse que o intercâmbio seria para mim uma experiência única. “Once in a life time”, ela disse.  Te muda de uma forma que você nunca imaginou antes que poderia ser mudada. Te ensina coisas que você não conseguiria aprender de outro jeito. E bom, com certeza esse aprendizado permanecerá comigo quando eu entrar naquele avião de novo e enfrentar mais 30 horas e quatro voos para chegar em casa. De todas as incertezas que eu tenho, uma coisa é certa: a que saiu do Brasil não é a mesma que voltará pra lá.
  É lindo estar fora, se empolgar com tanta gente diferente e interessante, conhecer lugares novos, provar outras culturas. Mas a essência do intercâmbio são essas lições e essas mudanças que ele nos provoca.



Comentários da autora


Dear leitoras,

Esta fanfic é um resumo do que eu já vivi no meu intercâmbio até hoje. Tudo o que vocês leram aqui são fatos verdadeiros, sentimentos verdadeiros, lições verdadeiras (inclusive as datas). Minha amiga Marcella sempre diz que minha vida tem parecido uma fanfic - Mah, agora ela de fato é. haha Eu poderia ter focado em algum dos romances loucos que eu tive ou mesmo ter explorado mais sobre meu namoro agora - sou tão romântica quanto vocês e adoro essas coisas. Mas achei mais verdadeiro falar um pouco de como essa experiência é muito mais do que ir pra um país bacana e se divertir com uns gringos.
Espero que vocês gostem, e se gostarem, comentem!
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Beijos no core! <3