My Best Crush Friend
Escrito por Gaby Pingituro | Revisada por Isabelle Castro
Eu olhava para o relógio, observava os ponteiros e esperava que, de alguma forma bizarra, a força da minha mente os fizessem se mover mais rápido. Eu não aguentava mais ficar sentada naquela cadeira fingindo que prestava atenção em alguma coisa. Não adiantava quantas vezes eu tentasse, filosofia não entrava na minha cabeça, e provavelmente nunca entraria. Por alguma razão eu achava – e tinha quase certeza – que só gente maluca virava filósofo, porque só gente maluca questionaria tanto a vida a ponto de fazer disso um tipo de profissão. Qual é? Vai me dizer que o um cara com nome de Francis Bacon é normal? Eu aposto que não.
Infelizmente, não muito tempo depois, percebi que telecinese não era comigo, pois ficar encarando um ponto fixo por minutos não estava mudando nada na minha vida, só estava fazendo com que eu pensasse em coisas aleatórias, como a vez em que fiquei observando descaradamente com algumas amigas um grupo de caras muito gatos e gostosos jogar basquete muito bem...
- ... o que me diz, srta. ? – Imediatamente voltei do meu devaneio e notei que a classe inteira me olhava. Principalmente a professora que parecia aguardar uma resposta com expectativa.
Mas resposta para quê?
- Er, hm ... – Pigarreei e forcei minha mente a trabalhar. Eu não fazia ideia do que estavam falando, o que eu diria?
- Não temos o dia todo, . – Insistiu a professora outra vez.
Droga.
Sinceramente eu já estava a ponto de responder o clássico “só sei que nada sei” e dar o fora dali de uma vez por todas, mas, graças a Deus, não precisei me dar ao trabalho. O sinal bateu antes mesmo que eu abrisse a boca.
Não consegui esconder o sorriso presunçoso que ocupou meu rosto imediatamente.
- Opa, olha só que pena! Vamos ter que deixar esse papo para outro dia, professora. – Dei de ombros como quem não liga e levantei depressa. Ela não parecia nem um pouco feliz. – Até mais!
- Salva pelo gongo. – Jennifer, uma amiga, murmurou soltando risos baixos antes de se juntar aos demais alunos para fora daquele inferno, vulgo, sala de aula.
Saí de cabeça baixa e evitei encarar a professora para receber seus olhares homicidas direcionados a mim. Não precisava disso agora.
Andei o mais rápido que pude diretamente para o portão tentando inutilmente me livrar daquele amontoado de pessoas mal educadas que não conseguiam caminhar sem arrancar um pedaço dos corpos das outras. Sabe aquela lei de Newton que diz que dois corpos não ocupam o mesmo espaço ao mesmo tempo? Pois bem, ela não se aplicava aqui. Eu acreditava que quem sobrevivesse a esses cinco minutos cruciais, poderia sobreviver a qualquer coisa.
Alguns segundos mais tarde, depois de ser atropelada por gente que nem nunca tinha visto na vida, eu já podia caminhar descentemente sem me preocupar em pisar no pé de alguém.
- Olha ela aí! – , meu melhor amigo, barra, pseudo peguete nas horas de carência, abriu um sorriso de canto assim que me viu. Não pude evitar fazer o mesmo.
Ele estava escorado em uma árvore poucos metros a frente da saída do colégio, segurando um cigarro entre os dedos, passando aquele olhar arrogante que por algum motivo atraia todos os tipos de garota para ele como se ele fosse o mel e elas as abelhas. Seria engraçado se não fosse triste. Triste pra mim, claro. Ele adorava ser requisitado. Aliás, quem não gostaria de ser o crush de alguém, né? Pois é.
- Já está fumando? – Ele me respondeu com uma careta. – Já te disse que um dia você ainda vai ter câncer de pulmão e eu não vou chorar, vou dizer que te avisei.
- Sempre dramática. – Debochou rindo e dando outra tragada naquele negócio ridículo.
- Não reclame, eu sei que você adora! – Mostrei a língua num gesto infantil enquanto passou um braço sobre meu ombro.
- Aham, se você diz... – E beijou minha bochecha.
Ah, aquelas malditas borboletas no estômago... Eu as odiava profundamente!
Nós tínhamos uma relação complicada, por assim dizer. Há quase dois anos, quando nos beijamos pela primeira vez dentro do cinema, decidimos que aquilo tinha sido muito bom e que deveríamos repetir mais vezes. Nada de compromisso, só dar uns pegas quando desse na telha. Tínhamos levado nossa amizade a um nível diferente, e, desde então nos tornamos amigos com benefícios.
Acontece que de um tempo para cá, mais precisamente há vários meses atrás, depois que vi treinando braços e abdômen no quintal de sua casa e me desequilibrei toda da bicicleta dando com a cara no chão, as coisas pararam de funcionar assim tão bem para mim. Foi como se algo acendesse dentro de mim e dissesse “hey, olha lá que obra de arte! Para de dar sopa e pega ele todo pra você, sua tapada.”, e então ele passou de melhor amigo colorido para crush secreto que provavelmente nunca pensaria o mesmo sobre mim.
Sim, era clichê, mas eu não pude evitar de gostar do meu melhor amigo. Seria lindo se não fosse trágico. E eu me sentia péssima por isso.
Andamos em silêncio até o estacionamento do colégio. Geralmente eu pegava carona com ele, odiava voltar de ônibus para casa, a pé, ou ainda pior, de bicicleta. Depois do incidente no quintal de , eu evitava esse meio de transporte. E além do mais, era um longo caminho que eu tinha que percorrer sozinha sem um pingo de ânimo. Então, desde que tinha comprado seu conversível preto e havia se oferecido para ser meu motorista particular, não exatamente nessas palavras, não pude recusar, eu tinha aceitado a oferta na hora. Não sou idiota.
Já dentro do carro meu celular começou a apitar loucamente e incessantemente indicando que eu havia recebido várias novas mensagens. Que seja da operadora oferecendo algum plano, por favor, que não seja algum outro garoto idiota no meu pé, pedi internamente de olhos fechados. Encheção de saco era tudo o que eu não precisava agora. Peguei o celular rapidamente e abri a mensagem. Inconscientemente soltei um suspiro de alivio ao constatar que as tais mensagens eram da operadora. Estava tão cansada de sair com caras idiotas. Eu não precisava de garotos na minha vida, e sim de um homem! Não era assim tão difícil, qual a dificuldade deles de entender algo tão simples?
De qualquer forma eu não tinha que me preocupar com isso agora, nem hoje.
segurou o volante depois de colocar a chave no contato e me olhou por um momento. Eu sabia o que ele estava fazendo: me avaliando. E sabia que ele estava fazendo isso porque meu suspiro tinha saído mais alto que o planejado. Por algum motivo esse babaca achava de verdade que com um mísero olhar podia me desvendar completamente e saber tudo o que eu estava pensando ou sentindo.
Talvez ele até acertasse na maioria das vezes, mas ainda assim era muito tapado para não perceber que eu gostava dele.
- Aconteceu algo? – Questionou com os cílios quase se encostando.
- Não. – Menti, assim que me dei conta do que estava pensando.
Ele arrumou os espelhos, colocou o cinto, deu outra tragada no cigarro, soltou a fumaça de um jeito que preciso dizer que foi muito sexy e então voltou-se para mim mais uma vez, dessa vez intercalando olhares entre o celular e eu. É, ele não tinha caído na minha resposta.
- Algum encontro interessante hoje? – Perguntou com um tom sugestivo. Eu o encarei com o cenho franzido por pouco mais de um segundo.
- Por quê? Está interessado? – As perguntas simplesmente pularam para fora da minha boca mais rápido do que pude prever.
Ele me olhou e sorriu.
- Preciso dar uma opinião sobre o cara e cumprir com meu papel de melhor amigo, . – Respondeu como se fosse óbvio e eu quase bufei em sua frente. Não era isso que eu desejava ouvir. – Agora pode responder minha pergunta?
Revirei os olhos.
- Sem encontros por hoje.
- Ué, por que não vai sair à procura do seu par para baile hoje?
Porque quem eu quero que vá ao baile comigo está aqui na minha frente, cabeção.
- Porque o encontro de ontem já foi terrível o suficiente, então a procura pelo meu par pode esperar mais um pouco. Preciso de tempo para me recuperar dos traumas causados.
- Você deve estar exagerando, . Te conheço! – Me acusou quando jogou o que restava do seu cigarro para fora do carro, me olhando de cima a baixo em seguida. Por que tão sexy?
- Tanto faz, mas hoje não vou sair com ninguém. Pretendo ficar mofando em casa até o mundo acabar. – Falei séria e ele acabou rindo da minha cara.
- Não sairia nem comigo?
Com você eu sairia até do planeta.
- Você é exceção. – Dei de ombros tentando soar indiferente. Se funcionou eu não sei, fiquei distraída com seu sorriso enquanto ele ligava o carro e dava a partida.
- Beleza, vamos sair. – Aparentemente decidiu por nós dois. – Está com fome?
- Sempre.
- Então vamos comer alguma coisa, gatinha.
Se esse encontro fosse em outras circunstâncias, eu estaria pulando de felicidade. Infelizmente eu era só a melhor amiga que ele estava levando para almoçar em um dia livre. Eu ainda tinha esperanças de que esse quadro mudasse algum dia, mas enquanto isso não acontecia... Bom, pelo menos eu poderia aproveitar a comida.
- E então, gatinha. Vai me explicar o que não deu certo no encontro de ontem?
Estávamos em uma lanchonete qualquer perto da minha casa, comendo hambúrguer, batata frita e um ótimo milk-shake de acompanhamento quando achou interessante tocar nesse assunto mais uma vez. Ele estava sentado ao meu lado naqueles acentos típicos de lanchonetes que mais pareciam um sofá e se virou parcialmente em minha direção.
Fiz uma careta antes de soltar o canudo do milk shake.
- O cara era nojento.
- Mas ele tinha um carro muito foda, enorme!
- Não justifica o fato dele ficar coçando o saco enquanto comia. – jogou a cabeça para trás enquanto gargalhava.
- Detalhes, . – Deu uma mordida no hambúrguer e por um segundo eu revivi a cena do dia anterior. Credo!
- Não, sério. O carro dele era maravilhoso, mas isso não significa que ele poderia me deixar louca por ele. – Respondi balançando a cabeça comendo algumas batatas. – Principalmente depois ter visto o que vi.
Uma pausa para que desfrutássemos daquele lanche gordurento e maravilhoso foi feito por uns dois minutos antes de continuar:
- Mas e os outros caras? – Sério que ele queria mesmo falar de garotos comigo?
Por um segundo muito longo passou-se pela minha cabeça responder para ele algo como “não preciso de outros quando tenho você”, mas então me dei conta de que dizer isso seria como assinar meu atestado de óbito, pois provavelmente teria um enfarte quando terminasse de falar, por isso resolvi apagar esse pensamento e só responder o básico:
- Nah.
pareceu desacreditado.
- Mas e o Jeff? Não deu em nada?
- Muito ciumento. – Neguei imediatamente. – Primeiro encontro e ele já ficava implicando com os outros caras... Não duraria muito tempo.
- Elliot? – Arqueou uma sobrancelha, curioso. – Ele é cheio da grana, você sabe.
- Sei, mas ele não pode me comprar ou comprar o meu amor.
- Robert?
- Muito nerd.
- Michael?
- Muito alto!
- Meu Deus, você é muito difícil. – riu divertido, mas sinceramente eu não via diversão naquilo. Eu estava encalhada!
- Não sou difícil. Eles só não fazem meu tipo. – Tentei me defender.
Dei uma ou duas mordidas no hambúrguer e tentei pensar em outra coisa que não fossem garotos. Eles estavam me deixando completamente frustrada ultimamente.
De súbito vi se virar completamente para mim:
- Então me diga, qual é o seu tipo, ? – Quase engasguei com a comida. Que tipo de pergunta era essa? Ele era o meu tipo perfeito, o cara com quem eu sonhava.
- Ah... – Olhei para algum canto qualquer. – Os que não tentam ser muito românticos ou que tentam me fazer ser romântica. Eu não sou assim.
gargalhou ainda me olhando, aquele meio sorriso crescendo em seus lábios, me deixando toda boba.
- Gosta de pegada, né?
- Claro que gosto! – Da sua principalmente, acrescentei mentalmente. – Até parece que não me conhece.
- Claro que te conheço. – Franziu o cenho rindo. – É por isso que sei que você gosta de caras bad boy. Quer alguém que te desafie.
- É exatamente isso que eu quero. – Sorri para ele e ele para mim.
Obviamente não notou o tom implícito em minhas palavras. Estava mais concentrado no que restava de suas batatas para prestar um pouquinho mais de atenção em todos os olhares cheios de significados e segundas intenções que eu lançava a ele.
Soltei um suspiro, chamando, não intencionalmente, a atenção dele de novo.
Quando percebeu meu gesto cansado ou até frustrado como há pouco eu tinha pensado, automaticamente tratou de me avaliar por completo de novo. Dessa vez parecia ainda mais interessado apoiando um dos cotovelos na ponta da mesa e o queijo por cima de sua mão enquanto me olhava.
- Que foi, gatinha? – Perguntou por fim com os olhos fixos e parei de fazer tudo o que estava fazendo há um segundo, inclusive comer. E pensar também.
- Bem que você podia me salvar dessa, né? – Eu o olhei seriamente.
- Dessa o quê?
- Dessa situação – Disse por fim largando o corpo sobre o acento. – Eu não sei mais o que fazer, . Não quero ir sozinha! Vai ser ridículo.
Só sabia como ir ao baile era importante para mim. Desde criança eu fantasiava esse dia, imaginava o salão cheio de gente, eu usando o vestido perfeito dançado com o par perfeito. E agora que tinha a oportunidade de finalmente realizar esse sonho bobinho de criança eu acabava ficando sem alguém para ir. Sozinha! Se ainda alguma amiga estivesse sem par nós poderíamos ir juntas. Obviamente não seria a mesma coisa, mas eu ainda estaria no baile e estaria feliz por estar me divertindo com alguma delas. Mas ao contrário de mim todas elas já tinham acompanhante. Menos eu. Tudo isso porque eu tentava inutilmente encontrar as características do nos caras com quem eu saia ao invés de simplesmente pedir para que ele fosse comigo de uma vez.
Eu era uma boba.
Tudo seria muito mais fácil se eu simplesmente aceitasse ir ao baile com alguma outra pessoa. Joguei a cabeça para trás e coloquei minhas mãos sobre meu rosto.
- , se você quiser eu posso passar o número de um amigo meu pra você. – Eu não preciso de outros números quando você é meu número um, reclamei internamente.
Pensei por um momento. Do que adiantaria eu negar sua oferta de ajuda quando eu na verdade já não tinha muito que escolher?
- Tá, pode ser - Disse de uma vez. Ele pareceu surpreso com minha resposta.
- Sério?
- Sim. – Dei de ombros. – Melhor que nada.
gargalhou e balançou a cabeça para os lados. Essa última parte não era para ter sido dita em voz alta, mas meu amigo não pareceu se importar nem um pouco com meu comentário.
- Tudo bem, . Vou te ajudar a encontrar um par, não vou deixar você ir sozinha. – Ele piscou um dos olhos para mim e ao mesmo tempo em que meu coração acelerava um pouco, eu tentava acreditar nas palavras dele.
Bati a porta do quarto com força, descontando toda minha frustração dos últimos quinze dias em cima daquele pedaço de madeira. E ainda assim tinha sido pouco! Joguei a mochila longe, logo me jogando também sobre a cama e enterrei minha cabeça por entre as almofadas espalhadas nela, deixando que meu grito fosse abafado por elas. Será que não existia nenhum cara suficientemente legal nessa cidade que estivesse disposto a me levar para o baile? Caramba eu não sou tão péssima assim!
Mas eu sabia que o problema em si não era eu. Era mais que isso, eu estava de verdade, apaixonada pelo púnico cara que eu não poderia ver dessa forma.
Droga, ! O que você tem que os outros não conseguem nem de perto me oferecer? Essa tinha sido a pergunta mais frequente nos últimos dias. Eu tinha a resposta dela, claro que tinha! Mas não queria ser mais uma daquelas garotas de filmes americanos que não tem o amor correspondido. Me recusava admitir isso! Mas se o que sentia por mim era algo próximo do amor, então nenhum outro cara poderia me amar da maneira que ele fazia isso.
- Você é uma idiota, . – Murmurei para mim mesma, abraçando um travesseiro. Em pensar que eu ainda tinha um encontro.
Ultima chance? Talvez. Não importava.
Contrariada a ponto de desistir, troquei minha calça por uma saia jeans, o tênis por uma sapatilha, passei um batom qualquer e um pouco de rímel, só para não aparecer de cara lavada, e saí com uma bolsa pendurada sobre ombro. A caminhada da minha casa até a Starbucks não era demorada. E mesmo eu não gostando nem um pouco de andar sozinha por aí, eu esperava que esse tempo me permitisse espairecer um pouco.
Não muito tempo de caminhada depois, avistei Jake me esperando pacientemente na entrada da loja. Assim que me viu há alguns metros de distância veio imediatamente em minha direção, cumprimentando-me com um abraço meio sem jeito e um sorriso no rosto. Sorri educada.
- Vamos entrar? – Ele concordou algumas vezes com a cabeça e me acompanhou para dentro do estabelecimento.
Jake era ótimo, eu tinha que admitir. Atencioso, divertido. Fez questão de pagar meu café e ainda puxou a cadeira para que eu me sentasse. Conversou sobre tudo um pouco e nunca deixou aquele silêncio desconfortável tomar conta do ambiente. Preciso dizer que ele estava agindo como um verdadeiro cavalheiro. Tinha um sorriso sincero e olhos lindos, era alto, mas não tão alto assim e seu cabelo jogado para o lado o deixavam ainda mais atraente. Mas quando ele colocou sua mão por cima da minha no meio de uma frase e outra, ou quando me elogiou por várias vezes, eu não senti nada. Nem uma tremidinha na base.
Será que eu estava quebrada ou alguma coisa assim?
Já ao final da tarde quando nos despedimos, não deixei que ele me levasse para casa. Jake era ótimo, claro que era! Mas não podia permitir que ele confundisse as coisas, eu não poderia iludi-lo. Não da mesma forma que eu conseguia me iludir todos os dias quando conversava com e criava hipóteses bobas e ridículas sobre nós dois.
Passei as próximas horas deitada na minha cama totalmente perdida, imersa em pensamentos. Esses que não se modificavam nem um pouco, apenas continuavam rondando minha cabeça como se me lembrassem que nada do que eu fizesse agora resolveria meu problema. O baile era depois de amanhã, e como eu temia, iria sozinha.
E assim como todas as noites anteriores, nessa eu também iria dormir triste por toda a situação.
A tela do meu celular acendeu e ele vibrou em seguida, indicando que eu havia uma nova mensagem. Quando eu a li, não fiquei feliz da maneira que eu costumava ou deveria ficar. parecia ter o timing perfeito de quando me encher a paciência. Justo agora que eu queria ficar quieta me deprimindo sozinha, ele resolveu dar o ar da graça.
“E aí, como foi o encontro?” Eu devia imaginar que sua curiosidade falaria mais alto. Estava na cara que ele queria saber sobre eu e o seu suposto amigo.
Primeiro eu revirei os olhos, depois bufei irritada e por fim respondi seu SMS:
“Nah.”
Alguns minutos se passaram até que ele respondesse algo:
“Sério? Mas por quê, gatinha? Dá uma chance para o cara e vai com ele para o baile.” Se eu não estivesse tão mal humorada nesse instante teria achado legal seu interesse e vontade de que algo desse certo pra mim, mas no memento eu só queria trocar de assunto de uma vez ou então não falar nada mesmo. O que viesse primeiro.
“Noup. Sem chance, ! Talvez você até pense que é só a porcaria de um baile e que não importa muito a pessoa que te acompanha, mas você sabe melhor que ninguém que não é assim que eu penso.” Logo depois de enviar a maldita mensagem percebi que estava descontando minha raiva nele e me arrependi superficialmente de tal ato.
“Desculpa, ! Não queria te deixar brava, gatinha.” Soltei um suspiro e quase desisti de responder.
“Tudo bem, . Só deixa isso pra lá.” Revirei os olhos mais uma vez e tratei de tirar as sapatilhas que ainda estavam no meu pé e seguir direto para o banheiro tomar um belo banho demorado para acalmar minha alma. Era o que eu precisava agora.
Ainda debaixo da água quente, escutei o celular apitar outras incontáveis vezes, mas decididamente eu precisava me acalmar e não sairia correndo atrás do aparelho molhando o quarto inteiro só para responder uma mensagem que provavelmente me deixaria ainda pior. O deixei tocar quantas vezes quisesse, teria que esperar, ele sobreviveria, eu tinha certeza.
Quando achei que a água já tinha feito o suficiente para mim, desliguei o chuveiro e me enrolei numa toalha, logo em seguida enrolando outra no meu cabelo como uma perfeita preguiçosa. Eu estava sozinha, não tinha problema ficar seminua no meu próprio quarto.
Me sentei na cama e coloquei os pés para cima, puxando meu celular, disposta a colocar o aparelho no silencioso de uma vez. Caramba o que esse garoto queria? Tinham oito mensagens! Pra que isso? A primeira delas era de mais ou menos quarenta minutos atrás. Fiquei momentaneamente surpresa com o tempo que passei embaixo d’água sem mesmo perceber. Deitei minha cabeça nas almofadas para por fim lê-las mais confortavelmente.
Abri a lista de mensagens e comecei a abri-las:
“Você ficou chateada com o que eu disse, né? Não foi a intenção, só queria que você tivesse um par bacana e achei que Jake fosse o cara certo pra essa ocasião.”
“É sério, desculpa.”
“Lexa, tá aí?”
“Na moral, eu já pedi desculpa.”
“Vai mesmo ficar me ignorando?”
“Porra, , para de graça.”
“Não vai me responder?”
“Estou indo pra sua casa então.”
Meus olhos se arregalaram gradativamente após ler a última mensagem, principalmente depois de notar que ela havia sido enviada há mais ou menos vinte minutos. Meu queixo praticamente abriu uma cratera no chão.
Puta merda.
Saltei da cama em meio segundo, arranquei a toalha do meu corpo e tratei de pegar um sutiã e uma calcinha o mais depressa que consegui. Por que mesmo eu não abri as mensagens antes? Ah, sim, porque fiquei irritadinha e decidi ignorar. Parabéns, ! O objetivo de agir como uma tapada foi alcançado com sucesso! Ele morava a menos de quinze minutos daqui de carro. Se eu tivesse sorte ele ainda estaria chegando.
Depois de colocar a calcinha de qualquer jeito fechei o sutiã e fui à busca de uma blusa qualquer.
- , tá ai? – Eu praticamente entrei em pânico quando ouvi sua voz soar do outro lado da porta.
- O que você quer? – Gritei em reposta, as palavras saindo meio atropeladas da minha boca.
- Ah, para de fazer doce, ! – Sua voz parecia mais perto e eu vi a maçaneta se mexer minimamente.
- Não entra aqui, ! Não entra! – Passei na frente de um espelho e arranquei a toalha do cabelo, os penteando com os dedos numa tentativa falha de melhorar minha aparência.
- E por que não? – Dizer que eu estava seminua não era uma opção.
- Porque não, desgraça! – Abri o armário e puxei uma blusa velha, toda manchada de tinta e a coloquei de qualquer jeito me atrapalhando toda com a parte de passar a cabeça por ela.
- Não é possível que você ainda esteja brava comigo! – E ele abriu a porta.
Tinha alguém tentando sacanear com a minha vida, sério!
Primeiro eu soltei um grito fino o fazendo se assustar com minha reação e soltar um grito meio contido. Depois peguei a primeira coisa que vi, um livro do colégio, e taquei em sua direção para logo em seguida esconder minhas pernas desnudas atrás de uma roupa qualquer jogada no encosto da cadeira e desajeitadamente terminar de descer minha blusa pelo meu tronco. Se não fosse pelo reflexo bom de eu teria acertado em cheio seu rostinho bonito.
- Sai daqui! – Gritei parecendo meio desesperada, mas era tudo causado pelo susto.
- Qual o seu problema?! – Com as mãos ainda na frente do seu rosto, como se estivesse se protegendo, olhou para mim com as sobrancelhas franzidas, claramente sem entender muito bem o que estava acontecendo. Mas assim que seus olhos me observaram um pouco mais atentamente, ele ficou meio embasbacado me encarando, vulgo, encarando minhas pernas, por mais segundos do que deveria.
- Você é o meu problema, garoto. – Ralhei tentando, inutilmente, esconder minhas bochechas coradas. - Agora sai daqui e deixa eu terminar de me vestir!
Ele abriu e fechou a boca algumas vezes, mas não demorou mais que três segundos para sair e fechar a porta.
Fechei os olhos e tentei acalmar a minha respiração. Se eu soubesse que haveria a remota hipótese desse babaca acabar vendo minha calcinha, eu não teria escolhido uma cheia de nuvens coloridas com um arco íris bem na bunda. Ah, quer saber? Dane-se tudo.
Vesti uma calça de agasalho preta, calcei um par de meias soquetes e ainda envergonhada pelo mico anterior, fui em direção à porta e a abri de súbito.
estava encostado no batente da porta de cabeça baixa. Quando me viu encarou-me de cima até baixo, provavelmente conferindo se e estava devidamente vestida dessa vez. Voltou a olhar para os próprios pés e pigarreou.
- É seguro entrar agora? – Assenti uma vez e dei passagem para que ele adentrasse meu quarto, dessa vez, sem “surpresas” desastrosas.
Peguei o livro que ainda estava jogado no chão e o coloquei de volta em cima da minha escrivaninha, ao lado do armário. Sinceramente eu estava muito constrangida agora para puxar assunto.
- Er, desculpa ter entrado quando você disse pra não entrar.
- Okay. – Foi minha resposta brilhante.
- É sério, achei que você estava tirando uma com a minha cara ou sei lá.
- Tá tudo bem, . Eu não tinha lido suas mensagens até pouco mais e cinco minutos atrás. – Dei de ombros. Se eu não tivesse gastado toda a minha caixa d’água enquanto estava no banho, teria lido as mensagens antes e não teria pagado mico na frente do meu crush. Mas claro, que com o amor que a vida tinha por mim, não pagar mico estava fora de cogitação.
- Não tinha lido? – Ele franziu a testa fazendo uma expressão ofendida e eu não consegui esconder o riso.
- Não, cabeção. – Revirei os olhos. – Eu estava tomando banho, caso não tenha reparado no meu cabelo molhado. – Apontei para o mesmo antes de virar as costas e me sentar na cama.
- Ah... Eu achei que você estivesse me ignorando de propósito.
É, eu estava, foi o que eu pensei.
- Claro que não. – Foi o que eu respondi.
- Desculpa mais uma vez. – Eu o olhei e soltei um suspiro. parecia tão constrangido quanto eu.
- Esquece isso. – Liguei a TV. – Quem te deixou subir, aliás?
- Sua mãe, quem mais? – Ele sorriu de lado e bagunçou o cabelo.
- Ah, claro. Esqueci que ela te ama. – Torci os lábios em uma careta.
- Isso tudo é ciúmes, ? – Seu sorriso convencido cresceu em seu rosto e eu soltei o ar pela boa com força. – Não precisa disso, gatinha. Eu amo você mais!
Impossível meu coração não disparar com suas palavras. Mesmo que o sentimento não fosse o mesmo que eu sentia por ele, já era algo. E antes que ele notasse alguma mudança no meu comportamento, tratei de responder:
- Ah, vai se lascar, !
Meu amigo gargalhou por alguns longos segundos e então se sentou ao meu lado, tomando o controle remoto da minha mão.
- Vamos ver um filme? – Bom, eu não recusaria de qualquer forma.
- Claro, pode escolher.
Enquanto fuçava o Netflix em busca de algo interessante para assistirmos, abracei uma almofada e me ajeitei na cama, onde fiquei olhando distraidamente para nenhum ponto específico do quarto. Algum filme começou a passar, porém não prestei atenção para descobrir qual era. Me perdi em pensamentos, não sei se por segundos ou minutos, mas só sai do modo pausa quando me cutucou de leve no braço me fazendo sair do meu devaneio repentino e aparentemente sem motivo.
- Que foi? – Juntei as sobrancelhas e o olhei confusa.
- Eu estava falando com você. – Meu amigo riu levemente.
- Ah, desculpa, estava distraída.
Primeiro ele me observou e depois pausou o que estava passando só para voltar a me olhar de novo com ainda mais atenção.
- O que você tem, gatinha?
- Nada. – soltou um suspiro.
- Qual é, . – Ele cruzou os braços. – É sobre o baile, não é?
Assenti fracamente sem olha-lo. Do que adiantaria negar se ele não cairia na desculpa qualquer que eu daria?
- Olha, gatinha, nós podemos dar um jeito nisso, é só...
- Não, ! Não tem como dar um “jeito” nisso, ok? – Caramba, será que ele não podia deixar essa história pra lá e pronto? - Já lidei com garotos suficientes e você ainda não entende que não é nenhum deles que eu quero.
- E quem você quer, ?
Você, seu mané!, gritei mentalmente.
Ele rolou os olhos e me olhou como se estivesse de saco cheio quando viu que eu não responderia sua pergunta. Mordi o lábio inferior e fechei os olhos com força, eu estava começando a ficar irritada mais uma vez.
- Vamos assistir ao filme. – Ele negou prontamente. – Que foi?
- E se eu fosse com você, ?
O olhei desacreditada. Meu coração acelerou, minha barriga formigou, quase deixei que meu queixo caísse e se desprendesse do meu crânio. Só podia ser brincadeira.
- Quê?
- É isso mesmo. Eu posso te acompanhar se quiser. – Senti que o ar faltou em meus pulmões. – Você é minha melhor amiga, te ver assim está me deixando péssimo.
Ah. Ele só se ofereceu para ir ao baile comigo porque eu sou sua suposta melhor amiga. Claro, por que mesmo não percebi isso logo de cara?
- Você já tem par, . – O lembrei séria, quase inexpressiva.
- Sim, tenho – Concordou como se isso não importasse. – Mas não me importo de cancelar com ela para ir com você.
Estudei seu sua face por um instante.
- Por que sou sua melhor amiga. – Afirmei o olhando firmemente ao mesmo tempo em que ele assentia em confirmação. – Eu vou sozinha.
- ...
- Eu vou sozinha, . Esquece, ok?
Tirei o filme da pausa, evitando o silêncio que estava começando a se formar numa tentativa de dar a conversa por encerrada.
Não era assim que eu queria que aquela história acabasse. Não era assim que eu queria me convidando. Não porque ele achava que era sua obrigação como melhor amigo, porque eu estava sem para ou porque estava chateada.
Queria que ele me convidasse porque queria minha companhia, porque não me via apenas como sua amiga, porque queria ter aquele momento comigo e porque eu sempre havia sido uma opção, e não porque estava “sobrando”.
Eu nunca precisei de outros caras quando ele estava comigo. E o que mais doía era saber que ele não pensava assim. O que mais doía era saber que eu era e sempre seria apenas sua melhor amiga, como ele mesmo havia dito. Mas eu estava de mãos atadas. Eu podia dizer a ele tudo o que eu sentia, sim. Mas e o que viria a seguir? Um belo desastre, provavelmente, pois o fora que eu levaria não seria nem um pouco divertido.
Mas eu o queria ao meu lado sempre, todos os dias! Porque eu amava a maneira como ficávamos juntos, como brincávamos e ríamos por tudo, como confiávamos tanto um no outro a ponto de não existir segredos, a ponto de conhecermos um ao outro tão bem que um olhar conseguia dizer e passar mais respostas do que frases inteiras. Eu só não entendia porque eu era a única a me sentir assim.
Mais tarde quando deixou minha casa, depois de vários piadas sem graça, abraços apertados, e, para minha grande surpresa, até alguns beijos roubados, deitei na cama e não escondi nem de mim mesma a tristeza que eu sentia.
Eu queria que todos aqueles carinhos de horas, até minutos antes, tivessem sido reais, significativos não só para mim, mas para ele também. Entretanto eu sabia que essa havia sido sua tentativa de não me deixar chateada. Imaginou que eu estava carente, e, como era de nosso costume, resolveu “ajudar” nesse detalhe. Infelizmente sua ajuda só contribuiu para que eu me sentisse ainda pior.
Eu havia tentado achar outras pessoas, mas já estava óbvio há muito tempo que ninguém tomaria o lugar de . Essa era a verdade, e ninguém fazia ideia disso. Nem mesmo ele.
Passei aquela madrugada pensando no baile e em como o mesmo seria. Se eu devia ou não tomar coragem e finalmente dizer tudo o que eu tinha guardado já há tanto tempo. Analisei os prós e contras até que finalmente algo concreto se formou em minha mente.
Eu já sabia o que fazer.
Tudo parecia estar perfeito.
A noite estava linda, a lua cheia e as estrelas iluminavam o céu, brilhavam intensamente, desimpedidas, pois não tinha uma única nuvem que encobrisse um pedacinho sequer daquela imensidão. O clima também estava ótimo: nem muito quente nem muito frio, estava aquela temperatura amena, com uma leve brisa soprando de tempos em tempos.
Mesmo o baile parecia perfeito. A organização do salão estava incrível! Tudo estava tão bem feito e bem colocado que mal parecia ter sido feito por um bando de estudantes amadores, que raramente eram levados a sério, mas que se mostraram extremamente dedicados. A música animada deixava o ambiente ainda mais convidativo, graças ao DJ que se esforçava para agradar todos os gostos um pouco, alternando os estilos musicais de tempos em tempos.
Até eu estava me sentindo perfeita! Quando me olhei no espelho do banheiro do colégio enquanto retocava meu batom, mal acreditei naquela mágica que havia feito em mim, me sentia incrível. Eu usava o vestido perfeito, a maquiagem perfeita, o penteado perfeito... Só me faltava uma única coisa. E não, dessa vez eu não começaria a recitar uma história triste sobre estar sozinha. Esse papo de “par” já deu o que tinha que dar, nem mesmo eu aguentava mais esse pensamento ridículo e repetitivo. E além do mais, agora já não era mais sobre apenas ter uma noite perfeita. Percebi depois de muito bater na mesma tecla que já não se tratava disso há muito tempo. Se eu queria algo, precisava correr atrás e fazer alguma coisa, e não ficar parada esperando que tudo simplesmente acontecesse por um passe de mágica e uma varinha de condão.
Mas era engraçado como as coisas funcionavam quando você se encorajava a fazer algo.
Quando cheguei ao colégio logo no início do baile, tratei de procurar um lugar não muito distante da entrada justamente para ficar de olhos bem abertos para quando ele chegasse junto com a tal garota. Havia passado a tarde toda criando um discurso e uma abordagem que não o fizesse fugir para as montanhas, ou que me largasse ali e voltasse a dançar com sua acompanhante ou que então o fizesse rir bem na minha cara depois de ouvir tudo o que eu lhe diria. Mas pior que essas opções seria se ele risse na minha cara e depois fugisse para as montanhas com sua acompanhante.
Eu estava ficando cada vez mais paranoica com sua reação e aquele babaca não chegava nunca para que eu pudesse acabar com minha angústia. Todos dançavam e se divertiam enquanto eu revezava entre ficar em uma mesa e beber o ponche batizado com vodka, provavelmente, que os alunos fizeram e me sentar sozinha na arquibancada. Comecei a cogitar se por acaso ele não tinha mudado de ideia sobre aquela noite.
Conforme o tempo passava toda minha coragem se esvaía e ia embora junto dele, se perdendo e levando meu ânimo para o mesmo caminho. O cenário mudou diversas vezes enquanto eu fiquei parada no mesmo lugar esperando da mesma maneira como uma perfeita estátua de cera.
A ponto de desistir de continuar ali por mais tempo em troca de nada, me levantei e passei a mão pela saia do vestido, alisando algumas partes que pareciam estar amassadas, respirando fundo e então seguindo para a saída.
Algumas pessoas me olharam com a testa franzida, talvez se perguntando por que eu estaria indo embora tão cedo, outras ficaram me analisando por completo, e eu esperava que o único motivo para que essas estivessem fazendo isso fosse porque estavam pensando como eu estava linda.
Mas fosse o que fosse que estivessem pensando ao meu respeito, não importava mais. A noite que parecia perfeita agora perdia seu brilho diante de cada passo que eu dava.
Pelo menos foi isso que eu pensei e senti antes de erguer o olhar até a entrada do salão que eu estava prestes a cruzar.
Dei um pequeno passo para trás cuidando para não tropeçar nos saltos e prendi a respiração por um instante, não conseguindo disfarçar minha surpresa em vê-lo ali todo maravilhoso de terno e gravata bem na minha frente. Se eu não tomasse cuidado tinha certeza que meu queixo poderia se desprender da minha face a qualquer momento. Eu nunca o tinha visto tão arrumado e incrível quanto agora.
abriu um sorriso lindo enquanto passava os olhos desde os meus pés até minha cabeça, e caramba, eu me senti incrível por vê-lo me encarar daquela forma. Ele mordeu o lábio inferior e trocou o peso do corpo de pé ainda com os olhos cravados em mim.
- Você está linda, . - Minhas bochechas coraram e abri um sorriso em resposta.
- Você também não está de se jogar fora.
soltou uma risada baixa aceitando a brincadeira quando pareceu perceber o que eu fazia.
- Indo embora tão cedo, gatinha?
- Ah, sabe como é, as coisas estavam meio sem graça aqui. – Aquele sorriso arrogante se formou lentamente em seu rosto.
- Acho que posso mudar isso agora. – Eu o encarei com uma perfeita expressão de deboche. era sempre tão convencido.
Eu já começava a formar alguma frase como resposta quando olhei por cima do seu ombro e não vi ninguém. Ele estava sozinho?
Juntei as sobrancelhas assim que levantei os olhos até ele pronta para mudar o rumo da conversa quando me interrompeu erguendo sua mão em minha direção me surpreendendo completamente:
- Dança comigo?
Quê? Ele pareceu se divertir com minha expressão desentendida.
- Mas e a sua acompanhante? - Ele deu de ombros.
- Isso importa?
Não.
- Sim.
deu um passo à frente até que estivesse cara a cara comigo.
- Não tenho acompanhante.
Oi?
- Como assim? Da última vez que nos vimos e nos falamos você disse que tinha par! – Eu estava sentindo algo perto de indignação, mesmo sabendo que deveria na verdade estar me sentindo feliz com a informação. Percebendo isso ele olhou para os próprios pés, escondendo um sorriso que se formava no canto dos seus lábios.
- É uma longa história, .
- Pode me contar. – Falei sem mudar a expressão que eu carregava praticamente desde o momento em que o vi. – Tenho a noite toda.
levantou a cabeça e estendeu sua mão para mim nova mente antes de dizer com mais convicção:
- Então dança comigo. – Seus olhos encontraram os meus e seu sorriso aumentou até se tornar totalmente irresistível.
Segurei em sua mão e fomos para o meio do salão onde outros casais também dançavam ao som da música lenta.
segurou minha cintura no mesmo instante em que entrelacei meus dedos atrás de seu pescoço para que então ele me conduzir numa espécie de valsa meio desajeitada.
- Não tinha uma história para me contar? – O incentivei a começar a falar.
Ele deu continuidade à suposta dança mesmo quando começou a contar:
- Ela cancelou comigo.
Ah, ótimo. Eu sou apenas a segunda opção.
- Não, você não é minha segunda opção, . – Sorriu divertido, mas revirou os olhos me fitando por um momento.
Eu tinha dito isso em voz alta?
- Não, você não disse nada em voz alta.
O que tá acontecendo?
- Você consegue ler pensamentos, por acaso? – Perguntei quase assustada com esse seu talento secreto de saber o que eu estava pensando tão corretamente.
- Não, . – sorriu. – Só é muito fácil saber o que você está pensando.
Sempre foi.
- O que quer dizer? – Meu coração se acelerou por um instante.
- Quero dizer que eu sempre soube, gatinha. Sempre soube sobre seus sentimentos, só esperava que você os admitisse para mim de uma vez.
Opa, calma lá!
- Do que você está falando, ? Trocou o cigarro de tabaco por um de maconha?
Ele riu e segurou mais firmemente em minha cintura.
- O que eu estou tentando dizer é que quando Maddie cancelou comigo sobre vir ao baile, ela não cancelou porque tinha uma opção melhor, ou porque tinha decidido não vir mais. – Começou a explicar com seu rosto mais próximo ao meu e a voz mais baixa do que antes. – Ela cancelou comigo porque sabia que eu precisava de um empurrão para vir falar com você de uma vez por todas.
- Mas falar sobre o quê? – Eu estava imersa num poço de confusão procurando algo que fizesse sentido naquela conversa. – Eu achei que você nem fosse mais vir ao baile, quanto mais falar algo comigo.
- Isso porque eu tinha passado na sua casa antes de vir pra cá.
- Como é? – soltou uma risada baixa. – Não estou entendendo absolutamente nada do que você está dizendo.
- Eu tinha ido atrás de você.
- Por quê?
Ele soltou um suspiro rápido.
- Presta atenção, ok, gatinha? E não fique brava. – Assenti incerta antes que ele continuasse: – Quando anunciaram o baile semanas atrás, imediatamente pensei em te convidar para vir comigo. Isso porque eu achava que você gostava de mim mais do que como seu amigo, mas quando você começou com aquela história maluca de encontrar o “par ideal”, achei eu estava enganado sobre seus sentimentos, e deixei que você saísse à procura de um cara legal que pudesse vir com você e fazer essa noite perfeita como sempre sonhou.
Ah, não. Palhaçada!
- Mas você só pode estar de brincadeira com a minha cara, ...
- Não, me escuta! – Me interrompeu imediatamente. – Só que então os dias passaram e você começou a ficar cada vez mais frustrada por não “encontrar” alguém. Mas na verdade, você já tinha achado muitos, mas sabia que nenhum deles era suficiente. A essa altura eu já tinha achado outra acompanhante...
- Maddie...
- Sim. E foi ela que abriu meus olhos para tudo isso. – Parei de dançar imediatamente.
Mas quê?
- Não, não me interrompa! – Se apressou em dizer. – Um dia quando eu e ela conversávamos cheguei a comentar sobre sua história de estar procurando alguém que te trouxesse como acompanhante. Na hora Maddie começou a rir, entendendo imediatamente aquilo que eu não pude ver. Maddie me disse que você só estava fazendo aquilo porque eu não havia te convidado.
Aparentemente minha expressão estava muito hilária para ou então ele estava muito nervoso, pois riu por longos segundos antes de tomar ar e continuar a dizer:
- E eu resolvi tirar a prova dos nove. Cada pergunta que te fiz sobre os encontros, a última conversa que tivemos na sua casa, todas elas tinham o objetivo de te fazer dizer alguma coisa, mas quando isso não aconteceu, acabei desistindo e contei a Maddie sobre não conseguir arrancar nada de você.
- Você estava me testando o tempo todo e estava falando de mim para outra garota? – Certo, minha boca se abriu num perfeito “o”. Eu já não sabia mais o que estava sentindo, eram muitas emoções ao mesmo tempo.
- Deixa eu terminar, ! – Eu neguei por um segundo.
- Essa Maddie, ela...
- Ela me falou que se eu prezava pelo o que tinha no meio das pernas, viria atrás de você, porque se eu estava preocupado com o que você sentia por mim, era porque eu sentia o mesmo.
- E você sente? – As palavras saltaram para fora da minha boca e ele ficou paralisado.
Deixei que a música lenta preenchesse o silêncio entre nós por um momento até que ele risse nasaladamente e desse mais um passo em minha direção.
- Sinto o quê, ? – Subiu sua mão pelas minhas costas até minha nuca. - Se eu sinto vontade de conversar com você o tempo todo? Se eu sinto ciúmes todas as vezes que você sai com outros caras? Se eu sinto vontade de passar o dia inteiro ao seu lado? Se eu me sinto frustrado por cada vez que você muda de assunto quando parece que vai ser sincera? Se eu me sinto igual uma mocinha quando estou ao seu lado com o coração batendo rápido e um negócio estranho no estômago? Se eu sinto vontade de ficar te olhando e sorrindo o tempo todo? Se eu sinto vontade de te beijar nesse exato instante? Então sim, eu sinto. Sim para todas essas perguntas.
Se não estivesse segurando em minha cintura, tinha certeza que teria caído, pois minhas pernas estavam bambas. Eu queria dizer alguma coisa, tinha que dizer alguma coisa, mas eu simplesmente não conseguia. Ele estava ali, simplesmente dizendo tudo o que eu havia planejado dizer para ele, me pegando totalmente de surpresa.
- Me desculpe por demorar tanto para perceber que estou apaixonado por você, . Só não queria admitir para mim mesmo enquanto você também não admitisse. – Por que aquilo parecia tão surreal para mim?
- O que te fez mudar de ideia, afinal? – Sua mão acariciou minha bochecha levemente e seus olhos estudaram os meus.
- Uma coisa muito simples, gatinha. – Disse. – Eu notei que não importa como ou em qual circunstância, ninguém poderá te amar da forma que eu posso e vou. Só preciso de uma chance.
E então tudo o que acontecia ao meu redor parou de repente. Inclusive a minha respiração. Ele estava mesmo fazendo exatamente a mesma coisa que eu tinha levado dias planejando internamente!
- Me amar?
- Se for o que você quer e deixar que eu o faça...
- Droga, ! – Resmunguei em meio a um sorriso que teimava em crescer radiante em meu rosto. – Eu tinha planejado mil e uma formas de abrir o jogo com você e dizer praticamente a mesma coisa. Você é um babaca.
riu e beijou minha bochecha.
- Sou um babaca sim, . – Comprimiu o riso para me olhar. – Mas sou um babaca apaixonado por você.
Ficamos os dois sorrindo feito bobos pelo que pareceu ser uma eternidade. Eu desejava que esse momento de alguma forma estivesse sendo gravado, pois eu não gostaria de esquecê-lo nunca. De olhos fechados eu só esperava que ele me beijasse de uma vez e então eu acreditaria que tudo aquilo não era coisa da minha cabeça.
- Estou esperando – Murmurou com seu nariz encostando ao meu.
- Esperando o quê? – Eu estava tão embasbacada que mal conseguia entender suas palavras.
- Estou esperando que você diga o que sente, para eu poder finalmente te beijar.
Ri por um instante e abri os olhos.
- O sorriso gigante na minha cara já não diz tudo? – Ele arqueou uma sobrancelha e eu soube que ele não faria nada até que eu me abrisse. – Eu sinto o mesmo.
- Sente o quê? – Incentivou-me a dizer e eu ri, tomando coragem para finalmente falar o que tanto planejei.
- Sinto meu coração acelerar cada vez que você me olha, sinto as malditas borboletas no estômago cada vez que você me toca, sinto uma vontade inexplicável de te beijar cada vez que você sorri, sinto que amo cada pedacinho de você, até seus defeitos e até mesmo seu hábito horrível de fumar que eu amo e odeio ao mesmo tempo. Sinto que você já faz parte de mim muito antes de me convencer disso. – Fiz uma pausa olhando firmemente para seu sorriso. – Sinto que não importa quantos caras eu encontre, nenhum deles pode me dar o que você me dá, porque nenhum deles tem o que você tem. E eu sou apaixonada por você, agora mais ainda do que nunca.
E então me beijou. Selou nosso lábio com pressa como se tivesse esperado o tempo todo para que eu dissesse de uma vez que era apaixonada por ele em voz alta. Meus lábios entreabertos foram como um convite para que sua língua explorasse cada cantinho da minha boca. Era intenso, calmo, cheio de significado, não só para mim, mas agora eu sabia que para ele também. E eu não podia me sentir mais feliz. Agora sim a noite estava perfeitamente perfeita.
Nós sorrimos entre o beijo ao mesmo tempo antes de nos separarmos apenas o suficiente para nos olharmos mais uma vez.
- Acho que já era aquele nosso lance de amizade colorida. – Por um momento eu fiquei assustada.
- Como assim?
- Qual é, ? Acha mesmo que vou continuar sendo só seu melhor amigo depois disso tudo? - E o sorriso que eu achava que não podia ficar ainda maior se alargou um pouco mais. Acho que agora ele era muito mais do que meu amigo.
- Cala a boca e me beija, . – Meu babaca abriu outro sorriso dessa vez tão imenso quanto o meu:
- Sempre que quiser, .
FIM
Nota da Autora: Hey, pessoal, esse Oneshot foi um desafio proposto pela minha Beta Belle! Espero que tenham gostado da história inspirada na música Love Me Like You das divas do Little Mix e espero ver a opinião de vocês aqui embaixo ambém ; )
E para quem quiser, participe do meu grupo no facebook sobre minha fanfic do One Direction/em andamento Dear Diary.
Beijos e até a próxima! Xx