Murderess

Escrito por Mary Midões | Revisado por Natashia Kitamura

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Parte do Amigo Secreto da Equipe 2014.

UM – A Tortura

  Com muito esforço consegui abri meus olhos, tendo que piscar algumas vezes para que minha visão voltasse ao normal, mas assim que o fiz desejei nunca ter o feito. Minhas roupas estavam com manchas vermelhas enormes, assim como meus braços, e havia uma faca também suja em minhas mãos, com meus dedos em torno de seu cabo. O corpo de estava imóvel ao meu lado e eu tentava me esgueirar até ele, apesar de meu corpo não me obedecer. Com muito esforço, consegui me aproximar de seu corpo, já sem vida, e tomá-lo em meus braços, então tudo fez sentido, as peças do quebra cabeça se encaixaram em minha mente. Pude perceber que todas as manchas, em minhas roupas, braços e na faca, não eram simples manchas vermelhas, eram sangue, sangue dele. Eu havia matado .
  Um desespero tomou conta de mim no mesmo instante. Olhei para mim mesma, para o corpo já sem vida ao meu lado e para a faca ensanguentada, próximo a onde eu estive, sentindo nojo de mim mesma, e tudo que pude fazer foi começar a gritar e me descabelar. Eu não era um monstro, aquilo não podia ser verdade, não mesmo.
  Finalmente reuni forças e consegui sair dali, deixando tudo do jeito que estava. Eu gritava e chorava como louca, enquanto corria pela rua. Quem me visse daquela forma apostaria tudo que eu estava maluca, afinal, não demorou muito para que uma viatura parasse ao meu lado e dois policiais saíssem de dentro dela, me encarando, receosos.
  - O que faz andando sozinha por aqui a essa hora, garota? – um deles, mais alto e forte que o outro, perguntou.
  - Eu matei ele... Sou uma assassina... Eu matei ele... – era tudo que eu pronunciava, baixo demais até para meu tom de voz, enquanto os dois homens tentavam escutar.
  Onde estão seus pais, qual seu nome e mais algumas perguntas foram feitas, enquanto eu repetia a mesma frase de antes.
  - Eu matei ele... sou uma assassina... eu matei ele... – falei mais um vez, mas dessa vez devia ter saído mais alto que antes, pois os dois me encararam surpresos na mesma hora.
  - Matou quem? Onde? Pode nos mostrar onde foi? – o mais baixo se pronunciou e eu apenas concordei com a cabeça, ainda repetindo a frase.
  Sai andando pela rua, totalmente sem noção do que se passava a minha volta e chorando muito, enquanto os dois me seguiam, dentro da viatura.
  - É aqui? – ele perguntou e eu concordei, balançando a cabeça – ele está lá dentro? – concordei novamente. – Stan, fique aqui com ela! Vou entrar e verificar. – ele disse, antes de sacar sua arma, destravá-la e entrar na casa, cautelosamente.
  Não sei quanto tempo ficamos nós dois ali, até porque eu não me importava com esse detalhe, mas logo vi o segundo homem retornar e me olhar diferente.
  - Não há nada ali dentro. – eu não acreditava no que havia acabado de ouvir, tanto que corri para dentro da casa, tendo que verificar com meus próprios.
  Corri o olhar por toda a extensão do cômodo e não encontrei nada, nem mesmo as manchas de sangue de antes. Tudo havia sido uma ilusão?
  - Não, eu vi ele, toquei nele... Não... NÃÃÃÃÃÃÃOOOOOO.

DOIS – Nova Realidade

  Depois daquele dia, foi recomendado que meus pais me encaminhassem ao psiquiatra e, com a minha sanidade mental a milhas de distância, logo me vi em um quarto de paredes, chão e teto acolchoados, com horários até para respirar, praticamente, e quilos de remédios aplicados em certas horas do dia.
  Eu já não era a mesma pessoa, minha mente confusa me fazia ter momentos de altos e baixos, momentos em que eu me via como uma pessoa que apenas teve um pesadelo e outros que o corpo ensanguentado de aparecia em meus braços. Eu tinha “alucinações” – de acordo com os médicos – em que eu via a imagem dele próxima a mim, me encarando como se eu fosse a culpada pelo que tinha acontecido a ele e me dizendo que me queria junto com ele.

TRÊS – A Visita

  - Olá, . Como está? – ouvi uma voz doce soar pelo autofalante do quarto, como era todo santo dia e logo o barulho de travas serem liberadas. – Você possuiu uma visita! – a mesma voz de antes anunciou, aparentemente feliz, e eu me questionei sobre quem seria o corajoso, ou débil mental, que faria tal ato. As portas foram abertas e logo dois enfermeiros caminharam em minha direção, parando cada um de um lado do meu corpo e me levando até o local que eu deveria ir ver a tal visita.
  Chegamos em frente a uma sala com a placa “sala de espera” fixada logo acima do batente. Esperei alguns segundos e logo já estava sentada em uma cadeira de plástico dentro da sala, com uma mesa retangular a minha frente e uma segunda cadeira do outro lado, de frente para mim.
  - Pode entrar – ouvi um dos enfermeiros falar do outro lado da porta e logo ela ser aberta e um homem adentrar a pequena sala.
  - Ora, ora! Quanto tempo, ! Sentiu minha falta? – senti o sarcasmo em sua voz e me contive em revirar os olhos. Eu não era louca, apenas precisava de ajuda para superar meu recente desequilíbrio e estava conseguindo, graças aos remédios e o acompanhamento psicológico, e não iria deixar que esse idiota me afetasse ainda mais.
  - ... – me limitei a falar, assim que ele se sentou em minha frente e começou a me encarar.
  - Quando me disseram sobre isso tudo, não acreditei. Eu sempre soube que você era louca, mas chegar a parar em um sanatório? Por isso eu não esperava.
  - O que quer aqui? – falei, já sem paciência de todo aquele teatro dele.
  - A verdade. Então você matou o ? Que coragem! Achei que ele fosse o amor da sua vida... Me conte tudo, não esconda nada, – ouvir meu apelido sair de sua boca foi pior do que pensei. Meu corpo paralisou e flashes daquela noite começaram a passar diante de meus olhos, de modo que nem me perguntei como ele sabia daquilo.

Eu e estávamos na rua, conversando, como qualquer casal de namorados, enquanto voltávamos para minha casa. Até que ouvimos alguém nos chamar, à distância, e quando viramos para ver quem era nossos corpos foram agarrados por trás e levamos uma coronhada na cabeça, ficando tudo preto logo em seguida. Depois disso, a faca em minha mão e seu corpo ensanguentado em meus braços...

  - NÃÃÃÃÃOOOOOOO! – me ouvi gritar, logo após me levantar da cadeira e jogá-la contra a parede. assistia tudo, sem reação, enquanto eu havia perdido o controle sobre mim mesma, mais uma vez.

QUATRO – A Verdade

  As visitas de passaram a ser cada vez mais frequentes, assim como os sedativos, delas resultantes. Era apenas questão de eu voltar a me sentir mais controlada, para que ele aparecesse e provasse a todos ali que eu era, realmente, desequilibrada.
  - ... Eu poderia até acabar com essa sua “montanha russa” interna, mas não sei se quero falar a verdade, nem se você quer ouvir e muito menos se fará resultado. – ele falava no mesmo tom irônico de sempre, na mesma cadeira que das demais vezes, na mesma sala apertada da primeira vez.
  - O que quer dizer com isso? – perguntei receosa, me sentindo um tanto desconfortável com o fato de ter que depender de para poder, talvez, retornar a minha vida normal.
  - Primeiro, acha que tudo foi ilusão? Que nunca houve corpo nenhum de morto e que você só está aqui porque não consegue entender como conseguiu imaginar tudo aquilo? – concordei com a cabeça, evitando falar qualquer coisa a ele – Oh! Sinto informar, querida. Mas tudo foi bem real. Sabe por que sei disso? Porque fui eu quem matou ele e eu quem escondeu o corpo para que a polícia te achasse louca e não uma assassina. Ele está enterrado lá no quintal de casa, se quiser podemos fazer uma cerimoniazinha quando sair daqui, se sair.
  - Você... Não teve... Coragem. – falei entre dentes, me colocando de pé e indo em sua direção. Eu estava beirando a loucura completa e ele ali, apenas se divertindo as minhas custas.
  Parti para cima dele e o peguei pelo pescoço, e dessa vez com tamanha força que logo o fez paralisar, sem reação. Seu rosto, que estivera branco de paixão, estava agora preto de asfixia. Aqueles olhos, miúdos de serpente, que exalavam tanto veneno, estavam agora cheios de horror – duas órbitas brancas precipitando-se para fora.
  Havia um “demônio à espreita” em meu coração que me instava a matar o maldito cão naquele instante – a manter a pressão em seu odioso pescoço até que o sopro de vida se fosse! Não ousava assassiná-lo, mas não ousava deixá-lo viver. Se eu o matasse, minha vida teria de pagar pelo crime, se ele vivesse, sabe-se lá o que mais poderia acontecer.

CINCO – Final

  - Me ligaram ontem, dizendo que estou proibido de te visitar novamente, você disse que minhas visitas te perturbam. – ele disse, no dia seguinte a minha tentativa de assassiná-lo - que resultou em dois enfermeiros tendo que segurar e uma dose cavalar de sedativos, bem como uma marca roxa, muito feia, por sinal, em seu pescoço - já próximo à porta do quarto e ao final do horário de visita - Sabe, ? Nunca pensei que minha presença te afetasse tanto assim... - ele disse irônico e sorriu, perfeita e lindamente, antes de fechar a porta atrás de si, mais uma vez, me deixando sozinha no quarto. Logo, me peguei pensando que talvez, bem talvez mesmo, sentiria falta daquele sorriso...

FIM



Comentários da autora


  Hey, Lelen! Tentei fazer algo que você gostasse, mesmo sabendo que não passa nem perto de alguma história sua. Espero que tenha ficado ao menos regular e que você tenha gostado.
  Feliz Natal e um próspero Ano Novo e obrigada a quem leu (: