Mouth… Neck… Hand and your mind
Escrito por Karol Oliveira | Revisado por Jéssica
1.
Em cinco meses, eu e John faríamos dois anos juntos. Muita gente apostou que não duraríamos, mas olha a novidade, dois anos. Eu havia conseguido entrar na faculdade, estava cursando Letras, e estava correndo atrás de um emprego também, mas sem sucesso. John e a banda entrariam em turnê mais uma vez, passariam o verão inteiro viajando com a Warped Tour. Acompanhar a Warped sempre foi um dos meus grandes sonhos, então faria isso agora em minhas férias. Mas o destino se encarregou de pregar uma peça em mim, Jenny, minha sogra, estava tentando me ajudar nessa busca por um emprego, e dois dias antes do inicio do Tour, eu recebi a noticia de que havia conseguido. É claro que eu estava radiante, mas isso significava que os meninos viajariam sem mim.
- JOHN? – Cheguei em casa gritando por ele, que provavelmente estaria no quarto.
- NO QUARTO. – John gritou assim que chamei por ele. – Amor, eu já comecei a arrumar suas malas, sei que amanhã você tem que sair cedo, mas eu não sei o que colocar para você. – Ele começou a falar assim que me viu parada na porta do quarto.
- John, tem algo que preciso falar com você. – Ele me olhou seriamente, sentando-se na cama e me acompanhando com o olhar enquanto eu fazia o trajeto porta/cama.
- Alguma coisa errada? – Ele questionou e eu apenas sorri.
- Não, na verdade eu tenho uma ótima noticia para você. Eu consegui um emprego, tem tudo a ver com a faculdade e vai ser maravilhoso para mim. – Eu vi o sorriso de John aumentar gradativamente, ele me puxou para um abraço e falava algumas coisas que eu não conseguia entender; estava tão entorpecida com aquele perfume.
- E quando você começa? Depois da viagem? – Ele continuou, sorrindo.
- Bom, eles querem que eu comece na semana que vem. – Desfiz meu sorriso com a careta que ele fez.
- Isso quer dizer que você não vai com a gente? Que vamos ficar quatro meses separados? – Perguntou tristemente.
- Amor, você sabe que isso não é o fim do mundo. Quantas vezes eu já fiquei aqui enquanto vocês estavam viajando? Eu sei que não foi tanto tempo, mas eu não posso perder uma oportunidade assim, você sabe. Nós ficamos tanto tempo nos vendo só por internet, acho que quatro meses a gente tira de letra.
- É, você está certa. Eu to muito feliz por você, é sério. Mas nós vamos nos falar todos os dias e acho bom a senhora arrumar tempo para mim. – O abracei, como eu poderia estar com alguém tão lindo? Às vezes nem acredito na sorte que tenho.
- É claro que vou ter tempo para você sempre. Mas eu ainda não sou uma senhora, então não me chame assim.
John tinha aquela mania, apesar de não sermos casados. Ele sempre me apresentava às pessoas novas como Senhora O’Callaghan. Casamento nunca foi um assunto tabu entre nós, assim que tivéssemos uma vida realmente estável, nós faríamos isso. Pat era o que mais cobrava, praticamente todos os dias ele perguntava se John já havia feito o pedido. Mas para que apressar as coisas?
Naquela mesma noite, tivemos um jantar na casa da mãe dele e depois seguimos para a casa de Pat. Não ficamos muito tempo, afinal, no dia seguinte eu teria que estar na faculdade cedo, tinha uma última prova antes das férias. Férias, eu não sabia o significado daquela palavra e continuaria sem saber por um bom tempo.
“Não quis te acordar porque você parecia um anjo dormindo, me espere para o almoço, vou cozinhar para a gente. Te amo!”
Deixei o papel em cima do meu travesseiro antes de sair. Eu não contei antes, mas as coisas na minha faculdade não eram das melhores. Digamos que eu não era muito aceita por ser estrangeira, nunca comentei nada com ninguém, eu apenas ignorava e era ignorada.
Terminei minha prova com um sorriso no rosto, sabia que tinha ido bem. Professor Charles era um bom homem, sempre elogiava meus trabalhos. Ao entregar a prova, ele me deu um belo sorriso e desejou boas férias. Retribui. Eu precisaria fazer compras, como passaríamos algum tempo fora, eu e Jonny tínhamos acabado com a comida da casa, assim não ficaria nada que pudesse estragar, mas agora que eu não iria, teria que comprar tudo outra vez.
- Tô em casa. – Gritei ao abrir a porta. John e os meninos estavam jogados no sofá totalmente entretidos em uma partida de alguma coisa que eu não consegui ver, afinal, fui direto para a cozinha. Eu sabia que eles não perderiam a chance de comer minha comida, era sempre assim.
- Meu anjo lindo, estava com tanta saudade da sua comida. – Pat disse vindo em direção à cozinha.
- Seus folgados, eu tinha quase certeza que ia achar todo mundo aqui. – Sorri e Garrett gritou algo que não consegui ouvir direito, então apenas ri e confirmei sem saber o que estava confirmando.
- John falou que você conseguiu o emprego, parabéns. Mas estamos tristes por passar quatro meses sem a sua chatice.
Eu ri, apenas ri. Patrick era meu melhor amigo, e passar quatro meses longe dele e dos meninos seria tão difícil quanto passar quatro meses longe de John. Mas era isso, era uma nova fase e eu estava orgulhosa de mim, sabia que eles também. Pat me deixou na cozinha e voltou para a sala, fiz algo simples e que sabia que eles gostavam.
- Macarronada. – John disse me abraçando por trás, enquanto eu tomava cuidado para não queimar o molho.
- Isso, macarronada. Sei que aqueles mortos de fome gostam. – Virei minha cabeça para trás apoiando-a em seu peito, isso foi suficiente para que ele alcançasse meus lábios e me desse um beijo. – Vai chamar eles enquanto eu coloco tudo na mesa.
Ele foi até a sala para chamar os garotos e eu arrumei a mesa. Estávamos todos sentados e conversando, e como sempre, era agradável. Essa era minha família agora, e eu estava feliz por ser tão amada. Eu não sabia explicar, mas era como se eu olhasse tudo em câmera lenta. Pat e Kennedy fazendo a cena de A Dama e o Vagabundo com o macarrão, enquanto Garrett e Jared se acabavam de tanto rir. John tomava sua cerveja calmamente e balançava a cabeça negativamente, mas sempre sorrindo. Eu tinha a estranha sensação de que aquilo não duraria muito tempo e aquilo me apertou o peito. Olhei para baixo na intenção de afastar tais pensamentos, minha angústia se aliviou quando senti a mão de John sobre a minha.
Os garotos foram praticamente expulsos de casa depois do almoço, além de cada um ter que arrumar sua mala, eu e John precisávamos de uma boa despedida, afinal seria quatro meses. Oh Deus, quatro meses, só agora eu me tocava que não eram quatro dias ou quatro semanas, eram quatro meses. Depois que terminamos de arrumar a cozinha, ele me surpreendeu quando me pegou no colo e foi me levando em direção ao quarto.
– Enfim sós. – Ele disse e eu gargalhei.
Quando estávamos quase entrando no corredor que dava para o quarto, meu pé bateu no abajur grande que ficava ao lado da TV. Dei um grito e John deu de ombros dizendo que me traria um novo.
***
Acordei sentindo o vento gostoso que entrava pela janela, sorri me levantando para fecha-la. John dormia pesadamente, aproveitei para tomar um banho e ver o estado do meu abajur; ele tinha concerto, só precisaria trocar a lâmpada e estaria novo em folha.
Estava assistindo algo na TV, quando ele apareceu apenas de bermuda, demorei um pouco para percebê-lo. Quando vi que me encarava, joguei uma almofada em sua direção e então o chamei para sentar-se ao meu lado. Ele praticamente se jogou e colocou a cabeça no meu colo. Me olhava de um jeito diferente, eu sabia que algo o estava incomodando.
- Pode falar. – Eu quebrei o silêncio.
- Não tem como esconder nada de você, não é? Ainda bem que eu não preciso mentir, senão estaria ferrado. – Ele riu e subiu a cabeça para beijar a ponta do meu nariz. – Eu estou muito orgulhoso de você, antes de tudo. Você está aos poucos conseguindo tudo o que disse que queria... – Ele parou de falar.
- Mas... – Eu continuei como se o incentivasse a falar.
- Mas eu preferiria que você fosse com a gente. Sabe, quando você voltasse tenho certeza que não demoraria a arrumar outra coisa.
- Você sabe que não vai conseguir me fazer desistir dessa vaga, não sabe? – Perguntei e ele apenas confirmou com a cabeça. – Então acho que não precisamos começar essa conversa, apenas diga que está orgulhoso e pronto.
Ele fechou os olhos e sussurrou um “Estou muito orgulhoso”. Continuamos ali naquela posição.
Senti minhas pálpebras pesarem e só ousei abrir os olhos novamente quando senti meu corpo ser carregado, John estava me levando para a cama.
Acordei com o barulho insuportável do despertador, tateei a cama e vi que já estava vazia. Cheguei a pensar que ele havia ido sem se despedir, mas logo ouvi o barulho do chuveiro sendo ligado.
- Será que tem um espaço para mim? – Eu disse abrindo o box e encontrando John todo cheio de espuma. Eu poderia considerar aquela visão muito sexy.
Ele não respondeu, me puxou para baixo do chuveiro ainda de camiseta – eu usava suas camisetas para dormir – e me deu um beijo ensaboado. Nós sabíamos que não podíamos demorar muito, afinal ele tinha um horário a cumprir, então, apesar de ser um coisa difícil, nós apenas tomamos banho.
***
- Acho que não preciso dizer para você tomar juízo, né? – Eu disse enquanto tomávamos café da manhã.
- Não mamãe, eu sou um cara sério e responsável, você sabe. Sem excessos. – Ele respondeu rindo.
A van passaria na casa de cada um dos meninos, e por último passaria para buscar John. Estávamos na calçada os esperando, já que Patrick havia mandado uma mensagem avisando que já estavam indo. Eu passava protetor solar no rosto John quando a van parou na nossa frente. Todos os meninos desceram e começaram a fazer piadinhas por me ver passando protetor nele. Fiz um gesto com o dedo, chamando cada um para o mesmo ritual. O verão estava extremamente quente, e eu sabia que eles ficariam vermelhos e doloridos se não se cuidassem. O que mais sofreria com certeza seria Jared, mas ele já era vermelho, então talvez não fizesse tanta diferença.
- Se cuidem, eu amo vocês e juízo nessas cabeças. Em todas as cabeças, Garrett. – Eu disse me despedindo de cada um com um abraço.
É claro que me despedir de John seria difícil, apesar do tempo, acho que eu nunca me acostumaria com essas viagens.
- Fica bem, e se você quiser desistir desse emprego e vir com a gente, me liga e eu vou te esperar onde quer que seja. – Ele disse encostando o nariz no meu.
- Eu não vou desistir, John, nós vamos nos falar todos os dias. Por favor, apoia minha decisão, amor. Eu sei que você queria que eu fosse, mas pensa na mega oportunidade que eu estaria perdendo. Isso já um passo a mais para nossa vida estável e um a menos para o casamento.
- Tudo bem, o argumento do casamento é valido. Eu te apoio, você sabe, mas é que a gente demorou tanto tempo para se encontrar que eu quero passar cada segundo que eu tenho junto com você. – Ele disse sem deixar que nossos narizes se desencostassem.
- Vai passar rápido, eu prometo. Agora vai logo que nós estamos atrasando todos. Te amo, infinitamente. – Eu disse o beijando.
- Infinitamente. – Foi a vez de ele dizer assim que quebramos o beijo.
E então eu vi a van virar a esquina, levando John e os garotos. Eu ainda não estava preparada para tanto tempo sozinha, mas eu já havia passado por tantas coisas até chegar àquele momento, isso seria fácil, pelo menos eu esperava que fosse.
***
Os dois primeiros meses foram “fáceis”, nos falávamos todos os dias por telefone e então dava para matar a saudade. Depois de um tempo, John parou de ligar frequentemente e quando eu ligava, ele sempre estava cansado demais. É claro que eu não iria reclamar, eu sabia como aquilo funcionava e tinha certeza de que ele realmente estava cansado e sem tempo.
***
Faltava uma semana para o fim da Tour, minhas aulas já haviam voltado, então eu estudava de manhã e trabalhava no período da tarde.
John chegaria de manhã, então eu teria que esperar o dia todo para vê-lo. Confesso que esperava uma surpresa da parte dele, como chegar à faculdade e me surpreender com um almoço antes do trabalho, mas aquilo não aconteceu.Passei à tarde desatenta, não via a hora de o relógio marcar 5pm para finalmente poder ir para casa. Sai correndo e nem esperei a carona de uma das garotas que trabalhava comigo, eu literalmente voei para casa.
Abri a porta e encontrei todas as luzes apagadas. Vi as malas de John na sala e deduzi que ele estaria no quarto, provavelmente dormindo.
- Meu amor, que saudade. – Eu disse de joelhos na cama enquanto o abraçava desajeitadamente, sim, ele estava dormindo. Mas eu pouco me importava, minha saudade era tanta que eu não conseguiria esperar até que ele acordasse.
- PORRA, ME DEIXA DORMIR QUE EU TO CANSADO! – Ele gritou e eu me assustei. Não tive uma reação imediata, na verdade continuei de joelhos na cama esperando que ele se desse conta do que havia feito e me pedisse desculpas. O que não aconteceu, ele apenas se virou de costas para mim e continuou dormindo.
Confesso que não tive coragem para fazer mais nada, acho que eu ainda estava em choque. Sinceramente, eu não esperava aquela reação, mas tudo bem, eu ia comer e tomar um banho, depois se ele continuasse dormindo eu faria o mesmo.
Sai do banheiro ainda com esperança de que ele estivesse sentado na cama, esperando para me pedir desculpas pela grosseria. Mas não, ele continuava de olhos fechados, do mesmo jeito que o encontrei. Troquei-me e fui tentar fazer o mesmo, deitei-me do meu lado da cama. Dormimos assim, bunda com bunda, sem abraços, sem beijos e sem eu te amo.
Era cedo e eu precisava acordar para ir à aula, apesar de não estar com a mínima vontade de fazê-lo. John continuava dormindo, não quis acorda-lo. Arrumei-me rapidamente, algo me dizia para sair de casa antes que ele acordasse. Estava deixando um bilhete na geladeira quando ouvi um barulho seguido de um xingamento, ele havia acordado e tropeçado em suas próprias malas que estavam espalhadas pela sala. Observei em silêncio o caminho que ele fez até mim, deu-me um selinho sem graça e sem emoção, como se fosse apenas por obrigação.
- Bom dia. – Eu disse tentando sorrir.
- Bom dia. – Ele respondeu seco.
- Algum problema? Entre você e os garotos? – Eu continuei enquanto arrumava alguns livros na bolsa.
- Não, por quê?
- Sei lá, você tá estranho. Achei que algo tinha acontecido. Estou indo para a aula, volto à noite. Almoce com sua mãe hoje. – Eu terminei e por fim sai de casa, era como se eu fosse sufocar se permanecesse mais um minuto ali.
O clima continuou o mesmo durante a semana, mas não me afetou tanto porque eu estava ocupada demais para dar atenção a John, ele parecia nem se importar com aquilo. Tentei me encontrar com os meninos para um almoço, mas não deu certo, pois tive que abrir mão do meu horário de almoço para conseguir terminar um trabalho da faculdade. Eu odiava Literatura.
O domingo chegou e a única coisa que eu queria fazer era dormir, mas, para variar, eu tinha trabalhos e mais trabalhos para entregar na segunda-feira. Levantei-me com protestos silenciosos do meu corpo, eu realmente precisava de um descanso, minha olheiras estavam monstruosas e eu havia emagrecido, isso era bem visível. Fiz uma promessa a mim mesma de que no próximo fim de semana eu não faria nada. Também prometi que começaria a comer melhor.
John estava no sofá, passei por ele sem dizer nada, se ele podia me ignorar, eu também faria aquilo. Percebi que ele se levantou meio impaciente e me seguiu até a cozinha.
- Eu estou indo até a casa do Garrett, vamos todos nos encontrar lá para revisar algumas composições. Amanhã temos uma reunião na gravadora, eles querem que a gente grave mais um disco. – Ele disse como se quisesse me inteirar do que estava acontecendo com eles, como sempre fora.
- Eu achei que vocês tirariam uma folga depois da Warped, foram quatro meses sem parar. Ninguém é de ferro. – Eu respondi ainda de costas para ele.
- Nós precisamos. Mas eles não nos deram um tempo certo para gravar. Então nós ficaremos por aqui em uma meia-folga. – Eu pude sentir que ele estava mais próximo de mim. – Preciso ir, não se preocupe porque provavelmente eu voltarei tarde. – Então ele deu um beijo no topo da minha cabeça e saiu.
Aquela situação estava me deixando desesperada. Nós não conversávamos mais, eu ia para a aula de manhã e ele estava dormindo, voltava do trabalho e nunca o achava em casa. Eu precisava saber o que estava acontecendo, quem conhece John como a palma da mão? Patrick, é claro. Corri até o quarto para pegar meu celular, confesso que estava nervosa, com medo de descobrir que John havia contado para Pat que não me amava mais ou que estava cheio de mim.
- BFF, que surpresa você me ligando a essa hora, em pleno domingo. – Ele ironizou.
- Eu conheço sua voz Patrick Kirch, sei que você não estava dormindo. – Brinquei. – Além do mais, John já foi para a casa do Garrett, provavelmente você também está a caminho.
- Sim, mas antes vou tomar café da manhã com minha mãe. – Ele ficou em silêncio, como se esperasse que eu me pronunciasse. – Pode falar, o que te aflige? – Realmente meu melhor amigo me conhecia bem.
- Pat, tem algo errado com o John? – Comecei com a voz fraca, já estava com vontade de chorar.
- Não que eu saiba, por quê? – Ele respondeu, e apesar de negar, eu pude ver a tensão em sua voz.
- Eu gostaria de saber, Pat. Desde que vocês chegaram que ele não fala comigo direito, eu cheguei em casa morrendo de saudades e ele gritou comigo e nem sequer me pediu desculpas. Cheguei até a pensar que vocês tinham brigado ou algo assim. – Meu autocontrole foi para o espaço. – Pat, por favor, conversa com ele e pergunta o que eu fiz de errado. Essa indiferença tá me matando e eu nem sei o motivo dela, se eu disse ou fiz algo, eu preciso me desculpar porque... Porque eu não vou conseguir ficar assim. – Eu disse por fim, tentando parar de chorar para que ele pudesse me entender.
- Fica calma, , eu vou falar com ele sim. Mas não chora porque eu tenho certeza que não foi nada que você fez, John deve estar de TPM. Ou deve ser a pressão para gravar outro disco, músicas novas, essas coisas que você conhece bem. – Ele disse tentando me confortar. Eu iria acreditar nele, eu precisava acreditar que Pat estava certo e parar de me culpar por aquela situação.
- Tudo bem, BFF. Vou desligar porque tenho milhares de coisas para fazer. Boa reunião para vocês, manda um beijo para os meninos. Te amo.
- Também te amo, BFF. Não vou mandar beijo nenhum praqueles marmanjos, você é MINHA melhor amiga.
- Você já foi mais adulto e menos egoísta, sabia? – Eu ri. – Até mais, beijo. – Desliguei.
***
Já era noite quando eu ouvi a porta da sala bater, passei quase a tarde toda no quarto digitando alguns trabalhos, e continuava fazendo isso.
- Oi. – Ele disse assim que entrou no quarto. Mas não esperou minha resposta, foi direto para o banheiro tomar banho. Não demorou mais que quinze minutos, deitou-se ao meu lado e apagou a luz. Quanta educação.
- Como foi o encontro? – Perguntei sem me importar se ele já estava dormindo ou não.
- O de sempre, nunca trabalhamos direito, aquelas crianças sempre passam a maior parte do tempo fazendo e falando merda. – Ele respondeu sem me olhar.
- Não está com fome? Ainda tem pizza, eu não estava com vontade de cozinhar, então pedi.
- Não, nós comemos no Garrett. Agora eu tenho que dormir, amanhã cedo tem uma reunião, como eu já te disse.
- Tudo bem, boa noite. – Não tive uma resposta. Como ainda tinha muito que fazer, decidi continuar digitando meu trabalho.
Após algum tempo e muito café, vi John se mexer e abrir os olhos.
- Será que você poderia fazer menos barulho? – Ele disse. – Eu já disse que tenho uma reunião cedo.
Não respondi, apenas concordei com a cabeça e me levantei indo para a sala.
Eu estava com uma baita dor nas costas, para variar. Havia dormido no sofá e nem ao menos tinha conseguido terminar de digitar o trabalho. Droga, teria que pedir mais um prazo para o professor e rezar para que ele me desse. Estava colocando minhas ideias no lugar, ainda sentada e John apareceu na sala já pronto.
- To saindo, até mais tarde. – Ele disse e simplesmente atravessou a sala em direção à porta.
Eu fiquei parada, olhando por alguns minutos, como se não acreditasse. Na verdade, eu não acreditava mesmo. Não podia me dar ao luxo de ficar ali, tomei o caminho do banheiro e me arrumei rapidamente, teria que falar com o professor antes que outros alunos chegassem.
Eu não esperava que meu dia melhorasse, mas não imaginava que ele poderia piorar tanto. Consegui um prazo de dois dias com meu professor, agradeci imensamente pela compreensão dele. Mas meu querido professor de História da Arte, o qual eu desconfiava que não ia muito com minha cara, passou um trabalho de duplas. Mas não era qualquer trabalho, era “o trabalho”, mas até então eu teria alguém para dividir as responsabilidades. Teria. Todos da sala fizeram seus pares, e como nossa turma tinha um número ímpar de alunos adivinhem quem se ferrou e ficou sozinha? Eu. O pior de tudo foi tentar montar uma dupla, e as pessoas simplesmente fingirem que eu não existia. Eu desejei morrer só para não ter que ir trabalhar. Mas meu pedido não foi atendido e eu continuei viva. A única parte boa do trabalho foi receber a visita de Jenny, mas fingir que as coisas continuavam as mil maravilhas com John era difícil.
Pedi para ser dispensada uma hora mais cedo, precisava passar na livraria para comprar alguns livros que eu estava precisando. Praticamente todo dinheiro que eu estava ganhando com o trabalho ia para os livros, eram muitos e todos caros.
Cheguei em casa e agradeci quando joguei todas as coisas em cima da mesa. Levei um susto quando vi Pat na cozinha.
- Hey, não vai destruir minha cozinha. – Eu disse chamando a atenção dele e recebendo um sorriso.
- Pode deixar, eu só quero saber onde estão aqueles biscoitos de chocolate. – Ele disse depois de vir até mim e me dar um beijo na testa.
- Na segunda porta da direita. – Eu apontei para a porta do armário.
- Então, como foi seu dia? – Ele parou na minha frente com o pacote de biscoito em mãos.
- John tá no banho? – Ele apenas confirmou com a cabeça. – Eu vou te confessar: foi horrível. Desde que eu comecei esse curso, as pessoas me ignoram e não falam comigo. Eu acho que deve ser pelo fato de ser estrangeira, sinceramente não sei. Nunca me importei com isso, mas hoje nós precisamos separar duplas para fazer um trabalho e, para variar, ninguém quis fazer comigo, agora tenho que fazer tudo sozinha. – Eu praticamente cuspi as palavras, precisava falar sobre aquilo com alguém.
- Eu não acredito nisso. – Ele olhava com um olhar indignado. – Qual o problema de você não ser daqui? Olha, eu vou te ajudar com esse trabalho, tá? – Ele concluiu.
- Acho que eu vou aceitar essa ajuda, é muita coisa e eu tenho certeza que não conseguirei fazer sozinha. – Sorri, mas meu sorriso ainda era triste.
- E quanto ao John? – Ele finalmente perguntou.
Sabe quando a situação está te machucando tanto que só de pensar nela você sente vontade de chorar? Era isso que estava acontecendo comigo. Ouvir a pergunta de Pat me fez lembrar de que as coisas entre mim e John só tinham piorado. Coloquei as mãos no rosto e não consegui me controlar, comecei a chorar como se fosse uma criança.
- Está tudo cem por cento pior, Pat. Desde que vocês chegaram, ele não fala direito comigo. Ele não para mais em casa, ele só me dá selinhos como se estivesse sendo obrigado. Hoje de manhã quando ele saiu para a reunião da gravadora, eu o senti mais frio e mais distante. – Eu ainda chorava, mas agora encostava minha cabeça no peito de Pat, que me abraçava.
- Reunião na gravadora hoje de manhã? – Pat disse com dúvida. – Claro, a reunião. – Tentou concertar. Mas era tarde demais.
Enxuguei as lágrimas e olhei para ele, esperando uma explicação. E ele sabia que não podia mais esconder nada de mim.
- A reunião não foi de manhã, , foi depois do almoço e John ainda chegou atrasado. – Aquilo estava sendo o fim, além de tudo que estava acontecendo, agora ele estava mentindo para mim.
Eu queria achar um buraco e me enfiar nele, eu estava com vergonha de Pat, vergonha do meu melhor amigo. Aquilo era humilhação demais, eu via o olhar de pena que ele me lançava. Como não sentir pena de uma criatura como eu? Pena para mim é um dos piores sentimentos que se pode ter por uma pessoa, eu me sentia no fundo do poço, literalmente. Ouvi a voz de John se aproximando, ele falava alguma coisa e ria. Enxuguei minhas lágrimas depressa, ele não me veria daquele jeito. As risadas dele cessaram assim que me viu, pelo menos era isso que eu achava já que estava de costas.
- Vou tomar um banho. – Nem ao menos o olhei, passei de cabeça baixa e fui o mais rápido que pude em direção ao chuveiro.
2.
John’s POV
Sai do banheiro me lembrando de uma coisa engraçada que acontecera na Tour e comecei a gargalhar sozinho, mas a risada cessou assim que eu vi que já havia chegado e estava na cozinha conversando com Patrick. Mas, ao contrário do que pensei, ela não falou comigo, apenas passou por mim e disse que iria tomar banho.
Confesso que achei aquilo estranho, pensei que pelo menos na frente de Patrick ela fingiria estar tudo bem entre a gente.
- O que ela tem? – Perguntei indo em direção a Pat, que olhava para baixo.
- Como você tem coragem de fazer isso com ela? Reunião na gravadora de manhã, John? – Ele dizia ainda sem me olhar.
É claro que ele saberia de tudo, são melhores amigos e, pelo que eu sei, ele é a única pessoa com quem ela conversa. Eu não tinha uma resposta imediata para dar, apesar de saber que Pat desconfiava de onde eu estava, não disse uma palavra sobre isso.
- Eu precisava sair de casa, o clima com ela está tenso. – Menti. Eu sabia que ela ficaria o dia todo fora, rezava para que ele acreditasse na desculpa que eu estava dando.
- Você se esqueceu com quem está falando, não é, John? Apesar de estar torcendo para que você me desminta e diga que eu estou louco, eu acho que sei onde você foi. – Ele tinha me pegado, não consegui dizer nada, apenas abaixei a cabeça. – Eu realmente acreditei em você quando você me disse que ia contar a ela o que aconteceu. – Ele continuou.
- Eu não consegui, Patrick! Ela não ia me perdoar uma segunda vez. – Tentei argumentar.
- E você acha que ela vai perdoar tudo que você está fazendo com ela? Você sabe as coisas que ela está passando? Você não era esse idiota, John. Me diz: por que você está fazendo isso? Você sabe que ela não merece. Você tem noção do quanto foi difícil para eu saber de tudo e ter que ouvi-la chorando no telefone, me perguntando o que ela estava fazendo de errado? – Ele aumentou o tom de voz nessa última frase.
Foi então que meu coração deu um pulo e minha cabeça repassou todos os acontecimentos desde que a Tour terminara. Eu estava sendo a pior pessoa do mundo com ela, e nem eu mesmo conseguia explicar o motivo.
- Eu não sei o que esta acontecendo, Patrick. Quando eu estou longe dela, eu quero voltar correndo e dizer como eu sinto muito por tudo e pedir perdão. Mas quando eu estou perto, eu me sinto sufocado, essa história de casamento tem me tirado o sono; e, antes que você diga, eu sei que ela não me cobra nada. Esse meu reencontro com a me fez querer minha liberdade de volta. Mas eu simplesmente não posso viver mais sem ela. – Eu estava atropelando as palavras, mas sabia que estava sendo entendido.
- Eu me sinto o pior amigo do mundo sabendo que você fez uma burrada e não posso contar a ela. Maldita hora que eu deixei que você ficasse sozinho com a , você sabe que eu nunca gostei dela. Droga, eu sou um idiota mesmo, eu sabia que ia dar nisso. – Agora quem se culpava era Patrick, mas o único culpado por tudo aquilo era eu.
Maldita hora em que eu reencontrei . Ela era uma ex-namorada, fiz muitas besteiras por causa dela, mas eu não conseguia resistir àquela adrenalina; é claro que com esse reencontro não fora diferente. Foi quando eu trai a mais uma vez. Dessa vez eu conseguia me sentir mil vezes mais culpado, eu não poderia nem colocar a culpa na bebida, pois estava cem por cento sóbrio. havia plantado a duvida na minha cabeça, me fez repensar tudo que eu havia vivido nesses dois anos com a . Eu havia conquistado sim muitas coisas, amadureci e comecei a pensar no futuro, no nosso futuro. Não era apenas John, agora tudo era John + . Isso nunca me assustou antes, mas agora assustava e muito.
E pensar que ela estava aguentando aquele inferno dos últimos dias sozinha, calada. Sem brigas, sem gritos e sem nenhum pedido de explicações.
- Eu estou fazendo uma grande merda, não é, Pat? – Perguntei depois de sair dos meus devaneios.
- Demorou para perceber, né? Espero que não seja tarde demais. Eu vou embora, converse com ela e torça para que ela te perdoe de novo.
Patrick saiu pela porta e eu continuei mais alguns minutos na sala, pensando e esperando a coragem de falar com ela. Pedir desculpas, me explicar.
Entrei no quarto e vi que ela já estava deitada, era óbvio que eu usaria isso com uma desculpa para não ter que falar com ela. Mas prometi a mim mesmo que, assim que ela se levantasse, eu diria tudo. Confessaria inclusive a traição e imploraria mais uma vez por seu perdão. Eu amava aquela garota mais que tudo, realmente não tinha um motivo para explicar o que havia acontecido com , mas se eu não conseguia viver sem a , isso significa que eu a amo, certo?
Certo.
John’s POV off
Acordei sentindo a cabeça pesada, tinha chorado tanto no banho que parecia que um caminhão tinha passado por cima de mim tamanha era a dor. Olhei para o lado e, para variar, John não estava lá. Respirei fundo, era mais um dia que começava. No banho eu repassava os últimos acontecimentos na minha cabeça. Eu queria ir embora, queria sair daquele apartamento e nunca mais olhar na cara de John, eu poderia aguentar a frieza dele, a falta de carinho, tudo isso porque eu o amo, mas mentiras para mim era o fim de tudo.
Eu só não sabia para onde iria, o dinheiro do meu trabalho mal dava para pagar meus livros, quanto mais alugar um apartamento e me sustentar. Odiava o fato de confirmar que eu era totalmente dependente dele. Mas, acima de tudo, eu o odiava naquele momento. Sai do banheiro e dei de cara com o quadro que tinha mandado fazer com uma foto minha e de John, era uma surpresa para quando ele voltasse da Tour, tinha até me esquecido daquilo, e com certeza ele não tinha sequer prestado atenção. Fui até ele e o tirei da parede, deixando-o no chão virado para baixo.
John dormia desajeitado no sofá, não pude esconder a surpresa de vê-lo em casa. Mas isso não me faria desistir da minha decisão. Pensei em deixar um bilhete na geladeira, avisando que já tinha saído. Mas ele se importava com isso? Não. Acontece que velhos hábitos nunca morrem, acabei escrevendo uma pequena frase e deixando-a na porta da geladeira como sempre.
“Não se preocupe em achar um jeito de me ignorar, volto à noite apenas.”
Sem “eu te amo”, sem beijo. Minhas palavras eram cheias de ódio e dor, eu queria que ele percebesse aquilo, mas acho que não aconteceria.
Aproveitei meu horário de almoço para ligar para Pat e perguntar se eu poderia passar uns dias na casa dele, minha decisão estava tomada e eu esperava que ele pudesse me abrigar enquanto eu procurava outro lugar pra ficar. Eu tinha certeza que eu poderia chegar com um caminhão de mudança que ele me receberia de braços abertos, mas eu ainda continuava envergonhada por tudo que havia acontecido.
- BFF! – Ele disse animado do outro lado da linha.
- Oi, meu bem. Te acordei? – Tentei manter minha voz forte.
- Claro que não, agora eu acordo cedo. Resolvi aproveitar melhor meu dia sabe. Mas então, a que devo a honra da ligação? Fez as pazes com John? – Ele parecia ter certeza de que agora estava tudo bem.
- Na verdade, eu liguei para saber se posso ficar alguns dias na sua casa. Até achar um lugar que não seja tão caro e que eu consiga pagar.
- Como assim? Você vai sair de casa? John não falou com você? – Pude sentir o desespero em sua voz.
- Sim e não. Mas se eu não puder ficar com você, tudo bem, eu vou entender. Você já fez tanto por mim que eu me sinto até envergonhada, mas é que eu não quero incomodar Jenny com isso. Acho que não consigo repetir a história toda mais uma vez.
- Que isso, você sabe que nem precisava ligar. Eu não acredito que a situação chegou a esse ponto, não acredito. – Ele praticamente gritava.
- Obrigada, BFF. Queria te pedir mais uma coisa. Tem como você tirar o John de casa à tarde? Eu tenho que ir pegar umas roupas e meus livros, não quero me encontrar com ele.
- Claro, vou convidar ele para ir à casa do Garrett. Eu sinto muito , me sinto horrível por não poder te ajudar, eu sei o quanto você teve que abrir mão, e confesso que a coisa que eu mais quero no momento é quebrar a cara dele.
- Oh Patrick, eu te amo tanto. Mas eu não quero uma briga, vou fazer isso da forma mais pacífica possível. Preciso desligar, o trabalho me chama. Obrigada mais uma vez.
- Tudo bem, te espero mais tarde.
Pat’s POV
Liguei para Garrett e em seguida para John; ele acreditou na história de que tínhamos que ensaiar mais as músicas novas. Seria difícil encontra-lo e controlar a vontade que eu estava de bater nele. Assim que ele chegou, mandei uma mensagem para , avisando que ele estava fora de casa.
Eu estava inquieto, e parecia que John mais ainda. Mas ninguém se atreveu a falar nada.
- Eu preciso ir embora. – John se pronunciou.
- Por quê? – Garrett perguntou surpreso.
- Porque eu preciso estar em casa quando a chegar, preciso conversar com ela e não pode passar de hoje. – Droga, ela acabara de me mandar uma mensagem avisando que estava indo buscar suas coisas e agora John queria ir embora, ele chegaria bem na hora que ela estaria lá.
Eu estava pensando em uma desculpa para segurar John ali, mas e se isso fosse uma obra do destino? Ele queria estar em casa quando ela chegasse, isso significava que ele finalmente iria conversar com ela. Porém eu tinha prometido ajuda-la. É nessas horas que ser amigo de ambas as partes complica, mas eu achava que eles deveriam ter uma conversa, uma conversa definitiva.
- Vai logo. – Disse a John e ele me olhou meio assustado. – Vai logo, seu idiota. E a convença a não fazer o que ela está querendo fazer.
- Do que você está falando, Patrick? – Ele questionou, e Garrett, Kennedy e Jared também me olhavam.
- VAI LOGO! – Eu gritei, praticamente expulsando John, então finalmente ele foi.
Pat’s POV off
Eu tinha arrumado algumas roupas em uma bolsa não muito grande e colocado meus livros em três caixas. Provavelmente eu teria que chamar um táxi; mesmo a casa de Pat não sendo muito longe, seria difícil carregar aquelas coisas até lá. Sai do quarto tentando equilibrar as caixas e, assim que deixei o corredor adentrando a sala, levei um susto ao ver John parado encarando minha bolsa de roupas no chão. Com o susto, as caixas caíram e meus livros se espalharam. Abaixei-me rapidamente para ajunta-los e pude ver os passos que John deu em minha direção. Eu não ia chorar, não ia chorar. Tarde demais, já sentia as lágrimas vindo sem controle.
- ... – Ele disse.
- NÃO! – Eu gritei e ele parou por um momento.
- Por favor, me escuta. – Ele voltou a andar e se aproximar, entretanto eu ainda não conseguia encara-lo.
- NÃO CHEGA PERTO DE MIM! – Foi a única coisa que consegui falar antes de começar a chorar, não consegui controlar e estava me amaldiçoando por isso. Fraca. – Você já fez o suficiente, John. – Continuei. – Seria mais fácil se você simplesmente tivesse dito que não queria mais.
- Não diz uma besteira dessas, eu te amo. Infinitamente. – Ele sentou-se ao meu lado e tentou tocar meu rosto, mas desviei. – Eu sei que eu tenho sido um idiota, mas... É que eu tenho me sentido tão culpado por algo que eu fiz que te ignorar estava sendo a única alternativa.
- Culpado por algo que você fez? E o que você fez, John? Porque, sinceramente, eu tenho achado todo esse tempo que a culpa era só minha. – Eu finalmente consegui olha-lo.
- Você não tem culpa de nada, nunca teve. Eu... Eu fiz outra vez. – Eu queria estar enganada, queria que não fosse o que eu estava pensando. O olhei indignada.
- O que você fez outra vez? – Dessa vez minha voz saiu forte, eu estava com raiva.
- Eu... Te trai durante a Tour... Com a . – Um tapa na cara e uma facada no coração, era essa a sensação que eu sentia.
era uma ex-namorada de John, ele sempre me disse que ela despertava o pior nele e que se afastar dela foi a melhor coisa que ele tinha feito na vida. Acho que meu choque não era pela traição, mas sim por ter sido com ela. COM ELA. Tantas garotas e ele me traiu com ela.
- Quando você saiu para a reunião de manhã, você foi se encontrar com ela? – Perguntei rezando por uma resposta negativa.
- Sim. Mas eu fui para dizer a ela que aquilo não podia continuar. Que eu tinha certeza de que era com você que eu queria ficar. – Ele tinha um tom desesperado.
- Mas você não resistiu, não é? Ficou com ela mais uma vez. – Ele apenas olhou para baixo e aquela era minha confirmação.
Eu não conseguia ficar mais tempo ali, precisava sair correndo. Eu sentia nojo dele, nojo de tudo que ele me disse e, ainda mais, sentia raiva de mim por ter me culpado por tudo. Levantei-me sem me importar em pegar os livros espalhados, apenas peguei minha bolsa de roupas e comecei a andar em direção a porta, mas antes de chegar até ela, olhei uma última vez para John, jogando minha chave do apartamento no chão.
- Depois o Patrick vem buscar meus livros. – Eu finalmente consegui ser seca.
Ele não se mexeu, não se levantou, não tentou me impedir de sair de casa. Sai do prédio o mais rápido que consegui, rezava para não encontrar nenhum dos vizinhos e, pelo menos dessa vez, meus pedidos foram atendidos. Virei a esquina e não aguentei continuar andando, sentei no meio-fio e, sem vergonha nenhuma, comecei a chorar. Fraca, mais uma vez fraca.
- Pat... Por... Favor. – Disse assim que ele atendeu ao telefone.
- ? O que foi? Pelo amor de Deus. – Ele se desesperou ao ouvir que eu não conseguia nem mesmo terminar uma frase.
- Vem me buscar, por favor. Eu to na esquina do prédio, tenta vir rápido. – Eu finalmente consegui dizer.
Para minha sorte, ele não demorou. Eu nunca agradeci tanto por morarmos tão perto um do outro. Assim que o carro parou, eu não me movi, apenas o vi descendo e parando ao meu lado, me ajudando a levantar. Colocou minha bolsa no banco de trás, enquanto eu me acomodava no banco da frente.
Não disse nada e ele não perguntou nada. Patrick entendia meu silêncio. Se eu começasse a falar, provavelmente choraria por mais três dias seguidos.
Acordei com uma dor horrível nos olhos outra vez, reconheci o quarto de Patrick assim que me sentei na cama. Droga, aquilo não tinha sido um sonho.
Eu realmente era uma corna, pobre, sem teto e que era vítima de preconceito por ser estrangeira em pleno século 21. Que sorte, não?
- Hey você! – Pat disse assim que eu entrei na sala, me sentando do lado dele.
- Hey! – Apoiei minha cabeça no ombro dele.
- Ele ligou várias vezes enquanto você estava dormindo. – Pat disse meio receoso.
- Você sabia, não é? – O olhei. – Por que você não me contou?
- Porque ele disse que iria te contar, eu dei prazos e prazos, mas ele sempre adiava. Desculpe.
- Tudo bem. Se eu ficar zangada com você, eu fico sem teto. – Tentei rir.
- Sua interesseira, eu sabia que você não me amava de verdade. – Ele tentou parecer ofendido.
- Você sabe que provavelmente eu ainda vou chorar muito no seu ouvido, né? – Perguntei.
- Você sabe que eu estou aqui para tudo, né? – Ele riu.
- Preciso terminar meus trabalhos e todos os meus livros ainda estão em casa... Quer dizer, na casa do John.
- É tão estranho ouvir você falando assim, aquela é sua casa também. Eu sei que ele fez uma burrada, mas eu não consigo mais imaginar John sem e sem John. – O garoto disse.
- É difícil para mim também, você não imagina como.
3.
Duas semanas e meia se passaram sem nenhum encontro ou telefonema. Eu precisava de espaço e ele sabia disso, e eu tinha certeza de que ele respeitaria esse espaço.
- Você não vai acreditar na novidade! – Patrick chegou animado em casa. Era sexta-feira à noite.
- Não vai me dizer que você finalmente arrumou uma namorada? – Perguntei divertida levando uma almofadada.
- Por que todo mundo insiste que eu preciso de uma namorada? Eu to bem assim, tá certo? – Ele disse de cara feia. – Mas não é isso. Sabe aquele orfanato que você ia quando ainda não tinha começado a estudar? – Assenti com a cabeça. – Nós vamos fazer um show beneficente para arrecadar fundos, eles vieram falar com a gente hoje.
- Pat, isso é maravilhoso! Eles fazem um trabalho tão incrível, e um show de vocês arrecadaria muito dinheiro. – Eu tinha um brilho no olhar, brilho que não tinha desde a separação de John. Patrick percebeu isso e ficou ainda mais feliz.
- Você vai, não é? – Ele perguntou meio receoso.
- Claro que sim. Eu não posso fugir dele a vida inteira.
- Eu também acho, você sabe que ele não vai fazer nada que você não queira. – Sorriu.
- Falando nele, Jenny foi me visitar hoje no trabalho. Por que você não me contou que ele voltou a morar com ela? – Questionei.
- Porque eu sabia que você ia pirar e se sentir culpada. – Sorri como se dissesse que era exatamente assim que me sentia. – Então se Jenny foi conversar com você hoje, você sabe que eles o convenceram a ir para San Diego com eles esse fim de semana, né?
- Sim, eu fiquei feliz por ele ter aceitado. Esse tempo em família vai ser muito bom.
- Isso significa que você vai para a casa do Garrett comigo para uma noite de videogame e cerveja. Isso não é um pedido, é uma ordem. – Ri e bati continência, levantei-me rápido e fui até o banheiro para tomar um banho rápido e me trocar. Precisava daquela noite com meus amigos, saber que John aceitara ir com a família para a praia também me aliviava. Jenny nunca me deixou sem informações sobre ele, e eu sabia que ele não estava tão bem, assim como eu.
Passava da meia-noite e o clima na casa de Garrett era divertido, Patrick perdera todas as partidas contra o dono da casa, o que o deixou meio zangado. A atenção de todos se voltou para o toque estranho do celular que estava em cima da mesa, era o celular de Patrick, esse saiu correndo da sala em direção à cozinha para atendê-lo antes que parasse de tocar.
Patrick’s POV
Ouvi o toque do meu celular e, segundos depois, a gargalhada de todos. Sim, meu toque era uma música das Spice Girls, mas tudo graças a uma aposta que fiz com Jared. Quase não consegui chegar a tempo; assim que vi o nome de John no visor, tratei de ficar na cozinha mesmo.
- E aí, cara. – Atendi.
- E aí, Pat. Não vou pedir desculpas por ligar a essa hora, porque sei que você está no Garrett. – John disse rindo fraco do outro lado da linha.
- Sim, estamos todos aqui, John. – Disse, na esperança de que ele entendesse minha indireta.
- Ela tá aí também? Ela tá bem? Está se divertindo? – Sim, ele havia entendido a indireta.
- Sim, sim e sim. Consegui arrastar ela para cá; tem mais, ela adorou a novidade do orfanato, pela primeira vez eu vi aquele brilho no olhar dela desde que tudo aconteceu. – Eu não conseguia ver, mas tinha certeza que John havia sorrido. Ele fez de tudo para que nós aceitássemos o convite, sabia como aquele lugar era importante para ela.
Minha cara de espanto e desespero ao vê-la entrar na cozinha deve ter sido no mínimo cômica, supus isso pelas risadas dela ao me olhar. Como esperado, ela soube com quem eu estava falando.
- Diz pra ele se divertir. – Ela disse e saiu da cozinha.
- Acho que você ouviu, não é, John? – Disse e fiquei algum tempo esperando a resposta.
- Você acha que ela vai me perdoar, Pat? Acha que ela vai me aceitar de volta um dia? – Ele perguntou, ao invés de responder.
- Tenho certeza. – Eu tinha plena certeza que isso aconteceria. Poderia demorar um pouco, mas eu sabia que eles voltariam e então, finalmente, depois de dois sustos, John tomaria jeito. E mais uma vez, mesmo sem vê-lo, eu sabia que John sorria.
Patrick’s POV off
Quando Patrick voltou para a sala, só consegui recebê-lo com um sorriso tímido. Ele sorriu de volta, entendendo perfeitamente o que quis dizer com aquilo.
Meus olhos não paravam mais abertos, nem mesmo com todos os gritos dos garotos. Me ajeitei em um dos sofás e ali fiquei, até o que barulho simplesmente cessou.
- Acorda BFF, vamos para casa. – Abri os olhos dando de cara com Pat, olhei em volta e percebi que os meninos seguraram o riso assim que acordei. Provavelmente eu estava com uma cara monstruosa.
- Não ousem rir de mim, senão mato todos vocês durante o sono. – Eu não deveria ter dito aquilo, porque assim que terminei minha frase, eles gargalharam como nunca. Kennedy rolava no chão e Jared conseguiu ficar ainda mais vermelho.
- Tchau, seus bobões. – Pat disse fechando a porta da casa.
Pouco mais de um mês tinha se passado, o dia do show beneficente finalmente havia chegado. Meu nervosismo era óbvio, acho que fiquei uns vinte minutos só me olhando no espelho. Nenhum encontro, nenhum telefonema, nada.
- , to indo porque a gente precisa que chegar mais cedo pra passar o som. – Pat entrou no quarto, me encontrando, enquanto eu ainda encarava o espelho.
- Tudo bem, Jenny vai passar aqui e nós vamos juntas. – Respondi ainda focada naquele reflexo visivelmente cansado. – Acho que não to preparada para um reencontro. – Continuei quando Patrick já se encontrava na porta.
- Meu amor, já tem quase dois meses que vocês não se veem e nem se falam. Acho que já foi tempo suficiente, além do mais, você nunca vai saber se não tentar. – Ele disse e saiu, sem esperar um protesto ou uma resposta.
O lugar estava maravilhoso, e cheio. Havia desenhos das crianças em exposição e as próprias estavam se divertindo horrores com os brinquedos e palhaços. Não pude conter meu sorriso ao ver que elas me reconheceram assim que cheguei, tanto reconheceram que vieram me receber com carinhos e abraços.
- Como vocês estão grandes. – Eu disse em meio a abraços e observando que eles realmente haviam crescido. Fazia mais ou menos cinco meses que eu não os via. Quando não estava estudando, minhas visitas eram frequentes, às vezes quatro vezes por semana. Depois que comecei a faculdade, se eu podia visita-los aos domingos era muito.
- Tia, a senhora nunca mais veio ver a gente. – Amber disse cortando meu coração. Ela era uma garotinha loira de oito anos que fora abandonada pelo pai após a morte da mãe.
- Amber, minha querida, a vida da tia está tão bagunçada, mas eu prometo voltar a vê-los nem que seja só aos domingos. – Cruzei os dedos em frente à boca em sinal de promessa.
- Mas a gente sabia que a tia vinha hoje. – Dessa vez foi Robert quem se pronunciou. – O namorado da tia disse pra gente. – Tinha certeza de que ele falava de John.
- Tia, seu namorado é bonito e famoso. Ele tem amigos pra mim? – Amber continuou e eu só pude rir.
- Sim Amber, ele tem amigos. Inclusive, acho que você vai adorar um deles, o Patrick, ele é o baterista da banda. – Sorri, eu tinha metido Pat em uma tremenda enrascada.
- Olha, seu namorado bonito tá vindo, tia. – Amber era uma menininha que não parava de falar um segundo, mas quando ela disse isso e apontou, meu coração gelou.
- Será que vocês podem me dar um tempo com a tia ? – John disse atrás de mim, em um impulso, me levantei e quase cai. As crianças, mais que depressa, voltaram a correr atrás dos palhaços.
- Oi John. – Eu disse olhando para baixo.
- Oi. – Ele respondeu. – Como você está? – Continuou.
- Estou bem... E você? – Dessa vez tive coragem para olhar aqueles olhos que sempre mexeram comigo.
- Tentando sobreviver. – Eu pensei que a única coisa que viria a minha cabeça assim que reencontrasse John seria raiva, mas ver aqueles olhos tristes me deu um aperto e meu único pensamento era em abraça-lo ali mesmo e dizer que eu o amava, mas eu não podia, não ainda.
- Obrigada por ter aceitado fazer isso pelas crianças, olha como isso tá lotado. – Disse tentando tirar aqueles pensamentos da minha cabeça.
- Eu fiz isso porque sabia que esse lugar era importante para você. Pude confirmar isso quando as crianças correram para te abraçar. Arrependo-me por nunca ter vindo com você quando tive oportunidade.
- Acho que você teria adorado, mas entendo seus motivos. É triste ficar com eles e, no fim do dia, ter que deixa-los do novo. – Sorri. – Mas agora preciso ir, tenho que encontrar sua mãe, prometi que ajudaria ela com o bazar.
- Tudo bem, espero te ver mais tarde no show.
- Eu não perderia por nada, John, você sabe. – Sorri e me virei para seguir meu caminho até Jenny, mas um último grito de John me fez voltar minha atenção a ele.
- Eu te amo. – Ele disse, sem sorrisos. Era apenas o mesmo olhar triste.
O que eu iria fazer? A vontade de sair correndo e abraça-lo me atingiu em cheio mais uma vez, mas eu sabia que estaria precipitando as coisas se fizesse isso. Eu não poderia simplesmente me esquecer do ocorrido, apesar de desejar isso todos os dias.
- Eu também te amo. – Disse em um sussurro, mas tenho certeza de ter sido compreendida, pois um sorriso se formou nos lábios dele assim que terminei minha frase.
Aquele gesto não era muito, mas era suficiente para que nós dois soubéssemos que as coisas tinham concerto. A maioria das pessoas pode me chamar de corna conformada, mas como todos sabem o amor é uma loucura que até hoje ninguém conseguiu explicar e duvido que um dia consigam.
Jenny já me esperava inquieta, assim que cheguei pude perceber que ela sabia de onde eu estava vindo.
- Então? – Ela me olhou como se pedisse para que eu contasse tudo.
- Não tem um então, Jenny. Nós nos falamos por cinco minutos e, ao contrário do que eu pensei, eu não quis socá-lo até a morte. – Respondi, vendo-a rir.
- Isso já é um ótimo sinal. – Ela sorriu.
Conforme o tempo passava, mais pessoas chegavam à festa. O local do show era separado, muita gente era esperada. Com certeza seria um sucesso. Mas como minha vida nunca é fácil, a pessoa que eu menos queria ver naquele dia apareceu. Sim, .
Eu não a vi de imediato, mas percebi o barulho estranho que Jenny fez com a boca e o olhar que ela tinha para um ponto fixo, quando olhei, meus olhos se encontraram com os dela. Eu pedia para que ela não fosse tão mau caráter de ir até mim, mas o que eu pensava? É claro que ela era.
- Olha só, no bazar. Dá para ver que você gosta de coisas usadas mesmo. – Ela disse e eu nem me dei ao trabalho de responder, mas a calma que eu tinha, faltava em Jenny.
- O que você está fazendo aqui? John não disse que ninguém te queria por aqui? – Jenny disse se levantando e indo na direção da garota.
- Nossa Jenny, você está ficando velha e louca mesmo. – Ela disse e meu sangue ferveu. Eu sempre aceitei que falassem de mim, mas quando alguém mexe com as pessoas que eu amo, me transformo.
- E você além de vadia é mal educada, não é, ? – Finalmente tomei coragem para falar.
- E você além de corna é burra, pelo que to vendo.
- O que você quer? Quer jogar na minha cara tudo o que aconteceu? Vai em frente, mas você não tem o direito de falar desse jeito com a Jenny, então acho melhor você se desculpar. – Eu deveria estar vermelha de raiva.
- Ou o quê? Você vai me bater que nem o seu povinho sem cultura? – Sim, ela estava conseguindo me provocar. – Você veio para cá como intrusa, você nunca vai ser uma de nós.
- Eu vou te bater sim, vou te mostrar como meu “povinho” trata pessoas como você. E eu não quero ser como vocês, até porque tenho orgulho de quem eu sou e de onde venho. Agora peça desculpas. – Meu tom era mais forte e mais sério.
- Eu não vou pedir desculpas coisa nenhuma. – Dito isso, ela simplesmente virou e saiu.
Minha vontade naquela hora era de sair correndo e acabar com ela, mas eu não podia fazer aquilo. Era simplesmente contra todas as coisas que eu dizia – violência não é o caminho. Como uma pessoa pode ser tão detestável? E eu achando que esse tipo de gente só existia em filmes e novelas.
- Ela é uma idiota, Jenny, não ligue para o que ela disse.
- Eu não ligo, meu bem, você deveria fazer o mesmo. Sabe que ela só está aqui para provocar, John pediu que ela não viesse. – Ela passava a mão nos meus cabelos tentando me acalmar.
- É, eu sei. Mas não é como se ela tivesse inventando algo, as coisas realmente aconteceram e... – Eu tinha que parar de falar sobre aquilo. Eu não era uma coitadinha, tinha que esquecer tudo e seguir em frente. – Vamos esquecer isso, não é? O show vai começar, vamos lá, Jenny.
Eram 9pm em ponto quando o show se iniciou, e o número de pessoas praticamente dobrou. Eu tinha quase me esquecido como era divertido vê-los ao vivo, simplesmente perfeito.
Só tive tempo de ir até os meninos e parabeniza-los pelo show depois de muito tempo, já era quase meia noite. Ajudei Jenny a fechar a barraca do bazar e a levei até o carro para que pudesse ir embora. Ela estava super cansada, conseguia ver isso em seu olhar. Tranquilizei-a e disse que eu e Patrick levaríamos John para casa.
- Hey, o que o John tá fazendo ali? – Surpreendi Pat com a pergunta, foi quando ele olhou na direção que eu apontava. John estava sentando em uma cadeira, embaixo de uma árvore e encarava os pés como se fossem a coisa mais interessante do mundo.
- Isso se chama mistura de cerveja com drinks que ele não sabia o nome. – Pat respondeu rindo.
- Eu não acredito que o John conseguiu ficar bêbado em uma festa do orfanato. – Eu não me aguentava, precisava rir daquilo, melhor, eu precisava rir dele. Fui então caminhando em sua direção, ele nem ao menos tinha se movido.
Assim que parei em sua frente, ele levantou os olhos para mim e eu pude perceber que a situação era pior do que eu pensava.
- John, eu não acredito que você ficou nesse estado. O que você bebeu? – Perguntei já meio preocupada, me abaixando para ficar na mesma altura que ele.
- Era azul, gostoso e... – Ele parou, como se tivesse se perdido no meio da frase.
- Lagoa azul? Quanto você bebeu? Acho que você se esqueceu de que nunca me deixou tomar mais de uma dose daquilo. – Eu já começava a rir imaginando quantas doses ele havia tomado.
- Não lembro. Não ri de mim, tá? – Dessa vez a feição dele era triste. – Cadê minha mãe? Quero ir embora. – Bebezão.
- Ela estava cansada e já foi, eu e Pat vamos te levar. – Ele apenas assentiu com a cabeça.
Já no carro, a dificuldade para colocar John no banco de trás era grande. Ele estava “desmaiado” e não ajudava nenhum pouco. Depois de muito trabalho, me sentei no banco do carona e esperei Pat dar a volta e tomar seu lugar. Olhamos para o cara em uma posição totalmente estranha no banco de trás e começamos a rir que nem loucos.
- Então, vamos levar ele para a Jenny e ela cura a ressaca dele amanhã. – Pat disse ligando o carro e eu concordei.
Faltando algumas quadras para deixarmos John, Pat parou o carro e me olhou.
- Ainda dá tempo. – Ele disse me olhando e eu apenas sorri. Então ele fez o contorno no fim da rua. – Sabia que você ia querer levar ele para casa, só vou avisando que se ele vomitar na minha sala, você é quem vai limpar. – Gargalhei ainda mais.
- Sim senhor, mas ele não vai fazer isso. Você se esqueceu de que nos últimos dois anos eu quem tenho cuidado dele? – Respondi.
- Pode confessar que você quer abusar dele e não “curar” a ressaca.
- Patrick, eu não vou abusar dele. Olha o estado que ele se encontra. Além do mais, assim que chegar eu faço um chá e amanhã ele não acorda ruim.
- Sei, chá. Mas fala sério, , vai dizer que vocês nunca se aventuraram fora de casa? Eu sou seu amigo, pode falar. – Por que Patrick estava tocando naquele assunto mesmo? Como chegamos àquela conversa?
Eu realmente estava com vergonha, tinha certeza que Patrick tinha exagerado na bebida também, caso contrário não me perguntaria aquilo. Eu apenas ria nervosa.
- Claro que não, eu e esse bêbado aí atrás sempre respeitamos a casa dos nossos amigos e derivados, ok? – Disse séria.
- Mentira, amor, conta pra ele, eu deixo. – Um John completamente bêbado disse levantando um pouco a cabeça.
- John, morre de novo aí, por favor? – Eu disse olhando para trás e vendo que ele realmente havia dormido de novo.
- Agora não adianta mentir, bêbados não mentem. Conte-me. Na Jenny não vale, vocês ficaram um tempo lá, então eu sei que com certeza as paredes dela já presenciaram algo. – Eu ri lembrando-me de um episódio em que nós quase caímos da escada.
- Bom, teve uma vez... – Não terminei de falar e comecei a rir.
- Espera, não foi na minha casa, né? Porque eu acho que não estou preparado para isso. – Neguei com a cabeça. – Garrett? – Ri e confirmei. – Sabia! Banheiro do segundo andar? No quatro de julho do ano passado? – Eu ri ainda mais. – Eu sabia que aquela história de você passando mal era uma desculpa para um sexo rápido de feriado.
- Para com isso, Kirch, eu realmente não estava bem, ok? – Me defendi. – Olha só, estamos em casa e podemos parar com esse assunto.
Enquanto Pat levava John para o quarto, eu ia até a cozinha para fazer um chá de camomila. Isso sempre evitava que ele acordasse com ressaca no outro dia. Quando saiamos e eu também voltava um pouco alterada, tinha que mandar o álcool para o espaço para conseguir fazer o chá dele. Ri com isso, bons tempos.
- Pronto, ele já tá na cama. Agora eu vou fazer o mesmo porque estou morto. – Pat veio até mim, me dando um beijo na testa. Ofereci chá, mas ele apenas negou com a cabeça.
Entrei no quarto encontrando John de sapatos e jogado em cima da cama, por um momento eu ri, me lembrando das várias vezes que o encontrei assim. Dirigi-me até ele, primeiro tirando os sapatos e depois o casaco. Tentei arruma-lo em uma posição mais confortável, mas não consegui sozinha.
- Hey, acorda. Seu chá. – Falei e ele abriu os olhos com alguma dificuldade. Sorriu e bebeu todo conteúdo da xícara.
- Senti falta disso. – Ele disse baixo. Dei um beijo em sua testa e apontei para o travesseiro, pedindo sem palavras para que ele se deitasse direito. – Você vai dormir aqui? – Ele perguntou e eu apenas confirmei com a cabeça.
Fui até a cozinha e deixei a xícara na pia. Voltei para o quarto indo direto para o banheiro, tomei um banho gelado e depois me troquei, indo então até a cama e me deitando ao lado dele.
Acordei no dia seguinte sentindo os protestos do meu estômago. Não abri os olhos de imediato, só fiquei contemplando o silêncio da casa. Quando finalmente os abri, vi que estava sozinha na cama, mas antes de me entristecer, sorri ao ver o pequeno papel ao meu lado.
“Obrigada mais uma vez por estar comigo, acordei sem ressaca, mas com um pouco de vergonha. Não te acordei porque você parece cansada, mamãe veio me buscar. Te amo.”
Eu sorri, é sorri. Porque apesar de todos os acontecimentos, eu nunca duvidaria do amor dele, sabia que todos os “eu te amo” pronunciados eram verdadeiros. Talvez as coisas ainda estivessem confusas, mas eu sabia que tínhamos força de vontade suficiente para passar por cima daquilo.
4.
Quase duas semanas haviam se passado e apesar de me mandar SMS todos os dias, John estava respeitando o espaço que pedi. Ele disse que me reconquistaria como se fosse a primeira vez. Sim, ele usou o filme como exemplo. Eu não podia negar que esse esforço dele me deixava feliz. É claro que eu ainda tinha que cruzar com algumas vezes pela rua ou então na faculdade, mas acreditem ou não ela parou de me infernizar. Mas é claro que a existência dela já era suficiente para tirar minha paciência. Outra novidade foi a transferência de um aluno para minha sala, ele veio de NY, não me recordo muito bem o motivo. Pela primeira vez desde que comecei a estudar, alguém falava normalmente comigo, era o nome dele. Ele era interessante, mas nada nele chegava aos pés de John. Era bom não me sentir o ET, mas só isso, eu via nele uma grande amizade e nada mais, esperava que ele também me visse apenas como uma amiga.
Sai meio apressada da aula, queria conseguir almoçar direito antes de ir para o trabalho. Há dias eu não comia algo que prestasse.
- Hey! – Olhei para trás e vi me chamando. – Indo para o trabalho? – Confirmei com a cabeça. – Vamos, te dou uma carona, vou passar lá na frente.
Aquela carona definitivamente tinha caído do céu.
***
Eu aproveitava os minutos que tinha sem trabalho para estudar, mais uma semana de provas estava vindo. Em pensar que em mais dois anos eu me formava. Não havia recebido nenhuma mensagem hoje, o que achei estranho.
Fui tirada dos meus devaneios com meu celular tocando.
- Oi Jenny. – Atendi alegre.
- Oi meu bem, John ainda tá com você? O celular dele só dá desligado. – Ela disse.
- Eu não vi o John hoje, Jenny, ele disse que estaria comigo? – Perguntei já com mil besteiras na cabeça.
- Ele saiu de casa dizendo que ia te fazer uma surpresa, te levar para almoçar antes do trabalho. Ele não apareceu?
- Não, ele não apareceu. – Meu coração deu um pulo, eu já imaginava que ele poderia estar com . Mas essa certeza foi mandada para o espaço assim que vi a atravessando a rua com algumas amigas. – Eu vou ligar para os meninos, não se preocupe. Eu te aviso quando encontrar ele. – Eu estava preocupada, ele não era de sumir assim, mas confesso que estava aliviada por saber que ele não estava com a vadia loira.
Garrett? Não.
Kennedy? Não.
Jared? Não.
Dirk? Não.
Minha última esperança. Patrick? Não.
Estava realmente preocupada agora, nenhum dos meninos, nem mesmo Dirk havia falado com ele.
Pensei. Pensei. Pensei.
Mesmo com a mínima possibilidade de acertar, peguei o celular discando o número tão conhecido. O número de casa, da nossa casa.
Os toques eram insistentes, mas ninguém atendia. Liguei mais de cinco vezes seguidas, algo me dizia que ele estava lá. Na última tentativa, deixei cair na secretaria eletrônica, sorri quando nossa mensagem começou.
“Você ligou pro John e pra . Não atendemos porque não queremos falar com você ou porque estamos fazendo algo mais interessante, se é que você me entende. Liga depois, ou não!”
Gargalhei ao ouvir aquilo, já tinha perdido as contas de quantas vezes eu tinha trocado aquela mensagem, mas ele sempre colocava algo pior.
- John, eu sei que você está aí. – Mentira, eu não sabia, mas algo me dizia para tentar. – Posso saber por que você disse que ia me buscar e não apareceu? Você deixou todo mundo preocupado. Daqui a pouco eu estou aí, não ouse deixar a porta trancada. – Desliguei.
Inventei uma dor de cabeça qualquer para poder sair mais cedo do trabalho. Ninguém havia conseguido falar com ele e o celular continuava desligado, o aperto no peito ficava mais forte e parecia que meus passos não eram suficientes para chegar até o apartamento.
Quando finalmente parei em frente a porta, rezei para que minha intuição estivesse certa. Girei a maçaneta e a porta branca se abriu, foi como um alívio para o meu coração.
- John? – Chamei e logo o vi sentando no chão, encostado em um sofá. Ele abraçava os joelhos, tão frágil, tão vulnerável. Quem costumava ser daquele jeito era eu, não ele. Ele me olhou e eu vi que seus olhos estavam vermelhos e inchados. – Hey, o que aconteceu? – Perguntei me sentando ao seu lado, o abraçando.
- Você não me ama mais? – Ele me surpreendeu com aquela pergunta.
- Do que você está falando? É claro que te amo, John, infinitamente, você se esqueceu? – Respondi ainda meio chocada.
- Eu fui te buscar hoje, mas vi você entrando no carro de um cara. Você parecia tão feliz, a felicidade que eu tirei de você tinha voltado. – Agora ele chorava, chorava feito um bebê.
- Olha para mim. – Com as mãos, fiz com que ele me olhasse. – Aquele era o , apenas um colega que me ofereceu uma carona, nada mais. Nada mais. – Ele deu um pequeno sorriso, me abraçando desajeitado. – Vamos para casa, sua mãe está preocupada.
- Você vai comigo? Fica comigo, por favor, não me deixa. – E lá estavam as lágrimas mais uma vez.
- Claro, eu vou sim. – Sorri.
Assim que entramos no carro, disquei para Jenny, avisando que estávamos chegando. Torci para que não chamasse a atenção de nenhum agente de trânsito, enrolei tanto para fazer minha carteira de motorista internacional que acabei me esquecendo.
Quando chegamos, fui com ele até o quarto e fiz um sinal para Jenny, avisando que ficaria ali. Não demorou muito para que ele adormecesse. Mais uma vez eu o olhava e via fragilidade misturada com tristeza.
- Onde ele estava? – Ela perguntou assim que entrei na cozinha.
- No nosso apartamento. Tentei a sorte e era lá que ele estava mesmo. – Tentei sorrir.
- Eu... Estou preocupada. – Jenny disse receosa. Não tive uma resposta, apenas abaixei a cabeça e concordei. O fato era que, depois daquilo, eu também estava preocupada.
Uma coisa que eu nunca imaginaria era vê-lo naquele estado. Eu contaria nos dedos as vezes que o vi chorando, e chorar de rir não entrava nessa estatística.
- Preciso ir, Jenny, eu nem avisei ao Patrick, tenho certeza que ele está preocupado.
- Quer que eu te leve?
- Não precisa, fica com ele e qualquer coisa me ligue. Vou ficar o tempo todo com o celular, não importa a hora, se ele precisar de mim, eu venho.
Fui andando até o ponto de táxi, estava alheia ao mundo. Tentava colocar na minha cabeça que aquilo tinha sido um ataque de insegurança e nada mais.
- Finalmente você chegou. – Dei de cara com um Pat preocupado assim que abri a porta.
- Desculpa, eu me esqueci de te ligar. – Disse jogando a bolsa no chão e me sentando no sofá.
- O que aconteceu? John tá bem? – Ele sentou-se ao meu lado.
- Acho que sim, na verdade, eu não sei. Sabe onde ele estava? – Pat negou com a cabeça. – No nosso apartamento, cheguei lá e ele estava sentado no chão, chorando, dizendo que eu não amava mais ele.
- Isso é sério? Quer dizer, nós estamos falando de John Cornelius O’callaghan V. O cara de pedra e tal.
- Eu sei, mas isso é sério sim. Tive que levar ele para casa e ficar lá até que ele pegasse no sono. Você não imagina a sensação horrível que foi ver ele daquele jeito, um jeito que eu nunca imaginei. – Patrick ficou estático e o silêncio permaneceu por alguns minutos. –Preciso de um banho e cama, Pat, boa noite. – Dei um beijo em sua testa e ele apenas piscou.
***
- Acorda, caramba. Telefone. – Pat gritava enquanto quase derrubava a porta do quarto.
- Vai se ferrar, Kirch, hoje é sábado, me deixa dormir. – Respondi jogando um dos travesseiros como se pudesse atingi-lo.
- É sua sogra, abre logo essa porta. – Agora ele ria.
Assim que ele disse que se tratava de Jenny, dei um pulo da cama e corri para abri-la. Corri quase tropeçando e, quando dei de cara com Pat, ele riu ainda mais.
- Jenny? – Atendi.
- Desculpa te acordar, meu amor, sei que é cedo. Peça desculpas ao Patrick também, mas seu celular estava desligado. – Ela se desculpou e então eu vi que meu celular havia descarregado durante a noite. – Liguei pra te chamar pra almoçar com a gente hoje aqui em casa, acho que vai fazer bem ao John.
- Claro que vou Jenny. Vou aproveitar que o Pat acordou e ele me leva.
- Chame-o também, eu vou adorar. Se você puder vir um pouco mais cedo, para quem sabe conversar com John.
- Sim, tudo bem. Só vou tomar um banho e estou indo.
Desliguei e sai em direção ao quarto de Patrick.
- Acorda, Patrick! Jenny chamou a gente para almoçar lá.
- Vou almoçar com meus pais hoje, . – Ele disse voltando a dormir.
- Tudo bem, mas você ainda vai me levar lá. Preciso passar no apartamento antes, tem algo que preciso pegar.
- Eu te odeio cara, hoje é sábado e ainda são 9am.
Eu apenas ri, sabia que assim que terminasse meu banho, ele estaria pronto me esperando. E foi o que aconteceu, apesar de emburrado, seguimos até o apartamento. Eu havia pegado de volta a chave depois do episódio em que John passou o dia lá. Assim que Jenny falou sobre o almoço, me veio uma ideia na cabeça. Eu passaria no apartamento e pegaria o quadro que tinha mandado fazer, queria que ele ficasse com John.
- O que é isso? – Pat perguntou assim que deixei o quadro no banco detrás e voltei ao meu lugar no passageiro.
- Um quadro que mandei fazer. Meu e do John. Quero levar para ele. – Ele apenas concordou.
Não estávamos conversando muito aquele dia, as coisas ainda estavam meio confusas e a gente não queria fala sobre nossas preocupações sobre John. No caminho, algo novo me chamou a atenção. Com o grito que dei, Pat se assustou e quase bateu o carro.
- O que foi caramba? Você quer matar a gente? – Ele disse assim que parou o carro, mas não prestei muita atenção.
- Patrick, desde quando tem uma sex shop aqui? – Eu disse olhando a grande loja pintada em tons de rosa com um letreiro escrito “Afrodite Sex Shop”.
- Desde quando você frequenta esse tipo de lugar? – Ele me olhou surpreso, eu queria rir.
- Qual é, frequentar esse “tipo de lugar” é normal. Quanta caretice, Kirch.
- Você não vai me pedir para entrar e te ajudar a escolher uma lingerie sexy, vai? – Não aguentei e comecei a gargalhar com esse comentário.
- Não, seu idiota, quando eu vier comprar algo, virei sozinha.
Ele riu e deu partida no carro novamente, em menos de dez minutos eu estava descendo em frente a casa branca com azul que eu conhecia tão bem. A janela do quarto de John ainda estava fechada, o que provavelmente significava que ele ainda estava dormindo. Preguiçoso, eram quase 11am.
- Que bom que você chegou, cadê o Patrick? – Jenny questionou assim que entrei.
- Ele foi almoçar com a família, lhe mandou um grande beijo. – Inventei essa última parte e ela sorriu. – Então, ele ainda está dormindo? – Perguntei e ela sabia a quem eu me referia. Assentiu com a cabeça e fez sinal para que eu subisse as escadas. Foi o que fiz.
Abri a porta lentamente, como eu sentia falta daquela visão todos os dias de manhã. Ele como sempre espaçoso e com o lençol em apenas metade do corpo. Acho que fiquei ali apenas olhando mais tempo do que pretendia, só quando ele se mexeu e abriu os olhos que sai do meu transe.
- Hey. – Disse assim que ele me olhou e sorriu.
- Que ótima maneira de acordar. – Ele disse e bateu com a mão no espaço vazio da cama. Aproximei-me e me sentei. – O que é isso? – Ele apontou para o quadro.
- Era para ser uma surpresa, para depois que você chegasse da Warped. – Ele não sorriu, apenas abaixou os olhos. – Trouxe pra você, se você quiser, é claro. – Quando virei o quadro para que ele pudesse vê-lo, não havia sorriso em seu rosto, apenas uma expressão triste seguida de um olhar cheio de lágrimas.
- Eu te fiz tão mal, e você continua aqui. Acho que eu não te mereço.
- Não começa com isso, John. Eu não quero falar sobre o que passou. Eu levo o quadro de volta, não tem problema. – Eu não sabia porque, mas aquelas palavras ao invés de serem boas pro meu ego, apenas me deram raiva. Eu odiava vê-lo daquele jeito, ele não era um coitadinho, ele deveria estar tentando me reconquistar ou sendo malicioso por me ter ali no quarto e na cama dele e não se colocando como a pior pessoa do mundo.
- Não, eu quero ficar com ele.
- Ótimo, vou descer para ajudar sua mãe.
- Amor. – Ele segurou minha mão antes que eu me afastasse da cama. – Espera, fica aqui um pouco.
Continuei sentada e ele ficou observando o quadro por alguns instantes. Sorri com a cena. Depois de algum tempo ali, vi que ele estava diferente, parecia mais cansado, mas continuava extremamente lindo. Será que algum dia John Cornelius O’callaghan V ficaria feio? Acho que nunca.
- Sinto tanto sua falta. – Minhas palavras saíram sem controle, me arrependi assim que vi o olhar surpreso que ele me direcionava. Desde nossa separação, eu nunca disse de verdade o que estava preso em minha garganta. Era sempre mais fácil fugir e não encará-lo.
Algo mudou drasticamente depois da festa do orfanato, eu não sentia mais como se estivéssemos separados, tanto é que eu não impedia mais que ele me chamasse de “amor”. Eu queria vê-lo, falar com ele ou apenas ler uma das mensagens que ele me mandava todos os dias. Eu só precisava saber que ele não havia me esquecido.
Minhas lágrimas no travesseiro se tornaram cada vez mais escassas, porque de alguma maneira eu me sentia mais próxima dele, como se ele estivesse apenas viajando. Já que estava ali, eu sentia que precisava descarregar toda aquela angústia.
- Sinto falta de acordar todos os dias e te ver esparramado na cama, como se fosse só você ali. Sinto falta do jeito que você tenta cantar quando escova os dentes de manhã. Sinto falta de como você sempre diz que tá ficando calvo e gordo. Falta de quando você me pergunta se vou te amar do mesmo jeito quando tudo isso começar a acontecer, porque, apesar de saber da minha resposta, você sempre precisa que eu confirme que você é tudo pra mim. Sinto até falta da sua mania de guardar os copos virados pra baixo. Mas, acima de tudo, John, eu sinto falta de te tocar, sinto falta de todas aquelas sensações que tomam conta de mim quando você apenas me olha. – Sim, eu estava sendo fraca, ou não, mas estava falando tudo que eu precisava. Um peso começava a sair das minhas costas e inconscientemente eu agradecia por aquilo. Eu não sabia que reação esperar dele, nem sabia o que eu queria que ele fizesse.
- Eu sinto falta de acordar e te ver encolhida na cama porque, apesar de não saber, era isso que você fazia todos os dias para que eu pudesse me esticar. Sinto falta de ver você passando a mão na barriga em frente ao espelho antes ou depois do banho, você não imagina quantas vezes eu desejei que aquilo fosse verdade. Sinto falta da sua cara sapeca quando abre o box enquanto tomo banho, você sabe que sempre tem espaço para você, mas eu sei que você gosta quando eu digo que te quero ali comigo. Sinto falta de te pegar escondida com um pote de Nutella e assistindo Dirty Dancing. Sinto até falta de te ouvir suspirar pelo Al Pacino quando vemos algum filme dele. – Dessa vez foi ele quem disse.
Coloque Misery, do The Maine, para tocar.
Eu tinha vontade de começar a chorar, mas como num impulso, não foi isso que fiz. Fiz algo que meu corpo pedia há algum tempo. Ajoelhei-me na cama e beijei John. Não me importava se ele havia acabado de acordar, aliás, eu estava certa que ele não tinha mal hálito. Ele não pensou duas vezes, colocou as mãos em minha cintura e me apertou com força, como se eu pudesse fugir a qualquer momento. Eu sabia que ninguém nos interromperia, então não parei, não queria parar. Fui me ajeitando em cima dele, com uma perna de cada lado, o quadro nesse momento já estava no chão. Deixei a boca dele de lado e dirigi meus beijos para a tatuagem do pescoço – Amor – talvez aquela fosse a tatuagem que mais nos representava, mesmo tendo sido feita muito tempo antes de nos conhecermos.
Minha blusa foi arrancada com muita facilidade e nenhuma delicadeza, tenho certeza que ele agradeceu por ela ter botões na frente. John desceu os beijos do meu pescoço para os seios ainda cobertos pelo sutiã e depois para minha barriga, me contrai, ele sabia que eu tinha cócegas, mas não parou. Calmamente ele dirigiu as mãos para o zíper na lateral da saia, abrindo-o sem quebrar o contato de sua boca com minha pele, que se arrepiava mais a cada segundo. Com uma delicadeza que não cabia no momento, ele terminou de me despir e despiu a si mesmo, eu estava ali entorpecida, apenas entregue a ele e feliz. Feliz. Não tínhamos pressa, não tínhamos fúria. Apenas saudade e amor. Lancei um olhar preocupado em direção a porta, isso foi suficiente para que ele se levantasse e fosse trancá-la. Eu encarava a janela quando senti meu corpo ser prensado contra a cama com força, eu via a excitação nos olhos dele e sabia que eu estava do mesmo jeito. Um beijo demorado e a permissão para que aquele pequeno espaço que havia entre nós fosse colocado de lado. Lá estava eu, com as pernas em sua cintura, enquanto ele investia em mim com um cuidado sem tamanho, o que me deixava com mais prazer. O sentia sem pressa. Eu conseguia aproveitar cada sensação como uma coisa única, meus arrepios e as contrações dos meus músculos já eram involuntários. Eles obedeciam a um só estimulo: John O’callaghan.
Minha mão viajava por cada centímetro daquele corpo já tão conhecido. Seus olhos fechados com força denunciavam o quanto aquele momento havia sido esperado. Eu só conseguia apertá-lo ainda mais contra mim. Só conseguia pedir por mais. Pelo céu e inferno de cada dia, eu merecia mais.
Ele me proporcionava algo que nenhum outro homem jamais poderia. Se eu o odiasse por mil anos, por mil anos eu seria privada de todos aqueles prazeres. Se eu não o tivesse conhecido, nunca saberia o que é estar completa, seria apenas mais uma alma vazia e infeliz.
Queria gritar, sim, eu precisava. Mas o pouco de lucidez que ainda tinha fez com que eu me controlasse. Eu ainda considerava um desrespeito da minha parte fazer o que estava fazendo na casa da minha sogra. Ex-sogra. Sogra.
O suor fazia com que o cabelo bagunçado de John grudasse em sua testa, eu não deveria estar em uma situação diferente, sentia aquele calor escapar por entre meus poros. Minha respiração era descompassada e eu sabia que havíamos chegado ao extremo de nossa felicidade, de nosso prazer.
Abri meus olhos com alguma dificuldade, talvez com medo de acordar de um belo sonho. Mas assim que vi aquela boca curvada em um sorriso tímido, tive a certeza de que não era apenas um sonho. Observei a marca de minhas unhas em seu braço, com certeza ficaria vermelho por algum tempo. Fiz uma trilha de beijos como se aquilo fosse fazer com que as marcas desaparecessem. Mas o que eu desejava no meu íntimo, era que nós desaparecêssemos, assim viveríamos aquilo para sempre, sem ter que voltar a uma dura e triste realidade.
5. Parte I
- Então... Vocês transaram e, logo depois que ele dormiu, você saiu correndo sem deixar nenhum mísero bilhete? – Patrick me perguntava com uma sobrancelha levantada.
- Exatamente. – Respondi, esperando um julgamento negativo da parte dele.
- Uau.
- Uau? É só isso? Você não vai brigar comigo ou qualquer coisa do gênero? – Perguntei espantada.
- Não, sua bocó. Vem aqui. – Pat fez um sinal com as mãos para que eu encostasse a cabeça no ombro dele e em seguida desligou a TV. – De certa maneira, eu te entendo, as coisas aconteceram relativamente rápido. Vocês terminaram, ficaram um tempo sem se falar, se reencontraram, voltaram a conversar, transaram e provavelmente John está com o coração partido agora. – Ele riu. – Brincadeira, ou não. O fato é... Que não existe o certo ou errado, tenho certeza que os dois aproveitaram o momento. Só espero que isso não cause muita confusão, BFF.
- Já está causando, Kirch, já está causando. – Disse, já me levantando e dando um beijo no topo da cabeça do meu melhor amigo; uma pontada de arrependimento me invadia. Ao mesmo tempo em que achava que tinha feito a coisa certa, o que estava com vontade de fazer, eu me sentia uma idiota. Assim John iria sempre pensar que poderia fazer comigo o que quisesse, e então era só se fazer de coitado que eu voltaria correndo.
“Eu já imaginava que quando acordasse você não estaria aqui. Deixei para te mandar essa mensagem apenas à noite porque sabia que você precisaria do seu espaço, e eu entendo. Sei que você deve estar pensando que eu me fiz de coitado só para conseguir sua confiança de volta, mas pela primeira vez em todo esse tempo que nos conhecemos... Você está errada. Eu te amo, sempre vou te amar e é por isso que digo que vou conseguir te conquistar outra vez, nem que eu precise fazer isso todos os dias. Você é tudo para mim, e sei que sabe e acredita nisso. Boa noite, eu te amo... infinitamente!”
Ele sabia como eu me sentia, sempre soube. Isso me deixava em uma enrascada pior ainda. De certa maneira, eu estava aprendendo a viver sem ele, e nessa reaproximação eu percebi que só estava mascarando toda falta que sentia dele. Decidi que não era hora de fica me martirizando com aquilo, não ainda. Precisava dormir porque a semana não esperaria para que eu pudesse me fazer de coitada e dormir para sempre.
***
O barulho do despertador parecia mais insuportável que nunca. Já haviam passados duas semanas desde o “ocorrido” e, estranhamente, John havia sumido. Não apareceu para me buscar, nem depois da aula e nem no trabalho. Perguntar dele para Patrick não adiantava, as únicas palavras dele eram “John está bem, , relaxa”.
Eu estava achando aquele silêncio completamente estranho, não que eu quisesse que ele ficasse correndo atrás de mim – ou talvez quisesse – no fundo eu tinha medo que ele tivesse me esquecido.
Aquela última aula estava demorando mais que o previsto, ou era apenas eu mesma que não conseguia me concentrar. Assim que o professor nos liberou, sai correndo da sala o mais rápido que pude, precisava de um ar – também precisava ver se John estaria me esperando. Não, ele não estava.
- Hey, , carona para o trabalho hoje? – Era , com um sorriso imenso no rosto. Não tive como negar, seria bom porque ele sempre me fazia rir. Quando estava dando a partida no carro para sairmos, sentimos um baque na traseira, outro carro havia nos acertado. Era só o que faltava pra completar meu dia. Antes de sequer de pensarmos em sair do carro para ver o que havia acontecido, vi a porta do meu lado ser aberta e dois braços me puxarem para fora.
- O QUE VOCÊ ESTÁ PENSANDO AO FICAR ENTRANDO NO CARRO DESSE CARA?! – Era John em uma versão que eu nunca havia visto antes. – O QUE VOCÊ ESTÁ DANDO PARA ELE EM TROCA DESSAS CARONAS? – Ele continuava e eu não tinha nenhuma reação, só conseguia olhá-lo com medo.
Em questão de instantes, pude ver indo para cima de John. Ao me soltar, me desequilibrei e cai no chão. Nem ao menos conseguia levantar, eu estava vendo aquela cena, os dois já caídos no chão, brigando. Tudo se passava em câmera lenta, vi pessoas correndo e separando os dois, enquanto alguém veio e me ajudou a levantar.
- Vamos embora. – Foi a única coisa que John disse antes de começar a me puxar com força pelos braços outra vez.
- Você está louco? – Finalmente consegui dizer. – O que você pensa que está fazendo, John? Que papel ridículo foi esse?
- Vamos para casa conversar. – Ele continuou ainda sem soltar meu braço. caminhou até nós na intenção de não deixar que eu fosse com John, mas eu não queria outra briga, nem acreditava na que acabara de acontecer, eu precisava tirar essa história a limpo.
- Está tudo bem. – Disse para enquanto caminhava até o carro de John, ainda com ele ao meu lado me segurando pelo braço.
5.2
John estacionou o carro em frente ao “nosso” apartamento, eu ainda não conseguia pensar direito no que estava acontecendo. Olhava para o lado do motorista e não reconhecia aqueles olhos, todas as possibilidades estavam passando pela minha cabeça naquele momento.
Ele estava bêbado?
Tinha usado algum tipo de droga?
Estava possuído?
Mas não, eu só não queria enxergar que aquele John sempre existiu, ele só não tinha se mostrado ainda e sinceramente... Eu odiei conhecê-lo.
- Desce. – foram as primeiras palavras que eu ouvi saindo daqueles lábios que antes só haviam me pronunciado palavras carinhosas.
Desci, era o que eu poderia fazer. Naquele momento eu sentia medo, medo que ele pudesse me fazer algo, medo da possibilidade de me arrepender de todos os momentos que já tínhamos vivido até aquele dia.
Subimos o elevador sem trocar uma palavra, eu não consegui olhar para ele e pela minha visão periférica consegui ver que em nenhum momento ele me olhou.
- Se eu dissesse que não planejei isso, ajudaria? – John disse depois de um silêncio no mínimo constrangedor, já dentro do apartamento.
- Se você dissesse que aquele não era você, ajudaria. – respondi. – Mas acho que aquele era exatamente você.
Ele me olhou com aqueles olhos verdes, já brilhando pelas lagrimas que eu conseguia ver que estavam por vir. Mas eu não conseguia chorar, não conseguia me sentir triste, não conseguia sentir pena. Tudo que sentia era um grande vazio, uma grande vontade de acordar de um pesadelo, mas aquilo não aconteceria, porque não era um sonho. Meu príncipe encantado havia se tornado o vilão do meu conto de fadas, e no fundo, eu sabia que havia chegado o momento. O momento que eu não esperei, o momento que eu não achava que pudesse acontecer, mas estava acontecendo, era o fim.
- Acabou, John. – eu disse em um impulso e com vontade de sair correndo dali o mais rápido possível. Ele não disse nada, mas no fundo eu torcia para que ele só pronunciasse um “tudo bem” e assim sairíamos dali sem nenhum sofrimento a mais. – Isso não pode continuar, nossos sentimentos não são um jogo. Onde você me trai, eu te perdoo, você me trai outra vez e acha que é meu dono.
- O que aconteceu hoje foi um erro, , eu me descontrolei. E o que aconteceu com foi um erro maior ainda, eu aprendi e entendi o que eu realmente quero, isso nunca mais vai acontecer. Eu tenho ficado louco sem você comigo.
- Você me machucou John. – ele me olhou com certa preocupação. – Não foi fisicamente, o que aconteceu hoje não foi responsável por 1% de toda dor que eu senti. E eu estava disposta a esquecer, mas eu simplesmente não posso.
- Por que você não pode? Por acaso já tem vontade de começar algo com aquele idiota que estuda com você? – vi os olhos calmos e arrependidos se tornarem os mesmos de alguns momentos atrás, quando me tirou do carro de . – É POR ISSO? – ele gritou me pegando pelos braços com força. – ME RESPONDE!
- PORQUE EU NÃO MEREÇO ESSE IDIOTA QUE VOCÊ SE TORNOU – respondi na mesma intensidade e com todo ar que tinha em meus pulmões. – E porque tem me tratado muito melhor que você, talvez eu devesse dar a ele uma chance.
Lana Del Rey – Gods & Monsters
Se eu tivesse pensado mais um pouco, não teria deixado que aquela frase saísse da minha boca. John não estava em seu juízo perfeito, e eu não podia provoca-lo mais, não sozinha com ele naquele apartamento. De fato, ele estava fora de si, pois tudo que consegui sentir foi uma ardência do lado esquerdo e em seguida meu corpo estava no chão. Olhei para o tapete vermelho da sala por alguns segundos, mas que parecera uma eternidade. Até conseguir, enfim, ter certeza do que havia acabado de acontecer. John havia me dado um tapa. Um tapa. Um tapa. Repeti aquilo mentalmente ate que pudesse realmente acreditar. Mas ainda assim, não conseguia encara-lo. Olhei em volta, apenas procurando minha bolsa que havia caído junto comigo, quando a vi apenas estiquei o braço o suficiente para pegá-la. Um leve desequilíbrio ao tentar me levantar fez com que John viesse rapidamente até mim, mas eu estava sentindo nojo dele, a ultima coisa que queria era que ele me tocasse.
- Amor... Amor, me desculpa. Eu não... – ele começou.
- Cala a boca John, e se você tiver ainda um pouco de respeito por mim vai me deixar sair daqui e não vai me procurar. Porque nesse momento eu estou odiando você. – o recado parece ter sido entendido, me levantei e fui em direção à porta sem ninguém ao meu encalço. Precisava de ar, precisava sumir, precisava de Patrick, precisava ficar longe de John.
Ainda não sabia como, mas era o que iria fazer daquele momento em diante. Mas a pior constatação que eu poderia fazer naquele dia? Eu amo ele. Eu ainda amo ele.
6.
Colocar U2 – All I Want Is You para tocar.
“Você diz que quer diamantes num anel de ouro
Você diz que quer que sua história permaneça em segredo
Exceto todas as promessas que fizemos
Do berço à sepultura
Quando tudo o que eu quero é você.”
Como a gente sabe que realmente acabou? Sonhos que pareciam ter toda importância, hoje já não valem mais nada. Alguém que era perfeito, mesmo com todos os seus defeitos, simplesmente desaparece.
Já tinha perdido a noção do tempo, o teto me parecia bem interessante enquanto eu remoía dentro de mim toda a angustia que eu sentia – Acabou. – Naquele momento, eu só conseguia pensar em duas opções para seguir minha vida. A primeira, entrar em uma depressão profunda desistindo de tudo, inclusive de viver. E a segunda, que me parecia mais interessante do que me matar, levantar a cabeça mesmo que fosse tudo uma encenação, esperar o ano terminar e voltar para minha casa. Como se eu já sentia que aquela cidade era o meu lar?
- Hey, cheguei. – Olhei para porta vendo Patrick, sabia que aquele olhar significava pena, mesmo que ele não admitisse. – Vamos almoçar? – Olhei Patrick por mais alguns segundos, sabia que estava levando meu amigo ao fundo do poço comigo, e eu não tinha esse direito. Sorri e agradeci mentalmente por ter um anjo sempre comigo.
- Claro, vamos almoçar. Mas hoje quem prepara o almoço sou eu. – Disse já me levantando da cama, correndo para dar nele o abraço mais forte e mais carinhoso que eu podia, essa era a minha forma de dizer “obrigada”, e ele sabia.
**
- Não precisa fingir pra mim que já esqueceu tudo que aconteceu você sabe que te conheço muito bem. – Pat disse enquanto eu apenas bagunçava a comida no prato.
- Eu não estou fingindo Pat, tem só uma semana, eu só não quero te levar pra baixo junto comigo. – Respondi.
- Você não está me levando pra baixo, minha missão que é te trazer pra cima de novo, como você sempre foi. – Ele disse se levantando e sentando-se ao meu lado, me puxando de lado para um abraço. – E eu tenho uma novidade pra você, acho que isso vai te ajudar. – O olhei pedindo para que continuasse a falar. – Fomos contratados para uma mini tour na Inglaterra, vamos passar algumas semanas viajando.
- Vou ficar sozinha então? - Perguntei, aquela noticia não me agradou.
- Você vai ficar em paz. John vai estar longe, vai por andar na rua sem medo de encontrá-lo. Você percebeu que tem uma semana que nem a janela do quarto você abre? Acha que isso é saudável? Olha pra você, linda e inteligente. Tem um futuro brilhante pela frente e tá pensando em desistir de tudo por causa de um babaca, que apesar de meu amigo é um babaca. Você acha que isso não me afeta também? Eu te tenho não só como uma amiga, mas como uma irmã, é minha obrigação te fazer enxergar que a vida não é só a decepção que você teve com John, ela é muito mais que isso. Existe vida fora dessa casa. – Patrick terminou e eu conseguia ver a veia do seu pescoço saltada, isso era sinal de que ele estava nervoso.
Apesar de querer respondê-lo, dizer que ele estava coberto de razão, eu não consegui. Precisei sair dali correndo para o banheiro, de alguma maneira, o pouco de comida que consegui comer não caiu muito bem em meu estomago.
Pat correu atrás de mim, nem tive tempo de pedir para que ele saísse, ele segurou meu cabelo enquanto eu fazia aquele papel ridículo, não era a primeira vez, mas eu sempre morria de vergonha.
- Você está bem? – Ele perguntou e eu afirmei com a cabeça.
- Deve ter sido a comida, meu estomago já tinha se acostumado com uma semana só de chás e biscoito. – Respondi tentando tranquiliza-lo.
- Tem certeza de que é só isso? – O olhei em duvida, não sabia o que ele queria dizer com aquilo, mas apenas confirmei que, sim, era apenas um mal estar. – Você vai ter que se cuidar enquanto eu não estiver aqui, e preciso confiar em você pra isso, senão como vou ficar em paz?
- Pode confiar, BFF, eu vou me cuidar. Vou dar a volta por cima, pode ter certeza. Meu período de sofrimento foi o dessa semana, eu não me permito sofrer mais. Confie em mim, por favor, eu vou seguir em frente. – Disse.
- Eu confio, agora vá tomar um banho por que você acabou de vomitar. Não vou passar a tarde com você assim, nem sei quanto tempo faz que você não toma um banho. – Ele riu e saiu do banheiro, e eu também só consegui rir. – Obrigada. – Eu disse antes que ele sumisse de vista. Não vi, mas sabia que ele tinha um sorriso no rosto.
Posso dizer que desde o dia do ocorrido, o qual prefiro não me lembrar, aquela foi a melhor tarde que havia passado. Nessa ultima semana passei muito tempo sozinha, Pat sempre tinha reuniões ou tinha que fazer viagens rápidas com a banda. Vez ou outra, a mãe que John ia me visitar. Não que eu a culpasse, mas vê-la sempre me fazia lembrar ele, mas eu estava sendo egoísta, pois ela fora uma das pessoas que mais me ajudou e apoiou em todos os momentos que precisei. Inclusive me arrumando um emprego no qual eu não aparecia há uma semana.
Isso era uma das coisas que precisava resolver e torcer para acharem que eu estava faltando por estar doente. Mas aquela altura, a cidade toda, quiçá o estado todo já sabia do ocorrido. com certeza não deixaria aquilo passar, alias, ela já deveria estar pendurada no pescoço de John naquele momento. Eles devem estar rindo, provavelmente de mim, enquanto eu estou aqui me matando, e começando a desenvolver uma gastrite.
**
No dia seguinte, Patrick saiu cedo e eu passaria o sábado inteiro sozinha provavelmente. Então aproveitei para finalmente abrir a janela do quarto, trocar as roupas de cama e jogar fora todas as coisas que tinham a ver com John. Obviamente, menos todas as minhas roupas, que de alguma maneira, não importava o quanto eu as lavasse, elas sempre iam ter aquele perfume impregnado nelas. E eu estava odiando isso naquele momento.
- Cartas
- Fotos
- Presentes
Eu já estava cansada de ter que olhar de novo para todas aquelas coisas, e já era a segunda vez que tinha que sair correndo para o banheiro naquele dia. Não acredito que vou ter que ir a um médico também.
Já passava das 7pm e Patrick ainda não tinha voltado e nem dado noticias, já começava a ficar preocupada. Havia preparado nosso jantar, torcendo para conseguir pelo menos terminar de comer junto ao meu amigo. Queria que ele soubesse que eu estava tentando, acima de tudo por mim e por ele ficar bem. Estava colocando algumas cervejas para gelar, quando a campainha tocou. Pat sempre fazia isso, saia atrasado e esquecia quase tudo, inclusive as chaves. Mas eu não iria chamar a atenção dele, iria recebê-lo com um super abraço, afinal em alguns dias ele viajaria de novo.
- O senhor sempre esquecendo as chaves, né? – Disse abrindo a porta, sem nem olhar o olho magico.
- Oi. – Respondeu uma voz sem graça, a voz que eu não queria ouvir por um bom tempo.
- John?
7.
- Oi? – ele disse sem me olhar nos olhos. – Nós vamos viajar, acho que você já sabe. Eu queria muito poder conversar com você antes de ir. Porque sei que quando nós voltarmos, talvez você não esteja aqui.
- Cicatriz no olho direito agora? – disse apontando para o curativo que ficava exatamente no mesmo lugar do corte do olho esquerdo, mas dessa vez, no direito. Ele apenas riu, tocando o corte com os dedos e me olhando de novo, esperando uma resposta. – Eu acho que não quero conversar com você, John. – Eu estava sendo sincera.
- Por favor, . – ele continuou.
- Por favor? Por favor digo eu John, não basta tudo que aconteceu? Não basta esse inferno que eu tenho passado? Olha pra mim, olha bem pra mim e me diz se alguma vez você me viu assim. Eu estou acabada, tenho me sentido um lixo e o pior é que eu estou fazendo Patrick passar por tudo isso comigo. Você realmente acha que eu quero conversar? – cuspi as palavras, ali mesmo na porta. Sem nem mesmo convida-lo para entrar. – Eu não consigo, você não pode exigir isso de mim. – Por fim, parei para olha-lo.
Lá estava ele, John Cornelius O’callghan V. com os olhos e nariz vermelhos. Com os punhos fechados, dando pequenos socos no batente da porta. Ele passou um tempo olhando para baixo, olhando para os lados, suspirando. Eu já começava a me sentir mal, não sabia o porquê. Talvez fosse a presença de John, era o maldito enjoo voltando.
- John, acho melhor você ir. – não queria que ele me visse passando mal, então precisava fazê-lo ir embora logo. Mas ele não se moveu. – John, por fav... – Tarde demais, não consegui terminar de falar, só tive tempo de correr ate a escada e torcer pelo gramado que estava a minha frente.
- Amor, você está bem? – ele me segurou pelos braços, ainda me chamando de amor enquanto parecia que eu ia colocar todos os meus órgãos para fora. Tudo doía, tamanha força que eu fazia. Minha cabeça já parecia que ia explodir e eu já não conseguia enxergar nada. Droga, não agora. Eu não podia desmaiar ali, sem nem ao menos Patrick estar presente. Eu estava vulnerável e a única pessoa que podia me ajudar era John. Mas de nada adiantou.
Eu não queria abrir os olhos, sabia a cena que iria encontrar. Só torcia para que Pat já tivesse chegado. Mas acho que não, já que não ouvi nenhum barulho de conversa. Podia sentir dedos passando em minha testa, era John tinha certeza. Podia ter certeza também de que os olhos dele estavam pousados sobre mim. Fingi por mais algum tempo que ainda estava desmaiada, eu não sabia o que faria assim que acordasse. Mas uma hora eu teria que fazer isso.
- Se sente melhor? – foi o que ouvi assim que abri os olhos, e ele estava exatamente como eu imaginava. Ainda tinha os olhos vermelhos e por um instante eu o olhei e esqueci tudo. Por um instante.
- Estou ótima John, acho que agora você pode ir embora. – disse ríspida.
- Hey, será que você pode deixar essas pedras na mão de lado um pouco? Eu sei que você não me quer aqui, e eu vou embora. Mas só depois que Patrick chegar, eu não sou a melhor pessoa, mas você poderia ter desmaiado sozinha aqui, batido a cabeça em algum lugar. Você pode gritar o quanto quiser, mas eu não vou te deixar sozinha.
Tive que apenas concordar, não me sentia nenhum pouco bem e justo hoje Patrick resolveu demorar e nem ao menos me dar noticias. Os minutos que se passaram pareceram horas, o silencio era ao mesmo tempo constrangedor e reconfortante. Como era bom não precisar falar, gritar ou qualquer coisa do gênero.
Mais algum tempo de constrangimento depois, ouvi a porta ser aberta e revelar um Patrick no mínimo surpreso com aquela cena. Eu e John no mesmo cômodo, e os dois ainda vivos.
- Perdi alguma coisa? – ele disse nos olhando ainda sem fechar a porta.
- Perdeu sim, perdeu o juízo. Por que você demorou tanto? Você por acaso tinha combinado isso com John? O que você está querendo, Patrick? Se juntou com ele? – eu disse praticamente partindo pra cima dele. Mas antes que eu pudesse chegar até Pat, John apareceu no meio de nós.
- Olha , eu vim aqui pra tentar conversar. Não que eu ache que mereço o seu perdão, mas eu não queria ir viajar sem nem ao menos tentar e dizer que eu fui idiota. Mas confesso que você consegue ser bem desagradável quando quer, e esse lado seu eu não conhecia. Então fique tranquila, porque eu já estou indo. Até amanhã, Kirch. – dito isso ele saiu batendo a porta.
Era aquilo mesmo que eu ouvi? Ele faz uma merda atrás da outra comigo e agora eu sou “desagradável”? Mas aquilo não ia ficar assim, já estava na hora de John ouvir que eu não era uma menina bobinha que apesar de amar ele desesperadamente iria aceitar tudo aquilo. Saí como um furacão pela porta, passando por Patrick que continuava parado com algumas sacolas na mão. Mais tarde teria a minha conversa com ele.
Coloque para tocar The Maine – These four words
- Hey, HEY, PARE AGORA. – eu gritava e sabia que ele fingia não me ouvir. Mas antes de virar a esquina ele parou e se virou para trás enquanto eu andava como se minha vida dependesse disso. – O que você esta pensando, John? Que pode mudar a minha vida inteira, me fazer acreditar em você e me fazer perder dois anos da minha vida pra depois me trair não sei quantas vezes, me agredir não só emocionalmente como fisicamente. Depois vir aqui, achar que “me desculpa” vai adiantar e nós vamos ser amigos para sempre. É isso? Quem você pensa que eu sou? – cuspi as palavras e ele ainda tinha um olhar duro. Tinha certeza que ele não ia chorar ou ser amável comigo, por que ali, naquele momento nós estávamos com raiva um do outro.
- Então é isso? Você PERDEU dois anos da sua vida aqui? Por que ficou então, por que não foi embora pra viver aquela vidinha miserável sobre qual você tanto escreveu. Sobre qual você tanto reclamava? - ele tinha pegado pesado, mas eu não podia reclamar, também tinha muitas pedras para atirar. – Por quê, hein? Porque eu podia te ajudar nas coisas que você sonhava? Eu era um bom degrau, um alvo fácil? Sinceramente, quem perdeu dois anos fui eu, perdi por ter me arrependido das besteiras que havia feito e por achar que eu nunca seria bom o suficiente pra você. E quer saber? Acho que isso nunca daria certo mesmo, eu e você.
- É, acho que nunca daria certo mesmo, John. Então agora você esta livre pra viver o seu sonho rock star. Eu não estou mais no seu caminho, não precisa mais se arrepender das besteiras que você faz. Aliás, faça muitas. É assim que você sempre gostou, não foi? - completei.
- Exatamente, é uma honra poder ter desistido do maior erro da minha vida a tempo. – dito isso ele finalmente virou as costas e seguiu o caminho de casa.
Eu ainda estava digerindo todas as palavras dele, todas as minhas palavras. Eu sabia que havia dito muitas besteiras, e que nenhuma delas era verdade. Mas eu simplesmente não podia aceitar sair por baixo enquanto tudo que eu mais tinha feito naqueles últimos anos era tentar acertar. Ser uma boa namorada, uma boa amiga. Mas e se as palavras de John fossem verdades? E se aquilo tudo que ele havia me dito, era mesmo o que ele sentia e pensava? Uma dor forte começava a invadir o meu peito enquanto eu caminhava lentamente de volta para casa de Patrick, agradeci aos céus quando o próprio me encontrou no meio do caminho e me abraçou me levando para dentro.
- O que vocês fizeram? Estão loucos? – ele disse e eu nem ao menos consegui responder. Quando entramos em casa, fui direto para o sofá e percebi o casaco do John, ele havia esquecido. Em um acesso de raiva, ou de loucura, comecei a gritar e a rasgar aquela peça de roupa. Patrick correu e ao mesmo tempo em que eu gritava de raiva e rasgava o casaco, eu já chorava desesperadamente por tudo que tinha acontecido.
- Eu odeio ele, Patrick, odeio. – eu dizia ainda em meio a lagrimas e gritos. – Não você não odeia, pelo contrario, você ama ele. – Pat disse em um sussurro, me abraçando com mais força ainda. Não percebi a hora em que adormeci e ali ainda estava ele, nos meus sonhos.
Fim
n/b: Meu Deus! Que fic mais <3 <3 <3 awn! Juro que quase chorei! :') hahahah E sério, parar nessa parte é covardia! hahahah Você precisa fazer uma continuação, porque agora eu quero saber do meu futuro mais que lindo com o O’Callaghan! hahahah Ficou demais mesmo, eu amei!