Monólogo

Escrito por Stelah | Revisado por Lelen

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  Não consigo dormir e essa não é a primeira vez que me acontece. Ontem me deitei ao som do despertador, foi como se eu morresse por algumas horas e quando acordei já era fim de dia. Sinto como se fosse terça, mas já é quase fim do mês.
  Minha cabeça dói num badalar de um sino que eleva minha insanidade a quase hospício. Quero gritar. As paredes querem silêncio enquanto as estrelas os põem a dormir, embora daqui eu veja apenas teto - talvez seja isso minha insônia.
  Está quente, tão quente quanto o inferno. Não que eu já tenha visitado o diabo, apenas sei. Do corredor escuro ouço o pingar da chuva do lado de fora, rega o asfalto que o motorista bêbado trilha quase que inconscientemente o caminho de volta pra casa após uma boa foda.
  A garganta está seca, implorando por água, já faz um tempão que não bebo. Tenho sede, mas não quero levantar. Meu corpo tem preguiça e minha mente quer continuar nesse monólogo. Mais dor.
  Quero que amanheça, não pela esperança de um novo dia, mas pela certeza de que este terá um fim. Esqueço que hoje já é amanhã. Penso em me deitar e isso me apavora. Se eu fechar os olhos pode ser que não queira acordar - pode ser que isso dure para sempre.
  Percebo que falo sozinha, mas não me sinto tão desesperada já que estou na companhia de meus pensamentos.
  Agora é como se uma banda tocasse dentro da minha cabeça, dói tanto que cogito a possibilidade de batê-la contra a parede para saciar a dor, já que não posso arrancá-la e arremessá-la para longe dali.
  Bocejei uma ou duas vezes, nem sei se isso é bom. Na verdade, tudo parece tão monótono agora, tanto quanto minha vida lá fora. De que importa se nada do que penso parece fazer sentido. Me sinto como uma vadia bêbada ou uma vítima de “Boa noite, Cinderela”. Desculpem-me a comparação, mas garotas boas estariam estudando pro vestibular nessas horas. Talvez eu esteja mais insana do que imaginei, falando demais e esquecendo que podem usar isso contra mim...

***

  Ele está tomando banho agora, ouvi o barulho do box ao encostar o ouvido na parede. Confesso, estive fantasiando com o que vive ao lado e isso acaba de tornar a fantasia menos inocente.
  Achei que vi algo, mas era apenas um reflexo. Passei ao nível do delírio e não tenho para onde fugir. Preciso bolar algum plano só como garantia, não que minha vida realmente valha algo, mas um tal de instinto me mandou fazê-lo.
  Daqui o mundo fica menor e solitário...

***

  Pensei em cigarros e como eles me fariam feliz agora. Uma felicidade instantânea e crua, digna do momento em que vivo. Senti o gosto do maldito em minha boca e soltei a fumaça como se ela realmente existisse. Fiquei observando-a pairar até finalmente sumir – ai como eu queria socar minha cabeça contra a parede!
  Fui à cozinha limpar a garganta e quando apaguei a luz fugi como se estivesse sendo perseguida. Fora uma explosão de medo, que já era comum para mim, um medo do qual havia me tornado melhor amiga.
  O barulho da sucção, enquanto implorava por uma última gota, não iria incomodar ninguém, exceto a mim e o copo vazio, então o fiz.
  Estava pensando no quanto gosto de mentir e como costumo fazer isso bem. Embora quisesse realmente pensar em ex-participantes de reality shows estranguladas. Seria obsceno e antiético, apenas de calcinha, sujas de terra e com seus cabelos bagunçados. Espancadas e jogadas no meio de um matagal por algum outro tipo de maníaco do parque, só que um pouco mais seletivo. Então logo outra ex-participante iria passar a mandar cartas para ele na prisão em busca de uma mísera atenção da mídia como sua affair, já que reconstrução de hímen e peitos de plástico não dão mais ibope.
  Agora quero surrar a cabeça de uma delas na parede. Me sinto mal por isso, mas é algo que não consigo conter.
  Estou deitada na cama, não quero ouvir meus pensamentos sujos e por isso tapo meus ouvidos. Mas mesmo que eu queira, não posso fugir de quem sou.



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