Moments - The Five

Escrito por Danielle | Revisado por Beezus

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"Se não for hoje, um dia será. Algumas coisas, por mais impossíveis e malucas que pareçam, a gente sabe, bem no fundo, que foram feitas pra um dia dar certo."
- Caio Fernando de Abreu.

  As luzes coloridas eram a única iluminação do local, a música alta e eletrizante reverberava pelo amplo espaço e os corpos das pessoas se movimentando em sintonia completava o cenário vibrante. Observei o bar posicionado aos fundos da boate e fiz o caminho até ele desviando daqueles que, ao dançarem, surgiram em meu caminho.
  - Um Dry Martini, por favor. - pedi ao barman, que preparou meu drink animadamente. Assim como seus colegas de trabalho, ele movimentava as garrafas e líquidos com uma destreza impressionante.
  Beberiquei a bebida e me recostei no balcão voltando minha atenção a um casal que dançava ali perto. As lembranças me atingiram com a força de um tiro de canhão e quase fiquei tonta quando a imagem vívida dele apareceu em minha mente. Eu sabia que ele não estava ali de fato, mas seria impossível ir àquele lugar sem que o rosto de John surgisse perfeitamente nos meus pensamentos.

Flashback On

  - Eu odeio ser festejada. - murmurei infeliz enquanto me puxava para a pista de dança.
  - Ai, , até parece que estamos te obrigando a vir numa festa enorme do seu aniversário com todos os seus parentes e colegas da faculdade presentes. - minha melhor amiga disse e eu não precisaria olhar para ela para saber que estava rolando os olhos.
  - É, até que você não está errada... É meu aniversário de 21 anos, então poderia ser pior, né? - Incrivelmente daquela vez meu pai não havia insistido para que déssemos uma grande festa, que até apareceria nas revistas de fofocas depois. Ter passado duas décadas tentando me convencer a gostar de ser o centro das atenções e não obter qualquer sucesso deve tê-lo cansado afinal de contas.
  Eu estava mesmo me convencendo de que o fato de ter me arrastado para aquela comemoração seria algo agradável pela primeira vez quando ela começou a acenar animada para um grupo de cerca de vinte pessoas. As duas garotas cercadas por diversos rapazes desconhecidos foram os únicos seres humanos que reconheci.
  - Quem são essas pessoas, ? - perguntei apavorada já sentindo minhas bochechas esquentando pelo rubor.
  - Não está reconhecendo a e a ali? - ela questionou confusa.
  - Sim, mas a e a são as únicas pessoas que reconheço ali.
  - Elas trouxeram alguns amigos, ué. – falou como se aquela fosse a coisa mais normal do mundo. E até seria mesmo algo super simples, se eu não fosse tão tímida, se eu não odiasse ficar sabendo das coisas em cima da hora, se a maior parte das pessoas do grupo não fosse homens, o que significava que não ter me preparado emocionalmente me deixaria ainda mais nervosa e constrangida.
  Não tive tempo de protestar com sobre o assunto e perguntar por que diabos ela estava fazendo aquilo comigo; nós alcançamos o grupo de "amigos" antes disso, e fui obrigada a sorrir para todos e a abraçar uma legião de estranhos que me dava os parabéns. Foi depois de alguns segundos no meio daquelas pessoas que percebi o que estava de fato acontecendo. O motivo de termos saído aquela noite definitivamente não era a comemoração do meu aniversário - , assim como e , estava preocupada em seduzir o rapaz do grupo que lhe agradava. Cada uma delas sorria feito idiota e jogava os cabelos de lado para seu determinado “alvo”. Assim, não demorou muito e elas já haviam me abandonado no balcão do bar da boate e se dirigido para a pista de dança, acompanhadas de três dos meninos que, teoricamente, estavam conosco.
  - E então, de onde você conhece as meninas, ? - um garoto de cabelos castanhos e olhos verdes alegres, perguntou sentando-se ao meu lado no barzinho. Eu o encarei com uma interrogação estampada na cara, afinal, eu não fazia ideia de quem era aquele cidadão. – A me falou seu nome. Também estou aqui pra comemorar seu aniver. – ele explicou ainda sorrindo.
  - Posso te servir alguma coisa, moça? - o barman questionou antes que eu pudesse responder ao rapaz.
  - Uma batida de qualquer coisa está ótimo. - dei de ombros e voltei minha atenção ao amigo de que ainda esperava a minha resposta. - Eu conheço a desde sempre. Meu pai e o dela são sócios numa gravadora. A e a eu conheci através da em uma das ocasiões que vim pra cá de férias. Eu não moro em Los Angeles atualmente. - respondi e peguei o copo que o barman colocou à minha frente, bebericando um pouco do conteúdo. Surpreendentemente o líquido cor-de-rosa era muito gostoso!
  - Você se mudou para estudar? - o rapaz com quem eu conversava falou e bebeu sua cerveja direto da garrafa.
  - É. Eu estudo e moro em Londres... Até o ano que vem, pelo menos. - o silêncio pairou sobre nós depois que respondi à pergunta dele. Foi então que percebi que estava sendo mal educada por não ter perguntado de volta de onde ele era e por que saiu para comemorar o aniversário de uma estranha. - E você?
  - Eu não moro aqui também. Eu sou do Arizona e moro lá, quando estou em algum lugar fixo. Eu sou vocalista em uma banda e viajo bastante.
  - Jura? - arqueei as sobrancelhas surpresa e reprimi o impulso de me desculpar por não tê-lo reconhecido antes. - Qual é o nome da sua banda? Aliás, qual é o seu nome? - eu ri divertida depois de fazer a segunda pergunta lembrando-me realmente que não tinha uma informação tão básica ainda.
  - Eu sou John O'Callaghan, e a minha banda se chama The Maine. Ainda não somos famosos o bastante para sermos conhecidos na Europa, mas quem sabe um dia não chegamos lá, né? - John disse e sorriu para mim.
  - Tenho certeza de que chegarão, John. - falei sinceramente desejosa de que ele conseguisse o que quisesse, embora não o conhecesse o bastante pra tanto. Pelo menos, não ainda.

Flashback Off xx

  O tempo passou e John agora tinha mesmo o sucesso o qual tanto aspirava. Eu também tinha conseguido esse objetivo. A nossa diferença, no entanto, era que eu era vista em filmes e, naquele momento da minha vida, em séries de TV fechada. John era aclamado pelas fãs principalmente quando subia aos palcos.
  Sim, era engraçado e completamente contraditório que uma pessoa tão tímida e que odiava chamar a atenção quanto eu se expusesse tanto a isso por escolher uma carreira em que estar sob os holofotes era uma vantagem e até uma ambição. Mas, estranhamente, o que eu mais gostava de fazer no mundo era dar vida aos personagens pelos quais as pessoas se apaixonariam ao ver um filme, uma série ou uma peça de teatro. Atuar era o que me fazia esquecer de tudo, era o que eu sabia que podia fazer direito de verdade. De certa forma, era o meu jeito de encarar meu medo das pessoas e de me expor de alguma forma para os outros. Eu sempre fui fechada demais, retraída demais, medrosa demais. Subir em um palco ou interpretar uma cena diante de algumas câmeras era o único modo que eu conhecia de me abrir, era quando eu conseguia adquirir coragem e ser o que precisava ser. Eu acreditava de verdade em mim mesma quando atuava, e quando percebi isso, foi impossível não ir atrás do meu sonho de me tornar uma atriz. Felizmente, a vida estava sendo até generosa comigo em se tratando de perseguir esse sonho.
  Apanhei meu celular dentro do bolso e observei debilmente alguns momentos do meu passado registrado em fotos. Naquele mesmo dia do mês, três anos atrás, eu havia fotografado diversos momentos divertidos que vivi naquela boate junto com os meus novos amigos e minhas antigas amigas. Hoje, eu estava ali abandonada, e nenhum deles sequer havia me telefonado para dar os parabéns.
  Mas eu poderia mesmo culpá-los por isso?

Flashback On

  - Ok, ok. Eu vou começar uma música e você vai continuar. Se você errar, toma outra dose dessas de uma vez, sem nem piscar. - John disse colocando o copinho de tequila na minha frente. Eu já estava tão bêbada que além de rir de tudo o que diziam e o que não diziam, praticamente enxergava dois copos diante de mim naquele momento. O'Callaghan encontrava-se na mesma situação, assim como que tinha Zack beijando seu pescoço, que estava jogando charme para Kennedy e que ria feito idiota enquanto Jack imitava o Michael Jackson.
  - Mas você sabe que eu entendo pouco de música. - reclamei e gargalhei alto feito uma estúpida tonta.
  - O combinado é fazer o que eu pedir, . - ele respondeu com um sorriso maligno no rosto e passou as mãos pelos cabelos de um jeito que fez meu coração disparar e minhas mãos suarem nas palmas. Era a bebida que estava dizendo isso ou John ficava mais bonito a cada minuto que passava?
  - Está certo então. – concordei com outra risada histérica.
  - Parabéns pra você, nessa data querida, muitas felicidades... - John começou a cantar cada vez mais alto e os nossos amigos o acompanharam batendo palmas enquanto cantavam. Várias pessoas em todos os cantos da boate também estavam cantando “parabéns pra você” para mim, e talvez eu estivesse bêbada demais para ficar constrangida, mas de repente estava feliz pelo gesto deles. surgiu então de não sei aonde e colocou um bolinho com apenas uma vela sobre o balcão.
  - Isso não é justo! - falei emburrada quando terminaram a música, mas com um sorriso de orelha a orelha estampado na cara. John foi a primeira pessoa a me puxar para um terno abraço, e meus batimentos cardíacos novamente dispararam quando o cheiro de seu perfume maravilhoso penetrou as minhas narinas.
  - Feliz aniversário de 21 anos! - ele disse no meu ouvido e beijou minha orelha, fazendo com que um arrepio percorresse a minha espinha. Um pensamento passou pela minha mente transtornada pelo álcool e foi difícil não transformar meu desejo em realidade naquele instante mesmo: eu precisava beijar John O’Callaghan.

Flashback Off xx

  Andei seguindo uma das laterais da boate e entrei na abertura na parede que dava para uma sala bem iluminada com algumas janelas grandes, de onde era possível ver o movimento na rua. O vidro era fumê, de modo que quem estava dentro via o que acontecia do lado fora, mas quem estava fora não podia ver do lado de dentro. Ali, naquela sala, era possível pensar - pensar até demais. E foi justamente onde tentei me refugiar quando percebi que estava ficando excessivamente interessada em John. Eu não poderia ter nada com ele, então de que adiantaria se realmente ficássemos juntos aquela noite? Dentro de duas semanas eu cruzaria o oceano de novo para terminar a minha faculdade de teatro na Inglaterra, e eu não sabia o que a vida me reservaria depois disso. Além do mais, e se eu me envolvesse muito? E se eu não conseguisse tirá-lo da cabeça nunca e as lembranças com ele me assombrassem assim como as memórias do meu namoro com Ryan ainda faziam a cada vez que eu via adolescentes com uniformes de escolas particulares conversando pelas ruas? Eu não era boa com despedidas, e o conhecimento disso deveria ser o bastante para que eu entendesse que não poderia me envolver com John. No entanto, nada disso bastou para que eu ficasse longe dele quando foi possível estar perto.

Flashback On

  - Quem pensa não casa, . - A voz dele por detrás de mim preencheu todo o espaço e eu senti meu coração dar um solavanco quando as batidas ficaram mais intensas abruptamente. John O’Callaghan definitivamente estava mexendo comigo muito mais do que eu gostaria...
  - Acho que não vou me casar nunca então. Eu penso demais. - comentei tristonha. O açúcar do bolinho de aniversário pareceu espantar boa parte do efeito que a bebida tivera sobre o meu organismo e minha mente estava lívida o bastante para que eu realmente estivesse pensando demais.
  - Engraçado. - John disse e riu.
  - O quê? - perguntei confusa virando-me em sua direção para encará-lo.
  - Pensei que essa boate fosse só pra gente riquinha, os VIPs dos VIPs. E se você é filha de papai rico, é uma modelo ou vocalista de alguma banda de rock, pensar não é algo normal, hein? - ele respondeu e riu.
  - Eu nunca fui muito normal mesmo. - falei e ri também. O que ele disse era ainda mais engraçado para mim porque John era vocalista de uma banda de rock, então, tecnicamente, ele era um dos que não pensava tanto.
  - Acho que foi isso que me atraiu em você então.
  As palavras de John deveriam ser feias e indesejadas o bastante para que eu o deixasse ali falando sozinho e fugisse para bem longe, como eu já havia feito com outros garotos em ocasiões semelhantes. Mas eu simplesmente as amei e acolhi bem rápido. O sorriso que aquela frase formou em minha boca insistia em manter-se na minha face, e depois de alguns segundos tentando apagá-lo, eu simplesmente desisti de fazer isso.
  - Acho que vou te beijar. – John disse de repente pegando-me totalmente de surpresa.
  - Você não pode se apaixonar por mim, John. – falei quando ele se aproximou o bastante para que eu pudesse sentir sua respiração nas minhas bochechas.
  - Relaxa, eu não vou. - ele respondeu e colou os lábios nos meus. Acho que as palavras certas deveriam ter sido "eu não posso me apaixonar por você, John" porque foi exatamente isso o que me aconteceu quando nossas bocas se juntaram. O beijo dele era tão perfeito, tão certo, tão incrível que eu desejei que aquele momento durasse para sempre. A língua de John na minha boca despertava em mim todos os desejos e emoções que eu sequer imaginara ser capaz de sentir.
  Quando ele se afastou de mim, beijando minha testa de leve assim que nos separamos, perguntei-me por que eu era tão fraca, por que não consegui evitar aquilo? Aquele momento era tudo o que eu teria com ele, eu sabia disso, e as lembranças daquela noite só serviriam para tirar a minha paz depois. E talvez eu tivesse sobrevivido a isso e superado o fato, se John não tivesse feito exatamente o que havia prometido. Eu pedi que ele não se apaixonasse por mim, e, bom, ele me obedeceu.

Flashback Off xx

  O nome da boate em cores de neon verde e azul refletiam na água do lago em frente ao prédio onde a Five estava instalada. Todo mundo desejava ir àquela boate, mas o acesso era para poucos. Você só poderia entrar ali se fosse convidada pelo dono em alguma ocasião ou se entrasse em contato com a administração do local e eles lhe enviassem um convite, o que só ocorria após uma análise e aprovação do seu status. É claro que isso não significava que os "convidados" não deveriam pagar a entrada ou a bebida vendida cinco vezes mais cara que o preço normal de mercado. Mas todo mundo queria a chance de cruzar com algum ator da Disney ou rockstar famoso, e isso era o bastante para que a Five fosse tão cobiçada.
  Eu ainda estava parada em frente à grande janela lembrando-me dos primeiros dias que se passaram desde o meu beijo com John, três anos atrás, quando eu ainda estava na cidade, e ele sequer me telefonara. Depois, eu soube que ele estaria presente na grande recepção que daria para comemorar seu próprio aniversário de 22 anos, mas, graças aos céus, recebi uma proposta para estrelar em um teatro razoável em Londres e acabei apenas me desculpando com minha amiga por não ter comparecido ao evento. Minha carreira virou uma loucura depois dessa mesma peça, e eu nunca tinha tempo para comparecer aos acontecimentos que reuniam todos os que estiveram presentes no meu aniversário de 21 anos. E, por isso, por ter abandonado ou fugido de todo mundo que eu conhecia em solo americano - ou todo mundo que me interessava, pelo menos - eu estava ali, completando meus 24 sozinha num lugar que ainda me machucava tanto.
  Ficar magoada pelo meu término com Ryan quando ele disse que não queria namorar à distância fazia sentido - nós havíamos passado três anos do colegial juntos. Mas sofrer por não ter contato com um cara que eu mal conhecia e em quem só havia dado um beijo na vida inteira era uma estupidez absurda, algo completamente injustificável! Contudo, ainda que não houvesse explicação plausível para aqueles sentimentos idiotas, eu ainda os sentia me incomodando de verdade.

  Saí da boate às pressas, de repente ansiosa para ir para a casa do meu pai, onde ele não estava porque havia viajado para Nova York a negócios. Minha ansiedade, na verdade, era para sair dali, daquele lugar que me trazia tantas memórias. Eu estava parada na ampla calçada coberta por tapete vermelho tentando arranjar um táxi quando vi um quadrado preto, possivelmente de couro, jogado num canto da sarjeta. Inclinei-me em meus saltos de 10 centímetros e apanhei o objeto. Dentro não havia nenhum documento, nem cartão de crédito, apenas algumas notas, uma foto de uma senhora de uns 40 e poucos anos e um endereço atrás da foto. Eu nunca havia visto aquela senhora em toda a minha vida, mas ainda assim ela me parecia familiar.

  Passei as próximas 48 horas que estive em Los Angeles pensando. Pensei em enviar a carteira pelo correio, para o endereço da foto, uma vez que era longe demais de L.A para que eu me deslocasse até lá. No entanto, duas coisas me impediram de fazer isso: primeiro, eu sentia que já conhecia aquela senhora de algum lugar e precisava entender o porquê disso; e, segundo, o endereço era do Arizona, o que significavam algumas horas na estrada e tempo para refrescar as minhas ideias... Por isso, acabei decidindo que entregaria o objeto pessoalmente.
  Eu não tinha certeza de como chegar à Tempe, uma cidadezinha razoavelmente próxima à Phoenix. Assim, olhei na internet o trajeto por mais de uma vez e comprei um mapa para me auxiliar no caminho, além de configurar o GPS do carro para me conduzir até lá. Depois de quase seis horas de viagem, duas paradas para ir ao banheiro e me alimentar, e de evitar músicas da The Maine no rádio por todo o percurso, avistei a placa que dizia "Bem-vindo à Tempe". Pedi informações para algumas pessoas ao longo do caminho, até que entrei numa rua ladeada por boas casas coloniais de aspecto tradicional. Já eram quase oito da noite, mas o calor ainda me obrigava a manter o ar-condicionado a todo vapor. Parei o carro adjacente à calçada da casa que indicava o número transcrito atrás da foto, e saí do veículo nervosa. Minha timidez nunca aparecia quando eu tinha uma câmera à frente e usava as falas que havia no roteiro conforme a entonação que eu e o meu diretor desejávamos. No entanto, quando eu tinha que usar minhas   próprias palavras com desconhecidos... Minha coragem nunca era presente como eu gostaria.
  Bati na porta da casa e aguardei por alguns segundos até que vi a maçaneta sendo girada. Uma moça surgiu então e sorriu insegura para mim.
  - Boa noite. - ela me cumprimentou mantendo no rosto o sorriso amarelo.   - Boa noite. Meu nome é . Eu encontrei isto em Los Angeles no último final de semana e dentro havia essa foto, com o endereço daqui. - eu disse mostrando para a moça a carteira de couro preto e a foto.
  - E você veio de L.A até aqui só para entregar isto? - ela perguntou espantada.
  - Eu não sabia outra forma melhor de proceder, então... - dei de ombros.
  - Bom, vamos entrar, . Se você veio dirigindo, deve estar cansada. - a moça escancarou a porta da casa e caminhei para o lado de dentro, desejando realmente um copo de água e uma ida ao banheiro.
  - Então, eu estou no endereço certo mesmo? - perguntei depois que a garota que devia ter mais ou menos a minha idade fechou a porta atrás de si.
  - Está sim. Me dê licença por um instante. - ela disse e saiu da sala rumo ao que eu imaginei ser a cozinha ou sala de jantar da propriedade. Passei os próximos lentos minutos que se seguiram encarando a lareira da sala e a decoração tradicional e reconfortante ao redor. Ali transmitia uma sensação de lar que eu nunca tivera em minha casa cheia de empregadas, sem minha falecida mãe e meu ocupado pai.
  - Olá, querida. - a senhora da foto apareceu na sala abrindo os braços em um abraço, que eu retribuí um tanto insegura. - Meu nome é Sophia, e eu sou a velha da foto. - ela disse e riu.
  - Velha não sei aonde. - murmurei e sorri para ela em resposta.
  - Obrigada pela gentileza, meu amor. Esta aqui é a . - Sophia apontou para a moça que me atendeu. disse "prazer" e estendeu a mão para mim em cumprimento.
  - Chegou visita, mãe? - um rapaz perguntou ao passo que descia as escadas interrompendo Sophia enquanto ela me chamava para jantar. Ergui o olhar automaticamente para ver quem se juntava à conversa e senti meu queixo despencar quando o vi.
  - John, filho, essa moça encontrou a sua carteira. Não tinha qualquer documento, mas ela fez questão de trazer até aqui mesmo assim. - a senhora disse caminhando até John e passando o braço ao seu redor. - Aposto que você nem notou que tinha perdido algo, hein? – Foi então que a sensação que eu tinha de já conhecer aquela senhora se justificou. John havia herdado os lindos e alegres olhos verdes dela! De repente, me senti uma burra por não ter percebido isso antes!
  - Isso é a cara do John, né? - disse e vi um brilho em seu olhar parecido com o que já havia visto no meu antes e talvez fosse possível ver naquele momento. Um brilho que indicava que os dois eram mais do que simples amigos, e o cabelo louro de realmente demonstrava que não eram irmãos.
  - Não percebi mesmo. - ele disse sem tirar os olhos de mim, provavelmente tão chocado quanto eu com aquela situação.
  - Bom, a carteira está entregue, então eu vou indo. - falei ansiosa por encontrar um lugar onde pudesse pensar com mais clareza. Com tantos milhões de pessoas nos Estados Unidos e a única que tinha a capacidade de me deixar abalada era exatamente a dona daquela maldita carteira!
  - Ah, , fique para o jantar. Assim você nos conta sobre o seriado de investigação criminal que eu vi na TV que terá sua participação como uma das personagens principais. - Sophia fez o convite com um sorriso, mas não me senti autorizada a aceitar.
  - Eu adoraria ficar, Sophia, mas não posso. Desculpe. Boa noite para todos vocês. - foi tudo o que eu consegui falar, e então saí da casa praticamente correndo até o meu carro. Não importava o quão estranho aquilo parecesse para John, sua mãe e sua namorada ou o que quer que fosse dele. Eu já havia chegado ao meu limite!
  - ! - ele gritou atrás de mim enquanto eu corria até a Mercedes.
  - Me desculpe, John. Se eu soubesse que era a sua carteira e o seu endereço, eu jamais teria vindo aqui.
  - Eu sei que não teria. Você passou os últimos três anos fugindo de mim, né?
  - O quê? Eu fugi de você? - perguntei chocada. Sim, eu havia fugido dele, mas só estava acompanhando o que ele mesmo começara.
  - Você nunca mais apareceu!
  - Eu só segui a sua linha de atitudes. - respondi com raiva demais das acusações dele para guardar qualquer coisa para mim mesma.
  - Quer dizer que eu fugi primeiro? - o choque tingia suas palavras como se ele tivesse habilidades de um ótimo ator.
  - Você não me telefonou depois... depois daquele dia. O que queria que eu pensasse? Eu mandei você não se apaixonar por mim e você obedeceu, ok, a culpa foi minha. - eu disse abrindo a porta do carro e decidida a ir embora e deixá-lo ali, falando sozinho.
  - Você queria que eu tivesse feito o quê? - ele perguntou caminhando na minha direção e apoiando suas mãos no vidro do carona, do lado oposto ao meu no carro. - Minha turnê começou no dia seguinte ao dia que nos beijamos, . Eu fui embora de Los Angeles naquela noite ainda. E eu te liguei sim, várias vezes, até que um dia uma moça atendeu e disse que não conhecia nenhuma .
  - Isso é impossível, John. Eu te dei meu número verdadeiro.
  - Deu mesmo? - a voz dele denotava sua incredulidade nas minhas palavras, e, para ser sincera, eu também não acreditava nas desculpas dele totalmente.
  - Mas isso não importa também. Desculpe por atrapalhar sua noite em família. - entrei no meu carro e fechei a porta ruidosamente. Mas, quando fui colocar o cinto de segurança, John estava ali, sentado ao meu lado. - AI! - gritei de susto automaticamente. - Como você fez isso? - perguntei ainda gritando e ri histérica, uma reação reflexa.
  - Desculpe, eu não queria te assustar. – ele falou e suspirou alto. - E eu não queria que tivéssemos nos afastado também. - disse colocando sua mão sobre a minha. O toque renovou boa parte dos meus sentimentos, mas tentei não demonstrar isso e tirei minha mão de sobre a dele.
  - Você já tem outra namorada, então acho que já superou isso, né? - falei mais amarga do que gostaria lembrando-me do olhar de para ele.
  - Não acho que você tenha o direito de me cobrar alguma satisfação, . – John respondeu simplesmente.
  - Você está certo. – eu disse sentindo água demais nos meus olhos. - Eu realmente não tenho. O que aconteceu entre nós foi um beijo, há mais de três anos, e eu já deveria ter esquecido isso. Novamente, me desculpe por atrapalhar sua noite.
  - Você não atrapalhou nada. Me desculpe se eu te desapontei ou te magoei de alguma forma. Eu realmente sinto muito. – ele disse e afagou o meu braço ternamente. – Tem certeza de que não quer ficar para jantar? – Entre passar a próxima hora procurando um hotel para ficar aquela noite antes de voltar para Los Angeles no dia seguinte e assistir a felicidade de John com , eu definitivamente preferia a primeira opção.
  - Não, obrigada. Eu preciso dormir um pouco. Dirigi boa parte do dia e estou muito cansada. – falei com a voz neutra, desprovida de emoções, um mecanismo de defesa para não chorar na frente dele, não dizer o quanto eu odiava o fato dele ter esquecido que eu existo enquanto eu ainda era apaixonada por ele.
  - Certo. Boa noite então. E obrigada por cruzar os Estados Unidos para me devolver uma carteira velha. – John abriu a porta do carro e, antes que ele saísse, me veio à mente uma pergunta que eu precisava dele para conseguir responder.
  - John, por que você foi à Five semana passada? Quero dizer, eu acho que estivemos lá na mesma noite e é incrível não termos nos encontrado.
  Ele me lançou um longo olhar, como se quisesse me dizer muitas coisas e estivesse discutindo consigo mesmo as consequências em fazer isso ou não. Mas apenas uma frase escapou de seus lábios, e as palavras que ele pronunciou fizeram com que eu me perguntasse se aquele realmente seria nosso último encontro:
  - Eu não tinha seu telefone para dar os parabéns, mas eu não esqueceria assim do seu aniversário. – John respondeu e sorriu novamente para mim.
  - Não vai me dizer que você esteve lá os três anos seguintes que passamos sem nos falarmos somente porque era a única forma de demonstrar de algum jeito que havia se lembrado?! – eu disse aquilo como se achasse a possibilidade ridícula, mas boa parte de mim realmente queria saber se ele havia feito isso.
  - Isso seria loucura, né? – ele me olhou de uma forma que parecia querer dizer que sua resposta fora aquela, mas sim, que ele foi até L.A, à boate onde nos conhecemos, por três anos apenas para dizer para si mesmo que meu aniversário era importante. Que eu era importante.
  - É, seria. – murmurei.
  - Boa noite, . Faça uma boa viagem de volta. – John falou por fim acordando-me para a realidade.
  - Obrigada. Boa noite. – respondi, mas era tarde demais. Ele já havia fechado a porta do carro há alguns segundos e estava prestes a entrar de novo em sua casa.
  Dirigi por alguns minutos sem fazer ideia de para onde iria. Como a vida podia ser tão sádica para me colocar cara a cara com ele assim, de uma forma tão inusitada e maluca? Pior do que isso, por que o destino, Deus, quem ou o que quer que fosse que tinha poder sobre as nossas vidas tinha que provocar aquele encontro entre nós agora que John estava namorando outra pessoa e parecia feliz com isso?
  Eu não tinha respostas para essas perguntas ainda, mas logo descobriria que nossos caminhos só estavam começando a se cruzar outra vez.

FIM?



Comentários da autora


"Moments – The Five" é a primeira parte de uma série de shortfics.