Miss You

Escrito por Khloe Petit

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  – Você não vai querer ficar sentado aí, não é?
  Olhei para cima e enxerguei somente Serena. Para mim ela era somente Serena. Para todo o resto do mundo, ela era a mulher mais linda do mundo, eleita por três anos seguidos. Uma grande atriz, com uma carreira que não parece diminuir a velocidade nunca. Sua maior característica, os olhos em um tom que não era nem claro como mel, tampouco escuro como castanho, prendia a atenção de muitos fãs e admiradores. Combinado com o doce sorriso e o corpo esbelto, não é à toa que agora possui um quarto de prêmios por sua performance no famoso seriado mundial e filmes.
  – Eu, literalmente, acabei de me sentar. - suspirei, fingindo exaustão, enquanto pegava um copo de whisky que o garçom do camarote vinha servir sempre que me via sem nada nas mãos. Tomei um gole e fiz uma careta; forte, do jeito que aprendi a gostar.
  Serena se aproximou e passou suas pernas entre as minhas, sentando em meu colo, de frente para mim. Seus braços enlaçaram meu pescoço e tudo o que fiz foi manter as mãos apoiadas nos braços da poltrona.
  – Preliminares? - ela ergueu uma sobrancelha, acariciando minha nuca.
  Movi a mão que não segurava meu copo e a levei em direção ao quadril de Serena. Mesmo no meio de uma balada, com música e pessoas berrando em nossos ouvidos, foi inevitável ouvir o som dos cliques das câmeras fotográficas. Era isso o que eles queriam. Era isso o que Serena queria. Era o que eu queria.
  Foi o que convenci a mim mesmo que desejava.

  Um ano antes…

  – Não notou nada de diferente?
  Engoli seco. Eu havia notado. Claro que havia. Mesmo que somente os fios de seus cabelos tivessem sido aparados, eu teria notado. Sempre havia dito preferir mulheres com os cabelos longos, mas mudei de ideia no momento em que a vi sair de casa e caminhar até meu carro.
  Meu coração palpitou três vezes mais que o normal.
  Uma vez por amá-la com tanta intensidade que diria ser um tolo, se não tivesse tanta certeza dos meus sentimentos.
  Duas vezes pela felicidade de saber que ela era minha.
  E três, por me lembrar que eu não deveria fazer o que estava para fazer.
  – Não. - respondi, seco. – Fez algum procedimento estético?
  Vi seu sorriso diminuir. Ela sorriu, sem graça, e colocou o novo corte de cabelo de lado. Limpou a garganta e voltou a olhar para mim, animada:
  – Thomas veio me dizer que você conseguiu a promoção! É por isso que combinou esse jantar? Para comemorarmos?
  Apertei os dedos ao redor da direção, enquanto dirigia a um restaurante qualquer. Não queria que ela passasse por nenhum lugar bom e lembrar desse dia. Ela não merecia.
Eu não a merecia.
  – Como foi seu dia?
  – Meu… dia?
  Um dia de merda, provavelmente. Ela havia mandando mensagem pela manhã. Uma criança havia falecido. São os ossos do ofício que ela tinha de encarar por ser enfermeira na área infantil do maior hospital da cidade.
  Eu realmente não a merecia.
  Mesmo minha pergunta sendo a pior que poderia fazer, ela respondeu sem dor. Deixou de lado a morte da garotinha. Não comentou sobre a família que chorou desesperadamente no corredor do hospital. Dos gritos implorando que o médico ou alguém trouxesse a menina de volta. Tão nova, enfrentando e perdendo para a morte.
   falou até chegarmos no restaurante. Ao invés das coisas ruins, falou do telefonema que teve com a mãe, e de como as coisas estão boas lá. Do quanto eles sentiam minha falta. Era como um filho. Eles me tratavam, mesmo, como um filho. O filho que havia prometido silenciosamente proteger sua filha de todo e qualquer mal do mundo.
  Eu não merecia sua família.
  No restaurante, ela fez o pedido e deixei que escolhesse o meu, porque era algo que ela amava fazer. Amava pedir coisas que não sabia o que era e durante o tempo do pedido, até a chegada do prato, vivia na expectativa, olhando para a porta da cozinha e criando uma esperança toda vez que de lá saía um prato bonito que poderia ser o nosso. Foi mais fácil assim, assisti-la se divertindo enquanto eu pensava o momento certo para acabar com sua felicidade.
  Das 239 vezes que comemos fora e fizemos o jogo do Desconhecido, 8 foram as vezes que nos deparamos com algo incomível. Todas as 8, comeu como se fosse delicioso e não reclamou nenhuma vez do prato.
  – Ah, era carne cozida com couve de bruxelas! - ela exclamou quando meu prato foi servido. – Seria mais divertido se fosse algo esquisito.
  – De alguma maneira, você sempre escolhe as coisas mais comuns. - respondi.
  – Verdade. - suspirou. – Bem, talvez o tempero seja com algo horrível.
  Dei uma bocada na carne e no legume.
  – Comum. - disse, vendo-a fazer uma careta.
  – Você deverá palpitar na próxima vez.
  As 8 vezes que nos demos mal, eu havia colocado minha opinião no meio.
  A sobremesa veio e a dor em meu estômago também.
  – O que foi? - ela me olhou. – Estou com algo no rosto? - tocou na própria pele de pêssego. Quis fazer o mesmo.
  Suspirei e coloquei o guardanapo de pano na mesa.
  – As coisas ficaram complicadas.
  – É por isso que está tão fechado hoje? Porque algo não deu certo? - sua mão escorregou pela mesa, até tocar meus dedos. Eu adorava o toque. Havia algo de íntimo e confortante. Meu corpo relaxava sempre que acontecia e o problema em questão era esquecido no momento em que a pele dela tocava a minha.
  Mas não naquele momento.
  Afastei minha mão dela e respirei fundo. Desviei o olhar para a vela que enfeitava a mesa, mas cuja parafina estava quase no fim.
  – Ah. - foi só o que ela disse.
  Ergui meus olhos e vi seu rosto inexpressivo. Ela já sabia. Vi seus lábios tremerem, mesmo que imperceptivelmente. Mas eu percebia tudo. Eu sabia de tudo sobre ela.
  – Desculpe. - foi só o que eu consegui dizer.
  – Você… encontrou alguém?
  Não. Eu nunca encontraria ninguém que pudesse colocar em seu lugar. Queria poder lhe dizer isso. Queria deixar isso claro para você.
  – É. Ela…
  – Ela vale a pena. - completou minha frase.
  
“Ela é importante para eu chegar aonde quero.” Era o que eu ia dizer.
  Assenti, porque se já estava sendo um covarde, então que fosse até o fim.
  – Você não quer falar mais nada? - vi em seus olhos a esperança de eu me explicar. De dizer a verdade. Decidi perder essa oportunidade.
  – Não.
   abaixou a cabeça. Puxe enxergar suas mãos em seu colo, apertando o guardanapo para conter a raiva, a angústia e a dor. Vi seus olhos se fecharem e em seguida seu peito inflar com a respiração profunda que deu. Ao abrir os olhos, eu não me vi mais ali.
  E foi a pior dor que senti na minha vida.
  – Eu espero que você seja feliz, .
  Sem dizer mais nada, tirou duas notas da bolsa e as depositou à sua frente na mesa. Em seguida, se retirou e em momento algum olhou para trás.”

  – Você sabe o quão ótimo é na cama?
  A mão de Serena percorria todo meu tronco nu. Estávamos em sua cama. Ela inventou uma enxaqueca e me fez acompanhá-la até sua cobertura. Fiz o que tinha que fazer. Abri um sorriso, disse que cuidaria dela e a fodi. Porque com Serena tudo se resolvia com sexo. Isso, pelo menos, eu poderia lhe dar.
  – Nunca duvidei de mim mesmo. - respondi, ouvindo sua risada manhosa.
  – Achei que não fosse me apegar tanto a você. - ela murmurou em meu ouvido, deslizando sua mão para debaixo do lençol, que cobria da minha cintura para baixo. Sem enrolação, me tocou bem ali, iniciando uma carícia que me faria levantar e fodê-la novamente. – Haviam me dito que esse era um bom negócio. Que você era bom. Mas nunca me disseram que você era ótimo.
  – Eu gosto de surpreender.
  – Bom não é uma característica justa.
  – Ainda assim, é um elogio. - ergui meu corpo para ficar em cima dela. Sua mão continuou lá em baixo, aumentando o ritmo das carícias. Beijei seus lábios para que ela parasse de falar. Toquei seu corpo para que ela não pensasse em dialogar mais.
  Eu não tinha intenção nenhuma de ter um relacionamento pessoal que ultrapassasse o limite do sexo. Eu a usava, da mesma maneira que ela fazia.
  Somos o casal It. Por causa da minha ótima carreira em ascensão e dos rumores de que Serena era lésbica – o que dificultava sua conquista dos melhores papéis –, nossos empresários armaram um acordo. Eu precisava dela para ser reconhecido fora do país. Ela precisava de mim para perder uma fama que não pertencia a ela.
  Nenhum de nós dois esperávamos ficar tão mais famosos por conta do namoro. Meu número de contratos aumentou, o número de seguidores dela aumentou. Nós começamos a ser chamados para tudo. Juntos.
  Serena não é uma má pessoa. É apenas mimada. Filha de um magnata do cinema, ela teve o caminho das pedras encurtado, o que não faz a menor diferença para mim. Ela apenas não entende o que é ansiar por uma resposta de aprovação. Todo mundo sabe que quando ela faz um teste, é porque ele já está ganho. É uma tremenda sorte. Um benefício que você só tem se nasce com ele.
  Direcionei meu membro em sua entrada. Suas mãos percorreram meu tronco.
  Quantos homens desistiriam de coisas importantes para estarem em meu lugar? De acordo com as pesquisas, 8 a cada 10.
  Deslizei para cima e para baixo, a provocando. Ela adorava preliminares e eu sou ótimo nelas.
  –
  – O que você quer, Serena? - deixo minha língua passear por todo seu dorso, até chegar nos mamilos.
  –
  – Diga, querida, o que você quer? - aumentei o ritmo da carícia em sua abertura e tive o cuidado de me desviar de suas investidas, porque ela amava me pegar de surpresa.
  “Serena Lindon é, sem dúvida, a mulher dos sonhos dos homens ao redor do mundo.”
  Sem curvas. Era o que eu pensava. Uma mulher de barriga chapada e pernas finas. Sem curvas. Sem nada para acariciar. Sem nenhum lugar para morder.
  – Me come. - ela sussurrou.
  Lábios carnudos. Ouço pelo menos uma vez por dia alguém divulgar a vontade de sugar aqueles lábios até os deixarem roxos.
  Sem graça. Não fazem um bom trabalho. Seus beijos cinematográficos não são nada além de mordidas e língua perdida como bêbados em um festival de música eletrônica.
  – Implore. - sussurrei em seu ouvido, levando uma mão para o ponto inchado entre as pernas. Ela gemeu e me xingou. – Você vai gozar em 10 segundos, Serena. Você tem 10 segundo para implorar.
  Aumentei a pressão da carícia em seu clitóris. Ela sabia tanto quanto eu que estava bem perto. Tentou tocar meu membro, mas ele não estava ao seu alcance.
  Eu não era o escravo que ela pensa.
  Eu deveria estar em outra cama agora. Do outro lado do país.
  Achei que fosse superar. Serena é, de fato, maravilhosa. Eu só tinha a ganhar.
  Então por que sinto que perdi tudo?
  – Um… zero. - terminei a contagem e a fiz o que havia dito que faria. A fiz gozar sem penetrá-la.
  – Seu… - cobri seus lábios com os meus de novo. Continuei a massagem porque era isso o que a faria calar a boca. Me esfreguei nela, porque ela adorava. Abri os olhos porque queria lembrar que não era a minha mulher ali.

–––––

  – Esperando alguma ligação? - Serena perguntou na volta da festa de inauguração que havíamos sido convidados.
  Eu adoro festas. É o lugar perfeito para fazer minha propaganda e criar novos amigos. Novos contatos, quero dizer. O novo diretor de um filme de super heróis foi o meu alvo da noite, que atingi com sucesso.
  – Não, por quê?
  – Você me trocou pelo seu celular a noite inteira. - sua voz manhosa veio à tona.
  Merda. Como odeio odiar algo.
  – Você me trocou por Bryan Skyes a noite inteira.
  – Ele é um imbecil.
  – Meu celular, pelo menos, não é.
  – Ah… é ciúmes que chama?
  Abri um pequeno sorriso e virei o rosto para a janela. Era parte da encenação. Serena gosta de se sentir mimada. Ser o centro da minha atenção ajuda.
  – Se eu soubesse que você estava de olho em mim o tempo todo…
  – Você sabia que eu estava de olho em você. Não se faça de tola. Você é minha, lembra? - volto meu olhar para ela, que com certeza não conseguiu enxergar quão bom ator sou. Nenhum ator é bom como ela. Ela já ganhou um Oscar, afinal.
  – Hum… - deslizou seu tronco para perto de mim e fechou a janela entre nós e o motorista, não sem antes dizer: – Só pare de dirigir quando eu mandar.
  – Nós não vamos transar aqui de novo.
  – Por quê não? - sua mão imediatamente veio parar em cima do meu pau. – Porque é desconfortável? Você pareceu bem confortável mais cedo.
  – Estou bravo com você, Serena. Não vai ser confortável para você.
  – Ah, mas estou louca para ficar desconfortável.
  – Mostre.
  Ela abriu um pequeno sorriso e tirou os sapatos. Eu amo pés mergulhados em lindos sapatos. ficava linda com qualquer um. Seja chinelos ou scarpins. Eu não a deixava tirar nunca.
  Desafivelou meu cinto e não se preocupou com as preliminares, porque se não era com ela, então nada importava. Apoiei meu braço na janela e passei a olhar o caminho que a limusine fazia. Estávamos saindo de Los Angeles.
  Sua boca logo preencheu meu membro. Péssimo, como já mencionei. Os lábios carnudos não faziam uma boa massagem. As mãos faziam mais do que a boca e a língua.
  Olhei no celular novamente.
  Hoje é o aniversário dela. Enviei-lhe uma mensagem, como fiz ano passado.
  Na parte da manhã, enviei flores. Lírios, seu favorito. Ela não estava em casa. Será que era o plantão? Ou estava com alguém?
  Jude, sua melhor amiga, disse que ela não saiu com ninguém desde o fim de nós dois. Há essa sorte de se namorar uma colega de escola. As amigas dela acabam virando suas amigas também. Jude me manteve a par de tudo. Disse que a levou para encontros, porque é isso o que ela devia fazer, e eu que me fodesse. Adoro ela.
  – Você disse à ela que estava muito bem, lembra? - Jude me lembrou.
  É verdade. Ela me ligou no meu aniversário, três meses depois do nosso término. Perguntou como eu estava e lhe respondi que estava tudo perfeito até demais. Fui um imbecil. Jude havia me falado na época que ela ainda chorava por mim. O certo era fazê-la me odiar, não sentir minha falta.
  Mas hoje entrei em contato. Tentei, pelo menos. Ela nem sequer leu.
  Olhei para a cabeça de Serena entre minhas pernas. Suspirei de modo inaudível e segurei em seus braços. Se é sexo que ela quer, é sexo que terá. Empurrei seu tronco para que se acomodasse no banco e não a lubrifiquei.
  – ! - ela exclamou no momento em que me enfiei, sem dó, nem piedade.
  – Grite. - dei outra investida. – Grite até perder a voz. Hoje será da minha maneira.

–––––

  “Serena Lindon e terminam o namoro.”

  Após 2 anos de relacionamento, o casal mais famoso do mundo terminaram a relação. Em uma nota dada à imprensa, as agências dos atores informaram que a falta de tempo devido à agenda do agora ex-casal complicou para que os dois mantivessem uma relação saudável.
  “Foi um término amigável.” Informou na nota a agência de Lindon.
   tem um grande apreço por Serena e deseja à ela todo o amor e adoração que existe no mundo.” Finalizou a agência de , na nota divulgada nesta sexta.
  O que é certo, é que o término do namoro não irá afetar nenhum dos lados, exceto a eles mesmos, que eram conhecidos pelos olhares que davam um ao outro.

  Quatro meses depois…
  Limpei minha garganta e toquei a campainha. É aniversário de Marcus, um dos poucos amigos do colégio que mantive após minha ascensão. Ele está para se mudar para a Austrália por conta do emprego, então a turma decidiu unir o útil ao agradável e comemorar a promoção e seu aniversário.
  Jude disse que estaria lá. Me sinto envergonhado por ir mais pela presença da minha ex, do que por Marcus, um amigo fiel. Mas ele entenderia. Ele faria o mesmo. É por isso que continuamos amigos.
  Cumprimentei todos os presentes, até quem eu não conhecia, porque faz parte de mim. Não costumo fingir carisma, a não ser que a pessoa tenha feito algo para mim, o que não é o caso de ninguém aqui.
  Percorri os olhos por todos os cômodos, procurando por um único rosto. O contrato do relacionamento com Serena havia chego ao fim. Ela quis continuar. Disse que havia se apaixonado, mas era pura mentira. Seu agente se tornou meu amigo e com a amizade vem o auxílio. Serena trepava com a maior quantidade de homens que conseguia. Era mimada por todos eles. Amava o mimo e a atenção. Quando lhe disse que não tinha razão para continuar com a encenação, me ameaçou. A ameacei de volta e então cada um seguiu seu caminho.
  – Até que enfim voltou para casa. - Jude se sentou ao meu lado na mesa.
  Bebi um gole da cerveja.
  – Não é muito fácil desapegar das raízes.
  – Você demorou muito para perceber isso.
  Desviei meu olhar de volta para ela. Eu devia ter percebido sua expressão.
  – Ela não vem—
  – Ela está noiva. - Jude me cortou.
  Apertei os dedos na garrafa de vidro. Eu não sabia sequer que ela namorava!
  – Você…
  – Ela me pediu. - Jude suspirou. – Na verdade, ela pediu que você não soubesse de nada.
  – E sua misericórdia decidiu me contar que ela está noiva, ao invés de namorando?
  – Você mereceu. - ela me olhou feio. Em seguida suspirou novamente e colocou a garrafa dela na mesa. – Na verdade, eu não achei que fosse durar. Eles começaram a sair sem que ninguém soubesse. Ela me contou quando já estavam há cinco meses juntos. Pediu que eu não te contasse. Como disse, você merece, então mantive a promessa. Então, no começo da semana, ele a pediu em casamento e ela aceitou.
  – E você, ainda assim, me disse que ela estaria aqui. Por quê? Ele é ruim para ela? Quer que eu a salve dele?
  – Você merece, pelo menos, saber sem que seja uma mensagem de texto idiota.
  Calei a boca, porque sabia que Jude estava quebrando uma promessa com sua melhor amiga, para fazer o que é o certo comigo. Caralho. Não consigo nem culpá-la da minha dor.
  – Quem é?
  – Ele se chama Evan. É neurocirurgião no hospital onde ela trabalha. Está cotado para ser o próximo presidente. Dizem que o atual não tem filhos, por isso observou os funcionários competentes. Está o treinando pessoalmente. O doutor Evans é muito respeitado. Evans, por si só, é uma ótima pessoa. Ele a ama.
  Não tanto quanto eu.
  – Ele sabe de mim?
  – Ele sabe que você é ex dela, mas não como as coisas aconteceram.
  Abri um pequeno sorriso. Típico de , não criar imagens ruins de pessoas que a machucaram, para as pessoas que ama.
  Sinto falta da bondade dela.
  – Então ela me superou.
  – Não. - Jude olhou para a garrafa.
  Olhei com interesse para minha amiga.
  – Então por quê?
  – Porque você não é a pessoa certa para ela. Você não a fará feliz. Seu mundo… - ela ergueu seus olhos. – é cruel demais para uma pessoa como .
  Apertei os lábios porque sabia que era verdade. Queria negar, dizer que eu jamais a deixaria ser machucada, mas ela seria. Seria, porque tomou o lugar de uma artista mundial. Seria, porque conquistou uma celebridade cobiçada. Seria, porque viveria uma vida de fama e glamour só por estar ao meu lado. E eu não poderia protegê-la das mensagens de ódio. Nem dos paparazzis.
  – Eu a perdi de vez, então.
  – Sinto muito.
  – Não, não sente.
  – Sinto por você, . Gosto de você. Foi bom com a . Sei porque terminou. - disse. – Foi um ato de egoísmo, mas foi sua escolha. Não se pode ter tudo na vida.
  Terminei a garrafa em um gole. Respirei fundo e sorri para Jude.
  – Obrigado.
  – Não vá atrás dela. Não faça isso com você.
  – Não vou. Até mais. - dei-lhe as costas e fui me despedir de Marcus.
  Que bom que sou bom em atuar.

  Um gole a cada página virada. Como se o ato de passar de uma folha para outra a lembrasse de se hidratar.
   não havia mudado nada. O que me deixou feliz.
  A garçonete se aproximou com o pedido. mini bolos de limão, favoritos dela. Vi o sorriso doce surgir em seus lábios e a palavra “obrigada” ser emitida para a funcionária. exalava serenidade. Ela sempre foi serena. Doce e serena. Serena. Que péssima palavra.
  Fiz-lhe uma ligação, mas ela nem desviou os olhos para o aparelho. Provavelmente bloqueou meu número. Bom trabalho.
  E então ele chegou. O tal do Evan. O desgraçado parecia um ator de Hollywood, mas com uma profissão respeitável. Ele beijou-lhe os lábios assim que chegou. E pediu outra leva de mini bolos ao invés de roubar as da . Deve tê-la conquistado assim. Quando se trata desses doces, ela odiava que pegassem sem a sua permissão.
  Ao invés de reclamar da atenção dela no livro, ele colocou o dele à mesa e ambos passaram a aproveitar a presença do outro, sem atrapalharem-se na leitura.
  A nova leva de bolo chegou e ele trocou a dela, pela nova.
  Eu queria ser frio suficiente para atirar nele.
  Por ser tão perfeito para ela.
  Por receber o olhar apaixonado que eu amava.
  Por não ser como eu fui.
  Dei partida no carro e saí dali. Jude estava certa. Eu não deveria ter vindo.
  Nunca tive a intenção de falar com ela. Sei que acabou. Eu entendi o recado.
  Mas precisava vê-la mais uma vez. Precisava mostrar para o que quer que fosse dentro de mim, que eu a havia perdido para sempre. A mulher da minha vida. Tudo por causa de um sonho que eu achava ser maior do que tudo mundo.
  Meu sonho estava bem ao meu lado, quando decidi trocá-lo por outro.
  Enquanto dirijo, a única coisa que penso, é que eu devo seguir minha vida e ser feliz da maneira que mereço.
  Mas é uma merda. Porque irei sentir a falta dela para sempre.

FIM



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