Mine

Escrito por Luh Marino | Revisado por Luh

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Parte do Projeto Songfics - 7ª Temporada // Música: Taylor Swift - Mine

  Eu era a mulher mais sortuda do mundo.
  Eu olhei para o lado e lá estava ele. Dormindo tranquilamente, seu peito subia e descia num ritmo que me deixava hipnotizada.
   parecia um anjo. Ninguém poderia negar aquilo. Ele era lindo. Até quando babava no travesseiro, roncava baixinho e se mexia mais que peixe fora d'água.
  Como eu consegui fisgar aquele peixe era a pergunta certa. Quando começamos a sair, nem eu acreditei. Até porque eu nunca achei que iria me apaixonar. Não que eu não acreditasse no amor; eu sempre acreditei. Eu só achava que o amor não acreditava em mim.
  E então ele chegou, com todo seu charme e pureza, e eu caí num abismo.
  Eu costumava tomar café da manhã na lanchonete em que ele trabalhava de garçom. Ele sempre me atendia – e eu nunca poderia imaginar que era porque ele me achava bonita e se interessava em mim.
  Depois do primeiro encontro, o resto foi história. era tão certo pra mim, apesar de ser tão errado em tantas maneiras. Mas ele me entendia, me apoiava. Ele sabia todos meus segredos, me conhecia como a palma de suas mãos. me amava, e essa era sua melhor qualidade.

  No começo, eu não queria nada com ele. Não queria me envolver com ninguém. Não exatamente por medo de me machucar no caminho. Mais por medo de me machucar no final.
  Como aconteceu com meus pais.
  Eu morria de medo de acabar como meus pais. Sozinhos, sem ninguém além deles próprios. Com milhares de coisas inacabadas, sem resolver. Eles se casaram cedo demais, e não foi o momento certo. Não estavam preparados. Às vezes eu ainda tenho pesadelos com as brigas que eles tinham à noite, quando eu era pequena, e eu fugia de casa tentando escapar daquilo, e só voltava quando os dois já tinham ido dormir.
  Eu não queria acabar como eles.
  E quando contei isso a , ele não me deixou. Ele não me julgou. Ele apenas disse:
  - , nós nunca repetiremos os erros dos seus pais.
  E, realmente, ele cumpriu sua promessa.

  Lembro-me perfeitamente de quando tomei total confiança nele. Foi no nosso quinto encontro, se não me engano. me levou para a praia, na baía, e sentamos na areia e assistimos o por do sol. Ele me abraçou, me apertou contra ele com tanto carinho... Foi impossível não me apaixonar ali mesmo.
  Vimos as luzes da cidade refletidas na água, e não havia espetáculo mais bonito. Eu e ele, ali, abraçados, apaixonados. Foi o momento perfeito. Nosso primeiro beijo. Eu olhei pra ele, ele olhou pra mim e houve uma conexão tão grande no nosso olhar. Ele se aproximou lentamente, foi cuidadoso, carinhoso, cativante. Foi o momento perfeito.

  Dias depois eu já tinha uma gaveta com coisas minhas na casa dele. Morava sozinho, fugiu de casa assim que atingiu a maioridade – nunca olhou pra trás. Não se arrependia.
  Ele trabalhava de manhã, ia para a faculdade à noite. Pra mim, era o contrário. À tarde tínhamos que estudar. Nos víamos só aos finais de semana, mas não nos separávamos.
  Perto dele eu conseguia ser eu mesma, porque sabia ele não me julgaria. Por isso, a melhor parte do meu dia era quando eu falava com ele – não importava como; se por telefone, computador ou ao vivo. era a melhor parte do meu dia.
   era a melhor parte da minha vida.
  Eu era toda guardada para mim mesma ao redor das pessoas, mas quando estava com ele eu poderia me soltar. Meu pai, apesar de descuidado, tinha uma filha muito cuidadosa em relação aos próprios sentimentos. Eu tinha medo de tudo que envolvia um relacionamento sério, mas ele conseguiu que eu jogasse esse medo para o ar e me livrasse dele.

  Nós quase nunca brigávamos. Mas houve uma vez que eu achei que fosse o fim. Na verdade, nem me lembro realmente do motivo da briga, só lembro que um desentendimento besta de casal se tornou uma discussão estrondosa. Era madrugada, e eu – como sempre – fugi. Saí correndo para a rua, achando que aquilo era o ponto final da maravilhosa relação entre nós dois. Eu não queria que acabasse, mas já estava preparada para o adeus. Pois o adeus era tudo que eu conhecia.
  Mas ele me surpreendeu.
  Como sempre, na verdade.
  Tomou meu rosto em suas mãos, fez um carinho com o polegar. Olhou no fundo dos meus olhos, meus marejados olhos, com convicção.
  - , eu não vou te deixar. – Ele disse. – Eu me lembro de como me apaixonei por você à beira d'água, e toda vez que eu te olho parece a primeira vez. Eu me apaixonei pela filha cuidadosa de um homem descuidado. E ela é a melhor coisa que já foi minha.
  E eu me debulhei em lágrimas, me jogando em seu abraço.
  Eu sabia que era verdade.
  Nunca duvidei dele.

  No dia seguinte ele me levou ao lugar onde nos apaixonamos. Com uma canoa, ficamos boiando no mar, conversando sobre tudo. Em um momento de distração minha, ele puxou do bolso uma caixinha de veludo.
  E pediu minha mão em casamento.
  E eu podia jurar, naquele momento, que não tinha medo de mais nada.

  E hoje, olhando para o lado e o vendo ali, tão bonito, tão angelical – até mesmo quando babava no travesseiro, roncava baixinho e se mexia mais que peixe fora d'água –, eu não me arrependia de nada.
  Nem das brigas.
  Nem dos medos.
  Nem de tudo que eu abandonei só para ficarmos juntos.
  Eu não me arrependia dele.
  Não me arrependia de nós.
  Não me arrependia de nada.
  Eu era a mulher mais sortuda do mundo.
  Porque ele era a melhor coisa que já foi minha.

Fim.


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