Military Dignity – Endless War

Escrito por Maari F. | Revisado por Mariana

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Capítulo 01 - Point of no return

   estava deitada na cama com seu corpo cobrindo o de e mesmo estando acordada permanecia de olhos fechados, a ponta dos dedos passava suavemente pelas duas cicatrizes altas que ele havia adquirido no ombro. Aquela sensação era tão boa, tão certa.
  Muita coisa havia mudado em pouco tempo desde o ataque extra-oficial contra os rebeldes, porém ela não gostava de pensar na situação política ou militar quando estava nos braços do namorado. Suas vidas pessoais eram complicadas o suficiente para que pensasse no resto.

   estava mais aberto à relação que ambos assumiram, quase morrer nos braços de havia o alertado do quanto havia perdido e esse era um erro que não cometeria uma segunda vez. Era verdade que seus pais se aproximaram estranhamente, mesmo sendo repentino ele não podia negar que havia sentido falta daquilo. Até mesmo seu pai estava mais carinhoso, do jeito dele - é claro -, coisa que não acontecia há uns bons 20 anos.
  Entretanto, não era como se eles tivessem mudado a opinião sobre da noite para o dia, a própria mãe de dissera que não podia perdoar o fato dela ter feito o filho tomar tiros para salvá-la.
  Aquilo martelou a cabeça de durante dias depois que o amado contou com sinceridade sobre a conversa séria que tivera com os pais, deixando claro que não a abandonaria mais.
   havia sim tomado tiros e ido contra ordens por ela, querendo ou não, seu subconsciente a culpava por tais acontecimentos. Mesmo que ele tivesse deixado claro que tinha feito isso por vontade própria e se pudesse, faria de novo.

  A mão dele foi de encontro a dela que agora cessara com o carinho suave, abriu os olhos e encarou , que sorria antes mesmo de abrir os olhos.
  Assim que retribuiu o olhar, falou:
  - Você está pensativa.
  Era todas as manhãs assim, quando dormia no apartamento dele, ela acordava antes e acariciava suas cicatrizes, pensava na vida e parava o carinho, fazendo-o acordar.
  - O que foi?
   negou e sorriu de leve.
  - Estou pensando nesses últimos meses, muita coisa mudou.
  O braço de que rodeava a cintura dela a trouxe para mais perto, fazendo os dois suspirarem. Era bom o calor de seus corpos se misturando daquela forma.
  - E eu definitivamente devo agradecer por isso, acordar com você ao meu lado me dá forças de enfrentar o conselho.
   sentiu a sinceridade nas palavras dele e sem falar nada, aproximou o rosto do dele, lhe dando um selinho demorado. Sabia o quanto ele estava preocupado com o seu julgamento militar e foi ao seu encontro justamente para demonstrar o apoio que ele precisava.
  O dia finalmente tinha chegado.
  - Eu sei que no final tudo vai acabar bem. - ela falou e lhe deu mais um selinho antes de se afastar para sentar na cama.
  Ele se espreguiçou, mas não chegou a colocar as pernas para fora da cama já que sentiu o olhar de pesar sobre as suas costas, ela admirava os músculos e até mesmo as marcas e pequenas cicatrizes que ele tinha ali, mas a pele desnuda dele tão próxima fazia com que sentisse seu sangue borbulhar de desejo e o coração acelerar de excitação.
  - Sabe, você não devia me olhar dessa forma. - ele falou e inesperadamente, a agarrou pela cintura e colocou o corpo sobre o dela. As mãos de fizeram o caminho conhecido pelos braços fortes dele, completamente hipnotizada. - Eu posso acabar me atrasando e depois vou ter que te punir.
  Ela sentiu um arrepio percorrer a nuca e olhou nos olhos dele com um sorriso sapeca.
  - Talvez você devesse se atrasar.
  Claro que ele não devia, mas ela entrou no joguinho de sedução dele, era divertido. Sabia que eles não iriam se atrasar para o julgamento, ainda era cedo.
  - , você adora brincar com fogo…
  - Por que acha que eu namoro você? - deixou a pergunta no ar já que suas mãos alcançaram a nuca dele e o obrigou a dar o que tanto ansiava.
  Um beijo longo e com fogo, da forma que vinha acontecendo com bastante frequência, só sentir o corpo dele pressionado no seu e as línguas juntas não estava sendo o suficiente. Nunca era.
   deixou que uma das mãos dele se encaixasse na nuca dela com o dedão em sua bochecha, enquanto a outra descia para a coxa dela e afastava o lençol inútil. suspirou e apertou os olhos com força quando sentiu a mão dele passear pela parte interna de sua coxa, quebrando totalmente o beijo.
  - Você não devia ficar me atiçando dessa forma se não aguenta depois. - ele falou baixo e propositalmente perto do ouvido dela, como sabia que gostava.
   respirou fundo e encarou os olhos dele, tão perto que mostravam claramente a fome que tinha no momento.
  - Acho que… - ela passou a língua pelos próprios lábios que pareciam secos de repente, tal ato não passou despercebido por , que não conseguiu pensar em nada a não ser o quanto ela ficava sexy fazendo aquilo. - você tem razão, vai se atrasar.
  Ele suspirou frustrado, sentindo o corpo esquentar até demais e escondeu o rosto na curva do pescoço dela, respirou fundo algumas vezes e o ar que soltava contra a pele de não estava ajudando nada. Tudo o que ela queria era poder terminar o que estavam prestes a começar, mas sabia que acabaria correndo o risco de se atrasarem mesmo.
  - Agora é hora da ducha fria. - ele comentou e saiu de cima dela antes que perdesse o auto controle.
   riu sem graça e ainda deitada, sem a mínima vontade de levantar, lembrou da noite anterior.

Noite passada. Apartamento do .
9:15 PM. Logo após o jantar.

   estava lavando o último prato, tinha ido cedo para o apartamento de para fazer o jantar, tendo em vista que ele estava uma pilha de nervos graças ao julgamento do dia seguinte, estava tão nervoso que seus beijos eram vorazes, mexiam com de uma forma que sequer conseguia explicar a si mesma.
  Estavam juntos há poucos meses, mas a conexão que sentiam era muito mais forte do que meros dias contados.
  Assim que ela colocou a louça na pia para secar sozinha, sentiu braços fortes a envolverem pela cintura e rodear seu corpo completamente, o tronco forte e duro encontrou com as costas dela e logo após ele enterrou o nariz em seu pescoço. sorriu e colocou suas mãos ainda molhadas em cima das dele.
  - Obrigado por ter vindo hoje, sei que você está com a semana corrida.
  Era verdade. havia conseguido um novo emprego no departamento de segurança do Estado como secretária e começaria na segunda, não era exatamente o que ela queria mas valeria a pena no final das contas.
  - Não precisa agradecer, preciso disso tanto quanto você.
   fez pressão no corpo dela e afastou o suficiente para que ela se virasse de frente.
  Os dois ficaram se encarando por um bom tempo em silêncio, muito amor estava envolvido naquela troca de olhares silenciosa.
   sentia nele a força e coragem que tanto precisava para o novo passo que estava dando em sua vida, Já a calma e a certeza de que tudo daria certo.
  - Eu amo você. - ele disse.
   sorriu e colocou as duas mãos na nuca do namorado.
  - Eu sei, e você sabe o quanto eu te amo.
   colocou a mão na bochecha dela e assentiu antes de beijá-la delicadamente, fazendo-a suspirar entre o ato. Ambos se entregaram naquele momento, sentindo seus corpos pedirem por mais contato assim que as línguas se encontraram.
   se afastou o suficiente para poder recuperar o fôlego, abriu os olhos e encontrou a encarando com intensidade, eles não precisavam dizer nada. Ele firmou o contato na cintura dela e a levantou como se não pesasse nada, não perdeu tempo em entrelaçar as pernas em volta do corpo dele e deixou ser levada, sentindo as mãos fortes segurá-la com força bem próximo de seu quadril.
  Eles não se beijaram no caminho até o quarto de , não era porque não quisessem fazer aquilo, muito pelo contrário, mas estavam ocupados demais encarando os olhos um do outro.
  Apenas sentindo o amor que eles haviam dito há poucos minutos, aquilo era importante tanto quanto seus lábios se chocando.
  Isso não demorou a acontecer, quando entraram no quarto o beijo foi mais rápido, muito mais intenso, e as mãos desenfreadas percorreram os corpos.
a deitou na cama, já sem conseguir trazer seu lado gentil a tona, e seu corpo automaticamente foi para cima do de , pedindo por mais contato que veio quando ela colocou as pernas no quadril dele, dando livre acesso para que as mãos dele agarrassem as coxas dela que ainda estavam cobertas pela calça.
  Enquanto seus lábios se encontravam avidamente, as mãos faziam o trabalho de tirar as peças de roupa inúteis que atrapalhavam tudo.
teve a sua blusa jogada em qualquer canto do quarto e aproveitou para descer os beijos entre o pescoço e ombro de , a resposta dela foi segurar os cabelos dele com força enquanto mordia o lábio para controlar certos sons.
  Depois que nada mais impedia que eles se amassem, assim o fizeram com uma paixão ardente. Sussurros e palavras desconexas foram ditas, ‘eu te amo’ foi proferido várias vezes por ambos antes que o clímax chegasse e se abraçaram como se o mundo fosse acabar naquela noite.
   precisava daquilo e sabia que sim, poderia enfrentar qualquer coisa se soubesse que era isso o que teria quando chegasse em casa.
   era a sua casa.
  E ele não a largaria nunca mais, nem que isso o fizesse sangrar outra vez.

Aquela manhã. Ainda no apartamento de .
Por volta das 10:17 AM.

   tinha posto o café e estava esperando sair do banho para poder fazer o mesmo, iria com ele para a base e precisava estar apresentável, tinha levado uma muda de roupa e avisado os pais.
  Eles eram eternamente gratos por ter salvado a menininha da família, respeitavam o soldado e Joe o admirava. A acolhida calorosa da família sem dúvida tinha sido uma surpresa e tanto para .
  Ela sentiu o cheiro da colônia de e olhou para a porta da cozinha, ele apareceu ali rapidamente com apenas uma toalha em volta da cintura e respirou fundo.
  - Ás vezes acho que você faz isso de propósito. - ela negou com a cabeça e cruzou os braços enquanto ele se aproximava sorrindo maroto.
  - Isso o quê? Você fica louca quando vê o meu corpo assim? - provocou e a puxou pela cintura.
  - Você sabe que sim, seu exibido. - ela o empurrou de leve pelo ombro, ele apenas riu. - Agora eu tenho que tomar banho ou não chegamos antes das 11:30.
  Ela tentou se afastar, mas ele não soltou.
  - !
  - E o meu beijo? - pediu, fazendo-a revirar os olhos teatralmente, mas dando aquilo que pediu.
   saiu depressa quando ele a soltou ou então iriam começar uma coisa que exigiria muita força de vontade para parar e eles não teriam isso.
   pegou uma uva e voltou para o quarto para se trocar, seu uniforme formal já estava passado e tomou o devido cuidado para não amassar. Isso era um grande problema para seus superiores e num julgamento podia ser crucial.
  Ele esperou um tempo até terminar seu banho e vendo-a sair com o vestido preto simples, mas que modelava bem seu corpo, sorriu ao ver que até mesmo descalça e sem maquiagem ela ficava ainda mais linda.
   o encarou e viu que ele a olhava com a gravata na mão.
  - Quer uma ajuda com isso? - sugeriu e ele apenas concordou com a cabeça.
  Se aproximou e pegou a gravata da mão dele, colocando-a em volta do pescoço e dando o nó certo. a observava minuciosamente e sorria de lado.
  - O que foi?
  - Eu sou muito sortudo em ter você.
  Ela sorriu sem graça.
  Ainda era inacreditável que eles estavam juntos ali e trocavam carinhos como nunca, nem em seus melhores sonhos tinha imaginado que agiria como se fosse casada com no apartamento dele. Sequer imaginava que eles teriam um futuro.
  Sem dizer nada, ela envolveu os braços na cintura dele e o abraçou firmemente, sentindo-o colocar uma mão no cabelo dela e a outra em sua nuca.
  - Eu não poderia pedir por mais nada. - ela sorriu largamente ao escutá-lo e inspirou o perfume dele.
   a enchia de elogios e não cansava de demonstrar seu amor, e ela nunca sabia como retribuir então apenas mantinha contato físico. Ele prometera a si mesmo que faria de tudo para mostrar o quanto a amava verdadeiramente depois do ataque. Não era como se precisasse, ele havia tomado três tiros por ela, era mais do que suficiente.
  Entretanto ele não via dessa forma, sabia o quanto a magoou e reconquistar sua total confiança demoraria um tempo, mesmo que ela dissesse que confiava cegamente nele, sabia que um certo receio era sentido por e não a culpava.
  A única saída que encontrou era mostrar o quão especial ela era, isso ajudaria a quebrar essa barreira. Havia jurado que seria sincero sempre e em qualquer situação.
  O casal não ficou muito tempo abraçado, precisavam se apressar para terminar de se arrumar e ir para a base, isso levaria um tempo um pouco maior e seus superiores odiavam atrasos, em um julgamento isso poderia fazer a sentença ser crucial.
   colocou seus saltos depois de ter passado uma maquiagem leve, prendendo o cabelo em um rabo de cavalo firme. Já se apressou para colocar seu calçado, pegar seu óculos escuro e a boina do uniforme.
  Devidamente arrumados, eles saíram do apartamento de mãos dadas, ambos estavam nervosos e tentavam passar uma confiança inexistente.
  O destino de seria decidido naquele dia e sabe-se lá o que estava prestes a acontecer.
  Ele só pedia a Deus que seja lá o que fosse acontecer, que o final dessa história fosse feliz.

[...]

   fazia de tudo para controlar a vontade de roer as unhas, fora proibida de entrar na sala em que seria julgado e aquilo a deixou nervosa, não parava de tremer e bater o pé em um ritmo descompassado.
  “Atividade restrita é uma ova”, pensou.
  Se o Coronel e o Major levassem em conta o depoimento dela, veriam o quanto a atitude de foi heroica. Quer dizer, ele fez com que a Equipe Alfa acabasse com os rebeldes naquele mesmo dia, isso devia ser o bastante, certo? O problema estava resolvido.
  Bom, era isso o que ela e metade da população achava, que a paz havia voltado a reinar no país, mas isso estava longe de acontecer.
  Na verdade, tempos sangrentos estavam prestes a acontecer e todo o exército sabia disso, inclusive .
  A invasão dos rebeldes pela fronteira era apenas a ponta do iceberg, existe tanta coisa por baixo que ninguém sabe, o trabalho pesado estava apenas começando.
  Durante o julgamento, se manteve sério e imóvel, bateu continência para seus superiores quando chegou e sentia o olhar do Major queimar sobre si. Não havia levado bronca dele até agora e isso o preocupava, se Major Walker não tinha dado seu chilique era porque alguma coisa tinha acontecido.
  A Equipe Alfa não estava presente, era seu Capitão e exigiu lidar com as consequências de seus atos sozinho, afinal a decisão que tomou fora apenas sua. Não prejudicaria seus parceiros ainda mais.
  Porém para a sua surpresa, por ordens do Ministro da Segurança e o próprio Presidente, não seria prejudicado em sua carreira militar, mesmo sabendo que seus superiores não concordavam com tal ordem. Segundo o Presidente, o ato heroico dele não poderia ser ignorado e nem puni-lo por fazer o que o exército é obrigado: proteger as pessoas e o país.
  Mas ele havia infringido uma lei militar, se recusou a cumprir ordens e isso traria consequências, teria a subida de cargo congelada até finalizar sua nova missão que era suicida e ele não teria o direito de recusar, tinha a obrigação de finalizá-la com sua equipe, que ganhará novos membros.
  As palavras do Major Walker ainda soavam duras em seus ouvidos, “veremos o quão bom você é, ou se é apenas uma farsa” fora o que dissera.
  Engraçado que não foi o Major que estava ali para salvar e metade do país.
  A farsa não era ele, um simples soldado.
  Só que sabia que sua punição era mais do que aquilo, ele tinha certeza que o Major havia transformado aquilo em uma guerra pessoal. Ele não era idiota, afinal era uma joia rara que o Major queria em seu domínio e o fato de ter acabado com qualquer plano dele conseguir isso, tinha aumentado a fúria de seu superior.
   respirou fundo assim que se retirou da sala, haviam sido duas horas bem longas de julgamento e ele só queria ir para casa antes que seu trabalho sugasse suas forças como nunca.
estava esperando numa salinha próxima dali reservada para ocasiões como aquela, se levantou da poltrona que sentava quando viu a figura do amado se aproximando. A expressão dele era indecifrável e isso a preocupou.
  - Está tudo bem? - perguntou, receosa.
   sorriu de leve e a segurou pela cintura, depositando um beijo suave na bochecha dela logo em seguida.
  - Está sim. - respondeu rápido. - Se importa de esperar um pouco aqui? Preciso fazer uma ligação.
  - Não, tudo bem. Eu espero. - ela sorriu para ele, notando que o semblante mudou para um ar mais sério.
  - Eu não demoro. - garantiu e se afastou, já tirando o celular do bolso.
   suspirou ao encará-lo ir, não fazia ideia o que tinha acontecido e a forma como ele estava agindo não ajudava em tentar desvendar.
  - Achei que ele não fosse embora logo. - uma outra voz surgiu atrás de e ela pulou de susto, se virando para quem fosse que estivesse atrás dela.
  Reprimiu a vontade de bufar quando o olhou.
  - Major. - apenas abaixou a cabeça rapidamente, não sabia como reagir, ela era uma civil e não tinha o porquê de bater continência, mas ainda respeitava o cargo dele.
  - . Continua tão bonita como da última vez em que a vi.
  ‘Tão bonita como da última vez em que a viu’? Levando em consideração que ela estava com a boca cortada, a roupa suja de sangue por causa dos tiros que levou e o desespero que estava no hospital, não achava que o elogio era verdadeiro.
  Ela desviou o olhar para qualquer outro lugar, aquilo não era uma situação confortável de se estar e o Major não tornava nada mais fácil.
  - Como vai a vida de comprometida?
  Depois do ataque dos rebeldes, sabia que a partir do momento em que estivesse com , as pessoas o usariam para atacá-la emocionalmente e vinha treinando sua cabeça para que estivesse preparada para isso.
  Não era surpresa que o Major fosse o primeiro a usar esse método, aparentemente ele ainda tinha uma quedinha por ela mesmo tendo levado um fora.
  Ela optou por não responder, olhava para todos os lados à procura de , que parecia demorar uma eternidade para aparecer.
  O Major riu irônico.
  - anda te ensinando direitinho, não é? - foi involuntário, mas o encarou assim que escutou o nome do amado, foi um erro porque o Major sabia que essa era a fraqueza dela e agora com a confirmação, não iria parar. - O gato comeu a sua língua? - provocou.
   suspirou.
  - Não, só uso minha educação pra quem merece.
  Aquilo tirou o Major da guarda por um minuto, não estava acostumado com as pessoas retrucarem, ele mandava e elas obedeciam.
parecia inocente e quieta, mas sua língua era afiada, era ousada quando precisava.
  Se sentindo desconfortável com o sorriso de lado que ele a lançava e a forma como a encarava, pediu para que chegasse logo e eles pudessem ir embora dali.
  E de fato aconteceu, ele voltou mas ficou tenso com a presença do seu superior. O respeitava como líder, mas tinha nojo de quem ele era, agora mais do que nunca.
   se aproximou e fez questão de segurar pela cintura, não porque queria exibir como se fosse um troféu, mas porque ela tremia e parecia estar prestes a desmoronar com aquela situação.
  - Podemos ir. - anunciou. - Está tudo bem? - perguntou baixo para que apenas ela ouvisse, embora soubesse a resposta.
   apenas balançou a cabeça freneticamente afirmando, mas sua cara dizia outra coisa.
   olhou para o Major, gostaria de poder ignorar sua presença, mas ele era obediente, era a sua natureza de bom soldado.
  - Senhor. - bateu continência.
   respirou fundo e olhou para como se implorasse que eles fossem embora, sabia que ele entenderia mesmo sem precisar olhá-la.
  - Dispensado, soldado. Nos vemos em breve... - Major falou de uma forma provocativa e ambos não sabiam para quem ele havia se dirigido.
   fez pressão na cintura de para que eles pudessem sair dali e ela suspirou alto quando chegaram do lado de fora do prédio. Os dois sentiam a tensão pelo corpo todo e assim que trocaram olhares sabiam que teriam uma longa noite de amor para poder esquecer os problemas que agora iriam aparecer com mais frequência do que sequer imaginavam.

[...]

  Spero e Shalom significam esperança em latim e paz em hebraico, respectivamente, coincidentemente eram também os nomes - agora oficiais - dos dois países que assinaram o Tratado dos Vilarejos.
  O Brasil fora dividido ao meio depois de uma longa discussão do congresso sobre como se governar um país tão grande e com áreas tão diferentes. Foi decidido então que o Norte e o Sul se separariam, uma ação que fora movida pelo próprio Sul, levando em conta o Centro-oeste do país que era tão produtivo quanto o próprio Sul. Depois de um longo tempo fazendo acordos, o Norte aceitou com a expectativa de poder ser governado da forma correta sem esquecerem de nenhum canto. Era a oportunidade perfeita de fazer tudo certo como se fosse a obra de arte pronta e o Brasil em si apenas o rascunho.
  Spero era o Norte, Shalom o Sul. Nomes bem sugestivos para as regiões.
  Tudo parecia ir bem, mais independência para as regiões que ansiavam por isso há muito tempo, mais controle em relação a diversas áreas, o povo mais satisfeito.
  Foi então que a primeira guerra aconteceu, rebeldes e revolucionários que não concordavam com aquela situação. Obviamente morte de inocentes passaram de um número razoável e começaram a assustar o resto da população, não era apenas rebeldes contra militares, era muito mais. Vizinho contra vizinho, irmão contra irmão. Brasileiro contra brasileiro.
  O presidente de Spero queria vingança, ele era simpatizante com a causa dos rebeldes e seu coração estava manchado com o sangue de todos aqueles que morreram pelo movimento, foi então que convocou todos os homens do país a servirem no seu exército e atacar sem nenhum aviso Shalom. Foi um verdadeiro massacre que custou a cabeça do presidente e uma punição para todos aqueles que concordaram, e para que jamais aquilo acontecesse novamente, o Tratado fora imposto.
  O fato era que os dois países nunca estiveram em paz e provavelmente nunca estariam, o perigo era iminente e os inimigos jamais estariam satisfeitos, eles sempre retornavam.

   passava essa história em sua cabeça várias e várias vezes, ele nasceu em Shalom e conhecia sobre a guerra como todo cidadão comum do país. A história vinha para assombrar sua mente, mas sua expressão não denunciava a confusão que sua cabeça estava. Não queria preocupar com seu trabalho, era difícil até para ele assimilar tudo aquilo, imagina para ela. Fora que era obrigado a manter sigilo sobre suas missões então não poderia falar nada.
  Tentou prestar atenção no que ela dizia sobre o jantar que eles organizaram com Soares e Lynn naquela noite, ela não parava de tagarelar sobre o quanto estava feliz de poder rever a amiga que voltava de viagem depois de dois anos.
  - ...daí eu pensei nisso, o que acha? - sorriu para o amado, mas ao encará-lo notou que ele olhava fixamente para a rua sem nem ao menos piscar. - ? - pensou em cutuca-lo mas tendo em vista que ele era um soldado com reflexos rápidos e que estava dirigindo, decidiu apenas chamar sua atenção falando alto.
  - Sim? - ele voltou os olhos para ela por poucos segundos antes de entrar no bairro conhecido.
  - Você não me escutou. - não era uma pergunta.
  - Eu… desculpa, amor. - ele balançou a cabeça e a simples palavra ‘amor' fez sorrir brevemente, porque ela voltou a ficar séria já que tinha notado como ele estava preocupado.
  - Aconteceu alguma coisa no julgamento? Você está quieto desde a hora que saímos.
  - Tá tudo bem, sério. – garantiu, mesmo sabendo que aquilo era uma tremenda mentira.
  - E desde quando tudo fica bem no exército? - ela perguntou e o encarou desconfiada.   Ele riu sem humor. Pior que ela tinha razão.
  - Não é nada demais, eu só tô pensando nas coisas que tenho que fazer amanhã.
  - Se eu bem me lembro - ela levantou a mão para poder acariciar a bochecha dele com a ponta dos dedos. - alguém tinha me dito para não me preocupar demais com o futuro.
  Mais uma vez ele riu, dessa vez se lembrando das mesmas palavras que haviam saído de sua boca quando estava assustada com o rumo que seu relacionamento tomaria depois que saísse do hospital depois do ataque.
  - É, talvez você tenha razão. - ele parou o carro em frente ao seu prédio e a olhou ternamente. - Eu devia me preocupar com coisas mais importantes. - desafivelou o cinto e virou o corpo para ela da forma que o carro lhe permitia.
  - Ah é? - ela sorriu e uma de sua mão foi para o peitoral dele. - Tipo o quê?
  - Isso aqui. - passou a língua nos lábios rapidamente antes de selar com os de , só deu tempo dela suspirar e fechar os olhos antes de senti-lo.
  Os beijos do casal sempre tinham um significado, nem sempre transmitiam apenas paixão ou desejo, ia muito além disso. procurava em naquele momento o combustível necessário para que lembrasse o que ele era, um bom soldado que faria o bem para o país não importava o que acontecesse. sentia o desespero dele, por isso fez com que o beijo fosse lento e significativo para o que ele estava necessitando, sem pressa e com todo o amor que ela sentia.
  Esse beijo ficaria na cabeça de para sempre, porque seria dele que o soldado tiraria forças nos momentos mais obscuros e difíceis. E estes iriam começar a partir de agora.

[...]

   estava uma pilha de nervos. Cozinhar sempre fora uma arte para ela, não foi a toa que ela se formou na escola técnica em culinária, mesmo não tendo tido tempo de viajar pelo mundo para poder adquirir mais conhecimento, mas com perguntando o que tinha que fazer a cada cinco minutos para poder ajudá-la estava fazendo-a perder a concentração. Depois da primeira hora, ela apenas disse para que ele fosse arrumar o apartamento que estava uma zona. Não queria que os amigos comentassem depois como a casa deles era bagunçada.
  Espera… a casa deles?
   parou o que estava fazendo por um minuto ao reparar que pensava como se ela e fossem casados, como se aquela fosse sua própria casa.
  - Amor. - a voz de apareceu do nada na porta da cozinha e ela pulou de susto, estava totalmente longe dali.
  - Ai que susto! - virou para encará-lo, que riu da cara dela. - O que foi?
  - Connor disse que ele e a Lynn chegam em quinze minutos, você não quer ir se arrumar? Eu olho a comida. - ele se aproximou, fazendo-a relaxar.
  - Sim, é melhor mesmo.
  - Ei. - a chamou quando ela se virava para ir embora, assim que os olhos dela voltaram para encará-lo, depositou um beijo rápido nos lábios dela.
  Eles não disseram nada, nem era preciso, apenas se afastaram e cada um foi fazer o que devia.
   não tinha muito o que fazer, só observar a comida no forno para que não queimasse.
  Já estava alheia a tudo, pegou a roupa que tinha separado e foi tomar banho, não deixou de pensar na forma como ela e o namorado agiam como se fossem casados. Não que fosse ruim, muito pelo contrário, mas o relacionamento dos dois estava tão forte em tão pouco tempo que ela sequer tinha reparado.
  Foi então que sua mente viajou para o primeiro dia em que ficou em coma depois do ataque dos rebeldes, jamais se esqueceria daquele dia.

Há 7 meses. Hospital Geral.
Às 4:46 AM. Sala de espera.

   sentia os olhos pesarem, os médicos passavam, mas nenhum deles tinha uma boa notícia, aliás nenhum deles tinha um resultado decente há horas.
  “Ele entrou em coma induzido, o cirurgião achou melhor. perdeu muito sangue.”
  “E o que acontece agora?”
  “Nós esperamos”

  Não conseguia parar de pensar naquela breve conversa com o médico que atendera quando ele chegou na emergência.
  Não queria esperar, queria que ele acordasse.
  Respirou fundo mais uma vez e passou as mãos no cabelo, completamente frustrada. Tej não estava mais lá, ele era o 2°Tenente e estava em reunião com o Major.
  Ele não foi muito específico, ou não escutou mais detalhes.
  - Cadê o meu filho? - escutou uma voz esganiçada e desesperada. - Eu quero ver meu filho agora. - olhou em direção a mulher que falava alto e pôde ver que por mais acabada que ela estivesse, ainda estava elegante. Por um momento, o formato do rosto dela era familiar.
  Sentiu a mulher olhar para ela e viu o semblante dela mudar, agora encarava com fúria e desprezo, viu a mulher caminhar até ela e não fez nada.
  - Eu não acredito que você está aqui, você é muito cara de pau mesmo. - olhou confusa para a mulher que praticamente cuspiu as palavras em sua cara.
  - Como?
  - Não se finja de cínica, garota, se o meu filho está aqui a culpa é toda sua!
   piscou algumas vezes, não estava entendendo o que aquela mulher estava falando e pior, porque gritava com ela.
  - Ah, não sabe do que eu estou falando? - sentiu o queixo cair quando a mulher falou novamente, era quase como se tivesse lido seus pensamentos, na verdade ela tinha reparado a expressão confusa da jovem. - sequer te mostrou uma foto da mãe dele? - riu amargurada. - Eu sabia! Foi por você que ele foi embora de casa, por você que ele renegou a família e por você que ele tomou três tiros. - a mulher levantou o dedo e apontou na cara de que estava totalmente sem reação. - Se você acha que eu a perdoarei por isso, está enganada. Eu jamais serei a favor desse romancezinho bobo de vocês, meu filho vai perceber o que ele deixou pra trás e irá te deixar. Não pense que o ganhou, você nunca poderá dar a ele a vida que o meu merece. Se você acha que um dia se casará com ele então saiba que eu farei de tudo para que este dia não chegue, e se chegar, desejarei que sejam infelizes.
  A mulher partiu como chegou, rápido demais. sequer conseguiu piscar na presença dela e durante suas acusações, quando ela foi embora sua ficha caiu, tinha finalmente conhecido sua sogra que a odiava mais do que tudo.

Atualmente. Apartamento do .
21:00 PM

  O jantar tinha fluído na mais perfeita ordem, e Lynn não conseguiram conter seus gritinhos ao verem uma a outra depois de tanto tempo e os rapazes apenas acharam graça enquanto se cumprimentavam com um aperto de mão e tapinha nas costas, a comida estava divina e fora elogiada pelos amigos várias vezes. Connor havia trazido algumas cervejas, com a desculpa de que como soldados eles não poderiam beber, mas agora que estavam de “férias” tinham que aproveitar, os casais se reuniram na sala de estar e começaram a jogar o papo fora.
  - Como foi a ida para o Canadá, Lynn? - perguntou enquanto colocava a mão na perna de , ela havia melhorado o humor com a presença da melhor amiga e daquele ar mais leve que o casal trouxera.
  - Maravilhosa, Vancouver é incrível. Uma pena que o Connor não pôde ir comigo. - ela fez um biquinho e o namorado riu.
  - Me desculpe, amor, eu tinha um país para salvar. - brincou, dando um beijo na bochecha dela.
  Lynn fora para o Canadá para estudar Moda, clichê, mas ela havia conseguido uma bolsa muito importante e difícil num período integral com a oportunidade de já atuar no mercado em uma Boutique famosa de lá, foi de curto prazo mas que fazia a bagagem profissional dela alavancar em comparação às concorrentes no país.
  - É muito ruim você ir para uma cidade toda romântica sem o seu parceiro, não tentem fazer isso. - aconselhou e foi a vez do outro casal rir.
  - Não se preocupe, amiga, não tenho intenção nenhuma de sair do país tão cedo. - falou e Lynn rolou os olhos teatralmente.
  - Claro que não, agora que você finalmente tomou vergonha na cara e está com o .
  - Lynn!
  - O quê? - a amiga levantou as mãos para cima. - Não é como se ele não soubesse que você sempre foi louca por ele né, dá um tempo.
   olhou para a amada que estava ficando vermelha e conteve a vontade de agarrá-la ali mesmo na frente dos amigos.
  - Fica quieta, não é só por causa disso. Eu tenho um emprego agora, tá bom.
  Todos riram e Lynn aplaudiu a amiga, embora não tivesse gostado muito da ideia da amiga ter largado o que ela mais amava fazer que era cozinhar, estava feliz por ela conseguir ajeitar a própria vida e principalmente, por estar com ao seu lado.
  - Você não é a única a ter novidades por aqui. - Lynn falou e olhou para Connor, os dois sorriram cúmplices.    e ficaram confusos, trocaram olhares, mas ambos não sabiam de absolutamente nada.
  - O quê? - perguntou.
  Lynn remexeu na bolsa e a olhou desconfiada.
  - Não me diz que você está grávida.
  Lynn parou e encarou a amiga, Connor arregalou os olhos e instantaneamente ficou branco como papel e virou motivo de piada para , que agora gargalhava da cara do amigo.
  - Pela cara do Connor, amor, tenho certeza que não é isso. Ou então seria uma surpresa pra ele também. - brincou.
  - Deus, , se você quer uma criança brincando por aqui, faça um filho você mesma. - Lynn retrucou e foi a vez do outro casal ficar sério, Connor não perdeu a oportunidade de rir do amigo. - Ok, vocês são péssimos para adivinhar então só leiam. - Lynn entregou um envelope para o casal.
   o pegou e se aproximou mais para poder ver o conteúdo, o envelope era marfim e com as iniciais do casal juntas em uma caligrafia fina.
tirou o papel de dentro do envelope e o queixo do casal caiu ao ler o conteúdo.

“Connor Soares e Lynn Alcantara alegremente os convidam para o seu casamento…”

   olhou para o casal, sentindo seus olhos lacrimejarem de felicidade.
  - Vocês vão se casar? - foi uma pergunta idiota, afinal a resposta estava nas mãos de , porém foi a única coisa que ela conseguiu dizer.
  Connor assentiu, com um sorriso de orelha a orelha.
  - Queríamos que vocês fossem os primeiros a saber, até porque vocês fazem parte da nossa história. - Lynn estava prestes a chorar também e sentiu o noivo acariciar sua mão levemente.
  - E também queremos que sejam os padrinhos. - Connor acrescentou e esperou a resposta do casal.
  Embora estivessem felizes pelos amigos, as reações foram totalmente contrárias do que realmente sentiam. olhava para o convite como se aquilo fosse uma bomba que estava prestes a explodir em suas mãos, Connor merecia e era um sortudo por ter encontrado alguém como Lynn, mas também sabia o porquê de tudo aquilo e de repente lhe bateu uma tristeza. Não era tristeza do amigo, mas de si mesmo.
   estava a ponto de chorar por dois motivos: estava tão feliz pela amiga, se conheciam desde sempre e agora estava prestes a vê-la se casar, mas também estava triste porque no final, ela queria estar no mesmo lugar que a amiga, mas nunca poderia.
  - Não dá pra recusar um convite desses. - respondeu e sorriu para os amigos, Lynn percebeu que tinha alguma coisa errada e tratou de fazer algo.
  - Perfeito, vamos pegar as cervejas para comemorar então. - Lynn não esperou uma resposta e puxou a amiga pelo punho para a cozinha no mesmo instante. - Vai, fala. - soltou a amiga e cruzou os braços.
  - Lynn, eu juro que estou feliz por você se casar com o Connor, não me entenda mal.
  - Eu sei, , sei que você está feliz e que nunca ia recusar a ser a minha madrinha. - suspirou aliviada. - Mas também sei que tem mais alguma coisa.
   respirou fundo antes de olhar para a amiga.
  - O que o Connor te contou exatamente?
  - O resumo, que você e o acabaram se reaproximando na guerra contra os rebeldes, que você foi feita de refém e ele fez o impossível pra te salvar, e agora estão juntos oficialmente.
  - O que ninguém sabe é que eu conheci a minha sogra no hospital quando o estava em coma. - contou e a amiga ficou chocada.
  - Espera, a sua sogra? A mulher que te odeia porque você é de uma classe social inferior da dela? - assentiu. - E é claro que ela te encheu de xingamentos. - adivinhou.
  - Você conhece essa gente melhor do que eu. - Lynn rolou os olhos, infelizmente era verdade. - Ela me ameaçou.
  - O quê?
  - Ela disse que eu nunca casaria com o e que ela vai fazer de tudo pra isso não acontecer.
  - Mas que mulherzinha mais baixa… Você falou com o ?
  - Não, você tá maluca? Eu não posso.
  - , sua sogrinha amada te amaldiçoou. Você tem que falar com o seu namorado.
  - teve e ainda tem problemas demais com os pais pra encher a cabeça dele com mais. - suspirou e a amiga riu desacreditada.
  - Quando você vai aprender a alertar ele sobre o que a família querida faz com você?
   não se moveu um milímetro sequer depois que as meninas foram para a cozinha, Connor o observava atentamente, sabia o que o amigo pensava e tentava achar uma forma de consolá-lo.
  - … - chamou a atenção, o amigo apenas o encarou sem dizer nada. - Sabia que ia acontecer, eu tinha que fazer isso.
   respirou fundo e pensou bastante antes de falar.
  - Eu estou feliz por você, cara, é só…
  - Você sente muito pelo o quê vai acontecer com a Lynn quando eu não estiver mais aqui.
   massageou a nuca, era um cara de poucas palavras, seus gestos bastavam.
  - Devia fazer a mesma coisa com a , enquanto ainda está aqui, sabe.
  - Nós somos soldados. - começou, coçando a nuca. - E esse novo trabalho… não vai ser a coisa mais fácil que já fizemos e não quero… eu não sei se é justo com ela fazer isso. Dar esperança depois que… você sabe.
  - Mas é melhor deixar que ela fique com uma pequena lembrança sua do que apenas dor.
  Connor fez se calar, aquilo era verdade e machucava o peito dele em ter que admitir pra si mesmo.
  Estava sendo egoísta, mas o peso que sentia nas costas por conta da sua equipe e das famílias de seus soldados era grande, ele era o responsável por eles e sua cabeça não parava de pensar em tudo que ainda iria acontecer.
  - Consegue imaginar a Lynn carregando uma miniatura sua?
  Connor sorriu largamente.
  - É o que eu mais quero na vida.
   respirou fundo e desviou o olhar do amigo, não podia recriminá-lo por isso, desde que conhecera Lynn sonhava em construir uma família com ela e sabia disso, e o apoiava.
  Mas agora a situação mudava, ambos tinham plena consciência disso.
  Porém, não podia ser egoísta, era uma escolha do amigo e não podia fazer nada além de apoiá-lo.
  - Não espere que eu chore na cerimônia, sabe que não acontece fácil. - falou, vendo Connor sorrir agradecido.
  As meninas voltaram para a sala com as garrafas de cerveja na mão, era a única que não iria beber - não era muito fã de cerveja -, a conversa se estendeu sobre o casamento e a viagem de lua de mel que os noivos estavam planejando.
  Foi um final de noite bem agradável, embora e não estivessem se encarando até o momento, ocupados demais em pensarem em seus próprios problemas sem coragem para compartilhá-los, eles se prontificaram em ajudar os amigos no que fosse necessário. com a parte mais decorativa e chata, e com a parte braçal. Teriam que correr atrás da roupa adequada já que o casamento seria dali a dois meses, em cima da hora, mas fariam de tudo para que desse certo.
  Quando os amigos anunciaram que iriam embora já era tarde, estava cansada e ansiosa pelo dia seguinte de trabalho, se despediram com abraços calorosos e ficaram em silêncio por um longo tempo.
  Sem dizer nada, foi pegar sua bolsa e seus sapatos para calça-los e ir para casa, por mais que gostasse da ideia de morar com , aquela ainda não era sua casa.
  - , você não quer… - começou a falar depois que viu a namorada colocar o sapato.
  - Eu acho que nós dois precisamos passar essa noite sozinhos. - ela interrompeu de modo suave.
  Não estavam brigados ou coisa do tipo, mas ela estava certa, tinha muitas coisas para pensar e precisava de um tempo sozinha, organizar a cabeça enquanto podia.
Amanhã seria um longo dia.
  - Eu te levo então. - ele decretou, pegando as chaves do carro em cima da mesinha da sala.
  Ela concordou e pegou a bolsa, saindo do apartamento com atrás dela trancando-o logo que passou pela porta. O caminho até a casa de foi tão silenciosa quanto a ida deles ao carro, não era um silêncio que incomodava os dois. Muito pelo contrário, eles precisavam daquilo.
   estacionou na frente e respirou fundo antes de olhar para , ela tirou o cinto e colocou o cabelo atrás da orelha antes de encará-lo.
  - Boa sorte amanhã no emprego. - a mão dele que não estava no volante tocou a bochecha dela e fez um carinho gostoso.
  - Eu estou nervosa. - confessou.
  - Não fique, no final tudo vai ficar bem. - ela concordou mas não falou nada.
   se aproximou para beijá-la na testa de forma doce, ela aproveitou para fechar os olhos e sentir os lábios dele em sua pele.
  - Eu amo você. - sussurrou, fazendo-a suspirar.
  - Você sabe o quanto eu amo você. - ela respondeu o que costumava, vendo-o sorrir.    saiu do carro, acenando para o namorado e entrando em casa rapidamente. só deu a partida quando viu que estava dentro e segura em casa, tinha pegado essa mania depois do ataque, para soldados como ser cauteloso e esperto depois de lidar com bandidos era mais comum do que aparentava, embora ninguém realmente notasse isso, inclusive .
  Mas o que os dois não sabiam era que um carro preto analisava cada passo deles no final da rua.

Capítulo 02 - We're on the frontlines

  A manhã foi conturbada para , ela pediu ajuda da mãe para achar a melhor roupa para o primeiro dia no emprego novo, precisava estar o mais perfeita possível, seria secretária no departamento de segurança e não poderia ir de qualquer jeito.
  No fim, resolveu ir de forma simples, mas elegante, vestindo uma calça flare preta e uma blusa de mangas compridas branca com um salto também preto, colocou um colar simples que lhe deu um toque especial ao visual e para completar, a maquiagem não era forte, sequer precisava, mas achou melhor não chamar a atenção demais logo no primeiro dia.
  Se despediu dos pais e foi de metrô, não era longe de sua casa, precisou respirar fundo várias vezes antes de entrar no prédio. Deu bom dia aos seguranças e passou seu crachá no leitor para ter a passagem liberada, feito isso seguiu para o último andar e se apressou para ligar o computador e arrumar sua mesa conforme achava necessário.
  Não demorou muito para escutar o barulho do elevador parar em seu andar e sentiu as mãos suarem, respirou fundo e passou as palmas na calça antes que o chefe visse o quão nervosa estava.
  Assim que o senhor que aparentava ter a mesma idade de seu pai apareceu em seu campo de visão, tratou de sorrir cordialmente.
  - Bom dia, senhor Campos.
  - Bom dia, . Tenho uma reunião particular com um grande agente agora pela manhã, me avise assim que ele chegar.
  - Sim, senhor! - assentiu e esperou o chefe entrar em sua sala para de jogar na cadeira, liberando todo o ar que tinha prendido.
  Era uma situação nova para , sempre trabalhara em restaurantes porque sabia que era isso que queria fazer pelo resto da vida, nunca havia trabalhado em um prédio e tendo um militar como chefe.
  Seus chefes eram sempre pessoas de idade que admirava e a tratavam como uma neta.
  Campos podia ser bem mais velho, mas o fato de ser Capitão Reserva do Exército fazia suas pernas tremerem, ele era uma autoridade e da mesma patente que . A diferença era que deixava suas pernas moles porque estava apaixonada por ele.
  E Campos parecia ser um homem muito severo, não era atoa que servira na primeira guerra dos rebeldes e assumiu o cargo mais alto do departamento de segurança.
  “Chega de pensar nisso, foca no serviço!”, falou para si mesma e tratou de cumprir.
   estava atualizando a agenda de seu chefe quando fora anunciado que o agente havia chegado para a reunião, liberou a entrada e avisou o chefe, que pediu para que ela o acompanhasse até sua sala quando subisse.
  No momento em que o elevador chegou no andar, deixou com que a caneta que usava para marcar telefones importantes caísse no chão, se abaixou para pegar no exato momento em que o agente chegava e ia em direção a sua mesa.
  Ela tentou pegar a caneta depressa e acabou batendo a cabeça na madeira, fechou os olhos ao sentir a dor e prontamente colocou a mão no local machucado.
  Quando voltou a ficar ereta novamente, abriu o olho e desejou não ter feito isso, ficou sem fala ao ver a última pessoa que gostaria naquele momento.
  - Major Walker. - cumprimentou contra sua vontade e sentindo sua cabeça latejar.
  - , mas que bela surpresa. - sorriu para ela, que respirou fundo. Teria que ser educada e profissional.
  - O Capitão Campos o aguarda, queira me acompanhar, por gentileza. - apontou para frente e saiu de sua mesa, sentindo que o Major a encarava fixamente enquanto o guiava.
  Sentiu um arrepio ruim passar pela espinha mas tratou de ignorar, bateu na porta e assim que escutou o chefe autorizar, a abriu e deu espaço para que o Major passasse.
  Ele o fez mas de propósito deixou que seu corpo quase tocasse o de e a olhou enquanto sorria.
  - Obrigado. - falou baixo e ela olhou para qualquer outro lugar menos para ele.
  - Walker! Feche a porta, por favor, . - Campos pediu.
  “Com prazer”, pensou.
  - Com licença. - o fez e praticamente saiu correndo para o banheiro.
  Parou em frente ao espelho e passou a mão no rosto, respirando fundo várias vezes. Campos havia dito que a pessoa que estava esperando era importante e que não saía do departamento, vinha conversar a respeito da segurança pública por pelo menos duas vezes por semana. O que significava que o Major era confiável e muito requisitado pelo chefe, encontraria com ele toda a semana de agora em diante e teve uma sensação horrível.
  Suspirou antes de voltar para a mesa antes que o chefe notasse que tinha saído, tudo o que queria era o abraço reconfortante de mas não o teria por agora.

  Aquele não foi um dia fácil para , tudo parecia conspirar para ser um péssimo dia, típico de uma segunda. Quando achou que melhoraria ao ver a mensagem de no celular, um balde de água fria fora jogado em sua cabeça.

“Estou atolado de trabalho, vou chegar muito tarde.
Não sabe o quanto eu queria estar com você agora.
O dia está uma merda.”

“Bom, pelo menos nisso nós combinamos hoje.
E olha o linguajar, !”
, respondeu.

“Posso ver seu bico daqui por causa da palavra feia que usei.”

“Seus pais não te deram educação não?”

“Você não reclama em certas horas ;)”

   sorriu sem graça.

“Bobão”

“Eu te amo”

  Ela suspirou e respondeu de volta, deixando o celular de lado logo depois, precisava se concentrar e conversar com não iria ajudar em nada. Pelo menos, não naquele momento.
  A reunião do chefe demorou horas, sequer podia imaginar do que se tratava e sinceramente, quem era ela para se meter naquele assunto? Pouco se importava, ainda mais sabendo que Major Walker estava ali.
  Ela tornou o dia bem produtivo, separou os compromissos mais importantes do chefe e alguns recados que deveria passar, não era um trabalho muito difícil. Quer dizer, o chefe tinha mais reunião do que qualquer outra coisa.
   estava para fazer seu horário de almoço quando a reunião acabou, o chefe se despediu do Major e avisou a ela que ficaria na sala, dando autorização para que ela saísse. Respirou fundo ao notar que o Major havia segurado o elevador para que ela entrasse junto com ele, agradeceu com um sorriso forçado e ficou em silêncio enquanto a cabine descia, ao que parecia, mais devagar do que deveria.
  “Contanto que eu não fique presa com ele nesse cubículo”, pensou.   A presença do Major a assustava, sabia que ele a encarava sem vergonha alguma e isso a deixava desconfortável.
  Depois do ocorrido há meses atrás, não conseguia mais ter simpatia pelo Major, era estranho porque aparentemente ele não havia feito nada mas sentia como se ele tivesse mudado.
  Major Walker estava mais sério, seus olhos mais agressivos e sua postura mais rígida, a invasão dos rebeldes havia mudado muita coisa e a personalidade do homem estava nessa lista.
   tentou não demonstrar a alegria que sentiu quando o elevador parou no térreo, seria indelicado demais de sua parte, segurou melhor sua bolsa e saiu dali.
  - . - escutou seu nome e parou antes de conseguir sair do prédio.
  - Sim? - encarou o Major, ele estava atrás dela.
  - Parabéns pelo novo emprego. - congratulou.
   reprimiu a vontade de franzir a testa.
  - Obrigada, Major. - respondeu, educada.
  - Até quarta. - sorriu para ela e foi embora, deixando-a confusa.
  Aquele dia definitivamente poderia acabar.

[...]

  - O que é isso? - perguntou, encarando a pasta já cheia de arquivos. Aquela documentação era uma bomba relógio pronta para explodir em seu colo. - Não tinha dito que não acreditava em você, só que seria impossível provar.
  - Nem tanto.
  - Quanto mais você precisa? - chiou.
  - Acho que você tem uma noção.
  - Não acredito que tenha muito tempo para isso.
  Riu, achando engraçado o desespero estampado em sua cara.
  - Se eu fosse você achava um tempinho. Vai adorar saber quem são os militares envolvidos na invasão dos rebeldes.

[...]

  O expediente acabou se tornando bem exaustivo para , não parecia, mas andar pra lá e pra cá com aquele salto e roupas sociais enquanto acompanhava os convidados do chefe para suas respectivas reuniões era bem cansativo. E chato.
  A volta para casa a deixou ainda mais esgotada, chegou e foi direto tomar um bom banho, quando terminou colocou roupas finas para aguentar aquele calor, foi jantar o que a mãe havia preparado e conversou com seus pais sobre o primeiro dia de trabalho.
  A conversa fora breve e logo estava na cama, mal conseguiu mandar uma mensagem para perguntando se ele havia chegado, assim que deitou na cama, dormiu quase que instantaneamente.

   era arrastava para uma linha de fumaça que não saía de sua cabeça, a cena em que ela era feita de refém por Vincent era repetida inúmeras vezes como um loop, o medo que sentia e o pavor porque tinha uma arma apontada para sua cabeça, tudo estava ali de novo.
  Porém, dessa vez quando chegava perto de , ao invés de ficarem próximos, eram afastados mais ainda. E então, ele levava os três tiros de novo.
   queria gritar, mas sua garganta não conseguia produzir nenhum som, estava aflita porque agora parecia que era apenas uma mera espectadora e isso não resolveria nada.
  Queria gritar. Queria correr. Queria chorar.

   se movimentou pesadamente na cama e acordou de forma brusca, sentindo as lágrimas escorrerem pelo seu rosto e descerem da orelha para se perderem em seu cabelo. Sentia o coração bater aceleradamente e puxou o ar, notando que a nuca molhava parte do travesseiro.
  Tinha sido um sonho, só mais um daquele dia horrível que não a abandonava nunca.   Como de costume, porque os pesadelos eram frequentes - “sequela do ataque”, como havia dito a primeira vez -, pegou o celular ao lado da cama e desbloqueou a tela.
3:38 A.M.
  Respirou fundo antes de ligar para o namorado, sem hesitar por conta do horário, no segundo toque a ligação fora atendida.
  - Alô? - fechou os olhos ao escutar a voz rouca de , precisava tanto daquilo naquele momento.
  - Sou eu, amor. - sussurrou porque não tinha forças depois do pesadelo.
  - … - despertou, a voz da amada estava fraca, sabia exatamente o que significava. - Aquele pesadelo de novo? – perguntou, mas nem precisava de uma resposta porque tinha certeza que era.
  - Sim. Eu precisava escutar sua voz pra ver que não era real.
  - Tudo bem, amor, eu estou aqui. Você está bem, está segura.
   mordeu o lábio para conter a vontade de chorar.
  - Era tão real, tive medo… - admitiu.
   sentiu como se tivesse levado um tiro de novo, mas dessa vez em seu coração quando escutou a voz frágil de . Doía tanto.
  - Não tenha medo, escute a minha voz. Eu estou bem e estou com você. Ninguém nunca vai te machucar de novo, tudo bem?
  - Uhum.
  - Agora deite na cama, - pediu e ela o fez, se aconchegando melhor. - feche os olhos e se concentre apenas na minha voz.
   o fez, agora com a respiração voltando ao normal.
  - Queria que estivesse aqui. - ela falou um pouco sonolenta, a voz de era como uma canção de ninar.
  - E estou, me imagine te abraçando. Sempre estarei com você, meu amor. Para sempre.
  Ela fez isso, imaginou ali, seu calor envolvendo seu corpo de uma forma tão agradável. O carinho que ele geralmente fazia no braço dela poderia praticamente ser sentido. sorriu de leve, inflando os pulmões e lembrando do cheiro dele.
  Com a voz suave dele no telefone e seu perfume em sua memória, ela adormeceu novamente. Dessa vez sem pesadelos.

[...]

  A semana se arrastou daquela forma, e ocupados demais com seus respectivos empregos, geralmente telefonavam um para o outro no final do expediente, o fazia porque se preocupava em saber se estava sendo assombrada por seus pesadelos novamente. Tudo o que ele queria era encontrá-la e abraçá-la tão forte que ela iria rir em seu ouvido e cutucar suavemente em seu braço para mostrar que estava sendo esmagada, não que ela reclamasse quando isso acontecia, afinal amava o abraço dele.
  Enquanto estiveram separados na semana, antes de adormecer relembrava o dia em que conhecera , sorria toda vez que as memórias dominavam sua cabeça.

Há 4 anos. Casa da Lynn.
Por volta das 19:30 PM.

  A festa de aniversário de Lynn era para ser uma reunião pequena e sofisticada, com os amigos mais íntimos da mulher, mas sabia o quão exagerada a namorada do melhor amigo era então não foi surpresa nenhuma se deparar com a luxuosa casa repleta de gente.
  Ele não gostava de reuniões daquelas, especialmente porque os pais queriam que aquilo fosse sua vida, mas ele odiava ser sociável com pessoas que não se importam com o que você sente ou pensa.
  Porém era obrigado a ir nesses lugares para mostrar aos pais que estava fazendo o que queriam. E também detestava isso.
  Viver para agradar os outros, para agradar seus pais. E daí que seu pai era dono da maior multinacional de exportação do país? Não queria seguir aquela profissão, odiava ficar trancado em uma sala pequena.
  E também não queria casar com a filha patricinha nojenta do magnata advogado mais rico da cidade apenas para que os pais pudessem virar sócios, e num futuro, assumir todo aquele império para si.
  Bufou ao sentir sua cabeça pesar só de lembrar de todo esse rolo, vendo que não encontraria Connor tão cedo, decidiu ir até o escritório do pai de Lynn para pegar um whisky decente e encher a cara. Tinha total permissão e intimidade para aquilo, e mesmo que não tivesse, arrumaria um lugar para ficar longe de todo aquele barulho.   Escutou uma voz no escritório e se aproximou devagar para que não chamasse atenção, imaginou que fosse um casal brigando ou fazendo outras coisas, mas parou ao ver que uma garota estava sentada no sofá com uma mão na testa, parecia um tanto quanto nervosa.
  - Não seja covarde. - falou para si mesma e respirou fundo algumas vezes. - É só um garoto, o que de errado pode acontecer?
   encostou no batente da porta e cruzou os braços, achou aquilo um pouco… interessante.
  - Além de eu ter pisado no pé dele com esse salto enorme e derramado vinho tinto na camiseta dele que deve valer mais do que a minha casa.
   dialogava com si mesma sem notar a presença de ali, na verdade estava tão ocupada que não reparou quando ele entrou no escritório sorrateiramente ainda observando-a.
   tinha ido até a festa porque Lynn, sua melhor amiga, havia implorado. Detestava aquelas reuniões com gente rica e mimada, mas sabia que a amiga ficaria feliz com sua presença.
   e Lynn eram amigas desde a pré escola, embora vindo de uma família humilde - bem diferente de Lynn -, seus pais não mediram esforços para que ela e o irmão estudassem em uma boa escola particular. Com a inteligência, ambos conseguiam se manter com as bolsas de estudo em suas escolas futuras.
  Lynn mesmo vindo de uma família rica, era humilde, a única de nariz empinado que se manteve amiga de até mesmo no ensino médio. Gostava de porque era autêntica e sincera, não era sua amiga por suas aquisições mas porque realmente gostava dela. Isso só tornou o laço de amizade ainda mais forte.
  Lynn também havia convidado o rapaz que estava gostando para seu aniversário naquele dia, era um rapaz da sua rede de amigos, mas parecia bem caidinha por ele então decidiu ajudar, era a oportunidade perfeita para falar com ele.
  E teria sido, se não tivesse ficado tão nervosa em falar um simples oi e sem querer ter pisado no pé do rapaz e batido a mão no copo de vinho tinto que ele tinha nas mãos. Fora uma cena engraçada. Constrangedora, porém engraçada.
   então não pode fazer nada além de pedir milhares de desculpas e simplesmente… correr. Acabou indo parar no escritório do pai de Lynn, gostava daquele lugar porque além de ser o mais calmo naquela noite, era aconchegante o suficiente para se sentir um pouco melhor.
  Ela respirou fundo pela milésima vez e voltou a realidade, pronta para voltar e encarar o rapaz novamente para pedir desculpas apropriadas. E teria feito isso se seus olhos não tivessem encontrado os de .
  Os dois não sabiam o que tinha acontecido, mas era como se tivessem se encontrado não através do olhar, mas sim da alma.
   não conseguiu desviar, alguma coisa a prendia em , não podia imaginar que era possível sentir o coração bater tão rápido e as mãos suarem frio por causa de uma só troca de olhar. Mas aconteceu e foi tão vívido que lhe faltou ar. Foi único, de fato.
  E , sentiu como se tivesse encontrado seu propósito. Se sentia tão perdido durante todo esse tempo, mas olhando para ela era como se tivesse achado seu caminho. Foi estranho para ele, mas um estranho tão bom que não quis interromper o momento.
  Embora nenhum dos dois tivesse essa vontade, aquela bolha invisível fora estourada quando sentiu seu rosto corar e desviou o olhar, sorriu sem graça e precisou juntar muita força na perna para levantar do sofá e sair dali o mais rápido possível. Ou provavelmente continuaria ali, porque sinceramente ela poderia fazer aquilo pelo resto da noite.
  Nenhum dos dois disse nada, porém a seguiu com o olhar até perdê-la de vista, piscou algumas vezes depois que ela sumiu, tentando entender o que raios havia acontecido.

  A festa continuava animada às 21h da noite, não havia bebido o whisky porque nem se lembrava mais dele depois do que aconteceu, resolveu voltar para a sala em busca da garota, mas não achou. Tinha gente demais ali.
  Achou Connor e os dois começaram a conversar sobre diversos assuntos, Lynn vinha arrastando pela mão para que se enturmasse um pouco quando viu o namorado conversar com o melhor amigo.
  - Não quero mais conhecer ninguém. - reclamou baixinho.
  - Não vai acontecer nada. - Lynn garantiu.
  - E como você sabe que não vou quebrar o nariz de alguém sem querer? - perguntou mas a resposta que teve foi a melhor amiga rolar os olhos.
  - Meninos! - Lynn chamou a atenção e virou em sua direção. - , esse é o , melhor amigo do Connor. , essa é a .
  Os dois se encararam de novo, não havia percebido quem era até olhá-la nos olhos e percebeu que a garota deixou o queixo cair de leve.
  Ele sorriu de lado, tombando um pouco a cabeça, o que achou extremamente fofo, ela iria estender a mão quando ele se aproximou e beijou sua bochecha. Ela paralisou com o contato macio dos lábios dele em seu rosto, geralmente o que acontecia era um cumprimento bochecha com bochecha e não daquele jeito.
   fez de propósito, ah fez, na verdade ele queria ter feito isso no escritório mas deixou a oportunidade passar e ao ver que o destino havia colocado a garota bem na sua frente não poderia perder. Porém, quase se arrependeu ao sentir o perfume de tão perto e perceber o quão macia era a pele dela.
  Ela sorriu de leve e desviou o olhar, tentando não demonstrar o nervosismo e como aquele momento havia a afetado tanto enquanto Lynn falava alguma coisa que nem prestou atenção.
  Ela não se aguentou e voltou a encará-lo, desejando conseguir decifrá-lo, enquanto não tirava os olhos e sorria para ela.
  Realmente havia encontrado seu propósito e sabia que estava ferrado, mas naquele momento concluiu que era sua salvação.

Naquela mesma semana. Clube de Golfe.
Festa dos sócios. 10:30 AM.

  A agenda de naquela semana estava cheia graças aos compromissos dos pais. A família era sócia do clube de golfe, um esporte que o primogênito achava chato, mas era muito bom, naquele domingo ensolarado era a festa comemorativa para os sócios se encontrarem. achava aquela tradição um verdadeiro desperdício, eles ficariam ali naquele coquetel chato conversando sobre suas fortunas e como seus filhos tomarão seus lugares no futuro.
  Um porre.
   estava com seus pais escutando eles conversarem com um dos clientes da empresa quando a família Bittencourt se aproximou.
  - Helena, querida! - a mãe de foi cumprimentar a mulher que chegou.
  - Cristina, como vai? - as duas deram dois beijinhos de bochecha a bochecha, mas sem se encostarem.
  - Sérgio. - Bittencourt cumprimentou o pai de .
  - Raul. - os dois apenas apertaram as mãos.    notou quando Helena Bittencourt o encarou.
  - Ah meu Deus, esse é seu filho? - a mulher parecia surpresa.
  - Está um homem, não? - a mãe de repousou uma das mãos no ombro do filho, indicando que ele cumprimentasse os recém-chegados.
   respirou fundo e fez a melhor cara de paisagem que conseguia, trocou a mão que segurava o copo de seu drink e se aproximou de Helena, que estendeu a mão e beijou as costas da mesma.
  - Como vai, senhora Bittencourt? - perguntou educadamente.
  - Muito bem, meu caro.
   virou sua atenção para Raul e estendeu a mão para o homem, apertando da mesma forma que seu pai o fez.
  - , garoto, que bom vê-lo.
  - Igualmente, senhor.
  Assim que se soltaram, uma garota da idade de se aproximou.
  - Creio que se recordam de minha filha, Emily. - Helena apresentou a garota.
   quis rolar os olhos com a animação de seus pais ao verem a garota, era óbvio que se lembravam dela, aliás mais do que isso.
  A garota ruiva, magra e alta como uma verdadeira modelo dos catálogos da Vogue ou Marie Claire era quem seus pais queriam que ele investisse em um relacionamento.
  “Não é só pelos meus negócios, é pelo seu futuro também” lembrava perfeitamente da fala de seu pai.
   a encarou esperando que algo nela o atraísse, Emily sorriu doce para os pais dele e quando voltou seu olhar para o herdeiro dos , o olhou de cima a baixo e levantou a sobrancelha, escondendo o sorriso provocativo que fez tanto efeito em quanto aquela festa estúpida. Nenhum.
  Foi então que se lembrou de na festa de Lynn na quinta-feira, ainda podia sentir todo o seu coração queimar por causa do olhar daquela garota, da pele macia do rosto dela, do seu perfume que ainda estava preso no nariz dele e viajava pelo sangue como uma droga. Jamais esqueceria aquele perfume. E definitivamente, jamais esqueceria aquela troca de olhares que tiveram.
  Embora tivesse uma garota bonita e atraente na sua frente, era em que pensava.
  Era sempre ela.

Um mês depois. Casa dos pais de . 22:00 PM

  A rotina de não havia mudado, ainda estava protelando em entrar na faculdade que o pai tanto queria e seus pais continuavam enchendo sua cabeça com os mesmos assuntos.
  Ele só tinha 19 anos, tinha terminado a escola e queria fazer algum trabalho voluntário, não assumir os negócios da família, mesmo que estivesse fazendo estágio no escritório.
  A única coisa que havia mudado era o interior dele, ainda pensava em e em como não teve uma boa oportunidade de ficar sozinho com ela, agora percebia que precisava disso.
  Suas únicas armas durante esse tempo era a internet, seguia em suas redes sociais e passava um bom tempo admirando o perfil dela no Instagram.
  A garota tinha um cachorro pequeno, gostava de tirar foto do céu não importava como estava, nublado ou aberto, era sempre foto do céu. E claro, as selfies da garota eram maravilhosas, sorrindo, séria ou fazendo careta, ela era linda de qualquer forma.
  Claro que não passava horas stalkeando ela, seria assustador até para ele, mas o passo para criar algum tipo de laço era pelas redes sociais. Por isso, sempre curtia as fotos da garota, que sempre apareciam para ele. Isso era inteiramente culpa do algoritmo do aplicativo. E às vezes deixava um comentário.
  Lynn acabou percebendo o gesto do melhor amigo e logo fez uma chamada de vídeo para conversar sério com ele.

  - Só me passa o contato dela, não é nada sério. - respondeu depois de quase 10 minutos de conversa.
  - Se não é sério porque quer o contato? - viu Lynn fazer o bico que sempre fazia quando sabia que estava certa.
  - Pra conversar… porque eu tô te dando satisfação mesmo?
  - Porque a é minha melhor amiga e se você a magoar eu te mato.
  - Eu não vou pedir a garota em casamento, Lynn. - ainda não. - Sabe que posso conseguir de outra forma.
  - É? Vai fazer o que, chamar ela no Messenger do Facebook?
   sorriu.
  - Não é uma má ideia, sabia.
  - Boa sorte, ela não responde ninguém lá.
  - Vai, Lynn, qual é me manda logo. Sabe que minhas intenções são boas. - reclamou.
  - Isso não significa que dos outros serão. - mesmo via celular, Lynn lançou o olhar que não queria no momento, se referindo a quem não iria gostar nada daquela história.
  - Não vem ao caso agora. - respondeu.
  - Pensa bem no que você vai fazer, . odeia que mintam pra ela, e eu odeio que a destratem por não ser do “nosso mundo”.
  - Isso não vai acontecer, não na minha frente. - ele garantiu.
  Lynn respirou fundo, acreditava nele, mas sabia que seria difícil para os dois.
  - Sabe que uma hora vai.
  Os dois ficaram em silêncio.
  - Demonstra interesse, fica fácil demais eu te dar o telefone dela dessa vez.
  - Você vai ficar me devendo uma, viu. - avisou.
  - Vá a merda, .
  - Também te amo, minha querida amiga.

Semanas depois. Shopping da cidade.
19:30 PM.

   subia as escadas rolantes do shopping sentindo o coração querer sair pela boca, suas mãos tremiam e as palmas estavam molhadas de suor, tentava lembrar a si mesma que não precisava ficar tão nervosa mas era em vão.
  Ora era seu primeiro encontro com um cara que sentia alguma coisa, que parecia mais do que uma simples atração, já tivera sim outros encontros com algumas paqueras, mas nunca tinha ido sozinha porque o rapaz em questão havia chamado-a, sempre ia com os amigos pra ver filme de terror - e claro, se agarrar na paquera porque morria de medo de filmes assim -, porém ela não ficou nervosa nas outras vezes. Era sempre uma saída entre amigos, uma galera, não conseguia ficar ansiosa.
  Mas agora tudo era diferente. era diferente.
   não costumava entrar no Facebook e muito menos pelo notebook entretanto um dia algo nela disse para o fazer e foi uma surpresa ver na barra de notificação a solicitação de amizade de , o cara por quem sentiu coisas estranhas na festa da melhor amiga. Aceitou no mesmo instante sentindo o rosto ruborizar enquanto vasculhava o perfil dele, viu alguns posts de conteúdo nerd e algumas fotos, das quais demorou para passar pois quis observar com atenção.
  Suspirou e sorriu sem nem ao menos perceber, levou um susto quando viu uma janela de conversa subiu em sua tela. Sua mão começou a tremer ao notar que era ele quem havia chamado.
   quis gritar, o sorriso bobo não saía do rosto, e eles engataram numa conversa longa e duradoura que só acabou quando pediu no telefone dela. A garota precisou ler mais de uma vez para ter certeza se era aquilo mesmo, mas passou de boa vontade e ele a chamou no Whatsapp.
  As horas não pareciam passar quando eles conversavam, entrava a noite, a madrugada, virava o dia e eles ainda continuavam conversando. Nenhum dos dois queria parar. Mas chegou um momento em que apenas a conversa pelo celular não era suficiente, foi aí que a convidou para sair, pegariam um cinema.
  E era por isso que estava tão nervosa a ponto de tremer, viveu escutando histórias de casais em cinema, a última coisa que as amigas faziam era assistir o filme. Não estava assustada por pensar nessa situação, muito pelo contrário, ela queria tanto aquilo que não sabia o que fazer. Era uma garota inexperiente em encontros e muito menos em ficadas daquele estilo, já tinha sim beijado e foi uma experiência bem horrível, não que achasse que beijasse mal.
  “Para de pensar se ele vai te beijar ou não. Só curte o momento”.
  Mas estava insegura, era um ano e meio mais nova do que ele, inexperiente e estava tremendo mais do que um Pinscher.
  Desbloqueou o celular e viu a mensagem mais recente dele:
“Cheguei. Estou subindo.”
  Ela respirou fundo e olhou em volta, nenhum sinal dele, resolveu responder um “Tudo bem, estou aqui na frente” lembrando que haviam combinado de se encontrar no cinema do shopping.
  “Não seja covarde, não seja covarde”, falava baixinho para si mesma.
   sentiu as pernas darem uma pequena vacilada quando viu caminhando em sua direção, era clichê demais porém parecia que ele estava caminhando em câmera lenta enquanto seu olhar focava nela.
  E o sorriso que deu foi o suficiente para que ela esquecesse de qualquer nervosismo ou insegurança, ela retribuiu e tombou a cabeça um pouco para o lado.
  Assim que ele estava devidamente perto, estendeu os braços e ela sem nenhum resquício de timidez, o abraçou sentindo o calor natural do corpo dele a envolver da mesma forma que agora os braços dele o faziam. Sentiu ele beijar sua bochecha e seu sorriso pareceu aumentar, até ele se afastar dela.
  - E aí, quanto tempo né?
  - Pois é.
  Era tão estranho, sentiam que se conheciam há tanto tempo, que já eram íntimos e sabiam tudo um do outro.
  - Então, você quer comer primeiro ou comprar os ingressos? - ele perguntou.
  - Ah na verdade eu não tô com tanta fome assim.
  - Legal, então podemos ir? - indicou o caminho e ela concordou.
  O cinema estava vazio, afinal era uma quarta-feira, os únicos que estavam ali eram estudantes e pessoa que queriam pagar mais barato, o que era o caso dos dois.
  - Você ainda paga meia, né? - puxou assunto enquanto esperavam na fila para serem atendidos.
  - Sim. - fazia um curso técnico, então tinha esse direito, o que valia muito a pena. - Mas hoje é o dia que qualquer um paga meia, não é?
   assentiu.
  - Sempre venho aqui na quarta.
  - Será que eu pago a meia da meia? - falou sério, mas ele acabou achando graça e riu de leve.
  - Ah aí eu vou querer também.
  Ela sorriu e os dois foram chamados pelo atendente.
tomou conta da situação, olhou para e riu, perguntando ao atendente:
  - Escuta, ela pode pagar a meia da meia já que é estudante?
  Foi o suficiente para os três rirem, o atendente negou e terminou de fazer o pedido. e trocaram um sorriso cúmplice e sorriram um para o outro, isso até o atendente falar:
  - O casal vai pagar junto?
   sentiu a boca abrir um pouco enquanto a olhava em busca de uma resposta.
  - É… - ela o olhou, envergonhada.
  - Sim, vai sim. - tirou o dinheiro da carteira.
   nem se opôs pois estava um tanto quanto abalada pelo fato do atendente chamá-los de casal.
   pegou os ingressos e ambos agradeceram o atendente que lhes desejou um bom divertimento.
não sabia o que fazer então só ficou do lado dele com um sorriso amarelo enquanto ele guardava a carteira.
  - Então, você prefere entrar ou quer comprar alguma coisa? O horário da sessão é daqui a pouco. - ele conferiu o relógio.
   entrelaçou as próprias mãos na frente do corpo, sem saber o que fazer. Tentou não demonstrar o nervosismo, uma tarefa bem difícil considerando que o rapaz não tirava os olhos dela, dando de ombros respondeu:
  - Acho melhor entrarmos né, tem uma fila ali. - apontou com a cabeça para a entrada.
  Os dois seguiram em silêncio, queria puxar assunto mas sabia que sairia alguma bobagem de sua boca, era difícil controlar a língua quando estava nervosa. conseguia perceber a ansiedade da garota e pensou que não era apenas por causa do filme. Tudo bem, era Guardiões da Galáxia 2, por sorte gostava de super heróis também, mas ela não podia estar tão animada por causa do filme. Ele esperava que não.
  Os assentos estavam em cima e graças ao tempo perdido na fila, as luzes já tinham apagado e começavam os primeiros trailers, deixou que ela foi na frente depois de falar quais os assentos que ele escolheu.
  Estava indo tudo bem para , até ela bater a ponta do pé na escada e quase tropeçar de verdade.
  - Ai, droga! - falou baixinho mas o suficiente para escutar e rir de leve.
  - Tá tudo bem ai? - perguntou baixo.
  - Tá… essa escada, quase que eu caí. - sentiu as bochechas queimarem tanto quanto sua dignidade.
  Tropeçar na frente do rapaz era só o que faltava. Ótimo jeito de chamar a atenção dele.
  Pelo menos eles conseguiram achar as poltronas e se acomodaram rapidamente, encarou ela com um ar brincalhão.
  - O quê? - ela perguntou tentando manter a expressão séria, porém falhou. - Olha, eu sou péssima pra subir as escadas no escuro.
  - São escadas bem estranhas.
  - Exato! - falou um pouco mais alto e recebeu um ‘shh’ de alguém.
  Ela fez uma careta para que precisou segurar uma gargalhada.
  Eles voltaram a atenção para o filme que começava e as duas horas passaram voando, nas cenas mais engraçada quando ele ria alto junto com as outras pessoas o encarava pelo canto do olho e ria junto. Tinha percebido que achava a risada dele uma gracinha. E via suspirar toda vez que Peter Quill e Gamora demonstravam afeto, era fofo de se ver.
  Depois de terminar os créditos, eles sequer se mexeram do assento, decidiram comer alguma coisa fora do cinema.
  - Eu não tô com fome, você acredita? - ela respondeu depois que ele perguntou onde ela queria comer.
  “Acho que fiquei tão nervosa que minha fome passou, e nem tinha motivo!”, pensou.
  E não tinha mesmo, por enquanto havia sido um encontro bem divertido e eles só tinham trocado algumas palavras durante o filme. Tinha ido tudo bem.
  - Você gosta de pretzel?
  - Nunca comi. - ela deu de ombros. - Tem gosto de quê?
  - De pretzel. - ele respondeu no mesmo tom de brincadeira, sorrindo depois.
   se concentrou naquilo, ele era tão bonito sorrindo.
   a conduziu até o stand e olhou o cardápio.
  - Quer escolher o recheio?
  Ela negou com a cabeça.
  - Escolhe você e eu pago dessa vez.
  Ele a encarou como se perguntasse se ela tinha certeza, apenas recebeu um sorriso confiante em resposta.
  Assim que o pedido estava pronto e devidamente pago, eles se acomodaram nos banquinhos, estendeu um garfo para .
  Ela viu a massa com a cobertura de chocolate branco e o viu pegar um pedaço, ela o imitou e colocou na boca. Percebeu que ele a encarava enquanto experimentava o doce.
  - Gostou? - ele parecia bem curioso.
  - É muito bom! - ela se apressou para pegar outro pedaço.
  Os dois engataram em uma conversa enquanto comiam, a hora nem parecia passar, riam e haviam se esquecido completamente do mundo lá fora.
   estava mais calma e agora estava tão à vontade na frente do rapaz que parecia que se conheciam a anos, como se fossem verdadeiramente íntimos.
  Porém nada aconteceu naquela noite, embora o abraço de despedida foi um pouco mais longo do que o normal, era como se nenhum dos dois quisessem que aquela noite acabasse.
   voltou para casa com um sorriso tão bobo no rosto, agradeceu por ter chegado e todo mundo estar dormindo, seria difícil explicar o porquê do bom humor só por causa de uma saída com um amigo. Era o que tinha falado aos pais, mas quem visse a garota agora notaria que não era aquilo.
   não se sentia tão bem e livre daquele jeito há muito tempo, se jogou na cama e sentiu uma paz dominar seu corpo inteiro. Fechou os olhos e adormeceu sorrindo, sabendo que o visitaria em seus sonhos aquela noite.
  Na verdade, estavam tão conectados de um jeito estranhamente bom, que se encontraram nos sonhos um do outro com o mesmo sentimento: ansiavam pelo próximo encontro.

Um mês depois. No mesmo shopping.
No mesmo horário.

   batucava os dedos no corrimão da escada rolante do shopping enquanto ignorava seus pensamentos e também as chatas borboletas no estômago que haviam criado um ninho ali há pouco mais de um mês.
  A amizade com ia bem até demais, depois do primeiro encontro, tudo o que queriam era que o segundo acontecesse. Demorou um pouco, para quem queria se ver no dia seguinte um mês era uma demora, mas lá estavam eles. No mesmo shopping, no mesmo horário só que dessa vez foi que chegou primeiro.
   não ligava muito para o que iriam fazer, só queria uma desculpa para vê-lo novamente, e ... Bom, ele precisava distrair a cabeça graças aos problemas com seus pais nos últimos dias.
  Ela não demorou para achá-lo, no mesmo ponto de encontro, e nem teria como deixá-lo passar. Seus olhos só procuravam por ele, não importa o lugar na cidade, ela o via por toda a parte.
  O abraço foi caloroso, os dois escondendo seus enormes sorrisos e foram direto para a bilheteria comprar os ingressos. Desta vez, veriam Mulher-Maravilha.
  Esperaram na fila e conversaram sobre como foi a semana, estava animada porque estava prestes a terminar o curso de gastronomia no próximo semestre, ela não parava de falar enquanto apenas escutava um pouco alheio.
  Depois de comprarem os ingressos, foram comer em uma hamburgueria na praça de alimentação, não pararam de conversar um minuto sequer. agora prestava atenção e falava coisas de sua vida para ela, eles riam e voltavam a comer, ele até dividiu as batatas fritas com ela.
  O assunto ficou um pouco pesado quando perguntou sobre os pais dele. não queria assustar a garota com os problemas que tinha, também não queria demonstrar que aquele assunto o incomodava e que não conseguia simplesmente dizer que sua família era um tanto quanto chata, que eles mandavam em suas decisões, embora soubesse que era compreensiva, não queria erradicar qualquer chance com a garota.
  Não agora que…
   não percebeu e não demorou para que eles fossem a sala do cinema, entraram cedo, antes dos trailers começarem e as luzes apagarem, continuaram conversando até virar para a garota e sorrir.
  - O que foi? - ela perguntou.
  - Sabe o que eu queria fazer agora?
   sentiu o coração acelerar.
  - O quê?
  Ele sorriu ainda mais.
  - Tirar uma foto.
   o encarou, esperando algum sinal de que ele estava brincando como ultimamente vinha fazendo, porém não aconteceu.
  Ele falava sério.
  - Ah tudo bem, tiro do meu então. - ela respondeu e precisou lembrar a si mesma de não tremer enquanto posicionava a câmera, depois de destravar o celular.
  O sorriso dos dois foi genuíno, era a primeira recordação que teriam de seus encontros, ainda se atreveu a aproximar seu rosto do de , enquanto tiravam mais de uma foto para garantir que tivessem saído direito.
   mostrou o resultado depois para ele.
  - Ficaram boas. - olhou para ela, fazendo-a sorrir de leve.
  - É, ficaram. - decidiu então retribuir o olhar.
  Aqueles míseros segundos pareceram horas, ambos eram mais sinceros com o olhar do que com palavras, na verdade elas nem eram necessárias naquele instante. não sentiu vontade de desviar porque estava com vergonha, podia ficar ali para sempre admirando a íris do rapaz que parecia como um buraco negro, a puxava em uma intensidade que era difícil explicar. Para , ela era como um imã, a atração era forte demais. Tanto que ele não controlou seu corpo e deixou que seu rosto se aproximasse do dela, ansiando pelo momento a seguir que vinha passando em sua cabeça há um bom tempo.
  Embora estivessem prontos para aquilo, ainda não era a hora, as luzes do cinema começaram a apagar e os trailers não demoraram para iluminar a enorme tela. Eles se afastaram, precisou piscar algumas vezes e encostou a cabeça na poltrona, respirando fundo para se conter, mesmo sabendo que não conseguiria fazer isso por tanto tempo.
  E não conseguiu mesmo, já que na metade do filme inventou uma desculpa para entrelaçar seu braço junto ao dela do jeito que a poltrona permitia, em um meio abraço que não parecia suficiente. A garota precisou morder o lábio para segurar o sorriso bobo que brincava em seus lábios e sussurrou:
  - Eu tô quase dormindo no seu ombro.
  Ela escutou a risada baixa dele.
  - Pode encostar se quiser.
  Ela não conseguiu resistir e de fato nem poderia, mesmo que não quisesse deitar a cabeça no ombro dele - o que seria uma tremenda mentira -, aquela posição em que estavam abraçados logo a deixaria com dor no pescoço. E com dando aquela ideia bastante agradável, ela assim o fez.
  Aquele simples gesto foi o suficiente. Para ambos.
  O rapaz respirou fundo ao sentir o perfume dela invadindo suas narinas mais uma vez e apoiou a bochecha no topo da cabeça dela. Aquilo tinha sido o mais intenso de contato que haviam chegado até então, mas não conseguia entender a paz que tocou seu coração. Podia dizer que, pela primeira vez, havia sentido aquilo. E era tão bom.
  Eles não mexeram um músculo sequer até o final do filme, não queriam perder aquele contato, podia dizer que aquele foi de longe o melhor encontro com , ficar deitada no ombro forte dele era um momento que ela não iria esquecer tão cedo.
  Saíram da sessão em silêncio, ambos reprimindo a vontade de agora entrelaçarem suas mãos, mesmo os braços se tocando várias vezes enquanto caminhavam. Um pedido mudo de seus corpos de algo que suas mentes já queriam.
  Chegaram na saída do shopping, ainda incerto sobre o que fazer puxou assunto com ela.
  - Você tem como ir pra casa?
   concordou com a cabeça, sorrindo para o rapaz que parecia preocupado com ela.
  - Meu pai tá vindo me buscar.
  - Tudo bem, então eu… vou indo. - apontou para trás e se aproximou de para abraçá-la, de uma forma tão apertada que ela só conseguiu repetir na mesma intensidade.
  Fechou os olhos ao sentir os braços dele rodeando sua cintura, não queria que aquela noite acabasse.
   se afastou depressa, se continuasse ali, abraçá-la não seria a única coisa que faria.
  Os dois deram um passo em direção ao portão, olhou para como se perguntasse porque ela ia para fora.
  - Vou ter que esperar meu pai lá fora. - explicou.
  Foram juntos para fora do shopping e respirando fundo quando pararam lado a lado, a tomou em seus braços novamente, em um abraço para reprimir a vontade de fazer outra coisa.
  - Tchau. - ele falou perto do ouvido dela.
   sentiu o coração acelerar, estavam tão perto…
  Quando os dois se afastaram e se encararam, ignorou a voz que o recriminava em sua cabeça.
  “Que se dane!”
  Uma das mãos do rapaz foi de encontro com a bochecha de enquanto a outra se mantinha firme na cintura dela, ele se aproximou no que pareceu uma velocidade lenta demais e fechou os olhos quando percebeu que tinha se entregado ao momento tanto quanto ele. suspirou depois de fechar os olhos, sabendo o que viria depois e ansiava tanto por aquilo que só esperou sentir.
  E ela sentiu não só seus lábios se tocarem suavemente, sentiu o coração explodir em seu peito, sentiu as mãos suarem enquanto tocava os ombros dele delicadamente e sentiu o vento frio tocar em seu rosto quente.
  O beijo não fora prolongado, embora fosse justamente o oposto do que queria fazer, queria era tomar em seus braços e levá-la dali, mas não podia. Não ainda.
  Ele se afastou o suficiente para poder encostar suas testas, os narizes ainda se tocando e abriu os olhos, se deparando com recuperando o fôlego e de olhos ainda fechados.
  - Era assim que o nosso primeiro encontro devia ter acabado.

Capítulo 03 - Are you ready for it?

Atualmente.
Sexta-feira. Por volta das 20:15 PM.

  Quase duas semanas haviam se passado, os respectivos trabalhos de e estavam sugando seus dias que mal tiveram tempo de se encontrarem durante a semana, e nem no sábado ou domingo já que não teve folga nenhum dos dois dias. A saudade apertava os corações do casal.
   estava voltando do trabalho naquela noite, um dia muito longo no escritório que havia lhe trazido dores no pescoço e cabeça, quando chegou em casa com o cheiro da janta de sua mãe fazendo seu estômago roncar alto, desejou apenas comer e dormir depressa.
  O pai de estava sentado no sofá vendo o noticiário com a mão na cabeça, ela se aproximou e o beijou no rosto.
  - Boa noite, paizinho.
  Viu o mais velho sorrir fraco.
  - Boa noite, minha princesa. Chegou cedo.
  Considerando que fizera extra a semana toda e chegava em casa às dez da noite, era verdade.
  - Não aguentava mais aquele escritório… - respondeu, vendo o pai fechar os olhos por alguns segundos e abrir novamente. - Dor de cabeça de novo?
  O pai assentiu.
  - Tô com um zunido fraco no ouvido também.
   colocou as mãos na cintura e olhou séria para ele.
  - Não falei para ir ao médico, pai? Isso não é comum.
  Antes do pai responder, a mãe de entrou na sala.
  - A janta tá pronta… já chegou, filha! - a mulher se aproximou e deu um beijo na bochecha dela.
  - Já, e tô pronta pra levar o papai no médico.
  O pai riu de leve.
  - Vê se pode, minha filha querendo mandar em mim.
  - Mãe… - reclamou, vendo a mãe suspirar.
  - Sua filha tem razão.
  O pai revirou os olhos.
  - Eu já falei que estou bem. - ele levantou do sofá, abraçando a filha pelos ombros. - Vamos comer que estou com fome, deixa essa bolsa aí.
   riu desacreditada mas assim o fez. O pai era tão teimoso quanto ela.
  Os três sentaram a mesa e tiveram um jantar agradável, olhava para o pai de vez em quando para se certificar que ele estava bem, mesmo cansada por conta da semana de trabalho ela ficava feliz em poder ficar junto a sua família no final do dia.
  Acabou pensando no futuro, em como queria que fosse assim quando casasse, então sorriu lembrando de . Não conseguia se imaginar casada com outra pessoa a não ser ele, com filhos correndo pela casa enquanto eles olhavam para aquela cena se sentindo completos.
   voltou a realidade quando escutou o celular tocar alto no cômodo ao lado, ela olhou para os pais como se perguntasse se eles queriam ajuda.
  - Tudo bem, princesa, a gente lava a louça. - o pai sorriu de leve, liberando-a.
  Ela agradeceu rapidamente e correu para a sala, atrás da bolsa que havia deixado em cima do sofá, caçou o celular que parecia perdido e quando o pegou, sorriu largamente.
  Como se tivesse lido seus pensamentos, o nome daquele que ela estava pensando brilhava na tela do celular.
  - Oi, . - ela atendeu, seu humor melhorando instantaneamente só de ouvir a respiração dele do outro lado.
  - Oi, amor. Já chegou em casa?
   suspirou ao escutar amor, ela sempre se derretia quando ele falava aquela simples palavra.
  - Já, acabei de jantar. E você? Ainda tá na base?
  - Tô subindo pro meu apartamento agora.
  - Por que não me avisou que chegaria hoje? Eu teria ido fazer alguma coisa pra você comer.
  - Eu te mandei uma mensagem avisando que ia sair com os caras pra comer alguma coisa.
   bateu na própria testa.
  - Desculpe, não peguei no celular desde a hora do almoço. - reclamou.
  - Muitos convidados no escritório?
  - Até demais. - ela bufou.
  - Ele tem ido lá?
   pôde escutar a voz de mais baixa, quase podia ver ele fechando os punhos ao se referir sobre quem mais detestava.
  - Duas vezes por semana.
   bufou do outro lado e subiu o último lance de escadas em passos pesados. Não gostava da ideia de seu superior indo lá, sabia que nem tinha tanta necessidade.
  Na verdade, sabia exatamente o porque dele ir lá.
  - Você não me ligou para perguntar sobre o Major, não é? - ela questionou, agora pegando a bolsa e subindo para o quarto.
  - Deus me livre. - os dois riram. - Só liguei para avisar que estou livre nesse final de semana. E que estou morrendo de saudade.
   se jogou na cama, tirando os sapatos depois de ter jogado a bolsa ao seu lado no chão.
  Ela conseguia sentir a sinceridade nas palavras do amado porque sentia a mesma coisa. Queria tanto sentir os braços dele a envolvendo, seus beijos, seu perfume. Sentia saudade até mesmo do olhar dele sobre ela.
   já estava dentro de seu apartamento, depois de ter trancado a porta deixou a mala do lado da porta e logo tratou de ir para o quarto, quando escutou responder:
  - Não posso dormir aí hoje.
   franziu a testa enquanto tirava a camisa.
  - Nem se eu disser que estou me preparando para tomar banho agora?
  - ! - sentiu as bochechas esquentarem, mas mordeu o lábio inferior, imaginando a cena tentadora. Quase se esqueceu do que estava para falar. Quase. - Lynn me pediu um favor de casamento.
   riu, agora tirando os sapatos.
  - Favor de casamento? E isso existe?
  - Sei lá, estamos falando da Lynn. Vou ter que ver umas coisas na loja de vestidos, ela vai estar ocupada com as coisas do coquetel.
  - Só a Lynn pra inventar essas coisas numa hora dessas. - rolou os olhos, sabendo que não ganharia aquela luta.
  - Eu posso passar aí na hora do almoço.
  - Tenho uma proposta melhor: nós vamos juntos. - propôs, tirando a calça e ignorando sua vontade de se jogar na cama.
  - Seria ótimo, se o Connor não tivesse marcado de vocês verem o terno. - lembrou.
  - Ah droga! Tinha me esquecido disso. - respirou fundo, parecia que estavam destinados a estarem afastados e odiava aquilo. A distância não agradava nada o jovem. - Me diz por que aceitamos esse negócio de sermos padrinhos?
  Ela riu, notando o desespero na voz de , embora sentisse o mesmo. Não via a hora de estarem juntos e aquilo parecia ser adiado a cada minuto.
  - Porque somos ótimos amigos. - respondeu.
  - E porque você vai ficar linda no altar. - ele comentou rápido demais, sem pensar no que havia dito.
  Os dois haviam pensado sobre casamento desde que receberam a notícia dos amigos, mas ainda tinham receio de comentarem sobre aquilo, não era assustador para porém ela sabia que ficaria paranoico porque sabia que a partir do momento que fosse a senhora , muitos problemas passariam a assombrá-los. E ela sequer se importava com os problemas do exército, na verdade o que a assustava era a família de .
  Já para ele, era apavorante de uma certa forma, se tornaria um alvo para seus inimigos no exato segundo que assinasse os papéis do casamento. E ele não achava justo colocá-la em perigo daquela forma, porque a qualquer momento não estaria do lado dela para protegê-la, e isso era a única coisa que tirava o sono do Capitão.
  Os dois ficaram em silêncio no telefone.
  - Eu te busco na loja então. - ele decretou.
  Ela sorriu de leve.
  - Tudo bem, eu te mando a localização depois.
  - Eu te amo tanto, você não tem noção. - passou a mão na nuca, precisava dela ali.
   suspirou, a saudade agora parecia esmagar seu peito e uma súbita vontade de abraçá-lo lhe tomou conta.
  - Você não sabe como eu gosto de ouvir isso. Eu te amo, .
  - Até amanhã, meu amor. - se despediu.
   desligou o telefone e abraçou o travesseiro, imaginando que fosse o amado ali, que seu perfume estava adentrando suas narinas, que suas mãos percorriam as costas dele. Era assim que adormeceria naquela noite, com a ânsia de revê-lo no dia seguinte. Mal podia esperar.
   respirou fundo depois de jogar o celular na cama e marchou para o banho, onde se daria ao luxo de passar mais tempo debaixo do chuveiro, pensando em todas as coisas que ele e a namorada fariam.
  Na verdade, uma em especial passou em sua cabeça e teriam que realizá-la o mais rápido possível.

[...]

   andava apressada nas ruas do lado rico da cidade, estava atrasada e se perdesse o horário que Lynn marcou na boutique provavelmente seria estrangulada pela amiga. Mas não tinha feito por mal, na verdade só acordou atrasada por causa de um sonho estranho que teve com a sua querida sogra e cobras. Ainda sentia arrepios ao lembrar do sonho.
   tendo cobras por todos os lados subindo e se enrolando em seu corpo, em toda a parte, enquanto a sogra ria maldosamente como a própria madrasta da Cinderela, sentada em um trono alto enquanto a assistia ser envolvida pelas serpentes.
  De fato, se contasse a melhor amiga sobre o sonho até poderia ser perdoada se atrasasse, não depois de levar uma boa bronca.
  Mas nada daquilo seria necessário, já que havia chegado em ponto na loja tentando recuperar o fôlego. Não parou para admirar o local, que era mais chique do que qualquer outra loja de vestidos que havia ido, e foi direto falar com a atendente.
  - Bom dia, em que posso ajudá-la? - a mulher sorriu simpática.
  - Bom dia, eu vim em nome da noiva Lynn Alcântara.
  - Oh sim, ela chegou a avisar. Me acompanhe, por favor.
   o fez, sendo levada pela atendente até uma espécie de sala de espera bastante elegante.
  - Se importa de esperar um instante? Irei chamar nossa estilista.
  - Magina. - sorriu educada e viu a atendente ir embora.
  Olhou em volta e viu algumas clientes bem diferentes do estilo de , tudo era tão luxuoso e de outro nível que chegava a deixá-la incomodada e fora do seu mundo.
  Suspirou e então pegou o celular da bolsa, lembrou de mandar a mensagem para .
“Lynn me paga, esse lugar é o mais luxuoso que ela já me obrigou a ir. Me sinto como a Cinderela toda cagada. Estou nessa boutique. [Localização]
Te vejo mais tarde. Beijos.”

   virou o corpo e no mesmo instante sentiu algo se chocar contra seu corpo, como estava relaxada e olhando para o celular nas mãos, acabou caindo para trás em um som alto e vergonhoso.
  Sua bunda doeu, mas pelo menos o celular não tinha caído no chão.
  - Ah, sinto muito.
  Olhou para cima e se deparou com uma ruiva alta a encarando com piedade, não soube o que falar. Tudo bem, estava em uma boutique de gente nobre e ali só apareciam pessoas de alta classe na sociedade, mas não tinha encarado essas pessoas tão de perto, mesmo sua melhor amiga sendo uma exceção. Uma mulher parecendo a modelo da Victoria's Secret tinha a derrubado em uma das lojas de vestidos mais cara da cidade. Tinha como ficar pior?
  Bem, aparentemente sim.
  - Finalmente está no seu lugar de merecimento. - sentiu um arrepio passar pela espinha ao escutar outra voz.
  Não conseguiria esquecer aquele tom nunca.
  Engoliu seco ao virar o rosto em direção a voz, encontrando a dona encarando-a de cima com o nariz empinado.
  - No chão, é onde deveria sempre estar.
  Simpática como sempre, a sogra tinha se materializado em sua frente e estava tão assustadora como em seu sonho.
  “Preciso começar a levar meus sonhos a sério”, pensou.
  Olhou para a modelo ruiva que parecia não entender o que estava acontecendo e vendo que nenhuma das duas iria ajudar a se levantar, o fez sozinha.
  E foi aí que se sentiu menor do que era, o olhar das duas mulheres passou de cima a baixo, avaliando as roupas de . Na verdade, avaliando tudo, inclusive suas unhas ou detalhes pequenos como suas sobrancelhas que precisavam ser feitas novamente.
  Precisou se controlar para não olhar para baixo e avaliar a si mesma, a calça jeans azul escura com a regata branca simples e o sapato branco pareceram errados para as duas madames.
  - Conhece Emily Bittencourt? - a sogra sorriu como uma leoa pronta para atacar. - É uma amiga muito íntima de .
  A simples menção de fez com que entrasse em alerta, olhou para a ruiva que mantinha o rosto sem expressão.
  Amiga íntima?
  Ignorando sua mente que dizia para ser mal-educada com a mais velha, estendeu a mão para a tal Emily.
  - Emily, minha querida, esta é a… garota que está tendo um caso rápido com o meu filho. - escutou a sogra falar, com seu veneno sendo jogado e respingando direto na dignidade de .
   viu Emily mudar a expressão, levantando uma de suas sobrancelhas perfeitas e sorrindo de lado exatamente como se fosse a aprendiz de sua sogra, apertou a mão de .
  - . - se apresentou, se sentindo como se estivesse em um circo e ela fosse a atração principal.
  - Então é o novo affair de ? - Emily perguntou, tão venenosa quanto a sogra.
  - Namorada. - corrigiu e então era como se estivesse em seu sonho novamente.
  A sogra rindo, desta vez silenciosamente com o nariz fino empinado, com uma cobra apertando sua mão.
  “Dá pra ver o porquê delas se darem tão bem”, pensou.
   só não agradeceu em voz alta quando a estilista chegou interrompendo o momento, porque ainda estava em choque com toda aquela cena.
  Mas foi na hora certa, dissipando um pouco aquela tensão, a estilista Lory foi calorosa e praticamente um anjo com , a levou embora dali enquanto dizia que havia preparado muitos vestidos para que ela pudesse ver.
   pôde ver que a sogra a encarou como se pudesse machucá-la ainda mais, entretanto se deixou ser levada pela mulher fina e elegante, ainda segurando o ar. Passar do lado da sogra praticamente matando-a com o olhar era realmente assustador.
  “Mal sabe que vou dormir com o filho dela por dois dias seguidos. Víbora.”
   não imaginou aquele encontro repentino tão cedo, na verdade evitava que esse dia chegasse porque não sabia como reagiria. A mulher era calma, não gostava de brigas e raramente ofendia alguém, mas em relação a sogra era diferente.
  Ora, a megera já havia declarado que odiava , e embora calma não tinha sangue de barata, amava mas não era obrigada a escutar os insultos daquela mulher quieta e encolhida como uma criança que faz algo errado.
  Respirou fundo enquanto tentava prestar atenção no que a estilista dizia, pela primeira vez agradecia por estar ali. E que continuasse bem longe da sogra e da modelo de ouro pretendente favorita de Cristina .

[...]

  - Hulk entrando no destino.
  O soldado entrava no casebre abandonado e escuro com cautela depois de vasculhar bem a área com as suas lentes especiais para aquela missão no meio da noite. Um silêncio profundo tomava conta do lugar no meio do nada e ajudava o soldado a adentrar ainda mais.
  Sua postura rígida e em alerta enquanto segurava fortemente a grande arma próximo ao colete a prova de balas demonstrava uma força incomum, os olhos do soldado eram como de uma águia que estava pronta para atacar.
  - Hulk subindo.
  Comunicou através do rádio que tinha seu microfone enrolado no pescoço, um típico aparelho de militares, com as roupas escuras e seus passos silenciosos, o soldado subiu as escadas sem fazer um ruído sequer. Observou atentamente o segundo andar vazio e ao constatar que não tinha risco, continuou andando até o final do corredor no lado esquerdo, contou as portas e quando chegou na quinta se agachou encostando na parede estrategicamente.
  - Diga o que vê, Hulk. - recebeu a ordem e ainda sorrateiramente, olhou pela fechadura da porta.
  - São dois, um de costas e um próximo da vidraça.
  - O pacote?
  Sorriu de lado.
  - Vivo. Por enquanto.
  Ficou em alerta quando o segundo alvo que estava perto da vidraça se aproximava do pacote.
  - O segundo saiu da minha mira. - escutou reclamarem no comunicador.
  - Hulk, é com você.
  - Sim, senhor. - sorriu abertamente, agora sim estavam falando a língua dele.
  Levantou do chão e respirou fundo antes de chutar a fechadura da porta com tamanha força que a mesma abriu rapidamente, lhe dando plena visão da sala também escura. Com o barulho da porta, o alvo que estava de costas se virou levantando a arma, infelizmente para ele era tarde demais. O soldado já havia atirado duas vezes contra seu lado esquerdo do peito.
  Já o segundo alvo havia recebido uma boa cabeçada do pacote, isso havia o atrasado suficiente para que o soldado atirasse em direção ao seu crânio.
  Alvos derrotados.
  Pacote seguro.
  - De nada. - escutou o sussurro do pacote e se aproximou.
  Estava com vários machucados no rosto, sua voz estava fraca e rouca, e definitivamente estar com aquelas correntes presas em seus punhos não era nada agradável.
  - Pelo quê? - rebateu, colocando a arma para baixo e puxando sua faca no coldre.
  - Eu salvando sua vida. - viu o sorriso do pacote e rolou os olhos.
  Tirou o pacote das correntes e segurou firme o corpo fraco que cedeu já que estava sem apoio nenhum.
  - Sentiu minha falta, M?

[...]

  Aquela manhã não estava sendo boa para e mesmo que estivesse distraída em seus próprios pensamentos, se encontrava na mesma situação enquanto dirigia.
  Na verdade, tinha ido buscar justamente para tentar esquecer as coisas que assombravam sua cabeça, coisas das quais não poderia contar a amada. Porém, ela estar quieta e olhando para a janela não fez parte de seu plano então deu privacidade a mulher pensativa ao seu lado.
   não parava de pensar na cena que a sogra havia criado na loja, junto com todas as outras vezes que vira a mulher, essa era a única coisa que ela escondia de . Ele não fazia ideia de que ela já havia conversado com sua mãe, céus, se ele descobrisse que elas já tinham até mesmo conversado.
  Bom, se é que ter sido ofendida todas as vezes pudesse ser chamado de conversa.
  Quando acabou seu compromisso de madrinha, entregando os ajustes dos vestidos da noiva, mãe da noiva e madrinhas, e confirmado os detalhes combinados com Lynn, logo ligou para ir encontrá-la na loja, para ele fora mais fácil já que as medidas tinham sido ajustadas e era apenas isso.
   sequer pensou se ele e a mãe se encontrariam na saída da loja, só queria ir embora o mais rápido possível. Quando ele chegou não esperava que entrasse no carro em desespero e ainda o abraçasse tão forte que chegava a ser preocupante, ele apenas afagou os cabelos dela e deu um beijo em sua bochecha.
  Perguntou se ela estava bem e apenas sentiu ela concordando com a cabeça,
não confiava em sua própria voz pois sabia que ela a entregaria e por agora, não queria conversar. Só queria se sentir segura nos braços dele e ir embora dali.
  Eles se afastaram e depositou um beijo na testa dela antes de dar partida no carro.
   apreciava o respeito que o namorado tinha por ela naquele momento, porque agora sua mente era perseguida por memórias que ela jurou ter esquecido há muito tempo.

Há 3 anos e 2 meses. Casa da Lynn.
Por volta das 18:45 PM.

   estava quase pulando de emoção na casa da melhor amiga, tinha conseguido uma entrevista de emprego em um ótimo restaurante no centro da cidade e mal podia conter a ansiedade de poder colocar em prática tudo o que havia aprendido na escola técnica.
  Lynn tinha parado de desenhar suas roupas depois de escutar a notícia e agora jogavam conversa fora, esse era o lado bom das duas ainda serem desempregadas.
  - E o Connor? - perguntou, vendo a amiga sorrir boba.
  - Ele é maravilhoso, , acredita que ele veio até aqui em casa pedir permissão para namorarmos para os meus pai?
  - Que romântico!
  - Eu fiquei bem surpresa do meu pai deixar, sabe como ele é protetor.
  - Mas seu pai é um cara muito legal, Lynn, ele viu que o Connor tem boas intenções.
  - É verdade e vem cá, falando em boas intenções, e o , hein?
   tentou não esboçar nenhuma reação ao escutar o nome do rapaz, mas foi impossível, sentia suas mãos gelarem só de pensar nele.
  Se conheciam há um ano e coisas haviam acontecido, coisas que havia escondido até mesmo da melhor amiga.
  - O que tem ele? - tentou se fazer de desentendida.
  Claro que não deu certo, o fato de Lynn ter levantado uma sobrancelha e cruzado os braços já dizia tudo.
  - Você sabe, ele não tentou nada?
   deu de ombros.
  - Não sei do que você está falando.
  - Há quanto tempo a gente se conhece? - a melhor amiga questionou.
  - Quase a vida toda.
  - E você quer mesmo mentir para mim?
   a encarou, criando coragem para contar e suspirando, se deu por vencida vendo que a amiga não a deixaria em paz enquanto não obtivesse a verdade.
  - Estamos juntos. - admitiu.
  Lynn não parecia surpresa, na verdade ela sequer se moveu da cadeira.
  - Juntos como?
  - Ah Lynn, eu não sei. - abraçou o travesseiro em cima da cama. - Não colocamos definição em nada, você sabe, a gente nunca foi amigos.
  Lynn concordou, sabia muito bem disso, da animação que falava sobre o rapaz na primeira vez em que se viram e como se sentiu mal por não alertar a amiga do enorme problema que estava se metendo.
  - Não quero que se machuque. - alertou.
   sorriu de leve.
  - Eu não vou. Eu estou realmente apaixonada por ele, amiga, nunca me senti assim antes. Por nenhum outro cara.
  - É, e você se apaixonou bastante. - Lynn brincou, protelando em contar o que sabia.
  - Erros de percurso, tá bom? - as duas riram.
  - Gosta mesmo dele? De verdade? - questionou, para poder ajudar e apoiar a amiga precisava ter certeza.
   suspirou e olhou para o nada enquanto pensava, sorriu de lado ao lembrar dos momentos juntos.
  - Eu o amo. - concluiu mais para si mesma e então voltou a olhar aterrorizada para a melhor amiga. - Eu o amo. - repetiu, tentando entender o que havia dito.
  Lynn sorriu tentando reconforta-la e foi até onde a melhor amiga estava deitada, colocou a mão em cima da dela e falou:
  - Então deixe-o saber.
   mordeu a parte de dentro da bochecha, incerta e com medo do que isso poderia acarretar, contar tudo o que sentia por agora? Mas não era tão repentino?
  Iria afastar o rapaz ou ele daria um fora nela?
  Quer dizer, suas últimas experiências amorosas não haviam sido tão boas assim. A primeira paixão de infância e pré-adolescência que acabou com o garoto pegando sua amiga próxima na escola, a paixão havia durado bons anos. A segunda paixão havia assumido um relacionamento com um outro homem logo depois de chegar a pensar em assumirem um relacionamento, do qual os dois ainda estavam incertos, mas a família de ambos gostava da ideia… que não veio. E a última e mais recente, seu crush aparecer namorando dias depois de terem ficado e criado esperanças de um possível relacionamento. As três experiências magoaram a ponto de não querer saber mais de namoro ou coisa parecida, estava convicta de que seu foco precisava ser outras coisas.
  Porém, com era diferente. Desde o começo.
  Ele apareceu e então mudou tudo, não conseguia pensar em qualquer coisa no futuro quando estava com ele, só queria ficar com ele nos momentos roubados que tinham um com o outro. Não estava mais fazendo planos que nunca aconteceriam, e sim aproveitando o tempo que tinham.
  Na verdade, só vinha dando certo as escondidas porque os dois pensavam assim. Nada de passado ou futuro, o que importava era o presente.
   suspirou e olhou para a amiga, sorriu de leve.
  Ela estava certa, de fato.
  Agora só precisava achar uma forma de contar tudo a sem assustá-lo.

  Mais tarde naquele mesmo dia, e Lynn conversavam sobre as Forças Armadas do país, afinal Connor era neto de um grande Almirante da Marinha e como o rapaz era o assunto favorito da melhor amiga, eventualmente falavam sobre os militares.
   tentava entender como Lynn ficava despreocupada quando Connor sumia por semanas graças aos treinamentos militares que tinha que fazer, sem dar notícias nenhuma por dias, já que a patente do soldado ainda era baixa graças ao seu tempo de serviço ser tão pouco. Sabia que a melhor amiga gostava muito do rapaz, mas imaginava como a saudade devia apertar o coração de Lynn. Entretanto, claro, a amiga assegurava que mais preocupada com o bem estar dele, ela ficava com o fato de ele estar feliz. Connor amava a vida militar, e se ele queria fazer aquilo a vida toda, Lynn apoiaria.
   mordeu o lábio ao pensar em de uniforme, servindo e vendo seu corpo ganhar mais forma.
  - Fico imaginando como seria se fosse militar.
  Lynn riu, desacreditada.
  - Isso nunca vai acontecer.
   franziu a testa.
  - Por quê?
  A jovem viu quando a melhor amiga hesitou em responder, sem entender o motivo.
  - Os nunca permitiriam. - tentou explicar de uma forma mais tranquila embora quisesse se bater por trazer esse assunto a tona, ainda mais devido às circunstâncias.
  - Como assim, Lynn? Isso é uma decisão do .
  “Se fosse fácil assim…”, Lynn pensou.
  - Acho que nunca comentou com você que a regra número um da família dele é nunca entrar no exército.
   estava confusa. Tudo bem, não se sentia péssima porque ele não havia contado, até porque o assunto 'Família ’ era proibido entre o casal. A confusão se dava ao fato de terem uma regra tão idiota quanto essa.
  - Política e exército são duas coisas que não conseguem andar juntas nesse país, , e você sabe o potencial para a política que os tem.
  Isso ela sabia, afinal eles só eram da alta sociedade graças a fama do avô de , o maior e mais conhecido governador do estado em que moravam.
  Eduardo . Falecido há anos em que a causa ainda é desconhecida, teorias da conspiração dizem que ele foi assassinado pelo sistema.
  Bom, agora tudo parecia se encaixar na cabeça de . Realmente as duas coisas não andavam juntas, política era um dever cívico enquanto o serviço militar tirava qualquer tipo de dever da pessoa, ela não devia opinar ou se opor contra o Estado porque se tornaria parte dele. Era apenas seguir ordens enquanto viver.
   ficou em silêncio, pensando se gostaria de se prestar a um papel desse, virar um político famoso… não conseguia vê-lo excedendo tal coisa. Podia conhecer o rapaz há menos tempo que a melhor amiga porém sabia que ele não era do tipo que tirava dos outros e sim, do que se sacrificava pelos outros.
  - Posso ver o álbum de fotos da sua família? - pediu gentilmente a amiga, que sorriu em resposta.
  Não entendia a fascinação de pelas fotos de seus familiares e descendentes, mas gostou de ver que mudaram de assunto.
  - Sabe onde está, né? - assentiu. - Pode pegar, tenho que começar a me arrumar para encontrar o Connor.
   riu e revirou os olhos teatralmente para brincar com a amiga, saindo do quarto ela desceu as escadas em direção ao escritório do pai de Lynn.
  Prestes a entrar, notou que a porta estava entreaberta e a mão receosa parou no ar antes de tocar a maçaneta, foi então que começou a escutar vozes. Educada como sempre, decidiu sair e voltar mais tarde, afinal nunca fora de escutar a conversa dos outros atrás da porta.
  Até ouvir o nome de .
  - Então me diga, Cristina, como vai ? - a mãe de Lynn perguntou.
  - Galanteador como sempre, sabe como meu filho é.
  Aquela foi a primeira vez que escutou a voz da futura sogra e por mais que estivesse animada de estar há poucos metros da figura materna de , a voz dela era firme e assustadora.
  Exatamente do tipo das mães da alta elite que iam nas reuniões da escola e chamavam a atenção com seus saltos ecoando pelos corredores.
   passou a mão em frente ao rosto para tentar apagar aquela nuvem negra que se formava diante de seus olhos trazendo a imagem das dondocas que tanto viravam o nariz quando viam a “bolsista pobre” entrar no colégio caro.
  - Os Espinosa ainda tentam casar a primogênita com o ?
   franziu a testa e piscou algumas vezes para ter certeza se tinha escutado mesmo aquilo.
  - Ah você sabe como eles são, não é? Todos querem que suas filhas se tornem a esposa de no futuro e embora meu marido deixe que continuem, já escolhemos a próxima senhorita .
  - E concordou com isso?
  - Querida, sabe muito bem das regras da nossa família e se casar com alguém da alta sociedade é uma exigência nossa. Em menos de seis meses anunciaremos seu noivado.
  - Mas Cristina e se um dia ele disser que está apaixonado por outra?
  - Uma suburbana qualquer? Meu filho sabe das consequências, ou a família ou a biscate que estiver tentando dar o golpe.
   sentiu o sangue gelar e o coração parar, a frase ecoava alto em sua cabeça e precisou tapar a boca com a mão enquanto as lágrimas se formavam. Engoliu não só alguns soluços, mas principalmente seu orgulho, que a esse ponto já estava destroçado no chão.
  A forma fria como Cristina havia proferido aquelas palavras só demonstravam a seriedade das mesmas, uma mulher daquela jamais mentiria sobre aquilo e nem teria motivos para fazê-lo.
  Mas … ele nunca havia mencionado aquelas regras para ela enquanto estavam juntos, tudo bem que mais trocavam juras de amor do que falavam sobre suas vidas, só que detalhes tão importantes assim deveriam pelo menos ser mencionados… Eu tenho alergia a gatos, não gosto de espinafre, eu sou prometido para outra pessoa.
  Sentindo um bolo em sua garganta que parecia atrapalhar até mesmo sua respiração, deu meia volta e se arrastou de volta para o quarto de Lynn, visivelmente pálida e agora perguntando a si mesma qual ela conhecia de verdade e em quem podia acreditar.

Capítulo 04 - All you need is inside your mind

Atualmente. Apartamento do .
12:45 AM.

   estava curiosamente em silêncio para quem estava cheia de vontade de conversar até poucos dias atrás, na visão de .
  Mal sabia ele as cenas que passavam na cabeça da mulher, daquele fatídico dia em que ela se sentiu traída por todos a sua volta e por aqueles que amava mais do que tudo.
  Jurou para si mesma que nunca voltaria a falar e sequer pensar naquele dia, mas agora era praticamente impossível tendo em vista que a megera da sogrinha estava por perto como um tubarão faminto cercando.
  Ela não percebeu quando trancou a porta do apartamento e sorrateiramente se aproximou dela por trás, repousando sua mão na cintura dela suavemente enquanto depositava um beijo em seu ombro desnudo, voltou de seus devaneios ao sentir os lábios molhados dele em sua pele sem se assustar tanto.
  - Você está quieta, isso é tão incomum. - ele comentou, fazendo-a sorrir de leve rapidamente.
  - Está me chamando de tagarela, ? - se virou fingindo estar brava, mas era tudo encenação.
  - Comparado a mim, você fala bem mais do que... é, eu tô sim.
   fez uma careta de brava antes de acertar um tapa no braço dele, ou melhor, tentar acertar já que ele desviou mais rápido do que um piscar de olhos. Habilmente, segurou o punho dela sem fazer muita pressão em volta.
  - Você sempre se esquece que eu tenho um reflexo perfeito.
  - Sabia que eu odeio isso?
   sorriu maroto antes de soltar o punho dela e envolver sua cintura, trazendo-a para mais perto de seu corpo.
  - Odeia mesmo? - ele levantou uma sobrancelha.
   não conseguiu mais fingir a pose de brava e riu, em seguida mordeu o lábio inferior.
  - Não. - ela beijou o canto da boca dele.
  - Vai me dizer o que você tem? - ao perguntar, pôde sentir a mulher ficar mais tensa, com o olhar perdido na gola de sua camiseta.
  Estava preocupado, os olhos de não estavam alegres e positivos como de costume. Sabia que tinha acontecido alguma coisa e que ela não queria contar.
  - Podemos comer primeiro? Estou faminta.
   concordou, percebendo que ela estava tirando um tempo para criar coragem e contar, daria esse tempo.
  Ele a soltou e foi até a bancada da cozinha que dividia a sala da mesma.
  - Comprei sua comida favorita. - avisou e viu quando ela sorriu largamente ao ver a caixa do melhor restaurante japonês. - Eu sei que você gosta de cozinhar, mas vamos tirar uma folga só no almoço.
  - Tudo bem.
   pegou a caixa e levou para a sala, colocando na mesinha de centro e vendo voltar com os pratos e copos, assim que ele se sentou ao seu lado no tapete fofo ela beijou sua bochecha esquerda.
  - Obrigada. - agradeceu sinceramente e ele apenas piscou em resposta.
  Desembalaram a comida e se serviram, voltou para a cozinha a fim de pegar o refrigerante, quando sentou novamente já se saboreava com o salmão.
  - Você avisou seus pais que vai passar o final de semana aqui? - ele começou a comer.
  - Hm… - mastigou antes de continuar: - Você precisa ver a mensagem que minha mãe me mandou.
  Ela tirou o celular do bolso da calça e desbloqueou, procurando o que queria e quando achou, estendeu o aparelho para .

“Mãe, não se esqueça que vou dormir no de hoje para amanhã. Volto no domingo à noite.”
“Usa proteção! E não façam muito barulho a noite, os vizinhos precisam dormir.”

   engasgou com a comida enquanto ria não só da mensagem da sogra mas também do meme do Shrek que havia mandado como resposta.
  - Sua mãe é demais! - tomou um gole de refrigerante para tentar se recompor.
  - Você fala isso porque não foi você quem teve que explicar o porquê de ter voltado com a camiseta do avesso outro dia.
  - Ah, aposto que ela nem ligou pra isso, .
  - Eu não tô falando da minha mãe.
  A mulher teve que se segurar para não gargalhar da cara de assustado do namorado.
  - Seu pai? Você contou pro seu pai? - não era de demonstrar medo, nem ao menos receio, afinal era um militar, mas quando envolvia o pai da namorada e o fato do mesmo saber o que ele andava fazendo com a filha do coroa lhe dava um certo apavoro.
  - Não é como se ele não tivesse reparado no meu lábio inchado e vermelho, né . - ela o olhou sugestivo antes de devorar de novo a comida.
  - Eu sou um cara morto. - ele passou a mão na testa.
   riu.
  - Você é militar e dos bons, e está com medo do meu pai aposentado por invalidez? - questionou depois de mastigar a comida, achando engraçado a cena.
  - Ei, seu pai fabricava armas! - se defendeu.
  - Não, ele arrumava e polia as armas, é diferente.
  - , eu sou um cara correto e antiquado. Se seu pai sabe que dormimos juntos, no mínimo eu tenho que pedir a sua mão.
  A naturalidade com que o rapaz falou pegou a mulher de surpresa e ela nem conseguiu esconder o queixo caído.
  Aquilo era um pedido?
  - Não que eu esteja… - ele fez gestos com a mão, parecendo tentar achar as palavras certas para explicar o que queria dizer.
  - O quê? Me pedindo? - levantou uma sobrancelha, questionando-o. Exatamente como ele havia feito agora há pouco.
   respirou fundo e sorriu de lado, pensou muito, mas decidiu engolir a resposta que tanto queria. Agora não era o momento.
  - Dizendo que isso só vai acontecer por pressão do seu pai. - ele segurou a mão livre de e a levou até seus lábios, depositando um longo beijo nas costas da mesma.
  Eles se encararam por um longo tempo, talvez se dissessem algo estragaria o momento, sabiam a resposta um do outro e principalmente a vontade.
  Casar era o sonho de , embora no passado sempre pensara que isso nunca ia acontecer, seus sonhos se tornaram realidade quando apareceu.
  E ele então, casamento nunca foi um desejo em seu coração, ainda mais tendo crescido em uma família que tal evento era apenas para tirar vantagem nos negócios, só que tudo mudou quando conheceu . Soube no instante em que colocou os olhos nela que aquele conceito que aprendera havia mudado.
  E então, mesmo o assunto se encerrando por hora, eles voltaram a comer em um silêncio agradável.
   suspirava de vez em quando, sabendo que agora mais tranquila, ela poderia jogar a bomba de vez sem que engasgasse com o temaki. Afinal, falar de Cristina levaria mais do que apenas algumas horas, levaria também a paz que se instalara ali.

[...]

  Não era surpresa algumas peças de roupa de estarem guardadas no apartamento de , ela praticamente se mudava para lá todo final de semana, então aproveitou para tirar aquela calça jeans apertada e trocar por um shortinho confortável preto. Confortável e tentador para , já que assim que ela passou indo em direção ao sofá a roupa chamou a atenção não só de seus olhos mas também de suas mãos.
  Ele sorriu ao vê-la desbloquear o celular e fazer um biquinho enquanto mexia no aparelho, aproveitou para tirar a camiseta e levá-la rapidamente para a lavanderia.
  Quando voltou viu que a namorada ainda estava entretida no celular, se aproximou e cruzou os braços.
  - Peraí , eu só vou responder… - levantou os olhos rapidamente para encarar o namorado, mas voltou quando viu algo de diferente. - ...a Lynn. - sua voz perdeu força ao encarar o tórax nu do namorado, seus olhos o analisaram de cima a baixo.
  Começou pelo cós da calça que cobria as entradas do rapaz, subiu pelo umbigo e a barriga que não era trincada como um atleta de fisiculturismo, mas que tinha alguns gominhos em evidência, o peitoral largo e forte era coberto pelos bíceps do rapaz que ainda permanecia de braços cruzados, subiu pelas clavículas e passou pelos ombros, parte na qual era a favorita da mulher. Só perdia para o dorso.
  Sem perceber, mordeu o lábio inferior enquanto analisava minuciosamente cada pedacinho de pele exposta de .
  Ele sorriu em vê-la tão hipnotizada, sabendo que o mesmo efeito que ela causava nele, ele conseguia causar nela.
  Bom, ela tinha feito muitas coisas com os hormônios dele só de ter vestido aquele shortinho, era justo retribuir a euforia. Certo?
  - Mas ela já tá atrapalhando de novo? Me dá isso aqui. - ele pegou o telefone de que parecia estar ainda fora de órbita. apertou e arrastou o botão de áudio e falou: - Lynn eu tô tentando ter um momento com a minha namorada aqui, será que você pode encher o saco mais tarde? Às nunca e meia, pode ser?
  Ele mandou o áudio e começou a rir, sabia que era brincadeira e sabia que a melhor amiga provavelmente mandaria uma resposta mal educada zoando também.
  - Ela vai te matar. - negou com a cabeça e viu se sentar do seu lado no sofá.
  - Eu tenho muito medo da Lynn. - revirou os olhos.
  O celular de vibrou e ela colocou o áudio da melhor amiga para tocar.
  "- Vá a merda, . Eu sou a noiva aqui, meu filho, tenho prioridade. Dá licença… Ô dá um jeito no seu namorado, isso daí é vontade reprimida, não tenho culpa se ele não tem se divertido com você."
  O casal riu, embora a melhor amiga mantivesse a voz séria era óbvio que ela estava brincando. Exceto pela parte que aquilo era vontade reprimida, até concordava com aquilo.
  - Primeiro minha mãe, depois meu pai e agora a Lynn, sério o que eles pensam que nós fazemos no seu apartamento o dia todo? - bloqueou o celular depois de ter mandado um emoji para a Lynn em resposta.
  - Olha, eu não sei o que eles pensam… - levantou a mão para acariciar a bochecha da mulher. - Eu sei o que eu quero fazer com você.
   sentiu as bochechas esquentarem.
  - ! - tentou parecer brava, mas estava apenas com vergonha.
  - Senti sua falta. - ele confessou, olhando-a ternamente.
  - Eu também senti a sua. - ela fechou os olhos e encostou as testas.
  Automaticamente as mãos dela foram para o tórax do rapaz e ela inspirou o perfume que ele emanava, devia ser proibido um homem daquele cheirar tão bem daquele jeito aquela hora do dia.
  As respirações calmas se encontraram e então em questão de segundos, os lábios fizeram o mesmo, como se fossem imãs eles se uniram em um beijo cheio de carinho, devagar e do jeito que precisavam.
  As mãos de a segurou com força na cintura e a trouxe para mais perto de seu peitoral, cobrindo-a em um abraço apertado enquanto os dedos brincavam com a ponta da blusa, no entanto subiu as mãos devagar a nuca do namorado e sentiu a pele do mesmo eriçar sobre suas palmas.
   então, sentindo que só aquilo não era o suficiente começou a se inclinar sobre o corpo dela, que prontamente se deitou no sofá e as pernas se encaixaram na cintura dele.
sugou o lábio do namorado quando o mesmo começou a subir sua regata e suas mãos encontravam a pele macia e quente de sua barriga.
  Assim que a peça fora jogada pela sala, ambos se olharam e o que pareceu uma eternidade era apenas o começo do que ainda estava por vir, sentiam não só seus corpos se conectando, mas naquela troca de olhares, também suas almas. Foi o suficiente para que o puxasse pela nuca e recomeçasse um beijo mais apressado em que as mãos já não estavam mais pacatas e passeavam livremente pelas partes que eram descobertas.
  Da boca só se saiam sons de satisfação e 'eu te amo' ao mesmo tempo em que se encontravam da forma mais íntima possível.
  Não era apenas desejo carnal.
  Quando estavam juntos daquele jeito era muito mais.
  O poder que cada um exercia sobre o corpo e a mente do outro era fora do normal. Preocupações, ansiedades, medo… nada daquilo importava mais.
  Finalmente, ao chegarem ao ápice, os troncos se encontraram e os corações bateram na mesma velocidade, criando a sintonia perfeita.
   soltou o ar e abriu os olhos, vendo que a encarava de uma forma inexplicável. Ele apenas encostou os narizes e fez um carinho, sorrindo em seguida e deixando a namorada com as pernas ainda mais fracas.

[...]

  O casal estava deitado no sofá, já haviam vestido algumas peças de roupa, o rapaz abraçava pela cintura e beijava seu pescoço de vez em quando enquanto ela acariciava sua mão que a envolvia, encostada no peitoral forte dele, mas seus pensamentos estavam longe.
  Ela tentava criar um jeito de falar sobre os encontros que tivera com a sogra sem afetar o modo como o namorado via a família, o relacionamento deles já não era dos melhores, não queria ser a causadora de maiores problemas.
  Mas como dizer que sentia um medo e um arrepio terrível toda vez que a mãe dele lhe dirigia a palavra ou simplesmente olhava em sua direção?
  - ...? - escutou falar ao fundo e balançou a cabeça, voltando a realidade.
  - Oi?
  - Escutou o que eu disse? - questionou a amada, mas sabia a resposta.
  Ela estava aérea. Até demais.
  E isso não era bom.
  - Não, desculpa. O que foi?
  - O que você tem? - beijou sua bochecha dessa vez e a viu respirar fundo antes de começar:
  - Preciso te contar uma coisa.
   sentiu que a namorada ficou tensa e desfez o abraço quando sentiu a mão dela pedindo para que assim o fizesse, em seguida ela sentou de frente para ele.
  - O que aconteceu? - Ela estava séria, piscava mais do que o normal e molhava os lábios com a própria língua para poder falar. Mas os olhos dela já diziam tudo.
  A expressão no rosto de era de puro desconforto e insegurança, ela parecia um filhotinho que precisava buscar comida sozinho sem a mãe.
  Cortava o coração de .
  - Eu conheci sua mãe. - ela decidiu soltar a bomba de uma vez e mordeu a parte interior da boca ao ver que o amado travou o maxilar.
  Os dois ficaram em silêncio por um tempo.
   sem saber como continuar e tentando controlar a raiva que começava a borbulhar em suas veias.
  - Onde? - decidiu perguntar ao ver que esperava ele dizer alguma coisa.
  - Bom, tecnicamente foi quando você estava em coma. - ela deu de ombros, receosa.
  - E você não me contou antes por que…
  - Eu estava com medo, . Por causa de toda aquela situação, você quase morreu e eu fui feita de refém no meio da invasão. E sei as regras da sua família, não queria ser um motivo de desunião entre vocês. - tagarelou.
   apenas balançou a cabeça.
  - Ela te maltratou, não foi? - não precisou escutar a resposta positiva de , só a feição dela já respondeu.
  - Não, é que...eu…
  - , não faça isso, por favor. - pediu e ela se calou. - Não tente proteger a minha mãe. Eu a conheço melhor do que qualquer pessoa, sei exatamente o que ela fez com você. Então só me responde, ela te maltratou?
  - Sim. - respondeu sem conseguir olhar nos olhos do amado.
  - E não foi a única vez que vocês se encontraram. - adivinhou.
   suspirou. Era difícil esconder qualquer coisa dele.
  - A gente se esbarrou hoje na loja de vestidos. - contou. - Quer dizer, eu esbarrei com a Emily Bittencourt, e literalmente fui ao chão.
   franziu a testa, já imaginando o que as duas estavam fazendo juntas.
  - E minha mãe aproveitou para enfiar minhoca na sua cabeça, não foi?
  - Ela disse que você e a Emily são bem íntimos. - coçou a nuca, tentando de algum modo espantar aquele desconforto ao lembrar do acontecido porém era impossível.
  Confiava em e sabia que ele não tinha nada com a Bittencourt e nem queria, mas não podia dizer o mesmo sobre ela. Sabia que a mulher queria .
  - Minha mãe é… - ele respirou fundo e engoliu as palavras. - Eu odeio quando ela faz isso, fica me vendendo como se eu fosse um frango de padaria para aquela… patricinha.
   desencostou do sofá e se aproximou de , que o encarava incerta.
  - Você não acreditou em nada, né? - segurou as mãos da amada.
  - Não, ! - admitiu. - Eu confio em você, juro. É só que… - parou de falar.
  - É só que…? - ele instigou a continuar.
  - Sua mãe não gosta muito de mim. - foi o que conseguiu falar.
  A verdade mesmo é que se sentia insegura pelo poder que a sogra tinha, sua persuasão era tão forte quanto seu status e era apenas… uma ex-aprendiz a cozinheira de um restaurante no subúrbio da cidade. Como poderia competir? Como poderia enfrentar a sogra e Emily Bittencourt?
  Estava machucada por dentro pois sabia que logo tudo a sufocaria, todas as diferenças entre ela e se chocariam de uma forma que não saberia como suportar.
  Sentiu segurar seu rosto dos dois lados e olhá-la fundo nos olhos, prestes a penetrar sua alma da forma como ele sempre fazia.
  - Eu amo você. - ele falou pausadamente. - Você. . A garota simples que mora em um sobrado mais simples ainda com os pais que ama mais do que a própria vida. A garota mais desastrada que eu conheço. - sorriu de leve. - Eu amo a garota que adora o pôr-do-sol e que chora assistindo filmes sobre cachorros. A garota por quem eu tomei três tiros e teria tomado mais se fosse necessário para protegê-la, a garota que me fez passar por cima de ordens dos meus superiores e que me faz rasgar as regras idiotas da minha família. A garota que me hipnotizou com apenas um olhar e me enfeitiçou com um só beijo. Eu amo você. E quando qualquer pessoa tentar passar por cima de você porque estamos juntos, seja minha mãe, meu pai ou o raio da família Bittencourt, eu quero que se lembre de tudo isso. Ninguém vai te tirar de mim. Eu não desisti de você por causa do meu país, acha mesmo que vou desistir só porque minha mãe tá mancomunada com a Paris Hilton falsificada?
   segurou as lágrimas que haviam se formado enquanto o namorado discursava, sem dizer nada, apenas enterrou seu rosto do pescoço do mesmo e respirou o perfume dele.
  - … - ele acariciou as costas dela.
  - É maldade você fazer isso comigo agora, sabia? - a voz dela saiu abafada, mas o fez rir.
  - Olha pra mim. - pediu carinhoso e ela o fez. - Dane-se todas essas nossas diferenças. Dane-se todas as coisas que as pessoas dizem sobre nós. Dane-se a vida que os meus pais querem que eu leve. Eu escolhi você e vou até o final. - encostou as testas. - E se minha mãe te humilhar novamente, dê um tapa ardido na fuça dela.
   riu e se afastou dele.
  - Eu devia dar um tapa ardido em você, olha as coisas que você diz!
   sorriu e a beijou na testa, claro que sabia que jamais levantaria um dedo contra Cristina mesmo que ela um dia mereça.
  O rapaz aproveitou para puxar a namorada pela cintura e envolvê-la em um abraço quente, que tocou do jeito que ela precisava. Além de tirar um peso das suas costas, sentia que estava do lado dela e aquilo era tudo.
  Manhosa, ela escondeu seu rosto no pescoço dele e enrolou o pescoço do mesmo com seus braços, então passou as pernas dela entre sua cintura e segurou firme nas coxas dela quando se levantou do sofá, carregando a namorada como se ela não pesasse nada.
  Ele os conduziu até seu quarto e permaneceu naquela posição até ele se deitar na cama, tendo por cima de seu corpo. Assim eles ficaram até adormecer, fazendo um carinho nos cabelos de enquanto ela respirava cada vez mais suave, se entregando ao sono e sabendo que sua relação com o namorado estava cada vez mais forte.

[...]

  Já era quase a hora do jantar, desligou o celular e olhou para que dormia pesado em sua cama, sorriu de leve e pensou no quanto gostaria que aquela cena se repetisse todos os dias, não apenas nos finais de semana.
  Se aproximou sem fazer um barulho sequer e agachou até que pudesse fazer um carinho sutil na bochecha dela. Vê-la dormir daquele jeito, tão serena, o fazia sentir ainda mais a necessidade de protegê-la.
  No passado não tivera a coragem de fazer pois era um moleque, não conseguia se impor perante a sua família e as regras estúpidas que era obrigado a seguir, porém aquela fase havia passado. Sabia disso.
  Já não era o mesmo rapaz de anos atrás e jamais voltaria a ser, agora era um soldado com apenas um propósito e faria de tudo para que se cumprisse.
  Analisando a namorada dormir, sua mente vagou pelas lembranças que o mantivera vivo durante suas horas mais escuras.

Há 3 anos e 5 meses. Centro da cidade.
Por volta das 22:20 PM. Jardim da família .

   tentava esconder o sorrisinho travesso que escapava em seus lábios, não podia comemorar agora mas só de imaginar o que a família pensaria sobre o que ele estava prestes a fazer, chegava a ser engraçado.
  O primogênito rebelde quebrando as regras de sua mãe em sua propriedade, nada do que ele já não tivesse feito várias vezes. Todavia, naquela noite tudo era diferente.
  A chave da guarita de segurança do Jardim de sua família brincava entre seus dedos para espantar o nervosismo e a ansiedade, o rapaz olhava para todos os lados e admitia que um frio passava em seu estômago só de imaginar que ela não viria.
  Coçou a parte de trás da nuca ao lembrar da cara do Sr. Joaquim, segurança do jardim no período da noite, quando ele o dispensou por aquela noite.
  Mesmo que confiasse no pobre homem, quanto menos pessoas estivessem ali, seria melhor. O momento exigia privacidade e nenhuma testemunha para que Cristina pudesse aterrorizar.
  Se é que um dia iria descobrir o que havia acontecido naquela guarita…
  Viu os cabelos de voarem junto com o seu longo casaco conforme o vento batia e respirou aliviado. Ela tinha vindo afinal de contas.
  Conforme ela se aproximava, conseguia ver em seu rosto que estava preocupada por estar ali, afinal poderiam ser pegos a qualquer hora e por qualquer pessoa, mas tudo isso passou quando os dois se olharam.
   rapidamente envolveu em um abraço forte e duradouro, embora o rapaz estivesse louco para beijá-la novamente, fechou os olhos para aproveitar melhor o fato de estar ali com ela, seu perfume doce invadindo suas narinas.
  Assim que se afastaram, juntou as mãos e tremeu de frio, e também de entusiasmo por estar ali com .
  - Eu não acredito que estou aqui. - admitiu. Se sentia uma louca por estar naquele jardim com , ainda mais naquela hora da noite.
  - Por quê? - ele sorriu.
  - Eu tô com frio. - reclamou e inconscientemente, fez um bico.
   reprimiu a vontade de segurar no queixo dela e beijar aquele bico.
  - Vem comigo! - colocou a palma da mão nas costas dela e a conduziu para a guarita.
  Assim que entraram, pôde constatar que ali era muito menor do que pensava, era apenas um quadrado minúsculo com duas cadeiras, uma janela e estava escuro.
  Pelo menos ali era muito mais quente do que lá fora.
   acendeu a luz mas não era como se fizesse alguma diferença já que a lâmpada estava tão empoeirada e era tão velha, que estava fraca. Mal iluminava direito.
   achou engraçado afinal a família era rica o suficiente para que o Jardim fosse considerado um dos mais bonitos e ricos de biodiversidade do país e mesmo assim não tinham arranjado uma lâmpada decente para aquela metade de um quartinho.
  Ela se sentou em uma das cadeiras e observou colocar a outra virada em sua direção, onde ele se acomodou ali, apoiando os cotovelos nos joelhos e entrelaçando suas mãos frias, logo depois encarou .
  Os dois ficaram em silêncio por um tempo, apenas se olhando, ambos tinham planejado outras coisas para aquela noite, mas aparentemente elas iriam por água abaixo graças aos seus sentimentos.
  Queriam paz e tranquilidade, um momento a sós sem que ninguém soubesse ou interrompesse e ali estavam.
  - Eu esqueci de trazer uma manta, não quer dividir esse seu casaco comigo não? - perguntou depois de longos minutos.
   não soube o que responder, na verdade ela não imaginava que ele fosse vir com essa desculpa esfarrapada de novo tão cedo, mas quem ela queria enganar? Não via a hora de ficar agarrada a , de preferência a noite toda.
  Ela apenas balançou a cabeça, deixando o bolsa no chão e tirando o casaco, estendeu uma parte para . Ele não demorou muito para puxar a cadeira mais perto da dela, com a desculpa de que não alcançaria o casaco.
  Eles se arrumaram de um jeito torto para que pudessem ficar debaixo do pano quente, porém passou seu braço na cintura de e ela prendeu a respiração.
  De repente, aquela guarita tinha ficado mais quente do que devia.
  A garota sentia seu coração bater tão rápido que doía entre suas costelas, parecia até que ele pularia para fora de seu corpo a qualquer momento. E provavelmente iria se continuasse a tocando daquele jeito.    soltou o ar que havia prendido, tentando não demonstrar a , embora fosse praticamente impossível já que ele estava perto demais de seu rosto.
  O rapaz aproveitou para encostar seu corpo contra a parede, ficando mais esparramado na cadeira, automaticamente puxando junto.
  Ela então, tomando coragem, apoiou a cabeça e uma de suas mãos no peitoral de , e ao sentir o coração dele batendo tão rápido quanto o seu, fechou os olhos e respirou fundo.
  Estava com medo de ir até aquele encontro porque imaginava as intenções de . Ora, ficar no jardim sozinhos durante a noite?
  Não tinha convidado a garota para jogar dominó e sabia disso. Não queria ser apenas uma qualquer na listinha de , que cometia as loucuras junto com ele e era apenas isso. Sem corresponder os sentimentos dela.
  Mas sentindo o coração dele bater rápido entre a palma de sua mão, tinha certeza que fizera a escolha certa ao seguir seu próprio coração.
  Não estava enganada sobre o jeito que ele a olhava, agora tinha plena convicção que ele gostava dela tanto quanto ela gostava dele.
  - O que você disse aos seus pais? - perguntou curioso.
  - A verdade, não minto para eles. - ela deu de ombros.
  O rapaz ficou pensativo, queria poder dizer o mesmo mas sabia que seus pais não eram tão compreensivos quanto os de .
  - A Lynn sabe que você veio?
   escutou a garota rir de leve, ele sorriu no mesmo segundo.
  - Lynn tem segredos de mim, assim como eu tenho dela. Não é tudo o que eu conto. - ela explicou.
  - Ela ficou sabendo que nós dois saímos juntos.
  - E o que você disse?
  - Que não aconteceu nada demais.
  - E ela? - mordeu a pele da boca.
  - Falou pra eu ter cuidado.
  A garota não respondeu de imediato, deixando aflito. Ela moveu a cabeça apenas para olhá-lo.
  - Mas você mentiu, , aconteceu e nós dois sabemos. - ela falou receosa.
  Ele sorriu e a encarou, beijando sua testa logo depois.
  - Eu sei, , mas Lynn não tem nada a ver com isso. Não é?
  Ela concordou com a cabeça.
  - Você disse que tem segredos dela, quais são? - estava curioso porque conseguia imaginar algumas coisas e talvez, fosse o suficiente para sanar suas dúvidas.
  - Ah … - ela riu. - Isso, por exemplo. - se referiu àquele momento.
  - Só isso?
  - Você quer me contar alguma coisa? - ela questionou, olhando novamente para ele.
   a olhou de rabo de olho e sorriu torto.
  - Não… você quer?
   sentiu não só as bochechas esquentarem, mas sim seu corpo inteiro.
  - Quero. - ela esperou falar alguma coisa mas ele permaneceu em silêncio, ela entendeu como a deixa que precisava para continuar: - Você não reparou nada durante todo esse tempo?
  Ela o escutou respirar fundo.
  - Pra ser sincero, sim.
   o olhou, vendo que ele olhava para frente, soltou de uma vez:
  - Eu gosto de você, . Sempre gostei. - ele a encarou. - Desde o começo.
  Ele não disse uma só palavra, apenas a olhou nos olhos e não encontrou nada além de sinceridade, sentindo seu coração bater mais forte do que antes, apenas a apertou contra seu peito e beijou abaixo de seu olho, vendo-a fechar suavemente.
  Então era isso, finalmente a tinha em seus braços e confessando que sentia o mesmo que ele.
  Parecia até mesmo um sonho.
  - Eu também gosto de você, .
  A garota abriu a boca algumas vezes, sem saber o que dizer.
  - É sério? - perguntou, sem acreditar.
  - Por que acha que estou aqui com você, numa segunda-feira a noite?
  - Não tinha mais nada para fazer? - ela perguntou, dando de ombros e escutou ele rir.
  Porém nenhuma palavra foi dita por , ele subiu sua mão livre até o rosto de e acariciou desde seu maxilar até o queixo. Ela fechou os olhos novamente, sentindo o toque tão macio e quente dele, que aproveitou para levantar o rosto dela o suficiente para que estivesse a centímetros do seu próprio.
  Vendo que ela não o pararia, ele fechou seus olhos e se entregou, beijando-a docemente e lentamente. suspirou, subindo sua mão até a nuca do rapaz enquanto seus gostos se misturavam, ela sentiu todo o corpo arrepiar.
  Quando se separaram, a puxou para mais perto, mesmo que fosse humanamente impossível.
  - Na verdade, eu tinha mais o que fazer sim. Isso. - ele encostou sua bochecha na testa da garota, não vendo o sorriso enorme que ela abriu.
  Ficaram assim por um bom tempo, abraçados e distribuindo beijos de vez em quando pelo rosto dela.
  - E agora? O que a gente faz? - ela perguntou.
  - A gente precisa ir embora. - ele respondeu, depois de ver a hora em seu relógio, era quase meia-noite.
  Não podia deixar a garota ali até tarde, mesmo que quisesse passar a madrugada toda com ela até o amanhecer.
  - Não, , eu não tava falando disso. - se afastou, os dois sentiram um frio imensurável. - Eu falava da gente…
  Ele se desencostou da parede, sentindo uma grande dor nas costas por passar tanto tempo naquela posição mas ignorou, e acariciou o rosto preocupado de .
  - Vamos dar um jeito, tudo bem? Juntos. - respondeu, sincero.
  Embora soubesse que não era essa a resposta que merecesse, por agora era a única que podia oferecer.
  E não era a hora de explicar para ela como sua família funcionava, com todas aquelas regras chatas que ele nunca seguiria. Não queria deixar a garota mais preocupada e pior, com medo, imaginando que ele desistiria dela.
  Depois daquela noite tinha decidido que jamais faria isso.
   apenas concordou, daria o tempo que fosse necessário para ele. Eles se levantaram, colocando o casaco de volta e pegando sua bolsa no chão.
  Ela não sentiu a acompanhar e parou com a mão já na maçaneta da porta.
  - … - escutou ele chamar.
  Assim que virou, ela viu um borrão, a segurou dos dois lados do rosto e a beijou rapidamente, deixando-a surpresa.
  Ele se afastou, olhando-a e esperando alguma reação.
  Depois de longos segundos, que mais pareceram horas, se aproximou dele e o segurou pela nuca, beijando o canto de sua boca e encostou as testas.
  - Fica comigo? - ele pediu, vendo-a sorrir.
  - Achei que já estivesse.

Há 3 anos e 2 meses. Mansão da família .
19:45 PM.

   entrou pela porta da frente extremamente esgotado, desfazendo o nó da gravata e podendo finalmente respirar em paz sem que fosse observado pelo pai ou algum de seus funcionários.
  Não via a hora de largar aquela história de consultoria, não aguentava mais ficar trancado em uma sala de escritório minúscula tendo que ensinar aos outros sobre um assunto que sequer gostava. Não pretendia ser contador e muito menos cuidar de uma das filiais do escritório.
  Assim que fechou a porta, escutou os saltos da mãe existem pela sala enorme e vazia.
  "Que ótimo, quando eu achava que não podia piorar", pensou enquanto revirava os olhos antes da mãe chegar.
  - Filho, chegou cedo! - viu a mulher se aproximar e levantar a sobrancelha, conhecia bem aquele olhar.
  - Dor de cabeça, vou para o meu quarto. - apontou para a escada, não via a hora de ficar sozinho em silêncio, conversando com no celular.
  Tivera uma semana cheia e ainda era quinta-feira, já sentia seu ombro rígido de tanto problema e preocupação que lhe eram jogados.
  - Espere, ! Você tem visita. - a mãe anunciou.
  O rapaz sentiu o coração acelerar por um momento, pensando em um rosto específico, embora soubesse que não era ela quem estava ali.
  - Visita?
  - Lynn está na sala de conversação.
  Então sentiu o resquício de felicidade ir embora, dando lugar a preocupação.
  - Obrigado. - agradeceu sem perguntar o porquê da melhor amiga estar em sua casa àquela hora da noite. Não confiaria na mãe para saber do que se tratava e se Lynn estava ali, então era melhor a mãe não saber o motivo.
  Seguiu em passos largos até a sala e quando chegou, a viu de costas olhando pela vidraça da janela.
  - Lynn, aconteceu alguma coisa? - perguntou na lata depois de fechar a porta atrás de si.
   escutou a melhor amiga respirar fundo, ela virou fazendo com que ele visse a feição de agonia que tomava conta de não só seu rosto mas seu corpo. Lynn tremia e suas mãos não paravam quietas.
  - É a .
   sentiu a garganta fechar e o sangue gelar.
  - O que aconteceu com ela? Ela tá bem? Onde…
  Ele continuaria a questionar, se Lynn não tivesse falado a frase que mais tinha medo:
  - Ela sabe de tudo.
  O rapaz piscou algumas vezes, quase podia sentir as engrenagens de sua cabeça funcionando bem lentamente.
  - O quê…?
  - Ela descobriu tudo sobre você.
  Ele permaneceu em silêncio.
  - Estávamos na minha casa e eu não sabia que sua mãe também, desceu para o escritório para pegar o álbum da minha família quando ela escutou a conversa das nossas mães. Quando ela subiu pro meu quarto de novo, estava branca feito papel e a ponto de desabar. Eu tentei acalmá-la, , mas ela me obrigou a contar tudo o que sabia e eu não pude mais esconder. - Lynn sentiu a voz falhar algumas vezes. - Me desculpe.
  - Onde ela… - respirou fundo. - Ela está na sua casa? Eu preciso vê-la.
  - Não, saiu correndo logo depois que eu contei o que sabia. Ela não atende minhas ligações.
   fuçou os bolsos da calça e pegou o celular, desbloqueando o aparelho e abrindo o aplicativo de mensagens em uma pressa sem tamanho. Foi na conversa que tinha com .
  Última visualização: 16h12.
  - Me dá o endereço da casa dela. - bloqueou o celular e tirou as chaves do carro do bolso.
  - O quê? Você vai lá?
  - Lynn, eu tenho que falar com ela agora. Ela não vê o celular tem mais de duas horas.
  - Eu conheço a , , ela não vai nem querer te ver.
  - Que se dane! - com a mão livre, o rapaz bagunçou os cabelos em sinal de frustração. - Você não entende!
  - O que eu não entendo? Que a minha melhor amiga tá se sentindo traída por mim e por você? Eu te avisei que isso ia acontecer, você não devia nunca ter se aproximado e... - Lynn apontou o dedo para , fazendo o rapaz se irritar ainda mais.
  - Eu a amo, porra! - ele gritou, vendo a amiga se calar. - Se eu não falar com ela agora, vai ser tarde demais depois, Lynn. Você me disse uma vez que esperava que encontrasse alguém que eu não conseguiria viver sem, não é? Então me dá a porra do endereço da casa dela, e me deixa lutar de verdade pela única pessoa que eu amo na vida.
  Lynn mantinha os olhos arregalados, mas, mesmo assim, pegou o celular e digitou alguma coisa.
  - Se eu te devia uma antes, acabei de pagar.
   sentiu o celular vibrar e ao tirá-lo do bolso, constatou que Lynn havia lhe mandado o endereço.
  - Vai atrás dela.
  Ele não pensou duas vezes antes de virar as costas e sair correndo de casa, ignorando completamente sua mãe gritando no topo da escada, ou então o pai que havia acabado de chegar.
  Tudo parecia um borrão, chegou depressa no carro e não perdeu tempo de arrancar com ele da propriedade de seus pais, enquanto ajustava com a outra mão o celular para visualizar melhor o caminho que teria que fazer.
  Ele passou em alguns sinais vermelhos, acelerou mais do que devia e buzinou algumas vezes, pois tudo parecia querer atrasá-lo. Mesmo chegando na metade do tempo que levaria, tinha a sensação de que demorou uma eternidade.
   mal desligou o carro e já estava para fora do veículo, trancando-o enquanto tocava a campainha várias vezes sem descanso. Bateu o pé até a porta ser aberta, sentindo o coração se estraçalhar em milhares de pedaços.
  À sua frente, estava com os cabelos molhados, seu rosto estava vermelho e inchado, seus olhos marejados e ela vestia roupas confortáveis.
  - O que foi, Joe… - ela parou de falar quando percebeu que não era seu irmão que estava ali parado. - … - sua voz não saiu, mais fraco do que um sussurro.
  Eles se olharam, mais uma vez era como se o tempo não passasse na troca de olhares.
   queria sorrir porque ainda sentia seu coração se aquecer em vê-lo ali, bem diferente do que estava acostumada, já que o mesmo vestia roupas sociais. Porém, não conseguia daquela vez. Estava tão magoada, se sentia um lixo.
  Já , ele queria bater em si mesmo por saber que era o causador das lágrimas de . Que ele era um dos motivos do pobre coração dela ter se quebrado. Claro que pretendia contar para sobre a verdade, mas esperava achar circunstâncias melhores, um jeito certo.
  - Vai embora… - ela pediu, com a voz ainda fraca, tentando fechar a porta porém fora impedida por .
  - Eu sei que você não quer falar comigo, mas me deixa explicar, eu te imploro.
  - Não precisa explicar nada, já entendi tudo. Eu vou sair da sua vida, prometo.
  - Não! , por favor, não! - o tom da voz de era desesperador, ele realmente estava implorando e por mais que estivesse com raiva também, ainda se importava com ele.
  Ela abriu a porta um pouco mais e olhou para um ponto fixo na parede.
  - Você tem 5 minutos.
   entrou e o conduziu até a sala, abraçando seu próprio corpo enquanto esperava ele falar alguma coisa.
  O silêncio entre eles era uma verdadeira tortura.
  - A Lynn me contou que…
  - Corta o rodeio, . - ela o interrompeu. - Seja direto comigo uma vez na sua vida.
  Incerto, ele deu um passo em direção a ela, que sequer se moveu.
  - Não era pra você descobrir desse jeito, eu queria ter te falado. Juro que queria.
  - Falado o quê? Que sua mãe me odeia mesmo sem saber que você passa noites em segredo comigo no jardim da sua família? Ou que você está noivo de alguém? Já sei, talvez que eu tenha sido a porcaria de uma distração. Um mero caso de despedida de solteiro.
   nunca viu falar com tanto sarcasmo, ainda não tinha conhecido aquele lado, mas sabia que muitas palavras ali eram apenas para magoá-lo da mesma forma que ela estava magoada
  - Você nunca foi uma distração ou um caso e sabe disso!
  - Eu sei? - ela perguntou, sem perceber que sua voz já começava a alterar. - Como eu posso ter certeza que tudo aquilo não foi uma mentira? Que você não estava me enganando?
  - Você olhou nos meus olhos, . Você sentiu meu coração bater mais rápido toda vez que a gente se beijava, exatamente da mesma forma que eu sentia o seu!
  - O problema não foi o que a gente sentiu, . Foi que você mentiu pra mim! Você me escondeu coisas que eu deveria saber desde o começo. Caramba, você tem uma noiva!
  - Mas que saco, eu não tô noivo de ninguém. - ele bufou.
  - Não foi o que sua mãe disse. - gritou, sua voz esganiçada saiu fraca e ela sentiu que voltaria a chorar novamente. A luz da casa pesava seus olhos e a dor de cabeça aumentava, mas nada era comparado a dor que sentia em seu coração. - Eu só queria que você tivesse sido sincero comigo, talvez eu tivesse pedido demais. Talvez eu tenha sido otimista demais, ingênua… - ela respirou fundo alguns segundos, percebendo que permanecia em silêncio. - Nunca um rapaz como você lutaria por uma garota como eu, você nunca se sacrificaria por mim. - sorriu triste.
  - Eu… - estava com a garganta fechada, os olhos ardiam e ele sentia que a perdia a cada minuto.
  - Chega! - passou as mãos pelo rosto, limpando as lágrimas. Ela andou até a porta, abrindo-a. - Acabou. Seja lá o que tenhamos começado, não existe mais.
  - Você não…
  - Eu estou te fazendo um favor, . Você precisa de alguém com os mesmos princípios que os seus. - sentiu as palavras sem emoção de e aquilo teve um efeito tão doloroso quanto um corte profundo. Era como se tivesse levado um tiro. - Vai embora, não perde mais seu tempo comigo.
  Desolado, ele andou em direção a porta com os ombros caídos e pesados, a cabeça baixa e com uma vontade de chorar incontrolável.
  Olhou para uma última vez, ela encarava o nada de um jeito frio e sério, analisou o rosto nos mínimos detalhes naqueles poucos e raros segundos. Não queria guardar a imagem dela inchada porque estava chorando de tristeza graças a ele.
  Era um completo idiota.
  - Um dia eu vou te provar que nada disso é verdade. - sua voz saiu baixa como nunca antes, mas viu vacilar.
  - É tarde demais. - ela o encarou, os olhos vermelhos e cheios de lágrimas.
   sentiu as palavras fugirem da sua boca, na verdade, nem tinha forças para falar alguma coisa.
  E então, quando ele finalmente deu um passo para frente, fechou a porta. O eco selou a rachadura no coração de ambos, sem conseguir se segurar mais encostou a testa na porta e chorou como um verdadeiro bebê.
  E voltou para o carro com um vazio por dentro, finalmente as lágrimas caíram enquanto ele desejava que tudo aquilo fosse um pesadelo.
  O celular tocou alto dentro do carro e ao ver o nome da mãe no visor, pegou o aparelho e desligou com força, querendo mesmo jogá-lo pela janela e passar por cima com o carro.
  Deu a partida no veículo e vagou pela cidade sem um rumo certo, sem saber para onde ia, nem sabia o que queria.
  Sem saber quanto tempo havia passado, seus olhos mesmo embaçados encontraram um cartaz que acabou sendo sua oportunidade. Sem hesitar ou pensar em qualquer coisa, estacionou na frente e saiu do carro.
  Andou em passos largos dentro do estabelecimento, a mandíbula travada e o sangue correndo frio pelas veias, pegou um papel e uma caneta, preenchendo sua ficha com ódio.
  Tudo o que lhe restara, tudo o que amava na vida havia sido tirado de suas mãos, por pessoas egoístas que o tratavam como uma mera peça num jogo de xadrez.
  Não mais.
  Iria achar um jeito de provar a ela tudo o tinha dito e para começar, tinha que fazer aquilo.
  Viu um homem parar na sua frente, a postura ereta e rígida, o mesmo olhou para o rosto de e depois para a ficha.
  - Voluntário?
   apenas assentiu.
  O homem analisou o rapaz, era quase como se soubesse a razão dele estar fazendo aquilo, como se entendesse seus motivos mesmo que ele não tivesse falado. Ele então pegou o papel da mão de e o colocou na bancada, tirou um carimbo do bolso e o apertou fortemente contra o papel.
  Ele estendeu para com um pequeno sorriso, que fora um tanto quanto reconfortante.
  - Bem-vindo, Soldado.
   encarou o papel e o carimbo vermelho chamou sua atenção.
  Aprovado.
   respirou fundo e bateu continência antes de sair do estabelecimento, agora sabia o que faria. Entrou no carro e deixou o papel no banco do passageiro, olhou uma última vez para o banner que tinha sido sua resposta e arrancou com o automóvel dali em direção a mansão.
  Para trás deixou o banner com os dizeres: "Alistamento voluntário das Forças Armadas. Faça sua inscrição aqui."
  Quando chegou na casa de seus pais, pegou o papel e o celular, e caminhou lentamente até a porta de entrada.
  Assim que pisou dentro da mansão, viu seus pais se levantarem do sofá com expressões preocupadas. Quis rir.
  - Filho! Onde esteve? - Cristina correu para abraçá-lo, analisando depois se o filho estava bem.
  - Você nos preocupou a toa, garoto. - escutou a voz grossa do pai reclamar.
  - Relaxa, de agora em diante não precisam se importar com o que eu faço.
  - O que quer dizer, ? - a mãe questionou, indo ao lado do marido.
  O rapaz nada disse, apenas estendeu o papel para seus progenitores, que foi prontamente pego pelo pai.
  A feição de era de puro vazio, já não sentia mais nada. Enquanto sua mãe olhava horrorizada o papel e o pai inflava as narinas.
  - Que palhaçada é essa? - o pai perguntou, vendo que a esposa não conseguia dizer nada. - Isso é uma…
  - Ficha de inscrição das Forças Armadas, no qual eu fui aprovado.
  - Chega de teatro, criança!
  - Não é teatro. - ele respondeu firme, não deixando dúvidas aos pais.
  - Por que, ? - a mãe estava chocada.
  O rapaz riu amargurado, balançando a cabeça como se não acreditasse naquela cena.
  - Vocês me disseram o que fazer a minha vida inteira, me manipularam, falaram por mim quando eu não queria e planejaram um futuro que eu nunca quis. E agora eu perdi a única pessoa que se importava comigo de verdade, que eu amo! - respirou fundo. - Já que eu não posso ter o que eu quero, então ninguém mais nessa casa vai ter.
  - Está fazendo isso por causa de uma garota? - o pai perguntou devagar, tentando entender.
  - Quem é a vadia? Alguma suburbana… - a mãe cuspiu.
  - Pobre, mãe? - interrompeu a mãe. - É, ela é sim. E mais rica de sentimentos do que vocês dois juntos.
  - Garoto…
  - Eu cansei de ser a marionete de vocês! - gritou. Sequer conseguia chorar mais, os olhos nem marejavam.
  - Levante o tom da voz mais uma vez e eu juro que… - o pai deu um passo em frente ao rapaz.
   sorriu de lado, levantando o queixo, e encarou o pai com frieza.
  - O quê? Vai me bater? Me expulsar de casa? Não se preocupe com isso, já estou saindo daqui.
  - !
  - Volte para o seu quarto, rapaz, e amanhã conversamos sobre essa sua loucura.
   riu.
  - Não.
  O casal se assustou, aquelas palavras nunca saíram da boca do filho.
  Definitivamente algo tinha afetado o rapaz.
  - Se você for para este lugar, - o pai balançou o papel. - nunca mais colocará os pés nesta casa e sairá com apenas a roupa do corpo.
  Ele pegou o papel da mão do pai com brutalidade, ainda mantendo o olhar.
  - Ótimo. - pegou a chave do carro e deixou em uma mesinha na sala.
  - Não faça isso, meu filho! - a mãe implorou. - Não destrua sua vida por uma garota qualquer.
  - não é uma qualquer, mãe, ela é a minha salvação.
  Sem dizer mais nada, deu as costas e saiu da mansão dos pais escutando os protestos da mãe ficar cada vez mais longe conforme se afastava.
  Quando finalmente cruzou os portões, respirou fundo e uma brisa suave apareceu, não se sentia mais feliz ou completo, sabia que nunca mais se sentiria assim.
  Mas agora poderia dizer que sentia o gosto da liberdade e de agora em diante, não perderia.
  Assim como não perderia , não tinha perdido a guerra ainda.

[...]

Atualmente. Centro da cidade.
Às 2:14 AM.

  Os dois rapazes entraram no apartamento pequeno e vazio, tinha cheiro de mofo, mas uma boa pintura acabaria com aquilo. Também não dava para reclamar, era no último andar com fácil acesso até o telhado e em um local estratégico. Iria servir e muito.
  - Cara, você tem certeza… - o mais novo começou, porém fora interrompido.
  - Sei o que estou fazendo. - o mais velho respondeu friamente.
  Não era bem questão de querer, era seu dever.
  - Não acha que vai ser arriscado? Justo nesse prédio?
  O mais velho riu e andou até a janela, observando muito bem o apartamento do seu vizinho da frente.
  - Essa é a vantagem.
  Reprimiu o sorriso de deboche que insistia em aparecer enquanto analisava a varanda do seu futuro novo vizinho.
  Porém, não era apenas isso.
  Era também seu próximo alvo.

[...]

Um mês depois. Casa dos .
Às 17:45 PM.

   terminava de colocar os brincos de argola quando escutou batidas na porta de seu quarto, respondeu para que entrasse e a figura da mãe fora revelada. Viu a mais velha sorrir largamente e seus olhos brilharem ao ver a filha arrumada.
  - Você está linda!
   sorriu tímida.
  - Sério? Não acha que está muito apagado? - questionou, passando a mão pelo vestido.
  - Minha filha, qualquer coisa em você fica elegante.
  A garota negou com a cabeça, não concordava, mas aceitava o elogio. Havia encarado o vestido por tempo demais, entretanto se sentia muito confortável com ele. Era cinza com listras quadriculadas em tons mais escuros e algumas brancas, o zíper preto na frente que ia do começo na altura do busto até o final acima do joelho, um cinto e o blazer do mesmo tecido e cores davam um toque a vestimenta.
   havia feito uma maquiagem que marcava bem o olho com um delineado preto e um batom em um tom marrom não tão escuro. Seu cabelo estava mais curto, decidira cortar algumas semanas atrás por conta do calor que tinha chegado na cidade, bem diferente dos longos e pesados que iam a altura da costela. Agora estavam acima de seus ombros.
  - Obrigada, mãezinha. - foi até a mulher e beijou sua bochecha.
  - chegou, está na sala com o seu pai.
   sorriu, era difícil não fazer quando escutava o nome do namorado.
  - Pede pra ele subir, por favor, mãe. Preciso ainda decidir qual o sapato que vou.
  A mãe concordou e saiu do quarto, deixando a filha encarando os dois pares de sapatos que havia deixado para fora. Decidiu ir com o scarpin em um tom de nude um pouco mais apagado, quase próximo ao tom do vestido.
  Escutou algumas batidas na porta e virou, sabendo exatamente quem era. Todavia, parou para prender a respiração.
   estava simples, com um terno preto sem gravata e a camiseta social vinho de um tecido que parecia tão macio quanto seda, nos pés um sapato social preto que ele raramente usava.
  Ambos admiravam cada pedacinho do outro, enquanto perdia a força nas pernas e precisava se esforçar para se manter de pé, sentia o corpo inteiro aquecer em ver a namorada vestida daquela forma.
  Ele se aproximou, pegou a namorada pela mão e a fez dar uma voltinha, riu no processo e viu se aproximar de seu rosto para lhe dar um selinho longo quando voltou a ficar de frente para ele.
  Ele nada disse, apenas a observou dos pés a cabeça.
  - O que foi? - ela perguntou.
  - Acho que estou hipnotizado. - respondeu, sem conseguir tirar os olhos dela.
  Ela riu, sentindo as bochechas esquentarem.
  - Você não é o único. - o abraçou, enterrando seu rosto na nuca do rapaz, sentindo o perfume incomparável mais de perto. - Você tá bem cheiroso, vai ser difícil me controlar na festa. - comentou próximo da nuca de , percebeu que ele se arrepiou.
  - Será que tem como a gente ir logo antes que fique impossível de resistir e eu desista pra ficar aqui com você?
   se afastou rindo, pegando a sua clutch em cima da cama.
  Por mais que quisesse ficar com , não ir à festa não era uma opção. Afinal, aquele era o noivado de seus melhores amigos.
  Lynn e Connor estavam dando uma festa para a oficialização do noivado, praticamente tudo estava pronto para o casamento, com a ajuda de que era a madrinha, a mulher conseguiu adiantar muita coisa.
  Foi um mês bem corrido para ambas, enquanto Lynn via as coisas do buffet via as do salão, enquanto uma via a decoração a outra via a igreja. e Connor também estiveram bastante ocupados, com as roupas dos padrinhos, os músicos, os convites e a limusine. Foi um mês de muitos encontros duplos entre os casais, que os aproximaram mais do que nunca.
  Então mesmo que pudessem bancar os anti-sociais, jamais conseguiriam faltar naquele momento tão importante para os amigos.
  O casal então sem mais delongas saiu do quarto, indo para a sala e se despediram dos pais de que estavam para viajar até a casa de um parente no interior, logo depois saíram da casa em direção a mansão dos Alcântara.
  Não foi surpresa verem a casa muito bem iluminada com carros chegando na entrada e manobristas organizando os veículos dos convidados, na verdade aquele era o jeito discreto da família de dar uma festa de noivado.
até gostara da ideia no início, amava o modo como festas de noivado eram comuns na época de seus pais, até ela descobrir o jeito excêntrico dos Alcântara em dar uma festa.
  Nada de salgadinhos ou bolo e refrigerante. Era champanhe e comidas com nomes estranhos que eram praticamente miniatura.
   estendeu a mão para ajudar a sair do carro como um perfeito cavalheiro e seguiram para a mansão de mãos dadas, como esperado, os noivos estavam na porta recepcionando os convidados.
  Lynn estava deslumbrante. O vestido vermelho longo que ela usava era amarrado no pescoço com um decote que ia até um pouco acima do umbigo, os cabelos soltos em cachos discretos e a maquiagem realçava seus olhos claros.
   a abraçou depois de soltar a mão do namorado.
  - Você não devia usar uma roupa menos chamativa? - ela disse, brincando.
  - , acha que me vestiria que nem uma senhora só para agradar a alta sociedade?
  Elas se soltaram e pôde ver o olhar brincalhão da amiga.
  Não, ela não faria.
  Lynn podia ser da elite, mas pouco se importava com o que os outros diziam sobre seu estilo ou suas roupas, não era atoa que ela tinha seguido justamente para esse ramo.
   trocou de lugar com e cumprimentou Connor, este estava com um terno preto e uma camiseta branca sem gravata, sapatos sociais pretos e óculos com uma armação moderna.
  - Qual é a dos óculos? - perguntou enquanto colocava o braço ao redor da cintura de depois de cumprimentar Lynn.
  - Não sabia que você usava, Connor. - comentou.
  O rapaz deu de ombros e riu, olhando para a namorada de relance.
  - Não uso, é que a Lynn acha sexy. - ele sorriu de lado, arrancando risadas do casal.
  - Estamos no mesmo jogo, querido. - Lynn se aproximou e colocou as mãos no ombro dele. - Os dois matando um ao outro do coração.
  - Aí, não. Eu não sou obrigado a ver isso. Vem, , vamos para a mesa. - brincou, levando consigo enquanto escutava os amigos reclamarem em um tom de zoação.
  O casal foi para a área externa da mansão, onde o enorme quintal estava decorado de um jeito rústico com diversas luzes iluminando as várias mesas espalhadas.
   viu sua equipe de longe e guiou até lá, sem tirar a mão de sua cintura. Ela se deixou ser guiada, analisando os rostos desconhecidos das namoradas dos soldados, se lembrava vagamente de alguns deles, mas todos sorriam de forma acolhedora.
  - , conheça os membros da equipe alfa. Tej, Gael e André. - gesticulava para cada um ao dizer os nomes. - E suas respectivas parceiras. Claire, Ravena e Mia.
  - É um prazer finalmente conhecer vocês. - sorriu educada.
  Todos estavam elegantes, porém demonstravam simplicidade, fazendo com que mulher se sentisse em seu habitat natural, não sabia distinguir quem era da alta sociedade e quem era uma reles mortal como ela. Era tranquilizador.
  - finalmente teve a cara de pau de trazer você. - disse André, era o mais divertido da equipe e o mais abusado. Às vezes se esquecia que haviam patentes a serem respeitadas, coisa de moleque como dizia. Mas nada disso tirava o foco e determinação do soldado em estar no front nas missões. Ele era o primeiro na linha de ataque.
  - Até parece que estava com medo. - Gael entrou na brincadeira. Era mais o mais quieto da equipe, bem observador e um perfeito estrategista.
  - Não tirem sarro do , ele vai ruborizar na frente da namorada. - Tej falou antes de apreciar seu vinho na taça. O mais velho da equipe, já tinha muita experiência e não era atoa que seu cargo era nada mais que o snipper.
   apenas rolou os olhos enquanto escutava rir baixinho ao seu lado.
  - Calem a boca. - pediu, puxando a cadeira para a namorada sentar-se como um perfeito cavalheiro.
  - Não ligue para isso, , eles são sempre assim. - Mia disse, acrescentando a mais recém-chegada na conversa.
  - Como um bando de adolescentes. - Claire acrescentou.
   riu.
  - Você se acostuma. - Ravena garantiu.
  - É, e acho que esse é o problema. - ela brincou, fazendo as mulheres rirem em sinal de concordância.
  - Já gostei dela. - Claire falou para .
  - Se bem me lembro, a equipe alfa era um pouco maior. - olhou para o namorado.
  Ela viu, mesmo que rapidamente, um certo receio nos olhos dele. Não sabia se era por conta das memórias que ambos tinham juntos sobre o dia em que conheceu a equipe ou se porque havia alguma coisa em seu trabalho que não podia ser dito.
  Ou talvez os dois.
  - Nem todos puderam vir. - foi apenas o que respondeu.
   queria poder explicar a melhor sobre a equipe, que alguns soldados eram apenas aliados de países amigos, que muitos ali não eram tão próximos quanto aqueles cinco caras, que a equipe era muito maior do que aparentava ou era mostrado. Mas não podia.
  Se soubesse sobre qualquer detalhe, por menor que fosse, ela estaria em um perigo ainda maior do que se encontrava atualmente.
  Quanto menos soubesse, mais seguro seria.

  Algumas horas haviam se passado, tinha sido muito bem acolhida pela equipe e principalmente suas devidas parceiras, criou um laço bem grande em pouco tempo. havia relaxado ao seu lado, também não comentaram mais sobre o trabalho do namorado então imaginava que esse o motivo da tranquilidade de .
  Conseguiu conversar bastante com todos ali presentes, havia gostado de Tej - que descobrira que seu nome verdadeiro era Thiago - e sua esposa Claire, ficou encantada com a forma como estavam em uma sincronia perfeita, como se fossem apenas uma só pessoa. E claro, a história do casal era muito mais emocionante do que imaginava, com um final feliz e dois filhos para carregar o legado.
   estava insegura de conhecer oficialmente os amigos e colegas de trabalho de , não só porque tinha os encontrado em uma situação extremamente delicada há meses, mas porque não se considerava a pessoa mais sociável da cidade. Ainda mais com todas aquelas pessoas da alta sociedade.
  Porém, havia se identificado com Claire justamente por ambas terem raízes humildes. Isso a fez se sentir mais confortável.
  Entretanto, não só e viram esse momento de paz se dissipar rapidamente quando o Major Walker começou a caminhar até a mesa onde estavam.
  Cada casal reagiu de um jeito, todos ali se sentiam intimidados com a presença do superior e isso se tornou palpável a cada passo que o mesmo dava.
   agarrou a coxa de embaixo da mesa enquanto o namorado a abraçava rodeando todo o seu corpo de uma forma protetora e bem visível, ele praticamente rosnou quando o Major parou do outro lado da mesa, mas permanecendo em sua frente. Exatamente no campo de visão do casal que ele queria atormentar.
  - Boa noite a todos. - falou alto para todos mas seus olhos não abandonaram um segundo sequer.
  E notou.
  Tej fez menção de se levantar para bater continência ao Major e sendo seguido pelos outros companheiros, exceto que olhava para o homem de pé como se pudesse socá-lo. Todavia, todos foram parados pelo Major.
  - Hoje não precisa dessa formalidade, não estamos no QG. - respondeu sorrindo de lado.
   olhava para todos os lados da festa menos para o Major Walker e pelo que pôde notar, nenhuma das novas amigas gostavam de Walker também.
  Sentia que o Major a encarava e não suportava aquilo, o olhar dele sobre si a arrepiava de um jeito ruim, tinha uma péssima sensação toda vez que isso acontecia.
  - Bom, aproveitem a festa. - sem dizer nada mais e mantendo os olhos fixos em , Major Walker saiu levando consigo a nuvem negra que havia trazido.
   respirou fundo e só olhou para quando o Major já estava bem longe, ela encontrou apenas pura e simples raiva. Se os olhos do namorado pudessem mudar de cor, com certeza estaria vermelho sangue.
  Ele bufou antes de retribuir o olhar para , tentou se acalmar, mas sentia seu sangue pegar fogo de tanto ódio.
  Major Walker havia feito aquele teatrinho de propósito, olhou para daquela forma para provocá-lo porque sabia que perderia o controle.
  Detestava aquilo, o jeito como ele encarava a namorada como se… a desejasse.
  Não, ele realmente a queria e fazia questão de mostrar a .
  E agora a guerra entre os dois se tornara mais pessoal do que nunca.

Capítulo 05 - In the middle of the war

   tirou os saltos altos no mesmo instante que pisou na sala de casa, deixando a porta aberta para que também entrasse, ele passaria o final de semana na casa da namorada já que o encanamento de seu apartamento precisou ser trocado.
  Bom, pelo menos foi isso o que disse para ela.
   trancou a porta da casa e guiou o namorado até seu quarto, assim que chegaram no cômodo começaram a tirar o excesso de roupa formal. havia trazido uma mochila para passar os dias ali, não que fosse necessário já que algumas de suas peças de roupa já estavam no guarda roupa da namorada.
   começou a tirar a jaqueta e os brincos enquanto achava um de seus pijamas mais confortáveis, estava indo para o banheiro se trocar quando fora interrompida por .
  - Nós já não passamos dessa fase de ter vergonha de se trocar na frente do outro? - sorriu de lado vendo a namorada o olhar confusa e tímida.
  - É só pra não despertar nenhuma - viu tirar a camiseta de forma tão rápida que a fez perder o raciocínio por um tempo. - vontade.
  Ele levantou as sobrancelhas e ela entendeu perfeitamente o que queria dizer.
  - Eu sei, vontade a gente tem sempre, mas estou exausta hoje.
   continuou seu caminho até o banheiro não apenas para se trocar, mas também para tirar a maquiagem e escovar os dentes, quando voltou depositava sua arma na mesinha ao lado da cama dela.
  - Precisa mesmo deixar isso aí? - perguntou, vendo-o caminhar em sua direção.
  - Você sabe a resposta. - ele beijou sua testa e caminhou para o banheiro.
   não gostava daquela mania de estar armado até mesmo dormindo, ou mantinha sua pistola do seu lado ou uma faca debaixo do colchão, entendia que era precaução e costume, mas por muitas vezes se sentia apavorada só de pensar em ele ser obrigado a usar de novo na sua frente. Não porque tinha medo dele, muito pelo contrário, mas sim de pensar nas ocasiões que podiam fazê-lo querer manuseá-la.
  Quando voltou, já com os dentes também escovados, apagou a luz do quarto e se deitou junto a . A cama era menor do que de costume do casal, porém nada disso era ruim, na verdade até gostavam.
  Podiam ficar ainda mais juntos, se sentia protegida toda vez que dormia abraçada com , e ele mais seguro de que ela permanecia ali.
   estava de costas para o namorado enquanto ele a enrolava em seus braços de uma forma protetora e gostosa.
  - Gostei de ter conhecido seus amigos.
   sorriu.
  - E eles gostaram de você também, principalmente as meninas.
  Ela riu, tinha se identificado bastante com elas.
  - Foi uma festa muito bonita, né? - perguntou, já sentindo os olhos pesarem de sono.
  - Foi sim, Lynn sabe como causar boa impressão. - respondeu, dando um beijo de leve na orelha dela.
  O casal permaneceu em silêncio, apreciando seus corpos juntos, um momento agradável de paz que levaram-nos a adormecer em questão de minutos.
  Até os sonhos de se inundarem de escuridão e medo.

  O rapaz estava acorrentado nos calcanhares e punhos em um cômodo sujo e pouco iluminado, sentia o rosto latejar e uma certa dormência em seus membros superiores. Piscava de vez em quando, sem saber se acordava segundos ou horas depois. Tinha perdido a noção do tempo e espaço.
  Fechou os olhos novamente, tentando ignorar a garganta seca e o corte que ardia em suas costelas, percebeu que uma porta se abriu e o lugar ficou repentinamente mais claro.
  Quando voltou seu olhar para frente, precisou forçar as pálpebras já cansadas que doíam com a luz. Viu duas figuras entrarem no cômodo.
  Uma era mais alta que arrastava a outra de um jeito grosseiro.
  A porta fechou e a escuridão voltou a reinar, porém dessa vez o homem já estava acostumado com a mesma, mesmo com dificuldade de enxergar conseguiu aos poucos identificar quem tinha entrado.
  O homem mau e alto sorria de forma psicótica, carregava uma arma que era apontada para a testa de uma mulher.
  .
   sentiu todo o corpo tremer de medo e a adrenalina correr por suas veias, uma força sobrenatural o fez esquecer suas dores físicas e suas necessidades básicas. Nem sequer lembrava das correntes que o seguravam ali parado, porque era apenas por causa delas que não tinha avançado no homem alto e feito toda a munição da pistola com silenciador perfurar o crânio do desgraçado.
  - Eu avisei que te machucaria de uma forma que nunca tinha imaginado. - a voz firme ecoou por todo o cômodo vazio logo depois uma risada maquiavélica. - Todos os meus sonhos se tornarão seus pesadelos.
   se concentrou em , que não falava nada, apenas chorava e balançava a cabeça.
  Ela não estava olhando pra ele.
  Por que ela não olhava pra ele?
  Queria dizer que os tiraria dali, que a protegeria. Tudo ficaria bem.
  - Por favor… - ela suplicou com a voz tão fraca que sentiu como se o corte em sua costela tivesse aberto ainda mais.
  O homem alto riu outra vez, destravando a arma.
  O coração de acelerou.
  Só que ele não conseguia falar nada, queria gritar, esmurrar e matar aquele verme.
  Mas estava paralisado não só pelas correntes.
  - Socorro! - um grito esganiçado de .
  O coração de acelerou mais.
  Um choro abafado atrás de , não era de e muito menos do homem.
  - Adeus.
  O coração de parou.
  Um tiro e fechou os olhos com a luz branca ardendo seus olhos, a única coisa que escutou foi um último chamado.
  - Papai!

  - Amor!
   acordou repentinamente, enxergando a namorada o olhar assustada enquanto mantinha a palma da mão no coração dele.
  Tão acelerado como no sonho.
  Ele respirou fundo, perdido completamente e sem o que fazer, puxou em um abraço forte. Fechou os olhos e sentiu o perfume dos cabelos dela invadirem seu nariz.
  Tinha sido um sonho. Ela estava ali.
  - Você estava gemendo e chamando meu nome. - escutou falar baixo, a voz abafada.
  - Pesadelo. - foi tudo o que disse.
  A namorada, sabendo como ele se sentia, depositou um beijo no peito desnudo do namorado e se afastou o suficiente para enxergar seu rosto, sem desfazer o abraço.
  Ela encarou bem o namorado, passou o polegar embaixo do olho dele pensando ser suor, mas não era.
  Não podia...
  - Você chorou…? - não sabia se tinha perguntado ou avisado.
  Foi? Ele nem tinha percebido.
  Na verdade, pesadelos eram constantes, mas chorar enquanto os tinha era difícil, nem se lembrava quando foi a última vez.
  - Foi assustador.
   se impressionou. O namorado não falava muito sobre seus medos, sabia que essa era uma barreira que ela dificilmente conseguiria quebrar, mas vê-lo chorar e admitir que se apavorou? Nunca tinha imaginado.
  - Está tudo bem agora. Estou aqui. - ela se aproximou para beijar a ponta do nariz dele.
  - É o que me acalma.

[...]

  Já era cedo quando levantou, não podia dizer que tinha dormido, pois mal conseguiu pregar os olhos. Sequer conseguia esquecer o pesadelo que tivera, tinha sido mais do que real, por isso estava em modo de alerta. Se sentia em constante ameaça e sua única preocupação era proteger .
  Respirou fundo ao ver que ela dormia tão serenamente, se aproximou da cama e pegou a arma da mesinha, guardando-a no cós da calça. Depositou um beijo na testa da namorada e saiu do quarto depois de pegar sua carteira, seu celular, a chave da casa de e a do carro.
  Trancou a casa enquanto observava o movimento do quarteirão, repetiu o processo até chegar em seu carro. Desbloqueou o celular e visualizou a mensagem que havia acabado de receber: “Encomenda pronta para retirada”.
  Sentiu a ansiedade tomar conta do corpo e sua mente viajar para o momento em que tudo havia mudado.

Há 3 anos e 4 meses. Fazenda dos Alcântara.
11:25 AM.

  Era verão.
   estava na festa de aniversário do irmão de Lynn, que duraria praticamente o dia todo. Afinal, uma festa dos Alcântara não era qualquer coisa. Mesmo que Matheus, o irmão mais novo da amiga, estivesse completando apenas 5 anos era de se esperar que toda aquela comemoração saísse nas revistas da elite.
  Desde o buffet até os brinquedos contratados, tudo tinha seu requinte.
   decidiu ir com um vestido florido sem mangas que ia até o meio da canela em tons das cores do outono, um cinto marrom fino, um colar longo e um salto alto com tiras em um tom nude bem claro. Passou uma maquiagem bem leve e deixou os longos cabelos soltos.
  Havia pegado uma carona com Lynn, já que tinha ajudado a amiga com algumas coisas da festa, e se arrumado na fazenda dos avós dela. O estilo neoclássico da casa com dois andares e características europeias a fazia se sentir longe de todos os problemas e preocupações, era como se estivesse em uma outra época. Fantasiava como uma pré adolescente.
  A parte de trás da fazenda tinha sido decorada de forma rústica, com mesas de madeira extensas e bancos acompanhado e as flores em tons claros. A mesa do bolo era mais decorada, até porque uma festa de criança sem um tema não era uma festa. O pequeno Matheus, assim como todo menino de sua idade, era obcecado por super-heróis.
   estava começando a ficar cansada de estar sentada em uma das mesas esperando a amiga voltar, decidiu então ir ao banheiro e dar uma volta pela fazenda, e teria feito isso se não tivesse esbarrado em alguém enquanto levantava da cadeira. Fechou os olhos por segundos se xingando mentalmente por ser tão desastrada e quando virou para pedir desculpas, ficou sem fala.
  Talvez porque o homem que esbarrou tivesse apoiado a mão em sua cintura ou era apenas porque o homem em questão era ninguém menos que , engoliu seco ao perceber o quão perto ele estava. Não tinham conversado sobre como agiriam quando estivessem em lugares como aquele, cheio de pessoas que queriam evitar e que não entendiam o que acontecia entre eles.
  Tudo bem que não tinham necessariamente combinado em esconder o relacionamento, mas não era como se fossem aparecer de mãos dadas publicamente.
  Porém, ficava difícil para agir normalmente quando ele estava ali tão perto e sorrindo daquele jeito.
  - . - a mão dele escorregou pela cintura dela até o toque sumir.
  - Oi. - ela sorriu, colocando o cabelo atrás da orelha.
  - O que você faz aqui? - perguntou curioso.
  - O Matheus me convidou, ele gosta muito de mim. - gabou-se em tom de brincadeira. - E você?
  - Esqueceu que eu sou amigo da família?
  - Ah é verdade. - ela sorriu amarelo.
  O casal se encarou profundamente em completo silêncio, ainda não sabiam como agir quando estavam em público. Não tinham conversado sobre esse tópico em específico, na verdade sequer tinham estado publicamente juntos.
   respirou fundo e deu um passo à frente.
  - , eu…
  - Tia!
  Ambos se afastaram ao escutar a voz do pequeno Matheus.
virou sorrindo enquanto se assustava em ver uma galera acompanhando a criança.
  Ok, não era bem uma galera.
  Apenas Lynn e o namorado junto com um bando de fotógrafos.
  - Oi, meu pequeno. - agachou para poder abraçar Matheus, que se jogou em seus braços. Ela o ajeitou melhor em seu colo e levantou. - Feliz aniversário! Sabia que você tá crescendo muito rápido?
  - Eu tô chegando no seu tamanho!
  - Tá sim. - ela beijou a bochecha dele.
  Matheus percebeu a presença de e estendeu um braço para poder abraçá-lo, o movimento fez com que desse um passo para trás e batesse as costas contra o peitoral de .
  Ela tentou esconder o sorriso, mas era praticamente impossível não reagir quando estava tocando-o ainda que sem querer, já pôde sorrir enquanto era agarrado pela criança. Todos pensariam que era apenas pela demonstração de carinho de Matheus, porém não era o único motivo.
  - Você também veio, tio!
  - Parabéns, moleque! - retribuiu o abraço como conseguia. - Logo eu te levo pro campo de futebol pra te encher de barro, do jeito que sua irmã adora.
  - Você nem se atreva, . - Lynn alertou.    rolou o olhos teatralmente, acabaria com aquela mania dos Alcântara de ensinar o menino a jogar golf ao invés de futebol só porque era mais “fino”.
  - Vocês podiam tirar uma foto com o Matheus, né? - Connor falou, chamando a atenção dos dois.
   e se olharam rapidamente, sorrindo cúmplices e concordaram.
  O fotógrafo aproveitou que fazia cócegas em Matheus enquanto gargalhava para tirar várias fotos, depois de uma quase sessão de fotos o aniversariante correu para ver os amiguinhos que chegavam enquanto os mais velhos se olhavam.
   viu a melhor amiga sorrir como se entendesse tudo e ela abaixou a cabeça tímida.
  - , será que eu posso roubar a minha amiga um pouco? - Lynn segurou a mão da amiga. - Nós temos que trocar de roupa para jogarmos o futebol de sabão.
  - Eu já te disse que sou péssima em esportes. - lembrou.
  - Lynn, você vai jogar futebol? - riu.
  Ela parou e colocou as mãos na cintura.
  - É pelo meu irmão. - levantou a sobrancelha e Lynn sabia exatamente o que ele estava questionando. - Tá achando que eu tenho medo de sabão?
  - Amor… - Connor tentou falar alguma coisa, mas foi interrompido pela namorada.
  - Vamos apostar então, meninas contra meninos. Quem perder paga um jantar. - Lynn sugeriu.
  - Feito. - concordou.
  Lynn saiu com em direção a casa dos avós.    não falou nada, sabia como a amiga era teimosa e muito orgulhosa, mesmo que estivesse certo ela jamais iria admitir. As duas se trocaram rapidamente no quarto de hóspedes que ficaria naquele final de semana, ela podia ver a determinação estampada nos olhos da amiga.
  Quando voltaram para a festa o brinquedo já estava montado e os técnicos terminavam de prepará-lo para a diversão, todos os adultos pareciam mais empolgados do que as crianças com a estrutura montada, os olhos chegavam a brilhar.
   sentiu o rosto queimar quando viu que tirou a camiseta enquanto se preparava para subir, ela mordeu o lábio para não deixar que o sorriso de felicidade aparecesse já ele sorriu de lado ao ver que ela estava vestindo uma camiseta larga do Star Wars e um shortinho preto curto.
  Sem demora, os casais subiram e combinaram que os times não teriam um goleiro para a brincadeira ficar mais divertida. Feito isso, o jogo começou.
  Os meninos eram mais habilidosos, é verdade, mas as meninas marcavam de todos os jeitos possíveis que ficava difícil de fazer o primeiro gol. Por um tempo eles seguiram desse jeito, mas depois tudo passou a ser mais divertido e o sabão estava cumprindo a sua função de derrubá-los, foi então que eles decidiram brincar sujo. Connor abraçava a namorada e caía com ela enquanto segurava pela cintura e a levantava, virando-a do lado oposto da bola.
  Quando eles marcaram o gol comemoraram com as pessoas que assistiam e as meninas não estavam propriamente bravas, elas gargalhavam, mas tinham uma estratégia para empatar.
  Lynn pulou nas costas do namorado e tapou os olhos dele com as mãos para que pudesse tirar a vantagem de chutar a bola por debaixo das pernas de , ela chutou um pouco torto, mas conseguiu o gol. Novamente a plateia vibrou.
  Agora para desempatar, Lynn marcava de um jeito que estava fazendo o rapaz rir e se preparava para chutar quando Connor deu um carrinho sem muita força nela, a bola voou para fora e caiu rindo, mas parou quando sentiu o olho arder quando o sabão entrou em contato.
  - Ai caramba! - fechou o olho e automaticamente levou a mão até o local.
  - ? - virou para Connor que estava caído do seu lado.
  - Tá tudo bem? - escutou Lynn falar mais atrás.
  - Caiu sabão no meu olho. - reclamou e viu os três ficarem preocupados.
   forçou para abrir o olho, mas além de coçar demais estava tão irritado que não conseguia mantê-lo aberto.
  Ela sentiu uma mão segurar a sua livre e outra encostar em sua cintura, olhou para o lado e estava lá tentando ajudá-la a levantar.
  - Desculpa, , foi sem querer! - Connor se desculpou e ela sorriu para garantir que estava tudo bem.
  - Não foi nada demais, sério. - garantiu.
  - Precisa jogar água com abundância. - Lynn lembrou
  - Eu te ajudo. - se prontificou e os dois saíram juntos do brinquedo.
  Ele foi cuidadoso com ela o caminho todo e nem se importava se as pessoas estavam comentando, a única coisa que queria era poder ajudá-la o mais rápido possível. ajudou-a a encontrar o primeiro banheiro que acharam e não demorou muito para colocar a cara debaixo da torneira e molhar o olho.
  - Porcaria! - reclamou quando o olho ardeu mais ainda e voltou a fechar o olho.
   chegou mais perto e colocou o cabelo dela para trás enquanto fazia uma conchinha com a mão e ajudava a levar até o olho de , ficaram assim por poucos minutos.
  - Melhorou? - perguntou visivelmente preocupado.
   tirou o rosto da água e ele estendeu uma toalha para ela se secar.
  - Sim, só tá coçando. - ele percebeu que ela estava esfregando o olho com a toalha e segurou a mão dela, obrigando-a a parar.
  - Não esfrega que piora, eu acho que vai ter que fazer uma compressa com água gelada.
  Ele afastou a toalha e segurou o rosto de com as duas mãos para enxergar melhor o olho vermelho dela, o braço de caiu do lado do corpo devagar ao perceber o quão perto ele estava.
  - Não precisa, eu não vou ficar cega. - brincou, piscando várias vezes para afastar aquela sensação de coceira.
  “Eu ainda consigo ver o quão bonito você é”, pensou.
   notou que estava exatamente do jeito que queria estar com desde o momento em que a viu na festa, estavam sozinhos e não precisavam esconder o que sentiam com medo de que alguém notasse.
  Ele afagou a bochecha dela com o dedão e sorriu aliviado.
  - Que bom, porque o seu tombo foi muito engraçado. - riu e ela fez o mesmo.
  - Foi jogo sujo, eu ia desempatar aquela bagaça e agora eu estou aqui com o olho inchado, vermelho, coçando e com o cabelo duro cheio de sabão.
  - Você continua linda. - garantiu, fazendo-a sorrir tímida.
   abaixou a cabeça com vergonha e sem saber o que dizer, quando respirou fundo e voltou a olhar , ele a encarava ternamente.
  - Eu vou ficar com vergonha desse jeito. - sentiu as famosas borboletas no estômago subindo por todo o peito.
  Ele não disse nada, apenas aproximou o corpo do dela ainda encarando-a, não sabia o que estava acontecendo, mas o elogio era sincero.
realmente continuava linda, mais do que qualquer garota que ele tivesse encontrado em sua vida.
  E então, de repente ele sentiu o suficiente.
  Estando ali no banheiro com ela da forma mais natural possível e bagunçada também, soube exatamente o que estava acontecendo.
  Ele a amava.
  Agora conseguia enxergar seus sentimentos e admitir para si mesmo o que provavelmente vinha tentando esconder há um tempo.
  Ele riu, achando graça do fato de não ter se tocado antes, o acompanhou ainda sem saber o motivo.
  - O que foi? - estava curiosa, ele parecia tão feliz.
   negou com a cabeça, sem conseguir externar aquilo e aproximou o rosto do dela para que seus lábios se encontrassem de uma forma doce. Ela fechou os olhos com o toque e apoiou as mãos no ombro dele.
   queria fazer mais do que dizer que a amava, queria mostrar a admiração e o imenso amor que estava sentindo naquele momento, achava que não iria conseguir descrever com palavras então talvez pudesse demonstrar.
  Ele se afastou e olhou bem de perto, vendo-a sorrir sem graça, observou cada centímetro do rosto dela com carinho e depois a abraçou repentinamente, enterrando o rosto na nuca dela.
   retribuiu, é claro, e sorriu largamente sem que ele visse. esperava que ela tivesse entendido o recado, mas ele não tinha certeza se foi muito claro.
  Mal sabia ele que tinha entendido tudo.

[...]

  Mais tarde naquele dia, depois da festa de aniversário de Matheus, apenas a família e os amigos mais íntimos ficaram na fazenda para aproveitar o restante do final de semana. tomou um banho quente e não deixava de sorrir que nem uma boba enquanto se lembrava do tempo que passou com e todas as coisas que ele disse, após o momento íntimo no banheiro, ele parecia menos inibido durante a festa. Não saía do lado dela, puxava assunto, sorria e a olhava de um jeito que fazia suas pernas tremerem, parecia menos preocupado com o que as pessoas achariam.
  Pelo menos foi como ela interpretou.
  Lynn havia convidado a amiga para o “luau” que fariam depois que as crianças dormissem, aquela noite era propícia a isso. A temperatura havia caído consideravelmente, o pai de Lynn já havia feito a fogueira e o chocolate quente seria servido em breve.
   colocou uma blusa preta básica, jeans escuros e um tênis preto, prendeu o cabelo com um rabo de cavalo e saiu para os fundos da casa.
  Encontrou a amiga e o namorado sentados juntos em um dos sofás da área externa, sentou no outro e olhou discretamente para os lados em busca de .
  - Ele já tá vindo. - Lynn avisou, rindo da amiga.
  - Eu nem falei nada. - Respondeu, dando de ombros.
  Não era para ficar tão na cara, ela tinha que disfarçar um pouco.
  Viu a melhor amiga negar com a cabeça e não falou mais nada pois chegava com um cajon na mão e um vilão nas costas.
  - Um luau não é um luau sem música. - falou enquanto entregava o cajon para Connor.
   sentou ao lado de , porém um pouco mais afastado do que queria já que iria tocar o violão.
  - Tem em mente alguma? - Connor perguntou.
   deu de ombros.
  - As meninas têm alguma sugestão? - olhou primeiro para Lynn que começou a pensar e depois para , que sorriu para ele sem parecer muito óbvia.
  - Eu amo Lifehouse então qualquer uma que vocês tocarem já está ótimo.
  - Sim, por favor. Toquem Lifehouse! - Lynn concordou.
  - Canta essa então, Lynn. - começou a tocar os primeiros acordes de Easier to be que reconheceu rapidamente, Connor o acompanhou com o cajon.
  Lynn tinha uma voz afinada e tudo pareceu fluir quando ela começou a cantar, apenas sorriu, pois aquela era uma de suas músicas favoritas da banda porém não cantou em voz alta como a melhor amiga.
  Era tímida demais para fazer aquilo na frente de , já que aquela música era perfeita para o momento em que os dois viviam.
  Ela ficou mais sem graça ainda quando notou que tocava sem tirar os olhos dela, em um certo momento não conseguiu desviar.
  Ele queria poder expressar o porquê de ter escolhido justo aquela música que tanto descrevia o que ele sentia quando estava perto dela. Era uma música pessoal e ele queria que pudesse entender que se tratava dela.
  Que ela tornava mais fácil ser quem realmente era quando estava com ela e era exatamente como cada trecho era cantado, eles não precisavam de palavras, conversavam com os olhos em um silêncio que os levava para um lugar só deles, que ninguém entenderia ou conseguiria entrar. Agora tinham se tornado a mesma frequência, a mesma batida de coração.

  Já era madrugada quando os dois casais decidiram acabar com o luau, Lynn estava dormindo no colo do namorado e Connor como o cavalheiro que era fez questão de carregá-la até a cama, deixando a manta fina que dividiam com os dois que decidiram ficar apreciando a companhia um do outro.
  Quando Connor já estava distante, se aproximou mais de para compartilharem juntos a manta enquanto sorria, ela se ajeitou melhor no sofá e sentiu o coração bater mais forte quando os braços se tocaram assim que ele deitou ao seu lado.
  Se aquilo fosse um filme, com certeza a música mais clichê e romântica estaria tocando naquele momento.
  - Você está com cara de quem está com sono. - falou e viu sorrir cansada, ainda sem olhar para ele.
  Com a lua cheia e brilhante, o céu mais estrelado do que costumava estar na cidade grande e a fogueira perto dos dois, não queria ceder ao sono e perder a oportunidade de viver aquele cenário com ele.
  - Eu não quero que essa noite acabe. - confessou, ela tomou coragem e o encarou.    ficou feliz em ouvir aquilo pois ele sentia o mesmo.
  - Eu também não.
  Ele sentiu a necessidade de falar a tempestade que vivia por dentro, todos os pensamentos que o atormentavam mas não achou que aquele fosse o melhor momento. Uma parte de si tinha medo que não entendesse sua explicação e ficasse chateada com a situação em que se encontrava.
  Como explicar a ela que a alta sociedade o via como um produto a ser negociado sem parecer um babaca? Que já tinha tentado se impor mas ainda assim era um covarde pois nunca tinha dito ‘não’ às vontades dos pais?
  A última coisa que queria ver na vida era ficar magoada por causa disso.
  Ele então, para afastar todo o medo, colocou a mão na bochecha dela.
  - Eu sei que talvez esteja pedindo muito, mas nós podemos esquecer o resto do mundo neste final de semana e sermos apenas… nós? - pediu. Precisava viver em seu próprio mundo junto com antes de voltar à vida real.
   sorriu largamente, era tudo o que mais queria.
  - Eu gosto dessa visão.
   respirou mais aliviado e roubou um beijo que acabou virando dois, três, quatro e muitos outros.
  Quando eles se afastaram, por um impulso quis dizer exatamente o que sentia.
  - , eu… - seu corpo travou, queria gritar, mas tinha alguma coisa impedindo que as simples três palavras saíssem.
  Como sempre, era um covarde.
  Mas sabia, talvez ela o conhecesse melhor do que imaginava, então colocou uma das mãos no peito dele bem em cima de seu coração e sorriu doce.
  - Eu sei, acredite. - falou olhando no fundo dos olhos dele.
   sentiu os ombros cederem e abraçou forte, enquanto ela apoiava a cabeça em seu pescoço e retribuindo com o mesmo calor.
  Não era o bastante que soubesse, ele precisava falar. Mas seria o suficiente por agora, acharia um jeito de dizer o quanto a amava com a coragem certa para admitir que não podia mais viver sem ela.

Atualmente.
Casa dos . 9:45 AM

   acordou subitamente ao ouvir a porta do andar de baixo fechando e não sentiu o calor de , foi isso que a fez levantar da cama e ir até a janela.
  O carro do namorado e nem ele estavam ali então ficou em alerta, vasculhou o quarto rapidamente e pegou o abajur ao lado da cama, usaria como arma se precisasse se defender.
  Sentiu o coração na boca enquanto ouvia passos subindo as escadas e segurou com mais força o objeto, pronta para arremessá-lo. Porém não foi necessário.
   entrou no quarto com uma bandeja de café da manhã, procurando no cômodo e a encontrou no chão ao lado da cama.
  - Bom d… o que está fazendo aí? - riu quando se aproximou e colocou a bandeja em cima da cama. – Por que você tá segurando o abajur com tanta força?
   olhou para a própria mão e riu sem graça, levantando do chão e sentando na cama na frente do namorado.
  - Eu ouvi um barulho e não vi o seu carro então… - ela deu de ombros e tirou o abajur da mão dela, devolvendo para o seu lugar de origem.
  - Decidiu me atacar com o abajur há 4 metros de distância. - ele brincou assim que voltou para a cama.
  - Agora meu plano pareceu idiota. - rolou os olhos e só então reparou melhor na bandeja. - Onde estava?
  - Preparando seu café, bom dia. - ele se aproximou e roubou um selinho dela.    achou o gesto muito adorável.
  - Eu ouvi a porta lá embaixo, você saiu? - pegou a caneca e bebeu um pouco de leite.
  - Fui buscar meu uniforme.
  - Emergência? - perguntou receosa. Sabia que poderia ser chamado a qualquer hora mas torcia para que não, aquele era o final de semana deles.
  - Ainda não, mas nunca se sabe. - a resposta era curta e não estendeu o assunto.
  Ela continuou comendo enquanto a encarava, às vezes beliscava algumas coisas e insistia para ele comer com ela, mas ele recusava.
  Estava tão ansioso que não tinha fome, comia apenas para tentar espantar o nervoso.
  - Obrigada pelo café, estava uma delícia. - levantou e deu um beijo em , pegou a bandeja e estava prestes a sair do quarto quando o ouviu dizer:
  - Não seria bom se todos os dias fossem assim?
  Ela parou e voltou a olhá-lo com a testa franzida.
  - Como?
   saiu da cama e fui até , sentindo o coração acelerar ainda mais.
  - Todos os dias eu te trazendo café na cama, você acordando nos meus braços, nós dois conversando sobre detalhes bobos.
   acariciou o rosto de que estava com a boca aberta sem conseguir responder. Tinha sido pega desprevenida.
  - O que você está querendo dizer? - perguntou, confusa.
  - Vem cá. - ele retirou a bandeja da mão de , colocou em cima da cama e puxou a namorada pela mão até os dois estarem sentados.
   sentia o coração bater tão rápido que a ponta de seus dedos chegavam a latejar.
  - Por que você não vem morar comigo? - falou de uma vez, antes que perdesse a coragem.
  Esperava que a amada fosse pular de alegria e embora ela estivesse feliz, demonstrava estar mais desapontada.
  - Nossa, eu não pensei que você fosse falar isso. - Dessa vez, foi quem olhou confuso para ela. - Amor, morar com você é o que eu mais quero só que…
  - Só que…?
  - Eu estava esperando um outro pedido, pra ser sincera. - deu de ombros e vendo que ele ainda não entendia, segurou uma das mãos dele. - Eu não quero apenas morar com você. Entende?
   tinha entendido perfeitamente, estavam de volta falando sobre a palavrinha mágica que até então nenhum dos dois tinha dito.
  Casamento.
  - Eu também não quero te pressionar a fazer algo que não é da sua vontade.
  Ele sorriu e levou a mão da amada que estava entrelaçada com a dele até os lábios e depositou um beijo suave de conforto.
  - Nunca mais pense que eu não quero me casar com você, é a coisa que eu mais quero na vida. - até tentou conter o sorriso largo, mas foi impossível e então esmagou o namorado em um abraço apertado.
  Um filme passou na cabeça de e um aperto no peito, tinha pensado tanto no rumo que sua vida estava tomando que a única pensava era que deveria fazer feliz enquanto estivesse por perto.
  Mas também sentia um pouco de medo, pois já que teria que fazer tudo conforme manda a tradição, teria que pedir a permissão do sogro e do cunhado. E isso provavelmente era muito mais assustador do que suas missões no extremo da fronteira.

[...]

   já tinha perdido as contas de quantas vezes tinha olhado para o relógio em seu punho, o seu expediente tinha terminado há pelo menos uma hora atrás e todo o prédio já tinha ido embora, exceto pelo chefe e o Major Walker que estavam em uma reunião desde a hora do almoço. Ela precisava da assinatura em um simples papel e não podia entrar na sala para deixar com o chefe, era o único motivo de não ter ido para casa ainda, já que todo o seu trabalho estava adiantado.
  Quando pensou que teria que pedir seu jantar ali mesmo, o chefe finalmente a chamou. levantou rapidamente da cadeira, sentindo dor nas costas de tanto ficar sentada, e foi até lá.
  - Precisa de mim para alguma coisa? - ele perguntou e deixou o papel em cima da mesa, sendo observada pelo Major Walker.
  - Sim, senhor, o jurídico precisa que assine isso ainda hoje e amanhã bem cedo eles virão buscar.
  - Certo. - o chefe voltou a atenção para o Major e ela permaneceu parada, esperando alguma ordem. - Bom, ficamos assim então, Major. Acredito que é o suficiente por hoje. - estendeu a mão e o mais novo apertou com força.
  - Perfeito, Secretário. Nos vemos em breve.
  - Até, Major. - o chefe se despediu e olhou para . - Pode ir também, . Boa noite.
  - Boa noite, senhor. - respondeu e saiu na frente, porém sentiu o Major logo atrás dela, mesmo que a sua estratégia de colocar a bolsa na ponta da mesa para que pudesse apanhá-la enquanto caminhava e assim ir ao elevador o mais rápido possível, parece que Walker tinha a mesma pressa que ela.
  Ele a acompanhou até a saída do prédio, exatamente do jeito que ela não queria, seu plano era ir até o metrô sozinha e muito rápido.
   debateu consigo mesma se deveria ser educada com o Major e desejou boa noite que mais saiu como um sussurro e foi na direção contrária dele, não queria escutar se ele tinha respondido e estava quase comemorando por conseguir ir embora até o Major chamá-la.
  Ela parou na calçada e virou, vendo-o caminhar até ela.
  - Eu queria te dizer que fico muito feliz em vê-la trabalhando.
   sorriu amarelo.
  - Obrigada, Major. - apertou mais a bolsa, pronta para virar e sair dali.
  - Já era hora do Secretário ter alguém competente. - ele sorriu, mas permaneceu séria.
  Não era apenas o que o Major falou, mas também a forma, pelo tanto que trabalhava imaginava o quanto os ex-funcionários tinham ralado e não achava justo falar deles daquele jeito.
  - Se for só isso, Major, eu tenho que ir antes que fique tarde. - mais ainda, pensou.
  Deu as costas mas sentiu a mão enorme dele segurar seu braço, mesmo estando com um vestido de manga longa conseguia sentir como era fria e aquilo fez um arrepio estranho percorrer sua espinha. Não era nem de longe o tipo de arrepio que causava, aliás muito pelo contrário, era uma sensação muito esquisita.
  - , espera… - Walker parecia não saber o que dizer já que olhava para todos os lados.
  Incomodada com o aperto, ela afastou o braço em um mudo sinal para que ele soltasse e funcionou.
  Esperou que ele dissesse alguma coisa e um relógio começou a tocar em sua cabeça.
  Tic.
  - Eu queria te pedir desculpas.
  - Pelo o quê? - ela franziu a testa.
  - Pelo meu comportamento nos últimos tempos, eu sei que você não fica muito confortável quando estou no mesmo cômodo. - ele riu triste. - Mas eu já aceitei que não é a mim que você ama e eu…
   quis que um buraco abrisse naquele momento, achava impossível o convívio com Walker ficar mais constrangedor, mas aparentemente podia piorar. Aquele era o último assunto que pretendia conversar com ele.
  Tac.
  - Major, por favor. - interrompeu, passando a mão no rosto sem se importar com a maquiagem. - Isso é uma história antiga e encerrada. Não tem porque falarmos disso agora.
  Tic.
  - , você mal consegue me olhar. Nós precisamos resolver isso já que vamos continuar nos esbarrando.
  Ela ficou em silêncio sem conseguir achar as palavras certas para dizer que não era por causa do quase relacionamento deles que não conseguia encara-lo e sim pelo modo como ele a olhava, como se fosse uma presa.
  Tic-tac.
  E não tinha gostado da forma como disse que continuariam se encontrando, soou como se aquilo fosse de propósito.
  Tic-tac.
   o olhou, dessa vez sem desviar, para que pudesse ser direta.
  - Major, eu amo o . - Walker não demonstrou nenhum sentimento, nenhuma emoção. - E aqui, nós precisamos apenas manter uma relação profissional com muito respeito. - ela percebeu quando ele juntou as sobrancelhas e olhou para o lado. - Se nós simplesmente esquecermos o que aconteceu, acho que podemos muito bem seguirmos em frente e…
  Walker fez sinal de silêncio e o olhou ofendida. Ele estava mandando ela calar a boca?
  - Você está ouvindo isso? - perguntou e ela ficou sem entender.
  - O quê?
  O Major não respondeu, olhou em volta e de repente se voltou para o carro estacionado na calçada do lado deles, ele estava ali quando chegou cedo e ainda permanecia. Achou estranho, se aproximou e tentou enxergar através do vidro preto porém não conseguiu, o insulfilm era escuro demais e imaginava que fosse de propósito. Encostou então o ouvido para escutar se o barulho estava vindo dali.
   não teve tempo de entender o que estava acontecendo, no mesmo instante que levantava a mão para perguntar o Major assumiu uma postura rígida e se aproximou em passos largos, segurando seu braço e a puxando consigo.
  - Precisamos nos afastar. - agora a voz dele era fria e séria.
   mal conseguiu balbuciar alguma coisa enquanto ele a arrastava para longe rapidamente, foi preciso muito esforço para não tropeçar no salto que usava já que ele praticamente corria com ela.
  - Major, o que foi? - perguntou ofegante.
  - Eu acho que tem uma… - os segundos seguintes foram ensurdecedores.
  De repente, o carro explodiu. O impacto fez com que Walker se jogasse em cima de em posição de proteção, segurou a cabeça dela com as duas mãos enquanto projetava o corpo para baixo, os dois caíram e apenas tapou os ouvidos com as mãos quando escutou o estrondo. Fechou os olhos quando a claridade queimou seus olhos e seu coração foi na boca quando sentiu o calor do fogo tão perto.
  Quando Walker pôde ter certeza que não haviam sido atingidos, se afastou o suficiente para enxergá-la melhor. estava tão chocada que sequer sentiu as lágrimas escorrerem pelos olhos arregalados, assim que o Major saiu do seu campo de visão conseguiu ver o que havia restado do carro ainda em chamas.
  - Você está bem? - ele perguntou, sua voz parecia estranhamente normal para quem tinha acabado de ver um carro explodir do nada.
   teria rido do pensamento se fosse outra situação, claro que ele estava normal diante daquilo, vivia coisas piores no exército.
  Sem conseguir responder, por não achar força na voz, apenas assentiu e viu Walker levantar enquanto enfiava a mão no bolso da calça.
  - Aqui é o Major Walker, tivemos um novo atentado no departamento de segurança. Eu preciso da minha equipe aqui. Agora.
   desviou o olhar para o Major e só então conseguiu entender o que havia acontecido.
  Parece que nenhum lugar do país era suficientemente seguro agora.

  Em poucos minutos escutou as sirenes se aproximando de onde estava, os moradores mais próximos já se aproximavam assim como os carros da imprensa.    estava sentada no meio fio da calçada com o blazer do Major nas costas, a temperatura havia caído mas não era por causa do vento que ela tremia. E sim de pensar no que havia acontecido. Se não fosse pelo Major, provavelmente não seria apenas o carro o único a ser incinerado ali. Tinha apenas ralado o cotovelo e batido o joelho de lado durante a queda, mas isso era o de menos. Estava viva. Sobreviveu a um atentado com bomba.
  Walker ainda estava no telefone, mas do lado dela, talvez para ter certeza que não fosse desmaiar a qualquer momento.
   viu o caminhão do corpo de bombeiros chegar primeiro, atrás um 4x4 do exército, uma ambulância e um outro carro, todo mundo saiu às pressas dos veículos e vieram em direção aos dois. Entretanto, ela reconheceu um soldado, sem uniforme dessa vez, que caminhava com mais pressa do que os demais.
  Esquecendo qualquer protocolo de hierarquia, ela se levantou e deixou o blazer cair no chão enquanto corria até que enxergava apenas a mulher assustada à sua frente.
   se jogou nos braços dele e sentiu o corpo amolecer, uma súbita vontade de chorar - que não foi contida - e a sensação de estar finalmente segura. Enterrou o rosto no pescoço dele e respirou fundo, sentindo a mão dele afagar seu cabelo.
  - Eu tinha acabado de sair do QG quando soube, vim o mais rápido que pude. - ele falou, preocupado. Só Deus sabia o medo que sentiu quando ouviu sobre o atentado próximo ao prédio, e sabe-se lá quantas multas havia tomado por ter passado no sinal vermelho.
   se afastou de contra a vontade e sua mão segurou o rosto dela, analisou minuciosamente dos pés a cabeça e notou o joelho machucado e a manga do vestido rasgada, além é claro da expressão assustada dela.
  - Vem, os paramédicos precisam ver esses ferimentos.
  - Eu estou bem. - a voz trêmula não enganou o namorado que sem precisar falar mais nada, levou-a até a ambulância.
   mal sentia as pernas por causa do susto, então quando os paramédicos deixaram-na sentar na ambulância deixou o corpo se render.
  Um paramédico a analisou enquanto outro corria para verificar o Major, fez os procedimentos básicos e logo depois limparam seus ferimentos, nada preocupante. Fisicamente estava ótima para uma sobrevivente de um atentado.
   observava tudo em silêncio e com muita atenção, sabia de suas obrigações como soldado porém não as realizaria até ter certeza que ela estivesse bem. Deu uma olhada para trás, vendo os companheiros e o Major ocupados demais para lembrarem que estava ali.
  - Se sentir tontura ou dor de cabeça nas próximas horas, tome um analgésico. Não teve trauma na cabeça ou algo do tipo então você vai ficar bem. - ela sorriu fraco para o paramédico.
  - Valeu, Sid. - agradeceu e apertou a mão do homem, ele retribuiu e saiu com a prancheta em direção ao parceiro.
   sentou ao lado da namorada, vendo-a olhar para o nada, ele passou o braço em volta da cintura dela, sentindo-a encostar em seu ombro.
  - Você devia ir ao hospital e fazer um raio x. – disse, mas ela negou com a cabeça.
  - Eu já disse que estou bem, amor. - o problema não foi a queda e sim o trauma. Ela se afastou dele depois de olhar para os soldados mais a frente, franziu a testa e estava pronto para questioná-la, mas foi mais rápida: - Devia bater continência ao Major, não quero que te puna por minha causa de novo.
  - Eu não vou sair do seu lado essa noite. - ela sorriu. É claro que não iria, mas acima dela, ele tinha um dever.
   o olhou com compreensão.
  - Eu sei. - colocou uma mão no rosto dele e o acariciou. - Mas é melhor, vai lá. Eu não vou nem me mexer, prometo.
   relutou, ainda enxergava pavor nos olhos dela, mas de certa forma, tinha razão. Depois de alguns minutos lutando internamente, ele levantou e tirou a jaqueta que usava, colocou na namorada e deu um beijo suave nos lábios dela.
  - Eu não demoro. - avisou, depositou um beijo na testa dela e saiu.
  Nos minutos seguintes, cumpriu sua função como soldado do exército, conversou com os colegas, com o Major, analisaram minuciosamente o local e trocaram informações importantes.
  Todos estavam convictos de uma coisa: aquele atentado tinha um único destino, o departamento e todos os que trabalhavam ali.
   acreditava que os rebeldes não iriam matar o secretário daquela forma, o que queriam era a atenção. Mostrar que quando estivessem prontos e quando quisessem, fariam um estrago muito maior. Já conseguia imaginar as cenas de terror e caos mais uma vez por todas as cidades, seu sangue fervia só de pensar em todos aqueles bandidos tomando as ruas de seu país.
  Teriam muito trabalho para que isso não acontecesse, o exército não permitiria, não com uma ameaça como aquela.
  Não se preocupava em apenas proteger os civis, isso era sua obrigação, mas também.
  Precisava deixá-la segura de qualquer forma. A qualquer custo.

Capítulo 06 - Remember what you're fighting for

  - , você sabe que eu odeio surpresas, né? - perguntou pela segunda vez naquela manhã.
  Ele apenas riu, concentrado no trajeto que percorriam, estavam no carro há meia hora e ele se recusava a dizer para onde estavam indo.
  - Essa é a segunda melhor parte.
  - E qual a primeira?
  - Que você não faz ideia de onde estamos indo. - ele sorriu travesso e ela bufou.
  Tudo bem, aquele era o final de semana deles. Fariam muitas coisas juntos, segundo a programação do namorado porém sentia uma ansiedade fora do comum já que não sabia o destino e nem o que fariam, a única coisa que ele disse na noite passada era que ela precisaria usar uma roupa confortável.
  - Você disse que não iríamos viajar, mas estamos na estrada há um tempo. - comentou, tentando puxar a língua dele de algum jeito.
  - Já estamos chegando. - anunciou, sem estender mais o assunto e deixar alguma pista para .
  Dez minutos depois e começava a parar o carro no estacionamento do local, franziu a testa ao ver a grande placa e piscou algumas vezes para ter certeza que tinha lido certo, quando o namorado parou por completo ela questionou:
  - Gun Leste? O que nós estamos fazendo em um clube de tiro?
   sorriu largamente, agora ele podia finalmente contar o que vinha tramando há semanas.
  - Eu vou te ensinar a atirar. - respondeu orgulhoso e o olhou como se estivesse doido.
  - Eu? - apontou para si mesma e ele concordou. - Você vai ensinar a sua namorada completamente desengonçada e desatenta a atirar com armas de verdade? Você trouxe os snipers do exército porque até eles vão ter um grande trabalho.
  - Eu sou um ótimo atirador de elite! - revelou. - E você não é desengonçada. - ela cruzou os braços, arqueando a sobrancelha o questionando silenciosamente. - Tá bom, você é atrapalhada, mas nada que não dê para resolver.
  - Amor, não me leve a mal, mas como uma atiradora eu sou uma ótima cozinheira. Por que quer fazer isso?
   acariciou o rosto da namorada delicadamente, sua expressão ficando mais séria dessa vez.
  - Depois do atentado no prédio, eu fiquei pensando que eu não vou conseguir estar sempre do seu lado pra te proteger, mesmo que eu corra pra te salvar, , nada garante que eu vou chegar a tempo todas as vezes. Eu quero te ensinar a se proteger. Eu não paro de pensar no que teria acontecido se ao invés de uma bomba, os rebeldes tivessem esperando você do lado de fora do…
   colocou o dedo nos lábios de para que ele parasse de falar, sentia a agonia dele ao partilhar a cena que tinha imaginado e não queria pensar naquilo também. Ainda estava vulnerável e insegura a cada dia que ia trabalhar, mas precisava fazer aquilo.
  - Não pensa mais nisso. - pediu. - Você acha que essas aulas são realmente necessárias?
  Não irrita relutar se o namorado estava convicto que aquilo era realmente preciso.
  - Eu queria que elas não fossem. - foi tudo o que ele podia dizer.
  Não queria envolver o trabalho ou trazer à tona informações sigilosas, mas aquela era a forma que conseguia mostrar a ela como as coisas poderiam piorar e precisava mantê-la segura.
   suspirou.
  - Eu vou ficar tão boa quanto o John Wick? - sorriu e viu rir.
  - Muito melhor do que ele. - ele se aproximou e deu um selinho nela, depois pegou uma bolsa que estava no banco de trás. - Já que você aceitou, eu trouxe algo. - tirou uma caixa preta e estendeu para a namorada.
   segurou animada e abriu quase que no mesmo instante, uma arma estava ali.
  - É muito mais leve do que parece e é um pouco menor do que as que eu manuseio no exército. Era a pistola do meu avô.
   o olhou surpresa e viu o sorriso triste dele.
  - Você vai deixar comigo?
  - Não, eu estou te dando. Agora é sua.
   sentiu o queixo cair ao mesmo tempo em que seu coração aquecia.
   não falava muito do avô, o que conhecia era o que tinha saído na mídia, conhecia o político e não o avô.
  Mas conseguia ver o quanto aquilo representava para o amado e bem, estava lisonjeada.
  - Obrigada! - afagou a arma com uma mão e com a outra acariciou o rosto dele com um sorriso genuíno.
  - Vamos. - ele a chamou, tirando a chave do carro e saindo.
   fez o mesmo, levando a sua bolsa e a arma de um jeito desengonçado, não sabia como carregar aquilo, mas ficou feliz por notar que ela caberia em sua bolsa pelo tamanho compacto.
   estendeu a mão para que ela a segurasse e entraram no local com os dedos entrelaçados depois de ele travar o carro.
notou como o namorado conhecia todos os instrutores e funcionários do clube, ela não fazia ideia se ele era um afiliado, mas pela forma como ele a levava junto para os stands como se soubesse exatamente para onde ir, parecia que sim.
   explicou com maestria como a arma funcionava e porque era importante a namorada seguir as dicas que ele daria, e claro enfatizou que aquilo era para que ela pudesse se proteger apenas, mas não era como se ele precisasse dizer afinal, não sairia por aí atirando em qualquer um que aparecesse.
  Deu os equipamentos de segurança para os ouvidos e os olhos dela e se posicionou atrás da namorada, mostrando como ela deveria segurar a arma. Ela sorriu contida ao sentir o tronco do namorado bater contra suas costas, não era bem o momento para pensar em certas coisas, mas ficava tão difícil porque ele estava tão cheiroso e…
  - ? - ouviu a voz abafada dele chamar sua atenção e ela piscou algumas vezes.
  - Sim? - ela respondeu, atônita.
  - Você ouviu o que eu disse? - ele perguntou, contendo a risada.
  - Não, desculpa. - ela balançou a cabeça para tentar afastar os pensamentos que não envolviam o treinamento.
  - Tudo bem. - ele riu baixo, o hálito batendo contra a nuca de e ela precisou respirar fundo. - Eu disse que você precisa segurar a arma com força, cada disparo vai ter um recuo, por isso é bom você manter essa mão junto com a sua dominante - ele direcionava as mãos dela na arma. - como apoio para o seu punho. A arma precisa estar na direção do seu peito, fica mais fácil para você observar o alvo e mais rápido de recuar caso precise acionar mais uma vez. - ele ajustou a posição e sentiu o braço ficar rígido. - Ajusta as pernas também, - ele levou a perna direita atrás do joelho direito de e a fez levar a perna um pouco mais a frente. - Pode flexionar o joelho um pouco, é do seu corpo que virá a força para o recuo não ser tão forte, o tronco um pouco mais a frente. - ele apoiou a mão livre na cintura dela e a fez inclinar um pouco. - Não incline o ombro para trás, dependendo da arma e do recuo pode acabar deslocando. - assentiu. - Aqui é onde você irá destravar a arma. - ele abaixou o que mais parecia um pino para . - Sempre se atente a isso, a arma precisa estar destravada para você poder atirar.
  - Ok, e agora? - ela perguntou, ansiosa.
  - Agora você mira onde quer acertar no alvo. - ele soltou a mão da arma e apontou para o desenho há alguns metros dali. - E aperta o gatilho.
   concordou com a cabeça e mirou no ombro da figura de um homem que estava desenhada mais a frente, estava nervosa e sentia o coração bater forte contra as costelas e percebeu isso, por isso aproximou o rosto do dela.
  - Respire fundo. - pediu e ela o fez. - Sinta a adrenalina percorrer as suas veias. - sentiu seu corpo esquentar, não apenas por causa da adrenalina, mas por causa de . Ele estava tão perto. - Foque no seu alvo, não se importe com mais nada além do que você precisa e quer acertar, nem mesmo a minha voz te conduzindo. - firmou os olhos no alvo. - Atira!
   o fez sem nem ao menos piscar e sentiu a arma ficar mais pesada e voltar para trás com força, ela precisou segurar ainda mais forte, mas manteve-a em sua mão, o tiro ecoou pelo local e rapidamente acertou o alvo.
  O coração dela batia ainda mais forte e ela nem tinha reparado que o queixo havia caído, sentia a força que a arma tinha feito em seu punho, mas não era doloroso, forçou os olhos ainda mais ao ver onde tinha acertado o alvo.
  Sua mira era para acertar no ombro, mas acabou acertando no pescoço.
  - Meu Deus - ela falou, tirando o dedo do gatilho e virou para o namorado, que sorria largamente para ela.
  - Você foi muito bem! - ele afirmou e ela riu de nervoso.
  - Eu atirei! - constatou, ainda chocada.
  - Sim, meu amor, e foi um ótimo primeiro tiro. - ele afagou as costas dela e voltou a olhar para o alvo. - Vamos mais uma vez.
  Ela não sabia que a adrenalina seria tão boa mas era um calor bom, sentia as mãos tremerem e formigarem por toda a emoção e impacto da arma mas estava muito orgulhosa de si mesma por ter conseguido acertar um tiro.
  Entendia um pouco do porquê gostava daquilo, mas precisou se lembrar que aquilo era apenas para quando ela precisasse se proteger, ou seja, em casos extremos. E desejou não ter que atirar em alguém de verdade, os desenhos do clube pareciam de bom tamanho.
  Mal ela sabia…

[...]

  - Então, posso saber por que você está me levando para a academia do seu apartamento? - perguntou, seguindo o namorado de mãos dadas.
  Ela estava cansada das aulas de tiro, nunca imaginou que seus braços e pernas doeriam tanto, mas por incrível que pareça, tinha gostado. Claro, ela preferia mil vezes cozinhar como sempre fazia, mas atirar não era tão ruim. Conseguiu descarregar uma boa parte das frustrações que estava acumulado dentro de si.
  E achou que a levaria para casa depois de passarem o dia inteiro no clube, mas quando o amado disse que o treinamento não tinha acabado ainda, ela ficou confusa.
  - Se proteger pode ser feito de muitos jeitos. - falou enquanto acendia as luzes da academia vazia. - Uma arma é a solução mais rápida, mas para um ataque corporal, a luta defensiva é a melhor opção.
   franziu a testa ao ouvir e soltou a mão dela para ficar de frente, com as mãos na cintura.
  - Você está dizendo o que eu penso que está dizendo? - ela questionou e ele concordou com a cabeça. - Você tirou o dia para me transformar numa soldado ou algo do tipo?
  Dar a ela uma arma carregada de munição, ensiná-la a atirar e agora ensina-la a lutar? Com certeza ele estava se esforçando como se aquilo fosse um treinamento que dava para os soldados do seu batalhão.
   riu e não se conteve, segurou o rosto de em ambos os lados e deu um beijo suave nos lábios dela, que reclamou quando ele se afastou.
  - Estou te dando todas as possibilidades, gostaria que a arma fosse a sua última opção. - ele falou sincero. - Então, aprender o básico de defesa pessoal vem a calhar.
   sentia a preocupação no tom de voz do amado e só por isso não tentava o convencer do contrário. Tudo bem, tinha aprendido o básico de armas, mas luta? Parecia um pouco demais para ela.
  Mas sabia os riscos e perigos, se ele estava fazendo aquilo é porque era importante e não seria ela que iria recusar.
  - Tudo bem, então me mostre. - ela pediu e viu ele sorrir de lado.
   se afastou e estalou as mãos.
  - As regras que se aplicam para o tiro também se aplicam à luta. Você precisa ter força na perna porque são elas que vão te sustentar. - ela assentiu, tentando guardar as informações em sua cabeça. - Me bate.
   franziu o cenho.
  - Hein?!
   riu.
  - Me bate, eu quero ver como você soca. - ela estreitou os olhos, mas ao ver que o amado falava sério, ela piscou algumas vezes antes de fazer o que ele pediu.
  Não foi surpresa que parou o soco de antes mesmo que ela pudesse atingi-lo, com uma mão apenas e ele sequer estava fazendo esforço.
  - Primeiro, o dedão sempre fica para fora do punho, nunca prenda-o entre os dedos. - ele ajudou a arrumar a posição conforme falava. - Com o impacto você pode acabar quebrando, e nunca bata com o osso, é sempre de chapa. - Ele mostrou a ela como fazer, que assentiu. - Força nas pernas. - ele tocou na coxa de com leveza, mas o calor da palma dele foi o suficiente para fazê-la perder o foco. - O que foi? - perguntou ao ver o olhar perdido dela.
  - Nada. - ela negou com a cabeça, rindo.
  - ! - ele falou de forma arrastada, para mostrar que sabia que tinha alguma coisa a mais.
  E é claro que ele sabia, afinal viu a forma como ela se arrepiou com o toque tão inocente.
  - Isso tudo é tortura, sabia? - ela reclamou, fechando os olhos e sentiu a mão do namorado subir a mão pela coxa, quadril e parar em sua cintura, onde ele segurou com mais força.
  - Eu não estou fazendo nada. - falou em um tom baixo e se não conhecesse bem , diria que estava confuso.
  Mas ao abrir os olhos, viu que ele se fazia de desentendido pois carregava um sorriso quase imperceptível.
  Era exatamente esse o problema, não estava fazendo nada e lá estava ela, sentindo as pernas ficarem mais fracas com um simples toque!
  - Anda, não se distraia. - sem esperar, ela sentiu a palma de levemente contra sua bunda e ela deixou o queixo cair. - É a primeira regra.
  - ! - quis se fazer de brava, mas ela estava rindo.
  Nunca imaginou que o namorado pudesse ficar ainda mais sexy do que já era, mas vê-lo tão sério e concentrado estava deixando-a ainda mais hipnotizada por ele.
  Mas estava convicto no que queria e naquele momento era ensinar o básico de defesa a , por isso ele se afastou o suficiente para que pudessem treinar de verdade enquanto dava dicas a ela.
  Como bater, como se defender, como sair de um golpe que a imobilizava. Tudo o que achava importante e que sabia que a namorada conseguiria aprender.
  Ele tinha um sorriso no rosto enquanto ela se mantinha focada, fazendo exatamente o que ele dizia, estava orgulhoso dela e ainda mais apaixonado. Não sabia que era possível, mas aparentemente era.
   pingava de suor e foi gentil demais em buscar água para ela, quando voltou a namorada levantava o cabelo que grudava na nuca e respirava fundo, sentindo um calor anormal enquanto as coxas queimavam, mas confessava que lutar também era legal. Tinha descontado muitas frustrações nos movimentos, mesmo que não tivesse acertado forte , ele acabou sendo seu alvo.
  Ele sorriu maroto ao vê-la daquele jeito e se aproximou, estendendo a garrafa de água e sorriu agradecendo, sem fôlego para falar.
  Ela bebeu a garrafa toda e soltou um suspiro alto que ecoou pelos ouvidos de de uma forma que o fez cravar os olhos na namorada, mordendo o lábio.
  - Ok, eu te deixei descansar um pouco, mas temos que voltar ao trabalho. - falou e segurou a risada quando ouviu reclamar.
  - Amor, por favor, eu estou cansada. - fez um barulho com a boca e tirou a garrafa da mão dela, jogando no chão e puxando-a pela mão. - Hoje é sábado!
  - Exatamente por isso, nós temos que aproveitar bem o tempo.
   torceu a boca e o namorado soltou a mão dela, ela respirou fundo antes de começarem tudo de novo, porém, ela sentia um olhar diferente de .
  Beirava a provocação e a malícia, mas cansada do jeito que estava sequer ligou uma coisa com a outra.
  Foi só quando ele, em um movimento rápido, rodopiou que caiu no tatame da academia e subiu em cima dela, que sentiu um certo volume que não estava ali antes.
  Ela mordeu o lábio para controlar o sorriso, olhando para o namorado sabendo exatamente por que ele tinha feito aquilo.
  - Você está chegando perto. - ele concluiu, olhando toda a extensão do rosto dela enquanto apoiava as mãos em cada lado da cabeça dela.
   sentia o quadril de encostado no seu e ela não conseguia sequer lembrar onde estavam e o que estavam fazendo.
  - Você também. - sussurrou, levantando uma sobrancelha, olhando de relance para os corpos se tocando.
  - Eu estou falando da luta. - ele fingiu inocência e ela riu, voltando a encará-lo nos olhos.
  Pura conversa de sedução que ela estava adorando.
  Foi por isso que ela levantou a cabeça o suficiente para morder o lábio inferior dele de leve e trazer para si, ganhando um grunhido dele.
  - E do que você acha que eu estou falando? - ela provocou e em resposta roçou o quadril no dela.
   precisou fechar os olhos para conter um gemido.
  - Nós temos que sair daqui antes que eu não consiga chegar ao meu apartamento. - ele avisou, respirando fundo.
   levantou, desfazendo todo o contato com que abriu os olhos e fez um biquinho.
  Poxa, estava tão bom.
  - Ou o quê? - ela perguntou, curiosa e estendeu a mão para que ele a ajudasse a levantar.
  Seria uma boa ele carregá-la até o apartamento, estava tão cansada.
  Assim que o fez, a olhou intensamente, arrancando um suspiro dela.
  - Ou eu vou ter você aqui mesmo. - apontou para o chão da academia, puxando-a pela mão.
   sentiu todo o rosto queimar e deixou-se ser levada pelo namorado apressado. Gostava quando ele era fofo e cavalheiro, mas o corpo reagia de forma diferente quando ele era direto e sério, o que não era sempre.
  Algo dizia que a noite seria bem longa.

[...]

   e estavam tentando recuperar o fôlego do que tinha sido uma noite repleta de amor, não tinha outra palavra para descrever.
  Ela acariciava o rosto dele enquanto observava cada centímetro já gravado em sua memória enquanto ele fazia movimentos circulares na cintura desnuda dela, os olhos fechados indicando que ele estava relaxado. A expressão serena que só tinha quando estava com ela.
  Era madrugada e embora ambos estivessem completamente esgotados, não conseguiam dormir, precisavam aproveitar o tempo que tinham antes da rotina da semana impedi-los de até mesmo se falar.
   sentiu o estômago roncar e o barulho ecoou pelo quarto silencioso, isso fez com que abrisse os olhos de pura surpresa. Assim que se entreolharam, começaram a rir.
  - Acho que é a deixa para perguntar se você quer comer alguma coisa. - sentou-se na cama e a mão de caiu por seu peitoral.
  - Eu até quero, mas eu tô com uma preguiça. - falou manhosa e sorriu, se aproximando para beijar a testa dela.
  - Não tem problema, eu trago pra você. - ele garantiu e ela concordou com a cabeça. - Você quer…
   foi interrompido por um barulho de algo quebrando na sala e ele ficou rígido de repente,
seguiu o olhar dele até a porta do quarto como se estivessem tentando adivinhar o que tinha acontecido.
  Ela levantou o tronco da cama ao mesmo tempo em que levantava da cama, pegando a cueca do chão e vestindo rapidamente, assim que livres suas mãos foram para a arma em cima do criado mudo e a destravou.
  Isso chamou a atenção de que agarrou o lençol com força, trazendo-o para o pescoço.
  O namorado adotou uma pose defensiva e quieta, esperando por mais algum ruído vindo do apartamento, seus ouvidos apurados e o fato de sequer estarem respirando tamanha tensão ajudou a perceber barulho de passos. Mais especificamente de botas de combate.
  - Vai pra debaixo da cama. - sussurrou para que o olhou em pânico, mas ao ver a expressão séria do namorado, concordou.
   pegou a camiseta de que tinha ido parar na cabeceira da cama e vestiu, sem emitir nenhum ruído ela fez o que ele mandou, sentindo as mãos ficarem frias e o coração acelerar.
  Sequer precisou perguntar a o que ele faria, viu o namorado ir em direção a porta e precisou cobrir a boca com as mãos para não pedir para ele ir.
  Seria inútil de qualquer forma.
   agora estava como o soldado que ela tinha visto em ação e não iria contestar nenhuma ação dele.
  Era madrugada e um barulho daquele não seria feito pelo vento ou um gato do vizinho.   Tinha conseguido esquecer do ataque dos rebeldes a aquele prédio, mas parecia que o edifício não dava muita sorte para ela.
   pôs-se perto da porta, na parede porque ele não era burro de ficar na frente, e ouviu cada mínimo barulho. Era muito bem treinado para aquilo.
  Barulhos de sussurros que ele não conseguiu identificar o que diziam, estavam na cozinha, muito perto do corredor que levava até o quarto onde estava, não conseguia ver as posições dos invasores, mas poderia imaginar cada um de um lado, dando cobertura.
  Também era impossível saber a quantidade, mas não esperava mais do que 3.
  Ao ouvir um deles ajustando a arma nas mãos, ele entrou em modo de combate. estava ali e deveria mantê-la segura.
  Essa era a sua missão.
  Convicto de sua análise, ele agachou, olhou para baixo da cama e viu encarando-o assustada, ele pediu que ela ficasse em silêncio e mexeu devagar na maçaneta até sentir que a lingueta da porta não estava mais no lugar, ajustou a arma na mão e abriu a porta com rapidez.
  Por um momento, conseguiu iludir os invasores que não viam ninguém na porta, apenas o breu e então posicionou a frente e atirou no primeiro que estava à esquerda, certeiro no meio do peito.
  Quando o primeiro caiu, voltou a sua posição enquanto tiros eram disparados contra ele. gritou ao ouvir os tiros altos e confusos dentro do quarto, levando as mãos até os ouvidos enquanto os demais invasores entraram no quarto em busca dela.
  Mas foi mais rápido, assim que o segundo entrou, ele atirou no pé e depois na cabeça. O cara caiu no chão e berrou ao ver o corpo já sem vida na sua frente, acabou batendo a cabeça na cama e fechou os olhos, querendo que aquilo acabasse logo.
  Ela não conseguiu ver finalizar o último invasor, com um tiro na mão e outro na jugular. Não demorou para que ele caísse aos pés de , engasgando com o próprio sangue e sendo observado por com olhos frios e duros.
  Quando teve certeza que o cara estava morto, assim como os outros dois, ele andou com cautela pelo apartamento em busca de mais invasores, mas tudo o que encontrou foi a sua sala remexida em pontos específicos.
  Estava tudo limpo.
  Voltou correndo para o quarto e foi até que chorava debaixo da cama, ele deixou a arma em cima da cama e estendeu a mão para segurar o braço dela. a ajudou a sair e assim que se pôs de pé, o abraçou forte.
  Ele fechou os olhos e levou uma mão até os cabelos dela, acariciando com uma calma que ele não estava sentindo, mas que queria transmitir a ela, a outra mão a segurou pela cintura enquanto ela se desmanchava nos braços dele, com o rosto no peito dele.
   via os flashes daquele dia da invasão passar em sua cabeça com rapidez, sentia como se estivesse passando por aquilo de novo.
  Não era possível que ela e não teriam um dia de paz.
  - Ei, está tudo bem agora. - ele falou, sentindo o coração despedaçar ao ouvi-la soluçar. - , amor. - ele chamou a atenção dela, levando a mão até a bochecha dela, fazendo-a se afastar para encará-lo. - Eu estou aqui, você está segura.
  Ela respirou fundo ao ouvir aquilo, seus olhos automaticamente foram para os corpos caídos pelo quarto do namorado.
  Sua cabeça imaginou milhares de cenários diferentes.
  E se ambos estivessem dormindo? Teriam morrido? E se não tivesse acordado? Ela teria feito alguma coisa? Quem eram aqueles homens e porque tinham invadido a casa de ? Como conseguiram isso?
  - Não faça isso. - ele pediu, trazendo o rosto para o campo de visão dela, a fim de fazê-la olhar para ele ao invés dos corpos. - Não pense nisso.
  Ela concordou com a cabeça, ainda sem forças para falar, e o abraçou de novo para ter certeza de que sim, estava bem e segura. Por enquanto.
  Porque agora, entendia na prática a necessidade de se defender.
  Fez exatamente o que pediu para não fazer.
  Pensou naquilo.

[...]

  - Você é um idiota! - esbravejou, batendo o punho contra a mesa de madeira de seu escritório. - Vocês só tinham uma missão e nem era tão difícil assim, seu incompetente.
  - Chefe, eu sinto muito mas o soldado, ele era… - tentou se justificar, mas foi interrompido por uma risada sarcástica.
  - Sozinho! Ele estava sozinho!
  - Eu ouvi a voz de uma mulher pelo rádio, foram pegos de surpresa.
  O homem parou ao ouvir aquela informação.
  Uma mulher? Não podia ser a…
  Não, ele se recusava a sequer imaginar isso.
  - E agora estão mortos sem nem sequer ter feito cócegas naquele verme. Vocês foram pagos para uma coisa e mesmo assim falharam, eu devia ter deixado vocês só vigiarem mesmo! - o homem respondeu, bravo, sequer respirava de tanta raiva. - Saía do país antes que eu te encontre e termine o serviço do porque pode ter certeza, se ele não for atrás de você, eu irei.
  Desligou o telefone e quis jogar tudo o que via pela frente. Xingou e bateu na mesa novamente, desejando que aquele fosse o rosto de para que ele pudesse fazer aquilo.
  Tirou um cigarro do bolso da calça e acendeu rapidamente, virando a cadeira para a janela atrás de si, observando a cidade quieta do lado de fora, ele deu um trago e soltou a fumaça com raiva.
  Aquela teria sido a noite perfeita se tivesse contratado as pessoas certas para o serviço.
  Mas tinha subestimando a inteligência de , sabia que era um capitão muito bem treinado, mas isso não deveria valer naquele dia.
  Não quando tinha encomendado a sua morte.
  Sorriu largamente ao se dar conta que ainda tinha tempo para isso, poderia fazer do jeito fácil: rápido e certeiro. Mas também poderia fazer do jeito difícil. Lento e doloroso.
  Gostava mais da segunda opção.
  E daria a ele exatamente isso. Ansiava pelo dia que mataria , e pelo jeito, teria que fazer isso com as próprias mãos.

[...]

   olhava para o nada enquanto estava sentada na bancada da cozinha de , perto da pia. Sua cabeça ainda doía, tanto pelo impacto quanto pela confusão da madrugada, ainda era manhã de domingo, mas a equipe de e a perícia já estavam lá.
  Ela sentia os olhos pesados, mas sua cabeça não conseguia desligar do ocorrido e embora estivesse exausta de tudo, mesmo se caísse na cama agora não iria conseguir dormir.
  Ouvia o amado conversar baixo com a equipe, mas não tinha forças para focar no que diziam, sua cabeça pensava em tudo e em nada ao mesmo tempo.
  Viu quando levaram os corpos para fora do apartamento e sentiu um frio de repente, abraçando o próprio corpo como se pudesse afastar a sensação.
  No quarto, conversava com Connor. O capitão estava possesso, era tão óbvio em seu olhar que iria atrás de quem tivesse ousado invadir sua casa, com a sua namorada lá ainda por cima, nenhum dos soldados tentou dizer para que ele fizesse o contrário. Esquecer não era uma opção.
  Uma longa e pessoal investigação seria feita, disso não restava dúvidas. O problema agora era o que dizer a .
  Contar o que ele havia descoberto, que aqueles invasores eram membros de uma facção do país vizinho, mercenários contratados por um único motivo não parecia viável. A namorada tinha levado tanto tempo para esquecer o atentado no passado, como poderia fazê-la reviver o trauma?
  Porque sabia que ela o faria.
  Mas não poderia dar uma desculpa qualquer, não era besta, sabia que o que tinha acontecido ali era sério, nunca o apartamento de tinha sido invadido. Até porque ele nunca tinha estado em uma missão tão perigosa quanto aquela e se alguém tinha mandado uma equipe para matá-lo, significava que estava perto. Muito perto.
   acompanhou todos até a porta assim que cada um cumpriu a sua função, deu um tchauzinho para a equipe, e foi quando ele virou-se para encará-la sentindo os ombros cederem ao vê-la tão vulnerável.
   observou se aproximar em passos largos e lentos demais para ela, seus olhos firmes combinavam perfeitamente com a postura rígida que ele tinha adotado desde que levantou da cama e não desfez enquanto a equipe estava lá.
  Mas tudo isso passou quando ele colocou as mãos em ambos os lados da cintura dela, quis sorrir, mas estava sem forças então o envolveu com as pernas enquanto levava os braços em volta do pescoço dele, suspirou e então levou a cabeça até o tórax de .
  Não tinha nada de sexual ali, ele só precisava sentir o calor dela, como se aquilo pudesse de alguma forma recarregar as forças dele. E poderia.
   então fechou os olhos, apoiando o queixo na cabeça do namorado e levou uma das mãos até o cabelo dele, fazendo um carinho lento entre os fios.
  - Eu gosto quando o seu cabelo está maior. - ela constatou, sentindo rir contra seu corpo.
  - Logo eu tenho que cortar. - soltou um muxoxo e não estendeu o assunto, assim como .
  Poderiam ficar ali por um bom tempo, era desse jeito que ele queria que todas as suas manhãs fossem, mas até chegar lá tinham um longo caminho.
  Ele se afastou de que fez bico com a falta de contato, a careta que achou extremamente fofa foi beijada rapidamente por ele.
  - Vem, eu te levo pra casa. - acariciou a coxa de para que ela afastasse as pernas dele e o liberasse para dar dois passos para trás.
  - Você não vai… querer ajuda? - ela perguntou receosa, vendo-o estender a mão para ajudá-la a descer da bancada um tanto quanto confuso. - Para limpar a bagunça?
  Os olhos de percorreram por trás do ombro de e ele entendeu o recado, ficando sério novamente.
  A última coisa que queria ver era lavando o piso ensanguentado de seu quarto.
  - Você precisa descansar, amanhã você tem um longo dia no escritório. - ele lembrou e ela concordou, segurando a mão do namorado e saindo da bancada.
  - Você sabe que eu não me importo.
   beijou a ponta do nariz dela e sorriu de leve.
  - Eu sei, mas eu consigo fazer tudo isso sozinho. Não tem tanta coisa para arrumar de qualquer forma.
   levantou a sobrancelha, questionando-o silenciosamente, mas ele apenas fez um carinho na mão dela.
  Ela então respirou fundo e deixou ser levada pelo namorado, enquanto pegava as chaves do carro e sua carteira na mesinha de centro, olhou para o corredor e observou a mancha de sangue.
  Ultimamente, essa era uma cor que vinha perseguindo-a e pelo jeito não iria parar.
  Mas se dependesse de , o único sangue que seria derramado era do covarde que tinha transformado sua vida pessoal em uma zona de guerra assim como os extremos da fronteira.
  Ele era um soldado e sabia pelo o que estava lutando, acima de tudo para manter segura.

[...]

Há 3 anos e 2 meses. Casa da família Soares.
20:07 PM.

  - Já veio se despedir, cara, eu só vou partir amanhã. - Connor brincou, fechando o zíper da mala militar, e virou para encarar o amigo.
   estava com a cabeça abaixada, tinha uma postura bem diferente da que as pessoas estavam acostumadas. Quase como de quem havia pedido o rumo da vida, bem desanimado.
  - Você por um acaso tem uma mala dessa para me emprestar? - ele perguntou baixo e levantou a cabeça para olhar o amigo. Connor se assustou ao ver o rosto vermelho e inchado de . - Porque eu vou junto.
   levantou o papel do seu alistamento, tinha saído de lá direto para a casa do amigo. Se sentia mais em casa ali do que na sua própria casa.
  - O quê? - foi o que Connor conseguiu dizer e viu caminhar para até a cadeira da mesa de escrivaninha do amigo, o olhar perdido. - Tá bom, boa piada, eu sei que você jamais se alistaria…
  - Mas me alistei. - interrompeu, mais sério dessa vez, estendeu o papel para o amigo ler antes de se jogar na cadeira. - É sério.
  Connor se sentou na cama, chocado enquanto via a ficha de alistamento voluntário.
  Não era piada.
  Conhecia a família e sabia como o amigo cedia as vontades dos pais, então ir para o exército não estava nos planos de .
  Ou pelo menos não sabia que estava até então.
  - Por quê?
   suspirou, balançando a cabeça que doía intensamente.
  Tinha sido a pior noite da vida dele e nem tinha acabado.
  - Eu amo alguém. - admitiu, esperou Connor dizer algo, mas ele permaneceu em silêncio. - E não posso estar com ela por causa das regras idiotas da minha família. Então eu simplesmente vou fazer o que eu quiser a partir de agora.
  - É a , não é? - Connor perguntou mas não precisava da resposta, pois ao ver os olhos de encontrar os deles por ter mencionado o nome da garota era suficiente. - Não que fosse surpresa para alguém, todo mundo que te conhece sabe como você estava diferente desde que a conheceu.
   sorriu triste, olhando para as próprias mãos.
  - Ela mudou a minha vida e eu estraguei tudo. - ele negou com a cabeça, se sentia um covarde. Um fraco. - Eu nem consegui dizer que a amava.
  - Ela sabe, . Talvez vocês possam sentar e…
  - Não, você não entende. - ele passou as mãos no cabelo. - Ela me odeia, eu a magoei demais, ela acha que eu só a usei.
  - E a usou? - Connor questionou, com a sobrancelha levantada.
  - Não, jamais. - prontamente respondeu. - Eu nunca me senti tão vivo como eu me sentia quando estava com ela.
  - Então por que você não tenta explicar?
  - Eu tentei, mas ela ouviu a minha mãe conversando com a sua sogra, todas as mentiras e planos que eles fizeram pra mim nos últimos anos, eu nunca mencionei nada, então como você acha que ela se sentiu?
  Connor respirou fundo.
  É, não sabia, mas podia imaginar.
  - Espera então desde aquela vez que você tentou perguntar o que aconteceria se você namorasse alguém que eles não tivessem escolhido…
  - não sabia da minha relação com os meus pais. - explicou. - Era tão bom estar com ela porque eu esquecia de tudo isso, eu não queria deixá-la insegura com as imposições dos meus pais.
  Há poucos dias havia tentado explicar aos pais que estava saindo com , queria achar um jeito de assumi-la finalmente. Só que a conversa não havia acabado bem, como sempre o pai autoritário havia obrigado a terminar tudo com quem quer que fosse a garota. Sequer conseguiu explicar o que sentia sem antes o pai socar a mesa de jantar, se retirando aos berros para que ele parasse de vê-la.
   ficou furioso e sem pensar duas vezes, saiu de casa. Bom, não definitivamente, passou uns dias na casa de Connor para acalmar os ânimos e tentar uma nova abordagem.
  Estava tudo correndo como planejava, até descobrir tudo pela mãe dele, que provavelmente soltou seu veneno para a mãe de Lynn.
  Mesmo descontando toda a sua raiva e frustração nele, não podia dizer que não entendia, muito pelo contrário. Se fosse ela, faria o mesmo.
  - E você vai simplesmente desistir? - Connor perguntou e o olhou, decidido.
  - Antes de querer ser e estar por inteiro com ela, eu preciso caminhar com as minhas próprias pernas. Me desfazer de todas as amarras da minha família. Ela merece alguém muito melhor do que o que eu sou hoje.
  - E isso - Connor levantou a ficha de alistamento. - é o suficiente?
  - Não, mas é o começo da minha liberdade.
  Connor sorriu, quase orgulhoso de ver o amigo daquele jeito. Estava sim arrasado, mas não derrotado.
  - Que ironia, a guerra sendo a chave para o amor dessa vez.
   riu, contido.
  - E você é poeta desde quando?
  - Desde sempre. - Connor jogou o travesseiro para que não conseguiu afastar a tempo de acertar sua cara. - Soldado.
  - Cuidado, Connor, eu posso ser seu superior na guerra.
  Connor gargalhou.
  - Tá chegando agora e quer sentar a janelinha? Vá a merda, .
   riu, era engraçado ouvir aquilo de Connor porque a frase era na verdade da namorada dele.
  - Eu já tô. - ele de ombros e Connor o olhou.
  - Qual o próximo passo?
   levantou da cadeira, indo até o amigo, pegando a ficha.
  - Informar que embarco amanhã.
  Connor concordou com a cabeça.
  - Boa sorte, rebelde renegado.
   forçou um sorriso antes de apertar a mão do amigo e se despedir, indo para fora da casa rumo a sua própria onde a primeira batalha seria travada.
  Connor respirou fundo antes de procurar o celular e ligar rapidamente para Lynn.
  - Amor, acho que a vai precisar de você.

Continua...



Comentários da autora


da Autora: Talvez eu seja suspeita para falar maaas esse é o meu capítulo favorito até o momento então eu espero que vocês gostem ☺️
E se preparem para as emoções que estão por vir 👀
Até o próximo capítulo 😘

Se vocês quiserem ler Military ouvindo a playlist que eu criei no Spotify, eu aconselho 😉