Military Dignity – Endless War

Escrito por Maari F. | Revisado por Mariana (capítulos 1-8) | Natashia Kitamura (capítulo 9+)

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Capítulo 01 - Point of no return

   estava deitada na cama com seu corpo cobrindo o de e mesmo estando acordada permanecia de olhos fechados, a ponta dos dedos passava suavemente pelas duas cicatrizes altas que ele havia adquirido no ombro. Aquela sensação era tão boa, tão certa.
  Muita coisa havia mudado em pouco tempo desde o ataque extra-oficial contra os rebeldes, porém ela não gostava de pensar na situação política ou militar quando estava nos braços do namorado. Suas vidas pessoais eram complicadas o suficiente para que pensasse no resto.

   estava mais aberto à relação que ambos assumiram, quase morrer nos braços de havia o alertado do quanto havia perdido e esse era um erro que não cometeria uma segunda vez. Era verdade que seus pais se aproximaram estranhamente, mesmo sendo repentino ele não podia negar que havia sentido falta daquilo. Até mesmo seu pai estava mais carinhoso, do jeito dele - é claro -, coisa que não acontecia há uns bons 20 anos.
  Entretanto, não era como se eles tivessem mudado a opinião sobre da noite para o dia, a própria mãe de dissera que não podia perdoar o fato dela ter feito o filho tomar tiros para salvá-la.
  Aquilo martelou a cabeça de durante dias depois que o amado contou com sinceridade sobre a conversa séria que tivera com os pais, deixando claro que não a abandonaria mais.
   havia sim tomado tiros e ido contra ordens por ela, querendo ou não, seu subconsciente a culpava por tais acontecimentos. Mesmo que ele tivesse deixado claro que tinha feito isso por vontade própria e se pudesse, faria de novo.

  A mão dele foi de encontro a dela que agora cessara com o carinho suave, abriu os olhos e encarou , que sorria antes mesmo de abrir os olhos.
  Assim que retribuiu o olhar, falou:
  - Você está pensativa.
  Era todas as manhãs assim, quando dormia no apartamento dele, ela acordava antes e acariciava suas cicatrizes, pensava na vida e parava o carinho, fazendo-o acordar.
  - O que foi?
   negou e sorriu de leve.
  - Estou pensando nesses últimos meses, muita coisa mudou.
  O braço de que rodeava a cintura dela a trouxe para mais perto, fazendo os dois suspirarem. Era bom o calor de seus corpos se misturando daquela forma.
  - E eu definitivamente devo agradecer por isso, acordar com você ao meu lado me dá forças de enfrentar o conselho.
   sentiu a sinceridade nas palavras dele e sem falar nada, aproximou o rosto do dele, lhe dando um selinho demorado. Sabia o quanto ele estava preocupado com o seu julgamento militar e foi ao seu encontro justamente para demonstrar o apoio que ele precisava.
  O dia finalmente tinha chegado.
  - Eu sei que no final tudo vai acabar bem. - ela falou e lhe deu mais um selinho antes de se afastar para sentar na cama.
  Ele se espreguiçou, mas não chegou a colocar as pernas para fora da cama já que sentiu o olhar de pesar sobre as suas costas, ela admirava os músculos e até mesmo as marcas e pequenas cicatrizes que ele tinha ali, mas a pele desnuda dele tão próxima fazia com que sentisse seu sangue borbulhar de desejo e o coração acelerar de excitação.
  - Sabe, você não devia me olhar dessa forma. - ele falou e inesperadamente, a agarrou pela cintura e colocou o corpo sobre o dela. As mãos de fizeram o caminho conhecido pelos braços fortes dele, completamente hipnotizada. - Eu posso acabar me atrasando e depois vou ter que te punir.
  Ela sentiu um arrepio percorrer a nuca e olhou nos olhos dele com um sorriso sapeca.
  - Talvez você devesse se atrasar.
  Claro que ele não devia, mas ela entrou no joguinho de sedução dele, era divertido. Sabia que eles não iriam se atrasar para o julgamento, ainda era cedo.
  - , você adora brincar com fogo…
  - Por que acha que eu namoro você? - deixou a pergunta no ar já que suas mãos alcançaram a nuca dele e o obrigou a dar o que tanto ansiava.
  Um beijo longo e com fogo, da forma que vinha acontecendo com bastante frequência, só sentir o corpo dele pressionado no seu e as línguas juntas não estava sendo o suficiente. Nunca era.
   deixou que uma das mãos dele se encaixasse na nuca dela com o dedão em sua bochecha, enquanto a outra descia para a coxa dela e afastava o lençol inútil. suspirou e apertou os olhos com força quando sentiu a mão dele passear pela parte interna de sua coxa, quebrando totalmente o beijo.
  - Você não devia ficar me atiçando dessa forma se não aguenta depois. - ele falou baixo e propositalmente perto do ouvido dela, como sabia que gostava.
   respirou fundo e encarou os olhos dele, tão perto que mostravam claramente a fome que tinha no momento.
  - Acho que… - ela passou a língua pelos próprios lábios que pareciam secos de repente, tal ato não passou despercebido por , que não conseguiu pensar em nada a não ser o quanto ela ficava sexy fazendo aquilo. - você tem razão, vai se atrasar.
  Ele suspirou frustrado, sentindo o corpo esquentar até demais e escondeu o rosto na curva do pescoço dela, respirou fundo algumas vezes e o ar que soltava contra a pele de não estava ajudando nada. Tudo o que ela queria era poder terminar o que estavam prestes a começar, mas sabia que acabaria correndo o risco de se atrasarem mesmo.
  - Agora é hora da ducha fria. - ele comentou e saiu de cima dela antes que perdesse o auto controle.
   riu sem graça e ainda deitada, sem a mínima vontade de levantar, lembrou da noite anterior.

Noite passada. Apartamento do .
9:15 PM. Logo após o jantar.

   estava lavando o último prato, tinha ido cedo para o apartamento de para fazer o jantar, tendo em vista que ele estava uma pilha de nervos graças ao julgamento do dia seguinte, estava tão nervoso que seus beijos eram vorazes, mexiam com de uma forma que sequer conseguia explicar a si mesma.
  Estavam juntos há poucos meses, mas a conexão que sentiam era muito mais forte do que meros dias contados.
  Assim que ela colocou a louça na pia para secar sozinha, sentiu braços fortes a envolverem pela cintura e rodear seu corpo completamente, o tronco forte e duro encontrou com as costas dela e logo após ele enterrou o nariz em seu pescoço. sorriu e colocou suas mãos ainda molhadas em cima das dele.
  - Obrigado por ter vindo hoje, sei que você está com a semana corrida.
  Era verdade. havia conseguido um novo emprego no departamento de segurança do Estado como secretária e começaria na segunda, não era exatamente o que ela queria mas valeria a pena no final das contas.
  - Não precisa agradecer, preciso disso tanto quanto você.
   fez pressão no corpo dela e afastou o suficiente para que ela se virasse de frente.
  Os dois ficaram se encarando por um bom tempo em silêncio, muito amor estava envolvido naquela troca de olhares silenciosa.
   sentia nele a força e coragem que tanto precisava para o novo passo que estava dando em sua vida, Já a calma e a certeza de que tudo daria certo.
  - Eu amo você. - ele disse.
   sorriu e colocou as duas mãos na nuca do namorado.
  - Eu sei, e você sabe o quanto eu te amo.
   colocou a mão na bochecha dela e assentiu antes de beijá-la delicadamente, fazendo-a suspirar entre o ato. Ambos se entregaram naquele momento, sentindo seus corpos pedirem por mais contato assim que as línguas se encontraram.
   se afastou o suficiente para poder recuperar o fôlego, abriu os olhos e encontrou a encarando com intensidade, eles não precisavam dizer nada. Ele firmou o contato na cintura dela e a levantou como se não pesasse nada, não perdeu tempo em entrelaçar as pernas em volta do corpo dele e deixou ser levada, sentindo as mãos fortes segurá-la com força bem próximo de seu quadril.
  Eles não se beijaram no caminho até o quarto de , não era porque não quisessem fazer aquilo, muito pelo contrário, mas estavam ocupados demais encarando os olhos um do outro.
  Apenas sentindo o amor que eles haviam dito há poucos minutos, aquilo era importante tanto quanto seus lábios se chocando.
  Isso não demorou a acontecer, quando entraram no quarto o beijo foi mais rápido, muito mais intenso, e as mãos desenfreadas percorreram os corpos.
a deitou na cama, já sem conseguir trazer seu lado gentil a tona, e seu corpo automaticamente foi para cima do de , pedindo por mais contato que veio quando ela colocou as pernas no quadril dele, dando livre acesso para que as mãos dele agarrassem as coxas dela que ainda estavam cobertas pela calça.
  Enquanto seus lábios se encontravam avidamente, as mãos faziam o trabalho de tirar as peças de roupa inúteis que atrapalhavam tudo.
teve a sua blusa jogada em qualquer canto do quarto e aproveitou para descer os beijos entre o pescoço e ombro de , a resposta dela foi segurar os cabelos dele com força enquanto mordia o lábio para controlar certos sons.
  Depois que nada mais impedia que eles se amassem, assim o fizeram com uma paixão ardente. Sussurros e palavras desconexas foram ditas, ‘eu te amo’ foi proferido várias vezes por ambos antes que o clímax chegasse e se abraçaram como se o mundo fosse acabar naquela noite.
   precisava daquilo e sabia que sim, poderia enfrentar qualquer coisa se soubesse que era isso o que teria quando chegasse em casa.
   era a sua casa.
  E ele não a largaria nunca mais, nem que isso o fizesse sangrar outra vez.

Aquela manhã. Ainda no apartamento de .
Por volta das 10:17 AM.

   tinha posto o café e estava esperando sair do banho para poder fazer o mesmo, iria com ele para a base e precisava estar apresentável, tinha levado uma muda de roupa e avisado os pais.
  Eles eram eternamente gratos por ter salvado a menininha da família, respeitavam o soldado e Joe o admirava. A acolhida calorosa da família sem dúvida tinha sido uma surpresa e tanto para .
  Ela sentiu o cheiro da colônia de e olhou para a porta da cozinha, ele apareceu ali rapidamente com apenas uma toalha em volta da cintura e respirou fundo.
  - Ás vezes acho que você faz isso de propósito. - ela negou com a cabeça e cruzou os braços enquanto ele se aproximava sorrindo maroto.
  - Isso o quê? Você fica louca quando vê o meu corpo assim? - provocou e a puxou pela cintura.
  - Você sabe que sim, seu exibido. - ela o empurrou de leve pelo ombro, ele apenas riu. - Agora eu tenho que tomar banho ou não chegamos antes das 11:30.
  Ela tentou se afastar, mas ele não soltou.
  - !
  - E o meu beijo? - pediu, fazendo-a revirar os olhos teatralmente, mas dando aquilo que pediu.
   saiu depressa quando ele a soltou ou então iriam começar uma coisa que exigiria muita força de vontade para parar e eles não teriam isso.
   pegou uma uva e voltou para o quarto para se trocar, seu uniforme formal já estava passado e tomou o devido cuidado para não amassar. Isso era um grande problema para seus superiores e num julgamento podia ser crucial.
  Ele esperou um tempo até terminar seu banho e vendo-a sair com o vestido preto simples, mas que modelava bem seu corpo, sorriu ao ver que até mesmo descalça e sem maquiagem ela ficava ainda mais linda.
   o encarou e viu que ele a olhava com a gravata na mão.
  - Quer uma ajuda com isso? - sugeriu e ele apenas concordou com a cabeça.
  Se aproximou e pegou a gravata da mão dele, colocando-a em volta do pescoço e dando o nó certo. a observava minuciosamente e sorria de lado.
  - O que foi?
  - Eu sou muito sortudo em ter você.
  Ela sorriu sem graça.
  Ainda era inacreditável que eles estavam juntos ali e trocavam carinhos como nunca, nem em seus melhores sonhos tinha imaginado que agiria como se fosse casada com no apartamento dele. Sequer imaginava que eles teriam um futuro.
  Sem dizer nada, ela envolveu os braços na cintura dele e o abraçou firmemente, sentindo-o colocar uma mão no cabelo dela e a outra em sua nuca.
  - Eu não poderia pedir por mais nada. - ela sorriu largamente ao escutá-lo e inspirou o perfume dele.
   a enchia de elogios e não cansava de demonstrar seu amor, e ela nunca sabia como retribuir então apenas mantinha contato físico. Ele prometera a si mesmo que faria de tudo para mostrar o quanto a amava verdadeiramente depois do ataque. Não era como se precisasse, ele havia tomado três tiros por ela, era mais do que suficiente.
  Entretanto ele não via dessa forma, sabia o quanto a magoou e reconquistar sua total confiança demoraria um tempo, mesmo que ela dissesse que confiava cegamente nele, sabia que um certo receio era sentido por e não a culpava.
  A única saída que encontrou era mostrar o quão especial ela era, isso ajudaria a quebrar essa barreira. Havia jurado que seria sincero sempre e em qualquer situação.
  O casal não ficou muito tempo abraçado, precisavam se apressar para terminar de se arrumar e ir para a base, isso levaria um tempo um pouco maior e seus superiores odiavam atrasos, em um julgamento isso poderia fazer a sentença ser crucial.
   colocou seus saltos depois de ter passado uma maquiagem leve, prendendo o cabelo em um rabo de cavalo firme. Já se apressou para colocar seu calçado, pegar seu óculos escuro e a boina do uniforme.
  Devidamente arrumados, eles saíram do apartamento de mãos dadas, ambos estavam nervosos e tentavam passar uma confiança inexistente.
  O destino de seria decidido naquele dia e sabe-se lá o que estava prestes a acontecer.
  Ele só pedia a Deus que seja lá o que fosse acontecer, que o final dessa história fosse feliz.

[...]

   fazia de tudo para controlar a vontade de roer as unhas, fora proibida de entrar na sala em que seria julgado e aquilo a deixou nervosa, não parava de tremer e bater o pé em um ritmo descompassado.
  “Atividade restrita é uma ova”, pensou.
  Se o Coronel e o Major levassem em conta o depoimento dela, veriam o quanto a atitude de foi heroica. Quer dizer, ele fez com que a Equipe Alfa acabasse com os rebeldes naquele mesmo dia, isso devia ser o bastante, certo? O problema estava resolvido.
  Bom, era isso o que ela e metade da população achava, que a paz havia voltado a reinar no país, mas isso estava longe de acontecer.
  Na verdade, tempos sangrentos estavam prestes a acontecer e todo o exército sabia disso, inclusive .
  A invasão dos rebeldes pela fronteira era apenas a ponta do iceberg, existe tanta coisa por baixo que ninguém sabe, o trabalho pesado estava apenas começando.
  Durante o julgamento, se manteve sério e imóvel, bateu continência para seus superiores quando chegou e sentia o olhar do Major queimar sobre si. Não havia levado bronca dele até agora e isso o preocupava, se Major Walker não tinha dado seu chilique era porque alguma coisa tinha acontecido.
  A Equipe Alfa não estava presente, era seu Capitão e exigiu lidar com as consequências de seus atos sozinho, afinal a decisão que tomou fora apenas sua. Não prejudicaria seus parceiros ainda mais.
  Porém para a sua surpresa, por ordens do Ministro da Segurança e o próprio Presidente, não seria prejudicado em sua carreira militar, mesmo sabendo que seus superiores não concordavam com tal ordem. Segundo o Presidente, o ato heroico dele não poderia ser ignorado e nem puni-lo por fazer o que o exército é obrigado: proteger as pessoas e o país.
  Mas ele havia infringido uma lei militar, se recusou a cumprir ordens e isso traria consequências, teria a subida de cargo congelada até finalizar sua nova missão que era suicida e ele não teria o direito de recusar, tinha a obrigação de finalizá-la com sua equipe, que ganhará novos membros.
  As palavras do Major Walker ainda soavam duras em seus ouvidos, “veremos o quão bom você é, ou se é apenas uma farsa” fora o que dissera.
  Engraçado que não foi o Major que estava ali para salvar e metade do país.
  A farsa não era ele, um simples soldado.
  Só que sabia que sua punição era mais do que aquilo, ele tinha certeza que o Major havia transformado aquilo em uma guerra pessoal. Ele não era idiota, afinal era uma joia rara que o Major queria em seu domínio e o fato de ter acabado com qualquer plano dele conseguir isso, tinha aumentado a fúria de seu superior.
   respirou fundo assim que se retirou da sala, haviam sido duas horas bem longas de julgamento e ele só queria ir para casa antes que seu trabalho sugasse suas forças como nunca.
estava esperando numa salinha próxima dali reservada para ocasiões como aquela, se levantou da poltrona que sentava quando viu a figura do amado se aproximando. A expressão dele era indecifrável e isso a preocupou.
  - Está tudo bem? - perguntou, receosa.
   sorriu de leve e a segurou pela cintura, depositando um beijo suave na bochecha dela logo em seguida.
  - Está sim. - respondeu rápido. - Se importa de esperar um pouco aqui? Preciso fazer uma ligação.
  - Não, tudo bem. Eu espero. - ela sorriu para ele, notando que o semblante mudou para um ar mais sério.
  - Eu não demoro. - garantiu e se afastou, já tirando o celular do bolso.
   suspirou ao encará-lo ir, não fazia ideia o que tinha acontecido e a forma como ele estava agindo não ajudava em tentar desvendar.
  - Achei que ele não fosse embora logo. - uma outra voz surgiu atrás de e ela pulou de susto, se virando para quem fosse que estivesse atrás dela.
  Reprimiu a vontade de bufar quando o olhou.
  - Major. - apenas abaixou a cabeça rapidamente, não sabia como reagir, ela era uma civil e não tinha o porquê de bater continência, mas ainda respeitava o cargo dele.
  - . Continua tão bonita como da última vez em que a vi.
  ‘Tão bonita como da última vez em que a viu’? Levando em consideração que ela estava com a boca cortada, a roupa suja de sangue por causa dos tiros que levou e o desespero que estava no hospital, não achava que o elogio era verdadeiro.
  Ela desviou o olhar para qualquer outro lugar, aquilo não era uma situação confortável de se estar e o Major não tornava nada mais fácil.
  - Como vai a vida de comprometida?
  Depois do ataque dos rebeldes, sabia que a partir do momento em que estivesse com , as pessoas o usariam para atacá-la emocionalmente e vinha treinando sua cabeça para que estivesse preparada para isso.
  Não era surpresa que o Major fosse o primeiro a usar esse método, aparentemente ele ainda tinha uma quedinha por ela mesmo tendo levado um fora.
  Ela optou por não responder, olhava para todos os lados à procura de , que parecia demorar uma eternidade para aparecer.
  O Major riu irônico.
  - anda te ensinando direitinho, não é? - foi involuntário, mas o encarou assim que escutou o nome do amado, foi um erro porque o Major sabia que essa era a fraqueza dela e agora com a confirmação, não iria parar. - O gato comeu a sua língua? - provocou.
   suspirou.
  - Não, só uso minha educação pra quem merece.
  Aquilo tirou o Major da guarda por um minuto, não estava acostumado com as pessoas retrucarem, ele mandava e elas obedeciam.
parecia inocente e quieta, mas sua língua era afiada, era ousada quando precisava.
  Se sentindo desconfortável com o sorriso de lado que ele a lançava e a forma como a encarava, pediu para que chegasse logo e eles pudessem ir embora dali.
  E de fato aconteceu, ele voltou mas ficou tenso com a presença do seu superior. O respeitava como líder, mas tinha nojo de quem ele era, agora mais do que nunca.
   se aproximou e fez questão de segurar pela cintura, não porque queria exibir como se fosse um troféu, mas porque ela tremia e parecia estar prestes a desmoronar com aquela situação.
  - Podemos ir. - anunciou. - Está tudo bem? - perguntou baixo para que apenas ela ouvisse, embora soubesse a resposta.
   apenas balançou a cabeça freneticamente afirmando, mas sua cara dizia outra coisa.
   olhou para o Major, gostaria de poder ignorar sua presença, mas ele era obediente, era a sua natureza de bom soldado.
  - Senhor. - bateu continência.
   respirou fundo e olhou para como se implorasse que eles fossem embora, sabia que ele entenderia mesmo sem precisar olhá-la.
  - Dispensado, soldado. Nos vemos em breve... - Major falou de uma forma provocativa e ambos não sabiam para quem ele havia se dirigido.
   fez pressão na cintura de para que eles pudessem sair dali e ela suspirou alto quando chegaram do lado de fora do prédio. Os dois sentiam a tensão pelo corpo todo e assim que trocaram olhares sabiam que teriam uma longa noite de amor para poder esquecer os problemas que agora iriam aparecer com mais frequência do que sequer imaginavam.

[...]

  Spero e Shalom significam esperança em latim e paz em hebraico, respectivamente, coincidentemente eram também os nomes - agora oficiais - dos dois países que assinaram o Tratado dos Vilarejos.
  O Brasil fora dividido ao meio depois de uma longa discussão do congresso sobre como se governar um país tão grande e com áreas tão diferentes. Foi decidido então que o Norte e o Sul se separariam, uma ação que fora movida pelo próprio Sul, levando em conta o Centro-oeste do país que era tão produtivo quanto o próprio Sul. Depois de um longo tempo fazendo acordos, o Norte aceitou com a expectativa de poder ser governado da forma correta sem esquecerem de nenhum canto. Era a oportunidade perfeita de fazer tudo certo como se fosse a obra de arte pronta e o Brasil em si apenas o rascunho.
  Spero era o Norte, Shalom o Sul. Nomes bem sugestivos para as regiões.
  Tudo parecia ir bem, mais independência para as regiões que ansiavam por isso há muito tempo, mais controle em relação a diversas áreas, o povo mais satisfeito.
  Foi então que a primeira guerra aconteceu, rebeldes e revolucionários que não concordavam com aquela situação. Obviamente morte de inocentes passaram de um número razoável e começaram a assustar o resto da população, não era apenas rebeldes contra militares, era muito mais. Vizinho contra vizinho, irmão contra irmão. Brasileiro contra brasileiro.
  O presidente de Spero queria vingança, ele era simpatizante com a causa dos rebeldes e seu coração estava manchado com o sangue de todos aqueles que morreram pelo movimento, foi então que convocou todos os homens do país a servirem no seu exército e atacar sem nenhum aviso Shalom. Foi um verdadeiro massacre que custou a cabeça do presidente e uma punição para todos aqueles que concordaram, e para que jamais aquilo acontecesse novamente, o Tratado fora imposto.
  O fato era que os dois países nunca estiveram em paz e provavelmente nunca estariam, o perigo era iminente e os inimigos jamais estariam satisfeitos, eles sempre retornavam.

   passava essa história em sua cabeça várias e várias vezes, ele nasceu em Shalom e conhecia sobre a guerra como todo cidadão comum do país. A história vinha para assombrar sua mente, mas sua expressão não denunciava a confusão que sua cabeça estava. Não queria preocupar com seu trabalho, era difícil até para ele assimilar tudo aquilo, imagina para ela. Fora que era obrigado a manter sigilo sobre suas missões então não poderia falar nada.
  Tentou prestar atenção no que ela dizia sobre o jantar que eles organizaram com Soares e Lynn naquela noite, ela não parava de tagarelar sobre o quanto estava feliz de poder rever a amiga que voltava de viagem depois de dois anos.
  - ...daí eu pensei nisso, o que acha? - sorriu para o amado, mas ao encará-lo notou que ele olhava fixamente para a rua sem nem ao menos piscar. - ? - pensou em cutuca-lo mas tendo em vista que ele era um soldado com reflexos rápidos e que estava dirigindo, decidiu apenas chamar sua atenção falando alto.
  - Sim? - ele voltou os olhos para ela por poucos segundos antes de entrar no bairro conhecido.
  - Você não me escutou. - não era uma pergunta.
  - Eu… desculpa, amor. - ele balançou a cabeça e a simples palavra ‘amor' fez sorrir brevemente, porque ela voltou a ficar séria já que tinha notado como ele estava preocupado.
  - Aconteceu alguma coisa no julgamento? Você está quieto desde a hora que saímos.
  - Tá tudo bem, sério. – garantiu, mesmo sabendo que aquilo era uma tremenda mentira.
  - E desde quando tudo fica bem no exército? - ela perguntou e o encarou desconfiada.   Ele riu sem humor. Pior que ela tinha razão.
  - Não é nada demais, eu só tô pensando nas coisas que tenho que fazer amanhã.
  - Se eu bem me lembro - ela levantou a mão para poder acariciar a bochecha dele com a ponta dos dedos. - alguém tinha me dito para não me preocupar demais com o futuro.
  Mais uma vez ele riu, dessa vez se lembrando das mesmas palavras que haviam saído de sua boca quando estava assustada com o rumo que seu relacionamento tomaria depois que saísse do hospital depois do ataque.
  - É, talvez você tenha razão. - ele parou o carro em frente ao seu prédio e a olhou ternamente. - Eu devia me preocupar com coisas mais importantes. - desafivelou o cinto e virou o corpo para ela da forma que o carro lhe permitia.
  - Ah é? - ela sorriu e uma de sua mão foi para o peitoral dele. - Tipo o quê?
  - Isso aqui. - passou a língua nos lábios rapidamente antes de selar com os de , só deu tempo dela suspirar e fechar os olhos antes de senti-lo.
  Os beijos do casal sempre tinham um significado, nem sempre transmitiam apenas paixão ou desejo, ia muito além disso. procurava em naquele momento o combustível necessário para que lembrasse o que ele era, um bom soldado que faria o bem para o país não importava o que acontecesse. sentia o desespero dele, por isso fez com que o beijo fosse lento e significativo para o que ele estava necessitando, sem pressa e com todo o amor que ela sentia.
  Esse beijo ficaria na cabeça de para sempre, porque seria dele que o soldado tiraria forças nos momentos mais obscuros e difíceis. E estes iriam começar a partir de agora.

[...]

   estava uma pilha de nervos. Cozinhar sempre fora uma arte para ela, não foi a toa que ela se formou na escola técnica em culinária, mesmo não tendo tido tempo de viajar pelo mundo para poder adquirir mais conhecimento, mas com perguntando o que tinha que fazer a cada cinco minutos para poder ajudá-la estava fazendo-a perder a concentração. Depois da primeira hora, ela apenas disse para que ele fosse arrumar o apartamento que estava uma zona. Não queria que os amigos comentassem depois como a casa deles era bagunçada.
  Espera… a casa deles?
   parou o que estava fazendo por um minuto ao reparar que pensava como se ela e fossem casados, como se aquela fosse sua própria casa.
  - Amor. - a voz de apareceu do nada na porta da cozinha e ela pulou de susto, estava totalmente longe dali.
  - Ai que susto! - virou para encará-lo, que riu da cara dela. - O que foi?
  - Connor disse que ele e a Lynn chegam em quinze minutos, você não quer ir se arrumar? Eu olho a comida. - ele se aproximou, fazendo-a relaxar.
  - Sim, é melhor mesmo.
  - Ei. - a chamou quando ela se virava para ir embora, assim que os olhos dela voltaram para encará-lo, depositou um beijo rápido nos lábios dela.
  Eles não disseram nada, nem era preciso, apenas se afastaram e cada um foi fazer o que devia.
   não tinha muito o que fazer, só observar a comida no forno para que não queimasse.
  Já estava alheia a tudo, pegou a roupa que tinha separado e foi tomar banho, não deixou de pensar na forma como ela e o namorado agiam como se fossem casados. Não que fosse ruim, muito pelo contrário, mas o relacionamento dos dois estava tão forte em tão pouco tempo que ela sequer tinha reparado.
  Foi então que sua mente viajou para o primeiro dia em que ficou em coma depois do ataque dos rebeldes, jamais se esqueceria daquele dia.

Há 7 meses. Hospital Geral.
Às 4:46 AM. Sala de espera.

   sentia os olhos pesarem, os médicos passavam, mas nenhum deles tinha uma boa notícia, aliás nenhum deles tinha um resultado decente há horas.
  “Ele entrou em coma induzido, o cirurgião achou melhor. perdeu muito sangue.”
  “E o que acontece agora?”
  “Nós esperamos”

  Não conseguia parar de pensar naquela breve conversa com o médico que atendera quando ele chegou na emergência.
  Não queria esperar, queria que ele acordasse.
  Respirou fundo mais uma vez e passou as mãos no cabelo, completamente frustrada. Tej não estava mais lá, ele era o 2°Tenente e estava em reunião com o Major.
  Ele não foi muito específico, ou não escutou mais detalhes.
  - Cadê o meu filho? - escutou uma voz esganiçada e desesperada. - Eu quero ver meu filho agora. - olhou em direção a mulher que falava alto e pôde ver que por mais acabada que ela estivesse, ainda estava elegante. Por um momento, o formato do rosto dela era familiar.
  Sentiu a mulher olhar para ela e viu o semblante dela mudar, agora encarava com fúria e desprezo, viu a mulher caminhar até ela e não fez nada.
  - Eu não acredito que você está aqui, você é muito cara de pau mesmo. - olhou confusa para a mulher que praticamente cuspiu as palavras em sua cara.
  - Como?
  - Não se finja de cínica, garota, se o meu filho está aqui a culpa é toda sua!
   piscou algumas vezes, não estava entendendo o que aquela mulher estava falando e pior, porque gritava com ela.
  - Ah, não sabe do que eu estou falando? - sentiu o queixo cair quando a mulher falou novamente, era quase como se tivesse lido seus pensamentos, na verdade ela tinha reparado a expressão confusa da jovem. - sequer te mostrou uma foto da mãe dele? - riu amargurada. - Eu sabia! Foi por você que ele foi embora de casa, por você que ele renegou a família e por você que ele tomou três tiros. - a mulher levantou o dedo e apontou na cara de que estava totalmente sem reação. - Se você acha que eu a perdoarei por isso, está enganada. Eu jamais serei a favor desse romancezinho bobo de vocês, meu filho vai perceber o que ele deixou pra trás e irá te deixar. Não pense que o ganhou, você nunca poderá dar a ele a vida que o meu merece. Se você acha que um dia se casará com ele então saiba que eu farei de tudo para que este dia não chegue, e se chegar, desejarei que sejam infelizes.
  A mulher partiu como chegou, rápido demais. sequer conseguiu piscar na presença dela e durante suas acusações, quando ela foi embora sua ficha caiu, tinha finalmente conhecido sua sogra que a odiava mais do que tudo.

Atualmente. Apartamento do .
21:00 PM

  O jantar tinha fluído na mais perfeita ordem, e Lynn não conseguiram conter seus gritinhos ao verem uma a outra depois de tanto tempo e os rapazes apenas acharam graça enquanto se cumprimentavam com um aperto de mão e tapinha nas costas, a comida estava divina e fora elogiada pelos amigos várias vezes. Connor havia trazido algumas cervejas, com a desculpa de que como soldados eles não poderiam beber, mas agora que estavam de “férias” tinham que aproveitar, os casais se reuniram na sala de estar e começaram a jogar o papo fora.
  - Como foi a ida para o Canadá, Lynn? - perguntou enquanto colocava a mão na perna de , ela havia melhorado o humor com a presença da melhor amiga e daquele ar mais leve que o casal trouxera.
  - Maravilhosa, Vancouver é incrível. Uma pena que o Connor não pôde ir comigo. - ela fez um biquinho e o namorado riu.
  - Me desculpe, amor, eu tinha um país para salvar. - brincou, dando um beijo na bochecha dela.
  Lynn fora para o Canadá para estudar Moda, clichê, mas ela havia conseguido uma bolsa muito importante e difícil num período integral com a oportunidade de já atuar no mercado em uma Boutique famosa de lá, foi de curto prazo mas que fazia a bagagem profissional dela alavancar em comparação às concorrentes no país.
  - É muito ruim você ir para uma cidade toda romântica sem o seu parceiro, não tentem fazer isso. - aconselhou e foi a vez do outro casal rir.
  - Não se preocupe, amiga, não tenho intenção nenhuma de sair do país tão cedo. - falou e Lynn rolou os olhos teatralmente.
  - Claro que não, agora que você finalmente tomou vergonha na cara e está com o .
  - Lynn!
  - O quê? - a amiga levantou as mãos para cima. - Não é como se ele não soubesse que você sempre foi louca por ele né, dá um tempo.
   olhou para a amada que estava ficando vermelha e conteve a vontade de agarrá-la ali mesmo na frente dos amigos.
  - Fica quieta, não é só por causa disso. Eu tenho um emprego agora, tá bom.
  Todos riram e Lynn aplaudiu a amiga, embora não tivesse gostado muito da ideia da amiga ter largado o que ela mais amava fazer que era cozinhar, estava feliz por ela conseguir ajeitar a própria vida e principalmente, por estar com ao seu lado.
  - Você não é a única a ter novidades por aqui. - Lynn falou e olhou para Connor, os dois sorriram cúmplices.    e ficaram confusos, trocaram olhares, mas ambos não sabiam de absolutamente nada.
  - O quê? - perguntou.
  Lynn remexeu na bolsa e a olhou desconfiada.
  - Não me diz que você está grávida.
  Lynn parou e encarou a amiga, Connor arregalou os olhos e instantaneamente ficou branco como papel e virou motivo de piada para , que agora gargalhava da cara do amigo.
  - Pela cara do Connor, amor, tenho certeza que não é isso. Ou então seria uma surpresa pra ele também. - brincou.
  - Deus, , se você quer uma criança brincando por aqui, faça um filho você mesma. - Lynn retrucou e foi a vez do outro casal ficar sério, Connor não perdeu a oportunidade de rir do amigo. - Ok, vocês são péssimos para adivinhar então só leiam. - Lynn entregou um envelope para o casal.
   o pegou e se aproximou mais para poder ver o conteúdo, o envelope era marfim e com as iniciais do casal juntas em uma caligrafia fina.
tirou o papel de dentro do envelope e o queixo do casal caiu ao ler o conteúdo.

“Connor Soares e Lynn Alcantara alegremente os convidam para o seu casamento…”

   olhou para o casal, sentindo seus olhos lacrimejarem de felicidade.
  - Vocês vão se casar? - foi uma pergunta idiota, afinal a resposta estava nas mãos de , porém foi a única coisa que ela conseguiu dizer.
  Connor assentiu, com um sorriso de orelha a orelha.
  - Queríamos que vocês fossem os primeiros a saber, até porque vocês fazem parte da nossa história. - Lynn estava prestes a chorar também e sentiu o noivo acariciar sua mão levemente.
  - E também queremos que sejam os padrinhos. - Connor acrescentou e esperou a resposta do casal.
  Embora estivessem felizes pelos amigos, as reações foram totalmente contrárias do que realmente sentiam. olhava para o convite como se aquilo fosse uma bomba que estava prestes a explodir em suas mãos, Connor merecia e era um sortudo por ter encontrado alguém como Lynn, mas também sabia o porquê de tudo aquilo e de repente lhe bateu uma tristeza. Não era tristeza do amigo, mas de si mesmo.
   estava a ponto de chorar por dois motivos: estava tão feliz pela amiga, se conheciam desde sempre e agora estava prestes a vê-la se casar, mas também estava triste porque no final, ela queria estar no mesmo lugar que a amiga, mas nunca poderia.
  - Não dá pra recusar um convite desses. - respondeu e sorriu para os amigos, Lynn percebeu que tinha alguma coisa errada e tratou de fazer algo.
  - Perfeito, vamos pegar as cervejas para comemorar então. - Lynn não esperou uma resposta e puxou a amiga pelo punho para a cozinha no mesmo instante. - Vai, fala. - soltou a amiga e cruzou os braços.
  - Lynn, eu juro que estou feliz por você se casar com o Connor, não me entenda mal.
  - Eu sei, , sei que você está feliz e que nunca ia recusar a ser a minha madrinha. - suspirou aliviada. - Mas também sei que tem mais alguma coisa.
   respirou fundo antes de olhar para a amiga.
  - O que o Connor te contou exatamente?
  - O resumo, que você e o acabaram se reaproximando na guerra contra os rebeldes, que você foi feita de refém e ele fez o impossível pra te salvar, e agora estão juntos oficialmente.
  - O que ninguém sabe é que eu conheci a minha sogra no hospital quando o estava em coma. - contou e a amiga ficou chocada.
  - Espera, a sua sogra? A mulher que te odeia porque você é de uma classe social inferior da dela? - assentiu. - E é claro que ela te encheu de xingamentos. - adivinhou.
  - Você conhece essa gente melhor do que eu. - Lynn rolou os olhos, infelizmente era verdade. - Ela me ameaçou.
  - O quê?
  - Ela disse que eu nunca casaria com o e que ela vai fazer de tudo pra isso não acontecer.
  - Mas que mulherzinha mais baixa… Você falou com o ?
  - Não, você tá maluca? Eu não posso.
  - , sua sogrinha amada te amaldiçoou. Você tem que falar com o seu namorado.
  - teve e ainda tem problemas demais com os pais pra encher a cabeça dele com mais. - suspirou e a amiga riu desacreditada.
  - Quando você vai aprender a alertar ele sobre o que a família querida faz com você?
   não se moveu um milímetro sequer depois que as meninas foram para a cozinha, Connor o observava atentamente, sabia o que o amigo pensava e tentava achar uma forma de consolá-lo.
  - … - chamou a atenção, o amigo apenas o encarou sem dizer nada. - Sabia que ia acontecer, eu tinha que fazer isso.
   respirou fundo e pensou bastante antes de falar.
  - Eu estou feliz por você, cara, é só…
  - Você sente muito pelo o quê vai acontecer com a Lynn quando eu não estiver mais aqui.
   massageou a nuca, era um cara de poucas palavras, seus gestos bastavam.
  - Devia fazer a mesma coisa com a , enquanto ainda está aqui, sabe.
  - Nós somos soldados. - começou, coçando a nuca. - E esse novo trabalho… não vai ser a coisa mais fácil que já fizemos e não quero… eu não sei se é justo com ela fazer isso. Dar esperança depois que… você sabe.
  - Mas é melhor deixar que ela fique com uma pequena lembrança sua do que apenas dor.
  Connor fez se calar, aquilo era verdade e machucava o peito dele em ter que admitir pra si mesmo.
  Estava sendo egoísta, mas o peso que sentia nas costas por conta da sua equipe e das famílias de seus soldados era grande, ele era o responsável por eles e sua cabeça não parava de pensar em tudo que ainda iria acontecer.
  - Consegue imaginar a Lynn carregando uma miniatura sua?
  Connor sorriu largamente.
  - É o que eu mais quero na vida.
   respirou fundo e desviou o olhar do amigo, não podia recriminá-lo por isso, desde que conhecera Lynn sonhava em construir uma família com ela e sabia disso, e o apoiava.
  Mas agora a situação mudava, ambos tinham plena consciência disso.
  Porém, não podia ser egoísta, era uma escolha do amigo e não podia fazer nada além de apoiá-lo.
  - Não espere que eu chore na cerimônia, sabe que não acontece fácil. - falou, vendo Connor sorrir agradecido.
  As meninas voltaram para a sala com as garrafas de cerveja na mão, era a única que não iria beber - não era muito fã de cerveja -, a conversa se estendeu sobre o casamento e a viagem de lua de mel que os noivos estavam planejando.
  Foi um final de noite bem agradável, embora e não estivessem se encarando até o momento, ocupados demais em pensarem em seus próprios problemas sem coragem para compartilhá-los, eles se prontificaram em ajudar os amigos no que fosse necessário. com a parte mais decorativa e chata, e com a parte braçal. Teriam que correr atrás da roupa adequada já que o casamento seria dali a dois meses, em cima da hora, mas fariam de tudo para que desse certo.
  Quando os amigos anunciaram que iriam embora já era tarde, estava cansada e ansiosa pelo dia seguinte de trabalho, se despediram com abraços calorosos e ficaram em silêncio por um longo tempo.
  Sem dizer nada, foi pegar sua bolsa e seus sapatos para calça-los e ir para casa, por mais que gostasse da ideia de morar com , aquela ainda não era sua casa.
  - , você não quer… - começou a falar depois que viu a namorada colocar o sapato.
  - Eu acho que nós dois precisamos passar essa noite sozinhos. - ela interrompeu de modo suave.
  Não estavam brigados ou coisa do tipo, mas ela estava certa, tinha muitas coisas para pensar e precisava de um tempo sozinha, organizar a cabeça enquanto podia.
Amanhã seria um longo dia.
  - Eu te levo então. - ele decretou, pegando as chaves do carro em cima da mesinha da sala.
  Ela concordou e pegou a bolsa, saindo do apartamento com atrás dela trancando-o logo que passou pela porta. O caminho até a casa de foi tão silenciosa quanto a ida deles ao carro, não era um silêncio que incomodava os dois. Muito pelo contrário, eles precisavam daquilo.
   estacionou na frente e respirou fundo antes de olhar para , ela tirou o cinto e colocou o cabelo atrás da orelha antes de encará-lo.
  - Boa sorte amanhã no emprego. - a mão dele que não estava no volante tocou a bochecha dela e fez um carinho gostoso.
  - Eu estou nervosa. - confessou.
  - Não fique, no final tudo vai ficar bem. - ela concordou mas não falou nada.
   se aproximou para beijá-la na testa de forma doce, ela aproveitou para fechar os olhos e sentir os lábios dele em sua pele.
  - Eu amo você. - sussurrou, fazendo-a suspirar.
  - Você sabe o quanto eu amo você. - ela respondeu o que costumava, vendo-o sorrir.    saiu do carro, acenando para o namorado e entrando em casa rapidamente. só deu a partida quando viu que estava dentro e segura em casa, tinha pegado essa mania depois do ataque, para soldados como ser cauteloso e esperto depois de lidar com bandidos era mais comum do que aparentava, embora ninguém realmente notasse isso, inclusive .
  Mas o que os dois não sabiam era que um carro preto analisava cada passo deles no final da rua.

Capítulo 02 - We're on the frontlines

  A manhã foi conturbada para , ela pediu ajuda da mãe para achar a melhor roupa para o primeiro dia no emprego novo, precisava estar o mais perfeita possível, seria secretária no departamento de segurança e não poderia ir de qualquer jeito.
  No fim, resolveu ir de forma simples, mas elegante, vestindo uma calça flare preta e uma blusa de mangas compridas branca com um salto também preto, colocou um colar simples que lhe deu um toque especial ao visual e para completar, a maquiagem não era forte, sequer precisava, mas achou melhor não chamar a atenção demais logo no primeiro dia.
  Se despediu dos pais e foi de metrô, não era longe de sua casa, precisou respirar fundo várias vezes antes de entrar no prédio. Deu bom dia aos seguranças e passou seu crachá no leitor para ter a passagem liberada, feito isso seguiu para o último andar e se apressou para ligar o computador e arrumar sua mesa conforme achava necessário.
  Não demorou muito para escutar o barulho do elevador parar em seu andar e sentiu as mãos suarem, respirou fundo e passou as palmas na calça antes que o chefe visse o quão nervosa estava.
  Assim que o senhor que aparentava ter a mesma idade de seu pai apareceu em seu campo de visão, tratou de sorrir cordialmente.
  - Bom dia, senhor Campos.
  - Bom dia, . Tenho uma reunião particular com um grande agente agora pela manhã, me avise assim que ele chegar.
  - Sim, senhor! - assentiu e esperou o chefe entrar em sua sala para de jogar na cadeira, liberando todo o ar que tinha prendido.
  Era uma situação nova para , sempre trabalhara em restaurantes porque sabia que era isso que queria fazer pelo resto da vida, nunca havia trabalhado em um prédio e tendo um militar como chefe.
  Seus chefes eram sempre pessoas de idade que admirava e a tratavam como uma neta.
  Campos podia ser bem mais velho, mas o fato de ser Capitão Reserva do Exército fazia suas pernas tremerem, ele era uma autoridade e da mesma patente que . A diferença era que deixava suas pernas moles porque estava apaixonada por ele.
  E Campos parecia ser um homem muito severo, não era atoa que servira na primeira guerra dos rebeldes e assumiu o cargo mais alto do departamento de segurança.
  “Chega de pensar nisso, foca no serviço!”, falou para si mesma e tratou de cumprir.
   estava atualizando a agenda de seu chefe quando fora anunciado que o agente havia chegado para a reunião, liberou a entrada e avisou o chefe, que pediu para que ela o acompanhasse até sua sala quando subisse.
  No momento em que o elevador chegou no andar, deixou com que a caneta que usava para marcar telefones importantes caísse no chão, se abaixou para pegar no exato momento em que o agente chegava e ia em direção a sua mesa.
  Ela tentou pegar a caneta depressa e acabou batendo a cabeça na madeira, fechou os olhos ao sentir a dor e prontamente colocou a mão no local machucado.
  Quando voltou a ficar ereta novamente, abriu o olho e desejou não ter feito isso, ficou sem fala ao ver a última pessoa que gostaria naquele momento.
  - Major Walker. - cumprimentou contra sua vontade e sentindo sua cabeça latejar.
  - , mas que bela surpresa. - sorriu para ela, que respirou fundo. Teria que ser educada e profissional.
  - O Capitão Campos o aguarda, queira me acompanhar, por gentileza. - apontou para frente e saiu de sua mesa, sentindo que o Major a encarava fixamente enquanto o guiava.
  Sentiu um arrepio ruim passar pela espinha mas tratou de ignorar, bateu na porta e assim que escutou o chefe autorizar, a abriu e deu espaço para que o Major passasse.
  Ele o fez mas de propósito deixou que seu corpo quase tocasse o de e a olhou enquanto sorria.
  - Obrigado. - falou baixo e ela olhou para qualquer outro lugar menos para ele.
  - Walker! Feche a porta, por favor, . - Campos pediu.
  “Com prazer”, pensou.
  - Com licença. - o fez e praticamente saiu correndo para o banheiro.
  Parou em frente ao espelho e passou a mão no rosto, respirando fundo várias vezes. Campos havia dito que a pessoa que estava esperando era importante e que não saía do departamento, vinha conversar a respeito da segurança pública por pelo menos duas vezes por semana. O que significava que o Major era confiável e muito requisitado pelo chefe, encontraria com ele toda a semana de agora em diante e teve uma sensação horrível.
  Suspirou antes de voltar para a mesa antes que o chefe notasse que tinha saído, tudo o que queria era o abraço reconfortante de mas não o teria por agora.

  Aquele não foi um dia fácil para , tudo parecia conspirar para ser um péssimo dia, típico de uma segunda. Quando achou que melhoraria ao ver a mensagem de no celular, um balde de água fria fora jogado em sua cabeça.

“Estou atolado de trabalho, vou chegar muito tarde.
Não sabe o quanto eu queria estar com você agora.
O dia está uma merda.”

“Bom, pelo menos nisso nós combinamos hoje.
E olha o linguajar, !”
, respondeu.

“Posso ver seu bico daqui por causa da palavra feia que usei.”

“Seus pais não te deram educação não?”

“Você não reclama em certas horas ;)”

   sorriu sem graça.

“Bobão”

“Eu te amo”

  Ela suspirou e respondeu de volta, deixando o celular de lado logo depois, precisava se concentrar e conversar com não iria ajudar em nada. Pelo menos, não naquele momento.
  A reunião do chefe demorou horas, sequer podia imaginar do que se tratava e sinceramente, quem era ela para se meter naquele assunto? Pouco se importava, ainda mais sabendo que Major Walker estava ali.
  Ela tornou o dia bem produtivo, separou os compromissos mais importantes do chefe e alguns recados que deveria passar, não era um trabalho muito difícil. Quer dizer, o chefe tinha mais reunião do que qualquer outra coisa.
   estava para fazer seu horário de almoço quando a reunião acabou, o chefe se despediu do Major e avisou a ela que ficaria na sala, dando autorização para que ela saísse. Respirou fundo ao notar que o Major havia segurado o elevador para que ela entrasse junto com ele, agradeceu com um sorriso forçado e ficou em silêncio enquanto a cabine descia, ao que parecia, mais devagar do que deveria.
  “Contanto que eu não fique presa com ele nesse cubículo”, pensou.   A presença do Major a assustava, sabia que ele a encarava sem vergonha alguma e isso a deixava desconfortável.
  Depois do ocorrido há meses atrás, não conseguia mais ter simpatia pelo Major, era estranho porque aparentemente ele não havia feito nada mas sentia como se ele tivesse mudado.
  Major Walker estava mais sério, seus olhos mais agressivos e sua postura mais rígida, a invasão dos rebeldes havia mudado muita coisa e a personalidade do homem estava nessa lista.
   tentou não demonstrar a alegria que sentiu quando o elevador parou no térreo, seria indelicado demais de sua parte, segurou melhor sua bolsa e saiu dali.
  - . - escutou seu nome e parou antes de conseguir sair do prédio.
  - Sim? - encarou o Major, ele estava atrás dela.
  - Parabéns pelo novo emprego. - congratulou.
   reprimiu a vontade de franzir a testa.
  - Obrigada, Major. - respondeu, educada.
  - Até quarta. - sorriu para ela e foi embora, deixando-a confusa.
  Aquele dia definitivamente poderia acabar.

[...]

  - O que é isso? - perguntou, encarando a pasta já cheia de arquivos. Aquela documentação era uma bomba relógio pronta para explodir em seu colo. - Não tinha dito que não acreditava em você, só que seria impossível provar.
  - Nem tanto.
  - Quanto mais você precisa? - chiou.
  - Acho que você tem uma noção.
  - Não acredito que tenha muito tempo para isso.
  Riu, achando engraçado o desespero estampado em sua cara.
  - Se eu fosse você achava um tempinho. Vai adorar saber quem são os militares envolvidos na invasão dos rebeldes.

[...]

  O expediente acabou se tornando bem exaustivo para , não parecia, mas andar pra lá e pra cá com aquele salto e roupas sociais enquanto acompanhava os convidados do chefe para suas respectivas reuniões era bem cansativo. E chato.
  A volta para casa a deixou ainda mais esgotada, chegou e foi direto tomar um bom banho, quando terminou colocou roupas finas para aguentar aquele calor, foi jantar o que a mãe havia preparado e conversou com seus pais sobre o primeiro dia de trabalho.
  A conversa fora breve e logo estava na cama, mal conseguiu mandar uma mensagem para perguntando se ele havia chegado, assim que deitou na cama, dormiu quase que instantaneamente.

   era arrastava para uma linha de fumaça que não saía de sua cabeça, a cena em que ela era feita de refém por Vincent era repetida inúmeras vezes como um loop, o medo que sentia e o pavor porque tinha uma arma apontada para sua cabeça, tudo estava ali de novo.
  Porém, dessa vez quando chegava perto de , ao invés de ficarem próximos, eram afastados mais ainda. E então, ele levava os três tiros de novo.
   queria gritar, mas sua garganta não conseguia produzir nenhum som, estava aflita porque agora parecia que era apenas uma mera espectadora e isso não resolveria nada.
  Queria gritar. Queria correr. Queria chorar.

   se movimentou pesadamente na cama e acordou de forma brusca, sentindo as lágrimas escorrerem pelo seu rosto e descerem da orelha para se perderem em seu cabelo. Sentia o coração bater aceleradamente e puxou o ar, notando que a nuca molhava parte do travesseiro.
  Tinha sido um sonho, só mais um daquele dia horrível que não a abandonava nunca.   Como de costume, porque os pesadelos eram frequentes - “sequela do ataque”, como havia dito a primeira vez -, pegou o celular ao lado da cama e desbloqueou a tela.
3:38 A.M.
  Respirou fundo antes de ligar para o namorado, sem hesitar por conta do horário, no segundo toque a ligação fora atendida.
  - Alô? - fechou os olhos ao escutar a voz rouca de , precisava tanto daquilo naquele momento.
  - Sou eu, amor. - sussurrou porque não tinha forças depois do pesadelo.
  - … - despertou, a voz da amada estava fraca, sabia exatamente o que significava. - Aquele pesadelo de novo? – perguntou, mas nem precisava de uma resposta porque tinha certeza que era.
  - Sim. Eu precisava escutar sua voz pra ver que não era real.
  - Tudo bem, amor, eu estou aqui. Você está bem, está segura.
   mordeu o lábio para conter a vontade de chorar.
  - Era tão real, tive medo… - admitiu.
   sentiu como se tivesse levado um tiro de novo, mas dessa vez em seu coração quando escutou a voz frágil de . Doía tanto.
  - Não tenha medo, escute a minha voz. Eu estou bem e estou com você. Ninguém nunca vai te machucar de novo, tudo bem?
  - Uhum.
  - Agora deite na cama, - pediu e ela o fez, se aconchegando melhor. - feche os olhos e se concentre apenas na minha voz.
   o fez, agora com a respiração voltando ao normal.
  - Queria que estivesse aqui. - ela falou um pouco sonolenta, a voz de era como uma canção de ninar.
  - E estou, me imagine te abraçando. Sempre estarei com você, meu amor. Para sempre.
  Ela fez isso, imaginou ali, seu calor envolvendo seu corpo de uma forma tão agradável. O carinho que ele geralmente fazia no braço dela poderia praticamente ser sentido. sorriu de leve, inflando os pulmões e lembrando do cheiro dele.
  Com a voz suave dele no telefone e seu perfume em sua memória, ela adormeceu novamente. Dessa vez sem pesadelos.

[...]

  A semana se arrastou daquela forma, e ocupados demais com seus respectivos empregos, geralmente telefonavam um para o outro no final do expediente, o fazia porque se preocupava em saber se estava sendo assombrada por seus pesadelos novamente. Tudo o que ele queria era encontrá-la e abraçá-la tão forte que ela iria rir em seu ouvido e cutucar suavemente em seu braço para mostrar que estava sendo esmagada, não que ela reclamasse quando isso acontecia, afinal amava o abraço dele.
  Enquanto estiveram separados na semana, antes de adormecer relembrava o dia em que conhecera , sorria toda vez que as memórias dominavam sua cabeça.

Há 4 anos. Casa da Lynn.
Por volta das 19:30 PM.

  A festa de aniversário de Lynn era para ser uma reunião pequena e sofisticada, com os amigos mais íntimos da mulher, mas sabia o quão exagerada a namorada do melhor amigo era então não foi surpresa nenhuma se deparar com a luxuosa casa repleta de gente.
  Ele não gostava de reuniões daquelas, especialmente porque os pais queriam que aquilo fosse sua vida, mas ele odiava ser sociável com pessoas que não se importam com o que você sente ou pensa.
  Porém era obrigado a ir nesses lugares para mostrar aos pais que estava fazendo o que queriam. E também detestava isso.
  Viver para agradar os outros, para agradar seus pais. E daí que seu pai era dono da maior multinacional de exportação do país? Não queria seguir aquela profissão, odiava ficar trancado em uma sala pequena.
  E também não queria casar com a filha patricinha nojenta do magnata advogado mais rico da cidade apenas para que os pais pudessem virar sócios, e num futuro, assumir todo aquele império para si.
  Bufou ao sentir sua cabeça pesar só de lembrar de todo esse rolo, vendo que não encontraria Connor tão cedo, decidiu ir até o escritório do pai de Lynn para pegar um whisky decente e encher a cara. Tinha total permissão e intimidade para aquilo, e mesmo que não tivesse, arrumaria um lugar para ficar longe de todo aquele barulho.   Escutou uma voz no escritório e se aproximou devagar para que não chamasse atenção, imaginou que fosse um casal brigando ou fazendo outras coisas, mas parou ao ver que uma garota estava sentada no sofá com uma mão na testa, parecia um tanto quanto nervosa.
  - Não seja covarde. - falou para si mesma e respirou fundo algumas vezes. - É só um garoto, o que de errado pode acontecer?
   encostou no batente da porta e cruzou os braços, achou aquilo um pouco… interessante.
  - Além de eu ter pisado no pé dele com esse salto enorme e derramado vinho tinto na camiseta dele que deve valer mais do que a minha casa.
   dialogava com si mesma sem notar a presença de ali, na verdade estava tão ocupada que não reparou quando ele entrou no escritório sorrateiramente ainda observando-a.
   tinha ido até a festa porque Lynn, sua melhor amiga, havia implorado. Detestava aquelas reuniões com gente rica e mimada, mas sabia que a amiga ficaria feliz com sua presença.
   e Lynn eram amigas desde a pré escola, embora vindo de uma família humilde - bem diferente de Lynn -, seus pais não mediram esforços para que ela e o irmão estudassem em uma boa escola particular. Com a inteligência, ambos conseguiam se manter com as bolsas de estudo em suas escolas futuras.
  Lynn mesmo vindo de uma família rica, era humilde, a única de nariz empinado que se manteve amiga de até mesmo no ensino médio. Gostava de porque era autêntica e sincera, não era sua amiga por suas aquisições mas porque realmente gostava dela. Isso só tornou o laço de amizade ainda mais forte.
  Lynn também havia convidado o rapaz que estava gostando para seu aniversário naquele dia, era um rapaz da sua rede de amigos, mas parecia bem caidinha por ele então decidiu ajudar, era a oportunidade perfeita para falar com ele.
  E teria sido, se não tivesse ficado tão nervosa em falar um simples oi e sem querer ter pisado no pé do rapaz e batido a mão no copo de vinho tinto que ele tinha nas mãos. Fora uma cena engraçada. Constrangedora, porém engraçada.
   então não pode fazer nada além de pedir milhares de desculpas e simplesmente… correr. Acabou indo parar no escritório do pai de Lynn, gostava daquele lugar porque além de ser o mais calmo naquela noite, era aconchegante o suficiente para se sentir um pouco melhor.
  Ela respirou fundo pela milésima vez e voltou a realidade, pronta para voltar e encarar o rapaz novamente para pedir desculpas apropriadas. E teria feito isso se seus olhos não tivessem encontrado os de .
  Os dois não sabiam o que tinha acontecido, mas era como se tivessem se encontrado não através do olhar, mas sim da alma.
   não conseguiu desviar, alguma coisa a prendia em , não podia imaginar que era possível sentir o coração bater tão rápido e as mãos suarem frio por causa de uma só troca de olhar. Mas aconteceu e foi tão vívido que lhe faltou ar. Foi único, de fato.
  E , sentiu como se tivesse encontrado seu propósito. Se sentia tão perdido durante todo esse tempo, mas olhando para ela era como se tivesse achado seu caminho. Foi estranho para ele, mas um estranho tão bom que não quis interromper o momento.
  Embora nenhum dos dois tivesse essa vontade, aquela bolha invisível fora estourada quando sentiu seu rosto corar e desviou o olhar, sorriu sem graça e precisou juntar muita força na perna para levantar do sofá e sair dali o mais rápido possível. Ou provavelmente continuaria ali, porque sinceramente ela poderia fazer aquilo pelo resto da noite.
  Nenhum dos dois disse nada, porém a seguiu com o olhar até perdê-la de vista, piscou algumas vezes depois que ela sumiu, tentando entender o que raios havia acontecido.

  A festa continuava animada às 21h da noite, não havia bebido o whisky porque nem se lembrava mais dele depois do que aconteceu, resolveu voltar para a sala em busca da garota, mas não achou. Tinha gente demais ali.
  Achou Connor e os dois começaram a conversar sobre diversos assuntos, Lynn vinha arrastando pela mão para que se enturmasse um pouco quando viu o namorado conversar com o melhor amigo.
  - Não quero mais conhecer ninguém. - reclamou baixinho.
  - Não vai acontecer nada. - Lynn garantiu.
  - E como você sabe que não vou quebrar o nariz de alguém sem querer? - perguntou mas a resposta que teve foi a melhor amiga rolar os olhos.
  - Meninos! - Lynn chamou a atenção e virou em sua direção. - , esse é o , melhor amigo do Connor. , essa é a .
  Os dois se encararam de novo, não havia percebido quem era até olhá-la nos olhos e percebeu que a garota deixou o queixo cair de leve.
  Ele sorriu de lado, tombando um pouco a cabeça, o que achou extremamente fofo, ela iria estender a mão quando ele se aproximou e beijou sua bochecha. Ela paralisou com o contato macio dos lábios dele em seu rosto, geralmente o que acontecia era um cumprimento bochecha com bochecha e não daquele jeito.
   fez de propósito, ah fez, na verdade ele queria ter feito isso no escritório mas deixou a oportunidade passar e ao ver que o destino havia colocado a garota bem na sua frente não poderia perder. Porém, quase se arrependeu ao sentir o perfume de tão perto e perceber o quão macia era a pele dela.
  Ela sorriu de leve e desviou o olhar, tentando não demonstrar o nervosismo e como aquele momento havia a afetado tanto enquanto Lynn falava alguma coisa que nem prestou atenção.
  Ela não se aguentou e voltou a encará-lo, desejando conseguir decifrá-lo, enquanto não tirava os olhos e sorria para ela.
  Realmente havia encontrado seu propósito e sabia que estava ferrado, mas naquele momento concluiu que era sua salvação.

Naquela mesma semana. Clube de Golfe.
Festa dos sócios. 10:30 AM.

  A agenda de naquela semana estava cheia graças aos compromissos dos pais. A família era sócia do clube de golfe, um esporte que o primogênito achava chato, mas era muito bom, naquele domingo ensolarado era a festa comemorativa para os sócios se encontrarem. achava aquela tradição um verdadeiro desperdício, eles ficariam ali naquele coquetel chato conversando sobre suas fortunas e como seus filhos tomarão seus lugares no futuro.
  Um porre.
   estava com seus pais escutando eles conversarem com um dos clientes da empresa quando a família Bittencourt se aproximou.
  - Helena, querida! - a mãe de foi cumprimentar a mulher que chegou.
  - Cristina, como vai? - as duas deram dois beijinhos de bochecha a bochecha, mas sem se encostarem.
  - Sérgio. - Bittencourt cumprimentou o pai de .
  - Raul. - os dois apenas apertaram as mãos.    notou quando Helena Bittencourt o encarou.
  - Ah meu Deus, esse é seu filho? - a mulher parecia surpresa.
  - Está um homem, não? - a mãe de repousou uma das mãos no ombro do filho, indicando que ele cumprimentasse os recém-chegados.
   respirou fundo e fez a melhor cara de paisagem que conseguia, trocou a mão que segurava o copo de seu drink e se aproximou de Helena, que estendeu a mão e beijou as costas da mesma.
  - Como vai, senhora Bittencourt? - perguntou educadamente.
  - Muito bem, meu caro.
   virou sua atenção para Raul e estendeu a mão para o homem, apertando da mesma forma que seu pai o fez.
  - , garoto, que bom vê-lo.
  - Igualmente, senhor.
  Assim que se soltaram, uma garota da idade de se aproximou.
  - Creio que se recordam de minha filha, Emily. - Helena apresentou a garota.
   quis rolar os olhos com a animação de seus pais ao verem a garota, era óbvio que se lembravam dela, aliás mais do que isso.
  A garota ruiva, magra e alta como uma verdadeira modelo dos catálogos da Vogue ou Marie Claire era quem seus pais queriam que ele investisse em um relacionamento.
  “Não é só pelos meus negócios, é pelo seu futuro também” lembrava perfeitamente da fala de seu pai.
   a encarou esperando que algo nela o atraísse, Emily sorriu doce para os pais dele e quando voltou seu olhar para o herdeiro dos , o olhou de cima a baixo e levantou a sobrancelha, escondendo o sorriso provocativo que fez tanto efeito em quanto aquela festa estúpida. Nenhum.
  Foi então que se lembrou de na festa de Lynn na quinta-feira, ainda podia sentir todo o seu coração queimar por causa do olhar daquela garota, da pele macia do rosto dela, do seu perfume que ainda estava preso no nariz dele e viajava pelo sangue como uma droga. Jamais esqueceria aquele perfume. E definitivamente, jamais esqueceria aquela troca de olhares que tiveram.
  Embora tivesse uma garota bonita e atraente na sua frente, era em que pensava.
  Era sempre ela.

Um mês depois. Casa dos pais de . 22:00 PM

  A rotina de não havia mudado, ainda estava protelando em entrar na faculdade que o pai tanto queria e seus pais continuavam enchendo sua cabeça com os mesmos assuntos.
  Ele só tinha 19 anos, tinha terminado a escola e queria fazer algum trabalho voluntário, não assumir os negócios da família, mesmo que estivesse fazendo estágio no escritório.
  A única coisa que havia mudado era o interior dele, ainda pensava em e em como não teve uma boa oportunidade de ficar sozinho com ela, agora percebia que precisava disso.
  Suas únicas armas durante esse tempo era a internet, seguia em suas redes sociais e passava um bom tempo admirando o perfil dela no Instagram.
  A garota tinha um cachorro pequeno, gostava de tirar foto do céu não importava como estava, nublado ou aberto, era sempre foto do céu. E claro, as selfies da garota eram maravilhosas, sorrindo, séria ou fazendo careta, ela era linda de qualquer forma.
  Claro que não passava horas stalkeando ela, seria assustador até para ele, mas o passo para criar algum tipo de laço era pelas redes sociais. Por isso, sempre curtia as fotos da garota, que sempre apareciam para ele. Isso era inteiramente culpa do algoritmo do aplicativo. E às vezes deixava um comentário.
  Lynn acabou percebendo o gesto do melhor amigo e logo fez uma chamada de vídeo para conversar sério com ele.

  - Só me passa o contato dela, não é nada sério. - respondeu depois de quase 10 minutos de conversa.
  - Se não é sério porque quer o contato? - viu Lynn fazer o bico que sempre fazia quando sabia que estava certa.
  - Pra conversar… porque eu tô te dando satisfação mesmo?
  - Porque a é minha melhor amiga e se você a magoar eu te mato.
  - Eu não vou pedir a garota em casamento, Lynn. - ainda não. - Sabe que posso conseguir de outra forma.
  - É? Vai fazer o que, chamar ela no Messenger do Facebook?
   sorriu.
  - Não é uma má ideia, sabia.
  - Boa sorte, ela não responde ninguém lá.
  - Vai, Lynn, qual é me manda logo. Sabe que minhas intenções são boas. - reclamou.
  - Isso não significa que dos outros serão. - mesmo via celular, Lynn lançou o olhar que não queria no momento, se referindo a quem não iria gostar nada daquela história.
  - Não vem ao caso agora. - respondeu.
  - Pensa bem no que você vai fazer, . odeia que mintam pra ela, e eu odeio que a destratem por não ser do “nosso mundo”.
  - Isso não vai acontecer, não na minha frente. - ele garantiu.
  Lynn respirou fundo, acreditava nele, mas sabia que seria difícil para os dois.
  - Sabe que uma hora vai.
  Os dois ficaram em silêncio.
  - Demonstra interesse, fica fácil demais eu te dar o telefone dela dessa vez.
  - Você vai ficar me devendo uma, viu. - avisou.
  - Vá a merda, .
  - Também te amo, minha querida amiga.

Semanas depois. Shopping da cidade.
19:30 PM.

   subia as escadas rolantes do shopping sentindo o coração querer sair pela boca, suas mãos tremiam e as palmas estavam molhadas de suor, tentava lembrar a si mesma que não precisava ficar tão nervosa mas era em vão.
  Ora era seu primeiro encontro com um cara que sentia alguma coisa, que parecia mais do que uma simples atração, já tivera sim outros encontros com algumas paqueras, mas nunca tinha ido sozinha porque o rapaz em questão havia chamado-a, sempre ia com os amigos pra ver filme de terror - e claro, se agarrar na paquera porque morria de medo de filmes assim -, porém ela não ficou nervosa nas outras vezes. Era sempre uma saída entre amigos, uma galera, não conseguia ficar ansiosa.
  Mas agora tudo era diferente. era diferente.
   não costumava entrar no Facebook e muito menos pelo notebook entretanto um dia algo nela disse para o fazer e foi uma surpresa ver na barra de notificação a solicitação de amizade de , o cara por quem sentiu coisas estranhas na festa da melhor amiga. Aceitou no mesmo instante sentindo o rosto ruborizar enquanto vasculhava o perfil dele, viu alguns posts de conteúdo nerd e algumas fotos, das quais demorou para passar pois quis observar com atenção.
  Suspirou e sorriu sem nem ao menos perceber, levou um susto quando viu uma janela de conversa subiu em sua tela. Sua mão começou a tremer ao notar que era ele quem havia chamado.
   quis gritar, o sorriso bobo não saía do rosto, e eles engataram numa conversa longa e duradoura que só acabou quando pediu no telefone dela. A garota precisou ler mais de uma vez para ter certeza se era aquilo mesmo, mas passou de boa vontade e ele a chamou no Whatsapp.
  As horas não pareciam passar quando eles conversavam, entrava a noite, a madrugada, virava o dia e eles ainda continuavam conversando. Nenhum dos dois queria parar. Mas chegou um momento em que apenas a conversa pelo celular não era suficiente, foi aí que a convidou para sair, pegariam um cinema.
  E era por isso que estava tão nervosa a ponto de tremer, viveu escutando histórias de casais em cinema, a última coisa que as amigas faziam era assistir o filme. Não estava assustada por pensar nessa situação, muito pelo contrário, ela queria tanto aquilo que não sabia o que fazer. Era uma garota inexperiente em encontros e muito menos em ficadas daquele estilo, já tinha sim beijado e foi uma experiência bem horrível, não que achasse que beijasse mal.
  “Para de pensar se ele vai te beijar ou não. Só curte o momento”.
  Mas estava insegura, era um ano e meio mais nova do que ele, inexperiente e estava tremendo mais do que um Pinscher.
  Desbloqueou o celular e viu a mensagem mais recente dele:
“Cheguei. Estou subindo.”
  Ela respirou fundo e olhou em volta, nenhum sinal dele, resolveu responder um “Tudo bem, estou aqui na frente” lembrando que haviam combinado de se encontrar no cinema do shopping.
  “Não seja covarde, não seja covarde”, falava baixinho para si mesma.
   sentiu as pernas darem uma pequena vacilada quando viu caminhando em sua direção, era clichê demais porém parecia que ele estava caminhando em câmera lenta enquanto seu olhar focava nela.
  E o sorriso que deu foi o suficiente para que ela esquecesse de qualquer nervosismo ou insegurança, ela retribuiu e tombou a cabeça um pouco para o lado.
  Assim que ele estava devidamente perto, estendeu os braços e ela sem nenhum resquício de timidez, o abraçou sentindo o calor natural do corpo dele a envolver da mesma forma que agora os braços dele o faziam. Sentiu ele beijar sua bochecha e seu sorriso pareceu aumentar, até ele se afastar dela.
  - E aí, quanto tempo né?
  - Pois é.
  Era tão estranho, sentiam que se conheciam há tanto tempo, que já eram íntimos e sabiam tudo um do outro.
  - Então, você quer comer primeiro ou comprar os ingressos? - ele perguntou.
  - Ah na verdade eu não tô com tanta fome assim.
  - Legal, então podemos ir? - indicou o caminho e ela concordou.
  O cinema estava vazio, afinal era uma quarta-feira, os únicos que estavam ali eram estudantes e pessoa que queriam pagar mais barato, o que era o caso dos dois.
  - Você ainda paga meia, né? - puxou assunto enquanto esperavam na fila para serem atendidos.
  - Sim. - fazia um curso técnico, então tinha esse direito, o que valia muito a pena. - Mas hoje é o dia que qualquer um paga meia, não é?
   assentiu.
  - Sempre venho aqui na quarta.
  - Será que eu pago a meia da meia? - falou sério, mas ele acabou achando graça e riu de leve.
  - Ah aí eu vou querer também.
  Ela sorriu e os dois foram chamados pelo atendente.
tomou conta da situação, olhou para e riu, perguntando ao atendente:
  - Escuta, ela pode pagar a meia da meia já que é estudante?
  Foi o suficiente para os três rirem, o atendente negou e terminou de fazer o pedido. e trocaram um sorriso cúmplice e sorriram um para o outro, isso até o atendente falar:
  - O casal vai pagar junto?
   sentiu a boca abrir um pouco enquanto a olhava em busca de uma resposta.
  - É… - ela o olhou, envergonhada.
  - Sim, vai sim. - tirou o dinheiro da carteira.
   nem se opôs pois estava um tanto quanto abalada pelo fato do atendente chamá-los de casal.
   pegou os ingressos e ambos agradeceram o atendente que lhes desejou um bom divertimento.
não sabia o que fazer então só ficou do lado dele com um sorriso amarelo enquanto ele guardava a carteira.
  - Então, você prefere entrar ou quer comprar alguma coisa? O horário da sessão é daqui a pouco. - ele conferiu o relógio.
   entrelaçou as próprias mãos na frente do corpo, sem saber o que fazer. Tentou não demonstrar o nervosismo, uma tarefa bem difícil considerando que o rapaz não tirava os olhos dela, dando de ombros respondeu:
  - Acho melhor entrarmos né, tem uma fila ali. - apontou com a cabeça para a entrada.
  Os dois seguiram em silêncio, queria puxar assunto mas sabia que sairia alguma bobagem de sua boca, era difícil controlar a língua quando estava nervosa. conseguia perceber a ansiedade da garota e pensou que não era apenas por causa do filme. Tudo bem, era Guardiões da Galáxia 2, por sorte gostava de super heróis também, mas ela não podia estar tão animada por causa do filme. Ele esperava que não.
  Os assentos estavam em cima e graças ao tempo perdido na fila, as luzes já tinham apagado e começavam os primeiros trailers, deixou que ela foi na frente depois de falar quais os assentos que ele escolheu.
  Estava indo tudo bem para , até ela bater a ponta do pé na escada e quase tropeçar de verdade.
  - Ai, droga! - falou baixinho mas o suficiente para escutar e rir de leve.
  - Tá tudo bem ai? - perguntou baixo.
  - Tá… essa escada, quase que eu caí. - sentiu as bochechas queimarem tanto quanto sua dignidade.
  Tropeçar na frente do rapaz era só o que faltava. Ótimo jeito de chamar a atenção dele.
  Pelo menos eles conseguiram achar as poltronas e se acomodaram rapidamente, encarou ela com um ar brincalhão.
  - O quê? - ela perguntou tentando manter a expressão séria, porém falhou. - Olha, eu sou péssima pra subir as escadas no escuro.
  - São escadas bem estranhas.
  - Exato! - falou um pouco mais alto e recebeu um ‘shh’ de alguém.
  Ela fez uma careta para que precisou segurar uma gargalhada.
  Eles voltaram a atenção para o filme que começava e as duas horas passaram voando, nas cenas mais engraçada quando ele ria alto junto com as outras pessoas o encarava pelo canto do olho e ria junto. Tinha percebido que achava a risada dele uma gracinha. E via suspirar toda vez que Peter Quill e Gamora demonstravam afeto, era fofo de se ver.
  Depois de terminar os créditos, eles sequer se mexeram do assento, decidiram comer alguma coisa fora do cinema.
  - Eu não tô com fome, você acredita? - ela respondeu depois que ele perguntou onde ela queria comer.
  “Acho que fiquei tão nervosa que minha fome passou, e nem tinha motivo!”, pensou.
  E não tinha mesmo, por enquanto havia sido um encontro bem divertido e eles só tinham trocado algumas palavras durante o filme. Tinha ido tudo bem.
  - Você gosta de pretzel?
  - Nunca comi. - ela deu de ombros. - Tem gosto de quê?
  - De pretzel. - ele respondeu no mesmo tom de brincadeira, sorrindo depois.
   se concentrou naquilo, ele era tão bonito sorrindo.
   a conduziu até o stand e olhou o cardápio.
  - Quer escolher o recheio?
  Ela negou com a cabeça.
  - Escolhe você e eu pago dessa vez.
  Ele a encarou como se perguntasse se ela tinha certeza, apenas recebeu um sorriso confiante em resposta.
  Assim que o pedido estava pronto e devidamente pago, eles se acomodaram nos banquinhos, estendeu um garfo para .
  Ela viu a massa com a cobertura de chocolate branco e o viu pegar um pedaço, ela o imitou e colocou na boca. Percebeu que ele a encarava enquanto experimentava o doce.
  - Gostou? - ele parecia bem curioso.
  - É muito bom! - ela se apressou para pegar outro pedaço.
  Os dois engataram em uma conversa enquanto comiam, a hora nem parecia passar, riam e haviam se esquecido completamente do mundo lá fora.
   estava mais calma e agora estava tão à vontade na frente do rapaz que parecia que se conheciam a anos, como se fossem verdadeiramente íntimos.
  Porém nada aconteceu naquela noite, embora o abraço de despedida foi um pouco mais longo do que o normal, era como se nenhum dos dois quisessem que aquela noite acabasse.
   voltou para casa com um sorriso tão bobo no rosto, agradeceu por ter chegado e todo mundo estar dormindo, seria difícil explicar o porquê do bom humor só por causa de uma saída com um amigo. Era o que tinha falado aos pais, mas quem visse a garota agora notaria que não era aquilo.
   não se sentia tão bem e livre daquele jeito há muito tempo, se jogou na cama e sentiu uma paz dominar seu corpo inteiro. Fechou os olhos e adormeceu sorrindo, sabendo que o visitaria em seus sonhos aquela noite.
  Na verdade, estavam tão conectados de um jeito estranhamente bom, que se encontraram nos sonhos um do outro com o mesmo sentimento: ansiavam pelo próximo encontro.

Um mês depois. No mesmo shopping.
No mesmo horário.

   batucava os dedos no corrimão da escada rolante do shopping enquanto ignorava seus pensamentos e também as chatas borboletas no estômago que haviam criado um ninho ali há pouco mais de um mês.
  A amizade com ia bem até demais, depois do primeiro encontro, tudo o que queriam era que o segundo acontecesse. Demorou um pouco, para quem queria se ver no dia seguinte um mês era uma demora, mas lá estavam eles. No mesmo shopping, no mesmo horário só que dessa vez foi que chegou primeiro.
   não ligava muito para o que iriam fazer, só queria uma desculpa para vê-lo novamente, e ... Bom, ele precisava distrair a cabeça graças aos problemas com seus pais nos últimos dias.
  Ela não demorou para achá-lo, no mesmo ponto de encontro, e nem teria como deixá-lo passar. Seus olhos só procuravam por ele, não importa o lugar na cidade, ela o via por toda a parte.
  O abraço foi caloroso, os dois escondendo seus enormes sorrisos e foram direto para a bilheteria comprar os ingressos. Desta vez, veriam Mulher-Maravilha.
  Esperaram na fila e conversaram sobre como foi a semana, estava animada porque estava prestes a terminar o curso de gastronomia no próximo semestre, ela não parava de falar enquanto apenas escutava um pouco alheio.
  Depois de comprarem os ingressos, foram comer em uma hamburgueria na praça de alimentação, não pararam de conversar um minuto sequer. agora prestava atenção e falava coisas de sua vida para ela, eles riam e voltavam a comer, ele até dividiu as batatas fritas com ela.
  O assunto ficou um pouco pesado quando perguntou sobre os pais dele. não queria assustar a garota com os problemas que tinha, também não queria demonstrar que aquele assunto o incomodava e que não conseguia simplesmente dizer que sua família era um tanto quanto chata, que eles mandavam em suas decisões, embora soubesse que era compreensiva, não queria erradicar qualquer chance com a garota.
  Não agora que…
   não percebeu e não demorou para que eles fossem a sala do cinema, entraram cedo, antes dos trailers começarem e as luzes apagarem, continuaram conversando até virar para a garota e sorrir.
  - O que foi? - ela perguntou.
  - Sabe o que eu queria fazer agora?
   sentiu o coração acelerar.
  - O quê?
  Ele sorriu ainda mais.
  - Tirar uma foto.
   o encarou, esperando algum sinal de que ele estava brincando como ultimamente vinha fazendo, porém não aconteceu.
  Ele falava sério.
  - Ah tudo bem, tiro do meu então. - ela respondeu e precisou lembrar a si mesma de não tremer enquanto posicionava a câmera, depois de destravar o celular.
  O sorriso dos dois foi genuíno, era a primeira recordação que teriam de seus encontros, ainda se atreveu a aproximar seu rosto do de , enquanto tiravam mais de uma foto para garantir que tivessem saído direito.
   mostrou o resultado depois para ele.
  - Ficaram boas. - olhou para ela, fazendo-a sorrir de leve.
  - É, ficaram. - decidiu então retribuir o olhar.
  Aqueles míseros segundos pareceram horas, ambos eram mais sinceros com o olhar do que com palavras, na verdade elas nem eram necessárias naquele instante. não sentiu vontade de desviar porque estava com vergonha, podia ficar ali para sempre admirando a íris do rapaz que parecia como um buraco negro, a puxava em uma intensidade que era difícil explicar. Para , ela era como um imã, a atração era forte demais. Tanto que ele não controlou seu corpo e deixou que seu rosto se aproximasse do dela, ansiando pelo momento a seguir que vinha passando em sua cabeça há um bom tempo.
  Embora estivessem prontos para aquilo, ainda não era a hora, as luzes do cinema começaram a apagar e os trailers não demoraram para iluminar a enorme tela. Eles se afastaram, precisou piscar algumas vezes e encostou a cabeça na poltrona, respirando fundo para se conter, mesmo sabendo que não conseguiria fazer isso por tanto tempo.
  E não conseguiu mesmo, já que na metade do filme inventou uma desculpa para entrelaçar seu braço junto ao dela do jeito que a poltrona permitia, em um meio abraço que não parecia suficiente. A garota precisou morder o lábio para segurar o sorriso bobo que brincava em seus lábios e sussurrou:
  - Eu tô quase dormindo no seu ombro.
  Ela escutou a risada baixa dele.
  - Pode encostar se quiser.
  Ela não conseguiu resistir e de fato nem poderia, mesmo que não quisesse deitar a cabeça no ombro dele - o que seria uma tremenda mentira -, aquela posição em que estavam abraçados logo a deixaria com dor no pescoço. E com dando aquela ideia bastante agradável, ela assim o fez.
  Aquele simples gesto foi o suficiente. Para ambos.
  O rapaz respirou fundo ao sentir o perfume dela invadindo suas narinas mais uma vez e apoiou a bochecha no topo da cabeça dela. Aquilo tinha sido o mais intenso de contato que haviam chegado até então, mas não conseguia entender a paz que tocou seu coração. Podia dizer que, pela primeira vez, havia sentido aquilo. E era tão bom.
  Eles não mexeram um músculo sequer até o final do filme, não queriam perder aquele contato, podia dizer que aquele foi de longe o melhor encontro com , ficar deitada no ombro forte dele era um momento que ela não iria esquecer tão cedo.
  Saíram da sessão em silêncio, ambos reprimindo a vontade de agora entrelaçarem suas mãos, mesmo os braços se tocando várias vezes enquanto caminhavam. Um pedido mudo de seus corpos de algo que suas mentes já queriam.
  Chegaram na saída do shopping, ainda incerto sobre o que fazer puxou assunto com ela.
  - Você tem como ir pra casa?
   concordou com a cabeça, sorrindo para o rapaz que parecia preocupado com ela.
  - Meu pai tá vindo me buscar.
  - Tudo bem, então eu… vou indo. - apontou para trás e se aproximou de para abraçá-la, de uma forma tão apertada que ela só conseguiu repetir na mesma intensidade.
  Fechou os olhos ao sentir os braços dele rodeando sua cintura, não queria que aquela noite acabasse.
   se afastou depressa, se continuasse ali, abraçá-la não seria a única coisa que faria.
  Os dois deram um passo em direção ao portão, olhou para como se perguntasse porque ela ia para fora.
  - Vou ter que esperar meu pai lá fora. - explicou.
  Foram juntos para fora do shopping e respirando fundo quando pararam lado a lado, a tomou em seus braços novamente, em um abraço para reprimir a vontade de fazer outra coisa.
  - Tchau. - ele falou perto do ouvido dela.
   sentiu o coração acelerar, estavam tão perto…
  Quando os dois se afastaram e se encararam, ignorou a voz que o recriminava em sua cabeça.
  “Que se dane!”
  Uma das mãos do rapaz foi de encontro com a bochecha de enquanto a outra se mantinha firme na cintura dela, ele se aproximou no que pareceu uma velocidade lenta demais e fechou os olhos quando percebeu que tinha se entregado ao momento tanto quanto ele. suspirou depois de fechar os olhos, sabendo o que viria depois e ansiava tanto por aquilo que só esperou sentir.
  E ela sentiu não só seus lábios se tocarem suavemente, sentiu o coração explodir em seu peito, sentiu as mãos suarem enquanto tocava os ombros dele delicadamente e sentiu o vento frio tocar em seu rosto quente.
  O beijo não fora prolongado, embora fosse justamente o oposto do que queria fazer, queria era tomar em seus braços e levá-la dali, mas não podia. Não ainda.
  Ele se afastou o suficiente para poder encostar suas testas, os narizes ainda se tocando e abriu os olhos, se deparando com recuperando o fôlego e de olhos ainda fechados.
  - Era assim que o nosso primeiro encontro devia ter acabado.

Capítulo 03 - Are you ready for it?

Atualmente.
Sexta-feira. Por volta das 20:15 PM.

  Quase duas semanas haviam se passado, os respectivos trabalhos de e estavam sugando seus dias que mal tiveram tempo de se encontrarem durante a semana, e nem no sábado ou domingo já que não teve folga nenhum dos dois dias. A saudade apertava os corações do casal.
   estava voltando do trabalho naquela noite, um dia muito longo no escritório que havia lhe trazido dores no pescoço e cabeça, quando chegou em casa com o cheiro da janta de sua mãe fazendo seu estômago roncar alto, desejou apenas comer e dormir depressa.
  O pai de estava sentado no sofá vendo o noticiário com a mão na cabeça, ela se aproximou e o beijou no rosto.
  - Boa noite, paizinho.
  Viu o mais velho sorrir fraco.
  - Boa noite, minha princesa. Chegou cedo.
  Considerando que fizera extra a semana toda e chegava em casa às dez da noite, era verdade.
  - Não aguentava mais aquele escritório… - respondeu, vendo o pai fechar os olhos por alguns segundos e abrir novamente. - Dor de cabeça de novo?
  O pai assentiu.
  - Tô com um zunido fraco no ouvido também.
   colocou as mãos na cintura e olhou séria para ele.
  - Não falei para ir ao médico, pai? Isso não é comum.
  Antes do pai responder, a mãe de entrou na sala.
  - A janta tá pronta… já chegou, filha! - a mulher se aproximou e deu um beijo na bochecha dela.
  - Já, e tô pronta pra levar o papai no médico.
  O pai riu de leve.
  - Vê se pode, minha filha querendo mandar em mim.
  - Mãe… - reclamou, vendo a mãe suspirar.
  - Sua filha tem razão.
  O pai revirou os olhos.
  - Eu já falei que estou bem. - ele levantou do sofá, abraçando a filha pelos ombros. - Vamos comer que estou com fome, deixa essa bolsa aí.
   riu desacreditada mas assim o fez. O pai era tão teimoso quanto ela.
  Os três sentaram a mesa e tiveram um jantar agradável, olhava para o pai de vez em quando para se certificar que ele estava bem, mesmo cansada por conta da semana de trabalho ela ficava feliz em poder ficar junto a sua família no final do dia.
  Acabou pensando no futuro, em como queria que fosse assim quando casasse, então sorriu lembrando de . Não conseguia se imaginar casada com outra pessoa a não ser ele, com filhos correndo pela casa enquanto eles olhavam para aquela cena se sentindo completos.
   voltou a realidade quando escutou o celular tocar alto no cômodo ao lado, ela olhou para os pais como se perguntasse se eles queriam ajuda.
  - Tudo bem, princesa, a gente lava a louça. - o pai sorriu de leve, liberando-a.
  Ela agradeceu rapidamente e correu para a sala, atrás da bolsa que havia deixado em cima do sofá, caçou o celular que parecia perdido e quando o pegou, sorriu largamente.
  Como se tivesse lido seus pensamentos, o nome daquele que ela estava pensando brilhava na tela do celular.
  - Oi, . - ela atendeu, seu humor melhorando instantaneamente só de ouvir a respiração dele do outro lado.
  - Oi, amor. Já chegou em casa?
   suspirou ao escutar amor, ela sempre se derretia quando ele falava aquela simples palavra.
  - Já, acabei de jantar. E você? Ainda tá na base?
  - Tô subindo pro meu apartamento agora.
  - Por que não me avisou que chegaria hoje? Eu teria ido fazer alguma coisa pra você comer.
  - Eu te mandei uma mensagem avisando que ia sair com os caras pra comer alguma coisa.
   bateu na própria testa.
  - Desculpe, não peguei no celular desde a hora do almoço. - reclamou.
  - Muitos convidados no escritório?
  - Até demais. - ela bufou.
  - Ele tem ido lá?
   pôde escutar a voz de mais baixa, quase podia ver ele fechando os punhos ao se referir sobre quem mais detestava.
  - Duas vezes por semana.
   bufou do outro lado e subiu o último lance de escadas em passos pesados. Não gostava da ideia de seu superior indo lá, sabia que nem tinha tanta necessidade.
  Na verdade, sabia exatamente o porque dele ir lá.
  - Você não me ligou para perguntar sobre o Major, não é? - ela questionou, agora pegando a bolsa e subindo para o quarto.
  - Deus me livre. - os dois riram. - Só liguei para avisar que estou livre nesse final de semana. E que estou morrendo de saudade.
   se jogou na cama, tirando os sapatos depois de ter jogado a bolsa ao seu lado no chão.
  Ela conseguia sentir a sinceridade nas palavras do amado porque sentia a mesma coisa. Queria tanto sentir os braços dele a envolvendo, seus beijos, seu perfume. Sentia saudade até mesmo do olhar dele sobre ela.
   já estava dentro de seu apartamento, depois de ter trancado a porta deixou a mala do lado da porta e logo tratou de ir para o quarto, quando escutou responder:
  - Não posso dormir aí hoje.
   franziu a testa enquanto tirava a camisa.
  - Nem se eu disser que estou me preparando para tomar banho agora?
  - ! - sentiu as bochechas esquentarem, mas mordeu o lábio inferior, imaginando a cena tentadora. Quase se esqueceu do que estava para falar. Quase. - Lynn me pediu um favor de casamento.
   riu, agora tirando os sapatos.
  - Favor de casamento? E isso existe?
  - Sei lá, estamos falando da Lynn. Vou ter que ver umas coisas na loja de vestidos, ela vai estar ocupada com as coisas do coquetel.
  - Só a Lynn pra inventar essas coisas numa hora dessas. - rolou os olhos, sabendo que não ganharia aquela luta.
  - Eu posso passar aí na hora do almoço.
  - Tenho uma proposta melhor: nós vamos juntos. - propôs, tirando a calça e ignorando sua vontade de se jogar na cama.
  - Seria ótimo, se o Connor não tivesse marcado de vocês verem o terno. - lembrou.
  - Ah droga! Tinha me esquecido disso. - respirou fundo, parecia que estavam destinados a estarem afastados e odiava aquilo. A distância não agradava nada o jovem. - Me diz por que aceitamos esse negócio de sermos padrinhos?
  Ela riu, notando o desespero na voz de , embora sentisse o mesmo. Não via a hora de estarem juntos e aquilo parecia ser adiado a cada minuto.
  - Porque somos ótimos amigos. - respondeu.
  - E porque você vai ficar linda no altar. - ele comentou rápido demais, sem pensar no que havia dito.
  Os dois haviam pensado sobre casamento desde que receberam a notícia dos amigos, mas ainda tinham receio de comentarem sobre aquilo, não era assustador para porém ela sabia que ficaria paranoico porque sabia que a partir do momento que fosse a senhora , muitos problemas passariam a assombrá-los. E ela sequer se importava com os problemas do exército, na verdade o que a assustava era a família de .
  Já para ele, era apavorante de uma certa forma, se tornaria um alvo para seus inimigos no exato segundo que assinasse os papéis do casamento. E ele não achava justo colocá-la em perigo daquela forma, porque a qualquer momento não estaria do lado dela para protegê-la, e isso era a única coisa que tirava o sono do Capitão.
  Os dois ficaram em silêncio no telefone.
  - Eu te busco na loja então. - ele decretou.
  Ela sorriu de leve.
  - Tudo bem, eu te mando a localização depois.
  - Eu te amo tanto, você não tem noção. - passou a mão na nuca, precisava dela ali.
   suspirou, a saudade agora parecia esmagar seu peito e uma súbita vontade de abraçá-lo lhe tomou conta.
  - Você não sabe como eu gosto de ouvir isso. Eu te amo, .
  - Até amanhã, meu amor. - se despediu.
   desligou o telefone e abraçou o travesseiro, imaginando que fosse o amado ali, que seu perfume estava adentrando suas narinas, que suas mãos percorriam as costas dele. Era assim que adormeceria naquela noite, com a ânsia de revê-lo no dia seguinte. Mal podia esperar.
   respirou fundo depois de jogar o celular na cama e marchou para o banho, onde se daria ao luxo de passar mais tempo debaixo do chuveiro, pensando em todas as coisas que ele e a namorada fariam.
  Na verdade, uma em especial passou em sua cabeça e teriam que realizá-la o mais rápido possível.

[...]

   andava apressada nas ruas do lado rico da cidade, estava atrasada e se perdesse o horário que Lynn marcou na boutique provavelmente seria estrangulada pela amiga. Mas não tinha feito por mal, na verdade só acordou atrasada por causa de um sonho estranho que teve com a sua querida sogra e cobras. Ainda sentia arrepios ao lembrar do sonho.
   tendo cobras por todos os lados subindo e se enrolando em seu corpo, em toda a parte, enquanto a sogra ria maldosamente como a própria madrasta da Cinderela, sentada em um trono alto enquanto a assistia ser envolvida pelas serpentes.
  De fato, se contasse a melhor amiga sobre o sonho até poderia ser perdoada se atrasasse, não depois de levar uma boa bronca.
  Mas nada daquilo seria necessário, já que havia chegado em ponto na loja tentando recuperar o fôlego. Não parou para admirar o local, que era mais chique do que qualquer outra loja de vestidos que havia ido, e foi direto falar com a atendente.
  - Bom dia, em que posso ajudá-la? - a mulher sorriu simpática.
  - Bom dia, eu vim em nome da noiva Lynn Alcântara.
  - Oh sim, ela chegou a avisar. Me acompanhe, por favor.
   o fez, sendo levada pela atendente até uma espécie de sala de espera bastante elegante.
  - Se importa de esperar um instante? Irei chamar nossa estilista.
  - Magina. - sorriu educada e viu a atendente ir embora.
  Olhou em volta e viu algumas clientes bem diferentes do estilo de , tudo era tão luxuoso e de outro nível que chegava a deixá-la incomodada e fora do seu mundo.
  Suspirou e então pegou o celular da bolsa, lembrou de mandar a mensagem para .
“Lynn me paga, esse lugar é o mais luxuoso que ela já me obrigou a ir. Me sinto como a Cinderela toda cagada. Estou nessa boutique. [Localização]
Te vejo mais tarde. Beijos.”

   virou o corpo e no mesmo instante sentiu algo se chocar contra seu corpo, como estava relaxada e olhando para o celular nas mãos, acabou caindo para trás em um som alto e vergonhoso.
  Sua bunda doeu, mas pelo menos o celular não tinha caído no chão.
  - Ah, sinto muito.
  Olhou para cima e se deparou com uma ruiva alta a encarando com piedade, não soube o que falar. Tudo bem, estava em uma boutique de gente nobre e ali só apareciam pessoas de alta classe na sociedade, mas não tinha encarado essas pessoas tão de perto, mesmo sua melhor amiga sendo uma exceção. Uma mulher parecendo a modelo da Victoria's Secret tinha a derrubado em uma das lojas de vestidos mais cara da cidade. Tinha como ficar pior?
  Bem, aparentemente sim.
  - Finalmente está no seu lugar de merecimento. - sentiu um arrepio passar pela espinha ao escutar outra voz.
  Não conseguiria esquecer aquele tom nunca.
  Engoliu seco ao virar o rosto em direção a voz, encontrando a dona encarando-a de cima com o nariz empinado.
  - No chão, é onde deveria sempre estar.
  Simpática como sempre, a sogra tinha se materializado em sua frente e estava tão assustadora como em seu sonho.
  “Preciso começar a levar meus sonhos a sério”, pensou.
  Olhou para a modelo ruiva que parecia não entender o que estava acontecendo e vendo que nenhuma das duas iria ajudar a se levantar, o fez sozinha.
  E foi aí que se sentiu menor do que era, o olhar das duas mulheres passou de cima a baixo, avaliando as roupas de . Na verdade, avaliando tudo, inclusive suas unhas ou detalhes pequenos como suas sobrancelhas que precisavam ser feitas novamente.
  Precisou se controlar para não olhar para baixo e avaliar a si mesma, a calça jeans azul escura com a regata branca simples e o sapato branco pareceram errados para as duas madames.
  - Conhece Emily Bittencourt? - a sogra sorriu como uma leoa pronta para atacar. - É uma amiga muito íntima de .
  A simples menção de fez com que entrasse em alerta, olhou para a ruiva que mantinha o rosto sem expressão.
  Amiga íntima?
  Ignorando sua mente que dizia para ser mal-educada com a mais velha, estendeu a mão para a tal Emily.
  - Emily, minha querida, esta é a… garota que está tendo um caso rápido com o meu filho. - escutou a sogra falar, com seu veneno sendo jogado e respingando direto na dignidade de .
   viu Emily mudar a expressão, levantando uma de suas sobrancelhas perfeitas e sorrindo de lado exatamente como se fosse a aprendiz de sua sogra, apertou a mão de .
  - . - se apresentou, se sentindo como se estivesse em um circo e ela fosse a atração principal.
  - Então é o novo affair de ? - Emily perguntou, tão venenosa quanto a sogra.
  - Namorada. - corrigiu e então era como se estivesse em seu sonho novamente.
  A sogra rindo, desta vez silenciosamente com o nariz fino empinado, com uma cobra apertando sua mão.
  “Dá pra ver o porquê delas se darem tão bem”, pensou.
   só não agradeceu em voz alta quando a estilista chegou interrompendo o momento, porque ainda estava em choque com toda aquela cena.
  Mas foi na hora certa, dissipando um pouco aquela tensão, a estilista Lory foi calorosa e praticamente um anjo com , a levou embora dali enquanto dizia que havia preparado muitos vestidos para que ela pudesse ver.
   pôde ver que a sogra a encarou como se pudesse machucá-la ainda mais, entretanto se deixou ser levada pela mulher fina e elegante, ainda segurando o ar. Passar do lado da sogra praticamente matando-a com o olhar era realmente assustador.
  “Mal sabe que vou dormir com o filho dela por dois dias seguidos. Víbora.”
   não imaginou aquele encontro repentino tão cedo, na verdade evitava que esse dia chegasse porque não sabia como reagiria. A mulher era calma, não gostava de brigas e raramente ofendia alguém, mas em relação a sogra era diferente.
  Ora, a megera já havia declarado que odiava , e embora calma não tinha sangue de barata, amava mas não era obrigada a escutar os insultos daquela mulher quieta e encolhida como uma criança que faz algo errado.
  Respirou fundo enquanto tentava prestar atenção no que a estilista dizia, pela primeira vez agradecia por estar ali. E que continuasse bem longe da sogra e da modelo de ouro pretendente favorita de Cristina .

[...]

  - Hulk entrando no destino.
  O soldado entrava no casebre abandonado e escuro com cautela depois de vasculhar bem a área com as suas lentes especiais para aquela missão no meio da noite. Um silêncio profundo tomava conta do lugar no meio do nada e ajudava o soldado a adentrar ainda mais.
  Sua postura rígida e em alerta enquanto segurava fortemente a grande arma próximo ao colete a prova de balas demonstrava uma força incomum, os olhos do soldado eram como de uma águia que estava pronta para atacar.
  - Hulk subindo.
  Comunicou através do rádio que tinha seu microfone enrolado no pescoço, um típico aparelho de militares, com as roupas escuras e seus passos silenciosos, o soldado subiu as escadas sem fazer um ruído sequer. Observou atentamente o segundo andar vazio e ao constatar que não tinha risco, continuou andando até o final do corredor no lado esquerdo, contou as portas e quando chegou na quinta se agachou encostando na parede estrategicamente.
  - Diga o que vê, Hulk. - recebeu a ordem e ainda sorrateiramente, olhou pela fechadura da porta.
  - São dois, um de costas e um próximo da vidraça.
  - O pacote?
  Sorriu de lado.
  - Vivo. Por enquanto.
  Ficou em alerta quando o segundo alvo que estava perto da vidraça se aproximava do pacote.
  - O segundo saiu da minha mira. - escutou reclamarem no comunicador.
  - Hulk, é com você.
  - Sim, senhor. - sorriu abertamente, agora sim estavam falando a língua dele.
  Levantou do chão e respirou fundo antes de chutar a fechadura da porta com tamanha força que a mesma abriu rapidamente, lhe dando plena visão da sala também escura. Com o barulho da porta, o alvo que estava de costas se virou levantando a arma, infelizmente para ele era tarde demais. O soldado já havia atirado duas vezes contra seu lado esquerdo do peito.
  Já o segundo alvo havia recebido uma boa cabeçada do pacote, isso havia o atrasado suficiente para que o soldado atirasse em direção ao seu crânio.
  Alvos derrotados.
  Pacote seguro.
  - De nada. - escutou o sussurro do pacote e se aproximou.
  Estava com vários machucados no rosto, sua voz estava fraca e rouca, e definitivamente estar com aquelas correntes presas em seus punhos não era nada agradável.
  - Pelo quê? - rebateu, colocando a arma para baixo e puxando sua faca no coldre.
  - Eu salvando sua vida. - viu o sorriso do pacote e rolou os olhos.
  Tirou o pacote das correntes e segurou firme o corpo fraco que cedeu já que estava sem apoio nenhum.
  - Sentiu minha falta, M?

[...]

  Aquela manhã não estava sendo boa para e mesmo que estivesse distraída em seus próprios pensamentos, se encontrava na mesma situação enquanto dirigia.
  Na verdade, tinha ido buscar justamente para tentar esquecer as coisas que assombravam sua cabeça, coisas das quais não poderia contar a amada. Porém, ela estar quieta e olhando para a janela não fez parte de seu plano então deu privacidade a mulher pensativa ao seu lado.
   não parava de pensar na cena que a sogra havia criado na loja, junto com todas as outras vezes que vira a mulher, essa era a única coisa que ela escondia de . Ele não fazia ideia de que ela já havia conversado com sua mãe, céus, se ele descobrisse que elas já tinham até mesmo conversado.
  Bom, se é que ter sido ofendida todas as vezes pudesse ser chamado de conversa.
  Quando acabou seu compromisso de madrinha, entregando os ajustes dos vestidos da noiva, mãe da noiva e madrinhas, e confirmado os detalhes combinados com Lynn, logo ligou para ir encontrá-la na loja, para ele fora mais fácil já que as medidas tinham sido ajustadas e era apenas isso.
   sequer pensou se ele e a mãe se encontrariam na saída da loja, só queria ir embora o mais rápido possível. Quando ele chegou não esperava que entrasse no carro em desespero e ainda o abraçasse tão forte que chegava a ser preocupante, ele apenas afagou os cabelos dela e deu um beijo em sua bochecha.
  Perguntou se ela estava bem e apenas sentiu ela concordando com a cabeça,
não confiava em sua própria voz pois sabia que ela a entregaria e por agora, não queria conversar. Só queria se sentir segura nos braços dele e ir embora dali.
  Eles se afastaram e depositou um beijo na testa dela antes de dar partida no carro.
   apreciava o respeito que o namorado tinha por ela naquele momento, porque agora sua mente era perseguida por memórias que ela jurou ter esquecido há muito tempo.

Há 3 anos e 2 meses. Casa da Lynn.
Por volta das 18:45 PM.

   estava quase pulando de emoção na casa da melhor amiga, tinha conseguido uma entrevista de emprego em um ótimo restaurante no centro da cidade e mal podia conter a ansiedade de poder colocar em prática tudo o que havia aprendido na escola técnica.
  Lynn tinha parado de desenhar suas roupas depois de escutar a notícia e agora jogavam conversa fora, esse era o lado bom das duas ainda serem desempregadas.
  - E o Connor? - perguntou, vendo a amiga sorrir boba.
  - Ele é maravilhoso, , acredita que ele veio até aqui em casa pedir permissão para namorarmos para os meus pai?
  - Que romântico!
  - Eu fiquei bem surpresa do meu pai deixar, sabe como ele é protetor.
  - Mas seu pai é um cara muito legal, Lynn, ele viu que o Connor tem boas intenções.
  - É verdade e vem cá, falando em boas intenções, e o , hein?
   tentou não esboçar nenhuma reação ao escutar o nome do rapaz, mas foi impossível, sentia suas mãos gelarem só de pensar nele.
  Se conheciam há um ano e coisas haviam acontecido, coisas que havia escondido até mesmo da melhor amiga.
  - O que tem ele? - tentou se fazer de desentendida.
  Claro que não deu certo, o fato de Lynn ter levantado uma sobrancelha e cruzado os braços já dizia tudo.
  - Você sabe, ele não tentou nada?
   deu de ombros.
  - Não sei do que você está falando.
  - Há quanto tempo a gente se conhece? - a melhor amiga questionou.
  - Quase a vida toda.
  - E você quer mesmo mentir para mim?
   a encarou, criando coragem para contar e suspirando, se deu por vencida vendo que a amiga não a deixaria em paz enquanto não obtivesse a verdade.
  - Estamos juntos. - admitiu.
  Lynn não parecia surpresa, na verdade ela sequer se moveu da cadeira.
  - Juntos como?
  - Ah Lynn, eu não sei. - abraçou o travesseiro em cima da cama. - Não colocamos definição em nada, você sabe, a gente nunca foi amigos.
  Lynn concordou, sabia muito bem disso, da animação que falava sobre o rapaz na primeira vez em que se viram e como se sentiu mal por não alertar a amiga do enorme problema que estava se metendo.
  - Não quero que se machuque. - alertou.
   sorriu de leve.
  - Eu não vou. Eu estou realmente apaixonada por ele, amiga, nunca me senti assim antes. Por nenhum outro cara.
  - É, e você se apaixonou bastante. - Lynn brincou, protelando em contar o que sabia.
  - Erros de percurso, tá bom? - as duas riram.
  - Gosta mesmo dele? De verdade? - questionou, para poder ajudar e apoiar a amiga precisava ter certeza.
   suspirou e olhou para o nada enquanto pensava, sorriu de lado ao lembrar dos momentos juntos.
  - Eu o amo. - concluiu mais para si mesma e então voltou a olhar aterrorizada para a melhor amiga. - Eu o amo. - repetiu, tentando entender o que havia dito.
  Lynn sorriu tentando reconforta-la e foi até onde a melhor amiga estava deitada, colocou a mão em cima da dela e falou:
  - Então deixe-o saber.
   mordeu a parte de dentro da bochecha, incerta e com medo do que isso poderia acarretar, contar tudo o que sentia por agora? Mas não era tão repentino?
  Iria afastar o rapaz ou ele daria um fora nela?
  Quer dizer, suas últimas experiências amorosas não haviam sido tão boas assim. A primeira paixão de infância e pré-adolescência que acabou com o garoto pegando sua amiga próxima na escola, a paixão havia durado bons anos. A segunda paixão havia assumido um relacionamento com um outro homem logo depois de chegar a pensar em assumirem um relacionamento, do qual os dois ainda estavam incertos, mas a família de ambos gostava da ideia… que não veio. E a última e mais recente, seu crush aparecer namorando dias depois de terem ficado e criado esperanças de um possível relacionamento. As três experiências magoaram a ponto de não querer saber mais de namoro ou coisa parecida, estava convicta de que seu foco precisava ser outras coisas.
  Porém, com era diferente. Desde o começo.
  Ele apareceu e então mudou tudo, não conseguia pensar em qualquer coisa no futuro quando estava com ele, só queria ficar com ele nos momentos roubados que tinham um com o outro. Não estava mais fazendo planos que nunca aconteceriam, e sim aproveitando o tempo que tinham.
  Na verdade, só vinha dando certo as escondidas porque os dois pensavam assim. Nada de passado ou futuro, o que importava era o presente.
   suspirou e olhou para a amiga, sorriu de leve.
  Ela estava certa, de fato.
  Agora só precisava achar uma forma de contar tudo a sem assustá-lo.

  Mais tarde naquele mesmo dia, e Lynn conversavam sobre as Forças Armadas do país, afinal Connor era neto de um grande Almirante da Marinha e como o rapaz era o assunto favorito da melhor amiga, eventualmente falavam sobre os militares.
   tentava entender como Lynn ficava despreocupada quando Connor sumia por semanas graças aos treinamentos militares que tinha que fazer, sem dar notícias nenhuma por dias, já que a patente do soldado ainda era baixa graças ao seu tempo de serviço ser tão pouco. Sabia que a melhor amiga gostava muito do rapaz, mas imaginava como a saudade devia apertar o coração de Lynn. Entretanto, claro, a amiga assegurava que mais preocupada com o bem estar dele, ela ficava com o fato de ele estar feliz. Connor amava a vida militar, e se ele queria fazer aquilo a vida toda, Lynn apoiaria.
   mordeu o lábio ao pensar em de uniforme, servindo e vendo seu corpo ganhar mais forma.
  - Fico imaginando como seria se fosse militar.
  Lynn riu, desacreditada.
  - Isso nunca vai acontecer.
   franziu a testa.
  - Por quê?
  A jovem viu quando a melhor amiga hesitou em responder, sem entender o motivo.
  - Os nunca permitiriam. - tentou explicar de uma forma mais tranquila embora quisesse se bater por trazer esse assunto a tona, ainda mais devido às circunstâncias.
  - Como assim, Lynn? Isso é uma decisão do .
  “Se fosse fácil assim…”, Lynn pensou.
  - Acho que nunca comentou com você que a regra número um da família dele é nunca entrar no exército.
   estava confusa. Tudo bem, não se sentia péssima porque ele não havia contado, até porque o assunto 'Família ’ era proibido entre o casal. A confusão se dava ao fato de terem uma regra tão idiota quanto essa.
  - Política e exército são duas coisas que não conseguem andar juntas nesse país, , e você sabe o potencial para a política que os tem.
  Isso ela sabia, afinal eles só eram da alta sociedade graças a fama do avô de , o maior e mais conhecido governador do estado em que moravam.
  Eduardo . Falecido há anos em que a causa ainda é desconhecida, teorias da conspiração dizem que ele foi assassinado pelo sistema.
  Bom, agora tudo parecia se encaixar na cabeça de . Realmente as duas coisas não andavam juntas, política era um dever cívico enquanto o serviço militar tirava qualquer tipo de dever da pessoa, ela não devia opinar ou se opor contra o Estado porque se tornaria parte dele. Era apenas seguir ordens enquanto viver.
   ficou em silêncio, pensando se gostaria de se prestar a um papel desse, virar um político famoso… não conseguia vê-lo excedendo tal coisa. Podia conhecer o rapaz há menos tempo que a melhor amiga porém sabia que ele não era do tipo que tirava dos outros e sim, do que se sacrificava pelos outros.
  - Posso ver o álbum de fotos da sua família? - pediu gentilmente a amiga, que sorriu em resposta.
  Não entendia a fascinação de pelas fotos de seus familiares e descendentes, mas gostou de ver que mudaram de assunto.
  - Sabe onde está, né? - assentiu. - Pode pegar, tenho que começar a me arrumar para encontrar o Connor.
   riu e revirou os olhos teatralmente para brincar com a amiga, saindo do quarto ela desceu as escadas em direção ao escritório do pai de Lynn.
  Prestes a entrar, notou que a porta estava entreaberta e a mão receosa parou no ar antes de tocar a maçaneta, foi então que começou a escutar vozes. Educada como sempre, decidiu sair e voltar mais tarde, afinal nunca fora de escutar a conversa dos outros atrás da porta.
  Até ouvir o nome de .
  - Então me diga, Cristina, como vai ? - a mãe de Lynn perguntou.
  - Galanteador como sempre, sabe como meu filho é.
  Aquela foi a primeira vez que escutou a voz da futura sogra e por mais que estivesse animada de estar há poucos metros da figura materna de , a voz dela era firme e assustadora.
  Exatamente do tipo das mães da alta elite que iam nas reuniões da escola e chamavam a atenção com seus saltos ecoando pelos corredores.
   passou a mão em frente ao rosto para tentar apagar aquela nuvem negra que se formava diante de seus olhos trazendo a imagem das dondocas que tanto viravam o nariz quando viam a “bolsista pobre” entrar no colégio caro.
  - Os Espinosa ainda tentam casar a primogênita com o ?
   franziu a testa e piscou algumas vezes para ter certeza se tinha escutado mesmo aquilo.
  - Ah você sabe como eles são, não é? Todos querem que suas filhas se tornem a esposa de no futuro e embora meu marido deixe que continuem, já escolhemos a próxima senhorita .
  - E concordou com isso?
  - Querida, sabe muito bem das regras da nossa família e se casar com alguém da alta sociedade é uma exigência nossa. Em menos de seis meses anunciaremos seu noivado.
  - Mas Cristina e se um dia ele disser que está apaixonado por outra?
  - Uma suburbana qualquer? Meu filho sabe das consequências, ou a família ou a biscate que estiver tentando dar o golpe.
   sentiu o sangue gelar e o coração parar, a frase ecoava alto em sua cabeça e precisou tapar a boca com a mão enquanto as lágrimas se formavam. Engoliu não só alguns soluços, mas principalmente seu orgulho, que a esse ponto já estava destroçado no chão.
  A forma fria como Cristina havia proferido aquelas palavras só demonstravam a seriedade das mesmas, uma mulher daquela jamais mentiria sobre aquilo e nem teria motivos para fazê-lo.
  Mas … ele nunca havia mencionado aquelas regras para ela enquanto estavam juntos, tudo bem que mais trocavam juras de amor do que falavam sobre suas vidas, só que detalhes tão importantes assim deveriam pelo menos ser mencionados… Eu tenho alergia a gatos, não gosto de espinafre, eu sou prometido para outra pessoa.
  Sentindo um bolo em sua garganta que parecia atrapalhar até mesmo sua respiração, deu meia volta e se arrastou de volta para o quarto de Lynn, visivelmente pálida e agora perguntando a si mesma qual ela conhecia de verdade e em quem podia acreditar.

Capítulo 04 - All you need is inside your mind

Atualmente. Apartamento do .
12:45 AM.

   estava curiosamente em silêncio para quem estava cheia de vontade de conversar até poucos dias atrás, na visão de .
  Mal sabia ele as cenas que passavam na cabeça da mulher, daquele fatídico dia em que ela se sentiu traída por todos a sua volta e por aqueles que amava mais do que tudo.
  Jurou para si mesma que nunca voltaria a falar e sequer pensar naquele dia, mas agora era praticamente impossível tendo em vista que a megera da sogrinha estava por perto como um tubarão faminto cercando.
  Ela não percebeu quando trancou a porta do apartamento e sorrateiramente se aproximou dela por trás, repousando sua mão na cintura dela suavemente enquanto depositava um beijo em seu ombro desnudo, voltou de seus devaneios ao sentir os lábios molhados dele em sua pele sem se assustar tanto.
  - Você está quieta, isso é tão incomum. - ele comentou, fazendo-a sorrir de leve rapidamente.
  - Está me chamando de tagarela, ? - se virou fingindo estar brava, mas era tudo encenação.
  - Comparado a mim, você fala bem mais do que... é, eu tô sim.
   fez uma careta de brava antes de acertar um tapa no braço dele, ou melhor, tentar acertar já que ele desviou mais rápido do que um piscar de olhos. Habilmente, segurou o punho dela sem fazer muita pressão em volta.
  - Você sempre se esquece que eu tenho um reflexo perfeito.
  - Sabia que eu odeio isso?
   sorriu maroto antes de soltar o punho dela e envolver sua cintura, trazendo-a para mais perto de seu corpo.
  - Odeia mesmo? - ele levantou uma sobrancelha.
   não conseguiu mais fingir a pose de brava e riu, em seguida mordeu o lábio inferior.
  - Não. - ela beijou o canto da boca dele.
  - Vai me dizer o que você tem? - ao perguntar, pôde sentir a mulher ficar mais tensa, com o olhar perdido na gola de sua camiseta.
  Estava preocupado, os olhos de não estavam alegres e positivos como de costume. Sabia que tinha acontecido alguma coisa e que ela não queria contar.
  - Podemos comer primeiro? Estou faminta.
   concordou, percebendo que ela estava tirando um tempo para criar coragem e contar, daria esse tempo.
  Ele a soltou e foi até a bancada da cozinha que dividia a sala da mesma.
  - Comprei sua comida favorita. - avisou e viu quando ela sorriu largamente ao ver a caixa do melhor restaurante japonês. - Eu sei que você gosta de cozinhar, mas vamos tirar uma folga só no almoço.
  - Tudo bem.
   pegou a caixa e levou para a sala, colocando na mesinha de centro e vendo voltar com os pratos e copos, assim que ele se sentou ao seu lado no tapete fofo ela beijou sua bochecha esquerda.
  - Obrigada. - agradeceu sinceramente e ele apenas piscou em resposta.
  Desembalaram a comida e se serviram, voltou para a cozinha a fim de pegar o refrigerante, quando sentou novamente já se saboreava com o salmão.
  - Você avisou seus pais que vai passar o final de semana aqui? - ele começou a comer.
  - Hm… - mastigou antes de continuar: - Você precisa ver a mensagem que minha mãe me mandou.
  Ela tirou o celular do bolso da calça e desbloqueou, procurando o que queria e quando achou, estendeu o aparelho para .

“Mãe, não se esqueça que vou dormir no de hoje para amanhã. Volto no domingo à noite.”
“Usa proteção! E não façam muito barulho a noite, os vizinhos precisam dormir.”

   engasgou com a comida enquanto ria não só da mensagem da sogra mas também do meme do Shrek que havia mandado como resposta.
  - Sua mãe é demais! - tomou um gole de refrigerante para tentar se recompor.
  - Você fala isso porque não foi você quem teve que explicar o porquê de ter voltado com a camiseta do avesso outro dia.
  - Ah, aposto que ela nem ligou pra isso, .
  - Eu não tô falando da minha mãe.
  A mulher teve que se segurar para não gargalhar da cara de assustado do namorado.
  - Seu pai? Você contou pro seu pai? - não era de demonstrar medo, nem ao menos receio, afinal era um militar, mas quando envolvia o pai da namorada e o fato do mesmo saber o que ele andava fazendo com a filha do coroa lhe dava um certo apavoro.
  - Não é como se ele não tivesse reparado no meu lábio inchado e vermelho, né . - ela o olhou sugestivo antes de devorar de novo a comida.
  - Eu sou um cara morto. - ele passou a mão na testa.
   riu.
  - Você é militar e dos bons, e está com medo do meu pai aposentado por invalidez? - questionou depois de mastigar a comida, achando engraçado a cena.
  - Ei, seu pai fabricava armas! - se defendeu.
  - Não, ele arrumava e polia as armas, é diferente.
  - , eu sou um cara correto e antiquado. Se seu pai sabe que dormimos juntos, no mínimo eu tenho que pedir a sua mão.
  A naturalidade com que o rapaz falou pegou a mulher de surpresa e ela nem conseguiu esconder o queixo caído.
  Aquilo era um pedido?
  - Não que eu esteja… - ele fez gestos com a mão, parecendo tentar achar as palavras certas para explicar o que queria dizer.
  - O quê? Me pedindo? - levantou uma sobrancelha, questionando-o. Exatamente como ele havia feito agora há pouco.
   respirou fundo e sorriu de lado, pensou muito, mas decidiu engolir a resposta que tanto queria. Agora não era o momento.
  - Dizendo que isso só vai acontecer por pressão do seu pai. - ele segurou a mão livre de e a levou até seus lábios, depositando um longo beijo nas costas da mesma.
  Eles se encararam por um longo tempo, talvez se dissessem algo estragaria o momento, sabiam a resposta um do outro e principalmente a vontade.
  Casar era o sonho de , embora no passado sempre pensara que isso nunca ia acontecer, seus sonhos se tornaram realidade quando apareceu.
  E ele então, casamento nunca foi um desejo em seu coração, ainda mais tendo crescido em uma família que tal evento era apenas para tirar vantagem nos negócios, só que tudo mudou quando conheceu . Soube no instante em que colocou os olhos nela que aquele conceito que aprendera havia mudado.
  E então, mesmo o assunto se encerrando por hora, eles voltaram a comer em um silêncio agradável.
   suspirava de vez em quando, sabendo que agora mais tranquila, ela poderia jogar a bomba de vez sem que engasgasse com o temaki. Afinal, falar de Cristina levaria mais do que apenas algumas horas, levaria também a paz que se instalara ali.

[...]

  Não era surpresa algumas peças de roupa de estarem guardadas no apartamento de , ela praticamente se mudava para lá todo final de semana, então aproveitou para tirar aquela calça jeans apertada e trocar por um shortinho confortável preto. Confortável e tentador para , já que assim que ela passou indo em direção ao sofá a roupa chamou a atenção não só de seus olhos mas também de suas mãos.
  Ele sorriu ao vê-la desbloquear o celular e fazer um biquinho enquanto mexia no aparelho, aproveitou para tirar a camiseta e levá-la rapidamente para a lavanderia.
  Quando voltou viu que a namorada ainda estava entretida no celular, se aproximou e cruzou os braços.
  - Peraí , eu só vou responder… - levantou os olhos rapidamente para encarar o namorado, mas voltou quando viu algo de diferente. - ...a Lynn. - sua voz perdeu força ao encarar o tórax nu do namorado, seus olhos o analisaram de cima a baixo.
  Começou pelo cós da calça que cobria as entradas do rapaz, subiu pelo umbigo e a barriga que não era trincada como um atleta de fisiculturismo, mas que tinha alguns gominhos em evidência, o peitoral largo e forte era coberto pelos bíceps do rapaz que ainda permanecia de braços cruzados, subiu pelas clavículas e passou pelos ombros, parte na qual era a favorita da mulher. Só perdia para o dorso.
  Sem perceber, mordeu o lábio inferior enquanto analisava minuciosamente cada pedacinho de pele exposta de .
  Ele sorriu em vê-la tão hipnotizada, sabendo que o mesmo efeito que ela causava nele, ele conseguia causar nela.
  Bom, ela tinha feito muitas coisas com os hormônios dele só de ter vestido aquele shortinho, era justo retribuir a euforia. Certo?
  - Mas ela já tá atrapalhando de novo? Me dá isso aqui. - ele pegou o telefone de que parecia estar ainda fora de órbita. apertou e arrastou o botão de áudio e falou: - Lynn eu tô tentando ter um momento com a minha namorada aqui, será que você pode encher o saco mais tarde? Às nunca e meia, pode ser?
  Ele mandou o áudio e começou a rir, sabia que era brincadeira e sabia que a melhor amiga provavelmente mandaria uma resposta mal educada zoando também.
  - Ela vai te matar. - negou com a cabeça e viu se sentar do seu lado no sofá.
  - Eu tenho muito medo da Lynn. - revirou os olhos.
  O celular de vibrou e ela colocou o áudio da melhor amiga para tocar.
  "- Vá a merda, . Eu sou a noiva aqui, meu filho, tenho prioridade. Dá licença… Ô dá um jeito no seu namorado, isso daí é vontade reprimida, não tenho culpa se ele não tem se divertido com você."
  O casal riu, embora a melhor amiga mantivesse a voz séria era óbvio que ela estava brincando. Exceto pela parte que aquilo era vontade reprimida, até concordava com aquilo.
  - Primeiro minha mãe, depois meu pai e agora a Lynn, sério o que eles pensam que nós fazemos no seu apartamento o dia todo? - bloqueou o celular depois de ter mandado um emoji para a Lynn em resposta.
  - Olha, eu não sei o que eles pensam… - levantou a mão para acariciar a bochecha da mulher. - Eu sei o que eu quero fazer com você.
   sentiu as bochechas esquentarem.
  - ! - tentou parecer brava, mas estava apenas com vergonha.
  - Senti sua falta. - ele confessou, olhando-a ternamente.
  - Eu também senti a sua. - ela fechou os olhos e encostou as testas.
  Automaticamente as mãos dela foram para o tórax do rapaz e ela inspirou o perfume que ele emanava, devia ser proibido um homem daquele cheirar tão bem daquele jeito aquela hora do dia.
  As respirações calmas se encontraram e então em questão de segundos, os lábios fizeram o mesmo, como se fossem imãs eles se uniram em um beijo cheio de carinho, devagar e do jeito que precisavam.
  As mãos de a segurou com força na cintura e a trouxe para mais perto de seu peitoral, cobrindo-a em um abraço apertado enquanto os dedos brincavam com a ponta da blusa, no entanto subiu as mãos devagar a nuca do namorado e sentiu a pele do mesmo eriçar sobre suas palmas.
   então, sentindo que só aquilo não era o suficiente começou a se inclinar sobre o corpo dela, que prontamente se deitou no sofá e as pernas se encaixaram na cintura dele.
sugou o lábio do namorado quando o mesmo começou a subir sua regata e suas mãos encontravam a pele macia e quente de sua barriga.
  Assim que a peça fora jogada pela sala, ambos se olharam e o que pareceu uma eternidade era apenas o começo do que ainda estava por vir, sentiam não só seus corpos se conectando, mas naquela troca de olhares, também suas almas. Foi o suficiente para que o puxasse pela nuca e recomeçasse um beijo mais apressado em que as mãos já não estavam mais pacatas e passeavam livremente pelas partes que eram descobertas.
  Da boca só se saiam sons de satisfação e 'eu te amo' ao mesmo tempo em que se encontravam da forma mais íntima possível.
  Não era apenas desejo carnal.
  Quando estavam juntos daquele jeito era muito mais.
  O poder que cada um exercia sobre o corpo e a mente do outro era fora do normal. Preocupações, ansiedades, medo… nada daquilo importava mais.
  Finalmente, ao chegarem ao ápice, os troncos se encontraram e os corações bateram na mesma velocidade, criando a sintonia perfeita.
   soltou o ar e abriu os olhos, vendo que a encarava de uma forma inexplicável. Ele apenas encostou os narizes e fez um carinho, sorrindo em seguida e deixando a namorada com as pernas ainda mais fracas.

[...]

  O casal estava deitado no sofá, já haviam vestido algumas peças de roupa, o rapaz abraçava pela cintura e beijava seu pescoço de vez em quando enquanto ela acariciava sua mão que a envolvia, encostada no peitoral forte dele, mas seus pensamentos estavam longe.
  Ela tentava criar um jeito de falar sobre os encontros que tivera com a sogra sem afetar o modo como o namorado via a família, o relacionamento deles já não era dos melhores, não queria ser a causadora de maiores problemas.
  Mas como dizer que sentia um medo e um arrepio terrível toda vez que a mãe dele lhe dirigia a palavra ou simplesmente olhava em sua direção?
  - ...? - escutou falar ao fundo e balançou a cabeça, voltando a realidade.
  - Oi?
  - Escutou o que eu disse? - questionou a amada, mas sabia a resposta.
  Ela estava aérea. Até demais.
  E isso não era bom.
  - Não, desculpa. O que foi?
  - O que você tem? - beijou sua bochecha dessa vez e a viu respirar fundo antes de começar:
  - Preciso te contar uma coisa.
   sentiu que a namorada ficou tensa e desfez o abraço quando sentiu a mão dela pedindo para que assim o fizesse, em seguida ela sentou de frente para ele.
  - O que aconteceu? - Ela estava séria, piscava mais do que o normal e molhava os lábios com a própria língua para poder falar. Mas os olhos dela já diziam tudo.
  A expressão no rosto de era de puro desconforto e insegurança, ela parecia um filhotinho que precisava buscar comida sozinho sem a mãe.
  Cortava o coração de .
  - Eu conheci sua mãe. - ela decidiu soltar a bomba de uma vez e mordeu a parte interior da boca ao ver que o amado travou o maxilar.
  Os dois ficaram em silêncio por um tempo.
   sem saber como continuar e tentando controlar a raiva que começava a borbulhar em suas veias.
  - Onde? - decidiu perguntar ao ver que esperava ele dizer alguma coisa.
  - Bom, tecnicamente foi quando você estava em coma. - ela deu de ombros, receosa.
  - E você não me contou antes por que…
  - Eu estava com medo, . Por causa de toda aquela situação, você quase morreu e eu fui feita de refém no meio da invasão. E sei as regras da sua família, não queria ser um motivo de desunião entre vocês. - tagarelou.
   apenas balançou a cabeça.
  - Ela te maltratou, não foi? - não precisou escutar a resposta positiva de , só a feição dela já respondeu.
  - Não, é que...eu…
  - , não faça isso, por favor. - pediu e ela se calou. - Não tente proteger a minha mãe. Eu a conheço melhor do que qualquer pessoa, sei exatamente o que ela fez com você. Então só me responde, ela te maltratou?
  - Sim. - respondeu sem conseguir olhar nos olhos do amado.
  - E não foi a única vez que vocês se encontraram. - adivinhou.
   suspirou. Era difícil esconder qualquer coisa dele.
  - A gente se esbarrou hoje na loja de vestidos. - contou. - Quer dizer, eu esbarrei com a Emily Bittencourt, e literalmente fui ao chão.
   franziu a testa, já imaginando o que as duas estavam fazendo juntas.
  - E minha mãe aproveitou para enfiar minhoca na sua cabeça, não foi?
  - Ela disse que você e a Emily são bem íntimos. - coçou a nuca, tentando de algum modo espantar aquele desconforto ao lembrar do acontecido porém era impossível.
  Confiava em e sabia que ele não tinha nada com a Bittencourt e nem queria, mas não podia dizer o mesmo sobre ela. Sabia que a mulher queria .
  - Minha mãe é… - ele respirou fundo e engoliu as palavras. - Eu odeio quando ela faz isso, fica me vendendo como se eu fosse um frango de padaria para aquela… patricinha.
   desencostou do sofá e se aproximou de , que o encarava incerta.
  - Você não acreditou em nada, né? - segurou as mãos da amada.
  - Não, ! - admitiu. - Eu confio em você, juro. É só que… - parou de falar.
  - É só que…? - ele instigou a continuar.
  - Sua mãe não gosta muito de mim. - foi o que conseguiu falar.
  A verdade mesmo é que se sentia insegura pelo poder que a sogra tinha, sua persuasão era tão forte quanto seu status e era apenas… uma ex-aprendiz a cozinheira de um restaurante no subúrbio da cidade. Como poderia competir? Como poderia enfrentar a sogra e Emily Bittencourt?
  Estava machucada por dentro pois sabia que logo tudo a sufocaria, todas as diferenças entre ela e se chocariam de uma forma que não saberia como suportar.
  Sentiu segurar seu rosto dos dois lados e olhá-la fundo nos olhos, prestes a penetrar sua alma da forma como ele sempre fazia.
  - Eu amo você. - ele falou pausadamente. - Você. . A garota simples que mora em um sobrado mais simples ainda com os pais que ama mais do que a própria vida. A garota mais desastrada que eu conheço. - sorriu de leve. - Eu amo a garota que adora o pôr-do-sol e que chora assistindo filmes sobre cachorros. A garota por quem eu tomei três tiros e teria tomado mais se fosse necessário para protegê-la, a garota que me fez passar por cima de ordens dos meus superiores e que me faz rasgar as regras idiotas da minha família. A garota que me hipnotizou com apenas um olhar e me enfeitiçou com um só beijo. Eu amo você. E quando qualquer pessoa tentar passar por cima de você porque estamos juntos, seja minha mãe, meu pai ou o raio da família Bittencourt, eu quero que se lembre de tudo isso. Ninguém vai te tirar de mim. Eu não desisti de você por causa do meu país, acha mesmo que vou desistir só porque minha mãe tá mancomunada com a Paris Hilton falsificada?
   segurou as lágrimas que haviam se formado enquanto o namorado discursava, sem dizer nada, apenas enterrou seu rosto do pescoço do mesmo e respirou o perfume dele.
  - … - ele acariciou as costas dela.
  - É maldade você fazer isso comigo agora, sabia? - a voz dela saiu abafada, mas o fez rir.
  - Olha pra mim. - pediu carinhoso e ela o fez. - Dane-se todas essas nossas diferenças. Dane-se todas as coisas que as pessoas dizem sobre nós. Dane-se a vida que os meus pais querem que eu leve. Eu escolhi você e vou até o final. - encostou as testas. - E se minha mãe te humilhar novamente, dê um tapa ardido na fuça dela.
   riu e se afastou dele.
  - Eu devia dar um tapa ardido em você, olha as coisas que você diz!
   sorriu e a beijou na testa, claro que sabia que jamais levantaria um dedo contra Cristina mesmo que ela um dia mereça.
  O rapaz aproveitou para puxar a namorada pela cintura e envolvê-la em um abraço quente, que tocou do jeito que ela precisava. Além de tirar um peso das suas costas, sentia que estava do lado dela e aquilo era tudo.
  Manhosa, ela escondeu seu rosto no pescoço dele e enrolou o pescoço do mesmo com seus braços, então passou as pernas dela entre sua cintura e segurou firme nas coxas dela quando se levantou do sofá, carregando a namorada como se ela não pesasse nada.
  Ele os conduziu até seu quarto e permaneceu naquela posição até ele se deitar na cama, tendo por cima de seu corpo. Assim eles ficaram até adormecer, fazendo um carinho nos cabelos de enquanto ela respirava cada vez mais suave, se entregando ao sono e sabendo que sua relação com o namorado estava cada vez mais forte.

[...]

  Já era quase a hora do jantar, desligou o celular e olhou para que dormia pesado em sua cama, sorriu de leve e pensou no quanto gostaria que aquela cena se repetisse todos os dias, não apenas nos finais de semana.
  Se aproximou sem fazer um barulho sequer e agachou até que pudesse fazer um carinho sutil na bochecha dela. Vê-la dormir daquele jeito, tão serena, o fazia sentir ainda mais a necessidade de protegê-la.
  No passado não tivera a coragem de fazer pois era um moleque, não conseguia se impor perante a sua família e as regras estúpidas que era obrigado a seguir, porém aquela fase havia passado. Sabia disso.
  Já não era o mesmo rapaz de anos atrás e jamais voltaria a ser, agora era um soldado com apenas um propósito e faria de tudo para que se cumprisse.
  Analisando a namorada dormir, sua mente vagou pelas lembranças que o mantivera vivo durante suas horas mais escuras.

Há 3 anos e 5 meses. Centro da cidade.
Por volta das 22:20 PM. Jardim da família .

   tentava esconder o sorrisinho travesso que escapava em seus lábios, não podia comemorar agora mas só de imaginar o que a família pensaria sobre o que ele estava prestes a fazer, chegava a ser engraçado.
  O primogênito rebelde quebrando as regras de sua mãe em sua propriedade, nada do que ele já não tivesse feito várias vezes. Todavia, naquela noite tudo era diferente.
  A chave da guarita de segurança do Jardim de sua família brincava entre seus dedos para espantar o nervosismo e a ansiedade, o rapaz olhava para todos os lados e admitia que um frio passava em seu estômago só de imaginar que ela não viria.
  Coçou a parte de trás da nuca ao lembrar da cara do Sr. Joaquim, segurança do jardim no período da noite, quando ele o dispensou por aquela noite.
  Mesmo que confiasse no pobre homem, quanto menos pessoas estivessem ali, seria melhor. O momento exigia privacidade e nenhuma testemunha para que Cristina pudesse aterrorizar.
  Se é que um dia iria descobrir o que havia acontecido naquela guarita…
  Viu os cabelos de voarem junto com o seu longo casaco conforme o vento batia e respirou aliviado. Ela tinha vindo afinal de contas.
  Conforme ela se aproximava, conseguia ver em seu rosto que estava preocupada por estar ali, afinal poderiam ser pegos a qualquer hora e por qualquer pessoa, mas tudo isso passou quando os dois se olharam.
   rapidamente envolveu em um abraço forte e duradouro, embora o rapaz estivesse louco para beijá-la novamente, fechou os olhos para aproveitar melhor o fato de estar ali com ela, seu perfume doce invadindo suas narinas.
  Assim que se afastaram, juntou as mãos e tremeu de frio, e também de entusiasmo por estar ali com .
  - Eu não acredito que estou aqui. - admitiu. Se sentia uma louca por estar naquele jardim com , ainda mais naquela hora da noite.
  - Por quê? - ele sorriu.
  - Eu tô com frio. - reclamou e inconscientemente, fez um bico.
   reprimiu a vontade de segurar no queixo dela e beijar aquele bico.
  - Vem comigo! - colocou a palma da mão nas costas dela e a conduziu para a guarita.
  Assim que entraram, pôde constatar que ali era muito menor do que pensava, era apenas um quadrado minúsculo com duas cadeiras, uma janela e estava escuro.
  Pelo menos ali era muito mais quente do que lá fora.
   acendeu a luz mas não era como se fizesse alguma diferença já que a lâmpada estava tão empoeirada e era tão velha, que estava fraca. Mal iluminava direito.
   achou engraçado afinal a família era rica o suficiente para que o Jardim fosse considerado um dos mais bonitos e ricos de biodiversidade do país e mesmo assim não tinham arranjado uma lâmpada decente para aquela metade de um quartinho.
  Ela se sentou em uma das cadeiras e observou colocar a outra virada em sua direção, onde ele se acomodou ali, apoiando os cotovelos nos joelhos e entrelaçando suas mãos frias, logo depois encarou .
  Os dois ficaram em silêncio por um tempo, apenas se olhando, ambos tinham planejado outras coisas para aquela noite, mas aparentemente elas iriam por água abaixo graças aos seus sentimentos.
  Queriam paz e tranquilidade, um momento a sós sem que ninguém soubesse ou interrompesse e ali estavam.
  - Eu esqueci de trazer uma manta, não quer dividir esse seu casaco comigo não? - perguntou depois de longos minutos.
   não soube o que responder, na verdade ela não imaginava que ele fosse vir com essa desculpa esfarrapada de novo tão cedo, mas quem ela queria enganar? Não via a hora de ficar agarrada a , de preferência a noite toda.
  Ela apenas balançou a cabeça, deixando o bolsa no chão e tirando o casaco, estendeu uma parte para . Ele não demorou muito para puxar a cadeira mais perto da dela, com a desculpa de que não alcançaria o casaco.
  Eles se arrumaram de um jeito torto para que pudessem ficar debaixo do pano quente, porém passou seu braço na cintura de e ela prendeu a respiração.
  De repente, aquela guarita tinha ficado mais quente do que devia.
  A garota sentia seu coração bater tão rápido que doía entre suas costelas, parecia até que ele pularia para fora de seu corpo a qualquer momento. E provavelmente iria se continuasse a tocando daquele jeito.    soltou o ar que havia prendido, tentando não demonstrar a , embora fosse praticamente impossível já que ele estava perto demais de seu rosto.
  O rapaz aproveitou para encostar seu corpo contra a parede, ficando mais esparramado na cadeira, automaticamente puxando junto.
  Ela então, tomando coragem, apoiou a cabeça e uma de suas mãos no peitoral de , e ao sentir o coração dele batendo tão rápido quanto o seu, fechou os olhos e respirou fundo.
  Estava com medo de ir até aquele encontro porque imaginava as intenções de . Ora, ficar no jardim sozinhos durante a noite?
  Não tinha convidado a garota para jogar dominó e sabia disso. Não queria ser apenas uma qualquer na listinha de , que cometia as loucuras junto com ele e era apenas isso. Sem corresponder os sentimentos dela.
  Mas sentindo o coração dele bater rápido entre a palma de sua mão, tinha certeza que fizera a escolha certa ao seguir seu próprio coração.
  Não estava enganada sobre o jeito que ele a olhava, agora tinha plena convicção que ele gostava dela tanto quanto ela gostava dele.
  - O que você disse aos seus pais? - perguntou curioso.
  - A verdade, não minto para eles. - ela deu de ombros.
  O rapaz ficou pensativo, queria poder dizer o mesmo mas sabia que seus pais não eram tão compreensivos quanto os de .
  - A Lynn sabe que você veio?
   escutou a garota rir de leve, ele sorriu no mesmo segundo.
  - Lynn tem segredos de mim, assim como eu tenho dela. Não é tudo o que eu conto. - ela explicou.
  - Ela ficou sabendo que nós dois saímos juntos.
  - E o que você disse?
  - Que não aconteceu nada demais.
  - E ela? - mordeu a pele da boca.
  - Falou pra eu ter cuidado.
  A garota não respondeu de imediato, deixando aflito. Ela moveu a cabeça apenas para olhá-lo.
  - Mas você mentiu, , aconteceu e nós dois sabemos. - ela falou receosa.
  Ele sorriu e a encarou, beijando sua testa logo depois.
  - Eu sei, , mas Lynn não tem nada a ver com isso. Não é?
  Ela concordou com a cabeça.
  - Você disse que tem segredos dela, quais são? - estava curioso porque conseguia imaginar algumas coisas e talvez, fosse o suficiente para sanar suas dúvidas.
  - Ah … - ela riu. - Isso, por exemplo. - se referiu àquele momento.
  - Só isso?
  - Você quer me contar alguma coisa? - ela questionou, olhando novamente para ele.
   a olhou de rabo de olho e sorriu torto.
  - Não… você quer?
   sentiu não só as bochechas esquentarem, mas sim seu corpo inteiro.
  - Quero. - ela esperou falar alguma coisa mas ele permaneceu em silêncio, ela entendeu como a deixa que precisava para continuar: - Você não reparou nada durante todo esse tempo?
  Ela o escutou respirar fundo.
  - Pra ser sincero, sim.
   o olhou, vendo que ele olhava para frente, soltou de uma vez:
  - Eu gosto de você, . Sempre gostei. - ele a encarou. - Desde o começo.
  Ele não disse uma só palavra, apenas a olhou nos olhos e não encontrou nada além de sinceridade, sentindo seu coração bater mais forte do que antes, apenas a apertou contra seu peito e beijou abaixo de seu olho, vendo-a fechar suavemente.
  Então era isso, finalmente a tinha em seus braços e confessando que sentia o mesmo que ele.
  Parecia até mesmo um sonho.
  - Eu também gosto de você, .
  A garota abriu a boca algumas vezes, sem saber o que dizer.
  - É sério? - perguntou, sem acreditar.
  - Por que acha que estou aqui com você, numa segunda-feira a noite?
  - Não tinha mais nada para fazer? - ela perguntou, dando de ombros e escutou ele rir.
  Porém nenhuma palavra foi dita por , ele subiu sua mão livre até o rosto de e acariciou desde seu maxilar até o queixo. Ela fechou os olhos novamente, sentindo o toque tão macio e quente dele, que aproveitou para levantar o rosto dela o suficiente para que estivesse a centímetros do seu próprio.
  Vendo que ela não o pararia, ele fechou seus olhos e se entregou, beijando-a docemente e lentamente. suspirou, subindo sua mão até a nuca do rapaz enquanto seus gostos se misturavam, ela sentiu todo o corpo arrepiar.
  Quando se separaram, a puxou para mais perto, mesmo que fosse humanamente impossível.
  - Na verdade, eu tinha mais o que fazer sim. Isso. - ele encostou sua bochecha na testa da garota, não vendo o sorriso enorme que ela abriu.
  Ficaram assim por um bom tempo, abraçados e distribuindo beijos de vez em quando pelo rosto dela.
  - E agora? O que a gente faz? - ela perguntou.
  - A gente precisa ir embora. - ele respondeu, depois de ver a hora em seu relógio, era quase meia-noite.
  Não podia deixar a garota ali até tarde, mesmo que quisesse passar a madrugada toda com ela até o amanhecer.
  - Não, , eu não tava falando disso. - se afastou, os dois sentiram um frio imensurável. - Eu falava da gente…
  Ele se desencostou da parede, sentindo uma grande dor nas costas por passar tanto tempo naquela posição mas ignorou, e acariciou o rosto preocupado de .
  - Vamos dar um jeito, tudo bem? Juntos. - respondeu, sincero.
  Embora soubesse que não era essa a resposta que merecesse, por agora era a única que podia oferecer.
  E não era a hora de explicar para ela como sua família funcionava, com todas aquelas regras chatas que ele nunca seguiria. Não queria deixar a garota mais preocupada e pior, com medo, imaginando que ele desistiria dela.
  Depois daquela noite tinha decidido que jamais faria isso.
   apenas concordou, daria o tempo que fosse necessário para ele. Eles se levantaram, colocando o casaco de volta e pegando sua bolsa no chão.
  Ela não sentiu a acompanhar e parou com a mão já na maçaneta da porta.
  - … - escutou ele chamar.
  Assim que virou, ela viu um borrão, a segurou dos dois lados do rosto e a beijou rapidamente, deixando-a surpresa.
  Ele se afastou, olhando-a e esperando alguma reação.
  Depois de longos segundos, que mais pareceram horas, se aproximou dele e o segurou pela nuca, beijando o canto de sua boca e encostou as testas.
  - Fica comigo? - ele pediu, vendo-a sorrir.
  - Achei que já estivesse.

Há 3 anos e 2 meses. Mansão da família .
19:45 PM.

   entrou pela porta da frente extremamente esgotado, desfazendo o nó da gravata e podendo finalmente respirar em paz sem que fosse observado pelo pai ou algum de seus funcionários.
  Não via a hora de largar aquela história de consultoria, não aguentava mais ficar trancado em uma sala de escritório minúscula tendo que ensinar aos outros sobre um assunto que sequer gostava. Não pretendia ser contador e muito menos cuidar de uma das filiais do escritório.
  Assim que fechou a porta, escutou os saltos da mãe existem pela sala enorme e vazia.
  "Que ótimo, quando eu achava que não podia piorar", pensou enquanto revirava os olhos antes da mãe chegar.
  - Filho, chegou cedo! - viu a mulher se aproximar e levantar a sobrancelha, conhecia bem aquele olhar.
  - Dor de cabeça, vou para o meu quarto. - apontou para a escada, não via a hora de ficar sozinho em silêncio, conversando com no celular.
  Tivera uma semana cheia e ainda era quinta-feira, já sentia seu ombro rígido de tanto problema e preocupação que lhe eram jogados.
  - Espere, ! Você tem visita. - a mãe anunciou.
  O rapaz sentiu o coração acelerar por um momento, pensando em um rosto específico, embora soubesse que não era ela quem estava ali.
  - Visita?
  - Lynn está na sala de conversação.
  Então sentiu o resquício de felicidade ir embora, dando lugar a preocupação.
  - Obrigado. - agradeceu sem perguntar o porquê da melhor amiga estar em sua casa àquela hora da noite. Não confiaria na mãe para saber do que se tratava e se Lynn estava ali, então era melhor a mãe não saber o motivo.
  Seguiu em passos largos até a sala e quando chegou, a viu de costas olhando pela vidraça da janela.
  - Lynn, aconteceu alguma coisa? - perguntou na lata depois de fechar a porta atrás de si.
   escutou a melhor amiga respirar fundo, ela virou fazendo com que ele visse a feição de agonia que tomava conta de não só seu rosto mas seu corpo. Lynn tremia e suas mãos não paravam quietas.
  - É a .
   sentiu a garganta fechar e o sangue gelar.
  - O que aconteceu com ela? Ela tá bem? Onde…
  Ele continuaria a questionar, se Lynn não tivesse falado a frase que mais tinha medo:
  - Ela sabe de tudo.
  O rapaz piscou algumas vezes, quase podia sentir as engrenagens de sua cabeça funcionando bem lentamente.
  - O quê…?
  - Ela descobriu tudo sobre você.
  Ele permaneceu em silêncio.
  - Estávamos na minha casa e eu não sabia que sua mãe também, desceu para o escritório para pegar o álbum da minha família quando ela escutou a conversa das nossas mães. Quando ela subiu pro meu quarto de novo, estava branca feito papel e a ponto de desabar. Eu tentei acalmá-la, , mas ela me obrigou a contar tudo o que sabia e eu não pude mais esconder. - Lynn sentiu a voz falhar algumas vezes. - Me desculpe.
  - Onde ela… - respirou fundo. - Ela está na sua casa? Eu preciso vê-la.
  - Não, saiu correndo logo depois que eu contei o que sabia. Ela não atende minhas ligações.
   fuçou os bolsos da calça e pegou o celular, desbloqueando o aparelho e abrindo o aplicativo de mensagens em uma pressa sem tamanho. Foi na conversa que tinha com .
  Última visualização: 16h12.
  - Me dá o endereço da casa dela. - bloqueou o celular e tirou as chaves do carro do bolso.
  - O quê? Você vai lá?
  - Lynn, eu tenho que falar com ela agora. Ela não vê o celular tem mais de duas horas.
  - Eu conheço a , , ela não vai nem querer te ver.
  - Que se dane! - com a mão livre, o rapaz bagunçou os cabelos em sinal de frustração. - Você não entende!
  - O que eu não entendo? Que a minha melhor amiga tá se sentindo traída por mim e por você? Eu te avisei que isso ia acontecer, você não devia nunca ter se aproximado e... - Lynn apontou o dedo para , fazendo o rapaz se irritar ainda mais.
  - Eu a amo, porra! - ele gritou, vendo a amiga se calar. - Se eu não falar com ela agora, vai ser tarde demais depois, Lynn. Você me disse uma vez que esperava que encontrasse alguém que eu não conseguiria viver sem, não é? Então me dá a porra do endereço da casa dela, e me deixa lutar de verdade pela única pessoa que eu amo na vida.
  Lynn mantinha os olhos arregalados, mas, mesmo assim, pegou o celular e digitou alguma coisa.
  - Se eu te devia uma antes, acabei de pagar.
   sentiu o celular vibrar e ao tirá-lo do bolso, constatou que Lynn havia lhe mandado o endereço.
  - Vai atrás dela.
  Ele não pensou duas vezes antes de virar as costas e sair correndo de casa, ignorando completamente sua mãe gritando no topo da escada, ou então o pai que havia acabado de chegar.
  Tudo parecia um borrão, chegou depressa no carro e não perdeu tempo de arrancar com ele da propriedade de seus pais, enquanto ajustava com a outra mão o celular para visualizar melhor o caminho que teria que fazer.
  Ele passou em alguns sinais vermelhos, acelerou mais do que devia e buzinou algumas vezes, pois tudo parecia querer atrasá-lo. Mesmo chegando na metade do tempo que levaria, tinha a sensação de que demorou uma eternidade.
   mal desligou o carro e já estava para fora do veículo, trancando-o enquanto tocava a campainha várias vezes sem descanso. Bateu o pé até a porta ser aberta, sentindo o coração se estraçalhar em milhares de pedaços.
  À sua frente, estava com os cabelos molhados, seu rosto estava vermelho e inchado, seus olhos marejados e ela vestia roupas confortáveis.
  - O que foi, Joe… - ela parou de falar quando percebeu que não era seu irmão que estava ali parado. - … - sua voz não saiu, mais fraco do que um sussurro.
  Eles se olharam, mais uma vez era como se o tempo não passasse na troca de olhares.
   queria sorrir porque ainda sentia seu coração se aquecer em vê-lo ali, bem diferente do que estava acostumada, já que o mesmo vestia roupas sociais. Porém, não conseguia daquela vez. Estava tão magoada, se sentia um lixo.
  Já , ele queria bater em si mesmo por saber que era o causador das lágrimas de . Que ele era um dos motivos do pobre coração dela ter se quebrado. Claro que pretendia contar para sobre a verdade, mas esperava achar circunstâncias melhores, um jeito certo.
  - Vai embora… - ela pediu, com a voz ainda fraca, tentando fechar a porta porém fora impedida por .
  - Eu sei que você não quer falar comigo, mas me deixa explicar, eu te imploro.
  - Não precisa explicar nada, já entendi tudo. Eu vou sair da sua vida, prometo.
  - Não! , por favor, não! - o tom da voz de era desesperador, ele realmente estava implorando e por mais que estivesse com raiva também, ainda se importava com ele.
  Ela abriu a porta um pouco mais e olhou para um ponto fixo na parede.
  - Você tem 5 minutos.
   entrou e o conduziu até a sala, abraçando seu próprio corpo enquanto esperava ele falar alguma coisa.
  O silêncio entre eles era uma verdadeira tortura.
  - A Lynn me contou que…
  - Corta o rodeio, . - ela o interrompeu. - Seja direto comigo uma vez na sua vida.
  Incerto, ele deu um passo em direção a ela, que sequer se moveu.
  - Não era pra você descobrir desse jeito, eu queria ter te falado. Juro que queria.
  - Falado o quê? Que sua mãe me odeia mesmo sem saber que você passa noites em segredo comigo no jardim da sua família? Ou que você está noivo de alguém? Já sei, talvez que eu tenha sido a porcaria de uma distração. Um mero caso de despedida de solteiro.
   nunca viu falar com tanto sarcasmo, ainda não tinha conhecido aquele lado, mas sabia que muitas palavras ali eram apenas para magoá-lo da mesma forma que ela estava magoada
  - Você nunca foi uma distração ou um caso e sabe disso!
  - Eu sei? - ela perguntou, sem perceber que sua voz já começava a alterar. - Como eu posso ter certeza que tudo aquilo não foi uma mentira? Que você não estava me enganando?
  - Você olhou nos meus olhos, . Você sentiu meu coração bater mais rápido toda vez que a gente se beijava, exatamente da mesma forma que eu sentia o seu!
  - O problema não foi o que a gente sentiu, . Foi que você mentiu pra mim! Você me escondeu coisas que eu deveria saber desde o começo. Caramba, você tem uma noiva!
  - Mas que saco, eu não tô noivo de ninguém. - ele bufou.
  - Não foi o que sua mãe disse. - gritou, sua voz esganiçada saiu fraca e ela sentiu que voltaria a chorar novamente. A luz da casa pesava seus olhos e a dor de cabeça aumentava, mas nada era comparado a dor que sentia em seu coração. - Eu só queria que você tivesse sido sincero comigo, talvez eu tivesse pedido demais. Talvez eu tenha sido otimista demais, ingênua… - ela respirou fundo alguns segundos, percebendo que permanecia em silêncio. - Nunca um rapaz como você lutaria por uma garota como eu, você nunca se sacrificaria por mim. - sorriu triste.
  - Eu… - estava com a garganta fechada, os olhos ardiam e ele sentia que a perdia a cada minuto.
  - Chega! - passou as mãos pelo rosto, limpando as lágrimas. Ela andou até a porta, abrindo-a. - Acabou. Seja lá o que tenhamos começado, não existe mais.
  - Você não…
  - Eu estou te fazendo um favor, . Você precisa de alguém com os mesmos princípios que os seus. - sentiu as palavras sem emoção de e aquilo teve um efeito tão doloroso quanto um corte profundo. Era como se tivesse levado um tiro. - Vai embora, não perde mais seu tempo comigo.
  Desolado, ele andou em direção a porta com os ombros caídos e pesados, a cabeça baixa e com uma vontade de chorar incontrolável.
  Olhou para uma última vez, ela encarava o nada de um jeito frio e sério, analisou o rosto nos mínimos detalhes naqueles poucos e raros segundos. Não queria guardar a imagem dela inchada porque estava chorando de tristeza graças a ele.
  Era um completo idiota.
  - Um dia eu vou te provar que nada disso é verdade. - sua voz saiu baixa como nunca antes, mas viu vacilar.
  - É tarde demais. - ela o encarou, os olhos vermelhos e cheios de lágrimas.
   sentiu as palavras fugirem da sua boca, na verdade, nem tinha forças para falar alguma coisa.
  E então, quando ele finalmente deu um passo para frente, fechou a porta. O eco selou a rachadura no coração de ambos, sem conseguir se segurar mais encostou a testa na porta e chorou como um verdadeiro bebê.
  E voltou para o carro com um vazio por dentro, finalmente as lágrimas caíram enquanto ele desejava que tudo aquilo fosse um pesadelo.
  O celular tocou alto dentro do carro e ao ver o nome da mãe no visor, pegou o aparelho e desligou com força, querendo mesmo jogá-lo pela janela e passar por cima com o carro.
  Deu a partida no veículo e vagou pela cidade sem um rumo certo, sem saber para onde ia, nem sabia o que queria.
  Sem saber quanto tempo havia passado, seus olhos mesmo embaçados encontraram um cartaz que acabou sendo sua oportunidade. Sem hesitar ou pensar em qualquer coisa, estacionou na frente e saiu do carro.
  Andou em passos largos dentro do estabelecimento, a mandíbula travada e o sangue correndo frio pelas veias, pegou um papel e uma caneta, preenchendo sua ficha com ódio.
  Tudo o que lhe restara, tudo o que amava na vida havia sido tirado de suas mãos, por pessoas egoístas que o tratavam como uma mera peça num jogo de xadrez.
  Não mais.
  Iria achar um jeito de provar a ela tudo o tinha dito e para começar, tinha que fazer aquilo.
  Viu um homem parar na sua frente, a postura ereta e rígida, o mesmo olhou para o rosto de e depois para a ficha.
  - Voluntário?
   apenas assentiu.
  O homem analisou o rapaz, era quase como se soubesse a razão dele estar fazendo aquilo, como se entendesse seus motivos mesmo que ele não tivesse falado. Ele então pegou o papel da mão de e o colocou na bancada, tirou um carimbo do bolso e o apertou fortemente contra o papel.
  Ele estendeu para com um pequeno sorriso, que fora um tanto quanto reconfortante.
  - Bem-vindo, Soldado.
   encarou o papel e o carimbo vermelho chamou sua atenção.
  Aprovado.
   respirou fundo e bateu continência antes de sair do estabelecimento, agora sabia o que faria. Entrou no carro e deixou o papel no banco do passageiro, olhou uma última vez para o banner que tinha sido sua resposta e arrancou com o automóvel dali em direção a mansão.
  Para trás deixou o banner com os dizeres: "Alistamento voluntário das Forças Armadas. Faça sua inscrição aqui."
  Quando chegou na casa de seus pais, pegou o papel e o celular, e caminhou lentamente até a porta de entrada.
  Assim que pisou dentro da mansão, viu seus pais se levantarem do sofá com expressões preocupadas. Quis rir.
  - Filho! Onde esteve? - Cristina correu para abraçá-lo, analisando depois se o filho estava bem.
  - Você nos preocupou a toa, garoto. - escutou a voz grossa do pai reclamar.
  - Relaxa, de agora em diante não precisam se importar com o que eu faço.
  - O que quer dizer, ? - a mãe questionou, indo ao lado do marido.
  O rapaz nada disse, apenas estendeu o papel para seus progenitores, que foi prontamente pego pelo pai.
  A feição de era de puro vazio, já não sentia mais nada. Enquanto sua mãe olhava horrorizada o papel e o pai inflava as narinas.
  - Que palhaçada é essa? - o pai perguntou, vendo que a esposa não conseguia dizer nada. - Isso é uma…
  - Ficha de inscrição das Forças Armadas, no qual eu fui aprovado.
  - Chega de teatro, criança!
  - Não é teatro. - ele respondeu firme, não deixando dúvidas aos pais.
  - Por que, ? - a mãe estava chocada.
  O rapaz riu amargurado, balançando a cabeça como se não acreditasse naquela cena.
  - Vocês me disseram o que fazer a minha vida inteira, me manipularam, falaram por mim quando eu não queria e planejaram um futuro que eu nunca quis. E agora eu perdi a única pessoa que se importava comigo de verdade, que eu amo! - respirou fundo. - Já que eu não posso ter o que eu quero, então ninguém mais nessa casa vai ter.
  - Está fazendo isso por causa de uma garota? - o pai perguntou devagar, tentando entender.
  - Quem é a vadia? Alguma suburbana… - a mãe cuspiu.
  - Pobre, mãe? - interrompeu a mãe. - É, ela é sim. E mais rica de sentimentos do que vocês dois juntos.
  - Garoto…
  - Eu cansei de ser a marionete de vocês! - gritou. Sequer conseguia chorar mais, os olhos nem marejavam.
  - Levante o tom da voz mais uma vez e eu juro que… - o pai deu um passo em frente ao rapaz.
   sorriu de lado, levantando o queixo, e encarou o pai com frieza.
  - O quê? Vai me bater? Me expulsar de casa? Não se preocupe com isso, já estou saindo daqui.
  - !
  - Volte para o seu quarto, rapaz, e amanhã conversamos sobre essa sua loucura.
   riu.
  - Não.
  O casal se assustou, aquelas palavras nunca saíram da boca do filho.
  Definitivamente algo tinha afetado o rapaz.
  - Se você for para este lugar, - o pai balançou o papel. - nunca mais colocará os pés nesta casa e sairá com apenas a roupa do corpo.
  Ele pegou o papel da mão do pai com brutalidade, ainda mantendo o olhar.
  - Ótimo. - pegou a chave do carro e deixou em uma mesinha na sala.
  - Não faça isso, meu filho! - a mãe implorou. - Não destrua sua vida por uma garota qualquer.
  - não é uma qualquer, mãe, ela é a minha salvação.
  Sem dizer mais nada, deu as costas e saiu da mansão dos pais escutando os protestos da mãe ficar cada vez mais longe conforme se afastava.
  Quando finalmente cruzou os portões, respirou fundo e uma brisa suave apareceu, não se sentia mais feliz ou completo, sabia que nunca mais se sentiria assim.
  Mas agora poderia dizer que sentia o gosto da liberdade e de agora em diante, não perderia.
  Assim como não perderia , não tinha perdido a guerra ainda.

[...]

Atualmente. Centro da cidade.
Às 2:14 AM.

  Os dois rapazes entraram no apartamento pequeno e vazio, tinha cheiro de mofo, mas uma boa pintura acabaria com aquilo. Também não dava para reclamar, era no último andar com fácil acesso até o telhado e em um local estratégico. Iria servir e muito.
  - Cara, você tem certeza… - o mais novo começou, porém fora interrompido.
  - Sei o que estou fazendo. - o mais velho respondeu friamente.
  Não era bem questão de querer, era seu dever.
  - Não acha que vai ser arriscado? Justo nesse prédio?
  O mais velho riu e andou até a janela, observando muito bem o apartamento do seu vizinho da frente.
  - Essa é a vantagem.
  Reprimiu o sorriso de deboche que insistia em aparecer enquanto analisava a varanda do seu futuro novo vizinho.
  Porém, não era apenas isso.
  Era também seu próximo alvo.

[...]

Um mês depois. Casa dos .
Às 17:45 PM.

   terminava de colocar os brincos de argola quando escutou batidas na porta de seu quarto, respondeu para que entrasse e a figura da mãe fora revelada. Viu a mais velha sorrir largamente e seus olhos brilharem ao ver a filha arrumada.
  - Você está linda!
   sorriu tímida.
  - Sério? Não acha que está muito apagado? - questionou, passando a mão pelo vestido.
  - Minha filha, qualquer coisa em você fica elegante.
  A garota negou com a cabeça, não concordava, mas aceitava o elogio. Havia encarado o vestido por tempo demais, entretanto se sentia muito confortável com ele. Era cinza com listras quadriculadas em tons mais escuros e algumas brancas, o zíper preto na frente que ia do começo na altura do busto até o final acima do joelho, um cinto e o blazer do mesmo tecido e cores davam um toque a vestimenta.
   havia feito uma maquiagem que marcava bem o olho com um delineado preto e um batom em um tom marrom não tão escuro. Seu cabelo estava mais curto, decidira cortar algumas semanas atrás por conta do calor que tinha chegado na cidade, bem diferente dos longos e pesados que iam a altura da costela. Agora estavam acima de seus ombros.
  - Obrigada, mãezinha. - foi até a mulher e beijou sua bochecha.
  - chegou, está na sala com o seu pai.
   sorriu, era difícil não fazer quando escutava o nome do namorado.
  - Pede pra ele subir, por favor, mãe. Preciso ainda decidir qual o sapato que vou.
  A mãe concordou e saiu do quarto, deixando a filha encarando os dois pares de sapatos que havia deixado para fora. Decidiu ir com o scarpin em um tom de nude um pouco mais apagado, quase próximo ao tom do vestido.
  Escutou algumas batidas na porta e virou, sabendo exatamente quem era. Todavia, parou para prender a respiração.
   estava simples, com um terno preto sem gravata e a camiseta social vinho de um tecido que parecia tão macio quanto seda, nos pés um sapato social preto que ele raramente usava.
  Ambos admiravam cada pedacinho do outro, enquanto perdia a força nas pernas e precisava se esforçar para se manter de pé, sentia o corpo inteiro aquecer em ver a namorada vestida daquela forma.
  Ele se aproximou, pegou a namorada pela mão e a fez dar uma voltinha, riu no processo e viu se aproximar de seu rosto para lhe dar um selinho longo quando voltou a ficar de frente para ele.
  Ele nada disse, apenas a observou dos pés a cabeça.
  - O que foi? - ela perguntou.
  - Acho que estou hipnotizado. - respondeu, sem conseguir tirar os olhos dela.
  Ela riu, sentindo as bochechas esquentarem.
  - Você não é o único. - o abraçou, enterrando seu rosto na nuca do rapaz, sentindo o perfume incomparável mais de perto. - Você tá bem cheiroso, vai ser difícil me controlar na festa. - comentou próximo da nuca de , percebeu que ele se arrepiou.
  - Será que tem como a gente ir logo antes que fique impossível de resistir e eu desista pra ficar aqui com você?
   se afastou rindo, pegando a sua clutch em cima da cama.
  Por mais que quisesse ficar com , não ir à festa não era uma opção. Afinal, aquele era o noivado de seus melhores amigos.
  Lynn e Connor estavam dando uma festa para a oficialização do noivado, praticamente tudo estava pronto para o casamento, com a ajuda de que era a madrinha, a mulher conseguiu adiantar muita coisa.
  Foi um mês bem corrido para ambas, enquanto Lynn via as coisas do buffet via as do salão, enquanto uma via a decoração a outra via a igreja. e Connor também estiveram bastante ocupados, com as roupas dos padrinhos, os músicos, os convites e a limusine. Foi um mês de muitos encontros duplos entre os casais, que os aproximaram mais do que nunca.
  Então mesmo que pudessem bancar os anti-sociais, jamais conseguiriam faltar naquele momento tão importante para os amigos.
  O casal então sem mais delongas saiu do quarto, indo para a sala e se despediram dos pais de que estavam para viajar até a casa de um parente no interior, logo depois saíram da casa em direção a mansão dos Alcântara.
  Não foi surpresa verem a casa muito bem iluminada com carros chegando na entrada e manobristas organizando os veículos dos convidados, na verdade aquele era o jeito discreto da família de dar uma festa de noivado.
até gostara da ideia no início, amava o modo como festas de noivado eram comuns na época de seus pais, até ela descobrir o jeito excêntrico dos Alcântara em dar uma festa.
  Nada de salgadinhos ou bolo e refrigerante. Era champanhe e comidas com nomes estranhos que eram praticamente miniatura.
   estendeu a mão para ajudar a sair do carro como um perfeito cavalheiro e seguiram para a mansão de mãos dadas, como esperado, os noivos estavam na porta recepcionando os convidados.
  Lynn estava deslumbrante. O vestido vermelho longo que ela usava era amarrado no pescoço com um decote que ia até um pouco acima do umbigo, os cabelos soltos em cachos discretos e a maquiagem realçava seus olhos claros.
   a abraçou depois de soltar a mão do namorado.
  - Você não devia usar uma roupa menos chamativa? - ela disse, brincando.
  - , acha que me vestiria que nem uma senhora só para agradar a alta sociedade?
  Elas se soltaram e pôde ver o olhar brincalhão da amiga.
  Não, ela não faria.
  Lynn podia ser da elite, mas pouco se importava com o que os outros diziam sobre seu estilo ou suas roupas, não era atoa que ela tinha seguido justamente para esse ramo.
   trocou de lugar com e cumprimentou Connor, este estava com um terno preto e uma camiseta branca sem gravata, sapatos sociais pretos e óculos com uma armação moderna.
  - Qual é a dos óculos? - perguntou enquanto colocava o braço ao redor da cintura de depois de cumprimentar Lynn.
  - Não sabia que você usava, Connor. - comentou.
  O rapaz deu de ombros e riu, olhando para a namorada de relance.
  - Não uso, é que a Lynn acha sexy. - ele sorriu de lado, arrancando risadas do casal.
  - Estamos no mesmo jogo, querido. - Lynn se aproximou e colocou as mãos no ombro dele. - Os dois matando um ao outro do coração.
  - Aí, não. Eu não sou obrigado a ver isso. Vem, , vamos para a mesa. - brincou, levando consigo enquanto escutava os amigos reclamarem em um tom de zoação.
  O casal foi para a área externa da mansão, onde o enorme quintal estava decorado de um jeito rústico com diversas luzes iluminando as várias mesas espalhadas.
   viu sua equipe de longe e guiou até lá, sem tirar a mão de sua cintura. Ela se deixou ser guiada, analisando os rostos desconhecidos das namoradas dos soldados, se lembrava vagamente de alguns deles, mas todos sorriam de forma acolhedora.
  - , conheça os membros da equipe alfa. Tej, Gael e André. - gesticulava para cada um ao dizer os nomes. - E suas respectivas parceiras. Claire, Ravena e Mia.
  - É um prazer finalmente conhecer vocês. - sorriu educada.
  Todos estavam elegantes, porém demonstravam simplicidade, fazendo com que mulher se sentisse em seu habitat natural, não sabia distinguir quem era da alta sociedade e quem era uma reles mortal como ela. Era tranquilizador.
  - finalmente teve a cara de pau de trazer você. - disse André, era o mais divertido da equipe e o mais abusado. Às vezes se esquecia que haviam patentes a serem respeitadas, coisa de moleque como dizia. Mas nada disso tirava o foco e determinação do soldado em estar no front nas missões. Ele era o primeiro na linha de ataque.
  - Até parece que estava com medo. - Gael entrou na brincadeira. Era mais o mais quieto da equipe, bem observador e um perfeito estrategista.
  - Não tirem sarro do , ele vai ruborizar na frente da namorada. - Tej falou antes de apreciar seu vinho na taça. O mais velho da equipe, já tinha muita experiência e não era atoa que seu cargo era nada mais que o snipper.
   apenas rolou os olhos enquanto escutava rir baixinho ao seu lado.
  - Calem a boca. - pediu, puxando a cadeira para a namorada sentar-se como um perfeito cavalheiro.
  - Não ligue para isso, , eles são sempre assim. - Mia disse, acrescentando a mais recém-chegada na conversa.
  - Como um bando de adolescentes. - Claire acrescentou.
   riu.
  - Você se acostuma. - Ravena garantiu.
  - É, e acho que esse é o problema. - ela brincou, fazendo as mulheres rirem em sinal de concordância.
  - Já gostei dela. - Claire falou para .
  - Se bem me lembro, a equipe alfa era um pouco maior. - olhou para o namorado.
  Ela viu, mesmo que rapidamente, um certo receio nos olhos dele. Não sabia se era por conta das memórias que ambos tinham juntos sobre o dia em que conheceu a equipe ou se porque havia alguma coisa em seu trabalho que não podia ser dito.
  Ou talvez os dois.
  - Nem todos puderam vir. - foi apenas o que respondeu.
   queria poder explicar a melhor sobre a equipe, que alguns soldados eram apenas aliados de países amigos, que muitos ali não eram tão próximos quanto aqueles cinco caras, que a equipe era muito maior do que aparentava ou era mostrado. Mas não podia.
  Se soubesse sobre qualquer detalhe, por menor que fosse, ela estaria em um perigo ainda maior do que se encontrava atualmente.
  Quanto menos soubesse, mais seguro seria.

  Algumas horas haviam se passado, tinha sido muito bem acolhida pela equipe e principalmente suas devidas parceiras, criou um laço bem grande em pouco tempo. havia relaxado ao seu lado, também não comentaram mais sobre o trabalho do namorado então imaginava que esse o motivo da tranquilidade de .
  Conseguiu conversar bastante com todos ali presentes, havia gostado de Tej - que descobrira que seu nome verdadeiro era Thiago - e sua esposa Claire, ficou encantada com a forma como estavam em uma sincronia perfeita, como se fossem apenas uma só pessoa. E claro, a história do casal era muito mais emocionante do que imaginava, com um final feliz e dois filhos para carregar o legado.
   estava insegura de conhecer oficialmente os amigos e colegas de trabalho de , não só porque tinha os encontrado em uma situação extremamente delicada há meses, mas porque não se considerava a pessoa mais sociável da cidade. Ainda mais com todas aquelas pessoas da alta sociedade.
  Porém, havia se identificado com Claire justamente por ambas terem raízes humildes. Isso a fez se sentir mais confortável.
  Entretanto, não só e viram esse momento de paz se dissipar rapidamente quando o Major Walker começou a caminhar até a mesa onde estavam.
  Cada casal reagiu de um jeito, todos ali se sentiam intimidados com a presença do superior e isso se tornou palpável a cada passo que o mesmo dava.
   agarrou a coxa de embaixo da mesa enquanto o namorado a abraçava rodeando todo o seu corpo de uma forma protetora e bem visível, ele praticamente rosnou quando o Major parou do outro lado da mesa, mas permanecendo em sua frente. Exatamente no campo de visão do casal que ele queria atormentar.
  - Boa noite a todos. - falou alto para todos mas seus olhos não abandonaram um segundo sequer.
  E notou.
  Tej fez menção de se levantar para bater continência ao Major e sendo seguido pelos outros companheiros, exceto que olhava para o homem de pé como se pudesse socá-lo. Todavia, todos foram parados pelo Major.
  - Hoje não precisa dessa formalidade, não estamos no QG. - respondeu sorrindo de lado.
   olhava para todos os lados da festa menos para o Major Walker e pelo que pôde notar, nenhuma das novas amigas gostavam de Walker também.
  Sentia que o Major a encarava e não suportava aquilo, o olhar dele sobre si a arrepiava de um jeito ruim, tinha uma péssima sensação toda vez que isso acontecia.
  - Bom, aproveitem a festa. - sem dizer nada mais e mantendo os olhos fixos em , Major Walker saiu levando consigo a nuvem negra que havia trazido.
   respirou fundo e só olhou para quando o Major já estava bem longe, ela encontrou apenas pura e simples raiva. Se os olhos do namorado pudessem mudar de cor, com certeza estaria vermelho sangue.
  Ele bufou antes de retribuir o olhar para , tentou se acalmar, mas sentia seu sangue pegar fogo de tanto ódio.
  Major Walker havia feito aquele teatrinho de propósito, olhou para daquela forma para provocá-lo porque sabia que perderia o controle.
  Detestava aquilo, o jeito como ele encarava a namorada como se… a desejasse.
  Não, ele realmente a queria e fazia questão de mostrar a .
  E agora a guerra entre os dois se tornara mais pessoal do que nunca.

Capítulo 05 - In the middle of the war

   tirou os saltos altos no mesmo instante que pisou na sala de casa, deixando a porta aberta para que também entrasse, ele passaria o final de semana na casa da namorada já que o encanamento de seu apartamento precisou ser trocado.
  Bom, pelo menos foi isso o que disse para ela.
   trancou a porta da casa e guiou o namorado até seu quarto, assim que chegaram no cômodo começaram a tirar o excesso de roupa formal. havia trazido uma mochila para passar os dias ali, não que fosse necessário já que algumas de suas peças de roupa já estavam no guarda roupa da namorada.
   começou a tirar a jaqueta e os brincos enquanto achava um de seus pijamas mais confortáveis, estava indo para o banheiro se trocar quando fora interrompida por .
  - Nós já não passamos dessa fase de ter vergonha de se trocar na frente do outro? - sorriu de lado vendo a namorada o olhar confusa e tímida.
  - É só pra não despertar nenhuma - viu tirar a camiseta de forma tão rápida que a fez perder o raciocínio por um tempo. - vontade.
  Ele levantou as sobrancelhas e ela entendeu perfeitamente o que queria dizer.
  - Eu sei, vontade a gente tem sempre, mas estou exausta hoje.
   continuou seu caminho até o banheiro não apenas para se trocar, mas também para tirar a maquiagem e escovar os dentes, quando voltou depositava sua arma na mesinha ao lado da cama dela.
  - Precisa mesmo deixar isso aí? - perguntou, vendo-o caminhar em sua direção.
  - Você sabe a resposta. - ele beijou sua testa e caminhou para o banheiro.
   não gostava daquela mania de estar armado até mesmo dormindo, ou mantinha sua pistola do seu lado ou uma faca debaixo do colchão, entendia que era precaução e costume, mas por muitas vezes se sentia apavorada só de pensar em ele ser obrigado a usar de novo na sua frente. Não porque tinha medo dele, muito pelo contrário, mas sim de pensar nas ocasiões que podiam fazê-lo querer manuseá-la.
  Quando voltou, já com os dentes também escovados, apagou a luz do quarto e se deitou junto a . A cama era menor do que de costume do casal, porém nada disso era ruim, na verdade até gostavam.
  Podiam ficar ainda mais juntos, se sentia protegida toda vez que dormia abraçada com , e ele mais seguro de que ela permanecia ali.
   estava de costas para o namorado enquanto ele a enrolava em seus braços de uma forma protetora e gostosa.
  - Gostei de ter conhecido seus amigos.
   sorriu.
  - E eles gostaram de você também, principalmente as meninas.
  Ela riu, tinha se identificado bastante com elas.
  - Foi uma festa muito bonita, né? - perguntou, já sentindo os olhos pesarem de sono.
  - Foi sim, Lynn sabe como causar boa impressão. - respondeu, dando um beijo de leve na orelha dela.
  O casal permaneceu em silêncio, apreciando seus corpos juntos, um momento agradável de paz que levaram-nos a adormecer em questão de minutos.
  Até os sonhos de se inundarem de escuridão e medo.

  O rapaz estava acorrentado nos calcanhares e punhos em um cômodo sujo e pouco iluminado, sentia o rosto latejar e uma certa dormência em seus membros superiores. Piscava de vez em quando, sem saber se acordava segundos ou horas depois. Tinha perdido a noção do tempo e espaço.
  Fechou os olhos novamente, tentando ignorar a garganta seca e o corte que ardia em suas costelas, percebeu que uma porta se abriu e o lugar ficou repentinamente mais claro.
  Quando voltou seu olhar para frente, precisou forçar as pálpebras já cansadas que doíam com a luz. Viu duas figuras entrarem no cômodo.
  Uma era mais alta que arrastava a outra de um jeito grosseiro.
  A porta fechou e a escuridão voltou a reinar, porém dessa vez o homem já estava acostumado com a mesma, mesmo com dificuldade de enxergar conseguiu aos poucos identificar quem tinha entrado.
  O homem mau e alto sorria de forma psicótica, carregava uma arma que era apontada para a testa de uma mulher.
  .
   sentiu todo o corpo tremer de medo e a adrenalina correr por suas veias, uma força sobrenatural o fez esquecer suas dores físicas e suas necessidades básicas. Nem sequer lembrava das correntes que o seguravam ali parado, porque era apenas por causa delas que não tinha avançado no homem alto e feito toda a munição da pistola com silenciador perfurar o crânio do desgraçado.
  - Eu avisei que te machucaria de uma forma que nunca tinha imaginado. - a voz firme ecoou por todo o cômodo vazio logo depois uma risada maquiavélica. - Todos os meus sonhos se tornarão seus pesadelos.
   se concentrou em , que não falava nada, apenas chorava e balançava a cabeça.
  Ela não estava olhando pra ele.
  Por que ela não olhava pra ele?
  Queria dizer que os tiraria dali, que a protegeria. Tudo ficaria bem.
  - Por favor… - ela suplicou com a voz tão fraca que sentiu como se o corte em sua costela tivesse aberto ainda mais.
  O homem alto riu outra vez, destravando a arma.
  O coração de acelerou.
  Só que ele não conseguia falar nada, queria gritar, esmurrar e matar aquele verme.
  Mas estava paralisado não só pelas correntes.
  - Socorro! - um grito esganiçado de .
  O coração de acelerou mais.
  Um choro abafado atrás de , não era de e muito menos do homem.
  - Adeus.
  O coração de parou.
  Um tiro e fechou os olhos com a luz branca ardendo seus olhos, a única coisa que escutou foi um último chamado.
  - Papai!

  - Amor!
   acordou repentinamente, enxergando a namorada o olhar assustada enquanto mantinha a palma da mão no coração dele.
  Tão acelerado como no sonho.
  Ele respirou fundo, perdido completamente e sem o que fazer, puxou em um abraço forte. Fechou os olhos e sentiu o perfume dos cabelos dela invadirem seu nariz.
  Tinha sido um sonho. Ela estava ali.
  - Você estava gemendo e chamando meu nome. - escutou falar baixo, a voz abafada.
  - Pesadelo. - foi tudo o que disse.
  A namorada, sabendo como ele se sentia, depositou um beijo no peito desnudo do namorado e se afastou o suficiente para enxergar seu rosto, sem desfazer o abraço.
  Ela encarou bem o namorado, passou o polegar embaixo do olho dele pensando ser suor, mas não era.
  Não podia...
  - Você chorou…? - não sabia se tinha perguntado ou avisado.
  Foi? Ele nem tinha percebido.
  Na verdade, pesadelos eram constantes, mas chorar enquanto os tinha era difícil, nem se lembrava quando foi a última vez.
  - Foi assustador.
   se impressionou. O namorado não falava muito sobre seus medos, sabia que essa era uma barreira que ela dificilmente conseguiria quebrar, mas vê-lo chorar e admitir que se apavorou? Nunca tinha imaginado.
  - Está tudo bem agora. Estou aqui. - ela se aproximou para beijar a ponta do nariz dele.
  - É o que me acalma.

[...]

  Já era cedo quando levantou, não podia dizer que tinha dormido, pois mal conseguiu pregar os olhos. Sequer conseguia esquecer o pesadelo que tivera, tinha sido mais do que real, por isso estava em modo de alerta. Se sentia em constante ameaça e sua única preocupação era proteger .
  Respirou fundo ao ver que ela dormia tão serenamente, se aproximou da cama e pegou a arma da mesinha, guardando-a no cós da calça. Depositou um beijo na testa da namorada e saiu do quarto depois de pegar sua carteira, seu celular, a chave da casa de e a do carro.
  Trancou a casa enquanto observava o movimento do quarteirão, repetiu o processo até chegar em seu carro. Desbloqueou o celular e visualizou a mensagem que havia acabado de receber: “Encomenda pronta para retirada”.
  Sentiu a ansiedade tomar conta do corpo e sua mente viajar para o momento em que tudo havia mudado.

Há 3 anos e 4 meses. Fazenda dos Alcântara.
11:25 AM.

  Era verão.
   estava na festa de aniversário do irmão de Lynn, que duraria praticamente o dia todo. Afinal, uma festa dos Alcântara não era qualquer coisa. Mesmo que Matheus, o irmão mais novo da amiga, estivesse completando apenas 5 anos era de se esperar que toda aquela comemoração saísse nas revistas da elite.
  Desde o buffet até os brinquedos contratados, tudo tinha seu requinte.
   decidiu ir com um vestido florido sem mangas que ia até o meio da canela em tons das cores do outono, um cinto marrom fino, um colar longo e um salto alto com tiras em um tom nude bem claro. Passou uma maquiagem bem leve e deixou os longos cabelos soltos.
  Havia pegado uma carona com Lynn, já que tinha ajudado a amiga com algumas coisas da festa, e se arrumado na fazenda dos avós dela. O estilo neoclássico da casa com dois andares e características europeias a fazia se sentir longe de todos os problemas e preocupações, era como se estivesse em uma outra época. Fantasiava como uma pré adolescente.
  A parte de trás da fazenda tinha sido decorada de forma rústica, com mesas de madeira extensas e bancos acompanhado e as flores em tons claros. A mesa do bolo era mais decorada, até porque uma festa de criança sem um tema não era uma festa. O pequeno Matheus, assim como todo menino de sua idade, era obcecado por super-heróis.
   estava começando a ficar cansada de estar sentada em uma das mesas esperando a amiga voltar, decidiu então ir ao banheiro e dar uma volta pela fazenda, e teria feito isso se não tivesse esbarrado em alguém enquanto levantava da cadeira. Fechou os olhos por segundos se xingando mentalmente por ser tão desastrada e quando virou para pedir desculpas, ficou sem fala.
  Talvez porque o homem que esbarrou tivesse apoiado a mão em sua cintura ou era apenas porque o homem em questão era ninguém menos que , engoliu seco ao perceber o quão perto ele estava. Não tinham conversado sobre como agiriam quando estivessem em lugares como aquele, cheio de pessoas que queriam evitar e que não entendiam o que acontecia entre eles.
  Tudo bem que não tinham necessariamente combinado em esconder o relacionamento, mas não era como se fossem aparecer de mãos dadas publicamente.
  Porém, ficava difícil para agir normalmente quando ele estava ali tão perto e sorrindo daquele jeito.
  - . - a mão dele escorregou pela cintura dela até o toque sumir.
  - Oi. - ela sorriu, colocando o cabelo atrás da orelha.
  - O que você faz aqui? - perguntou curioso.
  - O Matheus me convidou, ele gosta muito de mim. - gabou-se em tom de brincadeira. - E você?
  - Esqueceu que eu sou amigo da família?
  - Ah é verdade. - ela sorriu amarelo.
  O casal se encarou profundamente em completo silêncio, ainda não sabiam como agir quando estavam em público. Não tinham conversado sobre esse tópico em específico, na verdade sequer tinham estado publicamente juntos.
   respirou fundo e deu um passo à frente.
  - , eu…
  - Tia!
  Ambos se afastaram ao escutar a voz do pequeno Matheus.
virou sorrindo enquanto se assustava em ver uma galera acompanhando a criança.
  Ok, não era bem uma galera.
  Apenas Lynn e o namorado junto com um bando de fotógrafos.
  - Oi, meu pequeno. - agachou para poder abraçar Matheus, que se jogou em seus braços. Ela o ajeitou melhor em seu colo e levantou. - Feliz aniversário! Sabia que você tá crescendo muito rápido?
  - Eu tô chegando no seu tamanho!
  - Tá sim. - ela beijou a bochecha dele.
  Matheus percebeu a presença de e estendeu um braço para poder abraçá-lo, o movimento fez com que desse um passo para trás e batesse as costas contra o peitoral de .
  Ela tentou esconder o sorriso, mas era praticamente impossível não reagir quando estava tocando-o ainda que sem querer, já pôde sorrir enquanto era agarrado pela criança. Todos pensariam que era apenas pela demonstração de carinho de Matheus, porém não era o único motivo.
  - Você também veio, tio!
  - Parabéns, moleque! - retribuiu o abraço como conseguia. - Logo eu te levo pro campo de futebol pra te encher de barro, do jeito que sua irmã adora.
  - Você nem se atreva, . - Lynn alertou.    rolou o olhos teatralmente, acabaria com aquela mania dos Alcântara de ensinar o menino a jogar golf ao invés de futebol só porque era mais “fino”.
  - Vocês podiam tirar uma foto com o Matheus, né? - Connor falou, chamando a atenção dos dois.
   e se olharam rapidamente, sorrindo cúmplices e concordaram.
  O fotógrafo aproveitou que fazia cócegas em Matheus enquanto gargalhava para tirar várias fotos, depois de uma quase sessão de fotos o aniversariante correu para ver os amiguinhos que chegavam enquanto os mais velhos se olhavam.
   viu a melhor amiga sorrir como se entendesse tudo e ela abaixou a cabeça tímida.
  - , será que eu posso roubar a minha amiga um pouco? - Lynn segurou a mão da amiga. - Nós temos que trocar de roupa para jogarmos o futebol de sabão.
  - Eu já te disse que sou péssima em esportes. - lembrou.
  - Lynn, você vai jogar futebol? - riu.
  Ela parou e colocou as mãos na cintura.
  - É pelo meu irmão. - levantou a sobrancelha e Lynn sabia exatamente o que ele estava questionando. - Tá achando que eu tenho medo de sabão?
  - Amor… - Connor tentou falar alguma coisa, mas foi interrompido pela namorada.
  - Vamos apostar então, meninas contra meninos. Quem perder paga um jantar. - Lynn sugeriu.
  - Feito. - concordou.
  Lynn saiu com em direção a casa dos avós.    não falou nada, sabia como a amiga era teimosa e muito orgulhosa, mesmo que estivesse certo ela jamais iria admitir. As duas se trocaram rapidamente no quarto de hóspedes que ficaria naquele final de semana, ela podia ver a determinação estampada nos olhos da amiga.
  Quando voltaram para a festa o brinquedo já estava montado e os técnicos terminavam de prepará-lo para a diversão, todos os adultos pareciam mais empolgados do que as crianças com a estrutura montada, os olhos chegavam a brilhar.
   sentiu o rosto queimar quando viu que tirou a camiseta enquanto se preparava para subir, ela mordeu o lábio para não deixar que o sorriso de felicidade aparecesse já ele sorriu de lado ao ver que ela estava vestindo uma camiseta larga do Star Wars e um shortinho preto curto.
  Sem demora, os casais subiram e combinaram que os times não teriam um goleiro para a brincadeira ficar mais divertida. Feito isso, o jogo começou.
  Os meninos eram mais habilidosos, é verdade, mas as meninas marcavam de todos os jeitos possíveis que ficava difícil de fazer o primeiro gol. Por um tempo eles seguiram desse jeito, mas depois tudo passou a ser mais divertido e o sabão estava cumprindo a sua função de derrubá-los, foi então que eles decidiram brincar sujo. Connor abraçava a namorada e caía com ela enquanto segurava pela cintura e a levantava, virando-a do lado oposto da bola.
  Quando eles marcaram o gol comemoraram com as pessoas que assistiam e as meninas não estavam propriamente bravas, elas gargalhavam, mas tinham uma estratégia para empatar.
  Lynn pulou nas costas do namorado e tapou os olhos dele com as mãos para que pudesse tirar a vantagem de chutar a bola por debaixo das pernas de , ela chutou um pouco torto, mas conseguiu o gol. Novamente a plateia vibrou.
  Agora para desempatar, Lynn marcava de um jeito que estava fazendo o rapaz rir e se preparava para chutar quando Connor deu um carrinho sem muita força nela, a bola voou para fora e caiu rindo, mas parou quando sentiu o olho arder quando o sabão entrou em contato.
  - Ai caramba! - fechou o olho e automaticamente levou a mão até o local.
  - ? - virou para Connor que estava caído do seu lado.
  - Tá tudo bem? - escutou Lynn falar mais atrás.
  - Caiu sabão no meu olho. - reclamou e viu os três ficarem preocupados.
   forçou para abrir o olho, mas além de coçar demais estava tão irritado que não conseguia mantê-lo aberto.
  Ela sentiu uma mão segurar a sua livre e outra encostar em sua cintura, olhou para o lado e estava lá tentando ajudá-la a levantar.
  - Desculpa, , foi sem querer! - Connor se desculpou e ela sorriu para garantir que estava tudo bem.
  - Não foi nada demais, sério. - garantiu.
  - Precisa jogar água com abundância. - Lynn lembrou
  - Eu te ajudo. - se prontificou e os dois saíram juntos do brinquedo.
  Ele foi cuidadoso com ela o caminho todo e nem se importava se as pessoas estavam comentando, a única coisa que queria era poder ajudá-la o mais rápido possível. ajudou-a a encontrar o primeiro banheiro que acharam e não demorou muito para colocar a cara debaixo da torneira e molhar o olho.
  - Porcaria! - reclamou quando o olho ardeu mais ainda e voltou a fechar o olho.
   chegou mais perto e colocou o cabelo dela para trás enquanto fazia uma conchinha com a mão e ajudava a levar até o olho de , ficaram assim por poucos minutos.
  - Melhorou? - perguntou visivelmente preocupado.
   tirou o rosto da água e ele estendeu uma toalha para ela se secar.
  - Sim, só tá coçando. - ele percebeu que ela estava esfregando o olho com a toalha e segurou a mão dela, obrigando-a a parar.
  - Não esfrega que piora, eu acho que vai ter que fazer uma compressa com água gelada.
  Ele afastou a toalha e segurou o rosto de com as duas mãos para enxergar melhor o olho vermelho dela, o braço de caiu do lado do corpo devagar ao perceber o quão perto ele estava.
  - Não precisa, eu não vou ficar cega. - brincou, piscando várias vezes para afastar aquela sensação de coceira.
  “Eu ainda consigo ver o quão bonito você é”, pensou.
   notou que estava exatamente do jeito que queria estar com desde o momento em que a viu na festa, estavam sozinhos e não precisavam esconder o que sentiam com medo de que alguém notasse.
  Ele afagou a bochecha dela com o dedão e sorriu aliviado.
  - Que bom, porque o seu tombo foi muito engraçado. - riu e ela fez o mesmo.
  - Foi jogo sujo, eu ia desempatar aquela bagaça e agora eu estou aqui com o olho inchado, vermelho, coçando e com o cabelo duro cheio de sabão.
  - Você continua linda. - garantiu, fazendo-a sorrir tímida.
   abaixou a cabeça com vergonha e sem saber o que dizer, quando respirou fundo e voltou a olhar , ele a encarava ternamente.
  - Eu vou ficar com vergonha desse jeito. - sentiu as famosas borboletas no estômago subindo por todo o peito.
  Ele não disse nada, apenas aproximou o corpo do dela ainda encarando-a, não sabia o que estava acontecendo, mas o elogio era sincero.
realmente continuava linda, mais do que qualquer garota que ele tivesse encontrado em sua vida.
  E então, de repente ele sentiu o suficiente.
  Estando ali no banheiro com ela da forma mais natural possível e bagunçada também, soube exatamente o que estava acontecendo.
  Ele a amava.
  Agora conseguia enxergar seus sentimentos e admitir para si mesmo o que provavelmente vinha tentando esconder há um tempo.
  Ele riu, achando graça do fato de não ter se tocado antes, o acompanhou ainda sem saber o motivo.
  - O que foi? - estava curiosa, ele parecia tão feliz.
   negou com a cabeça, sem conseguir externar aquilo e aproximou o rosto do dela para que seus lábios se encontrassem de uma forma doce. Ela fechou os olhos com o toque e apoiou as mãos no ombro dele.
   queria fazer mais do que dizer que a amava, queria mostrar a admiração e o imenso amor que estava sentindo naquele momento, achava que não iria conseguir descrever com palavras então talvez pudesse demonstrar.
  Ele se afastou e olhou bem de perto, vendo-a sorrir sem graça, observou cada centímetro do rosto dela com carinho e depois a abraçou repentinamente, enterrando o rosto na nuca dela.
   retribuiu, é claro, e sorriu largamente sem que ele visse. esperava que ela tivesse entendido o recado, mas ele não tinha certeza se foi muito claro.
  Mal sabia ele que tinha entendido tudo.

[...]

  Mais tarde naquele dia, depois da festa de aniversário de Matheus, apenas a família e os amigos mais íntimos ficaram na fazenda para aproveitar o restante do final de semana. tomou um banho quente e não deixava de sorrir que nem uma boba enquanto se lembrava do tempo que passou com e todas as coisas que ele disse, após o momento íntimo no banheiro, ele parecia menos inibido durante a festa. Não saía do lado dela, puxava assunto, sorria e a olhava de um jeito que fazia suas pernas tremerem, parecia menos preocupado com o que as pessoas achariam.
  Pelo menos foi como ela interpretou.
  Lynn havia convidado a amiga para o “luau” que fariam depois que as crianças dormissem, aquela noite era propícia a isso. A temperatura havia caído consideravelmente, o pai de Lynn já havia feito a fogueira e o chocolate quente seria servido em breve.
   colocou uma blusa preta básica, jeans escuros e um tênis preto, prendeu o cabelo com um rabo de cavalo e saiu para os fundos da casa.
  Encontrou a amiga e o namorado sentados juntos em um dos sofás da área externa, sentou no outro e olhou discretamente para os lados em busca de .
  - Ele já tá vindo. - Lynn avisou, rindo da amiga.
  - Eu nem falei nada. - Respondeu, dando de ombros.
  Não era para ficar tão na cara, ela tinha que disfarçar um pouco.
  Viu a melhor amiga negar com a cabeça e não falou mais nada pois chegava com um cajon na mão e um vilão nas costas.
  - Um luau não é um luau sem música. - falou enquanto entregava o cajon para Connor.
   sentou ao lado de , porém um pouco mais afastado do que queria já que iria tocar o violão.
  - Tem em mente alguma? - Connor perguntou.
   deu de ombros.
  - As meninas têm alguma sugestão? - olhou primeiro para Lynn que começou a pensar e depois para , que sorriu para ele sem parecer muito óbvia.
  - Eu amo Lifehouse então qualquer uma que vocês tocarem já está ótimo.
  - Sim, por favor. Toquem Lifehouse! - Lynn concordou.
  - Canta essa então, Lynn. - começou a tocar os primeiros acordes de Easier to be que reconheceu rapidamente, Connor o acompanhou com o cajon.
  Lynn tinha uma voz afinada e tudo pareceu fluir quando ela começou a cantar, apenas sorriu, pois aquela era uma de suas músicas favoritas da banda porém não cantou em voz alta como a melhor amiga.
  Era tímida demais para fazer aquilo na frente de , já que aquela música era perfeita para o momento em que os dois viviam.
  Ela ficou mais sem graça ainda quando notou que tocava sem tirar os olhos dela, em um certo momento não conseguiu desviar.
  Ele queria poder expressar o porquê de ter escolhido justo aquela música que tanto descrevia o que ele sentia quando estava perto dela. Era uma música pessoal e ele queria que pudesse entender que se tratava dela.
  Que ela tornava mais fácil ser quem realmente era quando estava com ela e era exatamente como cada trecho era cantado, eles não precisavam de palavras, conversavam com os olhos em um silêncio que os levava para um lugar só deles, que ninguém entenderia ou conseguiria entrar. Agora tinham se tornado a mesma frequência, a mesma batida de coração.

  Já era madrugada quando os dois casais decidiram acabar com o luau, Lynn estava dormindo no colo do namorado e Connor como o cavalheiro que era fez questão de carregá-la até a cama, deixando a manta fina que dividiam com os dois que decidiram ficar apreciando a companhia um do outro.
  Quando Connor já estava distante, se aproximou mais de para compartilharem juntos a manta enquanto sorria, ela se ajeitou melhor no sofá e sentiu o coração bater mais forte quando os braços se tocaram assim que ele deitou ao seu lado.
  Se aquilo fosse um filme, com certeza a música mais clichê e romântica estaria tocando naquele momento.
  - Você está com cara de quem está com sono. - falou e viu sorrir cansada, ainda sem olhar para ele.
  Com a lua cheia e brilhante, o céu mais estrelado do que costumava estar na cidade grande e a fogueira perto dos dois, não queria ceder ao sono e perder a oportunidade de viver aquele cenário com ele.
  - Eu não quero que essa noite acabe. - confessou, ela tomou coragem e o encarou.    ficou feliz em ouvir aquilo pois ele sentia o mesmo.
  - Eu também não.
  Ele sentiu a necessidade de falar a tempestade que vivia por dentro, todos os pensamentos que o atormentavam mas não achou que aquele fosse o melhor momento. Uma parte de si tinha medo que não entendesse sua explicação e ficasse chateada com a situação em que se encontrava.
  Como explicar a ela que a alta sociedade o via como um produto a ser negociado sem parecer um babaca? Que já tinha tentado se impor mas ainda assim era um covarde pois nunca tinha dito ‘não’ às vontades dos pais?
  A última coisa que queria ver na vida era ficar magoada por causa disso.
  Ele então, para afastar todo o medo, colocou a mão na bochecha dela.
  - Eu sei que talvez esteja pedindo muito, mas nós podemos esquecer o resto do mundo neste final de semana e sermos apenas… nós? - pediu. Precisava viver em seu próprio mundo junto com antes de voltar à vida real.
   sorriu largamente, era tudo o que mais queria.
  - Eu gosto dessa visão.
   respirou mais aliviado e roubou um beijo que acabou virando dois, três, quatro e muitos outros.
  Quando eles se afastaram, por um impulso quis dizer exatamente o que sentia.
  - , eu… - seu corpo travou, queria gritar, mas tinha alguma coisa impedindo que as simples três palavras saíssem.
  Como sempre, era um covarde.
  Mas sabia, talvez ela o conhecesse melhor do que imaginava, então colocou uma das mãos no peito dele bem em cima de seu coração e sorriu doce.
  - Eu sei, acredite. - falou olhando no fundo dos olhos dele.
   sentiu os ombros cederem e abraçou forte, enquanto ela apoiava a cabeça em seu pescoço e retribuindo com o mesmo calor.
  Não era o bastante que soubesse, ele precisava falar. Mas seria o suficiente por agora, acharia um jeito de dizer o quanto a amava com a coragem certa para admitir que não podia mais viver sem ela.

Atualmente.
Casa dos . 9:45 AM

   acordou subitamente ao ouvir a porta do andar de baixo fechando e não sentiu o calor de , foi isso que a fez levantar da cama e ir até a janela.
  O carro do namorado e nem ele estavam ali então ficou em alerta, vasculhou o quarto rapidamente e pegou o abajur ao lado da cama, usaria como arma se precisasse se defender.
  Sentiu o coração na boca enquanto ouvia passos subindo as escadas e segurou com mais força o objeto, pronta para arremessá-lo. Porém não foi necessário.
   entrou no quarto com uma bandeja de café da manhã, procurando no cômodo e a encontrou no chão ao lado da cama.
  - Bom d… o que está fazendo aí? - riu quando se aproximou e colocou a bandeja em cima da cama. – Por que você tá segurando o abajur com tanta força?
   olhou para a própria mão e riu sem graça, levantando do chão e sentando na cama na frente do namorado.
  - Eu ouvi um barulho e não vi o seu carro então… - ela deu de ombros e tirou o abajur da mão dela, devolvendo para o seu lugar de origem.
  - Decidiu me atacar com o abajur há 4 metros de distância. - ele brincou assim que voltou para a cama.
  - Agora meu plano pareceu idiota. - rolou os olhos e só então reparou melhor na bandeja. - Onde estava?
  - Preparando seu café, bom dia. - ele se aproximou e roubou um selinho dela.    achou o gesto muito adorável.
  - Eu ouvi a porta lá embaixo, você saiu? - pegou a caneca e bebeu um pouco de leite.
  - Fui buscar meu uniforme.
  - Emergência? - perguntou receosa. Sabia que poderia ser chamado a qualquer hora mas torcia para que não, aquele era o final de semana deles.
  - Ainda não, mas nunca se sabe. - a resposta era curta e não estendeu o assunto.
  Ela continuou comendo enquanto a encarava, às vezes beliscava algumas coisas e insistia para ele comer com ela, mas ele recusava.
  Estava tão ansioso que não tinha fome, comia apenas para tentar espantar o nervoso.
  - Obrigada pelo café, estava uma delícia. - levantou e deu um beijo em , pegou a bandeja e estava prestes a sair do quarto quando o ouviu dizer:
  - Não seria bom se todos os dias fossem assim?
  Ela parou e voltou a olhá-lo com a testa franzida.
  - Como?
   saiu da cama e fui até , sentindo o coração acelerar ainda mais.
  - Todos os dias eu te trazendo café na cama, você acordando nos meus braços, nós dois conversando sobre detalhes bobos.
   acariciou o rosto de que estava com a boca aberta sem conseguir responder. Tinha sido pega desprevenida.
  - O que você está querendo dizer? - perguntou, confusa.
  - Vem cá. - ele retirou a bandeja da mão de , colocou em cima da cama e puxou a namorada pela mão até os dois estarem sentados.
   sentia o coração bater tão rápido que a ponta de seus dedos chegavam a latejar.
  - Por que você não vem morar comigo? - falou de uma vez, antes que perdesse a coragem.
  Esperava que a amada fosse pular de alegria e embora ela estivesse feliz, demonstrava estar mais desapontada.
  - Nossa, eu não pensei que você fosse falar isso. - Dessa vez, foi quem olhou confuso para ela. - Amor, morar com você é o que eu mais quero só que…
  - Só que…?
  - Eu estava esperando um outro pedido, pra ser sincera. - deu de ombros e vendo que ele ainda não entendia, segurou uma das mãos dele. - Eu não quero apenas morar com você. Entende?
   tinha entendido perfeitamente, estavam de volta falando sobre a palavrinha mágica que até então nenhum dos dois tinha dito.
  Casamento.
  - Eu também não quero te pressionar a fazer algo que não é da sua vontade.
  Ele sorriu e levou a mão da amada que estava entrelaçada com a dele até os lábios e depositou um beijo suave de conforto.
  - Nunca mais pense que eu não quero me casar com você, é a coisa que eu mais quero na vida. - até tentou conter o sorriso largo, mas foi impossível e então esmagou o namorado em um abraço apertado.
  Um filme passou na cabeça de e um aperto no peito, tinha pensado tanto no rumo que sua vida estava tomando que a única pensava era que deveria fazer feliz enquanto estivesse por perto.
  Mas também sentia um pouco de medo, pois já que teria que fazer tudo conforme manda a tradição, teria que pedir a permissão do sogro e do cunhado. E isso provavelmente era muito mais assustador do que suas missões no extremo da fronteira.

[...]

   já tinha perdido as contas de quantas vezes tinha olhado para o relógio em seu punho, o seu expediente tinha terminado há pelo menos uma hora atrás e todo o prédio já tinha ido embora, exceto pelo chefe e o Major Walker que estavam em uma reunião desde a hora do almoço. Ela precisava da assinatura em um simples papel e não podia entrar na sala para deixar com o chefe, era o único motivo de não ter ido para casa ainda, já que todo o seu trabalho estava adiantado.
  Quando pensou que teria que pedir seu jantar ali mesmo, o chefe finalmente a chamou. levantou rapidamente da cadeira, sentindo dor nas costas de tanto ficar sentada, e foi até lá.
  - Precisa de mim para alguma coisa? - ele perguntou e deixou o papel em cima da mesa, sendo observada pelo Major Walker.
  - Sim, senhor, o jurídico precisa que assine isso ainda hoje e amanhã bem cedo eles virão buscar.
  - Certo. - o chefe voltou a atenção para o Major e ela permaneceu parada, esperando alguma ordem. - Bom, ficamos assim então, Major. Acredito que é o suficiente por hoje. - estendeu a mão e o mais novo apertou com força.
  - Perfeito, Secretário. Nos vemos em breve.
  - Até, Major. - o chefe se despediu e olhou para . - Pode ir também, . Boa noite.
  - Boa noite, senhor. - respondeu e saiu na frente, porém sentiu o Major logo atrás dela, mesmo que a sua estratégia de colocar a bolsa na ponta da mesa para que pudesse apanhá-la enquanto caminhava e assim ir ao elevador o mais rápido possível, parece que Walker tinha a mesma pressa que ela.
  Ele a acompanhou até a saída do prédio, exatamente do jeito que ela não queria, seu plano era ir até o metrô sozinha e muito rápido.
   debateu consigo mesma se deveria ser educada com o Major e desejou boa noite que mais saiu como um sussurro e foi na direção contrária dele, não queria escutar se ele tinha respondido e estava quase comemorando por conseguir ir embora até o Major chamá-la.
  Ela parou na calçada e virou, vendo-o caminhar até ela.
  - Eu queria te dizer que fico muito feliz em vê-la trabalhando.
   sorriu amarelo.
  - Obrigada, Major. - apertou mais a bolsa, pronta para virar e sair dali.
  - Já era hora do Secretário ter alguém competente. - ele sorriu, mas permaneceu séria.
  Não era apenas o que o Major falou, mas também a forma, pelo tanto que trabalhava imaginava o quanto os ex-funcionários tinham ralado e não achava justo falar deles daquele jeito.
  - Se for só isso, Major, eu tenho que ir antes que fique tarde. - mais ainda, pensou.
  Deu as costas mas sentiu a mão enorme dele segurar seu braço, mesmo estando com um vestido de manga longa conseguia sentir como era fria e aquilo fez um arrepio estranho percorrer sua espinha. Não era nem de longe o tipo de arrepio que causava, aliás muito pelo contrário, era uma sensação muito esquisita.
  - , espera… - Walker parecia não saber o que dizer já que olhava para todos os lados.
  Incomodada com o aperto, ela afastou o braço em um mudo sinal para que ele soltasse e funcionou.
  Esperou que ele dissesse alguma coisa e um relógio começou a tocar em sua cabeça.
  Tic.
  - Eu queria te pedir desculpas.
  - Pelo o quê? - ela franziu a testa.
  - Pelo meu comportamento nos últimos tempos, eu sei que você não fica muito confortável quando estou no mesmo cômodo. - ele riu triste. - Mas eu já aceitei que não é a mim que você ama e eu…
   quis que um buraco abrisse naquele momento, achava impossível o convívio com Walker ficar mais constrangedor, mas aparentemente podia piorar. Aquele era o último assunto que pretendia conversar com ele.
  Tac.
  - Major, por favor. - interrompeu, passando a mão no rosto sem se importar com a maquiagem. - Isso é uma história antiga e encerrada. Não tem porque falarmos disso agora.
  Tic.
  - , você mal consegue me olhar. Nós precisamos resolver isso já que vamos continuar nos esbarrando.
  Ela ficou em silêncio sem conseguir achar as palavras certas para dizer que não era por causa do quase relacionamento deles que não conseguia encara-lo e sim pelo modo como ele a olhava, como se fosse uma presa.
  Tic-tac.
  E não tinha gostado da forma como disse que continuariam se encontrando, soou como se aquilo fosse de propósito.
  Tic-tac.
   o olhou, dessa vez sem desviar, para que pudesse ser direta.
  - Major, eu amo o . - Walker não demonstrou nenhum sentimento, nenhuma emoção. - E aqui, nós precisamos apenas manter uma relação profissional com muito respeito. - ela percebeu quando ele juntou as sobrancelhas e olhou para o lado. - Se nós simplesmente esquecermos o que aconteceu, acho que podemos muito bem seguirmos em frente e…
  Walker fez sinal de silêncio e o olhou ofendida. Ele estava mandando ela calar a boca?
  - Você está ouvindo isso? - perguntou e ela ficou sem entender.
  - O quê?
  O Major não respondeu, olhou em volta e de repente se voltou para o carro estacionado na calçada do lado deles, ele estava ali quando chegou cedo e ainda permanecia. Achou estranho, se aproximou e tentou enxergar através do vidro preto porém não conseguiu, o insulfilm era escuro demais e imaginava que fosse de propósito. Encostou então o ouvido para escutar se o barulho estava vindo dali.
   não teve tempo de entender o que estava acontecendo, no mesmo instante que levantava a mão para perguntar o Major assumiu uma postura rígida e se aproximou em passos largos, segurando seu braço e a puxando consigo.
  - Precisamos nos afastar. - agora a voz dele era fria e séria.
   mal conseguiu balbuciar alguma coisa enquanto ele a arrastava para longe rapidamente, foi preciso muito esforço para não tropeçar no salto que usava já que ele praticamente corria com ela.
  - Major, o que foi? - perguntou ofegante.
  - Eu acho que tem uma… - os segundos seguintes foram ensurdecedores.
  De repente, o carro explodiu. O impacto fez com que Walker se jogasse em cima de em posição de proteção, segurou a cabeça dela com as duas mãos enquanto projetava o corpo para baixo, os dois caíram e apenas tapou os ouvidos com as mãos quando escutou o estrondo. Fechou os olhos quando a claridade queimou seus olhos e seu coração foi na boca quando sentiu o calor do fogo tão perto.
  Quando Walker pôde ter certeza que não haviam sido atingidos, se afastou o suficiente para enxergá-la melhor. estava tão chocada que sequer sentiu as lágrimas escorrerem pelos olhos arregalados, assim que o Major saiu do seu campo de visão conseguiu ver o que havia restado do carro ainda em chamas.
  - Você está bem? - ele perguntou, sua voz parecia estranhamente normal para quem tinha acabado de ver um carro explodir do nada.
   teria rido do pensamento se fosse outra situação, claro que ele estava normal diante daquilo, vivia coisas piores no exército.
  Sem conseguir responder, por não achar força na voz, apenas assentiu e viu Walker levantar enquanto enfiava a mão no bolso da calça.
  - Aqui é o Major Walker, tivemos um novo atentado no departamento de segurança. Eu preciso da minha equipe aqui. Agora.
   desviou o olhar para o Major e só então conseguiu entender o que havia acontecido.
  Parece que nenhum lugar do país era suficientemente seguro agora.

  Em poucos minutos escutou as sirenes se aproximando de onde estava, os moradores mais próximos já se aproximavam assim como os carros da imprensa.    estava sentada no meio fio da calçada com o blazer do Major nas costas, a temperatura havia caído mas não era por causa do vento que ela tremia. E sim de pensar no que havia acontecido. Se não fosse pelo Major, provavelmente não seria apenas o carro o único a ser incinerado ali. Tinha apenas ralado o cotovelo e batido o joelho de lado durante a queda, mas isso era o de menos. Estava viva. Sobreviveu a um atentado com bomba.
  Walker ainda estava no telefone, mas do lado dela, talvez para ter certeza que não fosse desmaiar a qualquer momento.
   viu o caminhão do corpo de bombeiros chegar primeiro, atrás um 4x4 do exército, uma ambulância e um outro carro, todo mundo saiu às pressas dos veículos e vieram em direção aos dois. Entretanto, ela reconheceu um soldado, sem uniforme dessa vez, que caminhava com mais pressa do que os demais.
  Esquecendo qualquer protocolo de hierarquia, ela se levantou e deixou o blazer cair no chão enquanto corria até que enxergava apenas a mulher assustada à sua frente.
   se jogou nos braços dele e sentiu o corpo amolecer, uma súbita vontade de chorar - que não foi contida - e a sensação de estar finalmente segura. Enterrou o rosto no pescoço dele e respirou fundo, sentindo a mão dele afagar seu cabelo.
  - Eu tinha acabado de sair do QG quando soube, vim o mais rápido que pude. - ele falou, preocupado. Só Deus sabia o medo que sentiu quando ouviu sobre o atentado próximo ao prédio, e sabe-se lá quantas multas havia tomado por ter passado no sinal vermelho.
   se afastou de contra a vontade e sua mão segurou o rosto dela, analisou minuciosamente dos pés a cabeça e notou o joelho machucado e a manga do vestido rasgada, além é claro da expressão assustada dela.
  - Vem, os paramédicos precisam ver esses ferimentos.
  - Eu estou bem. - a voz trêmula não enganou o namorado que sem precisar falar mais nada, levou-a até a ambulância.
   mal sentia as pernas por causa do susto, então quando os paramédicos deixaram-na sentar na ambulância deixou o corpo se render.
  Um paramédico a analisou enquanto outro corria para verificar o Major, fez os procedimentos básicos e logo depois limparam seus ferimentos, nada preocupante. Fisicamente estava ótima para uma sobrevivente de um atentado.
   observava tudo em silêncio e com muita atenção, sabia de suas obrigações como soldado porém não as realizaria até ter certeza que ela estivesse bem. Deu uma olhada para trás, vendo os companheiros e o Major ocupados demais para lembrarem que estava ali.
  - Se sentir tontura ou dor de cabeça nas próximas horas, tome um analgésico. Não teve trauma na cabeça ou algo do tipo então você vai ficar bem. - ela sorriu fraco para o paramédico.
  - Valeu, Sid. - agradeceu e apertou a mão do homem, ele retribuiu e saiu com a prancheta em direção ao parceiro.
   sentou ao lado da namorada, vendo-a olhar para o nada, ele passou o braço em volta da cintura dela, sentindo-a encostar em seu ombro.
  - Você devia ir ao hospital e fazer um raio x. – disse, mas ela negou com a cabeça.
  - Eu já disse que estou bem, amor. - o problema não foi a queda e sim o trauma. Ela se afastou dele depois de olhar para os soldados mais a frente, franziu a testa e estava pronto para questioná-la, mas foi mais rápida: - Devia bater continência ao Major, não quero que te puna por minha causa de novo.
  - Eu não vou sair do seu lado essa noite. - ela sorriu. É claro que não iria, mas acima dela, ele tinha um dever.
   o olhou com compreensão.
  - Eu sei. - colocou uma mão no rosto dele e o acariciou. - Mas é melhor, vai lá. Eu não vou nem me mexer, prometo.
   relutou, ainda enxergava pavor nos olhos dela, mas de certa forma, tinha razão. Depois de alguns minutos lutando internamente, ele levantou e tirou a jaqueta que usava, colocou na namorada e deu um beijo suave nos lábios dela.
  - Eu não demoro. - avisou, depositou um beijo na testa dela e saiu.
  Nos minutos seguintes, cumpriu sua função como soldado do exército, conversou com os colegas, com o Major, analisaram minuciosamente o local e trocaram informações importantes.
  Todos estavam convictos de uma coisa: aquele atentado tinha um único destino, o departamento e todos os que trabalhavam ali.
   acreditava que os rebeldes não iriam matar o secretário daquela forma, o que queriam era a atenção. Mostrar que quando estivessem prontos e quando quisessem, fariam um estrago muito maior. Já conseguia imaginar as cenas de terror e caos mais uma vez por todas as cidades, seu sangue fervia só de pensar em todos aqueles bandidos tomando as ruas de seu país.
  Teriam muito trabalho para que isso não acontecesse, o exército não permitiria, não com uma ameaça como aquela.
  Não se preocupava em apenas proteger os civis, isso era sua obrigação, mas também.
  Precisava deixá-la segura de qualquer forma. A qualquer custo.

Capítulo 06 - Remember what you're fighting for

  - , você sabe que eu odeio surpresas, né? - perguntou pela segunda vez naquela manhã.
  Ele apenas riu, concentrado no trajeto que percorriam, estavam no carro há meia hora e ele se recusava a dizer para onde estavam indo.
  - Essa é a segunda melhor parte.
  - E qual a primeira?
  - Que você não faz ideia de onde estamos indo. - ele sorriu travesso e ela bufou.
  Tudo bem, aquele era o final de semana deles. Fariam muitas coisas juntos, segundo a programação do namorado porém sentia uma ansiedade fora do comum já que não sabia o destino e nem o que fariam, a única coisa que ele disse na noite passada era que ela precisaria usar uma roupa confortável.
  - Você disse que não iríamos viajar, mas estamos na estrada há um tempo. - comentou, tentando puxar a língua dele de algum jeito.
  - Já estamos chegando. - anunciou, sem estender mais o assunto e deixar alguma pista para .
  Dez minutos depois e começava a parar o carro no estacionamento do local, franziu a testa ao ver a grande placa e piscou algumas vezes para ter certeza que tinha lido certo, quando o namorado parou por completo ela questionou:
  - Gun Leste? O que nós estamos fazendo em um clube de tiro?
   sorriu largamente, agora ele podia finalmente contar o que vinha tramando há semanas.
  - Eu vou te ensinar a atirar. - respondeu orgulhoso e o olhou como se estivesse doido.
  - Eu? - apontou para si mesma e ele concordou. - Você vai ensinar a sua namorada completamente desengonçada e desatenta a atirar com armas de verdade? Você trouxe os snipers do exército porque até eles vão ter um grande trabalho.
  - Eu sou um ótimo atirador de elite! - revelou. - E você não é desengonçada. - ela cruzou os braços, arqueando a sobrancelha o questionando silenciosamente. - Tá bom, você é atrapalhada, mas nada que não dê para resolver.
  - Amor, não me leve a mal, mas como uma atiradora eu sou uma ótima cozinheira. Por que quer fazer isso?
   acariciou o rosto da namorada delicadamente, sua expressão ficando mais séria dessa vez.
  - Depois do atentado no prédio, eu fiquei pensando que eu não vou conseguir estar sempre do seu lado pra te proteger, mesmo que eu corra pra te salvar, , nada garante que eu vou chegar a tempo todas as vezes. Eu quero te ensinar a se proteger. Eu não paro de pensar no que teria acontecido se ao invés de uma bomba, os rebeldes tivessem esperando você do lado de fora do…
   colocou o dedo nos lábios de para que ele parasse de falar, sentia a agonia dele ao partilhar a cena que tinha imaginado e não queria pensar naquilo também. Ainda estava vulnerável e insegura a cada dia que ia trabalhar, mas precisava fazer aquilo.
  - Não pensa mais nisso. - pediu. - Você acha que essas aulas são realmente necessárias?
  Não irrita relutar se o namorado estava convicto que aquilo era realmente preciso.
  - Eu queria que elas não fossem. - foi tudo o que ele podia dizer.
  Não queria envolver o trabalho ou trazer à tona informações sigilosas, mas aquela era a forma que conseguia mostrar a ela como as coisas poderiam piorar e precisava mantê-la segura.
   suspirou.
  - Eu vou ficar tão boa quanto o John Wick? - sorriu e viu rir.
  - Muito melhor do que ele. - ele se aproximou e deu um selinho nela, depois pegou uma bolsa que estava no banco de trás. - Já que você aceitou, eu trouxe algo. - tirou uma caixa preta e estendeu para a namorada.
   segurou animada e abriu quase que no mesmo instante, uma arma estava ali.
  - É muito mais leve do que parece e é um pouco menor do que as que eu manuseio no exército. Era a pistola do meu avô.
   o olhou surpresa e viu o sorriso triste dele.
  - Você vai deixar comigo?
  - Não, eu estou te dando. Agora é sua.
   sentiu o queixo cair ao mesmo tempo em que seu coração aquecia.
   não falava muito do avô, o que conhecia era o que tinha saído na mídia, conhecia o político e não o avô.
  Mas conseguia ver o quanto aquilo representava para o amado e bem, estava lisonjeada.
  - Obrigada! - afagou a arma com uma mão e com a outra acariciou o rosto dele com um sorriso genuíno.
  - Vamos. - ele a chamou, tirando a chave do carro e saindo.
   fez o mesmo, levando a sua bolsa e a arma de um jeito desengonçado, não sabia como carregar aquilo, mas ficou feliz por notar que ela caberia em sua bolsa pelo tamanho compacto.
   estendeu a mão para que ela a segurasse e entraram no local com os dedos entrelaçados depois de ele travar o carro.
notou como o namorado conhecia todos os instrutores e funcionários do clube, ela não fazia ideia se ele era um afiliado, mas pela forma como ele a levava junto para os stands como se soubesse exatamente para onde ir, parecia que sim.
   explicou com maestria como a arma funcionava e porque era importante a namorada seguir as dicas que ele daria, e claro enfatizou que aquilo era para que ela pudesse se proteger apenas, mas não era como se ele precisasse dizer afinal, não sairia por aí atirando em qualquer um que aparecesse.
  Deu os equipamentos de segurança para os ouvidos e os olhos dela e se posicionou atrás da namorada, mostrando como ela deveria segurar a arma. Ela sorriu contida ao sentir o tronco do namorado bater contra suas costas, não era bem o momento para pensar em certas coisas, mas ficava tão difícil porque ele estava tão cheiroso e…
  - ? - ouviu a voz abafada dele chamar sua atenção e ela piscou algumas vezes.
  - Sim? - ela respondeu, atônita.
  - Você ouviu o que eu disse? - ele perguntou, contendo a risada.
  - Não, desculpa. - ela balançou a cabeça para tentar afastar os pensamentos que não envolviam o treinamento.
  - Tudo bem. - ele riu baixo, o hálito batendo contra a nuca de e ela precisou respirar fundo. - Eu disse que você precisa segurar a arma com força, cada disparo vai ter um recuo, por isso é bom você manter essa mão junto com a sua dominante - ele direcionava as mãos dela na arma. - como apoio para o seu punho. A arma precisa estar na direção do seu peito, fica mais fácil para você observar o alvo e mais rápido de recuar caso precise acionar mais uma vez. - ele ajustou a posição e sentiu o braço ficar rígido. - Ajusta as pernas também, - ele levou a perna direita atrás do joelho direito de e a fez levar a perna um pouco mais a frente. - Pode flexionar o joelho um pouco, é do seu corpo que virá a força para o recuo não ser tão forte, o tronco um pouco mais a frente. - ele apoiou a mão livre na cintura dela e a fez inclinar um pouco. - Não incline o ombro para trás, dependendo da arma e do recuo pode acabar deslocando. - assentiu. - Aqui é onde você irá destravar a arma. - ele abaixou o que mais parecia um pino para . - Sempre se atente a isso, a arma precisa estar destravada para você poder atirar.
  - Ok, e agora? - ela perguntou, ansiosa.
  - Agora você mira onde quer acertar no alvo. - ele soltou a mão da arma e apontou para o desenho há alguns metros dali. - E aperta o gatilho.
   concordou com a cabeça e mirou no ombro da figura de um homem que estava desenhada mais a frente, estava nervosa e sentia o coração bater forte contra as costelas e percebeu isso, por isso aproximou o rosto do dela.
  - Respire fundo. - pediu e ela o fez. - Sinta a adrenalina percorrer as suas veias. - sentiu seu corpo esquentar, não apenas por causa da adrenalina, mas por causa de . Ele estava tão perto. - Foque no seu alvo, não se importe com mais nada além do que você precisa e quer acertar, nem mesmo a minha voz te conduzindo. - firmou os olhos no alvo. - Atira!
   o fez sem nem ao menos piscar e sentiu a arma ficar mais pesada e voltar para trás com força, ela precisou segurar ainda mais forte, mas manteve-a em sua mão, o tiro ecoou pelo local e rapidamente acertou o alvo.
  O coração dela batia ainda mais forte e ela nem tinha reparado que o queixo havia caído, sentia a força que a arma tinha feito em seu punho, mas não era doloroso, forçou os olhos ainda mais ao ver onde tinha acertado o alvo.
  Sua mira era para acertar no ombro, mas acabou acertando no pescoço.
  - Meu Deus - ela falou, tirando o dedo do gatilho e virou para o namorado, que sorria largamente para ela.
  - Você foi muito bem! - ele afirmou e ela riu de nervoso.
  - Eu atirei! - constatou, ainda chocada.
  - Sim, meu amor, e foi um ótimo primeiro tiro. - ele afagou as costas dela e voltou a olhar para o alvo. - Vamos mais uma vez.
  Ela não sabia que a adrenalina seria tão boa mas era um calor bom, sentia as mãos tremerem e formigarem por toda a emoção e impacto da arma mas estava muito orgulhosa de si mesma por ter conseguido acertar um tiro.
  Entendia um pouco do porquê gostava daquilo, mas precisou se lembrar que aquilo era apenas para quando ela precisasse se proteger, ou seja, em casos extremos. E desejou não ter que atirar em alguém de verdade, os desenhos do clube pareciam de bom tamanho.
  Mal ela sabia…

[...]

  - Então, posso saber por que você está me levando para a academia do seu apartamento? - perguntou, seguindo o namorado de mãos dadas.
  Ela estava cansada das aulas de tiro, nunca imaginou que seus braços e pernas doeriam tanto, mas por incrível que pareça, tinha gostado. Claro, ela preferia mil vezes cozinhar como sempre fazia, mas atirar não era tão ruim. Conseguiu descarregar uma boa parte das frustrações que estava acumulado dentro de si.
  E achou que a levaria para casa depois de passarem o dia inteiro no clube, mas quando o amado disse que o treinamento não tinha acabado ainda, ela ficou confusa.
  - Se proteger pode ser feito de muitos jeitos. - falou enquanto acendia as luzes da academia vazia. - Uma arma é a solução mais rápida, mas para um ataque corporal, a luta defensiva é a melhor opção.
   franziu a testa ao ouvir e soltou a mão dela para ficar de frente, com as mãos na cintura.
  - Você está dizendo o que eu penso que está dizendo? - ela questionou e ele concordou com a cabeça. - Você tirou o dia para me transformar numa soldado ou algo do tipo?
  Dar a ela uma arma carregada de munição, ensiná-la a atirar e agora ensina-la a lutar? Com certeza ele estava se esforçando como se aquilo fosse um treinamento que dava para os soldados do seu batalhão.
   riu e não se conteve, segurou o rosto de em ambos os lados e deu um beijo suave nos lábios dela, que reclamou quando ele se afastou.
  - Estou te dando todas as possibilidades, gostaria que a arma fosse a sua última opção. - ele falou sincero. - Então, aprender o básico de defesa pessoal vem a calhar.
   sentia a preocupação no tom de voz do amado e só por isso não tentava o convencer do contrário. Tudo bem, tinha aprendido o básico de armas, mas luta? Parecia um pouco demais para ela.
  Mas sabia os riscos e perigos, se ele estava fazendo aquilo é porque era importante e não seria ela que iria recusar.
  - Tudo bem, então me mostre. - ela pediu e viu ele sorrir de lado.
   se afastou e estalou as mãos.
  - As regras que se aplicam para o tiro também se aplicam à luta. Você precisa ter força na perna porque são elas que vão te sustentar. - ela assentiu, tentando guardar as informações em sua cabeça. - Me bate.
   franziu o cenho.
  - Hein?!
   riu.
  - Me bate, eu quero ver como você soca. - ela estreitou os olhos, mas ao ver que o amado falava sério, ela piscou algumas vezes antes de fazer o que ele pediu.
  Não foi surpresa que parou o soco de antes mesmo que ela pudesse atingi-lo, com uma mão apenas e ele sequer estava fazendo esforço.
  - Primeiro, o dedão sempre fica para fora do punho, nunca prenda-o entre os dedos. - ele ajudou a arrumar a posição conforme falava. - Com o impacto você pode acabar quebrando, e nunca bata com o osso, é sempre de chapa. - Ele mostrou a ela como fazer, que assentiu. - Força nas pernas. - ele tocou na coxa de com leveza, mas o calor da palma dele foi o suficiente para fazê-la perder o foco. - O que foi? - perguntou ao ver o olhar perdido dela.
  - Nada. - ela negou com a cabeça, rindo.
  - ! - ele falou de forma arrastada, para mostrar que sabia que tinha alguma coisa a mais.
  E é claro que ele sabia, afinal viu a forma como ela se arrepiou com o toque tão inocente.
  - Isso tudo é tortura, sabia? - ela reclamou, fechando os olhos e sentiu a mão do namorado subir a mão pela coxa, quadril e parar em sua cintura, onde ele segurou com mais força.
  - Eu não estou fazendo nada. - falou em um tom baixo e se não conhecesse bem , diria que estava confuso.
  Mas ao abrir os olhos, viu que ele se fazia de desentendido pois carregava um sorriso quase imperceptível.
  Era exatamente esse o problema, não estava fazendo nada e lá estava ela, sentindo as pernas ficarem mais fracas com um simples toque!
  - Anda, não se distraia. - sem esperar, ela sentiu a palma de levemente contra sua bunda e ela deixou o queixo cair. - É a primeira regra.
  - ! - quis se fazer de brava, mas ela estava rindo.
  Nunca imaginou que o namorado pudesse ficar ainda mais sexy do que já era, mas vê-lo tão sério e concentrado estava deixando-a ainda mais hipnotizada por ele.
  Mas estava convicto no que queria e naquele momento era ensinar o básico de defesa a , por isso ele se afastou o suficiente para que pudessem treinar de verdade enquanto dava dicas a ela.
  Como bater, como se defender, como sair de um golpe que a imobilizava. Tudo o que achava importante e que sabia que a namorada conseguiria aprender.
  Ele tinha um sorriso no rosto enquanto ela se mantinha focada, fazendo exatamente o que ele dizia, estava orgulhoso dela e ainda mais apaixonado. Não sabia que era possível, mas aparentemente era.
   pingava de suor e foi gentil demais em buscar água para ela, quando voltou a namorada levantava o cabelo que grudava na nuca e respirava fundo, sentindo um calor anormal enquanto as coxas queimavam, mas confessava que lutar também era legal. Tinha descontado muitas frustrações nos movimentos, mesmo que não tivesse acertado forte , ele acabou sendo seu alvo.
  Ele sorriu maroto ao vê-la daquele jeito e se aproximou, estendendo a garrafa de água e sorriu agradecendo, sem fôlego para falar.
  Ela bebeu a garrafa toda e soltou um suspiro alto que ecoou pelos ouvidos de de uma forma que o fez cravar os olhos na namorada, mordendo o lábio.
  - Ok, eu te deixei descansar um pouco, mas temos que voltar ao trabalho. - falou e segurou a risada quando ouviu reclamar.
  - Amor, por favor, eu estou cansada. - fez um barulho com a boca e tirou a garrafa da mão dela, jogando no chão e puxando-a pela mão. - Hoje é sábado!
  - Exatamente por isso, nós temos que aproveitar bem o tempo.
   torceu a boca e o namorado soltou a mão dela, ela respirou fundo antes de começarem tudo de novo, porém, ela sentia um olhar diferente de .
  Beirava a provocação e a malícia, mas cansada do jeito que estava sequer ligou uma coisa com a outra.
  Foi só quando ele, em um movimento rápido, rodopiou que caiu no tatame da academia e subiu em cima dela, que sentiu um certo volume que não estava ali antes.
  Ela mordeu o lábio para controlar o sorriso, olhando para o namorado sabendo exatamente por que ele tinha feito aquilo.
  - Você está chegando perto. - ele concluiu, olhando toda a extensão do rosto dela enquanto apoiava as mãos em cada lado da cabeça dela.
   sentia o quadril de encostado no seu e ela não conseguia sequer lembrar onde estavam e o que estavam fazendo.
  - Você também. - sussurrou, levantando uma sobrancelha, olhando de relance para os corpos se tocando.
  - Eu estou falando da luta. - ele fingiu inocência e ela riu, voltando a encará-lo nos olhos.
  Pura conversa de sedução que ela estava adorando.
  Foi por isso que ela levantou a cabeça o suficiente para morder o lábio inferior dele de leve e trazer para si, ganhando um grunhido dele.
  - E do que você acha que eu estou falando? - ela provocou e em resposta roçou o quadril no dela.
   precisou fechar os olhos para conter um gemido.
  - Nós temos que sair daqui antes que eu não consiga chegar ao meu apartamento. - ele avisou, respirando fundo.
   levantou, desfazendo todo o contato com que abriu os olhos e fez um biquinho.
  Poxa, estava tão bom.
  - Ou o quê? - ela perguntou, curiosa e estendeu a mão para que ele a ajudasse a levantar.
  Seria uma boa ele carregá-la até o apartamento, estava tão cansada.
  Assim que o fez, a olhou intensamente, arrancando um suspiro dela.
  - Ou eu vou ter você aqui mesmo. - apontou para o chão da academia, puxando-a pela mão.
   sentiu todo o rosto queimar e deixou-se ser levada pelo namorado apressado. Gostava quando ele era fofo e cavalheiro, mas o corpo reagia de forma diferente quando ele era direto e sério, o que não era sempre.
  Algo dizia que a noite seria bem longa.

[...]

   e estavam tentando recuperar o fôlego do que tinha sido uma noite repleta de amor, não tinha outra palavra para descrever.
  Ela acariciava o rosto dele enquanto observava cada centímetro já gravado em sua memória enquanto ele fazia movimentos circulares na cintura desnuda dela, os olhos fechados indicando que ele estava relaxado. A expressão serena que só tinha quando estava com ela.
  Era madrugada e embora ambos estivessem completamente esgotados, não conseguiam dormir, precisavam aproveitar o tempo que tinham antes da rotina da semana impedi-los de até mesmo se falar.
   sentiu o estômago roncar e o barulho ecoou pelo quarto silencioso, isso fez com que abrisse os olhos de pura surpresa. Assim que se entreolharam, começaram a rir.
  - Acho que é a deixa para perguntar se você quer comer alguma coisa. - sentou-se na cama e a mão de caiu por seu peitoral.
  - Eu até quero, mas eu tô com uma preguiça. - falou manhosa e sorriu, se aproximando para beijar a testa dela.
  - Não tem problema, eu trago pra você. - ele garantiu e ela concordou com a cabeça. - Você quer…
   foi interrompido por um barulho de algo quebrando na sala e ele ficou rígido de repente,
seguiu o olhar dele até a porta do quarto como se estivessem tentando adivinhar o que tinha acontecido.
  Ela levantou o tronco da cama ao mesmo tempo em que levantava da cama, pegando a cueca do chão e vestindo rapidamente, assim que livres suas mãos foram para a arma em cima do criado mudo e a destravou.
  Isso chamou a atenção de que agarrou o lençol com força, trazendo-o para o pescoço.
  O namorado adotou uma pose defensiva e quieta, esperando por mais algum ruído vindo do apartamento, seus ouvidos apurados e o fato de sequer estarem respirando tamanha tensão ajudou a perceber barulho de passos. Mais especificamente de botas de combate.
  - Vai pra debaixo da cama. - sussurrou para que o olhou em pânico, mas ao ver a expressão séria do namorado, concordou.
   pegou a camiseta de que tinha ido parar na cabeceira da cama e vestiu, sem emitir nenhum ruído ela fez o que ele mandou, sentindo as mãos ficarem frias e o coração acelerar.
  Sequer precisou perguntar a o que ele faria, viu o namorado ir em direção a porta e precisou cobrir a boca com as mãos para não pedir para ele ir.
  Seria inútil de qualquer forma.
   agora estava como o soldado que ela tinha visto em ação e não iria contestar nenhuma ação dele.
  Era madrugada e um barulho daquele não seria feito pelo vento ou um gato do vizinho.   Tinha conseguido esquecer do ataque dos rebeldes a aquele prédio, mas parecia que o edifício não dava muita sorte para ela.
   pôs-se perto da porta, na parede porque ele não era burro de ficar na frente, e ouviu cada mínimo barulho. Era muito bem treinado para aquilo.
  Barulhos de sussurros que ele não conseguiu identificar o que diziam, estavam na cozinha, muito perto do corredor que levava até o quarto onde estava, não conseguia ver as posições dos invasores, mas poderia imaginar cada um de um lado, dando cobertura.
  Também era impossível saber a quantidade, mas não esperava mais do que 3.
  Ao ouvir um deles ajustando a arma nas mãos, ele entrou em modo de combate. estava ali e deveria mantê-la segura.
  Essa era a sua missão.
  Convicto de sua análise, ele agachou, olhou para baixo da cama e viu encarando-o assustada, ele pediu que ela ficasse em silêncio e mexeu devagar na maçaneta até sentir que a lingueta da porta não estava mais no lugar, ajustou a arma na mão e abriu a porta com rapidez.
  Por um momento, conseguiu iludir os invasores que não viam ninguém na porta, apenas o breu e então posicionou a frente e atirou no primeiro que estava à esquerda, certeiro no meio do peito.
  Quando o primeiro caiu, voltou a sua posição enquanto tiros eram disparados contra ele. gritou ao ouvir os tiros altos e confusos dentro do quarto, levando as mãos até os ouvidos enquanto os demais invasores entraram no quarto em busca dela.
  Mas foi mais rápido, assim que o segundo entrou, ele atirou no pé e depois na cabeça. O cara caiu no chão e berrou ao ver o corpo já sem vida na sua frente, acabou batendo a cabeça na cama e fechou os olhos, querendo que aquilo acabasse logo.
  Ela não conseguiu ver finalizar o último invasor, com um tiro na mão e outro na jugular. Não demorou para que ele caísse aos pés de , engasgando com o próprio sangue e sendo observado por com olhos frios e duros.
  Quando teve certeza que o cara estava morto, assim como os outros dois, ele andou com cautela pelo apartamento em busca de mais invasores, mas tudo o que encontrou foi a sua sala remexida em pontos específicos.
  Estava tudo limpo.
  Voltou correndo para o quarto e foi até que chorava debaixo da cama, ele deixou a arma em cima da cama e estendeu a mão para segurar o braço dela. a ajudou a sair e assim que se pôs de pé, o abraçou forte.
  Ele fechou os olhos e levou uma mão até os cabelos dela, acariciando com uma calma que ele não estava sentindo, mas que queria transmitir a ela, a outra mão a segurou pela cintura enquanto ela se desmanchava nos braços dele, com o rosto no peito dele.
   via os flashes daquele dia da invasão passar em sua cabeça com rapidez, sentia como se estivesse passando por aquilo de novo.
  Não era possível que ela e não teriam um dia de paz.
  - Ei, está tudo bem agora. - ele falou, sentindo o coração despedaçar ao ouvi-la soluçar. - , amor. - ele chamou a atenção dela, levando a mão até a bochecha dela, fazendo-a se afastar para encará-lo. - Eu estou aqui, você está segura.
  Ela respirou fundo ao ouvir aquilo, seus olhos automaticamente foram para os corpos caídos pelo quarto do namorado.
  Sua cabeça imaginou milhares de cenários diferentes.
  E se ambos estivessem dormindo? Teriam morrido? E se não tivesse acordado? Ela teria feito alguma coisa? Quem eram aqueles homens e porque tinham invadido a casa de ? Como conseguiram isso?
  - Não faça isso. - ele pediu, trazendo o rosto para o campo de visão dela, a fim de fazê-la olhar para ele ao invés dos corpos. - Não pense nisso.
  Ela concordou com a cabeça, ainda sem forças para falar, e o abraçou de novo para ter certeza de que sim, estava bem e segura. Por enquanto.
  Porque agora, entendia na prática a necessidade de se defender.
  Fez exatamente o que pediu para não fazer.
  Pensou naquilo.

[...]

  - Você é um idiota! - esbravejou, batendo o punho contra a mesa de madeira de seu escritório. - Vocês só tinham uma missão e nem era tão difícil assim, seu incompetente.
  - Chefe, eu sinto muito mas o soldado, ele era… - tentou se justificar, mas foi interrompido por uma risada sarcástica.
  - Sozinho! Ele estava sozinho!
  - Eu ouvi a voz de uma mulher pelo rádio, foram pegos de surpresa.
  O homem parou ao ouvir aquela informação.
  Uma mulher? Não podia ser a…
  Não, ele se recusava a sequer imaginar isso.
  - E agora estão mortos sem nem sequer ter feito cócegas naquele verme. Vocês foram pagos para uma coisa e mesmo assim falharam, eu devia ter deixado vocês só vigiarem mesmo! - o homem respondeu, bravo, sequer respirava de tanta raiva. - Saía do país antes que eu te encontre e termine o serviço do porque pode ter certeza, se ele não for atrás de você, eu irei.
  Desligou o telefone e quis jogar tudo o que via pela frente. Xingou e bateu na mesa novamente, desejando que aquele fosse o rosto de para que ele pudesse fazer aquilo.
  Tirou um cigarro do bolso da calça e acendeu rapidamente, virando a cadeira para a janela atrás de si, observando a cidade quieta do lado de fora, ele deu um trago e soltou a fumaça com raiva.
  Aquela teria sido a noite perfeita se tivesse contratado as pessoas certas para o serviço.
  Mas tinha subestimando a inteligência de , sabia que era um capitão muito bem treinado, mas isso não deveria valer naquele dia.
  Não quando tinha encomendado a sua morte.
  Sorriu largamente ao se dar conta que ainda tinha tempo para isso, poderia fazer do jeito fácil: rápido e certeiro. Mas também poderia fazer do jeito difícil. Lento e doloroso.
  Gostava mais da segunda opção.
  E daria a ele exatamente isso. Ansiava pelo dia que mataria , e pelo jeito, teria que fazer isso com as próprias mãos.

[...]

   olhava para o nada enquanto estava sentada na bancada da cozinha de , perto da pia. Sua cabeça ainda doía, tanto pelo impacto quanto pela confusão da madrugada, ainda era manhã de domingo, mas a equipe de e a perícia já estavam lá.
  Ela sentia os olhos pesados, mas sua cabeça não conseguia desligar do ocorrido e embora estivesse exausta de tudo, mesmo se caísse na cama agora não iria conseguir dormir.
  Ouvia o amado conversar baixo com a equipe, mas não tinha forças para focar no que diziam, sua cabeça pensava em tudo e em nada ao mesmo tempo.
  Viu quando levaram os corpos para fora do apartamento e sentiu um frio de repente, abraçando o próprio corpo como se pudesse afastar a sensação.
  No quarto, conversava com Connor. O capitão estava possesso, era tão óbvio em seu olhar que iria atrás de quem tivesse ousado invadir sua casa, com a sua namorada lá ainda por cima, nenhum dos soldados tentou dizer para que ele fizesse o contrário. Esquecer não era uma opção.
  Uma longa e pessoal investigação seria feita, disso não restava dúvidas. O problema agora era o que dizer a .
  Contar o que ele havia descoberto, que aqueles invasores eram membros de uma facção do país vizinho, mercenários contratados por um único motivo não parecia viável. A namorada tinha levado tanto tempo para esquecer o atentado no passado, como poderia fazê-la reviver o trauma?
  Porque sabia que ela o faria.
  Mas não poderia dar uma desculpa qualquer, não era besta, sabia que o que tinha acontecido ali era sério, nunca o apartamento de tinha sido invadido. Até porque ele nunca tinha estado em uma missão tão perigosa quanto aquela e se alguém tinha mandado uma equipe para matá-lo, significava que estava perto. Muito perto.
   acompanhou todos até a porta assim que cada um cumpriu a sua função, deu um tchauzinho para a equipe, e foi quando ele virou-se para encará-la sentindo os ombros cederem ao vê-la tão vulnerável.
   observou se aproximar em passos largos e lentos demais para ela, seus olhos firmes combinavam perfeitamente com a postura rígida que ele tinha adotado desde que levantou da cama e não desfez enquanto a equipe estava lá.
  Mas tudo isso passou quando ele colocou as mãos em ambos os lados da cintura dela, quis sorrir, mas estava sem forças então o envolveu com as pernas enquanto levava os braços em volta do pescoço dele, suspirou e então levou a cabeça até o tórax de .
  Não tinha nada de sexual ali, ele só precisava sentir o calor dela, como se aquilo pudesse de alguma forma recarregar as forças dele. E poderia.
   então fechou os olhos, apoiando o queixo na cabeça do namorado e levou uma das mãos até o cabelo dele, fazendo um carinho lento entre os fios.
  - Eu gosto quando o seu cabelo está maior. - ela constatou, sentindo rir contra seu corpo.
  - Logo eu tenho que cortar. - soltou um muxoxo e não estendeu o assunto, assim como .
  Poderiam ficar ali por um bom tempo, era desse jeito que ele queria que todas as suas manhãs fossem, mas até chegar lá tinham um longo caminho.
  Ele se afastou de que fez bico com a falta de contato, a careta que achou extremamente fofa foi beijada rapidamente por ele.
  - Vem, eu te levo pra casa. - acariciou a coxa de para que ela afastasse as pernas dele e o liberasse para dar dois passos para trás.
  - Você não vai… querer ajuda? - ela perguntou receosa, vendo-o estender a mão para ajudá-la a descer da bancada um tanto quanto confuso. - Para limpar a bagunça?
  Os olhos de percorreram por trás do ombro de e ele entendeu o recado, ficando sério novamente.
  A última coisa que queria ver era lavando o piso ensanguentado de seu quarto.
  - Você precisa descansar, amanhã você tem um longo dia no escritório. - ele lembrou e ela concordou, segurando a mão do namorado e saindo da bancada.
  - Você sabe que eu não me importo.
   beijou a ponta do nariz dela e sorriu de leve.
  - Eu sei, mas eu consigo fazer tudo isso sozinho. Não tem tanta coisa para arrumar de qualquer forma.
   levantou a sobrancelha, questionando-o silenciosamente, mas ele apenas fez um carinho na mão dela.
  Ela então respirou fundo e deixou ser levada pelo namorado, enquanto pegava as chaves do carro e sua carteira na mesinha de centro, olhou para o corredor e observou a mancha de sangue.
  Ultimamente, essa era uma cor que vinha perseguindo-a e pelo jeito não iria parar.
  Mas se dependesse de , o único sangue que seria derramado era do covarde que tinha transformado sua vida pessoal em uma zona de guerra assim como os extremos da fronteira.
  Ele era um soldado e sabia pelo o que estava lutando, acima de tudo para manter segura.

[...]

Há 3 anos e 2 meses. Casa da família Soares.
20:07 PM.

  - Já veio se despedir, cara, eu só vou partir amanhã. - Connor brincou, fechando o zíper da mala militar, e virou para encarar o amigo.
   estava com a cabeça abaixada, tinha uma postura bem diferente da que as pessoas estavam acostumadas. Quase como de quem havia pedido o rumo da vida, bem desanimado.
  - Você por um acaso tem uma mala dessa para me emprestar? - ele perguntou baixo e levantou a cabeça para olhar o amigo. Connor se assustou ao ver o rosto vermelho e inchado de . - Porque eu vou junto.
   levantou o papel do seu alistamento, tinha saído de lá direto para a casa do amigo. Se sentia mais em casa ali do que na sua própria casa.
  - O quê? - foi o que Connor conseguiu dizer e viu caminhar para até a cadeira da mesa de escrivaninha do amigo, o olhar perdido. - Tá bom, boa piada, eu sei que você jamais se alistaria…
  - Mas me alistei. - interrompeu, mais sério dessa vez, estendeu o papel para o amigo ler antes de se jogar na cadeira. - É sério.
  Connor se sentou na cama, chocado enquanto via a ficha de alistamento voluntário.
  Não era piada.
  Conhecia a família e sabia como o amigo cedia as vontades dos pais, então ir para o exército não estava nos planos de .
  Ou pelo menos não sabia que estava até então.
  - Por quê?
   suspirou, balançando a cabeça que doía intensamente.
  Tinha sido a pior noite da vida dele e nem tinha acabado.
  - Eu amo alguém. - admitiu, esperou Connor dizer algo, mas ele permaneceu em silêncio. - E não posso estar com ela por causa das regras idiotas da minha família. Então eu simplesmente vou fazer o que eu quiser a partir de agora.
  - É a , não é? - Connor perguntou mas não precisava da resposta, pois ao ver os olhos de encontrar os deles por ter mencionado o nome da garota era suficiente. - Não que fosse surpresa para alguém, todo mundo que te conhece sabe como você estava diferente desde que a conheceu.
   sorriu triste, olhando para as próprias mãos.
  - Ela mudou a minha vida e eu estraguei tudo. - ele negou com a cabeça, se sentia um covarde. Um fraco. - Eu nem consegui dizer que a amava.
  - Ela sabe, . Talvez vocês possam sentar e…
  - Não, você não entende. - ele passou as mãos no cabelo. - Ela me odeia, eu a magoei demais, ela acha que eu só a usei.
  - E a usou? - Connor questionou, com a sobrancelha levantada.
  - Não, jamais. - prontamente respondeu. - Eu nunca me senti tão vivo como eu me sentia quando estava com ela.
  - Então por que você não tenta explicar?
  - Eu tentei, mas ela ouviu a minha mãe conversando com a sua sogra, todas as mentiras e planos que eles fizeram pra mim nos últimos anos, eu nunca mencionei nada, então como você acha que ela se sentiu?
  Connor respirou fundo.
  É, não sabia, mas podia imaginar.
  - Espera então desde aquela vez que você tentou perguntar o que aconteceria se você namorasse alguém que eles não tivessem escolhido…
  - não sabia da minha relação com os meus pais. - explicou. - Era tão bom estar com ela porque eu esquecia de tudo isso, eu não queria deixá-la insegura com as imposições dos meus pais.
  Há poucos dias havia tentado explicar aos pais que estava saindo com , queria achar um jeito de assumi-la finalmente. Só que a conversa não havia acabado bem, como sempre o pai autoritário havia obrigado a terminar tudo com quem quer que fosse a garota. Sequer conseguiu explicar o que sentia sem antes o pai socar a mesa de jantar, se retirando aos berros para que ele parasse de vê-la.
   ficou furioso e sem pensar duas vezes, saiu de casa. Bom, não definitivamente, passou uns dias na casa de Connor para acalmar os ânimos e tentar uma nova abordagem.
  Estava tudo correndo como planejava, até descobrir tudo pela mãe dele, que provavelmente soltou seu veneno para a mãe de Lynn.
  Mesmo descontando toda a sua raiva e frustração nele, não podia dizer que não entendia, muito pelo contrário. Se fosse ela, faria o mesmo.
  - E você vai simplesmente desistir? - Connor perguntou e o olhou, decidido.
  - Antes de querer ser e estar por inteiro com ela, eu preciso caminhar com as minhas próprias pernas. Me desfazer de todas as amarras da minha família. Ela merece alguém muito melhor do que o que eu sou hoje.
  - E isso - Connor levantou a ficha de alistamento. - é o suficiente?
  - Não, mas é o começo da minha liberdade.
  Connor sorriu, quase orgulhoso de ver o amigo daquele jeito. Estava sim arrasado, mas não derrotado.
  - Que ironia, a guerra sendo a chave para o amor dessa vez.
   riu, contido.
  - E você é poeta desde quando?
  - Desde sempre. - Connor jogou o travesseiro para que não conseguiu afastar a tempo de acertar sua cara. - Soldado.
  - Cuidado, Connor, eu posso ser seu superior na guerra.
  Connor gargalhou.
  - Tá chegando agora e quer sentar a janelinha? Vá a merda, .
   riu, era engraçado ouvir aquilo de Connor porque a frase era na verdade da namorada dele.
  - Eu já tô. - ele de ombros e Connor o olhou.
  - Qual o próximo passo?
   levantou da cadeira, indo até o amigo, pegando a ficha.
  - Informar que embarco amanhã.
  Connor concordou com a cabeça.
  - Boa sorte, rebelde renegado.
   forçou um sorriso antes de apertar a mão do amigo e se despedir, indo para fora da casa rumo a sua própria onde a primeira batalha seria travada.
  Connor respirou fundo antes de procurar o celular e ligar rapidamente para Lynn.
  - Amor, acho que a vai precisar de você.

Capítulo 07 - So please, tell me it’s alright in this uneasy mist

Atualmente. Base do exército.
Por volta das 19:00 PM

  - Capitão! - parou no meio do corredor ao ouvir alguém chamar, quando virou encontrou um dos soldados da base batendo continência.
  - Sim?
  - Major Walker o aguarda na sala de comando. - avisou e franziu a testa.
  Estava indo para casa, já tinha acertado tudo da missão, por que voltaria para a sala de comando?
  - Certo, soldado. - Concordou com a cabeça e o soldado pediu dispensa, que foi concedida enquanto achava estranho o pedido de última hora.
  Porém, sem poder retrucar, fez o caminho de volta para a sala de comando e assim que passou sua credencial, viu que parte da sua equipe também estava lá.
  Sentiu a tensão no ar e olhou para todos, até encontrar um rosto conhecido.
  - Rick? - forçou os olhos e o soldado bateu continência, estava com o rosto machucado e isso fez se aproximar. - O que faz aqui? Sua equipe não estava trabalhando no interior?
  - Fomos pegos em uma emboscada, senhor. - respondeu e passou para encarar o Major, sem entender.
  A equipe de Rick era liderada por Simpson, seu melhor amigo do exército e também parceiro no começo de sua carreira militar, depois que foi punido uma parte de sua equipe também foi, mesmo que não abertamente e contra sua vontade, Simpson foi um deles. Mandado para outra equipe, uma de inteligência.
   e ele ainda mantinham contato, pouco, mas mantinham.
  Seu trabalho basicamente era encontrar os terroristas, alvos em potencial que estivessem planejando novos ataques, por vezes ele ficava incomunicável com o resto do mundo já que se deslocava para regiões afastadas.
  Então como tinham sofrido uma emboscada?
  - Eu mandei a equipe Zeta interceptar uma base terrorista há alguns dias, tendo em vista que a sua equipe estava ocupada com outra missão.
   tentou não olhar o Major com ódio. Sim, as missões que nunca davam em nada que o Major os mandava para perder tempo.
  A equipe de inteligência não era qualificada o bastante para interceptar terroristas, aquela era função da equipe alfa.
  - Só que não era apenas uma base, era onde guardavam os equipamentos e tinham mais recrutas do que imaginávamos. - Rick respondeu e o encarou, não gostando da história.
  - Vocês não deviam ter ido até lá. - falou firme, sendo observado em silêncio por todos que estavam presentes. - Se tivessem aguardado mais dois dias, teríamos feito o serviço.
  - A ordem foi minha. - Major respondeu firme e seco, olhando para frente.
   voltou a encara-lo de queixo erguido e com um olhar suspeito.
  - Com todo o respeito, senhor, como não sabia que era uma cilada?
   despertou a fúria do Major, que o olhou sem paciência.
  Todos na sala podiam sentir as farpas sendo sutilmente trocadas. Ou talvez, nem tão sutilmente.
  - Temos informantes, , haviam garantido que ali era uma base inoperante.
   sorriu quase irônico.
  - E confia mais nos seus informantes do que nos seus soldados?
  Major travou o maxilar enquanto fuzilava com os olhos.
  - Não o chamei para discutirmos as veracidades das informações dos informantes. - Major rolou os olhos e voltou a olhar para frente.
  - E por que estou aqui então?
  - Preciso de uma equipe para resgatar os nossos reféns. - ele respondeu a contra gosto e quis rir.
  Rir pela incompetência do seu superior, era óbvio que isso terminaria em reféns e banho de sangue.
  De novo.
  Como sempre, limpando a bagunça dos outros.
  - Quantos? - perguntou, olhando para Rick.
  - Cinco dos nossos melhores agentes.
  - Incluindo um que você conhece muito bem. - Major falou, pegando o controle do projetor em cima da mesa e apertando o botão para mostrar os reféns na tela.
   fechou os punhos querendo bater na mesa ao olhar as fotos.
  Simpson estava entre os reféns e se tratando de terroristas, ele provavelmente tinha pouco tempo de vida.
  Ele tentou controlar a respiração ofegante de puro ódio e olhou para a equipe, mandando-os se prepararem com a cabeça. Assim que bateram continência e saíram, Rick deu um passo a frente.
  - Senhor, peço permissão para me juntar a sua equipe. - pediu a .
  - Você está claramente machucado, eu não…
  - Se tem alguém que conhece aquele lugar sou eu, senhor. - interrompeu, falando com convicção e respirou fundo. - São os meus amigos que estão lá.
   sustentou o olhar, não só entendia o sentimento como achava honroso da parte dele.
  - Saímos em 5 minutos. - avisou e Rick bateu continência, saindo da sala de comando.    estava preparando para sair também, sem se lembrar do Major ao seu lado.
  - Cuidado com essa sua mania de questionar tudo, . - escutou a voz do Major e parou onde estava, ainda de punhos fechados.
  Ele virou para encarar o superior.
  Apenas as patentes diziam que um era inferior ao outro, porque as atitudes de ambos sequer se lembravam desse detalhe. Major não tratava como um capitão, assim como não o tratava como um Major.
  Suas questões pessoais estavam enraizadas até mesmo ali, mesmo que fosse errado fazer aquilo no exército.
  - Você pode acabar morto por causa disso. - manteve o olhar firme, soou como uma ameaça.
  Porém não era a primeira e provavelmente não seria a última vinda do Major. E ele não tinha medo.
  - E eu acho bom você falar com os seus informantes porque o sangue derramado nessa missão estará nas suas mãos, Major. Não que você se importe com isso, é claro.
   deu as costas e saiu em passos largos da sala, não iria perder tempo discutindo com o Major. Tinha vidas para salvar, seu melhor amigo estava em risco e precisava chegar a tempo.

[...]

Mesmo dia. Casa dos Alcântara.
No mesmo horário.

  - Eu vou acabar ficando louca! - Lynn passou a mão no rosto enquanto ria discretamente.
  - É isso que acontece quando você quer se casar em pouco tempo. - respondeu, colocando a mão no ombro da amiga. - Mas está tudo certo, eu consegui falar com a floricultura sobre o arco.
  O casamento de Lynn era no sábado, em 4 dias, e tudo o que aparentemente já tinha sido resolvido de repente pareceu ir por água abaixo.
  Os parentes que vinham do exterior estavam com o voo atrasado e não sabiam se iriam chegar a tempo, o arco de flores teve que ser levemente alterado porque as rosas brancas estavam em falta, o buffet não sabia se iria servir o prato principal pois um dos ingredientes ainda não tinha chegado da Europa.
  Tudo um caos, que prontamente ajudou a resolver os pequenos problemas que para a amiga tinham se tornado uma bomba-relógio.
  Até porque, falar a palavra adiar estava proibida naquela situação. Lynn tinha deixado claro que não iria mudar a data do casamento por dois motivos, era a data que ela e Connor haviam se conhecido e porque o noivo teria uma missão fora do país, assim como a equipe toda de poucos dias depois.
  Então o casamento aconteceria no final de semana, com ou sem comida ou até mesmo sem os parentes.
   não sabia a gravidade da missão, já que o amado não comentava esse tipo de coisa com ela, mas seu estômago revirava toda vez que pensava sobre isso, não estava com um bom pressentimento. Parecia que uma neblina densa tinha se apossado de sua cabeça desde que recebera a notícia.
   tinha um ar de preocupado mesmo que seu tom de voz transmitisse calma e nas últimas semanas, arrumava qualquer motivo para vê-la pessoalmente.
  Não era como se fosse reclamar, é óbvio, mas aquilo a deixava preocupada.
  - Você já está pronta para virar uma senhora da alta sociedade. - Lynn brincou e viu revirar os olhos.
  - Deus me livre!
  A última coisa que conseguia imaginar era convivendo com pessoas mesquinhas e organizando eventos que não tinham serventia nenhuma, a não ser mostrar as joias mais caras que as mulheres da alta sociedade tinham para esbanjar.
  Lynn gargalhou, se jogando contra o sofá.
  - Falando em alta sociedade, - Lynn encarou a amiga. - posso te fazer uma pergunta?
  - Claro, petunia. - sorriu ao ouvir o apelido de infância que usavam, costumavam chamar uma a outra de vários tipos de flores.
  - Você convidou a família do ? - ela perguntou, incerta.
   ainda se lembrava que Lynn era da alta sociedade e embora o casamento fosse uma escolha de Lynn e Connor, não era como se fosse impedir de ser o evento do ano, que iria sair em todos os sites de fofoca, e teriam convidados por parte dos pais de Lynn.
  E não se esquecia um minuto de como a mãe de Lynn era amiga de sua sogrinha querida.
  - Eu briguei bastante com os meus pais sobre esse assunto. - Lynn admitiu. - Você sabe que qualquer pessoa que te destratar, está me destratando também. Porém, conhecer eles desde que eu nasci é uma desvantagem para o meu senso moral. Então, mesmo que eu não chamasse, meus pais iriam.
   suspirou, concordando. Não queria ter o direito de opinar sobre os convidados da amiga, só queria se preparar para o climão que iria ficar caso esbarrasse com a mãe de e torcia para que isso não acontecesse.
  - Eu entendo, de verdade.
  - O fato de você ser tão calminha ainda é surpreendente pra mim.
   levantou as sobrancelhas, encarando a amiga um tanto quanto chocada.
  - Você quer que eu diga que não vou por causa dela, dias antes do seu casamento?
  - Se você fizesse isso, aí sim eu iria te bater. - Lynn concluiu. - Mas eu sei que você jamais faria isso. Embora encontrar com aquela megera não seja tão acolhedor quanto se pode imaginar.
   afagou o braço da amiga.
  - Nem mesmo a morte vai me impedir de ficar do seu lado nesse momento. Como nós prometemos, lembra?
  Lynn sorriu, agradecida.
  Há muito tempo haviam jurado que iriam assistir o casamento uma da outra e lá estavam, começando a cumprir a promessa.
  - Na verdade, vai ser até engraçado. - Lynn começou e prestou atenção. - A mulher tem pavor de imaginar você subindo no altar com o filho dela e vai ser obrigada a ver isso mais de uma vez.
  A amiga gargalhou, quase maldosa e conteve o sorriso.
  Um dia quem sabe seria ela no papel de noiva, aguardando subir no altar com ao seu lado.
  - Você sabe que eu não sou vingativa. - lembrou.
  - Eu sei que não. - Lynn deu de ombros - Vingança pode até não ser a resposta, mas às vezes é exatamente o que a pessoa merece.

[...]

  - Capitão, tudo limpo.
  - Vamos entrar. - falou, olhando para Tej que estava a sua frente, o amigo concordou respirando fundo.
  Tej chutou a porta desgastada de madeira e ela se desfez, a equipe alfa entrou no quarto pouco iluminado ainda em posição de combate.
  Cada um foi para um lado do cômodo, verificando as outras passagens garantindo que nenhum inimigo estava ali, apenas os que tinham sido interceptados por Connor do lado de fora. sequer se importou com os corpos dos terroristas caídos sem vida, correu até os reféns para garantir a integridade e segurança deles.
  - Extraindo agora. - avisou pelo comunicador e ajudaram os reféns a se levantarem.
   precisou apoiar Simpson pelo braço em seu ombro para tirá-lo dali, o amigo dele estava ferido. Pelo que viu um corte na perna e um outro ferimento na cintura, fora as marcas de luta no rosto.
  - Você está pavoroso, Simpson, mais do que de costume. - falou enquanto saíam do cômodo, era o truque para fazer o amigo permanecer acordado.
  - Era só o que me faltava, ser salvo por você a essa altura do campeonato, frangote. - ele riu com o antigo apelido, mal se mantendo em pé e cuspiu sangue.
   quis não parecer preocupado mas de todos os reféns, Simpson parecia o que estava em pior estado.
  - Me agradeça depois, sim. - falou, queria rir com o apelido também mas estava mais ocupado em observar o lugar em volta em busca de inimigos.
  - Aí, eu estou tão cansado corre um pouco devagar. - Simpson falou, a cabeça tombando para frente e trocou olhares com Tej.
  Aquilo não era nada bom.
  Por isso, parou, guardou a arma no coldre e colocou Simpson em seu ombro para carrega-lo.
  - Tej, me cobre. - pediu e o amigo concordou, olhando em volta e esperou que o Capitão fosse na frente. - Já estamos chegando, parceiro.
   correu com o amigo nos ombros até a aeronave que os esperava mais a frente, eram poucos metros, assim que colocou Simpson e os demais reféns e sua própria equipe estava lá, a aeronave subiu voo.
  - Ele perdeu muito sangue. - um dos reféns avisou, apontando para Simpson.
  Estava escuro então acendeu a lanterna para poder ver melhor o ferimento, assim que viu o quão fundo era o corte na perna olhou para Connor, trocaram um olhar rápido e Connor tirou da sua bolsa o cinto para fazer o torniquete.
   o fez, apertando o cinto o bastante para estancar o sangue e Simpson reclamou baixo, os olhos perdidos.
  - Fica comigo, Simpson. - deu batidinhas no rosto dele, que parecia lutar para não se entregar.
  - Você conseguiu a garota de vez, não é? - ele falou baixo e iluminou o rosto dele, estava branco, sem cor nenhuma, mas de alguma forma ele encontrou forças para encarar , esperançoso.
  - ? - Simpson concordou devagar com a cabeça. - Sim, estamos juntos.
  - Bom, muito bom. Porque você nunca parava de falar dela no exército, era irritante.
   riu baixo, embora sentisse o coração apertar ao ver o amigo daquele jeito.
  - Mas nós a salvamos.
  - Faça valer a pena. - Simpson pediu, olhando para o teto da aeronave.
  - Eu vou, prometo. - sentiu os olhos arderem.
  - Lembre-se do seu propósito, .

  Assim que a aeronave pousou, jogou o próprio corpo no chão, sem conseguiu tirar os olhos do amigo deitado a sua frente. A ambulância já estava parada um pouco mais afastada, via as luzes vermelhas, mas tudo o que fez foi apertar a corrente que estava em suas mãos ensanguentadas.
  Quando os paramédicos chegaram, os encarou e negou com a cabeça silenciosamente, avisando que não tinha mais o que fazer com ele.
  Simpson tinha sido morto em combate.
  Os reféns desceram da aeronave junto com a equipe alfa e olhou o corpo sem vida do melhor amigo uma última vez antes de cobrirem com um pano branco.
   saiu da aeronave em punhos fechados, vendo alguns soldados da base parados e mais atrás uma figura que não queria ver tão cedo.
  Em passos largos e arrastados, caminhou em direção ao Major encarando-o com puro ódio, quando chegou perto o bastante bateu no peito dele com o punho fechado e largou a dog tag do melhor amigo nas mãos do Major, sem ficar mais um minuto ali continuou caminhando em direção a base, deixando Major com cara de poucos amigos enquanto segurava a corrente de identificação de Simpson que estava suja de sangue.
  Sim, Simpson tinha razão. tinha um propósito e agora mais do que nunca iria perseguir seu destino e só pararia quando conseguisse o que queria.
  Vingança.

[...]

   deu tchau para Lynn que estava com o carro parado na frente da casa da amiga, tinha dado uma carona depois da longa reunião que tiveram sobre o casamento de Lynn e Connor. Tudo estava resolvido.
  Entrou em casa, trancando a porta e quando virou-se deu de cara com os pais sentados no sofá encarado-a com um ar de travessos.
  - O que foi? - ela sorriu, desconfiada.
  - Tem uma coisinha lá no seu quarto. - o pai falou, apontando para as escadas com a cabeça.
  Ela franziu a testa e olhou para a mãe, pedindo silenciosamente uma explicação.
  - Vai lá. - a mãe encorajou e sorriu, beijando os pais na bochecha antes de subir as escadas enquanto tirava os saltos.
  Sentiu as pernas ficarem bambas e sorriu largamente ao ver quem estava ali quando abriu a porta.
  - ! - falou alegremente e estranhou o fato dele estar de uniforme, mas ignorou essa parte por dois motivos: estava surpresas com a visita e adorava vê-lo de uniforme.
  Ele virou devagar, o olhar perdido no nada e ela franziu a testa, porém uma coisa chamou a atenção. Os olhos desceram por todo o corpo dele e pararam nas mãos ensanguentadas de , o sorriso dela diminuiu até sumir por completo.
  - O que aconteceu? - ela perguntou relutante e viu procurar as palavras certas porém não conseguia, por isso ela se aproximou dele. - De quem é esse sangue?
  Os olhos perdidos de encontraram os de e ele desabou de chorar, de um jeito que ela nunca tinha visto.
  Por instinto, ela o abraçou forte sem saber o que dizer apenas ofereceu conforto do seu abraço. Frágil, ele se encolheu nos braços dela como uma criança desamparada e ela o acolheu, fazendo-o encostar a cabeça em seu ombro de uma forma desajeitada já que fisicamente ele era muito maior do que ela.
  Demorou até que ele pudesse levar as mãos até o corpo dela, para retribuir o abraço, foi no mesmo tempo em que os soluços vieram.
  - Eu não cheguei a tempo. - ele falou em meio aos soluços e fechou os olhos, sentindo a dor dele. - Eu não pude salvá-lo.
   continuou ali, oferecendo conforto enquanto acariciava a nuca de até que ele se acalmasse, ela sentia a roupa molhar com as lágrimas dele mas pouco se importava.
  Estava assustada por vê-lo daquele jeito, mas queria fazer alguma coisa por ele. Qualquer coisa.
  - Ei, eu estou aqui. - ela falou e ele fungou, se afastou para poder segurar o rosto dele com as mãos, olhando firme em seus olhos vermelhos. - Eu estou aqui.
  Ele concordou com a cabeça, limpando o rosto com o braço já que as mãos estavam sujas.
  - Vem, você precisa tomar banho, tirar esse uniforme. Eu faço algo para você comer. - ela disse e fez menção de se afastar mas ele a parou, segurando em seu braço.
  - Não sai de perto de mim, por favor. - engoliu seco ao ouvir a voz fraca dele e não pode dizer que não.
  Ela concordou e foi separar uma muda de roupa para ele, tinha algumas em seu guarda roupa, não era bem novidade.
  O acompanhou até o banheiro e o ajudou a tirar o uniforme, ele apoiou as mãos na pia e se olhou no espelho. Sequer tinha conseguido lavar o rosto depois da missão, assim como o corpo ainda tinha resquícios daquela que seria a primeira noite amarga de sua vida. Tinha se sentido insignificante, até mesmo incompetente.
  Vendo o namorado chorar silenciosamente dessa vez, o abraçou pela cintura e encostou o rosto nas costas dele, depositando um beijo na pele nua.
  - Eu te amo. - ela falou baixo mas com convicção e ele concordou com a cabeça, levando a mão para acariciar a de que envolvia seu corpo.
  Ela não precisava falar, estava demonstrando em seus gestos, mas ouvir aquilo confortava o coração dele. Era a certeza de que tinha alguém com ele em seus piores momentos.
  Os dois tomaram banho juntos, para tirar o cansaço daquele dia e para apagar os vestígios de sua missão. Ela o ajudou a lavar a cabeça, fazendo um carinho nele durante o processo.
  O tempo todo ficaram em silêncio, não precisavam falar nada, as carícias e os olharem diziam tudo.
  Assim que acabaram, voltaram para o quarto de , ficou na cama enquanto ela descia para levar coisas para comerem. Os pais dela já tinham ido dormir há um tempo então ela se esforçou para não fazer nenhum barulho.
  Quando voltou, ainda permanecia com o olhar distante embora não derramasse mais nenhuma lágrima nos olhos ainda vermelhos.
   deixou as coisas na ponta da cama e sentou perto dele, de frente.
  - Você quer me contar o que aconteceu?
   a encarou, estava relutante porque não queria deixá-la em estado de choque mas se bem que depois de tê-lo visto chorar, qualquer coisa justificaria.
  - Eu sei que você não gosta de comentar sobre o seu trabalho… - ela deixou a frase morrer e segurou a mão dela, acariciando sutilmente.
  - Tudo bem. - ele respirou fundo antes de começar: - Você deve se lembrar vagamente do Simpson. - procurou no fundo de sua memória. - Era um dos soldados da minha equipe na invasão dos rebeldes.
  - Acho que me recordo dele.
  - Simpson era meu melhor amigo do exército. - ele sorriu triste e então o olhar se perdeu nas lembranças. - Quando eu me alistei, não fui para a mesma base do Connor, ele já era militar então treinava em um QG diferente, como eu era novato fui para uma base que daria um treinamento rápido para a guerra, basicamente. Simpson foi convocado, assim como Joe, diferente de mim que fui como voluntário. Ele achou que eu era um desses playboyzinhos que iam pro exército pra conseguir mulher.
  - Em defesa dele, você tinha essa cara mesmo.
   deu de ombros e riu fraco.
  - É, eu sei. Foi por isso que ele quis ser meu parceiro, achou que eu podia ajudá-lo a dar conselhos a como pegar mulher. - rolou os olhos. - Até que eu disse porque tinha me alistado. - encarou . - Por você.
  Ela sorriu tímida.
  - E ele?
  - Riu de mim. Por pelo menos uns 15 minutos. Disse que eu era um covarde, e nisso eu concordo com ele. - ele falou rápido antes que pudesse retrucar, já que abriu a boca para responder. - Ele me xingou durante dias, me botou na realidade, disse que eu tinha que parar de ser o bebê da mamãe que aceitava tudo que os pais mandavam. Ele me motivou, a ir atrás de você depois da guerra e a ser um bom soldado. Ele estava disposto a me transformar no soldado perfeito e me empenhei a isso porque foi a primeira amizade sincera que eu consegui.
  "Não me leve a mal, Lynn e Connor são e sempre foram meus amigos, mas por conta das nossas famílias, eu nunca precisei me esforçar para ter amigos, meus pais sempre arranjavam para mim. Claro que o fato de eu querer a amizade também ajudava. Mas ali no exército, era diferente, ninguém se importava com classe social. Nenhuma dessas coisas fúteis importavam, apenas o que nós estávamos lutando para salvar.
  Simpson viu alguma coisa em mim, todos os dias ele me dizia que eu tinha um propósito e que devia correr atrás dele, cada obstáculo que aparecia eu tinha que atravessar."
   parou por um tempo e se aproximou para acariciar o rosto dele com a mão livre.
  - Nos destacamos na nossa base e nos mandaram para a equipe alfa. - ele respirou fundo, sendo vago em como aquilo havia de fato acontecido. - E eu sempre falava de você para ele, e ele me aconselhava. Dizia que se eu não saísse de lá e fosse procurar você, ele mesmo me matava por ser tão burro. Eu prometi que iria atrás de você.
  - Você não precisou se esforçar tanto. - sorriu, levando a mão que segurava de até os lábios para depositar um beijo.
  - Não, o destino se encarregou disso. Veio a invasão e depois, ele foi designado a outro trabalho. - ele engoliu seco, quase soltando a verdade para . - Um mais tranquilo. Só que emboscaram a equipe dele e eu cheguei tarde demais.
   suspirou.
  - Você não precisa…
  - Não, tá tudo bem, amor. - ele a interrompeu, precisava falar ou saberia que aquilo o consumiria. - Ele estava vivo quando o resgatei, mas muito ferido, tinha perdido muito sangue, no caminho de volta para casa, eu sabia que ele não iria resistir mesmo que tivesse um resquício de esperança e perguntou se eu estava com você, ele ficou feliz quando eu disse que estava.
   sentiu os olhos marejarem e sorriu triste.
  - Ele me lembrou de novo do meu propósito e então, se foi.
   levou uma mão até o rosto para enxugar as lágrimas, sentia a dor de .
  - Eu sinto muito, de verdade. - ele sorriu agradecido e sem ter o que dizer, puxou a namorada para um abraço apertado.
  Enterrou o rosto no pescoço dela, sentindo o perfume que o acalmava.
  - Eu não sei como te agradecer. - ele falou e ela sorriu de leve, afagando as costas dele.
  - Não precisa e você não precisa falar nada. É a minha vez de te garantir que tudo vai ficar bem, mesmo que pareça que não.
   beijou o rosto de e ele se afastou para que ela pudesse distribuir beijos por toda a extensão da pele dele, para no final encostar o nariz no dele em um carinho manhoso.
  - Eu estarei com você, sempre.
  - Eu devo ter feito alguma coisa de muito boa pra merecer você.
   sorriu largamente, encostando as testas sentindo que todo o amor que transbordava por ele cobrir toda a atmosfera de seu quarto.
  Naquele momento, era apenas isso que podia fazer por , conforta-lo e ama-lo.
  Para ele, era mais do que precisava.

[...]

Sexta-feira. Estrada principal.
21:27 PM.

   dirigia pela estrada enquanto avisava pelo celular à amiga que já estavam a caminho.
  A missão dos padrinhos era chegar à noite para poderem se acomodar na fazenda dos Alcântara, ordens da noiva. Ela se sentiria mais tranquila sabendo que nenhum padrinho iria se atrasar no dia seguinte porque já estavam no local do casamento.
  Na verdade, foi uma desculpa para poder animar um pouco o humor dos padrinhos que ainda estavam de luto por Simpson.
  Porém, havia lembrado aos amigos que o Simpson não iria querer que sofressem por sua morte a ponto de não viverem a festa de casamento de Connor.
  Por isso, ele animou os padrinhos a fazerem como Lynn havia sugerido. Precisavam entrar no clima do casamento.
  Ele mesmo precisava daquele momento depois do funeral.
  Foi um funeral emocionante, digno de um militar e não saiu do lado de , mesmo ele tendo garantido que não precisaria pois ela teria que trabalhar - o que nem acabou acontecendo já que o Secretário também foi -, ela sentia que precisava fazer aquilo por ele. Queria estar com ele.
  E assim foi. Tinha visto um lado de do namorado que nunca havia imaginado, mas se sentia especial por saber que ele tinha confiado nela para mostrar o seu lado mais vulnerável.
  Sentia que o laço entre eles estava mais forte.
  O casal conversou sobre assuntos aleatórios durante o trajeto, riram e esqueceram dos problemas e preocupações.
   acariciava a nuca de de vez em quando, o rapaz tinha cortado o cabelo ontem como dissera que faria. Não podia mais brincar com os fios curtos como fazia.
  Mas ela tinha que confessar que gostou do corte, ele parecia mais maduro e estava terrivelmente mais bonito.
  Depois de um tempo, estacionaram na propriedade dos Alcântara e viram Lynn junto a seu noivo saindo da fazenda para recepcioná-los.
  Se cumprimentaram com fortes e nervosos abraços, Lynn estava tão ansiosa que não conseguia parar de sorrir e parecia sentir o nervosismo dela como se fosse seu.
  Connor e pegaram as malas no carro enquanto Lynn e iam em direção a porta de entrada, conversando sobre os detalhes do casamento.
  - E seus pais? - a amiga perguntou, depois de perceber que só o casal tinha vindo quando o convite dela tinha se estendido aos pais de .
  - Virão mais cedo amanhã, minha mãe ainda quer acertar algumas coisas do topo do bolo.
  A primeira coisa que Lynn fez ao começar a ver as coisas do casamento foi contratar a mãe de para fazer o topo do bolo de 5 andares que havia encomendado, adorava o trabalho da mãe da amiga e sabia que podia confiar.
  - Não precisa fazer essa cara. - riu abraçando a amiga pelos ombros ao vê-la olhá-la com preocupação. - Ela vai chegar na hora. - garantiu.
  - Eu estou tão nervosa que não sei no que pensar primeiro. - admitiu.
  - Ainda bem que a sua mãe te deu aquele combo de massagens, você realmente vai precisar amanhã.
  Lynn concordou e mais atrás Connor e também conversavam.
  - Pronto para amanhã? - perguntou, curioso.
  Conhecia Connor há tanto tempo que mesmo que ele não demonstrasse nervosismo, sabia que ele estava.
  - Cara, eu nunca estive tão nervoso. - admitiu, negando com a cabeça.
  - Mais do que a sua primeira missão em campo?
  - Nem se compara. - Connor respondeu e olhou para a noiva mais à frente, um sorriso bobo brotou. - Mas saber que eu e a Lynn seremos um em tão pouco tempo, já é o suficiente para saber que fiz a escolha certa.
   olhou para o amigo e sorriu de lado, orgulhoso. Estava feliz pelos dois, tinha acompanhado a história de perto e era estranho ver os caminhos que a vida tinha levado os dois.
  Por isso, seus olhos inevitavelmente foram para e suspirou inconscientemente.
  Queria tanto o mesmo com ela, queria ter as mesmas sensações que os amigos estavam sentindo na noite anterior ao casamento.
  Mas antes que aquele dia chegasse, ele tinha coisas a fazer primeiro.
  Assim que os casais entraram na casa, Lynn os direcionou para o quarto em que ficariam.
  - Só para te lembrar, os maquiadores e cabeleireiros chegarão às 08h em ponto. Então durma bem e cedo para não acordar atrasada.
  - Sim, senhora. - para tentar dissipar o nervosismo de Lynn, bateu continência de forma engraçada e arrancou risadas dos rapazes.
  - Você e o tão se tornando a mesma pessoa. - Lynn revirou os olhos e saiu do quarto desejando boa noite e Connor a seguiu rindo.
  - A gente também te ama. - gritou e olhou para que ria também.
  Deixaram as malas no canto do quarto e trocaram de roupa, bom, na verdade trocou porque tinha ficado apenas de cueca. Era um hábito que ela já tinha se acostumado.
  Deitaram-se na cama juntos, a abraçando firme e a mantendo grudada contra seu próprio corpo, aproveitou para brincar com os dedos da mão dele enquanto esperavam que o sono viesse.
  E não tardou.
  Mas com ele vieram os pesadelos, para e .
  Enquanto o rapaz voltava a cena de sendo arrastada pelo cara alto com uma arma apontada para a sua cabeça, dessa vez ele chorava no sonho e implorava para que ela fosse libertada.
  Mas isso não aconteceu porque o final foi o mesmo.
  Já estava mais uma vez revivendo a cena da invasão dos rebeldes, levando os tiros por ela e caindo no chão enquanto sangrava. Só que dessa vez, quando levantava a cabeça para pedir ajuda, uma figura alta e imponente cobria seu campo de visão.
  O mais estranho era que ele segurava algo nos braços de forma possessiva.
   lutou contra a luminosidade para entender o que era e quando percebeu, um arrepio percorreu o seu corpo, pois era um bebê. Com os olhos de .
  Ela acordou com o barulho estrondoso do alarme e ao abrir os olhos, viu que procurava o celular com o olho ainda fechado.    sentia o corpo doer, seus olhos estavam pesados e ela sabia que era por causa do pesadelo. Tinha sido real demais, a sensação que teve ao ver o bebê sendo segurado por aquela pessoa era indescritível.
   desligou o alarme e virou para encarar a amada que sorria com um olho aberto.
  - Bom di… - antes que sequer pudesse terminar de falar, a porta fora aberta do nada.
  - Estou entrando, vistam-se porque eu não quero ficar traumatizada no dia do meu casamento. - Lynn entrou, cobrindo os olhos com a mão enquanto entrava no quarto.    e sentaram na cama, trocando olhares confusos.
  - O que raios você está fazendo aqui às 07 da manhã, Alcântara? - perguntou, incrédulo.
  Lynn afastou a mão dos olhos e notou que era uma imagem segura para ver e então colocou as mãos na cintura.
  - Vim buscar a minha madrinha para tomar café antes que os maquiadores cheguem.
  Ela foi até o lado de e puxou a amiga pelo braço.
  - Eu posso pelo menos acordar? - riu baixo, afastando a coberta do corpo e tirando as pernas da cama.
  - Você não tinha como ser menos inconveniente? - perguntou, voltando a deitar na cama, com as mãos atrás da cabeça.
  - Não teste a minha paciência hoje, . - Lynn rolou os olhos e reparou como a mão dela estava gelada e suada, não precisava daquilo para constatar que a amiga estava uma pilha de nervos pois era visível no rosto dela. - Nós temos horário a cumprir se eu quiser casar às 18h em ponto.
  - E eu pensando que era meu dia de folga, parece que dormi e acordei no QG. - brincou, riu discretamente e Lynn o olhou com tédio.
  - Tá bom! - abaixou o braço da amiga que já erguia para mostrar o dedo do meio ao amigo. - Vamos, não queremos te atrasar. - ela empurrou a amiga pelo ombro e a acompanhou, virando a cabeça para trás e mandou um beijo para que apenas riu, virando para enterrar a cara no travesseiro.
  Enquanto iam até a mesa para tomar café que já tinha todas as madrinhas a postos, Lynn falou todo o cronograma daquele dia um pouco rápido demais e tentou acompanhar mas a amiga sempre que ficava nervosa falava sem nem ao menos respirar e esse era o caso hoje.
   não tentou conter a amiga ou algo do tipo, até porque Lynn ficaria um bom tempo da manhã recebendo massagens para relaxar e elas iriam se ver perto do horário do casamento. O único tempo que teriam para conversar era aquele.
  O café foi agradável, ela conseguiu se enturmar ainda mais com as respectivas parceiras dos membros da equipe alfa e algumas primas de Lynn que também subiriam ao altar.
   acompanhou as madrinhas quando a equipe do salão chegou, ela seria a última a fazer a maquiagem e sabia que Lynn tinha feito isso de propósito pois confiava apenas na amiga para conferir os últimos detalhes do casamento.
   despachou Lynn para a massagem no mesmo instante e a mãe da amiga agradeceu com um sorriso.
  Não tinha tanta coisa para fazer, na verdade, ambas já tinham resolvido o que restava durante a semana.
   não podia ignorar o frio na barriga, só não estava mais ansiosa do que a noiva por motivos óbvios. Estava tão contente por dividir aquele momento com a melhor amiga que sequer parecia real, por isso sua mente acabou vagando em todos os momentos em que uma estava do lado da outra, Lynn era a irmã que nunca teve.
  Só voltou a si quando o maquiador chamou o nome dela pela terceira vez, ela sorriu sem graça e trocou de lugar com a prima de Lynn que tinha acabado de fazer a maquiagem.
  Ela já tinha feito o teste de maquiagem há algumas semanas atrás, mas decidiu lembrar ao maquiador que não queria nada muito artificial.
  A maquiagem de era discreta mas típica de uma festa, o olho esfumado com um pouco de marrom no canto e um tom um pouco rose com um delineado fino, os cílios postiços e um batom rosado que imitava o famoso "cor de boca". A pele bem trabalhada levou um tempo e quase dormiu na cadeira, nem percebeu que tinha ficado tanto tempo sentada quando o cabeleireiro chamou para que ela fosse até ele, quando ela levantou e viu que o sol estava para se pôr, o frio na barriga voltou ao notar que a hora estava chegando.
  Com o cabelo ela manteve a mesma discrição, preferiu fazer ondas e deixá-los soltos.   Depois, com todas as madrinhas prontas e Lynn na sua sala própria se arrumando, era a hora de colocar a roupa da festa.
   escolheu um vestido longo sem alças e com uma fenda no lado direito, a cintura e o busto dela estavam bem valorizados pelo vestido. A cor escolhida por Lynn para os vestidos das madrinhas foi azul marinho então optou por usar sandália de salto alto pretas.
  Colocou seus brincos redondos pequenos, alguns anéis e um colar prata de pedras. Estava pronta e nervosa, as mãos suavam e ela sentia as palmas geladas.
  E a sensação não parou quando ela deu de cara com na porta do quarto onde se arrumava.
  Na verdade, ele acabou trazendo outras sensações como pernas bambas e respiração falha. Ela o encarou de cima a baixo e não existia nenhuma palavra que fizesse jus a beleza dele.
  Já tinha visto o namorado com o uniforme formal, mas o verde era bem diferente daquele que usava no momento.
  Era um azul marinho tão escuro que de longe poderia ser facilmente confundido com preto, os detalhes nos ombros e mangas em dourado, as medalhas de estavam do lado direito do peito e ele acabava de colocar o chapéu.
   suspirou como uma boba apaixonada e viu o namorado sorrir largamente para ela, também a analisando de cima a baixo.
  Automaticamente ele levou a mão até a cintura dela e a trouxe para mais perto, não queria passar um segundo afastado dela ou seria consumido pelas cenas do que realmente queria fazer com aquele vestido.
  - Cadê o seu terno? - ela perguntou curiosa, levando uma das mãos até o ombro dele, com medo de amassar a roupa. - Achei que só a Marinha usava esse tipo de uniforme.
   beijou a bochecha da namorada e respirou fundo o perfume dela.
  - Digamos que é uma das surpresas do Connor para a Lynn. - ele piscou para ela que riu, incrédula.
  - Ela não sabe que vocês estão vestidos assim? - negou com a cabeça e riu.
  - Por que você acha que o Connor a convenceu de trocar a cor das madrinhas? Ele já estava planejando isso há muito tempo.
  - Lynn provavelmente ficaria brava porque o vermelho não iria combinar com o tecido do terno de vocês. - falou, alisando o ombro do namorado e admirando os detalhes mais de perto.
  - Já o azul que você está usando… - deixou a frase morrer e sorriu, parando para analisar o contraste dos tons das roupas.
  Lynn poderia até ficar brava porque o noivo não tinha avisado antes, embora soubesse que a amiga iria amar a surpresa, mas não poderia reclamar que Connor não havia pensado na harmonia.
   estava tão ocupada observando as roupas que só foi perceber que se inclinava para beija-la quando os lábios dele tocaram os dela suavemente. Uma, duas, três vezes.
  Ele estava prestes a intensificar o beijo porém o impediu, levando a mão até o peito dele e o empurrando de leve.
  - Eu não posso estragar a maquiagem. - ela avisou, se desvencilhando de que reclamou.
  - Depois você retoca. - ele tentou beija-la novamente e foi preciso muito auto controle para ela afastar a cabeça no exato momento.
  Ela sabia que um beijo mais intenso levaria a um segundo, a um terceiro… que não iria acabar só em um beijo. E estavam no meio do corredor com o casamento praticamente prestes a começar.
  - ! - ela riu, conseguindo escapar dos braços dele e viu o biquinho que ele fez. - Se comporta, você vai ter muito tempo pra tirar o meu batom.
  Ele cruzou os braços e a pose de soldado passou bem longe.
  - O seu batom não vai ser a única coisa que eu vou tirar. - respondeu convicto e sentiu as bochechas queimarem.
  - Eu não posso chegar com a boca inchada e vermelha porque não só a Lynn vai me matar, o maquiador também.
  - Eu tô muito preocupado com os dois. - ele rolou os olhos e riu, se afastando para ir ao quarto onde Lynn se arrumava.
  - Daqui a pouco a gente se vê. - ela jogou um beijo para ele e então foi para o quarto, perdendo a forma como a encarava.
  Como se ela fosse a única mulher no mundo, na verdade, para ele era a única mulher no mundo!
  Se sentia sortudo e ainda mais apaixonado por ela, não sabia como isso era possível, mas cada pensamento, cada ação dele era sempre nela e por ela.
   não existia sem ela.
  Se estava ali, se sentindo feliz e livre depois de tudo, era graças a ela.
  Ele respirou fundo ao ver que estava encarando a porta já que tinha entrado há sabe-se lá quanto tempo e decidiu ir até os padrinhos no andar de baixo.
  Quanto a não estragar a maquiagem, ela estava tentando muito mas era impossível lutar contra as lágrimas que encheram seus olhos ao ver a amiga pronta.
  Lynn usava o vestido de casamento da avó, embora fosse antigo e o que muitas mulheres da alta sociedade chamariam de "fora de época", ela usava o vestido com tamanha confiança que nela ficava elegante.
  A ponta da saia longa e clássica era bordada com rendas que subiam até o meio, a cintura de Lynn era muito bem marcada pelo bustiê de renda que terminava no pescoço dela, o vestido não tinha mangas e Lynn aproveitou para fazer um coque alto com duas mechas onduladas soltas de cada lado, a coroa que usava era imponente e combinava perfeitamente com o vestido, e com os brincos discretos que usava.
  Embora o maquiador não tivesse carregado de maquiagem os olhos de Lynn, os lábios dela estavam desenhados com o batom vermelho.
   até sorriu quando viu o batom vermelho, aquela era a cor favorita da amiga e não iria faltar em seu visual.
   abraçou a amiga com cuidado depois que o maquiador a ajudou a não borrar a maquiagem, Lynn tremia e as mãos estavam geladas nas costas de que tentou acalma-la, mas sabia que seria em vão.
  A cerimônia iria começar em poucos minutos, não teria maracujá o suficiente que faria Lynn ficar menos ansiosa.
  Conversaram rapidamente e ao ver a amiga feliz, sentiu que seu dever tinha sido cumprido e saiu do quarto com o coração leve, os pais de Lynn já estavam na porta esperando para verem a filha. Estavam tão nervosos e elegantes quanto ela.
   se juntou as padrinhos e madrinhas que estavam sendo orientados pela assessora, como iria acontecer a entrada de cada casal, a ordem e para qual lado iriam.
   achou primeiro e estendeu a mão para ela quando os olhos encontraram os dele, ela sorriu nervosa e aceitou a mão do namorado e se aproximou dele.
   comentou como a capela, que era grande demais para ser chamada de capela, estava lotada com os convidados. Não era surpresa afinal, até onde sabia eles haviam enviado pelo menos 300 convites, isso porque a cerimônia era privada ou então até a mídia apareceria.
  Conversaram por um breve tempo até a assessora avisar que a cerimônia iria começar, levou a mão de para que ela apoiasse em seu braço e ela o encarou nervosa, sentia um frio em seus pés e não era por causa do tempo já que estavam em plena primavera.
  Eles seriam o último casal antes da entrada dos noivos, era para deixar qualquer um ansioso.
   aproximou a boca do ouvido de e sussurrou um 'eu te amo' enquanto a fila andava e ela sorriu discretamente, sentindo as pernas bambas.
  Ela respirou fundo antes de entrarem na capela, se iria fazer aquilo então iria fazer direito, levantou a cabeça e de queixo erguido ela e entraram juntos.
  Em passos suaves e sincronizados, caminharam pelo tapete vermelho com os olhares voltados aos dois. encarava o fotógrafo, conhecia boa parte da família de Lynn mas eles eram minoria, sabia que os amigos milionários e as madames estavam ali, e uma em especial se pudesse lançar espinhos pelos olhos com certeza iriam direto no rosto de .
  Mas ela sequer se lembrou dos soberbos que a analisavam dos pés a cabeça, manteve sua postura e ritmo até chegarem no altar.
  Depois dos padrinhos, foi a vez da mãe da noiva e do pai do noivo entrarem juntos, em seguida foi a vez de Connor.
   segurou a risada ao escutar os amigos brincando com o fato de Connor estar tão nervoso que era visível para qualquer um, especialmente aqueles que conheciam o noivo em situações muito extremas. Ele não era de ficar nervoso nem em batalha.
  Mas conseguia imaginar como o amigo estava se sentindo e foi por isso que decidiu brincar com Connor na festa, quando ele estivesse mais tranquilo e bêbado.
  Connor manteve a postura rígida até a entrada de Lynn, quando a noiva entrou foi difícil para ele segurar as lágrimas e o fato foi não só fotografado, como também gravado. Assim como a expressão de surpresa ao ver que o terno do noivo não era bem o que tinham escolhido na loja.
  A cerimônia não foi longa e passou em um piscar de olhos, afagava a mão de toda vez que ela tombava a cabeça para segurar o choro.
  Os cumprimentos ficaram para depois, Lynn aproveitou para trocar de vestido para a recepção. Um vestido curto branco de renda e sandálias pratas.
   chorou de verdade ao abraçar Lynn quando chegou a vez deles cumprimentarem os noivos e a amiga fez o mesmo, apertando-a forte.
  - Você está linda, eu já te disse isso antes, mas você está. - falou e então se afastou da amiga, a ajudando a secar as lágrimas sem estragar a maquiagem.
  - Já vi umas duas socialites me olharem torto. - Lynn fez uma cara de deboche e riu. - Não que eu me importe.
  Ela deu de ombros e a amiga a abraçou mais uma vez.
  - É inveja que você casou com um homem que ama e não porque é milionário. - sussurrou e a amiga gargalhou.
  - Quem diria, hein . - Lynn se afastou, sorrindo maldosa. - Você está andando muito comigo.
   piscou e foi a vez de cumprimentar a amiga enquanto cumprimentava Connor, conversaram rapidamente porque outros convidados estavam na fila e se dirigiram a mesa dos padrinhos.
  A música de fundo era agradável para o jantar que estava para ser servido, a mesa dos padrinhos era a mais animada.
   e foram cumprimentar os pais dela na mesa em que estavam, e ficaram um tempinho ali. O bastante para o fotógrafo aproveitar e tirar uma foto da família, e elogiar o trabalho da mãe de .
  Quando voltaram para a mesa dos padrinhos, engatou em uma conversa animada com as parceiras dos militares, tinham tanto em comum e muito o que conversar enquanto comiam.
  A comida estava boa, elogiava a cada 10 minutos e não conseguia parar de comer, estava com uma fome fora do comum e imaginava que fosse por causa de todo o nervosismo antes do casamento.
  Comeu tanto a ponto do vestido ficar mais apertado, foi então que percebeu que deveria parar e ir até o banheiro já que a bexiga estava cheia.
  - Eu já volto. - ela avisou , depois de apoiar a mão no ombro dele para chamar sua atenção brevemente.
  Ele estava conversando com os amigos, de pé ao lado da mesa e concordou com a cabeça, sorrindo largamente para a namorada.
  - Vai lá, eu estarei aqui. - garantiu e ela sorriu em resposta.
  O banheiro era um pouco afastado das mesas então levou um tempo para voltar, principalmente porque usar o banheiro com aquele vestido era uma tarefa um pouco difícil mas que ela conseguiu.
  Lavou as mãos e conferiu sua aparência no espelho, chocada que a maquiagem e o penteado continuavam intactos.
  Quando saiu, a sandália de acabou prendendo em um mato pequeno que não tinha sido aparado devidamente e ela precisou chutar o ar para tirar aquele negócio que começou a pinicar o pé dela, porém assim que chutou o ar uma pessoa passou na sua frente e ela acabou acertando a canela.
  - Aí meu Deus, me desculpa! - envergonhada, começou a falar rápido e levantou a cabeça olhando para o homem que olhava para a própria perna. - Eu sinto muito, eu não fiz de propósito. Eu…
  - Está tudo bem, . - ela parou de falar assim que o homem levantou a cabeça, sorrindo para ela. - Se esse é o preço de vê-la radiante, fico feliz em pagá-lo.
  Todo o seu bom humor de dissipou em segundos ao ouvir a voz do Major Walker.
  Ela então se sentiu pequena e inconscientemente seus ombros encolheram enquanto sentia o olhar fixo dele descer por todo o seu corpo.
  A comida voltou em sua garganta, mas ela trincou os dentes, não iria colocar tudo para fora por causa dos truques de sedução baratos dele.
  - Me desculpe mesmo, Major, eu não te vi. - falou um pouco mais séria e ele tombou a cabeça para o lado.
  - Já disse que está tudo bem. - garantiu e concordou com a cabeça, pronta para voltar até a sua mesa. - Fico feliz que tivemos a oportunidade de nos falarmos. A sós.
  Ela respirou fundo, engolindo a resposta rude, sequer tinha lembrado da existência dele no casamento até aquele momento, e olhou para o lado em um mudo sinal de incomodo.
  Que foi ignorado pelo Major.
  - Foi uma cerimônia bonita, não? - ele puxou assunto e o encarou perplexa.
  Ou ele realmente não tinha percebido ou simplesmente não se importava.
  Do outro lado da festa, procurava com os olhos e ao ver que o Major entrava na frente dela para impedi-la de andar, ele virou o corpo todo pronto para andar até lá e tirar da frente dos olhos famintos dele.
  Com punhos fechados, ele deu o primeiro passo e foi interrompido pela mãe que se colocou na frente de repente, fazendo-o dar dois passos para trás.
  - Será que eu conseguirei falar com o meu filho? Ou terei que esperar a gata borralheira voltar?
   respirou fundo, contendo a vontade de revirar os olhos. Ele ainda era um cara bem educado.
  - Guarde o seu veneno para si mesma e talvez eu consiga manter uma conversa civilizada por 5 minutos. - ele avisou, sorrindo sarcasticamente.
  - 5 minutos? É isso que você reserva para a sua própria mãe? - ela levou a mão até o peito, dramática.
  - Mãe, por favor. - ele passou a mão pelo rosto, já cansado.
  - Tudo bem! Eu não vim para discutir.
  - Veio para quê então? - ele perguntou, desviando seus olhos para , ela ainda estava conversando com o Major, mas sua cara era de puro tédio.
  - O aniversário da sua avó está chegando e sua tia já avisou que eles virão para cá dessa vez. Estou te dizendo porque acho que gostaria de vê-la depois de tanto tempo.
  Ele riu, colocando os punhos fechados dentro dos bolsos da calça.
  Claro, a magnânima da família estava voltando da Suécia para cá apenas para fuxicar a vida dos filhos e netos, e julgar todas as decisões tomadas, com a desculpa de reunir a família para o seu aniversário.
   não tinha uma relação muito boa com os pais, com a avó milionária a situação era ainda pior. Pois ela além de soberba e arrogante, era carente por ser viúva.
  Ele simplesmente não a suportava e depois de ter feito tudo contra as regras que ela havia criado os filhos, e tentado criar os netos, sabia que vê-la seria praticamente considerado uma afronta.
  - Minha namorada poderá ir? - ele perguntou, já sabendo a resposta e a reação da mãe.
  Cristina bufou, encarando-o séria.
  - Eu não acredito que você está me perguntando isso, francamente.
  - Francamente, digo eu. - ele levantou as sobrancelhas e esperou a resposta da mãe, que não veio imediatamente pois ela apenas sustentou o olhar.
  Como se fosse mudar a ideia de .
  Ele só era um pouquinho mais teimoso que ela.
  - Você sabe que não, quer um escândalo em todos os tabloides? Imagina, sua avó conhecendo aquela… aquela…
  - Já sabe a minha resposta então, mãe. - ele interrompeu, voltando a encarar de longe.
  Ele sorriu de lado ao perceber que ela tinha o encontrado com os olhos, dizendo apenas com o olhar o quão tediosa ela estava.
  Era ótimo saber que o Major era irritante para .
  - … Filho?
  Ele voltou a sua atenção a mãe, que o encarava com expectativa.
  - O quê?
  - Podemos manter a nossa trégua? Eu sinto falta de conversar com você, de vê-lo todos os dias.
   concordou com a cabeça, mas sua cabeça não estava ali, por isso direcionou os olhos até a namorada que agora coçava a nuca completamente desconfortável.
  - Pra mim, a trégua nunca mudou. - ele deu de ombros, olhando de relance para ela.   Não era ele quem cismava com as decisões da mãe.
  Ele voltou a olhar para que o encarava também, ele levantou a sobrancelha fazendo uma pergunta silenciosa e ela estreitou os olhos, como quem dizia que não acreditava que ele faria aquilo. Ele sorriu mais uma vez e levantou a mão para interromper a mãe que falava alguma coisa que ele nem prestava atenção.
  - Mãe, depois conversamos, eu tenho algo muito importante para fazer agora. - avisou antes de sair dali as pressas, ignorando completamente a mãe chamá-lo mais de uma vez.
  Seus olhos estavam fixos em e ela sorria desacreditada, falou alguma coisa para Major sem nem olhar para ele e saiu dali, caminhando em direção a .
  Ele sorria travesso, como uma criança que tinha acabado de fazer algo que os pais haviam brigado para não fazer, e ria negando com a cabeça enquanto ia até ele.
  Quando se aproximaram um do outro, a puxou pela cintura e a beijou intensamente enquanto ela apoiava as mãos na nuca dele puxando-o para si. Sem se importar com quem via, se a maquiagem iria borrar ou aonde estavam.
  Ele só precisava beija-la e ela não iria se opor.
  Afinal, era um bom jeito de afastar as pessoas inconvenientes com quem não queriam conversar naquele dia.
  E funcionou, Cristina saiu bufando de volta para a sua mesa enquanto algumas amigas da alta sociedade a encaravam confusas, e o Major… bem, o maxilar dele estava tão travado que qualquer um há metros de distância conseguia perceber que ele estava furioso mesmo sem o conhecê-lo.
  Mas e não se importavam com os olhares em cima deles, não se importavam com nada além dos lábios que se moviam.
  Se afastaram, recuperando o fôlego e riu tímida e desacreditada.
  - Você é louco. - encostou as testas e viu os olhos dela brilharem.
  - Por você? Eu sou mesmo. - beijou a ponta do nariz dela e envolveu a cintura dela com os dois braços, trazendo-a para mais perto.
  A ideia dele era permanecer ali até cansar só que o DJ da festa tinha uma ideia melhor.
   sorriu com a melodia conhecida e antes que a voz de Chad embalasse o casamento, ela falou:
  - Eu amo essa música.
   começou a balançar em um ritmo lento conforme o som de Far Away do Nickelback, fazendo com que o acompanhasse.
  O som da risada nasalada de chamou a atenção de , que o encarou curiosa.
  - Você também ouvia essa quando estávamos separados? - ele perguntou, curioso e ela concordou com a cabeça.
  - Era a nossa trilha sonora na minha cabeça. - ela admitiu. - Eu achava que o clipe se tornaria real pra gente.
   ponderou, de certa forma aconteceu. Se tornou real.
  Ele voltou para casa.
  - O nosso teve um pouco mais de ação.
  Ela riu, tendo que concordar.
  - Mas a música continua sendo a nossa trilha sonora. - ele franziu as sobrancelhas. - São as palavras que descrevem perfeitamente o que eu quero te dizer todas as vezes que você sai em missão. - ele comprimiu os lábios, encarando-a intensamente. - E agora com essa viagem que você vai fazer…
   interrompeu a namorada com um beijo suave nos lábios, interrompendo-a.
  - Não pensa nisso, não hoje. - pediu. - Você sabe que eu não vou te deixar nunca mais, não é?
  Ela concordou com a cabeça, sentindo um aperto no peito.
  - Eu sei, eu acredito nisso.
  Ele levou uma mão para acariciar o rosto dela, enquanto continuavam dançando devagar ele analisava cada traço do rosto dela.
  - Eu acredito em nós e sei que vai ficar tudo bem.

Capítulo 08 - Your love left me in ruins

   estava no carro, respirando fundo e sentindo a mão formigar enquanto o coração batia rápido demais. Parado na frente de uma casa bem conhecida por ele, não conseguia deixar o nervosismo e a ansiedade de lado mesmo que sua cabeça dissesse que nada daquilo era necessário.
  Já esteve em situações bem piores do que aquela e não ficou tão ansioso assim. Se seus soldados soubessem que ele estava naquele estado por causa daquilo, seria zoado pelo resto de sua vida.
  Nem podia dizer que estava tendo um infarto porque a saúde de seu coração era perfeita.
  Respirou fundo pela vigésima vez, e limpou as mãos suadas no jeans da calça repetindo para si mesmo não ser um covarde.
  Era só uma mera formalidade, não tinha porque todo o nervosismo.
  Convicto de que conseguiria fazer aquilo, ele tirou a chave do contato e saiu do carro, indo para a porta de entrada sem se lembrar de pegar suas coisas ou travar o carro.
  As pernas estavam duras como cimento, seria engraçado se não fosse ele quem estivesse vivendo aquilo.
  Respirou fundo antes de tocar a campainha e pareceu uma eternidade até atenderem a porta.
  - ? O que faz aqui?
  Ele forçou um sorriso, tentando esconder o nervosismo.
  - Oi Joe. - cumprimentou o cunhado com um aperto de mão, o rapaz retribuiu enquanto olhava em volta a procura de alguma coisa.
  - Você aqui a essa hora? - Joe perguntou, curioso. - Minha irmã está trabalhando.
   engoliu seco.
  Sabia que encontraria o irmão de naquele horário porque tinha sondado o superior dele na base, Joe agora era da equipe de treinamento do exército e tinha mais folgas do que antes.
  O que não significava que não iria ficar nervoso com a presença dele, mesmo sendo poucos meses mais velho do que Joe.
  - Eu sei, na verdade vim falar com você e - pigarreou. - com o seu pai. Ele está?
  - Sim, entra! - Joe deu espaço para entrar e ele o fez, um tanto quanto tímido.
  Mesmo que não tivesse nem dois dias que esteve naquela mesma casa, tomando banho com .
   limpou o suor da mão mais uma vez ao ver que não só o Alexander, pai de , estava lá, mas a mãe também.
  Puta merda, como ele iria fazer aquilo?
  - , garoto! - Alexander sorriu ao vê-lo e se aproximou estendendo a mão.
   aceitou com medo de que ele percebesse como estava gelada e suada, mas se reparou ele não disse nada.
  - Como vai, querido? - Sandra se aproximou para abraçá-lo carinhosamente e confortavelmente como sempre fazia.
  No começo era difícil se acostumar porque raramente tinha sido abraçado por sua própria mãe, mas a de fez com que ele gostasse desse contato. Se sentia acolhido.
  - Bem, obrigado. E a senhora? - perguntou enquanto a abraçava e ela sorriu, balançando a cabeça em sinal positivo. - Desculpem vir sem avisar a essa hora.
  - Não tem problema. - ela balançou a mão no ar.
  - Você já é de casa! - Alexander falou e sorriu de leve.
  - Você quer um café? - Joe perguntou enquanto o pai apontava para sentarem no sofá.
  - Não, obrigado! - respondeu antes de sentar. O café não iria passar na garganta de qualquer forma.
  Principalmente porque os pais de sentaram no outro sofá, de frente para ele, olhando-o com expectativa, e Joe ao seu lado.
  As pernas dele estavam tão bambas que precisou apoiar os cotovelos para tentar trazê-las de volta.
  - Aconteceu alguma coisa? - Sandra perguntou, preocupada.
  - Não! - ele respondeu rapidamente. - Bom, quer dizer, não ainda. - ele riu nervoso. - Eu confesso que não sei por onde começar.
  - Que tal do começo? - Alexander sugeriu e o encarou, parecia que sabia o que ele estava prestes a fazer.
  Não viu apenas entendimento nos olhos dele, mas também cumplicidade.
  Foi por isso que ele respirou profundamente e sustentou o olhar.
  - A é a minha vida. Tudo o que eu sou hoje é graças a ela, nós tivemos muitos obstáculos e eu só tive forças para atravessar porque sabia que queria lutar por ela, é a única pela qual eu morreria. Eu não sou nada sem ela. - tomou coragem, sentindo o pulsar do coração em sua orelha. - Por isso, eu não quero mais passar um dia sem chamá-la de minha esposa.
   viu o pai de sorrir orgulhoso, a mãe dela conter as lágrimas enquanto segurava a mão do marido e Joe com um sorriso enorme.
  - Você está querendo dizer que… - Alexander instigou.
  - Estou pedindo a mão dela em casamento para vocês. - falou convicto e sentiu todo o peso nos ombros evaporar instantaneamente.
  O silêncio foi no mínimo perturbador para , que estava sim com medo de sair dali com uma resposta negativa. Ele sempre soube o quão importante a família era para a namorada e uma coisa era ele achar que não merecia , outra bem diferente era a família dela achar isso.
  Entretanto, para acabar de vez com a sua agonia, Alexander levantou do sofá e estendeu a mão para , que fez o mesmo, mas ainda incerto.
  - Não há ninguém no mundo que possa fazer a minha filha feliz além de você, meu rapaz. - ficou sem jeito mas ainda sustentou o aperto de mãos. - Eu jamais confiaria a minha joia mais preciosa a outra pessoa. Estou feliz por finalmente você ter a oportunidade de parar de me chamar de senhor e sim de sogro.
   riu baixo, sem saber o que dizer apenas agradeceu com a cabeça, se sentindo muito mais aliviado.
  Sandra tomou o lugar do marido e abraçou forte o rapaz mais uma vez.
  - Eu sempre soube que vocês ficariam juntos no final.
   riu, retribuindo o abraço mais uma vez.
  Sempre foi a intenção dele ficar com no final.
  - Bem vindo oficialmente a família, cunhado. - Joe falou antes de cumprimentar com a mão, dando batidinhas nas costas dele em seguida. - Embora não tivesse a necessidade de pedir para nós.
  - É romântico, filho. - a mãe falou e Joe riu, fazendo concordar com a cabeça.
  - Sou um cara antiquado.
  Joe levantou a sobrancelha.
  - É claro que é, dormindo no quarto da minha irmã e sabe-se lá fazendo o que no banho juntos…
  - Joe! - Sandra interrompeu antes que ele continuasse.
   riu sem graça, sentindo os olhos do pai de sobre ele e disfarçou coçando a nuca.
  - Bom, eu preciso ir. - pigarreou novamente, evitando olhar nos olhos de Alexander.
  Sim, mesmo sendo um capitão do exército tinha medo do pai da namorada.
  A família até tentou convencer a ficar mas ele preferiu recusar, uma vez que tinha que planejar o pedido que faria para antes da viagem.
  Não sairia da cidade sem usar a aliança de noivado.
  Saiu da casa feliz, tirando o celular para discar um número que estava gravado apenas na sua cabeça e não na lista de contatos.
  - Oi, sou eu. Vou precisar da sua ajuda. Te encontro em 20 minutos.
  Entrou no carro, guardando o celular e saiu dali com pressa, sem se dar conta de que o carro parado na esquina o observava.

[...]

Quarta-feira. Casa da família .
18:56 PM.

  - , se acalma!
  - Eu tô calma. - ela parou de andar pelo quarto para poder afirmar, com o celular na orelha. - Eu tô super calma, não dá pra ver que eu tô calma?
  - Com a sua voz subindo dois oitavos? Claro que dá. - Lynn riu do outro lado da linha.
   suspirou.
  - Eu preciso me arrumar em 20 minutos e o não me fala pra onde nós vamos, o que vamos fazer e eu tenho certeza que você tá rindo porque sabe de tudo, mas ele te fez prometer que não contaria nada. - falou mais rápido e a amiga riu de novo.
  - Ei, eu não sei de nada. - bufou, não acreditava na amiga. - Até se você vestisse com um saco de batatas, ele iria te achar a mulher mais linda do mundo.
   olhou para o próprio guarda roupa. Sabia que era verdade o que a amiga dizia, mas queria ir arrumada para o encontro misterioso.
  - Não tá ajudando! - ela reclamou.
  - Tá bom, sabe aquela sua saia estilo boho?
   procurou a peça.
  - A que tem uma fenda na coxa esquerda?
  - Isso! Usa ela com aquela sua blusa branca de gola alta e aquela bota marrom. - parou para imaginar o look e concordou depois quando viu que ficaria bom. - Não tá frio, mas também não tá tão calor, vai ser uma opção boa pra você e ao mesmo tempo arrumada do jeito que você quer.
   balançou a cabeça e tirou um casaco nude longo caso estivesse mais frio quando voltasse a sabe-se lá que horas.
  - É, você tem razão. Vou fazer isso. - jogou a roupa em cima da cama e olhou pra o relógio que estava usando no punho. - Tenho que desligar, daqui a pouco o chega e eu ainda tenho que me maquiar!
  - Vai lá, depois me conta todos os detalhes. Menos os sórdidos.
  - Vai dormir, Lynn.
  - Tchau!
   desligou o celular rindo e para não perder mais tempo, foi se trocar. Já tinha tomado banho assim que chegou do serviço.
  Tinha levado mais tempo para escolher qual roupa iria usar do que de costume porque se recusava a dizer onde iriam.
  A única coisa que o namorado tinha dito era que ele precisava vê-la na quarta e para ela se arrumar. Apenas isso.
  Nenhum detalhe a mais.
   queria roer as unhas de ansiedade, mas precisou conter essa vontade por dois dias.
  Depois que se trocou, passou uma maquiagem rápida, a base e o blush para esconder a cara de cansada, uma sombra terracota para dar uma cor as pálpebras, rímel e um batom em tom rosa queimado. Deixou os cabelos soltos e colocou brincos de argola, por fim passou perfume.
  Pegou a carteira compacta e o celular que vibrava em cima da cama, respondeu a mensagem do namorado enquanto descia as escadas.
  Depois de se despedir dos pais, que já sabiam que ela sairia com , ela saiu de casa.
  Sorriu ao ver o namorado encostado no carro, ele estava com calça de lavagem escura, uma blusa preta e uma jaqueta de couro. Simples e de tirar o fôlego.
  - E aí, pra onde vamos? - perguntou assim que se aproximou, arrancando uma risada dele.
  - O que, nem meu beijo eu ganho? - ele reclamou e ela o fez, dando um beijo rápido para voltar a olha-lo com expectativa. - Vamos ao shopping. - ele respondeu, abrindo a porta para ela.
  - Shopping? - ela franziu a testa. Toda aquela surpresa para ir aí shopping?
  - Qual o problema? - ele perguntou e ela negou com a cabeça, entrando no carro.
   fechou a porta com um enorme sorriso e deu a volta para entrar no lado do motorista.
  - Se eu soubesse que ia ser no shopping, não teria me arrumado feito uma perua. - ela respondeu depois de colocar o cinto, olhando para a própria roupa enquanto ele dava partida no carro.
  - Você está linda, não parece uma perua.
  - É alguma data especial e eu esqueci? - ela questionou e ele olhou de relance.
  - Por que a pergunta?
  - Ah não sei. - ela deu de ombros. - Pela sua ligação parecia ser algo muito importante.
   sorriu de lado.
  - Eu só estava lembrando esses dias que faz tempo que não vamos ao cinema.
   espelhou a reação dele, o sorriso crescendo conforme as lembranças vinham a tona.
  - Saudades de pagar meia da meia? - ela questionou e ele riu, levando uma mão até a perna dela e fazendo um carinho. - Nossa, amor, como sua mão está gelada! - constatou quando a palma dele encostou na pele que estava exposta pela fenda da saia.
  - Sério? Nem reparei. - tirou a mão e colocou no volante novamente, dessa vez segurando com mais força.
   o observou por um tempo, cismada.
  - Tá tudo bem?
  Ele parou no farol vermelho e olhou para a namorada, que tinha as sobrancelhas levantadas.
  - Claro que sim. - sorriu de leve. – Por quê?
  - Você parece mais… ansioso. Seus olhos estão piscando mais do que o normal, tem olhado para o retrovisor constantemente e você não para de movimentar as mãos no volante.
   a encarou surpreso e voltou a andar com o carro quando o farol abriu.
  - Eu estou ansioso pelas coisas que faremos no escurinho do cinema. - ele virou o rosto rapidamente para piscar para ela.
   sorriu envergonhada e levou a mão até a nuca dele, fazendo um carinho suave e que estava se tornando rotineiro.
  Ela ainda achava que ele não estava inquieto apenas por causa disso, mas não insistiu.
  Quando ele quisesse se abrir com ela, ele o faria. Sem pressão.
  Em poucos minutos estavam no estacionamento do shopping tentando achar uma vaga já que o lugar estava lotado.
  Quando finalmente conseguiram, no subsolo do shopping, saíram do carro de mãos dadas e percebeu como a palma dele estava suada mas resolveu não comentar nada.
  Lynn estava certa quanto ao clima, não estava nem frio e nem calor porém agradeceu por ter lembrado de levar o casaco grande, primeiro porque estava batendo um vento gelado e segundo por causa do ar condicionado do cinema, ela com certeza ficaria com frio se tivesse ido apenas de blusa e saia.
  Não que não fosse achar um jeito de se aquecer de outra maneira, mais especificamente nos braços do namorado.
  Andaram pelo shopping até a praça de alimentação primeiro, estava morrendo de fome mesmo que não tivesse feito nem duas horas que tinha comido antes de sair do serviço, mas ela sabia que era por conta do trabalho que estava desgastante.
  Decidiram então ir ao restaurante japonês que era o favorito dela e pagou, dizendo que hoje era dia dela, não entendeu muito bem porque mas agradeceu e até gostava de ser paparicada por ele.
  Ela não parava de falar, sobre a lua de mel que Lynn estava planejando depois da missão da equipe alfa, sobre uma vaga que havia aparecido em um restaurante que ela queria muito tentar. Tagarelou sobre sua carreira e como queria retomar sua paixão.
   apenas a encarava, estava difícil concentrar porque estava muito nervoso, sentia frio nas pernas mas não por causa do tempo, tentou disfarçar mas tinha percebido no carro. Claro, a namorada não era tão desatenta.
  Até mesmo para comer, estava tão ansioso que o apetite não aparecia, mas comeu mesmo assim para não dar bandeira para ela. Se ele recusasse a comida, aí sim ela perceberia algo de errado.
  Assim que terminaram, passou o braço pelo ombro de enquanto ela o abraçava pela cintura e começaram a caminhar em direção ao cinema.
  - Amor, eu preciso que você faça o que eu te disser. Tá bom? - ele falou baixo, perto do ouvido dela, fazendo-a tremer mas concordar. - Tem dois caras seguindo a gente.
   sentiu o sangue gelar.
  - O quê? - ela tentou virar a cabeça para trás, mas ele a impediu de continuar.
  - Não olha agora. - pediu sério e ela obedeceu.
  - Tem certeza? - ela o olhou, tentando achar algum resquício de incerteza.
  - Absoluta, achei que era coincidência porque o carro estava atrás da gente no farol e estacionou perto da nossa vaga. Mas quando eles sentaram no restaurante, eu soube que tinha algo de errado.
   engoliu seco, o salmão grelhado revirou em seu estômago e fez menção de voltar pela garganta.
  Então era por isso que estava tão ansioso no volante.
  - E estão seguindo a gente agora? - perguntou e ele concordou com a cabeça devagar.
  - Precisamos confundir eles.
  - Como?
   não respondeu, passando os olhos em cada ponto do shopping enquanto discretamente olhava para trás por cima do braço do namorado e viu duas figuras de preto andando atrás deles, encarando-os.
  Não foi preciso observar mais para que seu coração começasse a bater mais rápido quando percebeu que era verdade, queria ter visto mais do rosto deles, seria útil mais tarde.
  Continuaram andando e entraram em uma loja próxima do cinema, fingia olhar as roupas e mexia nas peças expostas para disfarçar.
   observava de rabo de olho e quando viu os dois olharem para trás ao mesmo tempo, puxou pela mão para ela abaixar.
  - Vem comigo. - pediu baixo e ela concordou com a cabeça.
  Se esconderam entre as araras de roupas e ele a levou para a outra saída da loja. Quando saíram, voltaram a posição ereta e começaram a andar mais rápido, segurava firme na mão de que apenas o seguia.
  Estava mais preocupada em olhar para trás para ter certeza que não estavam sendo seguidos.
  Ela só hesitou quando viu que ele ameaçava passar por uma porta que dizia 'apenas pessoas autorizadas' porém o seguiu do mesmo jeito, entrando em um corredor escuro que ela não fazia ideia de onde levava.
  - Nós podemos estar aqui? - ela sussurrou e ele apenas afagou a mão dela em resposta.
  Provavelmente não, mas isso era importante agora? Com certeza não.
  Mais acostumada com a escuridão, ela percebeu que estavam em uma sala de cinema vazia e a levava para cima em direção às últimas cadeiras.
  Quis rir, de nervoso principalmente, porque o encontro que ansiava não era bem daquele jeito.
  Subiram as escadas um pouco mais devagar e foram para o meio da sala, entre as últimas fileiras, agacharam e ficaram ali. Em puro silêncio, atentos a qualquer ruído.
   encarou , tentava não demonstrar medo mas suas pernas tremiam só de pensar na possibilidade de terem ido atrás deles. Estavam no meio do shopping lotado.
  Será que nem vivendo uma quarta-feira como um casal normal eles teriam um pouco de paz?
  - Eu vou até o lado de fora. - ele falou enquanto analisava o lugar.
  - Eu vou com você.
  - Não, amor, é melhor você ficar aqui. - ela o olhou assustada. - Eu vou só conferir e volto.
  - Você vai me deixar aqui sozinha? - ela questionou, a voz falhando no final.
  Sua cabeça começou a criar milhares de imagens dos homens entrando quando saísse.
  - Por pouco tempo, juro. - ele envolveu o rosto dela com as duas mãos, fazendo-a olhar em seus olhos. Tinha incerteza, mas principalmente medo. - Você confia em mim?
   suspirou, a imensidão dos olhos dele sempre levava embora todas as dúvidas que tinha.
  - Com a minha vida. - ela respondeu sem hesitar.
  Os olhos de desceram até os lábios dela e depositou um beijo suave, ela fechou os olhos com o contato que acabou rápido demais.
  - Eu não vou demorar, prometo. - deu um beijo na testa dela e afastou as mãos, abriu os olhos e viu o namorado se afastar.
  Ele saiu com a mão na cintura, onde sua arma sempre estava e passou a mão no cabelo, nervosa.
  Pedia a tudo que fosse mais sagrado que não ouvisse nenhum barulho de tiro.
  - Se você tivesse trazido sua arma, poderia ter ido ajudar. - reclamou para si mesma.
  Não podia dizer que não tinha se acostumado com a ideia até porque toda vez que ia trabalhar, carregava a arma na bolsa - e sempre torcendo para que não fosse obrigada a usar -, mas quando estava com não via necessidade de andar armada porque sabia que ele também estaria.
  Até porque, jamais poderia ter imaginado aquele cenário.
  Porém, agora tinha se dado conta da real importância. Se alguma coisa acontecesse com
  Ela balançou a cabeça afastando aqueles pensamentos e fechou os olhos para controlar a respiração.
  Não iria pensar no pior, confiava nele e sabia que ia voltar. Como sempre fazia.
  - . - abriu os olhos ao ouvir a voz do namorado, um pouco mais alta.
  Olhou para cima, mas não o encontrou, então olhou para trás e nada.
  - Está tudo bem, você pode levantar agora. - franziu a testa ao continuar ouvindo a voz dele então reparou que a sala estava mais iluminada.
  Por isso, levantou a cabeça e viu a imagem de na tela do cinema, o queixo caiu inconscientemente e ela levantou do chão, sentindo as pernas reclamarem, mas ignorou.
  - Antes de mais nada, por favor me desculpa por fazer você passar por isso, eu tenho um bom motivo. - ela reparou que a roupa era a mesma que ele estava usando então se perguntou se aquilo era ao vivo ou… - E sim, isso é ao vivo.
  Ela riu baixo. Como sempre, era como se ele estivesse lendo os pensamentos dela.
  - Eu precisei fingir que estavam seguindo a gente. Na verdade, são só dois dos soldados da base que eu pedi uma ajuda, são eles que estão ajudando a transmitir. - o coração de foi na boca com a revelação. Então a perseguição era mentira. - Mas era o único jeito que eu encontrei de ficarmos plenamente sozinhos em um lugar que significa tanto pra nós dois. - ela sorriu de leve. - Porque foi no cinema que eu tive a minha primeira chance com você. Naquela época eu não podia imaginar o quanto você iria significar para mim, mas sendo bem sincero, acho que foi o que eu procurei. A minha vida toda me senti sozinho, só querendo alguém com quem contar, por quem chorar, por quem lutar. E então você apareceu.
   levou a mão até o rosto, com as bochechas ruborizadas ela tentava conter as lágrimas.
  - E foi como se eu tivesse encontrado a luz que faltava na minha vida, mas que eu sempre esperei. Eu sempre soube que ia te encontrar, eu só não imaginei que eu fosse te amar tanto. - ela não conseguia desfazer o sorriso, adorava ouvir aquilo. - O futuro parece ser incerto e confuso muitas vezes, mas a única coisa que eu tenho certeza é que eu sempre serei seu.
  A transmissão parou de repente e franziu a testa, ainda com a sala pouco iluminada, ela viu a figura do namorado aparecer no começo da escada de onde tinham vindo e ele subiu rapidamente.
  Ela o observou subir a escada, ele sorria largamente e ela só conseguia fazer o mesmo, ele se aproximou com as mãos no bolso e estava prestes a perguntar o que estava acontecendo quando ele se ajoelhou.
   sentiu o corpo inteiro arrepiar ao mesmo tempo em que os olhos marejaram, o coração acelerou ao entender o que estava acontecendo e ela jamais conseguiria explicar a enorme felicidade que estava sentindo.
   olhou firmemente nos olhos dela e tirou a caixinha de veludo do bolso, abrindo para mostrar o anel que brilhava.
  - Casa comigo. - ele pediu, tendo que controlar para não deixar as mãos tremerem, estava tão nervoso como nunca esteve na vida. - Me torne o homem mais feliz do mundo essa noite.
   levou as mãos até o peito, estava sem palavras mas o rosto dizia o que a boca até agora não tinha conseguido.
  - É claro que sim. - ela não conseguiu controlar o choro de felicidade e levantou com uma mão segurando o anel e a outra para secar o rosto dela devagar. - É o que eu mais quero.
  Ele sorriu e tirou o anel da caixinha, fazendo-a desviar os olhos para observar e estendeu a mão para o namorado. estava suando frio pelas mãos então precisou segurar com mais força o anel ou então cairia, assim que colocou no dedo de , que a esse ponto não conseguia dizer nada além de admirar o anel, ele segurou a mão dela e levou até os lábios, beijando suavemente.
   o encarou ternamente e levou a mão com a aliança para acariciar o rosto do namorado, estava com uma expressão mais calma agora, parecia que todo o nervosismo e ansiedade haviam evaporado quando ela respondeu o que ele tanto queria ouvir.
  Sem ter o que falar, enfiou a caixinha de volta no bolso e segurou pela cintura com as duas mãos, ela aproveitou para apoiar uma mão no ombro dele e a outra com a aliança no peitoral dele.
  Ele se aproximou do rosto dela, fazendo um carinho por toda a extensão com o próprio nariz, sentindo a textura macia e o perfume da namorada que faziam com que ele esquecesse do mundo lá fora e era exatamente o que precisava.
  Naquela noite, ele não queria pensar em mais nada a não ser em .
  Se daria o luxo de se desligar de tudo para amá-la e aproveitar cada segundo precioso que tinha com ela.
  Ele abriu os olhos, vendo-a sorrindo de leve ainda com os olhos fechados, e levou uma mão para segurar a dela que estava em seu peito.
  - A nossa noite ainda não acabou.

[...]

  - Então, tudo pronto para amanhã? - o mais novo perguntou, visivelmente preocupado.
  - Ainda com medo, M? - o mais forte cruzou os braços e o encarou.
  Depois de tudo, não podia acreditar que ele ainda não tinha se convencido que precisavam fazer aquilo.
  - Não é medo. - respondeu, olhando para a janela. A cidade estava calma como todos os outros dias, não havia mudança do lado de fora e essa era a parte que mais o irritava.
  Enquanto a vida andava em seu curso natural para as demais pessoas, ele estava ali.
  Cada dia que passava era o relógio correndo contra seu destino, estava prestes a encarar o perigo de frente.
  Estava perto de olhar nos olhos do demônio que havia colocado-o naquela situação.   Pensar nisso fazia com que o sangue em suas veias borbulhasse, mesmo que estivesse treinando dia após dia para aquilo e racionalmente sabia que teria que controlar suas emoções quando o fizesse.
  Mas ainda era humano.
  - Eu quero que tudo isso acabe de uma vez. - admitiu.
  Um humano que tinha perdido tudo o que amava e teria a chance de se vingar. De uma maneira bem diferente da qual havia imaginado, mas teria o que queria, não era apenas uma promessa sua, mas de todos os envolvidos.
  O mais velho suspirou e apoiou a mão no ombro dele.
  - Infelizmente, isso só está começando.
  O mais novo concordou com a cabeça e olhou para baixo.
  A morte traria um novo aliado e ele sabia que o custo era muito alto. Porém, não tinha como voltar atrás.

[...]

   sorriu ao encarar o quarto do hotel enquanto fechava a porta atrás dela.
  O namorado tinha se esforçado para deixar aquela noite ainda mais mágica e perfeita, mesmo com a iluminação baixa do quarto graças as velas espalhadas, ela conseguia ver muito bem as pétalas de rosas jogadas pelo chão que faziam o caminho até a cama.
  Não era a primeira vez que fariam aquilo mas a sensação que tinha era como se fosse, porque estava nervosa como na sua primeira vez com ele. Sentia todas aquelas coisas clichês, as borboletas no estômago, as mãos frias, o coração batendo forte e rápido.
  E o sorriso aumentou quando chegou por trás dela, afastando o cabelo para trás para que ele pudesse enterrar o rosto na nuca dela, sentindo um arrepio gostoso passar por seu corpo ela fechou os olhos e cedeu no momento em que as mãos dele seguraram a cintura dela.
  - Acho que hoje você superou no romantismo. - ela sentiu a risada de vibrar contra sua nuca após dizer, ele envolveu a cintura dela com os braços e a trouxe para mais perto, grudando os corpos.
  - Eu sempre fui romântico com você. - ele falou, beijando a parte da pele dela que não estava coberta pela blusa. - Mas essa noite é especial.
  - E por quê? - ela perguntou, curiosa.
  Sentiu se afastar o bastante para que a virasse de frente a ele, onde ele a encarou com uma calma que a consumiu.
  - Porque essa é a nossa noite. - ele respondeu e aproximou o rosto para dar um selinho nela. - Vamos esquecer tudo e todos. Só eu e você.
  Ela sorriu largamente. Gostava quando pensava daquele jeito, se estavam ali juntos era porque tinham se dado ao luxo de esquecer do mundo há muito tempo atrás e se permitido viver todos aqueles sentimentos que carregavam um pelo outro.
  E ela queria fazer aquilo. Parecia que toda vez que começavam uma nova jornada juntos, precisavam daquele tempo sozinhos, sem problemas, sem preocupações. Apenas os dois.
  - Você sabe a minha resposta. - ela falou e ele a encarou fundo nos olhos, sabia sim a resposta mas queria gravar a forma como ela o olhava, como os olhos brilhavam na direção dele mais do que uma constelação inteira.
  Sem conseguir se conter, ele levou a mão até a nuca dela e a trouxe para que pudessem finalmente selar os lábios.
   suspirou e levou as mãos até o ombro do namorado enquanto ele saboreava os lábios dela em um beijo lento, não precisava ter pressa para aquilo, teriam a noite inteira para se perderem na dança sensual entre seus lábios.
   levou as mãos até o casaco que ela usava e o tirou de uma vez, ela o ajudou deixando que os braços caíssem do lado do corpo para que a peça tocasse o chão. Antes que ele pudesse puxá-la para si, fez o mesmo com a jaqueta dele, fazendo-o sorrir entre o beijo que foi interrompido.
  Mais uma peça de roupa no chão e encostou a testa na de , a respiração quente e um pouco acelerada dela batia contra seu rosto, então ele a tomou em seus braços como se ela fosse a pena mais delicada.
  Ela apoiou os braços nos ombros dele novamente, dessa vez tomando a iniciativa para retomar o beijo no mesmo ritmo, o corpo de emanava um calor que estava deixando-a fraca e agradeceu por estar nos braços dele, pois quando as línguas se encontraram para deixar o beijo ainda mais molhado, ela gemeu baixinho contra a boca dele.
  Tão logo a colocava na cama com gentileza e mesmo que seu corpo pedisse para que retomasse a proximidade com o calor do corpo de , ele não pôde deixar de observar o quão linda ela estava deitada na cama cheia de pétalas de rosas.
  Todo o seu coração batia por ela, queria deixar aquela imagem dela ofegante com a boca vermelha e olhar puro gravada em sua memória.
  Ele se aproximou para beijá-la novamente, dessa vez ligeiramente mais acelerado, enquanto suas mãos iam até as botas dela para tirá-las de vez, fez isso em ambos os lados e depois tirou os próprios sapatos, enquanto acariciava sua nuca, fazendo um arrepio percorrer seu corpo.
  Nunca se cansava de beijá-la, mesmo que o ar lhe faltasse, era impossível parar. Sentir os lábios carnudos e delicados dela era como um vício para ele, quanto mais tinha, mais queria.
  Quando as mãos dele subiram para tirar a saia que ela usava, quebrou o beijo para recuperar o ar perdido, enquanto a encarava suas mãos traçaram a pele exposta da coxa.
   sentia suas pernas fracas assim como seus pulmões mas a sensação das mãos largas dele em sua pele era boa demais para querer parar, ela era dele e ele podia fazer o que quisesse.
  Ela abriu os olhos para encontrar os do amado fixos nela, parecia querer gravar cada expressão dela naquela noite e tudo o que ela teve forças para fazer foi admirar cada centímetro do rosto dele. Embora já tivesse decorado cada poro, naquela noite tinha um brilho diferente e aquilo estava hipnotizando-a.
  Ele tirou a saia, tão devagar que pareceu tortura, mas ela não apressou pois estava gostando daquele ritmo. Entretanto, foi impossível não reagir quando as mãos dele cobriram sua pele, agarrando a coxa dela para que entrelaçassem em sua cintura, automaticamente trazendo os corpos quentes para mais perto, em um abraço mais íntimo.
  Ela conseguia sentir o quanto ele queria aquilo e foi impossível não roçar o quadril contra o dele, começou um novo beijo mais sedento e ansioso, sentia a temperatura do seu corpo aumentar a cada toque dele.
  E quando ele mordeu o lábio inferior dela, gemeu baixinho e agarrou a blusa que ele usava, sentindo que aquele pedaço de pano estava atrapalhando. Por isso, suas mãos desceram até os botões e começou a desfazer um por um enquanto ele beijava o rosto dela, bochecha, queixo e nariz.
  Ela precisou de muita concentração para se desfazer da peça e quando conseguiu, suas mãos afastaram a peça do corpo do namorado com uma certa pressa, para então encontrar a pele quente dele. acariciou primeiro o abdômen do namorado, enquanto ele direcionava os beijos até a orelha dela, assim que ele deu uma leve mordida, as mãos dela estavam nas costas dele e o arranhou.
   conteve um gemido, suas mãos foram para a blusa de e ele afastou o tronco para poder arrancar a peça dela também, rapidamente já não existia mais empecilho entre os troncos e ela o abraçou forte, fechando os olhos quando os lábios dele começaram a descer os beijos molhados pelo pescoço e colo.
  Ele beijava cada pedacinho exposto, amava cada centímetro do corpo dela e não deixaria nenhuma parte sem algum carinho, fosse de suas mãos ou de seus lábios.
  Desceu as alças do sutiã de e ela precisou lutar para conseguir ar, preparando-se para o que estava por vir, suas mãos encontraram o cabelo curto dele e tentou puxar os fios conforme a boca dele distribuía beijos naquela região.
  Ela já nem conseguia mais lembrar do próprio nome.
  - Por favor, não me tortura. - ela sussurrou quando os lábios dele encontraram o umbigo dela, fazendo-a contrair, o contraste entre a pele quente e a saliva do namorado estava fazendo um outro lugar de seu corpo pegar fogo.
  - Isso está longe de ser tortura. - ele respondeu e ela abriu os olhos, vendo-o piscar.
  - Não estamos numa situação muito justa. - ela apontou com a cabeça para ele, que parou os beijos para olhar o que ela se referia.
  Ele ainda estava com a calça, que estava bem mais apertada agora, e sorriu malicioso.
  - Fique à vontade para tirar. - ele pediu e levantou o tronco, ficando de joelhos na cama.
   riu, sem forças, mas aceitou o convite.
  Suas mãos encontraram o cinto e então os dedos ágeis o tiraram, desfazendo o botão da calça e puxando para baixo, não via a hora daquela peça inútil de roupa sair logo.
   a abraçou pela cintura quando se viu livre da calça e deixou sentada em seu colo, afastou o cabelo dela que insistia em cair na frente do rosto dela e acariciou a bochecha.
  - Eu quero me lembrar de cada segundo dessa noite. - ele falou, olhando atentamente para o rosto dela. - Eu só quero te amar.
  Ela sorriu, levando as mãos até a nuca dele, fazendo um carinho com o dedão.
  - Me torne sua mais uma vez, . - ela pediu, baixinho e ele concordou com a cabeça.
  Ele atendeu o pedido de , quando mais nenhuma outra peça de roupa impedia que os corpos se encontrassem finalmente, ele a amou mais de uma vez. Com o corpo envolvendo cada canto do de , não havia um lugar que ele não tivesse tocado e beijado com devoção. Muito mais intenso do que as outras vezes, não desviou os olhos de , e ela sentiu todo o amor dele preencher sua alma, cravando em sua pele como uma tatuagem.
  Tudo o que restou para ela foi gemer o nome dele por toda a noite.

  Já era quase de manhã, muito em breve teriam que voltar para suas vidas, lembrar que o mundo existia mas tudo o que queria era continuar nos braços de enquanto ela fazia um carinho no braço dele.
  Aliás, podia passar o resto da vida daquele jeito.
  - Eu tenho outra coisa para você. - ele falou contra o ouvido dela, e ela riu, virando o rosto para encará-lo.
  - Estou sendo bastante mimada por você.
  Ele deu um beijo na ponta do nariz dela e desfez o abraço para sentar na cama.
  - Essa era a minha missão.
  Ele tirou alguma coisa debaixo do travesseiro e sentou na cama, cobrindo o tronco nu com o lençol da cama.
  - Fecha os olhos. - ele pediu e ela franziu a testa, virou a cabeça e riu. - Fecha, .
  - Tá bom. - ela o fez, focando seus ouvidos no barulho do quarto.
  Mas era muito silencioso, ela apenas sentiu que ele colocou alguma coisa no pescoço dela, algo gelado que a fez arrepiar mas ainda não conseguia adivinhar o que era.
  - Pronto, pode abrir. - ele avisou, olhando-a com expectativa.
   abriu e olhou para o próprio pescoço, se deparando com um colar delicado que tinha um pingente em um tom azul tão claro que chegava a ser transparente.
  - Que lindo. - ela falou, levando a mão para segurar o colar e trazê-lo para frente para encará-lo melhor. - Amor, não precisava!
  Afinal, ela já tinha ganhado a aliança, que com certeza foi cara, não queria que ele ficasse gastando com ela.
  - Não foi tão caro quanto você imagina. - ela o encarou, surpresa.
  Ele conhecia a mente dela melhor do que ela própria.
  - É muito lindo, obrigada. - ela aproximou o rosto para beijá-lo, sendo retribuída.
  - Quero que use como seu amuleto de sorte. - ele se afastou para acariciar o rosto dela. - Toda vez que sentir a minha falta, segura o pingente e faz um pedido.
  Ela sorriu travessa e então segurou o pingente como ele havia dito, fazendo-o rir.
  - Sabe o que eu pedi agora? - ela perguntou e ele negou com a cabeça. - Que essa felicidade nunca acabe e que você sempre volte para mim.
   vacilou e seus braços foram de encontro com a cintura dela, trazendo-a para perto de seu corpo em um abraço apertado e quase desesperado.
  - Eu sempre vou encontrar o meu caminho de volta até você, não importa quanto tempo leve.
   sentiu um bolo se formar em sua garganta e envolveu o pescoço dele com seus braços, um súbito medo de perdê-lo apavorou seu coração. A forma como ele havia dito soou como uma despedida e ela odiava aquela sensação, embora sentisse isso quase todas as vezes que ele ia trabalhar, dessa vez era mais forte. O bastante para fazê-la chorar.
  Não conseguia viver sem ele, tinha se tornado parte de tudo o que ela fazia e sentia, ele tinha dominado cada pedaço de seu corpo e mente.
  - Eu te amo, . Nunca se esqueça disso.
  Ela jamais iria, nem mesmo que seu coração fosse arrancado.

[...]

Naquele mesmo dia. Departamento de Segurança.
17:48 PM

   estava inquieta, impaciente, seus pés não paravam de bater no chão em um ritmo que nem mesmo ela sabia qual era. Brincava com a caneta em sua mão enquanto olhava para o nada, a cada cinco minutos seus olhos iam para a porta da sala de reunião.
  Sabia da viagem de trabalho de e tentou convencer a si mesma que tudo ficaria bem, conforme o namorado tinha prometido mais cedo quando ele havia trazido-a para trabalhar. Estava ignorando todas as inseguranças e medos que estava sentindo porque tinha prometido e ela sabia que ele cumpria suas promessas, mas ao ver o General e o Major no prédio para uma reunião com o secretário, ela sabia que eles estariam falando da missão de .
  Tinham chegado por volta das 11h e até agora não tinham saído nem para almoçar. Se dissesse que tinha conseguido comer, seria uma grande mentira, a comida não passava em sua garganta e só de olhar para o prato que tinha feito seu estômago revirava, ela teve que lutar com o enjoo duas vezes.
  O chefe de não havia requerido a presença dela na sala de reuniões, o que foi bem estranho porque as secretarias de ambos os visitantes estavam lá dentro.
  Ela estava morrendo de curiosidade e ficar ali, sentada e próxima da sala não estava ajudando.
  Foi por isso que ela decidiu ir até o banheiro, andar um pouco iria fazer bem.
  Ela molhou a nuca, que parecia estar pegando fogo mesmo que suas mãos estivessem geladas e se olhou no espelho, a expressão visivelmente preocupada. Repetiu para si mesma que tudo ficaria bem enquanto sentia um aperto no coração, respirou fundo várias vezes antes de decidir voltar para a mesa.
  Sentiu os ombros ficarem mais rígidos ao ver a secretária do Major do lado de fora, no celular, e foi até ela.
  - Tudo bem, aguardo o retorno da comitiva do presidente. - franziu a testa ao ouvir e ela desligou o telefone.
  - Está tudo bem? - perguntou, vendo-a um tanto quanto receosa.
  - A comitiva do presidente está vindo para cá.
   sentiu todos os pelos do corpo arrepiarem.
  - Por quê? - ela perguntou um pouco mais alto, a voz demonstrando o desespero e a secretária respirou fundo.
  - , é melhor você entrar. - ela falou, apontando para a porta e ficou ainda mais confusa. - Se fosse comigo, eu gostaria de saber o que está acontecendo.
  Ela engoliu seco, além de estar completamente perdida estava aflita também, principalmente porque não sabia o que estava por vir.
  E sequer imaginava.
   abriu a porta depois de respirar fundo e entrou na sala de reuniões, ainda com um certo medo de entrar lá sem ser autorizada, mas no momento em que viu o projetor da sala com várias imagens de soldados em um vasto campo, ela se aproximou da mesa com a testa franzida.
  As imagens estavam tremidas, o que indicava que as câmeras estavam em movimento constante e ela ouvia barulhos de tiros.
  Sentiu os olhos de todos sobre si, olhou para o chefe, mas ele não falou nada apenas a encarou com uma certa compaixão e… dó.
  Não gostou daquilo, sentiu as pernas tremerem e o coração acelerar de repente, estava prestes a perguntar o que estava acontecendo quando ouviu uma voz.
  - Tem explosivos o bastante para abrir um buraco no mundo. - olhou para as imagens, conhecia o dono.
  Era o Connor.
  - Alguém precisa abater aquela aeronave.
  - Estou ficando sem munição.
  - A minha também está acabando.
  O rádio ficou em silêncio por um segundo e sentiu o medo percorrer seu corpo.
  Aquela era a primeira vez que acompanhava uma missão da equipe alfa pelo ponto de vista estratégico, da última vez estava na linha de frente como refém e o namorado quase havia morrido.
  - Me dêem cobertura, eu vou entrar.
   parou onde estava, sentindo um frio estranho pelo corpo. Aquela era a voz do…
  - ? - ela não sabia como, mas a voz saiu alta.
  - ? - ela procurou no projetor qual das câmeras era a de , mas não encontrou, ou pelo menos não estava entendendo como as imagens funcionavam.
  Tudo o que via era muita grama baixa, alguns carros e muitas armas.
  - Capitão, não!
   sentiu os olhos marejarem e se aproximou da mesa enquanto o corpo arrepiava de uma forma ruim, Major até tentou pará-la segurando-a pelos ombros mas ela continuou, apoiando as mãos na mesa perto do telefone.
  Era dali que estavam se comunicando com a equipe alfa, de onde tinha escutado a voz dela.
  - ! - ela o chamou novamente, ouvindo-o respirar pesadamente.
  - Amor… - o coração dela despedaçou ao ouvir a voz cansada dele, mas conseguia perceber que estava ponderando. - Me desculpa, por favor, não era para você ouvir nada disso.
  - O que está acontecendo? - Ela falou desesperada, tudo o que queria era poder ver .
  - Capitão, volte!
  - Mais carros chegando!
  - Eu vou te explicar tudo.
- ela negou com a cabeça. Não estava gostando daquilo. Não parecia bom.
  Queria ouvir a voz dele dizendo que tudo ficaria bem.
  - , sai daí!
  - Você vai voltar! - ela falou, tentando convencer a si mesma, os olhos cada vez mais cheios de lágrimas. Ela já não sentia mais poder sobre seu corpo, era como se estivesse sentindo toda a sua energia sendo drenada para fora. - Você prometeu.
  - Eu prometi.
  - RPG! RPG!
  - Se protejam!
  - Capitão, saia daí!
   ouviu um barulho de alerta constante e se desesperou, o coração batendo tão desesperado quanto.
  - , onde você… - ela sequer conseguiu terminar a fala pois ouviu um barulho estrondoso de explosão.
  Ela levantou a cabeça, para olhar as imagens e viu alguma coisa pegar fogo em uma delas, não conseguia ver o que era porque seus olhos marejados estavam embaçando sua visão.
  Sentiu uma dor no coração e engoliu seco.
  “Por favor, não.” pensou.
  O Major se aproximou.
  - Falem comigo! - ele ordenou, encarando que olhava as imagens sem parar esperando uma resposta.
  - Major, acertaram a cabana! Era uma emboscada. - Connor falou, bravo e um tanto quanto desesperado. - Capitão, responda o seu rádio!
   arregalou os olhos. Não, aquilo não!
  - As granadas estão vindo de todos os lugares. Precisamos de apoio aéreo. Agora!
  - Capitão, responda!
  Mais silêncio no rádio, a única coisa que podia ser ouvida eram os ricochetes das balas para o desespero de que ainda esperava ouvir a voz de .
  - Equipe águia, aonde está você? - Major perguntou bravo.
  - 15 minutos para entrarmos no espaço aéreo. - avisaram.
  - Não temos 15 minutos, porra!
  - Responda, Capitão!
   levou as mãos até a cabeça. Não podia ser!
  Major olhou para o secretário, que negava com a cabeça. Estavam conversando silenciosamente naquela troca de olhares enquanto só sentia as lágrimas caírem por seu rosto.
  Embora sua parte racional estivesse entendendo o que estava acontecendo, seu coração se recusava a acreditar que aquilo era possível.
  - Tire a equipe alfa dai. Agora! - ordenou e virou para encará-lo. - Faremos as buscas mais tarde, eu não quero mais nenhuma baixa.
  Nenhuma baixa…
  - Senhor, mas…
  - Estou mandando, voltem para a base de operações.
   estava com o olhar perdido e parecia que de repente tinha sido colocada em uma bolha, pois as vozes ao seu redor estavam abafadas. Tudo o que pensava era em .
  Ela não conhecia armas militares mas era esperta o bastante para ter ouvido com atenção que tinha ido até o lugar que havia explodido.
  E se tinha explodido, antes dele conseguir responder o rádio, significava que ele…
  - . - o Major falou mais alto e ela moveu a cabeça em direção a voz dele mas ainda sem focar a visão no rosto dele. - Vamos sair daqui.
  Ele encostou no braço dela, mas o afastou, dando um passo para trás e movendo o braço para longe.
  - Eu quero falar com ele. - ela disse, a voz falhando no final. - Eu preciso falar com o .
  Ela mal sequer sentia a força nas pernas, era como se estivesse vivendo aquele momento fora de seu corpo, como se fosse apenas uma observadora.
  Não conseguia pensar, respirar… Ela estava perdida.
  - , querida. - o Major engoliu seco. - Isso será impossível. - ela o encarou, o coração batia rápido e tudo a sua volta parecia girar. - não poderia sobreviver a um ataque de RPG.
  Ela franziu a testa.
  - O que você…?
  - , está morto.


Nota da autora: Eu sei que demorei um pouco mais do que deveria e eu queria ter dado esse capítulo de presente de natal maaaas pelo menos ele inicia 2024 daquele jeito.
Um capítulo gigantesco desse pra compensar a demora 😆
Obrigada a todo mundo que tem lido até aqui e espero que eu termine essa história em 2024 hahaha
Beijinhos, até o próximo capítulo!

Se vocês quiserem ler Military ouvindo a playlist que eu criei no Spotify, eu aconselho 😉

Capítulo 09 - The world we know turns in the wind

  Há 3 anos e 2 meses. Aeroporto Internacional.
  06:25 AM

   sentia os olhos secos irritados e pesados enquanto abraçava a mãe pelos ombros, os pais estavam de cada lado de Joe e andavam até o portão de desembarque do voo do novo soldado.
  Ela já tinha chorado tanto, nem sabia como era possível seu corpo produzir tantas lágrimas e seu coração doer daquela forma.
  Sentia tantas coisas ao mesmo tempo que a deixava confusa. Seu coração tinha sido quebrado, uma guerra iminente estava prestes a acontecer enquanto seu irmão estava indo para a batalha para poupar o pai.
  Estava completamente triste, como se uma enorme nuvem escura estivesse pairando em sua cabeça e tudo o que tentava fazer era convencer a si mesma que tudo acabaria bem.
  Na madrugada daquele mesmo dia, quando terminou tudo com , assim que se cansou de soluçar e sentir as lágrimas quentes, seu celular tocou. Era Lynn. Não queria conversar com a melhor amiga, ainda estava chateada com ela mesmo que entendesse os motivos para a mentira, porém não era muito comum que a amiga a ligasse naquela hora então atendeu preocupada.
  Achou que teria notícias piores e estava certa, aquele dia parecia estar cercado de notícias ruins, quando a amiga avisou que havia se alistado e embarcaria junto com a maioria dos soldados, perdeu a fala.
  Tinha o perdido e sequer tiveram uma despedida como gostaria, até porque, terminar o que sequer tinham começado não estava em seus planos.
  Bom, nem sendo enganada estava.
  Não dormiu aquela noite, continuou chorando completamente destruída, já tinha sido o bastante saber que seu irmão iria para o front, descobrir que também e que provavelmente jamais voltaria tinha sido a gota d'água.
  Ao mesmo tempo em que se convencia que era assim que as coisas tinham que acabar, uma parte de si não se conformava. E mesmo com raiva, pediu a Deus que ele ficasse bem, pelo menos vivo.
  Não pedia para que ele voltasse para ela, apenas que não morresse.

  Aquele dia estava atípico, era verão e a expectativa era de sol forte e céu aberto, entretanto, como se o tempo estivesse de acordo com o humor de uma grande parte da população, o céu estava carregado, já havia chovido bastante na madrugada e, mesmo dando uma amenizada pela manhã, era um dia feio. Em todos os sentidos.
   suspirou quando encontraram o portão, o que mais via no aeroporto eram soldados uniformizados e suas famílias os acompanhando, todos estavam vivendo a mesma coisa ali. A dor da despedida.
  Joe demorou um tempo abraçando os pais que voltavam a chorar, desejando sorte e que o rapaz se cuidasse, foi uma tarefa bem difícil, a de se manter forte, mas Joe conseguiu segurar as lágrimas.
  Quando ele virou para abraçar a irmã mais nova, ela sorriu triste e enterrou o rosto no peito dele, abraçando-o com força e medo. Mesmo sendo mais velho e às vezes implicavam por bobeira, ela o amava demais e aquela situação era a última que gostaria de ver seu irmão passar.
  - Cuida dos nossos velhos - ele sussurrou para ela que concordou com a cabeça, não conseguia falar pois estava com um nó na garganta. - Eu te amo, pirralha.
  - Eu também te amo - ela respondeu baixo e se afastou do irmão para poder colocar as mãos no rosto dele. - Se cuida, por favor.
  Ele sorriu de leve, não queria preocupá-los.
  - Eu vou escrever para vocês. - ele avisou, olhando para os pais.
  Ela concordou com a cabeça. A notícia de que os soldados não poderiam levar celulares pegou todo mundo desprevenido, ninguém queria ficar sem notícias de seus entes queridos, saber que cartas seriam autorizadas era um alívio e uma preocupação ao mesmo tempo.
  Porque significava que algo de muito mais sério do que tinha sido anunciado estava acontecendo.
  Joe então arrumou a mala militar no ombro e a mãe o abraçou mais uma vez, ele a beijou na testa antes de se afastar, estava sendo muito mais difícil para ele. Com os ombros encolhidos, ele foi para o portão de embarque e se despediu com um aceno, se aproximou dos pais e sorriu triste para o irmão e o viu desaparecer.
  Suspirando, ela torceu a boca sem saber o que dizer, tudo o que ouvia era a despedida das outras pessoas e os soluços. Não era a melhor atmosfera para se estar.
   olhou para o lado a fim de fazer as lágrimas desaparecerem, porém seus olhos encontraram um par extremamente familiar e ela parou onde estava. Foi impossível segurar as lágrimas dessa vez, principalmente porque os olhos que a encarava firmemente estavam tristes assim como os dela, talvez até mais.
  Tudo o que ela queria era correr para abraçá-lo e até mesmo chegou a dar um passo para frente para fazê-lo, mas não continuou porque seu coração apertado não deixou. Doía olhar para ele e doía ainda mais estar longe dele.
  Ela desviou o olhar rapidamente, olhando para os próprios pés sem saber o que pensar e a cabeça agora rodava. Estava difícil respirar, sabia que ele ainda a olhava e estava com medo de ceder.
  Não era orgulhosa, mas estava tão magoada que não queria falar com ele, já tinha tomado sua decisão. precisava de alguém como ele, ela nunca seria boa o bastante.
  Ela respirou fundo e voltou a encará-lo, forçando o maxilar para que as lágrimas não caíssem, o olhava com tristeza e raiva. Tristeza por tudo o que não podiam mais viver e raiva por ainda estar apaixonada por ele.
  Já tinha um olhar desesperançoso.
  Ele apertou a alça da bolsa no ombro e começou a andar para o portão de embarque sem desviar o olhar de , não era aquela a última lembrança que queria ter dela, não queria lembrar dela chorando e magoada com ele. Mas ele tinha causado aquilo então precisava lidar com a situação, mesmo que sentisse como se seu coração estivesse sendo esfaqueado ao ver a cena.
  Só que mesmo longe dela e ao mesmo tempo perto, era daquela figura delicada que estava tirando forças para fazer o que estava fazendo. Era seu primeiro passo em direção a liberdade que queria e precisava ter.
  Não tinha tanto medo da guerra, tinha medo de nunca mais ver .
  Tinha tanta coisa para falar para ela, tanto que se explicar mas aceitava que não merecia perder seu tempo com ele, já tinha feito o bastante.
  A troca de olhares pareceu uma eternidade mas não era o suficiente para dissipar a saudade que ambos sentiam um do outro, se sentindo a pessoa mais fraca do mundo ela apenas viu quando abaixou a cabeça e foi embora, levando consigo parte do coração dela.
  E respirou fundo, se xingando um milhão de vezes de uma coisa que ele sabia que era, covarde.
   sentiu os ombros cederem e negou com a cabeça para tentar, mesmo que inutilmente, esquecer tudo o que havia acontecido naquele dia que tinha acabado de começar.
  Foi a primeira vez que ela perdeu .

[...]

  Atualmente. Departamento de Segurança.
  18:08 PM.

abriu os olhos sentindo uma lágrima solitária escorrer por seu rosto porém com uma certa dificuldade, os olhos ainda molhados doíam, sua cabeça estava pesada e o corpo parecia fraco demais. Ela tentou se sentar, mas uma mão em seu ombro a impediu.
  - Não se levante. - Major falou.
  Ela olhou em volta e reconheceu a sala do seu chefe, estava sentada no sofá pequeno que tinha ali, mas não entendia como tinha ido parar lá.
  A última coisa que se lembrava era ter fechado os olhos com força, pedindo para que fosse levada para longe.
  - O que…? O que aconteceu? - a voz saiu tão fraca e baixa que não sabia se ele tinha entendido.
  Major respirou fundo e a olhou preocupado, com a testa franzida.
  - Você desmaiou - ele explicou e ela forçou o corpo para poder sentar. - Não se esforce.
  Ela ignorou, pareceu mais uma ordem vinda dele do que pedido, ela não queria ficar deitada ali na sala do chefe.
  Não quando ainda não entendia o que tinha acontecido, ou pelo menos não aceitava o que tinha acontecido.
  As imagens da missão da equipe alfa passavam em sua cabeça tão rápido que ela não conseguia organizar as ideias, ia e voltava sem parar como várias abas abertas ao mesmo tempo de um navegador.
   tentou levantar do sofá e cambaleou um pouco, Major prontamente ficou do lado dela para segurá-la, mas ela o afastou, ainda conseguia se manter de pé sozinha mesmo que a cabeça estivesse doendo pelos pensamentos acelerados.
  - Quanto tempo eu apaguei? - sentiu a garganta ceder, forçando para que a voz saísse.
  - Uns 20 minutos.
  Ela concordou com a cabeça com uma enorme dor no peito, levou a mão para afastar o cabelo do rosto e passou a mão na testa, tentando juntar as peças do quebra cabeça.
  - Qual o… o que você vai fazer? - ela perguntou ainda confusa, observando o Major.
  Não sabia quais os procedimentos deveriam ser tomados naquela situação e mesmo incomodada com a presença dele ali, sua ansiedade era maior. Alguma coisa precisava ser feita.
  - As coisas ficaram fora de controle, claramente era uma emboscada. - ele respirou fundo, apoiando as mãos na cintura. - Mandei que a equipe alfa voltasse imediatamente para cá.
   sentiu o coração afundar.
  - Mas… mas e o ? - ela engoliu seco a vontade de chorar.
  Major pareceu pensar demais para responder e aquilo deixou-a aflita, ele se aproximou para apoiar uma mão no ombro dela e simplesmente não sentiu nada, por isso não se afastou.
  - Assim que for possível e seguro, eu irei autorizar as buscas. - ela o olhou esperançosa mas os olhos do Major não traziam nenhum tipo de conforto. - Mas eu preciso te alertar, , a cabana onde entrou foi atingida por um RPG. - Ela desviou o olhar por um segundo. - Mesmo que ele sobrevivesse e estivesse entre os escombros… pode ser tarde demais quando voltarmos.
  Ela voltou a encará-lo e analisou o rosto do Major, ele estava convicto daquilo e parecia bem relutante em dar uma chance a tentar trazer vivo.
  - O que você está querendo dizer? - tentou ser firme embora qualquer um pudesse perceber o pavor em sua voz.
  - Não há chances de ele estar vivo. - respondeu simplesmente em um tom frio e ela olhou para um canto qualquer na sala sentindo um bolo se formar em sua garganta.
  De repente a mão do Major pareceu irradiar uma energia ruim e ela afastou silenciosamente, perdendo o contato.
  Levando a mão até a boca, ela andou até o canto da sala enquanto as lágrimas inundavam seus olhos novamente.
  Aquilo não podia ser verdade.
   tinha prometido que voltaria, assim como todas as outras vezes em que voltou. Ela o conhecia, ele não ia fazer aquilo com ela.
  Tinha que ter uma solução, um jeito, qualquer coisa!
  - Não pode ser. Isso é impossível. - falou para si mesma.
  - Eu vou buscar um calmante para você.
  Ela riu, sem humor.
  - Eu não quero calmante nenhum. - ela virou para encarar o Major. - Eu só quero o !
  Ela falou alto e magoada, manteve os olhos fixos nele e o Major não desviou, encarava-a friamente, mas ela pouco se importava.
  Não estava ali para ter a simpatia ou a pena dele. E ele devia uma resposta decente a ela sobre aquela situação. Era seu noivo que tinha ido para a linha de frente e ele era o responsável pela equipe alfa, mesmo que a presença do Major ali a deixasse com um gosto amargo na boca, precisava ouvir dele o que seria feito, precisava de explicações.
  Uma batida de leve na porta interrompeu a troca de olhares e limpou o rosto enquanto o Major autorizava a entrada, foi quando viu os cabelos claros da amiga que ela se desmanchou em lágrimas, mesmo se esforçando para não chorar mais.
  Lynn simplesmente correu para abraçá-la enquanto o corpo de já fraco cedia ao contato, ela abraçou forte a amiga que soluçava.
  - Eu estou aqui, amiga. - ela acariciou o cabelo de , que enterrava o rosto no ombro da Lynn.
  - Me diz que isso não é verdade, por favor. - ela implorou, tendo a voz abafada pelo abraço.
  - Se acalma, . - Lynn tentava conter as lágrimas, mas estava doendo ver a melhor amiga destruída daquele jeito.
  - Ele não podia ter feito isso comigo. - ela negou com a cabeça e se afastou para encarar a amiga. - Ele não podia!
  - Eu sei. - Lynn enxugou as lágrimas dela e continuou balançando a cabeça, se negando a acreditar.
  - Ele não podia ter me deixado depois de me pedir em casamento na noite anterior. - ela falou, inconformada e Lynn ficou rígida ao sentir os olhos do Major em cima delas. soluçou e ela voltou a abraçá-la, Lynn virou para encarar o Major que estava com o olhar perdido.
  - Major, será que você poderia… - apontou com a cabeça para a porta em um mudo sinal.
  Ele concordou com a cabeça em silêncio e saiu em passos largos, fechando a porta em seguida em um baque surdo.
  - Tudo bem, amiga. Vem, senta aqui.
  Ela puxou a amiga que foi, mais se deixando levar do que propriamente controlando o próprio corpo. Assim que sentaram, se afastou e Lynn segurou as mãos dela.
  - Respira. - tentou ajudar a amiga a se acalmar da forma que podia. - Você quer uma água?
   negou com a cabeça.
  - Isso não pode ser verdade. Não é justo!
  Lynn afagou a mão dela, sem saber o que dizer.
  - Eu sinto muito. - falou sinceramente. - O secretário me disse o que aconteceu.
  - Como você… como você soube?
  Lynn respirou fundo.
  - O Major me ligou quando você desmaiou, eu saí correndo e vim pra cá no mesmo minuto. - ela respirou fundo antes de continuar. - Não me deixaram falar com o Connor mas eu sei que eles estão voltando para casa.
   fechou os olhos, sentindo a cabeça rodar.
  - Isso é um pesadelo.
  Tinha que ser, esperava que a qualquer momento acordaria nos braços do namorado e perceberia que tudo aquilo não passava de um sonho muito ruim.
  - te disse alguma coisa? - Lynn questionou e abriu os olhos, olhando para baixo.
  - Não, você sabe que eles não podem falar sobre o trabalho.
  Lynn suspirou e ficou em silêncio, não tinha o que falar para a melhor amiga. Sequer tinha digerido a notícia.
  Já sabia de todo o plano do pedido de casamento e esperava fofocar com a amiga naquele dia mas agora não conseguia olhar a aliança de compromisso sem sentir um peso no coração.
   sentia a cabeça pesar com a quantidade de pensamentos que não paravam de passar, ela não tinha controle sobre nenhum deles, lembranças, teorias, ideias, tudo ao mesmo tempo que estavam deixando-a aflita por respostas.
  Seu coração ainda não aceitava, tinha alguma coisa nela que dizia que aquilo não era verdade. Ela não podia acreditar que tinha partido até que visse com os próprios olhos, nem que ela mesma fosse buscar o corpo dele.
  Ela piscou algumas vezes ao se dar conta de algo.
  - O Major e o secretário estavam no corredor quando você chegou? - perguntou, limpando o rosto molhado e fungando o nariz, fazendo a amiga franzir a testa.
  - Não, estavam na sala. Estão esperando a comitiva do presidente e o ministro da Defesa, eles irão se reunir para decidir se irão declarar a 4ª emenda.
  Um arrepio percorreu o corpo de ao ouvir. A 4ª emenda era a Lei Marcial, nunca havia sido decretada após o tratado, nem mesmo quando os soldados da reserva tinham sido intimados há anos com as invasões nas fronteiras.
  O estado em que viviam tinha uma autonomia diferente dos demais, por ser a capital de Shalom, mesmo com ministros de segurança e defesa, era com o secretário do departamento que todo o governo sentava para conversar.
  Grande parte dos soldados, armamento e bases ficava naquela região, logo, tornava a capital em um alvo e ao mesmo tempo era muito bem protegido, diferente dos estados mais ao norte que faziam fronteira com o país vizinho.
  Embora o governo federal entrasse em comum acordo com os demais estados, era naquele em que a opinião do governador era mais decisiva. Pois seria dali que toda a força do exército saía.
  Então faria sentido o presidente correr para se reunir com o secretário do departamento de segurança, porque era muito provável que todo o alto escalão do estado também estivesse na mesma reunião.
  - Quem te disse isso? - perguntou, preocupada.
  - Secretárias falam pelos cotovelos, sabia? - Lynn respondeu e concordou, imaginava que tinha sido a secretária do Major, considerando o que ela havia feito mais cedo por .
   estava confusa, mas tinha sede por respostas, por isso levantou-se do sofá e foi em direção a mesa do secretário.
  - , aonde você vai? - escutou a amiga perguntar atrás mas não respondeu, sentando na cadeira.
  Lynn levantou também e foi até a mesa, ficando de frente para que mexia o mouse.
  - O que foi? - Lynn perguntou, curiosa. - O que você vai fazer?
   olhou para a porta com um certo receio, e acessou a máquina informando o login e senha do secretário.
  - Eu tenho acesso ao login do secretário no sistema. - informou, atentando-se a tela do computador para procurar o que queria.
  - E isso significa o que exatamente?
   respirou fundo, sentindo a adrenalina percorrer seu corpo e bombear o sangue mais rápido por suas veias. Era loucura. mas precisava fazer aquilo.
- Que eu tenho acesso a informações das missões que ele autoriza junto ao exército. - olhou para a amiga que estreitou os olhos, desconfiada.
  - Você não vai fazer o que eu penso que você vai fazer. - ela falou, desacreditada mas apenas deu de ombros, já tinha entrado no sistema de qualquer forma. - Você é doida?!
  - Se o exército não for buscar o , então eu vou. - falou convicta e Lynn riu, incrédula.
  - Você bateu a cabeça quando desmaiou?
  Talvez, mas alguém precisava trazê-lo de volta para casa e era teimosa o suficiente para fazer aquilo por conta própria.
   ficou em silêncio, procurando a missão e não sabia como tinha sido nomeada, então foi pela data, abrindo o arquivo criptografado com um certo medo, as mãos tremiam assim como as pálpebras mas ela não parou.
  Ela era proibida de abrir ou ler qualquer daqueles arquivos, mas não importava suas permissões agora, precisava saber o que ninguém iria lhe contar.
  Queria entender o que tinha acontecido com o noivo, queria saber onde ele estava. Sabia do perigo das missões dele, mas tudo o que tinha visto e ouvido era muito diferente do pouco que sabia.
  Começou a ler o arquivo confidencial, tinha informações cruciais como por exemplo, como seria e o porquê.
  - , você tá me deixando nervosa. - Lynn falou, sentando-se na cadeira, depois de um longo tempo em silêncio observando a amiga correr os olhos pela tela.
  - Eu sempre achei que a equipe alfa fazia apenas missões de paz e resgate. - olhou para a amiga. - E não missões de captura.
  - Quê?
  - Essa era uma missão para capturar o líder de uma célula terrorista, lembra daquele ataque no Parque das Flores em outubro há 5 anos?
  - Sim, que explodiram um caminhão que levava combustível no feriado do dia das crianças.
   concordou com a cabeça. Tinha sido um dos piores ataques da história, inúmeras crianças mortas e mais centenas de feridos, embora um memorial tivesse sido erguido pelas vítimas pouco se sabia sobre o ataque.
  - Lorenzo Duarte era o alvo. Ele estava se escondendo em Spero e era fortemente ativo nos ataques daqui.
  - Incluindo do Parque. - Lynn adivinhou.
  - Uhum. - apoiou a mão no queixo, lendo atentamente o arquivo. - Estavam estudando ele há pelo menos uns 8 anos.
  Ela então se lembrou do dia da invasão e de quando se tornou refém de Vincent e olhou para Lynn.
  - Espera, então Vincent não era o líder terrorista? - perguntou mesmo sabendo que Lynn não sabia a resposta tanto quanto ela.
  - Não foi isso que a imprensa tinha estampado nos jornais durante todo aquele mês? - Lynn franziu a testa, sem entender.
  Para os leigos civis de Shalom, tudo o que sabiam era o que a mídia havia contado após a morte de Vincent na invasão; que ele era o principal líder do grupo terrorista que estava há tempos atacando o país e invadindo a fronteira, assassinando inocentes e fazendo barbáries por onde passava.
   estava ainda mais confusa e muito mais perdida, agora duvidava de tudo o que havia sido exposto sobre as sequelas da invasão.
  Tudo era mentira então.
  Vincent não era o líder, ele era a marionete.
   não tinha dito que ele iria para Spero, para ela era apenas uma viagem para o norte em um outro estado dentro de Shalom, e ela não sabia o que fazer com aquela informação ou o que pensar.
  O quão ruim as coisas estavam para que o exército invadisse Spero em busca de um terrorista?
  Engolindo seco e sem querer abusar da sorte, ela deslogou do sistema e fechou a aba, colocando o computador para hibernar e levantou da cadeira, levou uma mão na cintura e a outra no rosto.
  Então era por isso que não havia dito como tinham terminado as investigações do ataque, porque elas nunca tinham acabado verdadeiramente. Ele sempre era muito raso com o assunto e foi um dos motivos para ela não questionar mais o amado depois de um tempo, primeiro porque ele não dava uma resposta específica e segundo, queria esquecer aquele dia.
  - Ah-ah. - voltou a atenção a Lynn, que levantava da cadeira. - Eu conheço essa cara.
   respirou fundo, desviando o olhar.
  - Nem termine.
  - E você nem começa. - Lynn falou, se aproximando da amiga. - Você não vai pensar em se meter nessa história. - olhou para a amiga, convencida do que queria. - É perigoso demais, .
  Ela sorriu triste, os olhos marejando novamente.
  - E o que eu tenho a perder? Eu já perdi o . - ela deu de ombros, fazendo Lynn se calar.
  - Nós não temos certeza de nada ainda.
   assentiu. Era verdade.
  - A única certeza que eu tenho é que alguém está mentindo.

[...]

   via tudo passar como um borrão bem na frente de seus olhos, fazia dois dias que não dormia direito. Depois que a adrenalina baixou e ela voltou para casa com Lynn, foi onde se deu conta de tudo o que havia acontecido.
  Chorou a noite toda, se sentindo indefesa e abandonada, agarrou o colar que havia dado com força e fez inúmeros pedidos, mesmo sabendo que nenhum deles seria possível se tornar realidade no momento. Os pais e a melhor amiga tentaram consolá-la da forma que acharam melhor mas estava desolada, nada do que dissessem faria diferença, por isso apenas ficaram ali do lado dela.
  Não importava quantos casacos colocasse naquele dia frio, ela ainda sentiria o mesmo frio na espinha, não dava para controlar.
  Major tinha prometido que ligaria para ela assim que tivesse alguma novidade, embora Lynn tivesse garantido que Connor o faria primeiro, isso fez com que mordesse praticamente todas as unhas e cutículas dos dedos das mãos enquanto esperava.
  Ela ainda tinha esperança, um fio bem frágil e fino mas ainda estava ali, se agarrando aquilo.
   estalava os dedos enquanto caminhava de um lado para o outro na sala de casa, contava os segundos em sua cabeça e nem ao menos piscava, estava mais exausta do que de costume, sentia um sono que não era dela mas imaginava que tudo aquilo fosse por causa do estresse mental que estava passando e mesmo que deitasse na cama, não conseguiria dormir.
  Era madrugada e ela já não tinha como produzir mais lágrimas, nem sabia se elas conseguiriam sair dos olhos vermelhos.
  Estava difícil até de respirar pelo nariz entupido.
  - Filha, você vai abrir um buraco no chão desse jeito. - Alexander falou, chamando a atenção de que tentou sorrir mas saiu mais uma careta.
  - Eu não consigo parar. - explicou, sentindo os pares de olhos lhe encarando.
  A mãe estava preocupada mas se mantinha em silêncio, Lynn desbloqueava a tela do celular a cada 5 minutos esperando uma notificação do marido, e o pai embora estivesse sentindo a aflição da filha tentava se manter forte por ela.
  - O Connor acabou de chegar. - Lynn anunciou depois de ver o celular e antes mesmo que terminasse a frase, saiu correndo para a porta, sendo acompanhada pela melhor amiga.
  Ela abriu a porta esperançosa, não sabia o que aguardava, mas queria ter boas notícias para acalmar seu coração que agora batia mais rápido do que uma hélice de helicóptero.
  Com um sorriso amarelo, ela observou Connor parado na frente da porta, ele mantinha o rosto sério e um olhar indecifrável, mas pareceu surpreso ao ver na sua frente com o olhar tão pidão.
  Lynn conseguiu ler a expressão do marido antes de e o encarou como quem não acreditava. Connor uniu os lábios em uma linha fina e negou com a cabeça, ainda sem querer entender deu dois passos para trás enquanto Connor estendia as mãos para ela.
  Ela observou o colar de identificação que estava na palma dele e sentiu o coração afundar. Os olhos encheram de lágrimas após ler o nome de na corrente.
  - Não! - não conseguiu conter o grito que pareceu sair do fundo de sua alma, sequer conseguia falar alguma coisa além daquela palavra. - Não!
   abraçou o próprio corpo e sem forças nas pernas, o corpo a fez cair, sentando no chão desolada enquanto as pessoas a sua volta corriam para tentar segura-la.
  - Não, não, não! - ela repetia sem parar, abraçando as próprias pernas.
  Ela chorava como um bebê que tinha acabado de vir ao mundo, tentava se afundar em seu próprio aperto vazio enquanto o coração parecia ter sido destroçado por um tanque.
  Tudo a sua volta não parecia existir, tudo parecia um grande e terrível pesadelo, um no qual ela sequer conseguia reagir. Não parecia real para ela.
  - Levanta do chão, filha. - ouviu a voz da mãe soar bem distante, estava absorta demais na notícia.
   negou com a cabeça, nem forças para falar tinha, sentiu mãos em volta de seu braço e ela levantou a cabeça, encarando o pai.
  - Vem, pequena, senta no sofá. - ele implorou e relutou porque estava sem forças na perna.
  Mas as mãos das pessoas a sua volta a ajudaram a se manter de pé enquanto soluçava, o pai a fez sentar no sofá onde ela se jogou, chorando e segurando firme o colar do noivo. Tinha a sensação de que se soltasse, estaria largando-o também.
  - Respira, . - Lynn falou, afagando o ombro da amiga.
  Os pais de sentaram ao lado dela e Connor se aproximou da esposa. Ninguém ali sabia como consolar porque não existia palavras que pudessem diminuir a dor que sentia.
   ficou ali sentada, agarrada ao colar do noivo com o olhar perdido enquanto as horas passavam, os celulares tocavam sem parar com a notícia.
  Tudo o que passava em sua cabeça era , o rosto dele, os beijos dele, as promessas que tinha feito a ela.
  Todo o futuro que tinha perdido, que sonhara em ter com ele agora não passava disso, apenas sonhos que nunca se tornariam realidade.
  Tinha perdido mais uma vez.

[...]

  Há 7 meses. Hospital Geral.
  Às 7:30 AM. Quarto 167.

  - Por que você está me olhando desse jeito? - ele perguntou baixo, a garganta ainda seca e ele estava visivelmente com sono.
  Também pudera, tinha praticamente acabado de acordar do coma.
   encarava com um sorriso contido no rosto, as mãos juntas nunca pareceram tão certas.
  - Parece tudo um sonho. - admitiu, como a boba apaixonada que se sentia naquele momento.
  Não que fosse conseguir parar de agir daquele jeito, afinal, tinha acabado de confessar que enfrentaria os pais para ficar com ela.
  - Deixou de ser um sonho. - ele levou a mão dela até a boca, onde depositou um beijo de leve. - É real, . Eu estou aqui com você e nunca mais vou embora.
  Ela sentiu os olhos marejarem.
  - Você me assustou, sabia? - confessou, desviando os olhos. - Quando eu vi você caindo, sangrando… - deixou a frase morrer, a voz fraca não conseguia colocar para fora toda a adrenalina daquele momento.
  - Ei. - ele chamou a atenção dela, que mordeu o lábio para não chorar. - Já passou, tá bom? Você está segura agora e eu estou bem.
  - Você me promete que eu nunca mais vou te ver naquela situação de novo? - abriu a boca para responder. - Eu não quero te ver levando nenhum tiro, .
  Ele respirou fundo, como dizer não àqueles olhos?
  - Eu prometo.
   concordou com a cabeça.
  Era o suficiente a palavra dele, não queria passar por aquela situação nunca mais em sua vida.
  Ainda sentia o sangue quente de em suas mãos, mesmo que tivesse lavado qualquer resquício.
  E graças a Cristina , sentia uma certa culpa.
  - O que foi, ? - ele perguntou depois de analisá-la.
   quase contou a forma como a mãe dele a tratou na sala de espera do hospital, mas ponderou. Ele estava na cama do hospital e tinha acabado de recobrar a consciência.
  Não era o melhor momento.
  - É só… - ela deu de ombros, sem saber o que dizer.
  - Não sabe o que pensar. - ele concluiu e ela sorriu de leve. De uma forma ou de outra, ele tinha entendido.
  - É. - admitiu, tímida e ele riu baixo.
  - Vem cá. - ele pediu e ela se aproximou.
   levou a mão até o rosto dela e fez uma leve pressão para que ela se aproximasse mais, ela o fez e encostou as testas se desviar o olhar, ele então acariciou a pele dela e o dedo desceu até o lábio dela.
  O dedão fez todo o contorno da boca de , que apenas o encarava hipnotizada e nem se deu conta quando prendeu a respiração, vencendo o espaço que ainda os separavam ela o beijou.
   levou a mão até a nuca dela, fazendo-a se arrepiar por completo enquanto os lábios se moldavam perfeitamente.
  Não tinham pressa nenhuma, precisavam aproveitar todo o tempo que tinham e assim o fizeram.
   levou a mão até o peito de e ambos escutaram uma batida na porta, fazendo-os interromper o beijo abruptamente.
  Ela levou a mão até a própria boca, abafando a risada tímida enquanto ele sorria largamente.
  - Pode entrar! - ela falou alto, levantando-se da cama para se posicionar ao lado, tentando não parecer tão suspeita.
  A enfermeira e o médico entraram juntos, sorrindo cordialmente.
  - , como se sente? - o médico perguntou assim que se aproximou da cama.
  - Pronto para ir para casa. - respondeu simplesmente, fazendo todo mundo no quarto rir.
  - Tenha um pouco mais de paciência, faremos alguns exames antes de assinar a sua alta. - explicou. - Você perdeu muito sangue e embora a cirurgia tenha sido um sucesso, conseguimos tirar os projéteis do seu corpo, é preciso ter certeza que não ficou nenhuma sequela.
   concordou, a contra gosto.
  - E quanto tempo isso vai levar?
   colocou a mão no ombro dele.
  - O tempo que precisar, não é doutor?
  O médico riu discretamente ao ver em silêncio.
  - Vejo que você tem alguém que irá ajudar na recuperação.
   sorriu.
  - Na verdade, ela é o motivo da minha recuperação.
   sentiu as bochechas queimarem de vergonha e precisou morder o lábio para conter o largo sorriso que ameaçava escapar.
  Ainda não acreditava que tudo aquilo estava mesmo acontecendo, era bom demais.
  - A propósito, você tem mais visitas.
   encarou que espelhou a reação.
  - Tej também veio. - ela explicou e acariciou a mão dela que estava apoiada em seu ombro.
  - Eu queria falar com ele.
   franziu a testa. Ele não falaria com os pais?
  - Vamos preparar a sala do raio x. - o médico avisou a enfermeira e os dois saíram rapidamente.
  - É, . - se afastou para ficar de frente a ele. - Você ouviu quando eu disse que seus pais estão aqui, certo?
  Ele concordou com a cabeça.
  - Sim. - respondeu simplesmente e recebeu o olhar confuso de . - Só que eu não vou falar com eles aqui no hospital.
  Ela assentiu devagar, imaginava que ele tinha seus motivos.
  - Eu vou chamar ele então. - avisou, apontando para a porta.
  - Mas você volta, né? - pediu e ela deu de ombros.
  - Só se você quiser.
  - Eu não quero que você saia daqui. - confessou, fazendo-a rir de leve.
  Sem dizer mais nada, saiu do quarto e foi para a sala de espera respirando fundo várias vezes e focou em achar Tej, o que não era uma tarefa tão difícil.
  - Ele quer falar com você. - avisou e Tej que estava de pé com os braços cruzados concordou.
   não queria ser mal educada e muito menos passar a impressão errada aos pais de , não que fosse adiantar qualquer coisa que ela falasse ou fizesse, mas não conseguia encarar o rosto de Cristina, a mulher parecia que jogava lanças afiadas só com os olhos duros em cima de .
  Foi por isso que andou na frente de Tej, refazendo o caminho do quarto de , sem falar absolutamente nada com os .
  Ela juntou as mãos suadas involuntariamente e Tej percebeu a ansiedade dela, é claro, mas não disse nada. Até ele parecia incomodado com a presença dos dois.
  Ela entrou no quarto primeiro, segurando a porta para que Tej entrasse e fechou a mesma quando ele já estava dentro do cômodo.
  - Você tá horrível. - constatou o amigo, assim que se aproximou da cama. - Quer dizer, você é horrível, né cara.
  - Cala a boca. - rolou os olhos, rindo.
   ficou perto da porta e cruzou as mãos atrás do corpo, observando a cena de longe para tentar dar privacidade aos dois.
  - Eu ia elogiar o seu tiro, mas pelo jeito você não tá merecendo.
  - Quem foi que te tirou da maior enrascada de novo? Eu!
  - Você tá se achando. - reclamou e olhou para . - Amor, vem cá.
  Ela não conseguiu esconder a cara de surpresa, principalmente por ouvir aquela palavra, era como música aos ouvidos dela.
   abaixou a cabeça e se aproximou de e ficou ao lado da cama, perto dele.
  - Como eu te conheço e sei que você não me chamou pra ver o meu rostinho lindo, desembucha. - Tej falou, cruzando os braços.
  - Eu preciso que você entregue um recado aos meus pais. - falou firme, sentindo os olhos de ambos sobre si. estava confusa e Tej aguardava. - Diz que eu vou conversar com eles logo que eu receber alta, na mansão.
  - Tá querendo dispensar os velhos, né?
  Ele respirou fundo. Parecia uma coisa horrível para se fazer depois de ter ficado em coma, mas precisava fazer aquilo. Não dava pra conversar com eles ali e agora.
  - Você sabe que eles ficaram preocupados, você não deu notícias desde o seu alistamento.
   encarou o amigo enquanto revezava o olhar entre os dois rapazes.
   não tinha escrito aos pais como Joe havia feito?
  - E de repente eu significo alguma coisa só porque levei um tiro? - questionou e Tej ficou em silêncio.
  Aquela relação era complicada demais para alguém entender ou julgar.
  - Você é o capitão. - Tej levantou as mãos, se dando por vencido. - Precisa de mais alguma coisa? Uma coca? Um cachorro-quente? Uma massagem?
   e riram em uníssono.
  - Eu dispenso a massagem. - ele respondeu, fazendo uma careta de nojo.
  - O cachorro-quente também. - falou. - Ou você acha que vai poder comer porcaria assim tão rápido?
  Tej apontou para como se dissesse que ela tinha razão.
  - Na verdade, a massagem eu pensei na fazer em você então. - Tej deu de ombros e colocou a palma da mão no rosto, negando com a cabeça enquanto ria sem graça.
  - Sai daqui. - pediu, soando ligeiramente envergonhado.
  - Nos vemos logo, capitão. - Tej bateu continência de forma engraçada e se aproximou para apertar a mão do amigo que ria.
  Antes de sair do quarto, ele deu um abraço rápido em que o observou ir embora.
  Não iria mentir, estava curiosa para saber porque não falaria com os pais de imediato, mas estava envergonhada demais em perguntar.
  Não queria parecer invasiva.
  - .
  Ela virou a cabeça para encará-lo.
  - Sim?
  - Eu queria te pedir uma coisa.
  Ela levantou as sobrancelhas e se acomodou ao lado dele na cama.
  - Pode falar, o que você quiser.
  - Você vem pra casa comigo quando eu receber alta?
  - É claro! - respondeu prontamente. - Você vai precisar de ajuda com isso aí! - apontou com a cabeça para a tipoia que ele estava usando no lado que foi atingido pelos tiros.
  - Obrigado, eu sei que estou te pedindo muito…
  - Shhh, não! - ela o interrompeu, sorrindo de leve. - Não tem outro lugar que eu queira estar se não for do seu lado. Eu só preciso avisar os meus pais.
   engoliu seco.
  - O que você contou pra eles? - perguntou, curioso.
   deu de ombros.
  - Bom, toda a verdade. - confessou. - Seria muito difícil mentir sobre isso. - apontou para o próprio rosto que estava machucado, graças ao tapa que havia levado sua testa estava roxa e seu lábio com um corte vermelho escuro.
   fez uma careta de dor, odiava ver aqueles machucados nela e imaginar a cena de Vincent batendo nela. Mesmo que o desgraçado tivesse ido parar no saco preto, ainda era pouco por ter levantado a mão para ela.
  - É verdade, eu queria poder ter a mesma sorte. - torceu o lábio e acariciou o braço dele suavemente.
  - Eu sei que é um tópico sensível entre a gente. - ele franziu a testa. - A sua família. Não precisa se sentir na obrigação de me explicar nada, eu não vou te condenar.
   sorriu e continuou olhando para , sentindo o coração aquecer, por isso colocou a palma em cima da mão dela.
  - Pra ser sincero, eu quero falar sobre isso com você. - admitiu e o encarou surpresa. - Eu acho que já deixei você às cegas demais sobre isso.
  - Eu entendo os seus motivos.
  - Eu sei e eu te amo por isso! - sorriu involuntariamente. - Tem muita coisa que eu quero falar pra eles, coisas que eu só entendi depois que me alistei, mas eu preciso estabelecer esse limite, . Ou então eles vão infernizar a minha vida.
   respirou fundo, queria contar toda sua vida para ela ali mesmo, como sua relação com os pais era péssima e que iria se impor, não seria mais aquele garotinho controlado pelos pais.
  Tinha perdido a capacidade de ser um robô. O exército o tinha mostrado que precisava tomar as rédeas de sua vida.
  E bem, se a família o obrigasse a escolher entre eles e , estava pronto para escolher o amor de sua vida mais uma vez. Agora mais do que nunca tinha certeza de sua escolha.
  Era . Sempre foi.
  Mas, o seu monólogo foi interrompido por uma batida na porta, a enfermeira estava pronta para levar para fazer os exames necessários para que ele pudesse finalmente ir para casa.
  Ele e tinham tanto que conversar, aquele era apenas o começo.

[...]

  Atualmente. Casa da família .
  08:37 AM.

  O restante da equipe alfa chegou na casa de logo no começo da manhã, devidamente com suas parceiras que tentaram trazer algum tipo de conforto para a nova amiga, mesmo sabendo que se estivessem no lugar dela estariam da mesma forma.
  Ou até pior, considerando que não tinha se levantado do sofá para nada. Estava parada ali como uma estátua.
  - Connor. - falou baixo, a voz ardendo a garganta seca. - A mãe do ?
  Ele respirou fundo.
  - Ela já está sabendo.
   assentiu em silêncio, tendo o ombro afagado pela mãe.
  - Filha, toma um chá pelo menos.
  - Eu não estou com vontade. - deu de ombros, sentindo a cabeça pesada.
  A mãe suspirou.
  Naquele dia o exército faria a cerimônia fúnebre de , mesmo sem vestígios do corpo, ele teria toda a honraria destinada a sua patente.
  A notícia espalhou rápido e havia sido um choque para todo mundo, mesmo que aquele fosse um risco corriqueiro que tivesse diariamente, ninguém jamais imaginava que de fato fosse acontecer.
   tomou banho e se vestiu com a ajuda da mãe, completamente atônita a tudo o que acontecia ao seu redor. Estava anestesiada da dor que sentia, estava com forças apenas para se manter agarrada ao colar de que ainda estava na mão.
  Se sentia tão estranha.
  No caminho, observou as ruas e as pessoas que seguiam sua vida normalmente, como se aquele fosse apenas um dia como os outros.
  O trânsito continuava, as pessoas caminhavam, o sol nascia e as nuvens se desfaziam.
  O mundo girava como todos os outros dias, menos para ela.
  Os olhos secos a obrigavam a piscar com mais frequência, mesmo que não conseguisse mais derramar nenhuma lágrima, não sentia o controle de seu corpo e tudo o que fez foi se deixar ser conduzida até o local da cerimônia.
  Não se atentou às pessoas que estavam ali, todas elas estavam desfocadas o bastante para que sequer reconhecesse os rostos. Embora tivesse plena noção que todos falavam o quanto sentiam muito, ela não conseguiu desviar a atenção as condolências que lhe era destinada.
  Ela sentiu a mão do pai que estava em seu ombro a apertar um pouco mais quando uma figura imponente se colocou à sua frente.
  - É muita cara de pau sua aparecer agora. - ouviu a dura e fina voz cuspir as palavras mas nem ao menos tinha vontade de encará-la. - Está satisfeita agora, sua suburbana?!
   respirou fundo e levantou o olhar para encarar o rosto frio de Cristina. A mulher, mesmo com os olhos inchados e vermelhos, mantinha a pose de arrogante, o nariz mais empinado do que a própria torre Eiffel.
  - Escuta, senhora , acho bom tomar cuidado com a sua língua. - Sandra falou baixo, dando um passo para frente de forma protetora.
  Cristina a analisou de cima a baixo com o canto da boca para cima, a típica expressão de superioridade.
  - Meu filho está morto por causa da sua filha. Se eu sequer tive a oportunidade de me despedir dele, ela é a responsável, sempre agarrada no pescoço dele como uma pulga.
  - Você vai ver quem é pulga se continuar insultando a minha filha!
  - Eu tenho autoridade de mãe para fazer isso.
  - Eu também tenho em defender a minha filha.
   fechou os olhos por alguns segundos, tentando recobrar as forças para pelo menos sair dali sem nem ao menos responder.
  Queria xingá-la e muito, nunca tinha sentido raiva de alguém até conhecer a ex-futura sogra, mas aquele não era o momento e nem o lugar adequado para ser humilhada.
  E nem era como se tivesse cabeça para ouvir a voz de Cristina atacando-a gratuitamente.
  Porém, seu corpo estava paralisado assim como seu raciocínio.
  Sentia raiva, mas não reagia. Não conseguia.
  - Você não respeita nem a memória do seu próprio filho. - Alexander acusou. - Que vergonha!
  - Eu devia expulsar vocês todos daqui nesse exato momento!
  Os pais de a olharam ofendidos e ela apenas levantou a mão para que eles parassem onde estavam antes mesmo de darem um passo em direção a Cristina.
  - Com licença, senhorita .
  A breve discussão foi interrompida por Tej, todos o olharam imediatamente.
  - Nosso capitão nos deu ordens expressas para que você estendesse a bandeira. - ele explicou, esticando a bandeira dobrada para .
  Ela o encarou confusa e seus olhos desceram para as mãos dele, segurando a bandeira e o símbolo da patente de para ela.
  Quando foi no funeral do Simpson, tinha visto que essa parte da cerimônia era feita pelos militares de forma muito sincronizada, geralmente por dois soldados.
  Ela sabia que era protocolo da instituição.
  Mas queria que ela o fizesse. Ela engoliu seco, segurando as lágrimas e encarou Tej sem saber o que dizer.
  - Não faremos as honrarias sem que a senhorita estenda a bandeira.
   piscou algumas vezes, as engrenagens de sua cabeça funcionando cada vez mais devagar, e quando finalmente entendeu sentiu o coração pular pela boca ao se lembrar das palavras de há tempos atrás.
  "Eu não quero que eles te olhem da forma que eu sei que vão, , eu não vou embora desse mundo e deixar você sofrer nas mãos dos meus pais."
   finalmente tinha enfrentado seus pais da forma como ela nunca tinha imaginado que ele fosse fazer.
  No final das contas, ela tinha esperado por ele. E ele lutado por ela.
  Ela concordou com a cabeça, recebeu o apoio dos pais que afagaram suas costas e ombros antes de sair dali segurando a bandeira.
  Quando a música fúnebre começou a tocar, colocou o símbolo da patente em cima do caixão e estendeu a bandeira da melhor forma que conseguiu sem deixar tão torta, travando o maxilar para não chorar.
  Respirou fundo e deu dois passos para trás, olhando para o caixão tão vazio como ela se sentia naquele momento, era como se toda a vida tivesse sido arrancada de si.
  Nem mesmo os 3 tiros que os soldados deram em homenagem a foram o bastante para fazê-la voltar a órbita.
  Passou tão rápido como um piscar de olhos, era como se estivesse pulando um vídeo que assistia.
  Connor tinha socado o símbolo para que ficasse grudado no caixão enquanto olhava tudo em silêncio, levando uma mão abaixo do peito, em seu coração.
  Mesmo não estando ali, ainda fazia tudo por ela. Então aquele tinha sido o último gesto de amor dele.
   chorou em silêncio, as lágrimas escorriam por seu rosto e se perdia em seu pescoço.
   tinha dado tudo por ela e agora estava longe demais. Longe demais para que ela pudesse alcançá-lo.
   tinha acabado de ser enterrado ou pelo menos tudo o que ele representava.

[...]

  Entrava no apartamento sem muita vontade, nem ao menos acendeu as luzes assim que passou pela porta, tirando a blusa com capuz e a máscara preta do rosto.
  Não foi surpreendente ver a figura familiar de pé com os braços cruzados.
  Riu discretamente enquanto fechava a porta.
  - Onde você estava?
  - Você sabe onde. - respondeu simplesmente, jogando-se no sofá.
  - Você é maluco? - rolou os olhos, encarando a pessoa. - E se alguém te reconhecesse?
  - Não se preocupe, eu tenho meus métodos. - explicou tranquilamente, vendo a pessoa respirar fundo. - Ninguém me viu. - levantou a sobrancelha. - Você deveria saber disso melhor do que ninguém.
  - E eu sei, mas… me disseram que isso não era para se tornar pessoal, lembra? Foi o que o…
  - Ah dá um tempo, M. - levantou do sofá, irritado. - Você e eu sabemos que isso se tornou pessoal no momento em que te achamos. - apontou para a figura, que se calou. - Isso é tão pessoal para você, quanto para mim. Foi a sua família que começou tudo isso.
  - Não diga essa palavra de novo! - rangeu os dentes. - Eu não tenho família.
  - Não, M. - se aproximou. - Arrancaram-na de você e é por isso que você está aqui.
  M o encarou firme, se recusava a chorar.
  - Você vai ter que terminar o que começaram por você a anos atrás. - levantou os braços. - Lide com isso.
  - Eu não sabia que você era tão frio assim.
  - Eu não era, até cruzar com o caminho dele. - falou com ódio e M compartilhou da mesma dor, a mesma coisa tinha acontecido quando ainda era uma criança. - Você sabe o que nós estamos fazendo aqui.
  Respirou fundo antes de apoiar a mão no ombro de M.
  - Esse funeral não foi o último.

[...]

estava esgotada.
  Além de fisicamente e mentalmente, estava esgotada de repetir 'Eu estou bem' todos os dias após o funeral.
  Ela não estava bem e todo mundo sabia disso.
  Os cinco dias de luto que havia recebido do trabalho já tinham chegado ao fim, e até tinha cogitado largar o emprego - principalmente pela carga emocional que o ambiente tinha -, só que sua dor estava longe de acabar.
  Na verdade, sabia que tinha apenas começado.
  Ela sentia falta do noivo, a ficha ainda não tinha caído. Todos os dias olhava para a janela ou a porta esperando aparecer, dizer que tudo não passava de um grande e complexo mal entendido.
  Ela até aceitaria a falta de explicação dele se soubesse que ele voltaria um dia.
  Não tinha passado nem pelo primeiro estágio do luto, porque não aceitava que aquilo tinha acontecido.
  Falar sobre aquilo com qualquer um era uma tarefa impossível, ela não queria versões de uma história que ela tinha visto com seus próprios olhos. A tag de identificação que Connor havia trazido estava pendurada na cabeceira de e balançava conforme ela passava os dedos, suja de areia e sangue, aquela era a única coisa que havia sobrado do noivo e também a resposta de algo que ela não se conformava.
  Não estava dormindo direito e quando conseguia dormir por causa do extremo cansaço, sonhava com ele.
  Às vezes pensava que eram sinais de que ainda estava vivo, que ele vinha visitá-la em seu sono. Até acordar de madrugada, chorando e gritando no imenso vazio e escuridão de seu quarto.
  Seu quarto cheirava a , seu corpo ainda se lembrava dos toques dele, quando fechava os olhos era o rosto dele que via.
  Mesmo não tendo a presença dele, tudo o que sentia era ele. Parecia até mais forte do que antes.
  Desbloqueou o celular mais uma vez, encarando a foto deles de plano de fundo, queria sorrir com a lembrança daquele dia registrado em várias fotos, mas não conseguiu porque esperava uma notificação que pudesse mudar a sua vida. Uma na qual não veio.
   tinha plena consciência que estava se torturando e se iludindo, mas era muito mais forte do que ela. Porque sentia que alguma coisa iria acontecer e muito em breve, algo que pudesse lhe dar uma direção.
  Bufou quando ouviu a campainha tocar, estava irritada com aquele som estridente que tinha se tornado um hábito nos últimos dias.
  Parentes, amigos, vizinhos… todos vinham prestar condolências e ver a pobre situação que estava.
  Deitada no quarto escuro, porque morria de dor de cabeça por continuar chorando e uma enorme tontura toda vez que tentava levantar da cama, vivendo um verdadeiro caos que nem tinha força para lutar contra.
  Ouviu batidas na porta de seu quarto e falou um entra tão baixo que não teve certeza se a pessoa do outro lado ouviu mas a porta foi aberta e virou-se para encarar quem quer que fosse.
  Não se surpreendeu ao ver a melhor amiga entrar sem dizer uma palavra, os olhos temerosos e atentos fixados em deitada na cama agarrada ao travesseiro.
  - Oi, amiga.
  - Oi.
  Lynn se aproximou da cama.
  - Como você está?
  - Bem. - respondeu baixo e automaticamente, fazendo Lynn bufar.
  Mais um dia que ela estava ali e mais um que continuava do mesmo jeito, foi por isso que andou em direção à janela do quarto e abriu as cortinas, deixando que a luz do dia ensolarado entrasse no quarto de , fazendo os olhos dela arderem.
  - Droga, Lynn. Fecha essa cortina. - implorou, levando as mãos até os olhos para tapar a luminosidade que ardia e a fazia lacrimejar.
  - Levanta dessa cama, . - mandou e a amiga reclamou com uma palavra desconexa.
  - Fecha isso. - pediu, colocando as pernas para fora da cama, depois de ver que Lynn cruzava os braços. - É sério, meus olhos estão doendo.
   levantou da cama, mas não deu dois passos e o mundo à sua volta pareceu girar, fazendo-a tropeçar nos próprios pés.
  Ela fechou os olhos para recobrar o senso de direção e respirou fundo enquanto Lynn corria para ajudá-la a se manter de pé.
  - Meu Deus, . Você está fraca. - constatou, encarando a amiga que de repente perdeu a cor nos lábios. - Quando foi a última vez que você comeu?
   não estava tendo uma boa relação com a comida como antes, porque simplesmente enjoava com tudo o que tinha um cheiro mais forte, e às vezes quando exagerava demais e comia tudo o que via pela frente acabava vomitando. A água até parava no estômago, mas logo era transformada em lágrima.
  - Faz cinco minutos. - respondeu baixo, abrindo os olhos para ver se o mundo parava de rodar.
  - Mentirosa. - acusou. - Eu liguei pra sua mãe e ela me disse que você não está comendo direito já tem dois dias.
  - Está me dando ânsia. - explicou, fazendo o esforço para sentar na cama.
  Porém, Lynn não deixou.
  - Eu sei, é por isso que vim. - franziu a testa, confusa. - Eu vou te dar duas opções, ou você vai para o hospital…
   riu, desacreditada.
  - Que hospital o quê. - interrompeu, rolando os olhos. - Eu não vou para o hospital.
  - Ótimo. - Lynn sorriu irônica e então abriu a bolsa que carregava e tirou uma caixa rosa, entendendo para . - Então você vai fazer isso.
   desviou os olhos para a caixa que a amiga estendia e seu sangue congelou ao ler a embalagem.
  - O que é isso? - era uma pergunta retórica porque tinha a resposta bem ali, nas mãos de Lynn.
  - Um teste de gravidez.
   negou com a cabeça e olhou a amiga que agora cruzava os braços.
  - Você não tá achando…
  - Enjoo, vômito, muito sono, fome excessiva… - Lynn começou a enumerar os sintomas de que a encarava perplexa. - Aliás, quando foi a sua última menstruação?
   ficou em silêncio tentando fazer as contas, mas não conseguia se lembrar; após a invasão sua menstruação tinha atrasado por questões emocionais, mas depois tinha voltado a acontecer naturalmente, como a psicóloga havia dito que aconteceria, porém agora não se lembrava quando começou a desandar novamente.
  Não era possível que aquilo fosse…
  - Isso é impossível. - tentou se convencer, levando a mão até a testa.
  - Você e se preveniram?
   parou onde estava, nem ao menos piscava com a resposta automática de sua própria consciência.
  Olhou para Lynn, que a encarava preocupada, e então negou com a cabeça sem forças para responder.
  Nem sabia se teria voz para aquilo.
  Lynn respirou fundo e pegou a mão da amiga, colocando o teste na mão dela, segurou com medo.
  - Eu vou estar aqui do seu lado, não importa o que aconteça. - garantiu e engoliu seco, concordando com a cabeça.
  Não queria lutar contra a rápida esperança que tinha se instalado em seu peito, se aquilo fosse mesmo verdade, significava muito mais do que qualquer um imaginava.
  Ao mesmo tempo tinha medo de aquilo fosse apenas uma ilusão.
  Lynn a puxou para um abraço forte e sentiu vontade de chorar, até aquele momento não tinha se dado conta de como tinha passado os dias como uma verdadeira miserável. Porém agora, mesmo com medo de cogitar aquela hipótese, era como se algo dentro dela tivesse acordado.
  Talvez sua vontade de viver. Voltar a viver.
  Respirou fundo e segurou com firmeza o teste, se afastou de Lynn e saiu do quarto, indo para o banheiro no corredor.
   leu a embalagem pelo menos umas cinco vezes para ter certeza de que não iria errar, as mãos frias tremiam e toda sua bexiga parecia dura mas conseguiu fazer conforme as instruções.
  Mas fazer o teste não foi o pior, na verdade foi até fácil, o problema era esperar aqueles longos minutos.
  Ela tentou controlar a ansiedade e as pernas bambas, em vão, é claro; contou os minutos e quando a hora finalmente chegou, o medo percorreu seu corpo a ponto de fazê-la dar um passo para trás ao pegar o teste.
  Muita coisa passava em sua cabeça, as vezes em que esteve com - desde a primeira até a última -, o sonho de ter uma família e a sua realidade de estar completamente descrente de que coisas boas aconteceriam em sua vida.
   fechou os olhos, controlando a respiração antes de ver o resultado e quando os abriu novamente sentiu o sangue de seu rosto se perder enquanto as lágrimas se formavam.
  Sem forças nas pernas, deixou o corpo escorregar até o chão enquanto segurava o teste como se fosse uma bomba.
  O resultado era tão óbvio que ela se perguntou por que não pensou nisso antes, não tinha os sintomas há poucos dias, já eram semanas e ela sequer notou. Mas só ali, parada e em choque, ela se lembrava de todas as vezes que enjoou fácil ou da fome monstra que não parecia ser dela.
  Ainda desnorteada, levantou se apoiando na parede e saiu do banheiro com o teste na mão. Quando voltou para o quarto, Lynn estava sentada na cama mexendo as pernas de forma ansiosa e ao ver entrar com uma expressão indecifrável, ela levantou.
  - E então?
   olhou para a amiga e levantou o teste, os dois pauzinhos azuis estavam tão fortes que Lynn conseguiu ver de longe.
  - Eu estou grávida do .


  Nota da autora: Não era pra ser um capítulo tão grande e tão demorado, mas eu me empolgo demais, gente hahaha
  Também não era pra ser tão sofrido, mas o que eu posso fazer se as novelas turcas estão me motivando a isso? 👀
  Pra compensar a demora, além da playlist que eu criei, vocês também podem encontrar algumas edições no Pinterest.
  Até o próximo capítulo! 😘

Capítulo 10 - A hope in hell

  - Você está melhor? - Lynn perguntou, observando o rosto da melhor amiga.
  O rosto de estava voltando a cor normal, depois de Lynn caçar um pacote de bolacha salgada para que quase desfaleceu com o teste de gravidez na mão.
  - Estou, de verdade. - garantiu, passando a mão pela testa suada. - Acho que a minha pressão caiu.
  - É sério, , eu vou te levar ao hospital.
   reclamou.
  - Eu não quero. - se arrumou melhor na cama, vendo Lynn colocar as mãos na cintura.
  - Eu não estou pedindo. - Lynn falou firme e bufou. - Você sabe que se eu tiver que te levar amarrada, eu vou fazer isso.
  Lynn era muito mais teimosa do que ela e naquela situação, não teria como discutir ou até mesmo brigar com a amiga.
  - Me fala a verdade, quando foi a última vez que você comeu?
  - Hoje de madrugada, tinha umas frutas na geladeira.
  - Você não acha que é melhor fazer o exame de sangue e ter certeza da sua gravidez? Afinal, você precisa de cuidados.
   ficou em silêncio, os olhos e as mãos descendo até a barriga de forma protetora. Não queria perder aquilo.
  Claro que os sintomas eram óbvios, mas e se fosse mentira? E se aquele sopro de esperança fosse arrancado dela assim tão depressa?
  Ela não conseguiria lidar com mais uma perda.
  Sem ter como retrucar, suspirou e concordou em silêncio.
  Sentindo o estômago pesado e arrotando basicamente nada, Lynn separou um vestido para e a amiga trocou de roupa lentamente para que a ânsia não aumentasse e acabasse vomitando no quarto.
   pegou um óculos escuro grande e amarrou o cabelo sujo em um rabo alto, sabia que sua cara estava pálida e inchada mas nada poderia fazer, e sua bolsa com os documentos.
  Antes de saírem, Lynn sugeriu que a amiga comesse mais alguma coisa para ficar mais disposta a sair e ela prontamente concordou.
  Embora fosse sua vontade devorar tudo o que tinha na geladeira, ela se limitou a comer um pão.
  Ainda pensativa, entrou no carro da amiga e logo estavam arrancando da entrada da casa da família .
  Tentando se manter na realidade antes que ela se perdesse em seus devaneios durante o trajeto, decidiu achar um assunto que a distraísse por um curto tempo.
  - E a lua de mel? Não é amanhã que vocês iam viajar?
  Lynn pareceu um pouco relutante em responder.
  - Nós íamos para uma praia, mas agora com as férias prolongadas do Connor, ele decidiu que quer algo mais longe.
   levantou as sobrancelhas.
  - Férias prolongadas?
  - Pois é, foi um choque pra mim também. - riu baixo. - Eu fiquei mais chocada ainda quando ele me disse que foi uma decisão do Major.
  - O quê? - não conseguiu esconder a surpresa. - Porque?
  - O Major disse que os membros da equipe alfa precisavam disso, se afastar por um tempo. - Lynn explicou, olhando de relance para .
  Ela ficou em silêncio, digerindo tudo aquilo.
  Ela queria poder fazer isso, se afastar para um lugar que não pudesse sentir mais a dor que sentia.
  - Vocês nem conseguiram aproveitar a lua de mel direito né. - tentou sorrir, embora não tenha conseguido, Lynn gostou de ver a amiga se esforçando para conversar.
  - Não, você sabe que na verdade eu sempre quis passar a minha lua de mel na Grécia. - concordou com a cabeça.
  - Então vocês precisam aproveitar e ir logo.
  Lynn suspirou.
  - Na verdade, eu não sei se seria uma boa ideia.
   cruzou os braços, analisando a amiga.
  Sabia que aquele era o sonho de Lynn e embora estivesse fora de órbita nos últimos dias, ela não era burra.
  - Lynn Alcântara. - a chamou um pouco mais firme e a amiga respirou fundo antes de olhá-la rapidamente de rabo de olho. - Se você disser que está adiando a sua lua de mel por minha causa, eu vou te bater.
  - , não é só por isso… - a amiga a encarou desconfiada. - Tá bom, mas que tipo de amiga eu seria se deixasse você aqui sozinha em uma situação como essa?
  Os olhos de marejaram. Lynn realmente a considerava uma irmã de verdade e aquilo era o suficiente para , aquela consideração era a força que precisava naquele momento.
Só que não era justo.
  - Eu fico muito feliz em saber que você se importa comigo, mas você sabe que eu jamais poderia concordar com isso.
  -
  - Não, me escuta. - suplicou, levantando a mão para fazê-la parar de falar. - Você não pode parar a sua vida porque eu estou de luto, Lynn. - engoliu o bolo que se formou em sua garganta. - Vai doer a vida toda e o que você vai fazer? Adiar a sua felicidade por minha causa? Nem você e nem o Connor merecem isso.
  - Eu não quero te deixar sozinha.
  - Eu não estou sozinha.
   entrelaçou os dedos e colocou sobre a barriga, pensativa.
  A dor que sentia não devia ser motivo para que as pessoas à sua volta, as pessoas que amava e que queria bem, parassem de viver porque ela tinha perdido o amor da sua vida.
  Não seria egoísta a esse ponto, até porque era o tipo de coisa que não iria querer.
  Ela retomaria sua vida aos poucos um dia de qualquer forma e por mais difícil e estranho que era admitir ainda tão cedo, não se sentia mais sozinha.
  Se sua vontade se concretizasse, estava mais vivo do que nunca dentro dela.
  Sabia que um dia a dor iria amenizar, não sumir por completo porque sabia que isso seria impossível, mas um dia aprenderia a lidar com aquela falta que sentia.
  E pelo bebê teria que reagir, precisava se blindar de alguma forma.
  Chegaram no hospital e conversaram um pouco mais depois que fez a ficha e esperavam o médico chamar, Lynn conseguia ver nos olhos de a pequena chama de esperança e entendia a ansiedade da amiga.
  Se para ela estava sendo agoniante esperar o médico, imaginava como estava sendo para .
  Quando o médico chamou, Lynn fez questão de acompanhar a amiga para poder explicar ao médico o que estava acontecendo, porque segundo ela não falaria tudo o que tinha que falar.
  Na verdade, até agradeceu porque ter que explicar toda a sua situação, uma noiva viúva de um soldado morto em ação com sintomas de gravidez, ainda era doloroso.
  O médico a examinou e fez a coleta de exame de sangue.
  Depois de esperarem o tempo necessário, roendo todas as unhas possíveis enquanto o coração doía de tanto que pulsava de ansiedade, voltaram para a sala do médico e Lynn parecia mais aflita do que .
  - Qual o resultado? - perguntou ansiosa.
  - O exame de sangue também deu positivo e está tudo mais do que bem. - ela prendeu a respiração. - Parabéns, , você está grávida.
  Ela sentiu os olhos encherem de água e não conteve as lágrimas, um filme de tudo o que tinha vivido com passava em sua cabeça, desde a primeira vez que se olharam até a última.
  - Quanto tempo? - soluçou, sentindo Lynn afagar suas costas.
  - Você está próximo de completar três meses, na verdade.
  - Três meses… - falou para si mesma, o olhar perdido em um ponto fixo.
  Sentia uma força inumana, seu coração ainda doía pelo luto mas dentro dela crescia um bebê que era a única coisa que tinha restado de .
  Era o bem mais precioso que ele tinha deixado para ela e ouvir aquilo, o medo sumindo feito poeira, fez com que o corpo e a mente dela acordassem do coma momentâneo que estava vivendo.
  Ela seria mãe. De um bebê do .
  - Doutor, e agora? - Lynn perguntou pela amiga.
  - Bom, o próximo passo é fazer exames mais complexos e detalhados. Ultrassom, morfológico. Eu sugiro que o pré natal seja feito aqui, - o médico tirou um papel e escreveu algumas coisas antes de estender para Lynn - essa é uma das melhores maternidades, o Dr. Paulo é um amigo pessoal meu e um ótimo obstetra. Ele auxiliará em todas as dúvidas.
  Lynn olhou para o papel e concordou com a cabeça, virando para encarar a amiga que estava com o olhar perdido.
  - , me perdoe a intromissão. - o médico falou, chamando a atenção dela que o encarou aflita. - Eu sinto muito pela sua perda, sequer imagino o que você está passando - os olhos dela desceram para a aliança que ele usava. Talvez ele tivesse noção do medo que era perder quem amava. - mas encare isso como um sinal.
  Ela franziu a testa e o encarou novamente.
  - Um sinal?
  - De que agora você deve viver pelo amor que sente pelo seu noivo, o bebê representa isso.
   sentiu o nariz pinicar e engoliu mais um soluço, sem ter o que dizer ela apenas assentiu.
  - Obrigada, doutor.
  Ela e Lynn se despediram e brevemente saíram da sala, os olhos marejados de preocuparam Lynn, que a abraçou pelos ombros.
  - Você quer alguma coisa?
   concordou com a cabeça.
  - Eu tô com vontade de comer coxinha de frango. - ela riu baixo e a amiga sorriu.
  - Vem, eu sei pra onde te levar.
  
  Lynn a levou para uma padaria bem próxima do hospital, ainda estava preocupada com , mesmo que parecesse mais firme para caminhar, seu rosto estava pálido.
  Mas a preocupação diminuiu quando viu comer bem a coxinha de frango e tomar o suco de laranja, Lynn se contentou com uma torta e café.
  Ela até sugeriu que pegasse um pedaço da torta para si já que não tirava os olhos do prato de Lynn, sequer conseguiu negar pois as mãos responderam antes.
  - Você quer conversar? - Lynn perguntou depois que mastigou a última garfada da torta.
   respirou fundo, colocando o talher no prato e levando a mão para massagear a nuca.
  - Eu ainda… tô confusa. - admitiu, dando de ombros.
  Lynn entendia, é claro, até ela estava um pouco tonta.
  - Mas você sabe o que quer fazer?
   sorriu de leve e olhou para a própria barriga, estava extasiada com a notícia de que tinha um bebê ali e agradecida por não ter perdido essa esperança.
  Em uma semana parecia que tinha perdido tudo e então tinha ganhado tudo de volta.
  Era realmente uma montanha russa de emoções.
  - Eu preciso falar com os meus pais.
  Lynn concordou.
  - Eu sei que eles vão te apoiar.
   encarou a amiga.
  - Não é essa a minha preocupação. - falou séria e a amiga esperou que continuasse. - Como eu vou me tornar mãe em tão pouco tempo? Lynn e se eu não conseguir?
  - Ei, não fala isso. - ela esticou a mão para que segurasse, quando o fez apertou a mão dela com firmeza. - Você é a pessoa mais forte que eu conheço e vai conseguir dar tudo o que essa criança precisa. Você está rodeada de amor, o que mais poderia ter?
  - O . - falou baixo, com os olhos se enchendo de lágrimas.
  Lynn suspirou, afagando a mão de .
  - Onde quer que ele esteja, ele também acredita em você.
   sorriu, emocionada e secou o rosto com a mão livre quando uma lágrima solitária escorreu.
  - Eu preciso voltar a trabalhar também.
  - Com o secretário? - concordou com a cabeça. - E se você procurasse outro emprego?
  - Eu não tenho tempo pra isso, Lynn, posso até fazer em paralelo mas por enquanto eu vou ter que me esforçar. - deu de ombros, não era como se quisesse mas precisava do emprego mais do que nunca.
  - Você sabe que se precisar de qualquer coisa, eu estou aqui!
  - Eu sei, obrigada! - sorriu genuinamente para a amiga, que retribuiu.
  Saíram da mesa rapidamente e pagaram as comidas, quando estavam para voltar ao carro, o celular de Lynn tocou.
  - Oi, amor. - ela sorriu e soube que era Connor. - Não, na verdade eu estou com ela agora. - olhou para que a encarou curiosa, Lynn escutou em silêncio e estranhou. - O quê? Tipo, agora? - a olhou desconfiada, vendo a amiga coçar a cabeça. - Tudo bem, eu faço isso. Eu sei. Tá bom, beijo. Te amo.
  Lynn desligou o celular e destravou o carro, entrou no mesmo minuto que a amiga e continuou a olhando.
  - O Connor me pediu pra te levar até a base. - Lynn falou de uma vez e estreitou os olhos, colocando o cinto.
  - A base? Do exército, você quer dizer? - perguntou, confusa e viu a amiga concordar. - Porque?
  - Ele disse que tem uma pessoa esperando por você lá. É importante.
   franziu a testa, sem entender.
  - Bom, tudo bem. - cruzou os braços, sentindo a ansiedade se instalar na ponta de seu estômago de novo.
  - Você tem certeza? - Lynn perguntou preocupada. - Você teve emoções demais por hoje.
   concordou, piscando mais do que o comum. Ainda sentia as pernas moles com a notícia de que seria mãe mas ela não podia mais fugir do mundo, o fato de ter um bebê crescendo dentro dela dizia isso.
  - Tem um motivo para o Connor querer que eu vá até lá. - respirou fundo. Só tinha ido até a base uma vez, no julgamento de então não tinha memórias tão alegres. - E eu quero saber o motivo.
  Lynn suspirou e ligou o carro, embora tivesse percebido o tom ansioso na voz da amiga, também percebeu a determinação e não iria discutir com ela.
  Era sua missão há dias fazer com que a amiga ao menos saísse de casa.
   até poderia tentar esconder a ansiedade mas convencer de que aquela palpitação não estava comendo-a viva durante todo o caminho era impossível, principalmente porque tudo o que pensava era o bebê que estava dentro de sua barriga. Como o criaria sem um pai, sem deixar lhe faltar nada, principalmente amor e segurança.
  Queria fazer aquilo não por si mesma, mas pelo o amor que sentia pelo bebê e por , aquela era a última ligação entre eles e ela queria que desse certo.
  Não importava o quão quebrado o seu coração estivesse, a notícia da gravidez tinha dado um sopro de ânimo a ela, pois sabia que teria que se esforçar.
  Respirou fundo ao ver o portão da base se aproximar, as lembranças do dia que tinha acompanhado há meses atrás ameaçaram inundar sua mente e foi preciso muito autocontrole para não deixar isso acontecer.
  Tinha que focar no agora.
  Engoliu seco e entraram depois da liberação dos soldados na cancela, Lynn estacionou e saiu do carro, fez o mesmo enquanto observava a base.
  Parecia bem mais quieta do que lembrava.
  Foram para a entrada principal e Connor se aproximava da porta, riu de leve ao ver Lynn se aproximar para beijar Connor de leve na boca.
  Ele estava tão surpreso que nem conseguiu desviar.
  - O quê? - ela perguntou inocente enquanto ele a encarava.
  - Amor, eu estou em serviço. - ele alertou, olhando para os lados.
  Lynn sorriu, cobrindo a boca com a mão.
  - Opa!
  - A gente conversa em casa. - ele piscou para ela de forma divertida e ela levantou as mãos em sinal de rendição. - Oi, .
  - Oi, Connor. - cumprimentou ele com um sorriso amarelo e juntou as mãos suadas.
  - Vem, me acompanhem. - ele pediu, dando espaço para as duas irem na frente.
  Já dentro da base, Connor as direcionou para uma das salas no segundo andar, sentia o coração tão bater rápido que pulsava em sua orelha. Ficou confusa quando viu um homem de terno sentado em uma cadeira, não conhecia o rosto, devia ser um pouco mais velho do que .
  - , é um prazer conhecê-la. - estendeu a mão e ela segurou, apertando levemente, ainda com a testa franzida. - Eu sou Nicolas, advogado do .
   sentiu o queixo cair.
  Ela tinha ouvido mesmo aquela palavra?
  - Advogado? - ela encarou Connor, que estava com os braços atrás do corpo.
  - Senta. - ele pediu, apontando para a outra cadeira, ao lado da cadeira que o advogado estava.
   o fez, esperando uma resposta.
  - Eu vim para a leitura do testamento.
   piscou incontáveis vezes e levantou a mão.
  - Que testamento? - perguntou, surpresa.
  - Do . - Nicolas respondeu, analisando o rosto de , a confusão estampada na cara dela e então trocou um olhar rápido com Connor. - Ele não te disse que fez um testamento?
  - Não, eu nem sabia que ele tinha um advogado.
  Ele sorriu contido, pegando o envelope na mesa.
  - Trabalhei com na empresa do pai dele, quando eu fui demitido no período das invasões, me contratou como advogado particular dele. - olhou para o envelope. - Depois que ele ficou no hospital, me pediu para que redigisse esse testamento. - não sabia o que dizer pois não fazia ideia de nada daquilo, o namorado nunca tinha comentado nada e não era tão recém assim. - Ele me deu instruções para que eu lesse primeiro para você aqui na base, era como se…
  - Ele soubesse que alguma coisa ia acontecer. - ela concluiu, vendo-o concordar com a cabeça.
  - Eu sinto muito, de verdade. - falou sincero e ela sorriu educada. - Nós já temos as duas testemunhas então, podemos começar?
   concordou com a cabeça, receosa.
  A última coisa que pensava era no que poderia ter deixado para ela de bens materiais. A única coisa que ele podia ter dado, estava crescendo dentro dela.
  Porém, foi impossível o queixo não cair ao ouvir que todos bens dele agora eram de propriedade de , o carro, o apartamento, todo o dinheiro que tinha em sua conta no banco, não era uma quantia exorbitante mas era o bastante para conseguir se manter enquanto arrumava outro emprego.
   engoliu seco, sentindo o mundo à sua volta rodar e só se deu conta que estava prestes a desfalecer quando Lynn se aproximou.
  - ?
  - Eu estou bem. - garantiu, segurando a mão da amiga.
  - Não tá nada, sua boca tá branca. - queria retrucar mas não tinha forças. - Doutor, acho que é uma boa hora para dizer que a está grávida do .
  Nicolas abriu a boca, surpreso.
  - Isso é uma boa notícia! Bom, de qualquer jeito será responsável pelos bens do e quanto a herança, não se preocupe que eu cuidarei disso quando chegar a hora.
   o encarou ainda tonta.
  - Herança?
  - , seu bebê é herdeiro legítimo de tudo o que a família tem, afinal é tudo do .
   levantou rapidamente e riu desacreditada. Tudo aquilo era demais para ela.
  - Eu preciso de um ar, será que eu posso…? - apontou para a porta.
  Nicolas concordou.
  - Claro, já terminamos a leitura.
  - Você está bem mesmo? - Lynn perguntou, preocupada.
  - Estou. - garantiu. - Eu só preciso de cinco minutos sozinha.
   afagou a mão da amiga que sorriu de leve para ela antes de sair da sala que parecia sufocá-la.
   fechou a porta e andou pelo corredor até encostar as costas na parede e fechou os olhos, respirando fundo.
  Ela não sabia o que pensar primeiro.
  A última coisa que queria era ter que lidar com a família , não queria o dinheiro deles, não queria nada!
  Aliás, a única coisa que queria era distância. E era exatamente o que faria, se manteria longe o bastante para proteger seu bebê.
  Levou a mão até a barriga, prometendo mentalmente que ninguém o machucaria, nem que ela tivesse que lutar com todas as forças para nadar contra a correnteza chamada Cristina.
  Sentindo o sangue queimar por suas veias, ela abriu os olhos e deu de cara com Major Walker se aproximando dela, parecia preocupado e surpreso.
  - , o que faz aqui? Você está bem? - levantou as mãos para segurá-la pelos braços mas se afastou sorrateiramente, um claro sinal para que ele se mantivesse longe.
  - Connor me chamou, tinha algo importante para falar comigo. - foi vaga na resposta e isso não o pareceu convencer.
  - Você está bem? - perguntou mais uma vez, firme.
  Ela conteve a risada irônica.
  Não era óbvio pelo estado dela? E porque ele agia como se ele realmente se importasse?
  - O que você acha, Major?
   não deu tempo para ele responder, até porque ele provavelmente conseguia adivinhar a resposta, e saiu dali para voltar para a sala, sentindo os olhos de águia dele a seguirem até que ela estivesse longe.
  Dentro da sala, respirou fundo e forçou um sorriso para os três.
  - , por favor, se tiver alguma dúvida ou precisar de qualquer coisa, me ligue. - Nicolas estendeu um cartão para ela que o pegou prontamente.
  - Claro, obrigada!
  Ele se despediu e deixou Lynn, Connor e na sala se encarando.
  - A propósito, - Connor foi até a mesa e pegou 3 agendas escuras e um envelope. - isso é seu. - estendeu para ela que encarou aquilo confusa.
  - O que é?
  Connor respirou fundo, encarando a esposa que o incentivou a continuar.
  - Do . - ela o encarou no mesmo instante, apertando as agendas com força. - São os diários dele, escrevia todos os dias desde que entrou no exército e a carta… faz parte do protocolo escrever uma em todas as nossas missões caso aconteça algo conosco.
   encarou o envelope e os diários, eram incrivelmente pesados.
  - Achei que você iria gostar de ficar.
   sorriu triste e levou os diários junto ao corpo.
  - Obrigada, Connor.
  Agora teria acesso ao ponto de vista do amado, mesmo que fosse tarde demais.
  Mas pelo menos saberia as últimas palavras dele, de um jeito teria a sua despedida com .
  Ela só não sabia se estava pronta para aquilo.

[...]

   fechou a porta da sala, sentindo um peso nos ombros e foi para o sofá da sala. Sua cabeça rodava e Lynn foi compreensiva o bastante para deixar a amiga em silêncio durante o trajeto de volta para casa, até tentou insistir em ficar com enquanto os pais dela não chegavam, mas a amiga negou.
  Tinha ocupado tempo demais de Lynn, afinal a amiga tinha uma viagem para fazer, e ela precisava ficar sozinha com o que tinha escrito.
  Não sabia o que ler primeiro, e estava com um certo medo porque era a despedida que não tiveram, mas a sua ansiedade em saber o que estava escrito dizia que ela tinha que ler a carta primeiro.
  Então em um impulso pegou o envelope, as mãos trêmulas e frias tiraram o papel e os olhos apressados correram pela letra familiar.
  Não seria exagero dizer que na primeira palavra, os olhos dela se encheram de água, foi uma tarefa complicada ler enquanto chorava silenciosamente, tentou evitar que as lágrimas molhassem o papel mas uma delas chegou a fazer isso quando estava no final da carta.
  Ela trincou os dentes para conter o soluço e suas mãos afastaram a carta devagar assim que terminou de ler, encarou o nada enquanto absorvia as últimas palavras de .
  Doía saber que ela não estava do lado dele, fez planos para que o dia da morte dele fosse dali há pelo menos uns 60 anos, que ela estaria ao lado dele segurando a mão depois de terem vivido toda uma vida completa.
  Se ele pelo menos soubesse que ela estava esperando um filho dele antes de partir…
  Agora tudo o que segurava era a carta, as últimas palavras dele direcionadas a ela.
  Não reparou quando os pais entraram na casa e dando de cara com chorando copiosamente na sala, ambos se aproximaram rapidamente, abraçando-a pelos ombros.
  - Filha, o que foi? - a mãe perguntou, acariciando o rosto dela para secar as lágrimas.
  - É a última carta do . - estendeu o papel e o pai pegou, lendo brevemente.
  Ele fez uma careta de tristeza pela filha e deixou a carta em cima da mesinha de centro da sala antes de beijar o tipo da cabeça da filha.
  - Eu sei, machuca tanto que parece que nunca vai passar. - acariciou os cabelos dela, que cedeu com o carinho. - Viva o seu luto, princesa, chora o que você tiver que chorar mas lembre-se que você precisa se levantar. não iria querer que você ficasse assim.
  Ela concordou com a cabeça limpando o rosto e encarou os pais.
  Ela tinha muita sorte de tê-los ao lado dela, sabia que podia contar com eles em qualquer situação, o fato de terem rodeado-a de amor nos últimos dias provava isso.
  Não sabia como dar a notícia para eles, bom, as notícias, mas sabia que não poderia e nem queria esconder ou fazer rodeios então optou por falar de uma vez.
  - Eu estou grávida dele. - falou baixo, sem força na voz.
  O pai engasgou com a própria saliva e a mãe arregalou os olhos.
  - O quê? - ela perguntou, sem acreditar. - Você tem certeza?
   assentiu.
  - Eu fiz o exame de sangue e não tem erro. - ela levou a mão até a barriga.
  A sala ficou em silêncio por pouco tempo, mas foi o bastante para preocupar .
  Sempre considerou os pais os mais compreensíveis que tinha visto mas tinha uma pontinha de medo da reação deles, não era bem o futuro que ou eles haviam planejado para ela porém não dava para simplesmente negar que aquilo estava acontecendo.
  - Eu sempre quis ser avô, só não imaginei que fosse tão rápido. - ele riu.
  - É uma loucura, eu sei… - começou mas foi interrompida pela mão da mãe sobre a sua.
  - Mas é uma dádiva, filha. - olhou para a barriga de completamente maravilhada. - deixou um pedacinho dele para você, em meio a tanta dor você tem pelo o que lutar.
  Os olhos de encheram de lágrimas.
  - Nós estamos aqui, por você e pela minha neta. - Alexander levou a mão sobre a da esposa, os três acariciando a barriga de .
   o olhou confusa.
  - Espera pai, eu ainda não sei se é menina ou menino.
  - Eu sei que é menina.
  - Eu não sei, querido. andou muito enjoada essa semana, deve ser um menino. - encarou a mãe. - Eu fiquei muito enjoada quando estava grávida do seu irmão.
  - Vocês… vocês já sabiam? - gaguejou, confusa com a reação tão calma dos dois.
  Alexander e Sandra se entreolharam, sorrindo cúmplices.
  - Estávamos desconfiados há um tempo. - ela sorriu, fazendo piscar algumas vezes.
  - Só estávamos respeitando o seu luto, sabíamos que ia chegar a hora de você descobrir. - ele deu de ombros. - Ah, precisamos achar um cantinho para o bebê no quarto da . - levantou do sofá. - Eu vou pegar a fita métrica.
   riu ao ver o pai ir em direção a escada.
  - Onde você vai?
  - Medir o espaço para colocar o berço. - respondeu com obviedade.
  - Pai, eu estou para fazer três meses. - explicou. - Tem tempo ainda.
  - Explica para a sua filha como funciona!
  - Minha princesa, nós temos que correr, pode acreditar. - Sandra levantou do sofá e a puxou levemente para fazer o mesmo. - Temos muita coisa para fazer até lá, abre o computador que eu te falo tudo.
   concordou e saiu da sala rindo da pressa dos pais, como se o bebê fosse nascer amanhã, mas não iria discutir pois era mãe de primeira viagem.
  Confiava nos pais e deixaria que eles a guiasse, afinal ninguém melhor do que eles para ensinar como ser uma mãe de verdade.
  Para trás, deixou os diários ainda fechados de e a carta.
  
  ,
  Meu amor, minha luz.
  Por favor, me perdoe se um dia esse envelope chegar até você. Significa que eu não consegui cumprir a única promessa que realmente valia para mim.
  Que eu voltaria para você.
  Me odeie o quanto quiser porque eu mereço, embora eu saiba que você jamais o fará porque é pura de coração.
  Todas as vezes que escrevo esse tipo de carta para você, fico com medo. Não é medo da missão, eu não tenho medo de fuzis ou bombas, mas medo de te deixar indefesa e ferida.
  Eu sei que abri um buraco no seu coração que nunca vou reparar e não estava nos meus planos fazer isso uma segunda vez.
  Saiba que eu me odiei todas as vezes que lembrei das lágrimas que você derramou por mim e me odeio agora por fazê-la sofrer de novo pela minha partida.
  Eu tentei lutar contra isso, acredite em mim, mas tem coisas que eu não posso te explicar e são elas que me levaram para longe.
  Me perdoe.
  E saiba que você nunca me perderá, , você sempre teve e sempre vai ter o meu coração. Não importa para onde eu vá ou esteja, você sempre me terá vivo dentro de você.
  Eu espero que o meu amor por você tenha sido o bastante para convencê-la disso, de que você é a pessoa mais importante para mim, é a única pela qual eu morreria.
  Você sabe disso, não é?
  Por favor, não chore tanto por mim, não consigo ter essa imagem de você sem me sentir culpado.
  Não se esqueça de você mesma. Viva o seu sonho, meu amor, seja lá qual for. De um jeito ou de outro eu vou te ajudar.
  Eu sempre acreditei em você.
  Você consegue conquistar tudo o que quiser.
  Me perdoe mais uma vez.
  Nunca se esqueça do quanto eu te amo.
  Eternamente e muito além disso,
  O seu .

[...]

   tamborilava os dedos contra a mesa à espera do secretário, que estava atrasado.
  Depois de muito conversar com os pais e pensar, tinha decidido pedir demissão para seguir a carreira de cozinheira.
  O trabalho no departamento era bom e ganhava um salário razoável mas nada daquilo valia sua saúde mental, não conseguia desvencilhar aquele lugar do fatídico dia da missão de e aquilo estava fazendo mal a ela, sequer teve vontade de levantar para ir.
  E agora tudo o que pensava era no bebê que esperava, precisava estar bem para que o bebê também estivesse.
  Depois que pedisse demissão, iria até o apartamento do . Decidiria o que levaria para casa consigo, o que doaria e principalmente, o que faria com o apartamento.
  Mas para isso precisava de um tempo sozinha.
  Arrumou a posição ao ouvir o elevador chegar e se levantou, vendo o secretário chegar apressado.
  - Bom dia, .
  - Bom dia, senhor. - o acompanhou até a sala, sentindo as pernas bambas. - Poderia falar com o senhor por cinco minutos?
  O secretário parou por um minuto, analisando o rosto dela.
  - Claro, sente-se. - indicou para a cadeira e entrou atrás dele, fazendo o que ele disse.
  O secretário sentou-se em sua cadeira, apoiando as mãos entrelaçadas em cima da mesa, e olhou para esperando que ela falasse.
  Ela estava nervosa, é claro, nunca tinha pedido demissão antes e não sabia como o secretário iria reagir, não tinha medo dele mas estava sim receosa.
  - Senhor, eu só queria dizer que agradeço por toda a experiência que adquiri aqui nos últimos tempos e pelo o que o senhor fez quando… quando o se foi.
  Ela era grata pela consideração do secretário, ele teve a empatia de deixar que decidisse o seu tempo, que ela decidisse quando se sentia apta a voltar. E também porque o funeral tinha sido organizado por ele.
  - Não se preocupe, , você não foi a única a perder alguém nessa situação.
   suspirou. A primeira esposa do secretário tinha sido morta em um assalto a mão armada, ele salvou o filho mas não pôde salvar a mulher.
  Só conhecia o caso pelo o que tinha lido, nunca tinha conversado com ele sobre, até porque o secretário não era um homem tão aberto a conversas.
  - Por isso eu queria agradecer antes de qualquer coisa. - ela sorriu de leve e ele estreitou os olhos.
  - Tem algo a mais, não?
   respirou fundo.
  - Eu estou grávida. - o secretário levantou as sobrancelhas, surpreso. - E bom, na verdade eu…
   foi interrompida pelo celular do secretário, ele bufou antes de tirar do paletó e ver quem era.
  - Desculpe, eu preciso atender. Retomamos em um minuto. - disse antes de atender, - Pronto, Walker.
   sentiu um arrepio estranho na espinha ao ouvir o nome do Major.
  - O quê?! Quando? - o secretário passou a mão pelo rosto. - Certo, eu estou indo para aí.
  Assim que desligou o celular, se levantou.
  - , teremos que conversar mais tarde, me desculpe.
  - Ah, tudo bem. - ela levantou e o secretário começou a sair da sala, fazendo-a segui-lo.
  - Por favor, no caminho ligue para o governador, precisaremos de uma reunião urgente.
  - No caminho? De quê?
  - Até o prédio de um dos membros da equipe alfa. - sentiu o sangue gelar. - Tivemos mais um ataque, dessa vez envolvendo civis.
   arregalou os olhos e correu para pegar sua bolsa antes de ir com o secretário até o elevador.
  Até então não tinha acompanhado o secretário em ação, até porque a maioria das tarefas eram realizadas ali no prédio, o Major quase não saía porque aquilo era função do exército mas agora as coisas pareciam fora do controle, e ela sentiu a diferença quando entrou no carro blindado.
  Ligou para o governador enquanto o carro corria em alta velocidade pelas ruas, se ela não tivesse colocado o cinto seria jogada de um lado para o outro. Toda a atmosfera do lugar indicava pressa e aflição, o secretário conversava com o comandante da polícia militar pelo telefone, estava visivelmente incomodado com aquela situação.
  Estavam atacando o exército a luz do dia no meio da rua!
  Se aquilo não era um atentado, então o que era?
   não estava raciocinando direito, ela não conseguia acompanhar o próprio pensamento.
  Estavam indo atrás da equipe alfa, mas porque?
  Assim que o carro parou, ela desceu logo depois do secretário e andou ao lado dele até o local do ataque que estava sendo isolado pela polícia.
   observou com atenção e horrorizada, viu os bombeiros trabalharem na carcaça de um carro que pegava fogo na calçada, exatamente como daquela vez no atentado ao departamento, vários policiais estavam em volta e ela viu duas pessoas conhecidas, uma sentada no meio fio e a outra de pé ao lado.
  - Claire!
   viu a esposa de Tej levantar a cabeça para encará-la e se levantou para abraçá -la forte.
   sentia Claire tremer, ela não estava chorando mas estava em pânico, qualquer um percebia aquilo. Qualquer um no lugar dela estaria da mesma forma.
  - Meu Deus, você está bem? Está ferida? - perguntou, preocupada e se afastou para observá-la.
  - Estou bem. - a voz trêmula indicava exatamente o contrário do que tinha dito. - Foi um susto.
   encarou Tej, ele conversava com o policial e o secretário, e mesmo mantendo a postura rígida a expressão dele era de puro ódio.
  - O que houve? - afagou o braço gelado de Claire.
  - Estávamos saindo para trabalhar, o Thiago já tinha colocado a chave no carro quando eu lembrei que tinha esquecido meu carregador, quando ele deu um passo para trás percebeu que tinha algo errado, ele veio correndo e só deu tempo de abaixarmos antes do carro explodir.
   a encarou apreensiva. O padrão era o mesmo do ataque ao lado do prédio.
  - Confesso que não sei o que vamos fazer. - Claire deu de ombros. - Já passamos por situações perigosas antes, mas nunca assim.
   observou o que sobrou do carro mais a frente.
  Primeiro o departamento, depois e agora Tej… parecia bem claro para ela.
  Estavam caçando a equipe alfa.
  - Vocês não podem ficar aqui. - falou e Claire concordou.
  - Talvez eu vá para a casa dos pais do Thiago no sul. - falou incerta, olhando para o marido. - Eu sei que lá estarei segura.
  - E o Tej?
  Claire riu de leve.
  - Ele não vai sair da cidade até encontrar quem precisa. - respondeu com convicção. - Estão mexendo com a equipe errada.
   suspirou, sem saber o que dizer.
  Se perguntou quantas vezes tinha sofrido um ataque e nunca comentou com ela, porque não era possível que aquilo estivesse acontecendo apenas agora.
  “Mas tem coisas que eu não posso te explicar e são elas que me levaram para longe.” será que era isso que ele se referia na carta?
  Será que sabia quem estava indo atrás do exército?
  A invasão no apartamento de tinha relação com aqueles ataques?
  Bom, só existia um jeito de saber a resposta, ler os diários de que estavam em sua bolsa.
  Tinha planejado uma manhã bem diferente para aquele dia.
   ficou do lado de Claire enquanto Tej dava seu depoimento e explicava tudo à polícia e depois quando a equipe alfa chegou.
  Ela não sabia o que aconteceria dali para frente, por isso abraçou Claire antes da amiga subir para fazer sua mala, Tej acompanhou a esposa e sorriu contido para em agradecimento.
  Quando viu o Major Walker mais a frente, decidiu falar com o secretário, tecnicamente não tinha voltado a trabalhar naquele dia, afinal ia pedir demissão, então por hora só pediria dispensa.
  - O senhor precisa de mim para alguma coisa? - perguntou, assim que o policial que conversava com ele saiu.
  - Não, , pode ir para casa. No seu estado, - apontou para a barriga dela. - esse tipo de agitação não fará bem para você ou o bebê.
  Ela sorriu de leve, agradecida e aliviada.
  - Terminamos a nossa conversa amanhã, tudo bem? Venha no período da tarde. - pediu e ela concordou com a cabeça.
  - Obrigada, senhor. - agradeceu verdadeiramente e ele assentiu.
   respirou fundo antes de ir em direção ao carro que tinha levado-a até lá para pegar sua bolsa, pegaria um táxi para levá-la até o apartamento de .
  Olhou uma última vez para a cena do atentado e engoliu seco com o estranho paralelo que estava vivendo ali, mais um carro queimado que tinha um alvo certo.
  Quando aquilo iria parar? Porque estavam fazendo aquilo e o principal, quem estava por trás dos ataques?
  Ela piscou ao perceber que seu olhar tinha se perdido na carcaça do carro e então sentiu-se observada, não precisou procurar demais pois o Major Walker estava um pouco mais atrás do que havia restado do carro encarando-a intensamente.
   não gostava da forma como ele a olhava, era assustador, exatamente como uma cobra que olhava sua presa prestes a dar o bote. Ela não só se sentia incomodada como também se sentia pequena e vulnerável.
  Ela afastou o olhar, segurando a bolsa com mais firmeza e se afastando daquela cena que não estava lhe causando nada além de apavoro.
  Pegou o táxi no outro quarteirão por causa do isolamento e sua cabeça vagou pelas perguntas que a carta de havia deixado.
  Involuntariamente começou a morder a pelinha da boca, mesmo que o caminho não fosse tão longo parecia que estava naquele carro há horas.
  Quando o táxi parou em frente ao prédio e ela pagou a corrida, ao sair do carro sentiu um vento gelado contra seu corpo no mesmo momento que seu coração afundava.
  Mesmo que tivesse um carinho especial pelo lugar, não podia deixar que as lembranças amargas inundassem sua cabeça enquanto entrava no prédio.
  O corredor do andar do apartamento de parecia mais vazio e escuro do que de costume e abriu a bolsa para pegar o molho de chaves.
  Suspirou antes de abrir a porta e mordeu o lábio para conter a vontade súbita de chorar ao sentir o cheiro de .
  Foi uma sensação estranha entrar sozinha, sabendo que o amado não estaria ali esperando-a no final do corredor como acontecia.
  Tudo ainda estava como havia deixado, o controle da tv em cima do sofá e as cortinas abertas, observou o apartamento com atenção, tentando se prender a cada detalhe.
  Não sabia por quanto tempo ainda ficaria daquele jeito, do jeito que gostava, nem sabia o que faria com o imóvel.
  Deixou a bolsa em cima do sofá e tirou os sapatos, indo para o quarto. Observou a cama feita, flashes de todas as vezes que dividiram aquela cama iam e vinham, negou com a cabeça para tentar voltar a realidade e olhou para o guarda roupa.
  Sem conseguir se conter, foi até lá e abriu as portas, o perfume de estava impregnado em tudo e tocou as roupas do amado enquanto sorria triste.
  Estava em uma batalha interna, queria chorar mas se lembrava do pedido de na carta. Não parecia suficiente todas as lágrimas que havia derramado, mas não parecia justo ficar ali só chorando.
  Não queria que seus dias se resumissem a isso, mesmo estando sozinha ali e tendo a liberdade para soltar o grito que estava preso em sua garganta, ela não queria continuar sofrendo.
  Não era isso que ele tinha pedido.
   fungou o nariz e fechou as portas do guarda-roupa, respirando fundo antes de sair do quarto.
  Foi para a sala e se jogou no sofá, tirando os diários da bolsa, viu que estavam marcados com números então começou pelo ‘1’.

  Primeiro dia.

  Eu não sei porque achei que fosse uma boa ideia começar a escrever mas foi a única forma de colocar para fora tudo o que está preso aqui. Já que estou sem amigos e sem família para conversar.
  Estou no avião a caminho da base, só consigo ver novatos como eu, alguns esperançosos e outros parecem prontos para morrer.
  E tem eu.
  Que já estou morto por dentro, pelo menos hoje.
  Vi a no aeroporto e foi muito pior do que se eu tivesse levado um tiro, a cara dela de tristeza está presa na minha cabeça.
  O que me matou é saber que eu tornei as coisas ainda piores na noite anterior.
  Talvez eu mereça o ódio que ela deve sentir por mim, eu também me odeio por isso.
  Eu não queria que as coisas tivessem acabado dessa maneira, eu nem queria que tivesse acabado.
  Eu poderia facilmente ter sido dispensado da convocação com a influência do meu pai, se a minha família não fosse tão mesquinha.
  Mas vendo os rostos dos soldados aqui, eu tenho cada vez mais certeza do meu impulso. Seria justo eu viver a minha vida normalmente enquanto outros sacrificam as suas para proteger o que eu conheço?
  Talvez ser um pouco altruísta como a vá me fazer bem, de um jeito vai acabar me aproximando dela mesmo que nós estejamos tão distantes um do outro.
  Por culpa inteiramente minha.
  Ouvi alguns superiores dizerem para aproveitarmos o tempo do voo para dormir porque não faremos isso na base e nem no front.
  Mas eu não acho que alguém aqui vai conseguir dormir.
  Eu deveria tentar mas desde que eu e terminamos parece que não tenho controle sobre as minhas vontades, eu sempre volto para a cena dela chorando na minha frente.
  Eu não sei o que o futuro vai me reservar, mas se eu pudesse ter uma última chance com ela, nem que fosse um dia só… eu daria a minha vida por isso.

   pulou de susto quando a campainha estridente furou a bolha em que estava, o coração foi na boca e ela encarou a porta.
  Desconfiada, afinal apenas seus pais sabiam que ela estava lá, não pensou duas vezes antes de puxar a sua arma da bolsa, sentindo a adrenalina percorrer seu corpo quando a campainha tocou mais uma vez.
  Levantou do sofá e em passos lentos foi até a porta, segurando a arma com mais firmeza, respirou fundo antes de olhar pelo olho mágico da porta, mas quem quer que fosse não estava no campo de visão.
  Destravou a arma como havia ensinado e deixou atrás do corpo antes de abrir a porta e ela quase sacou a arma se não tivesse visto o Major Walker parado ao lado do batente da porta.
  Não levantou a arma por causa do susto.
  - Major, o que faz aqui? - perguntou, sentindo a adrenalina cair ligeiramente.
  - Posso entrar? - perguntou, pidão, os olhos praticamente suplicando.
   ponderou, queria muito dizer que não, mas queria saber o que ele estava fazendo ali e como sabia que ela estava lá.
  Por fim, concordou com a cabeça e deu espaço para ele entrar, colocando a arma no cós da calça enquanto o Major ia para o meio da sala parecendo visivelmente apreensivo.
  E pareceu piorar quando ele observou os diários em cima do sofá.
  - Então, Major. - chamou atenção dele, cruzando os braços. - O que veio fazer aqui?
  - Eu fiquei preocupado quando vi você sair de lá sozinha, depois de tudo o que tem acontecido com a equipe alfa, me senti responsável por você…
   franziu a testa.
  - Como você sabia que eu estaria aqui?
  Major engoliu a resposta que daria e o observou com atenção.
  - Eu não tive outra alternativa, .
  Ela riu, incrédula.
  - Você me seguiu?!
  Major não parecia nem um pouco abalado com a acusação e foi o suficiente para entender a resposta. Ele era cheio de dedos para dar as respostas do que ela perguntava mas ele era fácil de ler.
  Na verdade, as intenções dele eram cristalinas. Sempre foram.
  - Foi necessário. - se justificou e ela negou com a cabeça.
  - Eu sei me defender!
  - Não, você não sabe! - ele falou firme e ela abriu a boca para retrucar. - Você não sabe com quem estamos lidando e ainda mais com a sua atual situação. - ele apontou para ela.
   parou onde estava, os braços caindo ao lado do corpo.
  - Minha situação?
  O Major respirou fundo e a encarou, meio magoado.
  - Eu sei que você está grávida. - o encarou surpresa e ficou sem resposta. - O secretário me disse depois que você foi embora mas eu já desconfiava.
  - Como? - ela perguntou baixo.
  Ele sorriu triste.
  - Não é difícil de perceber, , qualquer pessoa que te observe por mais de 5 minutos pode notar. Você está brilhando, está mais bonita, parece que ganhou a vida novamente. - ela abaixou a cabeça, sem saber o que dizer e ele aproveitou a deixa para dar um passo em direção a ela. - Por isso eu vim aqui, eu precisava saber que você estava bem e segura. Atacaram a esposa do Tej e ele a luz do dia, imagina o que fariam com você.
   engoliu seco, sentindo um gosto amargo na boca e um arrepio pela espinha. Não gostava nem de pensar nisso.
  - Eu estou bem, como você pode ver.
   deu um passo para se afastar mas não chegou a fazer já que o Major a segurou pelo braço.
  - Mas pode ficar melhor, .
  Ela o encarou, estreitando os olhos.
  - O que quer dizer?
  Major levou a outra mão para segurar o outro lado do corpo de , sem desviar os olhos dos dela.
  - Me deixe protegê-la, me deixe cuidar de você.
   negou com a cabeça.
  - Major…
  - Case-se comigo. - pediu e prendeu a respiração involuntariamente.
  Ela sentiu o corpo enrijecer e o anel que havia dado queimava em seu dedo, piscava sem parar como se não acreditasse que tivesse ouvido aquilo.
  E de fato, não acreditava.
  Talvez tivesse ficado surda momentaneamente e tivesse entendido errado.
  - Como é? - ela perguntou, desacreditada. - Eu acho que entendi errado…
  - Não, , você escutou muito bem. - Major aproximou o tronco do corpo de e quase a tocou. - Quero que case comigo. Eu posso proteger você e o seu bebê.
  Ela sentiu o mundo rodar a sua volta e o aperto do Major não parecia certo, por isso ela colocou os punhos contra o peito dele e se afastou, virando de costas para afagar a própria testa.
  - Eu não posso… - sussurrou mas ele não pareceu escutar.
  - Você sabe que eu nunca te esqueci e eu continuei te amando apesar de tudo.
   colocou as mãos nos ouvidos e fechou os olhos, não era do Major que queria ouvir aquelas palavras, não quando os diários de estavam no sofá bem ali, ao lado deles.
  - … - o Major se aproximou, virando-a de frente para ele e ela abriu os olhos.
  - Eu não posso me casar com você. - respondeu, apoiando as mãos nos braços do Major.
  - E por que não? - questionou, sério. estava pronta para mostrar a aliança que ainda usava, mas ele não deu tempo dela responder. - está morto e você corre perigo, o seu filho corre perigo!
  Ela quis chorar, principalmente porque não podia negar que aquilo era verdade.
  Mas como poderia casar com o Major se não o amava?
  Claro, ele poderia protegê-la mas não era justo. Era tudo tão recente, não tinha dado nem uma semana que tinha partido e ela já teve que tomar grandes decisões.
  Mas abrir seu coração para o amor novamente… ela não sabia se tinha essa capacidade de se apaixonar, quem dirá amar alguém como amava .
  Porque no fundo sabia que nunca amaria ninguém como o amava.
  - Eu preciso pensar. - respondeu, fraca, sentindo um enjoo na ponta de sua barriga.
  - , por favor…
  - Major, essa não é uma resposta que eu consigo te dar agora. - falou um pouco mais firme, encarando-o. - Eu preciso de um tempo para organizar as minhas ideias. Eu ainda amo o .
  As mãos do Major soltaram devagar ao ouvir a última frase e os olhos dele cederam, desviando dos de .
  - Tem muita coisa acontecendo ao mesmo tempo e eu preciso pensar no meu bebê antes de qualquer coisa.
  Ele sorriu triste.
  - Eu espero o tempo que for.
   suspirou, assentindo.
  Era possível que ele esperasse mais tempo do que imaginava.

Continua...



Comentários da autora


  Nota da Autora: Olha eu aqui de novo 👀
Eu queria poder avisar de uma forma diferente, mas eu gosto de puxar o curativo logo de uma vez para não prolongar a dor hahah talvez eu não consiga mais atualizar tão rápido assim os capítulos como eu estava querendo, mesmo adiantando tudo, eu terei uma MEGA mudança no segundo semestre desse ano que vai me consumir por inteira.
Calma, eu não vou abandonar a história!!! Nem se eu fosse muito louca, fala sério eu tô com esse plot preso na minha cabeça tem 4 anos.
É temporário, juro. Eu vou continuar escrevendo, vocês terão capítulos novos que irão se estender até 2025 provavelmente.
Sim, eu planejava finalizar agora esse ano, mas é claro que eu tinha que deixar tudo mais emocionante 😆
Então, esperem por mim porque eu não vou sumir do mapa e deixar vocês teorizando sobre qual seria o final (experiência própria porque eu ainda faço isso com as minhas fanfics favoritas).
Vou tentar correr para não deixar vocês esperando por tanto tempo assim.
Até o próximo capítulo ❤️