Milagre de Natal
Escrito por Gabrielle Macena | Revisado por Lelen
Capítulo Um – Desejo de Natal
April estava sentada à beira da janela de seu quarto observando os pisca-piscas cintilando nas casas vizinhas. Era véspera de natal e ela se encontrava sozinha; sem família, pois havia afastado todos quando fugiu de casa, e sem amigos. Além de tudo, sua casa era a única do bairro a não estar enfeitada de acordo com a data, estava apagada e sem vida. As paredes estavam com a tinta à descascar, o piso de madeira da sala estava corroído pelos cupins, os móveis empoeirados, e, por fim, um buraco um tanto grande no teto. Mas era a única opção que tivera já que quando fugiu tinha pouco mais de cem dólares. No entanto, o estado de sua casa não lhe importava, o que realmente importava para April era a companhia de Natal. Poderia ser qualquer um, de verdade. Tudo o que seu coração pedia era alguém com quem compartilhar risadas na ceia de natal. Ela bufou cansada e triste, a pobre garota de dezessete anos não tinha nem sequer uma ceia de Natal. Suas roupas estavam rasgadas, seu corpo fedorento, cabelos desgrenhados e mau hálito. April se encontrava nessa situação havia exatamente duas semanas e cinco dias. Embora estivesse frio, ela saiu da casa e começou a vagar pelas ruas de Birmingham.
Capítulo Dois – Esbarrão Inesperado e Gentilezas
Enquanto April vagava pelas ruas distraída, a neve começava a cair, ela estava congelando, literalmente. Caso ficasse mais vinte minutos fora de ‘casa’ morreria de frio, sem contar com a fome que sentia. April estava olhando para o chão quando esbarrou em um garoto, mas o esbarrão foi tão intenso que fez com que eles caíssem cada qual de um lado.
— Mil desculpas. — Pediu imediatamente April completamente envergonhada; o rapaz era muito bonito. — Eu não queria ter esbarrado em você, desculpa. — Ela estava aflita demais para se dar conta de que o rapaz sorria amigavelmente para ela.
— Ei, acalme-se. Eu entendi que foi sem querer. — April suspirou aliviada e se levantou, sendo acompanhada pelo rapaz. — Meu nome é Brad Simpson. — Ele estendeu a mão para April que ficou encarando a mão do rapaz - que se chamava Brad - como se fosse um monstro. — Está com medo de mim?
— Não. É só que estou suja demais para cumprimentá-lo. — Falou envergonhada.
— Não ligo para isso. — Continuou a estender a mão.
Ela tocou a mão quente do rapaz e eles fizeram um cumprimento, um choque percorreu o corpo de ambos. Ele sorriu novamente, mas April não retribuiu, tinha vergonha dos dentes sujos e do mau hálito. Após o cumprimento April se distanciou dele, tomando o rumo de volta para casa.
— Espere! — Brad gritou para April, que se virou voltando a atenção para ele. — Posso ao menos saber seu nome?
— É April Lancaster.
E assim retomou o caminho para evitar a morte. Ela havia escapado da morte por um bom tempo, não seria justo na véspera de natal que deixaria esse mundo. April apressou o passo na intenção de chegar mais rápido, mas quando estava na esquina de sua humilde residência sentiu mãos quentes em seu braço descoberto. Assustou-se e olhou para quem era.
— Me desculpe por assustá-la. — Disse Brad. — Apenas queria saber se tem ao menos uma casa. — April confirmou com a cabeça. — Por que não fala? — April manteve-se calada, ainda que tivesse vontade de respondê-lo descentemente. — Ok, não vou conseguir fazê-la falar. Tem pais? — Ela negou. — E comida? — April não queria dizer que não, mas também não queria mentir, mesmo que fosse para um estranho isso ia contra seus princípios. Então ela negou novamente. — Deixe-me levá-la para minha casa e alimentá-la, quem sabe também posso lhe emprestar alguma roupa.
Os olhos da jovem de pele pálida e olhos e cabelos escuros se arregalaram com a hipótese, ir à casa de um estranho, comer da comida dele e usar roupas dele parecia-lhe assustador. Talvez o medo de que ele fosse algum tipo de pessoa má que a faria sofrer mais ainda a perturbava. Brad pensou que ela estivesse com medo pelo fato de ainda segurar-lhe o braço, então o soltou depressa, causando um alívio pequeno alívio na garota, que voltou a ficar com os olhos de uma forma normal.
— Você está com medo? — April afirmou. — Prometo não lhe machucar, só quero cuidar de você. Sei que parece estranho, mas me sinto na obrigação de fazer isso.
Capítulo Três – Um Beijo Como Recompensa
April aceitou o convite e os dois juntos foram até a casa de Brad. Quando chegaram ela tomou uma certa distância e resolveu finalmente falar.
— Desculpe-me por não ter falado antes, é que estou suja e com maus cheiros. Não queria ter de fazê-lo senti-los. — April dizia enquanto brincava nervosamente com os dedos.
— Tudo bem, gostaria de tomar um banho? — Ofereceu-lhe na esperança de que April não ficasse mais com vergonha.
— Sim, mas por acaso teria uma escova de dente? Não queria ser folgada, porém incomoda-me muito falar contigo ainda estando com mau hálito. — Brad confirmou e se retirou por poucos minutos, quando voltou segurava uma toalha e uma escova de dente ainda na embalagem.
— Eu lhe levarei ao banheiro. — April assentiu.
Eles subiram as escadas que haviam na casa e chegaram À uma porta branca, Brad a explicou como funcionavam as coisas do banheiro e April assentiu entrando depressa. Escovou os dentes e despiu-se ligando o chuveiro e iniciando um banho. Assim que estava livre de quaisquer resíduos desligou o chuveiro e enrolou-se na toalha, descendo as escadas devagar com medo de escorregar. Chamou por Brad que logo estava na lá novamente.
— Do que precisa? — Perguntou secando as mãos no avental que utilizava.
— Será que você teria alguma roupa, desculpe o incomodo. — April deu um sorriso torto e Brad lhe deu um sorriso radiante, que a garota percebeu que era o forte dele.
— Claro, tenho algumas roupas que eram de minha irmã antes dela se mudar, ela provavelmente é mais velha que você, então eu não sei se servirão…
— Não há problema, desde que me cubram. — April deu pela primeira vez em muito tempo um sorriso verdadeiro, pois se Brad estava a lhe dar sorrisos radiantes e sinceros ela deveria o retribuir do mesmo jeito, certo?
Brad deu a April instruções de onde ficava o quarto e ela foi até lá pegando um vestido simples que lhe caiu bem. Ela sorriu e desceu as escadas enquanto penteava o cabelo com um pente que encontrara no quarto da garota. Quando chegou à cozinha da casa viu Brad cozinhando algo bastante cheiroso, April aproximou-se e parou de escovar os cabelos. Ela fez um ruído para chamar a atenção de Brad que imediatamente olhou para ela com mais um de seus sorrisos.
— Você ficou maravilhosa com esse vestido. — April corou com o comentário. Brad depositou as mãos nas bochechas dela e fez um carinho, April aproximou o rosto ao de Brad e depositou um beijo carinhoso nos lábios do jovem. Esse fora seu primeiro beijo. — Por que fez isso? — Brad estava confuso.
— É minha forma de lhe agradecer. — April corou novamente.
Um silêncio constrangedor se instalou no local, April imediatamente se afastou do rapaz e saiu do local indo para perto da porta de entrada.
Capítulo Quatro – Ceia de Natal
Após um longo tempo sentada na escada April ouviu passos, mas não teve coragem de olhar para cima, seu olhar estava totalmente centrado no chão, onde ela podia derramar algumas lágrimas. Não queria ter sido precipitada, ela apenas achou que fosse certo fazer o que fez, porém lhe pareceu que Brad não gostou nada de sua atitude. April estava tão presa em pensamentos que nem se deu conta de que Brad a chamava, apenas percebeu quando ele levantou o rosto dela.
— Por que choras? — Brad estava preocupado e chateado com o fato da garota estar chorando.
— Você não gostou que eu lhe beijasse? — A voz de April estava amargurada e para Brad era um tortura ouvi-la falar desse jeito.
— Não é isso, não mesmo. — Sorriu fraco. — Simplesmente não quero que se sinta obrigada a fazer coisas que não quer para me agradecer, como me beijar por exemplo. — Ele secou as lágrimas da garota.
— Não lhe beijei contra minha vontade nem porque me sentia obrigada, e sim porque senti que precisava. Eu queria muito. — Admitiu mais calma e um tanto envergonhada.
— Oh… — Brad não tinha outras palavras, seu coração bateu mais forte ao ouvir aquilo. Ambos sabiam que haviam se conhecido há pouquíssimo tempo, mas sentimentos fortes estavam os rondando. — Você ficará para a ceia?
— Sim. — April sorriu.
Eles se levantaram e foram para a cozinha, a mesa já estava posta e a o cheiro fazia o estômago de April urrar. Sentaram-se e Brad agiu como um cavalheiro á todo momento. Conversaram sobre alguns assuntos e até deram risada, esse estava sendo a melhor véspera de natal de todas na vida de ambos. Assim que terminaram Brad aproximou a mão da de April e a envolveu num toque nada mais do que carinhoso. Sorrisos estavam estampados em ambos os rostos.
— Esse é o melhor natal que já passei. — Admitiu April.
— Digo o mesmo.
Logo Brad lavou as vasilhas e eles sentaram-se na sala onde havia um relógio, fizeram a contagem regressiva para o natal.
— Cinco. — Começou Brad.
— Quatro. — Disse April em seguida.
— Três.
— Dois.
— Um. — Foi a vez de ambos dizerem e em seguida se beijaram.
O natal nunca fora tão bom. Essa foi a prova de que os milagres de natal acontecem, April queria apenas uma companhia para o natal e acabou achando uma companhia para qualquer outro momento, e Brad que estava a se sentir sozinho encontrou alguém que acabasse com a solidão.