Midgard
Escrito por Annie | Revisado por Mariana
Era um dia comum na minha vila, o ar cheirava a pão que o padeiro havia tirado do forno há poucos minutos, as carroças passavam pelas ruas carregando as pessoas mais ricas e o barulho do mercado (n/a: como a história se passa na época medieval, imagine como uma rua com varias “mini lojas”) era intenso, podia-se ouvi-lo da minha casa, onde eu estava esperando o filho do leiteiro vir buscar as garrafas que havia se esquecido de pegar hoje de manhãzinha. Minha mãe combinou com ele no mercado que poderia vir buscá-las mais tarde.
Foram somente duas leves batidas na porta, mas eu pude as escutar claramente. Andei até a porta da frente e a abri, me deparei com um garoto de pele , cabelos e incríveis olhos , parado em frente à porta.
- Senhor . – Disse eu fazendo a reverencia que era costume da época.
- Senhorita . – Respondeu ele dando uma leve reverencia com a cabeça, como um assentir.
- Creio que o senhor esteja aqui para pegar as garrafas que foram esquecidas mais cedo.
- Sim.
- Entre, vou pega-las na cozinha. – Disse eu indo em direção à cozinha e dando passagem para ele entrar.
- Não precisamos de tenta formalidade, .
Eu sorri. Estava de costas para ele, na porta da cozinha. Entrei na pequena cozinha dos meus pais e peguei as garrafas vazias e já lavadas, que antes transportavam leite, e as levei para a sala, onde ele estava sentado confortavelmente em uma das cadeiras. A sala, assim como a cozinha e todo o resto da casa, era pequena, mas aconchegante. Tinha quatro cadeiras enfileiradas de modo organizado formando o que você chamaria hoje de sofá, uma mesinha de centro de madeira que meu pai tinha feito dois anos antes de morrer, ou seja, dois anos atrás.
, ou o senhor , estava sentado na última cadeira do lado esquerdo, portanto me sentei na última carteira do lado direito, não ficava muito confortável perto dele, não importava o tempo que nos conhecíamos.
e eu brincávamos juntos quando crianças, já que seu pai e o meu pai eram amigos de infância.
Coloquei as garrafas em cima da mesinha e olhei para ele.
- Muito obrigado.
- Espero que seu pai não tenha te batido muito por ter esquecido-as.
- Ele fez, mas valeu à pena, pude te ver de dia. – Eu enrubesci.
- Sinto muito, não deve ter sido uma boa recompensa.
- Sua boba.
Um pequeno silêncio atravessou a sala, ficamos em silêncio pela falta de assunto, simplesmente não parecíamos nós, nunca ficávamos em silêncio quando estávamos juntos.
Eu levantei, peguei as garrafas e fui até a porta.
- Seu pai ficará com raiva se você se demorar para chegar, acho melhor ir.
- ... - Eu me virei e dei de cara com ele, não havia percebido que estava tão perto, muito menos ouvido o barulho de seus passos vindo até mim. – Acho que você não está entendendo.
- Não estou entendendo o quê? – Eu quase não respondi, estava muito perdida em seus lindos olhos .
- Eu deixei as garrafas de propósito, para poder te ver.
- Me ver? Mas por que... - Eu ia dizendo quando ele colocou um dedo em minha boca para me silenciar.
- Porque eu te amo. Da mesma maneira como eu costumava amar você, mas eu nunca percebia que o que eu realmente sentia era amor além do amor fraterno. Cada vez que sua mãe falava que iria te apresentar um pretendente, eu fervia de raiva... Foi então que eu percebi que eu não sou nada sem você. Então, por favor, se você não sente o mesmo por mim, peço que não me fale com jeito, pois você é o meu primeiro...
Não deixei ele terminar, puxei sua cabeça para mais perto de mim e encostei sua boca na minha. Quando ele afastou sua cabeça da minha eu disse:
- Eu também te amo, cabeça de minhoca.
Ele deu uma risada e puxou minha boca para mais um beijo.
***
Estávamos em minha cama, eu deitada em seu peito nu. Ele brincava com meus dedos que estavam entrelaçados nos seus.
- Eu não acredito que eu fiz isso. – Eu disse me culpando, sexo antes do casamento era uma blasfêmia.
- Nós logo vamos nos casar. – Ele disse parando de brincar com meus dedos e começando a passar a mão em minha cabeça.
- Isso é um pedido? – Perguntei levantando minha cabeça para que pudesse olhar em seus olhos.
- Você aceita?
Eu sorri e acenei com a cabeça. Alguns minutos se passaram até que eu falasse de novo:
- Minha mãe nunca vai permitir isso...
- Então vamos fugir. Eu e você. O que acha?
- É perfeito.
***
Uma hora depois de ter saído, minha mãe chega e começa a preparar outra fornada de tortas que ela costumava vender no mercado.
Eu e ela trabalhávamos como uma equipe, como sempre, eu colocava-as no forno e ajudava com a massa e ela fazia o recheio, pois só ela poderia fazer já que a receita só era passada para a menina quando ela casasse, tradição de família.
Estávamos na terceira fornada, quando escutamos uma batida na porta.
- Sim? – Disse minha mãe abrindo a porta e se deparando com um policial e ao seu lado o padre de nossa igreja.
- Aqui mora a Senhorita ? – Perguntou o policial.
- Ela é minha filha, pois não?
- Pode chamá-la aqui, senhora?
- !
Fui para o lado de minha mãe.
- Senhorita ? A senhorita está presa por bruxaria.
O choque invadiu meu corpo. Bruxaria era considerada um crime com pena de morte. Se o julgamento fosse realizado ainda teria uma mínima chance.
Os guardas me levaram até o porão da igreja, que era a nossa prisão já que o povoado era pequeno e pobre demais.
O padre, que havia me visto crescer, que fizera a missa de enterro do meu pai, me falou que meu julgamento seria ao entardecer.
***
Muito tempo se passou desde que eu havia sido presa, era o que eu pensava, pois poderia ter passado apenas alguns minutos que para mim seria uma eternidade. É estranho como o tempo passa, quando você faz algo que você gosta, como conversar com amigos, o tempo passa rápido, horas se transformam em segundos. Porém, quando você faz algo que não gosta ou fica esperando por algum tempo sem fazer nada, segundos se transformam em horas. O estranho mistério do tempo.
Pude saber que o entardecer havia chegado quando escutei os primeiros gritos da multidão. Muitos diziam que eu era uma bruxa, que tudo o que eu fazia tinha algo que estava mergulhado na bruxaria.
Os gritos continuavam e a minha aflição ia aumentando, logo chegariam ao veredicto.
O fim do julgamento havia chegado. Vieram me buscar, as cordas que estavam amarradas em meu pulso estavam fortes demais, mas eu não notava mais. Fui traída pelas pessoas que me viram crescer, pelas pessoas que me viram chorar pelo meu pai, pessoas que eu convivia todos os dias. Eu fui traída.
Quando alcançamos a porta que levava a praça principal eu pude ver o povo de Midgard, o povo que me condenara, todo reunido na praça principal. Quando cheguei ao alcance da visão deles, uivos de temor ou de triunfo. Vi minha mãe chorando ao lado da fogueira na qual eu veria o mundo pela última vez.
- Vocês estão cometendo um erro! Minha filha não tem nada com bruxaria! Vocês a viram crescer! – Minha mãe gritava com suas últimas tentativas. Mas nada adiantaria, eles iriam queimar alguém naquela fogueira hoje. Esse alguém seria eu.
Fui colocada entre as madeiras com os pulsos amarrados.
Não vi , não sei porque não veio, mas acho que foi melhor assim, os nosso últimos momentos juntos foram perfeitos, não poderia estragá-los com aquilo.
Quando o fogo foi aceso e o calor me rodeou, pensei em sobre o que as pessoas diziam sobre na hora de sua morte, sua vida inteira passa em frente aos seus olhos. Se isso fosse verdade, coisa que eu esperava que fosse, eu morreria feliz. Tive uma vida feliz, não me arrependo das coisas que fiz, elas só fazem o que eu sou hoje.
Por fim, pensei em meu pai, se veria ele. Estaria ele feliz por me ver? Ele estava me observando todo esse tempo, assim como as pessoas me diziam?
Quando o fogo me rodeou por completo, eu estava em paz.
FIM
Sinto muito! Eu arruinei o fim! Eu não sabia o que fazer, apesar de já saber a história do inicio ao fim. Eu não sabia como colocar o desespero, a raiva e por fim a aceitação do destino da PP. Enfim, espero que vocês tenham gostado, apesar do fim. Beijos.