MICROCOSM

Escrito por Li Santos | Editado por Lelen

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Prólogo

Echoes

   Ito, 30 anos. Mais conhecida como .
  A jovem moça está extremamente atarefada, mas ainda assim ansiosa para o grande dia que logo chegará. Em seu quarto, a moça finaliza mais um trabalho para a revista que trabalha.
  No quarto ao lado, seu irmão Ichiro, ouve música muito alto. É o mesmo som que a moça gosta de ouvir, porém não quando precisa de concentração.
  — Ichiro! — diz ela, já parada à porta do quarto do irmão. O garoto assustou-se e quase caiu da cama.
  — Desculpe-me, onee-chan*! Vou abaixar o som. — diz ele com um sorriso sem graça. O jovem tem dez anos a menos que a irmã.
  — Obrigada, meu amor — carinhosa e estica a cabeça para olhar o que o irmão mexia em seu computador. — Desenho novo? — Ichiro é muito talentoso para desenhar. O sonho do jovem é desenhar animes famosos.
  — Sim! Mas ainda não está pronto, onee-chan, não veja agora — após abaixar o volume, Ichiro volta correndo ao computador e cobre a tela com o corpo.
  — Não seja bobo, Ichi, seus desenhos são incríveis. Deveria confiar mais em si mesmo — senta-se na cama do irmão e sorri para ele.
  — , você acha que eu devo tentar aquela vaga? — ele refere-se à proposta de trabalho que um amigo de ofereceu ao jovem Ichiro.
  — Claro! — responde ela, prontamente.
  A vaga é para trabalhar em uma grande produtora de animes. Ichiro não sabe se é talentoso o suficiente para trabalhar lá e ainda não deu uma resposta. O chefe de produção só deu esse tempo ao garoto, pois é amigo de . A moça é publicitária e conhece muita gente nesse ramo. Sempre encorajou o irmão a seguir carreira em algo que ele goste e ela sabe que o garoto ama desenhar animes. É a grande motivação de Ichiro.
  — Acho que vou dizer sim, então — Ichiro diz sem jeito.
  — Nada de achismo, Ichi! Você vai dizer sim e pronto! — encoraja ela e segura a mão do irmão — Você é capaz, meu irmão!
  — Obrigado, onee-chan! — ele sorri, um pouco mais cheio de coragem e se lembra de algo, de repente — É sábado, onee-chan!
  — O que? — perguntou, sem entender.
  — Flow tocará sábado aqui na cidade!
  É verdade. O grande dia que tanto esperava era justamente o sábado e justamente por causa do show da Flow, que tocará pela primeira vez na cidade deles, no interior do país. é fã da banda desde que eles começaram, praticamente. Conhece todas as músicas, singles, clipes, já viu todos os programas de TV que eles participaram e acompanha diariamente os rapazes nas redes sociais. Porém, nunca foi a um show da banda, por diversos motivos. Escola, faculdade, trabalho, dinheiro, tempo. Porém, dessa vez será diferente. Logo que saiu a lista de cidades da nova turnê, viu que sua cidade estava lá e tratou logo de comprar ingressos para ela e o irmão que também é fã da banda graças a ela.
   mal pode esperar por esse show!


  *Onee-chan - forma carinhosa de chamar a irmã mais velha. Nome original: oneesan.


   , 32 anos. Mais conhecido como .
  O rapaz está muito atarefado, porém ansioso para o show que fará em breve. é integrante da banda Flow, é o guitarrista da banda. Ele está em sua casa, afinando sua guitarra, quando é surpreendido por uma ligação de seu irmão mais velho.
  — Fala, -san**! — brinca ao atender a chamada.
  — Nem vou responder… — a grave voz de soa impaciente, como sempre, aos ouvidos de que ri ao perceber o desconforto do irmão — Recebeu a mensagem que te mandei?
  — Hm… espera — abre a mensagem, não tinha visto, pois estava ocupado demais para dar atenção às mensagens do irmão. — Agora vi. Vamos amanhã, então?
  — Sim. Vamos te buscar às 7h, não se atrase, está bem?
  — Tudo bem — responde e despediu-se do irmão.
  A viagem para o grande show no qual está tão empolgado foi antecipada para amanhã. O rapaz está empolgado, pois será a primeira vez da banda nesta cidade e ele sempre quis tocar lá. Será incrível, disso ele tem certeza. A noite de hoje será longa para ele, mal conseguirá dormir.
   mal pode esperar por esse show!


**San - usado com pessoas mais velhas que você (mesmo que seja um dia de diferença), como se fosse "senhor/senhora".

"Olha! Eu terminei correndo com todas as minhas forças, esperando no local onde suas lágrimas foram deixadas para trás.
Para onde você acredita em mim, calor é como o fogo.
Está chamando por você mesmo.”
CALLING, FLOW

Calling

Capítulo 1 - Força, maninho!

  Janeiro de 2010
   Ito desperta para mais um dia de trabalho. Faz um lindo dia na cidade. Dormir tem sido difícil após a descoberta do show da Flow, é muito fã da banda, assim como seu irmão, o Ichiro.
  — Ichi! — chama , batendo à porta do quarto do garoto. — Ichi, você vai se atrasar para a entrevista! — alerta ela e, logo depois, ouve o barulho surdo de algo batendo no chão. Ri, pois sabe que seu irmão acaba de acordar.
  — Já estou indo, estou quase pronto, onee-chan! — ele grita de volta.
   sabe que ele passou a noite acordado desenhando e que possivelmente esqueceu-se da entrevista que a irmã conseguiu para ele numa produtora de animes e mangás.
  O que o garoto tem de talentoso, tem de inseguro. Acha que não conseguiria ser um grande desenhista. A opinião de sua irmã é bem diferente, tem plena certeza da capacidade do irmão e foi visando isso que a moça o indicou ao seu amigo que é chefe de produção.
  A moça pegou sua mochila com o notebook e sua bolsa e desceu caminhando até a cozinha. Sua mãe finaliza o café da manhã reforçado.
  — Hm… isso tudo é para o Ichi? — questiona ao entrar no cômodo e sentir o cheiro delicioso de frango frito. — Nossa, que recepção para seu filho favorito! — brincou ela.
  — Quando você foi para seu primeiro dia na revista, eu fiz ovos fritos. — diz a sra. Ito, rindo do ciúme da filha mais velha.
  — ovos fritos? Está sem moral com sua mãe, filha! — o sr. Ito entra na cozinha, sorridente. Caminha até a esposa e lhe dá um beijo de “bom dia”, faz o mesmo com a filha. — Seu irmão está mais “bem na fita”.
  — Que tipo de expressão é essa, papai? — questiona, rindo da modernidade do pai.
  — Sou uma pessoa jovem, — responde ele, com naturalidade.
  — Hm, estou vendo.
  — Bom dia! — diz Ichiro, afobado e ofegante. Durante a fala do sr. Ito, ouviu barulhos vindos do quarto de seu irmão, que fica bem acima da cozinha.
  — Bom dia, filho! — diz o sr. Ito. — Vai ganhar café da manhã especial de sua mãe hoje.
  — Ah, que bom! Obrigado, mamãe! — agradeceu o garoto, sorridente e sem jeito.
  — Caiu da cama, irmãozinho? — zomba , assim que o irmão se senta ao lado dela. O garoto olha de esguelha para irmã e ela ri da reação dele.
  — Filho… — diz a sra. Ito, quebrando a tensão entre os irmãos. — Onde é a entrevista que fará hoje? — questiona ela levando consigo a travessa cheia de asas de frango fritas.
  — Numa produtora de animes, mamãe! A onee-chan que conseguiu para mim — ele diz com um sorriso tímido.
  — Ah, que bom filho! Boa sorte e dê o seu melhor, está bem! — a mulher sentou-se à mesa e começou a servir o café da manhã.
  — Obrigado, mamãe!
  Ichiro está nervoso, mais do que em qualquer outro dia em sua vida. Após o café da manhã, ele volta para o andar de cima para escovar os dentes. Ao descer novamente até a sala, encontra sua irmã o aguardando. A moça lhe entregou o capacete reserva, o garoto catou o objeto e eles se despediram de seus pais.
  — Vamos? — pergunta , após dar “tchau” para os pais, que ainda se ajeitavam antes de saírem para seus trabalhos.
  — Sim… maninha? — Ichiro a chama, o encara, ansiosa.
  — Diga, Ichi.
  — Estou ansioso, com dor de barriga, minha cabeça vai doer, tenho certeza… E se eu…
  — Hey! — caminha até o irmão e segura o rosto dela. — Você vai conseguir! Confia em você, meu amor!

  O irmão de tem essa insegurança e falta de confiança em si mesmo desde criança. e seus pais sempre o incentivaram a fazer o que gosta, mas na escola, Ichiro sofreu muito bullying por ser introvertido e sempre andar pela escola com um caderno em mãos, desenhando tudo à sua volta. acha que vem daí a insegurança do irmão.
  Os irmãos subiram na moto, pilotada pela mais velha, devidamente protegidos com capacetes e partiram. Primeiro, deixará Ichiro na empresa de seu amigo, Hayato Yoshida, chefe de produção da produtora de animes e mangás mais famosa da cidade. Depois, irá para seu emprego, a revista onde é responsável pelo setor de marketing.
  No caminho, foi fechada por uma van que tem os vidros fumê muito escuros. Quase que perde o controle da moto.
  — Hey!!! — berra ela muito irritada e acelerou a moto para alcançar a van. O caminho tem poucos carros, não havia necessidade dessa “fechada” que ela levou.
  — Vai devagar, onee-chan! — grita Ichiro que está agarrado às costas da irmã. Ele sabe que perde o controle no trânsito quando acontece algo assim. Ele sempre fica apavorado da irmã se descontrolar ao nível de fazer uma besteira.
  — Hey, está cego?! — ignorando o pedido do irmão, berra na direção do vidro da van. Nenhum ocupante pareceu se importar e simplesmente entraram no caminho de um grande hotel. — Filho da mãe! — resmunga ela.
  — ! — Ichiro aperta a barriga dela que o olha pelo espelho da moto.
  — Me desculpa, Ichi! Vamos, estamos atrasados!
  Voltando a se concentrar em levar o irmão em segurança, voltou sua atenção ao trânsito. Não tardou a chegarem ao destino inicial.
  — Você também vai subir? — questiona Ichiro ao ver a irmã tirar o capacete e descer da moto.
  — Sim! Aproveito para falar com o Hayato-kun e pedir desculpas pelo atraso. — respondeu ela, enquanto caminhavam até a recepção do prédio.
  — Não vai paquerar ele não, né? — diz Ichiro, desconfiado.
  — Me respeita, garoto! — ambos riem — Vou apenas falar com meu amigo, não posso?
  — Claro que pode — diz Ichiro e completa: — Só não paquere ele na minha frente, é nojento onee-chan! Ver minha irmã com um ar apaixonado, eca! — revela ele com a cara amarrada.
  — Não seja ciumento, Ichiro! Algum dia irei me casar, sabia? — rebate ela, rindo.
  — Sim, mas eu só aceito se for aquele cara que te falei… — ele diz, divertido, sabendo que a irmã fica envergonhada com esse assunto.
  — Ah, Ichi, para! Como se fosse possível… — responde ela, rubra feito um tomate maduro. Ichiro ri da reação da irmã. Ele sempre disse que só aceitaria um casamento da irmã com um de seus grandes ídolos. Qual é? Bom, isso veremos depois. — Bom dia, viemos falar com o Hayato Yoshida, por favor. — diz para a recepcionista. — e Ichiro Ito.
  — O sr. Yoshida os aguarda. Podem subir até o quinto andar, por favor.
  Agradecidos à gentileza da recepcionista, os irmãos Ito seguem a indicação dela e pegam o elevador até o quinto andar. Ichiro pareceu se lembrar do que faria ali e voltou a demonstrar nervosismo. percebe e segura a mão dele, puxa o irmão para si e o abraça.
  — ! Estamos na rua, não faz isso! — envergonhado, Ichiro fica muito vermelho. O garoto tem essa mesma reação aos abraços repentinos da irmã em público.
  No quinto andar, Ichiro e se apresentam para a secretária do amigo dela e aguardam, sentados no sofá. Logo, a presença imponente de Hayato Yoshida preenche a sala.
  — -chan! Que bom que veio também! Por favor, entrem irmãos Ito! — diz o homem com excelente humor. O fato logo foi notado por que olhou de esguelha para o irmão transmitindo o recado. — Fiquem à vontade, sentem-se.
  A espaçosa e confortável sala do homem era aconchegante. Assim como todos os outros andares da empresa, as paredes da sala são decoradas com os trabalhos feitos pelos desenhistas, os mais famosos mangás lançados. Tudo sem a coloração, mas ainda assim muito bonitos.
  — Como vai, Hayato-kun? — está com um sorriso enorme no rosto. Ichiro revira o olhar a cada elogio vindo de ambas as partes.
  — Melhor agora que estou em tua presença — diz ele, galanteador.
  — Ah, Hayato-kun, sempre tentando me seduzir com seu charme — diz com um risinho sem graça.
   e Hayato se conheceram na faculdade. Desde o primeiro dia, Hayato tenta conquistar o coração de , mas a moça nunca deu muita margem para romance entre os dois. Somente uma vez, durante a formatura da faculdade de Marketing, anos atrás, ao se despedir do rapaz, acabou o beijando na boca, mas logo se arrependeu do ato. Definitivamente, o sentimento que tem pelo homem é apenas amizade. Já o de Hayato…
  — Obrigada pela oportunidade para meu irmão — continua ela, sem jeito.
  — Por nada, minha querida. Sabe que seu pedido para mim é sempre uma ordem a se cumprir — diz o homem com um sorriso muito bonito. Cansado, Ichiro finge tossir e o clima de galanteio acaba. — Me diga, Ichiro, já teve alguma experiência como desenhista?
  — Não, mas eu desenho para projetos pessoais. Gostaria muito de uma oportunidade, por favor, sr. Yoshida — responde Ichiro, tímido, mas convincente.
  — Hm, ótimo. Vamos fazer assim: vou pedir à minha secretária para te levar ao setor de criação e lá você irá criar uma história do zero, o mais completa possível, pode ser em preto em branco — explica Hayato e completa: — Você terá duas horas, se os responsáveis por lá disserem que você tem futuro, está contratado. Que tal? — finaliza ele, olhando de um irmão para o outro, aguardando pela resposta.
  — Acho ótimo, sr. Yoshida! Obrigado! — Ichiro faz um gesto simples de agradecimento e sorri.
  — Que bom, vou chamá-la para te acompanhar e te apresentar aos rapazes da criação. — Hayato tira o telefone do gancho e dá ordem à secretária. — -chan, me acompanha no chá? — o modo galanteador de Hayato volta, assim que ele desliga a ligação com sua secretária.
  — Não posso, Hayato-kun, tenho trabalho agora — lamenta-se ela. — Outro dia combinamos melhor.
  — Vou te ligar mais tarde — diz Hayato.
  A secretária de Hayato leva Ichiro para o setor de criação enquanto despedia-se de Hayato. Ichiro teve quase certeza de que o homem estava dando em cima da irmã e agradeceu mentalmente por não estar por perto para ver a cena completa.

[🌠]

  — ! Já comprou ingresso para o show da Flow amanhã?
  Uma das colegas de trabalho de , e sua melhor amiga, Inoue, que também é fã do Flow. A moça é uma das publicitárias da equipe junto com a .
  — Sim! Meu e de meu irmão! Pena que você não poderá ir, — lamenta ela.
  — Maldita promessa que fiz aos meus pais!
  — Se não for visitá-los, eles te deserdam! — brincou o outro amigo delas e também publicitário, Hiroki Tanaka.
  — Eu sei, Hiroki-kun! Não precisa me lembrar — resmungou de mau humor.
  — Como o Ichiro foi na entrevista, ? — pergunta Hiroki, curioso, ao sentar-se em frente à sua mesa que fica ao lado da de e em frente à de ,
  — Ainda não sei. Quando saí de lá, Hayato tinha passado um teste para ele. — diz ela.
  — Hayato ainda dá em cima de você? — brinca Hiroki.
  — Ah, muito. Ele realmente não desiste — diz com um sorriso sem graça e completa: — Bom, espero que o Ichi não fique nervoso demais.
  — Ele ainda tem crises? — Hiroki fala com um tom preocupado.
  — Sim, sempre que tem um pico de estresse.
  Ichiro tem enxaqueca desde os 15 anos. O médico que acompanha o garoto disse que ele não deve se estressar ou comer determinados alimentos em excesso, pois esses fatores podem desencadear uma crise de enxaqueca. Normalmente, ele tem sintomas leves, dores leves de cabeça e, às vezes, tontura. Mas, quando há uma crise forte, ele chega a ter dores latejantes na cabeça, náusea, tontura e até desmaios. Para o alívio de e de seus pais, esse tipo de crise grave ocorreu apenas duas vezes desde que foi diagnosticado.
  — Espero que ele fique bem e que consiga o emprego — deseja Hiroki e sorri para a amiga. — Ichiro merece. Ele é bem esforçado.
  — Também espero, obrigada pelo apoio, Hiroki-kun.
  O sorriso de é a imagem mais linda e perfeita que Hiroki gosta de ver. Se pudesse, o rapaz certamente o molduraria. Mas, queria mesmo era ter a moça como sua namorada. Infelizmente, ele não era correspondido.
  Não quer dizer que ele desista de viver esse amor.

[🌠]

   chega em casa, após o dia exaustivo de trabalho na revista. Cumprimentou a mãe e o pai que estavam na sala.
  — Logo o jantar estará pronto, querida — diz a sra. Ito para a filha.
   sobe para seu quarto e se joga na cama junto com sua mochila e bolsa. Está exausta. Ichiro parou na porta do quarto da irmã e sorri ao ver o estado dela.
  — Onee-chan… — chamou ele, carinhoso. virou o corpo para encarar o irmão.
  — Oi, meu amor, vem cá — ela o chama e joga a bolsa e mochila no chão. — Deita aqui — aponta para o espaço na cama ao lado dela. — Como foi com o Hayato?
  — Muito bom! — responde ele e se deita ao lado dela. Ambos encaram o teto, suspirando. — Começo no trabalho na segunda! — hoje é sexta-feira.
  — Excelente, Ichi! Parabéns, meu amor, estou tão orgulhosa de você! — abraça o irmão e lhe dá vários beijos no rosto, o garoto nem se importou.
  — Obrigado, onee-chan — diz ele com um sorrisinho orgulhoso no rosto. — Ah, maninha! Adivinha quem encontrei hoje?
  — A Harumi-chan?
  Harumi Tanaka é irmã mais nova do Hiroki. Ichiro se envergonha toda vez que falam dela na frente dele, ele gosta da garota, mas nunca teve coragem de se declarar, apesar da irmã sempre o incentivar a fazer isso.
  — Não, onee-chan, esqueça a Harumi! — ele diz, envergonhado — Encontrei os caras da Flow! — a menção desse nome fez se arrepiar e o sorriso debochado que ela tinha, sumiu.
  — Como assim?
  — Após ser dispensado pelo sr. Yoshida, eu estava voltando para casa e passei pelo hotel que vimos aquela van estacionar hoje cedo, lembra?
  — Sim.
  — Então, eles estavam embarcando na mesma van! Mas eu não consegui falar com eles — completou ele, decepcionado.
  — Meu Deus, nós esbarramos na van da Flow!
  — Sim! — empolgados, os irmãos conversaram mais sobre o evento que Ichiro presenciou e sobre o show do dia seguinte.
  — Meninos! O jantar está pronto, venham comer! — a voz da mãe deles ecoou pelo quarto.
  — Já vamos, mamãe! — gritou e levanta-se. Ao se levantar, Ichiro sente tontura e volta a se deitar. — Ichi! Está tudo bem?
  — Estou um pouco tonto, mas já vai passar — ofegante, o garoto responde. senta-se ao lado dele e afaga os cabelos do irmão.
  — Se você não estiver bem amanhã, nós não vamos ao show e não me minta para mim, Ichiro. Eu conheço você! — determina ela.
  — Não, onee-chan! — reclama Ichiro, manhoso. — Amanhã estarei melhor. Não conta para nossos pais, por favor! — o encara, os olhos castanhos do garoto a encarando. Suspira e diz:
  — Está bem, mas se você estiver mal amanhã…
  — Ok. Eu vou melhorar, prometo me cuidar, maninha! — Ichiro diz com um sorrisinho cansado no rosto.
  — Seu bobo! Precisa se cuidar mais.
  Desde que descobriu o problema de enxaqueca do irmão, que o mima ainda mais. Sempre que o garoto tem mal-estar, ela deixa que ele deite em seu colo e afaga os cabelos dele até que a dor passe. As crises dele duram, normalmente, entre quatro e seis horas.
  Já mais disposto, Ichiro consegue se levantar sem sentir-se tonto e os irmãos descem até a cozinha para jantar. Antes, recebeu a ligação que lhe foi prometida naquela manhã. Ichiro nem quis estar por perto nessa hora.

Capítulo 2 - É hora do show, bebê!

  A noite anterior teve muitos acontecimentos. Os principais foram:  o Ichiro passando mal e a recebendo a ligação do Hayato.
  Enquanto o irmão tomava banho, voltou para seu quarto, após o jantar e, enquanto mexia no texto da matéria capa do site para o qual trabalha, recebeu a ligação do Hayato.
  Como sempre, o rapaz não perdeu a oportunidade de jogar seu charme para a amiga por quem nutre um sentimento antigo e muito sincero. Lembrou, durante a ligação, dos momentos juntos que passaram na faculdade, as festas, trabalhos juntos, seminários, a loucura com o trabalho final e a formatura. Esse último evento lembrado com tanto carinho por ele. Já por ela, prefere que seja deixado no passado.
  Tentando mudar de assunto, o convida para jantar no domingo. Os pais da gostam do Hayato e certamente ficarão felizes com a presença do rapaz em sua casa.
  Após a ligação com Hayato ser finalizada, foi para o quarto do irmão ver como ele estava. Ainda com dor de cabeça e muito manhoso, Ichiro pediu para a irmã ficar com ele até que ele adormecesse. O garoto estava ansioso em encontrar com seus ídolos pela primeira vez no dia seguinte. Ele adormeceu rápido, já sua irmã…
  A manhã de sábado chegou e finalmente o show da Flow em Yokohama, cidade onde os irmãos vivem, acontecerá essa tarde. mal dormiu durante a noite preocupada com Ichiro que adormeceu feito um bebezinho no colo da irmã que afagava seus cabelos.
  — Bom dia, onee-chan! — diz o jovem Ichiro ao parar na porta do quarto da irmã. — Hoje é dia de Flow! Levanta! — completa ele, empolgado.
  — Vem cá, seu barulhento! — chama ela, que rolou na cama, os cabelos desgrenhados e o rosto cansado pela falta de sono. — Você está melhor, meu amor? — questiona ela, carinhosa e afaga os cabelos do jovem que deita na cama ao lado dela.
  — Estou sim, maninha — responde ele, sorridente. — Vamos ver o show deles de qualquer jeito! Vamos, vai se arrumar, porque eles são a terceira banda e eu quero grade! — conclui ele e bagunça ainda mais os cabelos da irmã que lhe joga uma almofada nele.
   levanta, após uma longa espreguiçada, da cama e vai ao banheiro tomar banho. Prepara a banheira e entra na água morna para relaxar um pouco. Não pode negar seu nervosismo em encontrar os integrantes da Flow, em onze anos que é fã da banda, é a primeira vez que os encontrará. Claro que ela já foi em outros shows, mas nunca com a oportunidade de encontrá-los no camarim. O ingresso que comprou para si e para o irmão lhe dá esse direito.

[🌠]

  — !!! — a voz de Ichiro preencheu cada centímetro da casa.  — Anda logo! Ainda temos que passar na loja para pegar minha camisa — a camisa comemorativa para esse show.
  Ichiro está nervoso e já andou por toda a sala, o que tirou o sr. Ito do sério enquanto tentava ler seu jornal em paz. Quando viu a movimentação na escada, comemorou.
  — Finalmente vai descer! Só assim para esse garoto sossegar — comentou o sr. Ito com a esposa que está ao seu lado no sofá mexendo no notebook.
  — Dá um desconto para ele, querido — comenta a mulher sem olhar para o marido —, é o primeiro show dele, vai estar com a irmã, ele está ansioso. É normal — conclui ela com um sorriso calmo no rosto.
  — Mais um minuto dessa ansiedade dele e quem vai surtar serei eu — comenta de volta e ri da própria frase.
  — ONEE-CHAN!! — berra Ichiro, de repente, assustando seus pais.
  — Ichiro! — grita o sr. Ito, irritado.
  — Desculpe-me, papai — o garoto curva-se brevemente para os pais em sinal de desculpas.
  — Que escândalo, Ichiro! — diz ao descer as escadas. O olhar do jovem se voltou para ela.
  — Que demora, ! Vamos logo, vamos acabar perdendo o metrô.
  Alerta ele colocando o celular de volta no bolso da calça após olhar as horas. Ichiro se arrumou todo para o show, além da calça jeans preta, uma camisa de manga comprida, um casaco preto com o símbolo da Flow estampado, tênis confortável e os cabelos bem penteados com sua habitual franja cobrindo as sobrancelhas. Esse é o look de Ichiro para o show de hoje.
  — Não se preocupe, Ichi. Já tenho tudo sob controle — diz ela.
   exibe seu look para o show: sapatos confortáveis, calça skinny preta, regata branca estampada com uma frase de uma das músicas da Flow, casaco igual do irmão, maquiagem leve e os cabelos presos para o alto deixando somente sua franja por cima da testa.
  — Hayato vem nos buscar — completou ela sentando-se na poltrona perto da mesa de centro.
  — O Hayato!?  — a expressão de reprovação no rosto do jovem Ichiro indica seu descontentamento com a notícia inesperada.
  — Sim! Ontem eu comentei sobre o show e ele disse que iria nos levar e talvez fique para ver o show — diz ela, naturalmente.
  — Onee-chan!! - Ichiro está magoado, pois quer ver o show com a irmã. Porém, ele não quis falar esse detalhe.
  — O que foi, Ichi? — questiona ela sem entender o porquê do irmão estar tão chateado.
  — Nada — ele fala de qualquer jeito e completa: — Que horas ele vem? Meia-noite? — zomba ele. suspira longamente. De repente, todos ouvem o barulho de uma buzina de carro.
  — Acabou de chegar! — diz com um sorriso vitorioso no rosto e se levanta para atender a porta.
  Hayato, com todo seu charme, arranca sorrisos e apertos de mão dos pais de . Ichiro apenas suspirava irritado e revirava o olhar, descontente.
  Após saírem da casa dos Ito, Hayato fez o possível para conquistar a atenção de Ichiro que fez questão de deixar no ar que a presença dele não era tão grata. Hayato sabe diferenciar seu funcionário do irmão da moça por quem é apaixonado e pareceu não se importar tanto com o silêncio de Ichiro.
  Será uma longa tarde para Hayato…

[🌠]

  — Você é impossível, Ichiro! — bradou , os irmãos já estão no local do show, uma grande arena da cidade. — Sua manha e birra fizeram o Hayato ir embora! — inventando uma desculpa qualquer, Hayato foi embora para a total felicidade do jovem Ichiro.
  — É bom que aproveitamos melhor o show — diz ele displicente e com um sorriso debochado.
  — Você não tem jeito, assim a Harumi-chan não irá te querer — provoca ela e recebe um olhar surpreso e envergonhado do irmão.
  — Hey! — ela ri da reação dele e lhe aperta as bochechas.
  — Tão fofo meu irmãozinho tem uma crush!
  — Para, !! Ou eu vou dizer agora mesmo por quem você tem um crush há anos… — ameaçou ele.
   paralisa e se cala. Sorrindo, Ichiro vê a irmã em suas mãos. tem um crush em um dos integrantes do Flow, só o irmão sabe quem é. Um dia desses ele descobriu por acaso ao entrar no quarto da irmã e ver um texto apaixonado que ela escreveu para o crush. morre de vergonha por ter 30 anos e ainda nutrir um crush por seu ídolo, mas ela não consegue evitar esse sentimento.
  — Cala a boca, Ichiro! — brada , irritada e com vergonha da colocação do irmão.
  — Não se preocupe, onee-chan — diz ele com um sorriso vitorioso —, quando estivermos no camarim, eu não irei contar a ele que você o ama desde adolescente — ele ri e sai correndo, pois sua irmã começa a persegui-lo tentando bater nele.
  Após a caçada ao irmão ser finalizada quando o alcança e lhe dá bons cascudos, Ichiro e vão para a catraca principal do evento. Em breve veriam seus ídolos de perto.
  A ansiedade é grande.

[🌠]

   ouve música com seus headphones no máximo, mantém os olhos fechados desde que deitou no sofá azul-marinho do camarim.
  O Festival em Yokohama finalmente está acontecendo e mal via a hora. Yokohama é uma das cidades em que a Flow demorou para voltar. Sempre que vão à cidade, os rapazes se sentem acolhidos com o calor do público. É diferente, eles não sabem explicar, mas a sensação do calor do público é diferente.
  Os pés de , que estão cruzados um por cima do outro, repousados no “braço” do sofá, foram jogados bruscamente para o lado, o que quase o fez cair no chão. Indignado, abriu os olhos, esperou avistar a figura de seu irmão mais velho, mas foi a de que viu.
  — ! — exclama num tom indignado. o olha de canto e ri.
  — Você é muito espaçoso, — defende-se o rapaz e dá uma mordida em seu sanduíche.
  — Folgado — reclama , sentando-se normalmente ao seu lado.
  — — ouve-se a voz estridente e grave de . — !!! — o homem revira o olhar e encara o irmão mais velho que vinha caminhando, nervoso, em sua direção após invadir o camarim.
  — Você é surdo, ? Pare de gritar! — rebate , calmamente. lhe dá um tapa muito forte no topo da cabeça. — Hey! — reclama ele mais uma vez e põe a mão na nuca.
  — Já te disse para não pegar as minhas coisas! Da próxima vez, eu irei me zangar feio com você — após dar o recado, sai e deixa atônito e rindo.
  — O que eu fiz agora?!
  Essa é a frase que o mais diz, desde criança.
   é muito sério e metódico com as coisas que lhe pertencem. Organizado e cuidadoso, o rapaz não gosta de emprestar nada a ninguém, principalmente ao irmão.
  Já é o oposto do irmão. Despreocupado e bagunceiro, o rapaz normalmente só tem cuidados excessivos com suas guitarras e seu computador. De resto, ele mal liga se quebrar.
   ainda ria da cara de surpresa que o amigo faz. voltou a se concentrar na música que ainda toca em seus headphones. Fecha novamente os olhos e encosta o corpo no sofá, relaxando.
  Minutos depois, o assistente de produção avisa que logo a Flow subirá ao palco. Acordado de seu breve cochilo, se prepara para o show tão esperado por eles. Deixou seus headphones no sofá do camarim e caminha em direção à porta logo atrás de , foi o último da banda a sair.
  Antes de entrarem no palco, eles costumam se abraçar, formando um círculo, e dizem algumas palavras de incentivo. O porta-voz da vez foi .
  — Vamos lá! Esperamos muito por esse show em Yokohama, então vamos dar o nosso melhor, ok?! Vamos, Flow!
  Com um grito eufórico todos vibram e desfazem o abraço, ajeitando os fones que usam no ouvido e aguardando o sinal para entrarem.
  O sinal veio, eles adentraram ao palco e uma explosão de gritos quase ensurdeceu eles. Não contiveram o sorriso de alegria.

[🌠]

  Ichiro está muito emocionado com a entrada da Flow no palco. Quando ainda estavam em casa, ele e sua irmã conversaram sobre este momento. O garoto disse que não iria chorar, já assegurou algumas lágrimas. Agora, que a Flow está no palco, os papéis dos irmãos foram invertidos.
  Tentando segurar as lágrimas e vibrar com o som que tanto almejava ouvir ao vivo, o irmão de se concentrou em cantar as músicas que ele sabe de cor.
  Está quase na metade do show e Ichiro começa a notar alguns olhares significativos do para sua irmã.
  — Maninha — chama o garoto, cutucando a irmã —, o -san está te olhando, olha lá! — vira seu olhar para o rapaz e o flagra encarando-a, assim que a viu o observando, sorri. — Ih, tá até sorrindo. Parabéns, mana! Conquistou o -san!
  — Cala essa boca, Ichiro! Ele não está me encarando, foi coincidência, apenas — diz ela e dá um cascudo de leve na cabeça do irmão. — Presta atenção no show!
  Ichiro continua rindo e, em seu interior, sabe que o está sim dando em cima da irmã. Durante essa quase uma hora de show, faz várias dancinhas e canta alguns trechos olhando para , diretamente para ela. Ichiro logo notou, pois é seu maior ídolo na banda, alguém em que se espelha muito, foi fácil para o garoto perceber os olhares do ídolo para sua irmã. Incrivelmente, ele não se sente incomodado com isso.
   faz um discurso lindo sobre perdas e reconquistas, todos sabem que tal discurso precede à música que, para Ichiro, é a mais bonita da banda. As primeiras notas dadas por juntamente com a primeira frase cantada por confirmaram a suspeita do jovem Ito, que não segurou a emoção.
  Distraída, vendo o cantar tão lindamente uma de suas canções favoritas, e tão emocionada quanto, não vê o choro do irmão. Só se dá conta quando ele se debruça sobre ela.
  — Ichi?! — diz ela em seu ouvido. O garoto continua chorando. — Você se lembrou dela, não foi? — foi a mesma lembrança imediata e inevitável que também teve.
  — Obaa-chan!!! — o grito abafado de Ichiro foi ouvido só pela irmã. Ela sentia a mesma dor que ele.


  *Obaa-chan: termo carinhoso para se referir à avó.


  A avó materna dos irmãos Ito havia falecido há pouco mais de dois anos, mas a dor da partida dela ainda era viva e tão recente quanto foi à época. Os soluços do jovem Ichiro eram abafados pelo som alto e pelo corpo da irmã que o abraçava a afagava seus cabelos carinhosamente.
  Do palco, a cena não pôde deixar de ser notada pela banda que, com exceção do Iwasaki que está na bateria ao fundo do palco, observa com atenção enquanto continuam a música.
  “Parece um bicho-preguiça agarrado numa árvore…”
  O pensamento cômico passou pela mente de que segurou o riso. O rapaz julgou que os dois fãs que se abraçam são um casal apaixonado, a julgar preliminarmente pela forma fofa como se tratam.
  Da plateia, mais precisamente na grade que separa o público do palco, Ichiro havia se acalmado, mas sua cabeça doía e ele se odiou por não ter segurado o choro. Continuou abraçado à irmã, um pouco de lado, e encostou a cabeça no ombro esquerdo dela que ainda lhe fazia cafuné.
  Cerca de cinco músicas vibrantes depois, Ichiro mantinha a mesma posição e isso preocupou .
  — Ichi, você está bem? — questiona ela bem próximo de seu ouvido e deposita um beijo na nuca dele. vê a cena e confirma mentalmente que se trata de um casal. Fica um pouco mais triste e continua tocando sua guitarra.
  — Onee-chan… — a voz baixinha de Ichiro mal foi ouvida por , ela levanta o rosto do irmão e nota sua quentura.
  — Hey, Ichi?! — olha fixamente nos olhos do irmão que mal conseguia mantê-los abertos.
  — Estou tonto, onee-chan — ela consegue ler os lábios do irmão e arregala os olhos assustada. Olha para frente, jurou ter visto um bombeiro passar por ali.
  — Hey! — com o irmão escorado em seu corpo, chama o segurança que ali passava e que ela julgou ser um bombeiro. Quando este se aproxima dela, a moça diz angustiada. — O meu irmão está passando mal! Preciso de ajuda, por favor! — vendo a situação do jovem quase desfalecido, o segurança aciona seu rádio.
  — Preciso de uma maca e enfermeiros na frente do palco. Área A15 — diz ele ao rádio e ouve um “positivo” de volta. — Já estão vindo. Ele consegue pular para cá? — questiona ele para .
  — Ichi? Hey, meu amor… — diz ela, segurando o rosto quente do irmão, ele ofegava ainda de olhos fechados. — Consegue pular? — sem falar, Ichiro balança a cabeça positivamente e faz sinal de positivo para o segurança.
  Com dificuldade e guiado pela irmã e pelo segurança, Ichiro consegue sentar-se na grade, mas ao passar as pernas para o outro lado onde o segurança está, o garoto perde o controle sobre seu corpo e desmaia. O segurança o segura a tempo dele se impactar no chão.
   faz menção de que desceria para ajudar, mas não o faz, continua tocando, porém preocupado.
   pula a grade e acompanha o irmão ser colocado na maca e levado para um lugar mais arejado e menos barulhento.

[🌠]

   está sentada na maca ao lado do irmão. Eles estão em uma espécie de ambulatório da arena. Ichiro ainda dorme e eventualmente lhe faz um cafuné. O médico que atendeu ele disse que, pelo histórico de enxaqueca do garoto, possivelmente tenha sido isso que ocasionou seu desmaio. Os sinais vitais e a pressão arterial dele estão normais.
  — Ai… — resmunga Ichiro ao acordar e receber a claridade no rosto.
  — Meu amor… — diz , carinhosa e sorri para ele. A imagem invertida da irmã se consertou quando Ichiro sentou-se na maca. — Está melhor? — desceu da maca e fica em pé na frente dele, examinando o rosto do irmão com as mãos.
  — Um pouco cansado — responde com a voz audivelmente exausta.
  — Você me assustou… — dá um soquinho de leve na perna dele que lhe sorri sem jeito. De repente, lembranças surgem na mente do jovem.
  — O show! , perdemos o show? O camarim? Ah… — disparou a falar e começou a chorar de raiva — Maldição, cara! Putz, eu tinha que ser tão burro para desmaiar! — lamenta ele.
  — Ichi, não chore, sua cabeça vai doer de novo — alerta a irmã, mas Ichiro continua chorando.
  — Que droga, onee-chan, me desculpe!
  — Hey, seu bobo! — cata o rosto dele com as duas mãos e sorri suavemente para o irmão. — Está tudo bem. Vem cá — ela o abraça e dá beijinhos nas costas dele. — Eu te amo, meu bebê! — nessa hora, ambos ouviram a porta do local se fechar. Olharam para trás e se assustaram.
  — Meu Deus, é a Flow! — o mais novo diz e segura o braço da irmã com força.
  — Ichi, isso dói… — reclama ela, baixinho.
  — !!!! É a Flow!! !!! — repete ele, eufórico.
  Os rapazes da banda sorriam sem jeito e se aproximam deles. está lá ao fundo.
  — Oi, viemos ver como está, cara — anuncia , solícito. — Vimos quando você desmaiou. Está melhor? — Ichiro sentiu-se bobo por desmaiar na frente dos ídolos. Acometido por uma vergonha tremenda e repentina, ele se calou e apenas confirmou com um gesto de cabeça.
  — Olá, rapazes — diz sem graça, mas não tanto quanto o irmão. Os olhares dos cinco se voltaram para ela, que ficou mais sem jeito ainda. — Meu irmão já está bem sim, obrigada por virem — ela curva-se, agradecida.
  — Ah, ele é seu irmão? — a voz de saiu alta e surpresa demais e ele se arrependeu por isso imediatamente, ficando vermelho de vergonha. riu da reação do amigo.
  — Sim, -san — diz ela, educada. — Me chamo e esse é o Ichiro — apontou para o irmão ainda sentado na maca.
  — Mas, podem chamar ela de — diz Ichiro recuperando sua euforia, de repente. Recebe o olhar severo de sua irmã e dá de ombros.
  — — dessa vez, consegue sussurrar.
  Os irmãos Ito e os caras da Flow engataram uma longa conversa. Falaram sobre tudo, incluindo sobre o desmaio de Ichiro, o que fez o rosto do jovem ganhar uma cor magenta muito forte. lembrou-se de histórias em que Ichiro havia passado mal também. O irmão a odiou por contar aquilo para os ídolos.
  Durante a conversa, não parava de encarar a . notou esse interesse todo do irmão.
  — ? ? — insiste , mas o irmão continua com o olhar fixo na moça. — ! — diz ele mais energicamente.
  — O que foi, ? — fala ele, irritado e se vira para o irmão.
  — Você está encarando muito ela, disfarça pelo menos — alerta .
  — Mas ela é… — procurava palavras para se expressar, quando as encontrou, externou o que sentiu — Ela chama minha atenção, mano. Não consigo evitar.
  — Pois evite, porque daqui a pouco ela vai achar que você é um tarado — encara o irmão, incrédulo.
  — ! Eu não sou assim, você sabe disso — defendeu-se ele.
  — É, mas ela não sabe. Lembre-se de que você acabou de conhecer ela.
  Pensando nas palavras do irmão, parou, um pouco, de encarar a sem parar. Tais olhares também foram notados pelo irmão da que, mais uma vez, não se incomodou com o fato.
  O jovem está até achando interessante todos esses olhares do ídolo para cima da irmã. Ah, ele teria muito do que aloprar a irmã quando chegassem em casa. Ele mal podia esperar.

Capítulo 3 - Jantar de Domingo

  Conversar com os ídolos casualmente após o show foi a melhor experiência que os irmãos Ito tiveram na vida. Ichiro passou todo o tempo conversando com o , seu maior ídolo, enquanto a irmã conversava com os demais membros, principalmente com seu crush.
  — Eles são incríveis, não é, onee? — diz Ichiro empolgado sentado na cama da irmã. está em frente ao espelho secando os cabelos.
  — São! Nossa, eu nem vi o tempo passar — comenta com um sorriso bobo.
  — Notei — Ichiro sente que essa é uma ótima oportunidade para aloprar a irmã. — Você estava muito empolgada com o -san, né? — diz Ichiro com um sorriso malicioso.
   , vocalista da Flow, 33 anos e grande crush da .
  Quando mais nova, por volta de seus 18 anos, começou a ouvir Flow, ela adorava o jeito irreverente da banda e o fato deles não terem um rótulo musical específico. No primeiro CD que ouviu deles, o primeiro da carreira, notou alguns estilos musicais diferentes um do outro: reggae, eletrônico e o rock como estilo majoritário. Ela ouvia as músicas da então banda nova para ir ao colégio e, depois que se formou, continuou ouvindo para ir à faculdade. que apresentou a Flow para ela. Nunca mais pararam de ouvir.
  Desde que bateu o olhar em , na época com 21 anos, se encantou pelo jeitinho meigo do jovem vocalista, jeito esse que ele tem até hoje. O sorriso de é tão doce e fofo quanto a personalidade que ele tem. Além de ser muito engraçado e comunicativo, apesar de ser tímido.
  Para , não tem defeitos.
  — é muito gentil — comenta enquanto termina de secar os cabelos.
  — Só gentil ou ele tem algo mais que te deixa nas nuvens e com essa cara de boba?
  — Ichiro! — repreende ela — Me respeita! — ela joga a escova de cabelo na direção dele, que logo desvia.
  — Só disse a verdade — defende-se ele, rindo. — Você ainda é apaixonada pelo -san?
  — Ichiro! Eu vou te bater com o secador, garoto! — diz muito brava, mas não conseguindo conter o riso.
  — Sério, onee, eu quero saber para poder conversar com o -san e ver as intenções dele com você — diz ele, ficando sério de repente.
   encara o irmão e desliga o secador voltando a colocá-lo na escrivaninha. Ela caminha até a cama e senta-se ao lado dele.
  — Sei que se preocupa comigo, mesmo que não admita. Agradeço por isso, maninho — ela abraça o irmão e beija o rosto dele.
  — Ahhh, onee, para! — Ichiro limpa o rosto, vermelho de vergonha. ri.
  — O que você acha do Hayato-kun?
  — Hã?
  — O Hayato… o que acha dele?
  — Você não vai namorar com ele, vai? — questiona Ichiro, desconfiado.
  — Responde o que eu perguntei, Ichi! — diz ela, impaciente.
  — Não gosto dele.
  — Ichi!
  — O que foi? Você pediu para eu dizer o que eu acho dele, eu disse, ué — diz Ichiro dando de ombros. — Prefiro você namorando o -san ou o -san.
  — O ? Justo ele…
  — Como assim “justo ele”, onee?! — Ichiro ficou indignado com a frase da irmã — -san é incrível! Ele é um músico completo! Ele toca guitarra, piano, violão, gaita, é DJ, programador, além de ser compositor e ter feito o arranjo de todas as músicas da Flow. O cara é um Deus!
  — Nossa! — admira-se — Nunca tinha notado o quão incrível o é.
  — Pois é, onee, além disso tudo, ele é engraçado, gente boa e me deu umas dicas fodas nos meus desenhos — completa Ichiro num tom de orgulho ao falar do ídolo.
  — Hm, ele desenha também? — pergunta ela, curiosa.
  — Não, mas eu confio na palavra e no gosto dele.
  — Ah, o que ele diz é lei agora? — diz, rindo.
  — Sim… Nossa, -san é demais! Quero ter ele como cunhado, onee!
  — Ichiro!! — ri e dá um tapa no braço do irmão. — Para isso eu teria que namorar com ele.
  — Lógico, né?
  — Não viaja, Ichi, ele deve ser casado já…
  — Não é — responde Ichiro, convicto.
  — Como sabe?
  — Perguntei para ele ontem.
  — Ichiro…
  — O que foi? Apenas curiosidade de fã — o encara com os olhos semicerrados já sabendo onde o irmão quer chegar com toda essa conversa.
  — Eu conheço esse sorriso Ichiro Ito!
  — Nome completo? Nossa… juro que não fiz nada — ele faz uma expressão fofinha junto com um beicinho e ela amolece.
  — Bobo!
  Eles riem e o abraça mesmo ele se debatendo tentando sair.
  — ! Ichiro! Temos visita!
  A voz da mãe deles ecoa do corredor. Visita? Quem será?
  Já passou da hora do almoço, faz um tempo relativamente agradável em Yokohama naquela tarde de domingo. termina de arrumar os cabelos e depois desce junto com Ichiro.
  — Olha quem veio para o jantar!
  A empolgação da mãe deles contradiz a surpresa dos irmãos.
  Na sala, sentado no sofá, encontra-se Hayato, com um sorriso bobo encarando .
  Ao ver o rapaz, a moça lembrou-se do convite que ela fez a ele para jantar em sua casa hoje. Ao ver o rapaz, o jovem Ito quis voltar para seu quarto e gritar em desespero.
  Ichiro realmente não gosta do Hayato.

[🌠]

  Flow subirá ao palco em duas horas e o nervosismo que sente pré-show já está presente nele. Ele está trocando mensagens com alguém da produção do show de ontem, algo em Yokohama chamou a atenção do mais novo.
  Gots e Iwasaki trouxeram à tona o assunto “irmãos de Yokohama” e isso trouxe à conversa. Estão todos no camarim sentados ou no sofá ou em poltronas.
  — … o garoto tem um traço foda! — comenta Gots que é fã de animes e mangás mais que os amigos.
  — Né? Eu gostei dos desenhos dele. Tem futuro o garoto — concorda Iwasaki.
  — Ele é gente boa — diz se colocando na conversa.
  — Sim! — concorda e Iwasaki ao mesmo tempo.
  — A irmã dele também é legal — comenta com um sorriso que julgou ser “idiota” no roso.
  — Que cara é essa, ? — Kohshi chama a atenção do irmão que retorceu os lábios sem notar.
  — A minha de sempre — responde ele e sente o celular vibrar — Licença.
   sai do cerco de amigos e se afasta um pouco. Na tela do celular uma mensagem importante: o número do Ichiro.
   havia pedido a um dos produtores de Yokohama que conseguisse o contato dos irmãos Ito com a desculpa de dar uma recompensa, um presente, a eles por terem perdido o final do show e o camarim. Omitiu o fato que eles ficaram quase duas horas conversando casualmente com os irmãos fora do camarim, atrasando assim o meet que tiveram com os fãs.
  O produtor conseguiu apenas o número do Ichiro, pois não havia deixado o contato dele. Para já estava ótimo ter o contato do jovem Ito, através dele ele alcançaria seu objetivo atual.
  — Que sorriso é esse? Que mudança de humor — comenta Kohshi assim que se aproxima novamente dos amigos.
  — Vocês tiraram o dia para me zoar, né? — reclama .
  — Queremos saber por que você me olhou de cara feia quando falei da Ito — provoca , rindo.
  — Ah, você não sabe? — diz , debochado.
  — Não…
  — Ela tem um crush em você — revela com a sobrancelha arqueada.
  — Tem? — pergunta desmanchando seu debocha e dando vez à confusão.
  — Não se finja de sonso, .
  — Ele não notou, — diz Kohshi aparentemente defendendo e tranquilizando o irmão. — É o , esqueceu? — completa ele, rindo.
  — Kohshi! — ofende-se e todos riem, pois sabem que é lento para perceber essas coisas.
  — Pois é, Ito tem um crush em você, — reforça .
  — E isso te incomoda? — volta a provocar.
  — O que acha? — faz uma pergunta retórica.
  — Se eu achasse algo não perguntaria, — rebate .
  — Ok, chega! — Gots tenta acalmar os ânimos. estava prestes a levantar para sufocar no sofá. — , você está interessado na -chan?
  — Talvez…
  — Sim ou não?
  — Talvez… vocês são surdos? — diz ele, impaciente.
  — Sei… ela gosta de mim ou é só um crush mesmo? — dá um salto no próprio corpo com o olhar que lança sobre ele.
  — Para que quer saber, ? — jura ter visto saírem faíscas do olhar de .
  — Curiosidade…
  — Está curioso demais.
  — Responde, !
  — Crush… — responde , contrariado.
  — Ótimo! — comemora .
  — Ótimo?! — levanta, irritado, e vai na direção do amigo, Kohshi chega primeiro para impedir qualquer exaltação do irmão.
  — Calma, ! Isso é bom porque aí você tem chances com ela — explica-se rindo da reação ciumenta dele.
  Kohshi leva para fora do camarim dizendo que precisa falar com ele. Isso tudo para acalmar os nervos do irmão. Bufando, se encosta na parede do corredor da casa de shows, do lado de fora do camarim.
  — Agora você pode falar a verdade… — fala Kohshi encarando que deixou seu olhar caído no chão.
  — Que verdade?
  — Você está mesmo interessado na ou é só um dos seus casinhos passageiros?
   encara o irmão e sorri.
  — Que inferno… — ele ri, incrédulo.
  — Você nunca vai conseguir me enganar, . Eu conheço você — gaba-se Kohshi. — Notei seu interesse real desde a hora do show. Você definitivamente não faz aquele show todo se realmente não estiver interessado.
   foi descoberto. Kohshi é um especialista quando se trata de , afinal o conhece literalmente desde que nasceu. Quando interessado em uma mulher, sempre agia da mesma forma. Tentando se exibir para pessoa. E foi justamente o que ele fez quando viu no show.
  — Você ainda não me respondeu, — alerta Kohshi e balança a cabeça e suspira rendido.
  — Eu não sei, irmão — confessa ele com sinceridade. — Eu bati o olho nela e a achei linda, ela tem uma boca que eu tenho vontade de beijar, mas não tenho como saber se será passageiro — conclui o pensamento encarando o irmão.
  — Entendo… — diz Kohshi — Você não reparou nada diferente em seu próprio comportamento?
  — Tipo? — questiona , confuso.
  — O fato de você se incomodar que ela tem um crush no , por exemplo — solta uma risada nervosa e se defende.
  — Mas isso não me incomoda tanto assim…
  — , não me subestime — diz Kohshi, sério.
  — Eu te odeio por ter nascido antes de mim! — diz irritado, pois o irmão o conhece bem demais para saber quando ele está mentindo. Tipo agora.
  — Aceita — ri Kohshi. — É um fato.
  — Tisc
  — Aceita também o fato de que você está mais que interessado na moça de Yokohama. Tanto que conseguiu o número do irmão dela, né? — arregala o olhar, encarando Kohshi que sorri vitorioso.
  — Como sabe?
  — Não me subestime, — Kohshi ri novamente.
  — Você é impossível, pare de me espionar, Kohshi! — a indignação de era visível. Kohshi acha essa indignação do irmão em ser descoberto na mentira extremamente hilária.
  — Vai ligar para ele?
  — Pretendo.
  — E vai dizer o que?
  — Por que está interessado em minha vida?
  — Eu sou seu irmão, me preocupo com você — responde Kohshi com um sorriso sincero no rosto. arqueia a sobrancelha e o encara.
  — Não sabia que Kohshi era sentimental — ri. — Você deveria ser irmão do — brinca ele com o fato do ser o mais sentimental da banda.
  — Ah, falou o “nunca vou me apaixonar porque eu não gosto dessas frescuras” — brinca Kohshi e ambos riem.
   nunca se apaixonou de verdade. O interesse dele por uma mulher nunca prosseguiu ao primeiro beijo. Kohshi sabia disse, mas ao se lembrar das reações que o irmão teve no palco ao ver e a reação adversa ao fato dela ter um crush em , faz Kohshi notar que o irmão possa estar finalmente querendo algo a mais que só beijar a moça de Yokohama e não faz ideia de que é isso que está sentindo.
  Assim como o irmão, Kohshi também nunca foi de se apaixonar, para ele esse sentimento é algo difícil de acontecer. Porém, ele já teve um amor antigo, na época do ensino médio, que para ele foi o suficiente para nunca mais querer sentir aquilo novamente. Seguindo essa linha de raciocínio, o rapaz também nunca vai além de um beijo, no máximo dois, caso seja muito bom, mas relacionamentos duradouros definitivamente não fazem parte da vida dos irmãos .
  Kohshi resolve deixar sozinho para refletir sobre seus sentimentos incertos e volta ao camarim. ainda tem pouco mais de uma hora para ligar para Ichiro e foi exatamente isso que ele resolve fazer.
  Enquanto disca o número, pensa no que irá falar.
  O que ele está fazendo?

[🌠]

  O clima descontraído e as risadas dadas por quase todos à mesa nem se compara à tensão de horas atrás.
   estava super sem jeito com a presença de Hayato, ela realmente não se lembrava de o ter convidado para jantar em sua casa hoje ou dia algum. Tentou não demonstrar esse desconforto para que Hayato não se magoasse.
  Ichiro estava descontente, pois não gosta de Hayato. Para o jovem Ito, Hayato não gosta de verdade da irmã e não a merece.
  “A onee é boa demais para ele.”
  O jovem sempre afirmou isso quando questionado pelos pais sobre seu desinteresse em Hayato.
  Por falar em Akira e Akito Ito, pais dos dois, ambos estavam supercontentes com a presença do jovem e bem-sucedido Yoshida em sua casa. Ah, ele sim era um bom candidato a genro. Ambos sempre realçam as qualidades de Hayato para a filha, que sempre os enrolava e fingia não ouvir.
  Durante a sobremesa, Hayato fala sobre uma de suas histórias de negócios que os pais de amam ouvir. Enquanto fala, o Yoshida nota a dispersão de Ichiro que não tira os olhos da tela de seu celular.
  — … foi algo realmente que eu não… — dizia Hayato ao ser interrompido por Akira.
  — Ichiro! — ele chama a atenção do filho. — Larga esse telefone! O Hayato-kun está falando e você o ignora assim. Que falta de respeito, garoto!
  — Ah, não se preocupe, senhor Ito — diz Hayato, sem jeito.
  — Desculpe-me por isso.
  Ichiro fala e curva o pescoço em sinal de desculpas, mas, em seu interior, ele pensa que é uma falta de assunto ter que ouvir as histórias chatas de Hayato. É muito mais divertido comer enquanto se joga no celular. A vontade de Ichiro era de sair da mesa e voltar para seu quarto, mas ele não tem nenhum motivo forte e levaria um baita sermão dos pais.
  — Deve estar conversando com alguém importante — comenta Hayato descontraído, chamando a atenção de Ichiro que o encara descontente.
  — Harumi-chan — diz e Ichiro volta seu olhar para a irmã.
  — Onee! — Ichiro fica envergonhado com o comentário de , que só faz rir de sua reação.
  — Ah, a Harumi-chan — lembra-se Akira — Muito boa menina, deveria dar uma chance para ela, filho.
  — Papai! O senhor também? Yah! — reclama ele e todos riem.
  De repente, o celular de Ichiro toca. É uma ligação de um número não salvo em sua agenda e que ele não sabe de quem é. Ele estranha o prefixo ser de Tóquio, mas atende mesmo assim.
  — Alô? — Sua família e Hayato o olham com atenção achando se tratar da Harumi ao telefone.
  — Ichiro Ito?
  Ichiro de rubro ficou pálido, de repente. Sente o corpo gelar e um arrepio lhe percorrer. Não, não poderia ser ele. Ou poderia? Não, não é… mas, Ichiro não se enganaria assim. Afinal, Ichiro o conhece há anos.
  — Ichiro Ito? Está aí? — a voz volta a falar e Ichiro solta o ar longamente, nervoso.
  — Sou eu… — a frase saiu arrastada e trêmula assim como seu corpo.
  — Ah, que bom! Eu sou o , da Flow, lembra de mim? — Ichiro solta uma risada nervosa.
  — Claro! Claro!
  — Como está?
  — Bem… bem… muito bem… e você?
  — Estou bem. Vamos fazer um show daqui a pouco falava aleatoriamente e Ichiro não estava entendendo direito, mas não quis demonstrar. Estava adorando falar com o ídolo.
  — Ah, que legal! Que incrível e… ah, como conseguiu meu número? — Ichiro o questiona, curioso.
  — Com a produção do show. Desculpe o incômodo. Nossa, eu nem notei a hora, deve estar jantando, né?
  — Ah, eu já terminei de jantar. Daijoubu desu  — “tudo bem”.
  — Tem certeza?
  — Sim, sim… ah, pode esperar um minuto, por favor?
  — Claro!
  Ao ouvir a confirmação de do outro lado da linha, Ichiro levanta-se e pede licença para atender a ligação fora da mesa. Por achar ser a Harumi, Akira deixa ele ir. O jovem praticamente saiu voando até seu quarto chegando lá em tempo recorde e trancando a porta após entrar.
  — -san? — diz o jovem, finalmente sentindo-se seguro em falar o nome do ídolo.
  — Oi, Ichiro, voltou, né?
  — Sim… nossa, estou emocionado. Sou muito seu fã, -san! — o jovem achou que fosse chorar, mas se segurou.
  — Obrigado, Ichiro! Pode me chamar só de , por favor.
  — Sério?
  — Daijoubu ne
  — Ok, — diz Ichiro com um sorriso de ponta a ponta do rosto. — Ah, que mal pergunte: por que me ligou? Não que eu esteja reclamando — eles riem.
  — Então, eu… bom, eu quis saber mais sobre você e sua irmã.
  — A onee? Hm… o que quer saber dela?
  — O que você puder me contar…
  Ichiro sorri ao notar o interesse de em sua irmã. Não é a primeira vez que homens o procuram para saber mais sobre sua irmã, é muito bonita e, às vezes, intimida os homens com suas broncas. Ichiro sempre ficou irritado com essa aproximação dos homens para chegar em , mas, dessa vez, ele não teve esse sentimento. Afinal, é o seu grande ídolo . Ichiro sente-se feliz com isso.
  O jovem Ito contou tudo sobre a irmã para : sua idade, formação, seus hobbies, tudo que ela não gosta de fazer também, enfim, tudo o que ele pôde contar. Disse até sobre o Hayato e de sua presença em sua casa.
  — Você fala desse Hayato de um jeito… você não gosta dele, né? — comenta , após Ichiro terminar de falar sobre a .
  — Não! Ele é diretor na empresa onde trabalho, mas eu não gosto dele. conhece ele desde a faculdade, ele sempre frequentou aqui em casa, tem algo nele que me incomoda.
  — O que?
  — Não sei, , só sei que não gosto dele e que não creio que ele é um bom candidato a namorar minha irmã.
  — Hm… e quem seria? Só por curiosidade.
  — , você está a fim da onee? — Ichiro tem um sorriso malicioso no rosto e , do outro lado da linha, tem o rosto corado.
  — E se eu estiver… tenho chances?
  — Você é ídolo dela, claro que tem — essa frase fez o corpo de relaxar.
  — Mas ela tem um crush no , não?
  — Ah, isso é verdade. Eu ainda zombo dela por isso, mas, , ela ainda pode gostar do -san sim, porém, como ídolo — diz Ichiro e completa: — Ok, ontem ela ficou emocionada em falar com ele, mas creio que foi só relação fã-ídolo.
  — Entendo… desculpe pelas perguntas, te ligar para isso não foi certo.
  — , daijoubu! Sério, eu adorei sua ligação e será uma honra ser seu cunhado — ambos riem.
  — Bom, não sei se dará certo. Confesso que nunca namorei ninguém sério.
  — Você não vai descobrir como é se não tentar, né?
  — Você tem razão, Ichiro-kun.
  — Pois é…
  — Ah, Ichiro-kun, você e sua irmã estarão livres dia 22 de abril?
  — Oh, está meio longe — eles riem novamente — Mas, se foi para comemorar o aniversário do Kohshi-san, eu topo!
  — Ah, por um instante me esqueci que você é fã e sabe de nossa vida sorri. — É isso mesmo, vamos fazer uma comemoração no dia 22 que cairá em um sábado. Será aqui em Tóquio. Será que poderiam vir?
  — Vamos, claro! Vou falar com a onee.
  — Ah, eu queria chamá-la pessoalmente, se não se importar.
  — Oh, entendi. Hm, quando você pode vir para Yokohama?
  — Ah, daqui duas semanas, mais ou menos — responde tentando se lembrar da agenda de shows da Flow.
  — Ok, te darei o endereço do trabalho da onee. Se quiser, te passo a rotina dela para que você possa encontrá-la mais fácil.
  — Obrigado, Ichiro-kun. Por que está me ajudando? Eu posso ser um louco ou não querer nada sério com ela…
  — , eu te conheço, você é meio doido no palco, mas é muito legal. Sei que não fará mal a minha onee — responde Ichiro com sinceridade — Mas, se você está tendo todo esse trabalho para beijar a onee e sair fora, eu mesmo darei um jeito em você — conclui ele num tom ameaçador e sério.
  — Entendi o recado. Não se preocupe, Ichiro-kun. Eu não quero e nem vou magoar a sua onee.
  — Assim espero, .
  Ambos, ídolo e fã, ficam mais alguns minutos conversando. Ao fim da ligação, Ichiro promete ajudar a se aproximar da irmã, promete também não contar nada sobre a ligação de para ele. No fundo, mesmo tendo ciúmes da , Ichiro acha que é seria um bom cunhado e um bom namorado para .
  No mínimo, digno.

Capítulo 4 - Aniversário em Tóquio

  Duas semanas depois…
  Ichiro continua trocando mensagens com seu ídolo . Todo dia o guitarrista manda alguma mensagem para o jovem amigo, não só para perguntar sobre , mas também para saber do garoto e como anda sua vida. Ichiro chegou a confessar para sobre suas crises de enxaqueca e as coisas que acontecem no trabalho que engatilham suas dores. sempre o aconselha a tentar relevar os empecilhos, mas nunca abaixar a cabeça para coisas erradas que eventualmente aconteçam. Vaidoso com os conselhos do ídolo, Ichiro está adorando essa nova amizade que, por enquanto, não é de conhecimento de ninguém.
  Como prometido, Ichiro deu o endereço do trabalho da irmã e sua rotina para . No meio do dia, o rapaz chega a Yokohama e vai direto para seu destino.
  — … que bom que chegou bem, ! — diz Ichiro do outro lado da linha.
  — Obrigado, Ichiro-kun. Estou a caminho do trabalho de sua irmã. Será que é uma boa ideia mesmo?
  O plano é convidar para ir ao aniversário de em abril e aproveitar para chamar a moça para almoçar com ele. Esse final do plano foi ideia de Ichiro que disse até qual a comida favorita da irmã e em qual restaurante deve levá-la.
  — Sim, . Vai dar tudo certo! Confio em você! — diz o jovem tentando incentivá-lo. — Tenho que ir agora. Aquele problema está prestes a estourar.
  — Sério? Fica tranquilo, vai dar tudo certo e, qualquer coisa, me liga que vou aí resolver. — Ambos riem, cúmplices.
  — Obrigado pelo apoio, .
  — Disponha sempre de seu amigo, Ichiro-kun.
  Ichiro está com um problema no trabalho. Uma acusação de plágio por parte de um desenhista veterano que afirma que o jovem Ito o plagiou em um de seus desenhos. Neste instante, Ichiro foi chamado na sala de seu chefe direto, o senhor Mori, para uma longa conversa sobre o caso.
  Depois de despedir-se de Ichiro, desliga a ligação e olha para o relógio, está quase na hora do almoço. Conferiu no retrovisor do táxi como está seu cabelo. Ele está bem nervoso.
   se vestiu como se fosse subir aos palcos: uma camisa da Zephyren (marca de roupas que patrocina ele e o irmão), calça jeans escura, tênis e moletom da Adidas (marca que ele adora), os cabelos curtos nas laterais e mais compridos em cima, dessa vez muito pretos, cor natural de seus cabelos e a barba aparada mostrando apenas um cavanhaque e bigode.
  Ao chegar na porta do prédio, paga o táxi e desembarca. Olhando para cima percebe a grandeza desse lugar imaginando tratar-se de uma grande agência publicitária. E ele não está errado.
   entra no prédio e se aproxima da recepcionista.
  — Bom dia, em que posso ajudá-lo? — diz ela, solícita.
  — Bom dia, eu vim falar com a senhorita Ito, por favor — a mulher acena com a cabeça e digita algo no teclado olhando para a tela do computador. Sorrindo, volta seu olhar para .
  — Seu nome, por favor?
  — .
  — Ok, o senhor pode subir senhor . Sétimo andar.
   curva-se brevemente em agradecimento e caminha até o elevador, prendendo o crachá de visitante que a gentil recepcionista lhe entregou. Aperta o botão e aguarda a chegada do elevador. Algumas pessoas cochicham entre si e sente-se observado. A Flow é famosa pelo mundo, em seu país não é diferente.
   comemora a chegada do elevador e logo entra nele, apertando o número sete em seguida. Dentro do elevador, o rapaz pensa no que irá falar, não no convite para ir ao aniversário do irmão, mas sim para acompanhá-lo no almoço. Ele sentia-se idiota por não conseguir pensar em uma simples frase para chamar uma mulher para almoçar.
  “É muito fácil, , não seja babaca!”
  Ele pensa e ouve o aviso sonoro do elevador parando no andar indicado e abrindo a porta. Ao dar dois passos à frente e sair do elevador, teve a sensação de ter entrado no meio do caos.
  A agência onde trabalha está em meio a dois grandes projetos publicitários: um para uma marca internacionalmente famosa de sapatos e outra para o governo do país, essa última que vem tomando o sono e sossego de todos. As pessoas andando de um lado a outro, esbarrando-se umas nas outras, levando pilhas de papéis nos braços, falando ao telefone, algumas faziam reuniões improvisadas no meio do corredor.
   sentiu-se angustiado só de olhar.
  — Ah, com licença… — o rapaz aborda uma jovem que lhe pareceu ter apenas 18 anos pelas roupas que usa e pela cara que tem.
  — Sim, senhor. — A forma assustada como ela reagiu à abordagem de também o faz desconfiar de sua pouca idade.
  — Onde está a Ito, por favor?
  — Ah… — a jovem ia responder, mas uma voz masculina surgiu atrás dela.
  — Quem deseja falar com a ?
  Hiroki aparece segurando uma xícara de café em uma das mãos e olha desconfiado para , até o momento de reconhecer o rapaz.
  — ?! — diz ele, espantado.
  — Me conhece… — dá um sorriso sem jeito.
  — Claro! Mas… o que quer com a ? — Hiroki desmancha sua cara de alegria e dá vez ao ciúme que sente da amiga e crush. Ele não quis, mas demonstrou nessa frase parte de seu ciúme.
  — Ah, você conhece a Ito? — Hiroki confirma com um ar óbvio. — Eu a conheci no show que fizemos aqui há algumas semanas.
  — Hm…
  — Eu gostaria de falar com ela, sabe onde ela está?
  — Oh, sim, me acompanhe, por favor.
  Recompondo-se do ciúme repentino, Hiroki caminha na direção para onde já estava caminhando e o segue, deixando a jovem moça para trás. Antes do fim do corredor de baias, já avista sentada em frente à sua mesa.
   está com os cabelos presos para o alto mantendo sua franja acastanhada lhe cobrindo a testa. Ela usa maquiagem leve, somente um blush e um batom da cor de seus lábios. demorou tempo demais observando os lábios da moça enquanto ele anda.
  — -chan, trouxe uma visita para você — diz Hiroki ao finalmente chegarem com atrás dele até a área onde fica a mesa de .
   levanta o rosto com um sorriso no rosto e olha para Hiroki, mas, ao ver , o sorriso dela some aos poucos e dá lugar a uma expressão de imensa surpresa e nervosismo.
  — -san!!! — A voz de anuncia e a moça levanta, trêmula, ao ver seu ídolo ali. — Oh, meu Deus, é o -san!
  — Olá…
   está totalmente sem jeito não pela reação de , mas sim por estar novamente na presença de fora do contexto de show. Ele vê a moça levantar-se e pode ver o vestido florido até os joelhos que ela usa.
  Kawaii (fofa), pensa ele.
  — -san… você aqui, que surpresa. — A voz de sai mais nervosa do que ela pretendia.
  — Oi, , como vai? — O nervosismo de também é notável e ele se repreende internamente por demonstrar tanto.
  — Bem… — responde ela sem entender o que , guitarrista da Flow, sua banda favorita, faz ali em seu local de trabalho.
  — Que bom…
  — -san! — chama a atenção dele. — O que veio fazer aqui? Já sei: veio contratar nossa empresa para agenciar a Flow! — sorri sem jeito.
  — Seria interessante, mas não foi para isso que eu vim até aqui — responde o rapaz.
  — Veio para quê, então? — diz Hiroki um pouco grosso demais e atrai olhares de todos que estão próximos.
  — Calma, Hiroki-kun — diz . — Que grosseria! — completa ela, indignada.
  — Desculpe…
  — Tudo bem — diz sem jeito.
  — Então, a que devemos a honra de sua presença, -san? — pergunta .
  — Bom, eu vim convidar a e o irmão dela para o aniversário do meu irmão em abril — o homem fala olhando diretamente para que não consegue tirar os olhos dele.
  — Do ? Ah, que honra! — parece ser a mais empolgada. Hiroki tem uma expressão de ciúmes. está apreensivo e surpresa.
  — Eu e o Ichiro?
  — Sim — confirma . — Claro, o convite está estendido a vocês dois também, se quiserem. — O rapaz aponta para Hiroki e .
  — Ah, obrigada, -san! — curva o tronco para a frente em agradecimento.
  — Serão bem-vindos. — sorri e volta a encarar . — Você vai, ?
  — Eu- eu não sei, -san…
  — Ah, , por favor! — brada , sem paciência. — Ela vai sim, -san.
  — !
  — Não a force a ir, -chan — diz Hiroki se intrometendo. Ele odiava quando pressionavam , seja quem fosse.
  — Hey — chama atenção dos dois —, calados. Eu quem decido, ok?
  Ambos se calam e volta seu olhar para que ainda está ali, parado, observando toda a cena. Observando-a. O que mais intriga é o fato de ter ido até Yokohama para convidar a ela e a Ichiro para o aniversário de . Ele poderia ter telefonado, mandado uma mensagem, mandado um e-mail talvez, tantos meios modernos de comunicação existentes e preferiu usar o mais velho de todos: falar pessoalmente.
  Os segundos que se passaram até dar sua resposta pareceram horas para . Mas, por algum motivo que nem ele sabe qual, ele não a deixa falar.
  — Não precisa me responder agora, — ele diz percebendo que ela está um pouco tensa. — Afinal, está um pouco longe. — Solta uma risada abafada e completa: — Mas, responda outra pergunta: já que estou aqui em Yokohama, será que podemos almoçar juntos?
  — O quê?! — As vozes de e Hiroki se misturam ao saírem em tons diferentes, mas ao mesmo tempo.
  — Almoçar? — repete e afirma com um aceno de cabeça.
  — O que quer com esse convite?! — Hiroki se descontrola e para na frente de take pondo o dedo indicador no peito dele. — O que quer com a ?! — sibila Hiroki.
   apenas o observa sem dizer ou expressar nada. Por dentro, ele se controla para não socar a cara de Hiroki.
  — Hiroki-kun! — diz e puxa o amigo para trás. — O que está fazendo? — Dessa vez, se pôs entre Hiroki e .
  A cena atraiu os olhares curiosos de colegas deles que estão atentos a qualquer movimentação.
  —
  — O que está fazendo ao agir assim, Hiroki? — brada com as mãos na cintura.
  — Eu só quero saber o que ele quer com você…
  — E você é meu pai agora? — não quis rir, mas deixou escapar um sorriso debochado, pôs a mão na boca para que mais ninguém além de notasse.
  — Mas, , eu…
  — Ah, quer saber, você anda muito estranho ultimamente, Hiroki. — irritada, passa pelo amigo, que a segue com o olhar, e pega sua bolsa em cima de sua mesa.
  — Aonde vai?
  — Almoçar! — grita ela em resposta.
  Passando novamente por Hiroki, foi até e o segurou pela mão, arrastando-o até o corredor e caminhando firmemente até o elevador. não quis demonstrar estar com o corpo todo arrepiado só pelo toque da mão de em sua mão. A mãozinha dela se perdia na mão mediana dele que parecia enorme perto dela. E tão quente… imagina, nos poucos segundos que segura sua mão, o toque da mão quentinha da mulher em seu rosto. Seu corpo arrepia-se novamente.
  Já dentro do elevador, solta o ar e a mão de , o encarando sem graça.
  — Me desculpe por isso, -san — diz ela, curvando-se levemente.
  — Daijoubu ne — diz . — , pode me chamar somente de , por favor. Devemos ter a mesma idade — ele ri.
  — Sim, temos. Quer dizer, eu tenho 30.
  — 32 — revela ele.
  — É, eu sei. — ri, pois obviamente sabe a idade dele.
  — Eu sempre me esqueço que você é fã — diz rindo e ela também ri.
  — Bem, você veio até Yokohama só para almoçar comigo? — curiosa, questiona.
  — E te chamar para ir ao aniversário do — completa .
  — … sério, agora sou eu quem quero saber: o que você quer de mim?
  A temida pergunta.
  A pergunta que nem sabe direito a resposta. Ele não consegue identificar os sentimentos turbulentos que estão fervilhando dentro dele. Se nem ele sabe o que sente, também não é capaz de dizer a respeito. Ele nem tem coragem de tentar.
  — … — chama a atenção dele quando o elevador chega até o térreo. — Aonde vamos almoçar?
   percebe o conflito interno do rapaz e resolve dar um tempo em sua curiosidade. Para ela uma coisa é clara: está interessado nela. Esse fato assusta a moça.
  — Pensei em irmos ao restaurante que tem aqui perto. Não quero atrapalhar sua volta ao trabalho e podemos passar mais tempo juntos.
  — Hm… ok, vamos, então.
   e vão caminhando pelos quarteirões até chegarem ao restaurante. já almoçou ali várias vezes, é o seu favorito, onde serve seu prato preferido. Claro que já sabia disso, pois Ichiro deu a dica.
  — Boa tarde — diz o garçom ao se aproximar deles na mesa onde se sentaram. — Bem-vindos! Desejam pedir agora?
  — Sim. Eu vou querer… — diz , pensativa. Ela queria inovar e não pedir o de sempre, mas a moça não resistia ao seu prato favorito, que é tão especial para ela, e lá preparam de uma forma esplendorosa. — Tonkatsu – costela de porco frita – e uma porção de arroz, por favor. — O garçom anota o pedido e olha para .
  — Eu vou querer omu-soba – omelete de yakisoba –, uma porção de arroz e, se possível, um potinho de wasabi – massa apimentada.
  O garçom anota o pedido de e se retira. olha para o rapaz rindo.
  — O que foi, ? — pergunta ele, intrigado.
  — Você come omu-soba com wasabi? — questiona, incrédula.
  — Como — ele diz, rindo. — É gostoso, devia experimentar.
  — Wow, excêntrico.
  — Eu sou uma pessoa excêntrica, — responde ele, rindo divertido.
  — É, eu sei.
  — Isso não é justo… — reclama ele.
  — O quê?
  — Você sabe muito sobre mim e o pouco que eu sei de você é que se chama Ito, tem 30 anos e tem um irmão bicho-preguiça que sofre de enxaqueca. — ri com o apelido que deu ao irmão dela ainda no camarim em Yokohama. — Por falar nele, como ele está? — pergunta, fingindo não saber nada da vida de Ichiro.
  — Está muito bem. Não teve mais nenhuma crise desde o show.
  — Fico feliz em saber. E você, como está?
  — Bem. Muito atarefada no trabalho, mas bem, no geral.
  — Trabalho grande? Estava bem agitado hoje — comenta ele e bebe um gole d’água.
  — Oh, sim, estamos com dois grandes trabalhos: para a Adidas e para o Governo Federal.
  — Wow! Sugoi ne - “incrível”. Eu gosto muito da Adidas — diz ele ajeitando seu casaco da marca.
  — Percebi.
   ri e sente uma onda boa passar por ele ao ver o sorriso da moça. Por alguns segundos, tudo pareceu estar em câmera lenta.
  — Obrigada! — agradece ao garçom que chega com os pedidos deles.
  — Obrigado. — faz o mesmo e o garçom se retira.
  — Itadakimasu – agradecimento pela comida — ambos dizem e começam a comer.
  Enquanto come, observa comer sua porção de omu-soba beliscando a pequena porção de wasabi. Notando o olhar travesso e curioso de , o homem prepara uma porção generosa de omu-soba com wasabi e estende o hashi na direção de .
  — Hã? — Espanta-se ela.
  — Experimenta — ele diz, óbvio.
  — Oh, , eu não estou duvidando que seja bom…
  — Está com medo? — O tom desafiador de faz o sangue da moça esquentar levemente. Suspirando, o encara. — É apenas wasabi, -chan. — Mais uma vez em tom de desafio, a provoca.
  A mulher torce os lábios e abre a boca em seguida, aguardando sua porção apimentada de omu-soba. Sorrindo, avança o hashi para a boca de e ela fecha, puxando a porção. Ele puxa o hashi de volta e aguarda ela mastigar. A moça à sua frente não esboça reações adversas, aparentemente, enquanto mastiga.
  — Está gostoso? — questiona, ansioso.
  — Sim… — ela responde e funga em seguida. nota os olhos dela se enchendo d’água.
  — Você está chorando, ? — O homem está quase rindo, mas se segura.
  — Não… impressão sua. — Ela bebe um pouco de água. — Está uma delícia, realmente.
  — Eu sei que você não gostou — revela ele, suspirando.
  — Não, , eu gostei. — solta o ar e sente a boca em chamas. Bebe mais água.
  — , você é péssima disfarçando que não gostou de algo.
  — Ah, desculpe, . Não gosto tanto assim de wasabi — confessa ela e ele sorri. — Deve achar que sou estranha. Uma japonesa que não gosta de wasabi.
  — Não acho você estranha por isso. É normal, . Não se preocupe — diz acalmando-a e completa: — também não gosta muito de wasabi. Ele sempre perde na brincadeira do bolinho de wasabi. É hilário vê-lo chorar sempre.
  Essa brincadeira é comum no Japão e consiste em uma tigela com vários bolinhos com recheio bem gostoso, mas, um deles contém apenas wasabi. Todos ao redor têm que pegar um até que alguém pegue o recheado de wasabi. Essa brincadeira é feita em festas, reuniões de amigos e competições escolares.
  — Coitado do — diz sentindo-se compadecida com o rapaz e ídolo.
  — Não sinta pena dele. Você não sabe, mas ele é um cretino — comenta e ri. — Sério! Ele fica me batendo. Muito agressivo!
  — Antes dele te bater, você por acaso não faz alguma brincadeira com ele? — pergunta, já sabendo a resposta.
  — Depende… — responde ele com um sorriso travesso.
  — Ah, !! — ri muito ao ver a expressão de culpado no rosto dele.
  — Em minha defesa, é muito fácil de enganar e um péssimo perdedor.
  — Você é igual como imaginei — ela diz ainda rindo.
  — Hm… eu não superei suas expectativas?
  — Ainda não…
  — Wow, prometo superá-las! — diz com um sorriso que julga extremamente lindo e feliz. Ela se perde um pouco no sorriso dele.
  O almoço com está sendo melhor do que imaginou. Ele é muito divertido, comunicativo e até tem um papo bom. se divertiu muito com ele, ela se diverte muito com ele, esqueceu-se até do estresse do trabalho.
  Vale a pena dar o número de seu telefone para o rapaz.

[🌠]

  Meses depois…
  , Ichiro e desembarcam no aeroporto de Tóquio, o relógio marca 10:57 AM. O horário combinado com foi às 11:30 AM.
   e , durante esses meses, desenvolveram uma amizade interessante. até parou de sentir vergonha em conversar com ele, que ainda é seu ídolo, e arrisca zoar o rapaz, que adora o lado sarcástico e brincalhão dela.
  — Ai, estou tão ansiosa, amiga! — diz , sentando-se na cadeira no saguão de desembarque.
  — Calma, é muito gentil. Ele vai gostar de você — diz , tentando acalmar a amiga.
  — Verdade, -chan, o -san é muito legal, mas o melhor ainda é o — comenta Ichiro e arranca um sorriso de .
  — Ah, Ichiro-kun…
  — Ichiro é um baba-ovo do — diz rindo. — Ainda mais agora que virou amiguinho dele.
  — me ajuda muito, onee — defende-se ele.
  — Ah, os segredos que você só divide com ele, né?
  — Coisa de homem para homem.
  — Ah, achei que fôssemos amigos e irmãos, Ichi! — diz ofendida. — Não sirvo mais para te dar conselhos?
  — Claro que serve, onee, mas tem conselhos que só o pode me dar.
  — Nossa, que consideração a sua comigo — diz ainda ofendida.
  — Ichiro-kun e seus segredinhos — brinca rindo.
   não admite, mas ela tem muito ciúme da relação entre Ichiro e . O toque de celular de distrai a todos.
  — Oi, — diz ao atender.
  — Oi, ! Já chegaram? — questiona o homem do outro lado da linha.
  — Sim, estamos esperando a mala do Ichiro aparecer na esteira. Ele achou que iríamos nos mudar para Tóquio.
  — Onee!! — grita Ichiro envergonhado.
  — Tudo bem. ri. — Já estamos aqui na frente do aeroporto.
  — Estamos?
  — e eu.
  — Ah, o aniversariante veio também! — Ao ouvir essa frase, aperta o braço de com força.
  — Veio… aquela pessoa veio também? — pergunta em código e recebe um olhar intrigado do irmão.
  — Sim — responde , cúmplice.
  — Ótimo. Bom, até daqui a pouco, !
  — Até, .
  Ao desligar, é bombardeada de perguntas de .
  — O veio também? Ah, meu Deus, ! E agora? O que eu falo? Ele vai me achar uma caipira, meu Deus!!!! Eu estou com sotaque do interior? Que droga, meu cabelo está horrível, !!
  — , calma! — sacode a amiga de leve pelos ombros. para e ofega um pouco.
  — Ah,
  — Calma, você está linda e vai gostar de você. Calma, amiga!
  , em uma de suas trocas de mensagens com , comentou com ele sobre a paixão de por . achou oportuno apresentar os dois durante o aniversário do irmão. Ele acha que e formam um casal legal e resolve dar uma de cupido com a ajuda de . Se não der certo, eles seguem como amigos.
  Não demora muito e Ichiro volta da esteira com sua pequena mala e todos vão para a entrada principal do aeroporto encontrar e .
  O encontro inicial com foi mais travado do que desejava. Ela mal conseguiu manter seu corpo equilibrado nas próprias pernas de tão nervosa que estava. e Ichiro já ficam bastante à vontade na presença dos ídolos, então, para , a reação de não foi estranha. À primeira vista, ele gosta bastante da moça, acha ela bonita e meiga, como de fato ela é.
   dirige o próprio carro e leva todos para a casa onde mora com o irmão em um bairro um pouco afastado do centro. Ao chegarem lá, já notam a decoração temática da parte externa da casa.
   é aficionado em tequila e no México como um todo. Não à toa, a decoração da sua festa de aniversário de 34 anos é toda mexicana. Há pequenos sombreiros mexicanos pendurados nas pequenas árvores que compõem o jardim. O caminho que leva ao quintal, onde está montada a festa em si, está decorado com pinhatas e mais sombreiros, além de desenhos de garrafas de tequilas. No quintal, tem um painel, atrás da mesa do bolo, com um desenho do com um sombreiro mexicano e uma garrafa de tequila na mão. Toda a parte decorativa da festa foi desenhada pelo Ichiro. Aliás, é o grande orgulho do garoto ter sido convidado por para decorar a festa com seus desenhos.

[🌠]

  A festa já está rolando há mais de uma hora e já aconteceram algumas coisas.
  Primeiro que já está entrosada com e os outros membros da Flow. Ichiro fez amizade com membros de outras bandas que foram para o aniversário de . O rapaz já perdeu várias vezes no jogo com tequila e ninguém sabe dizer se foi o u não propositais suas derrotas.
  Enquanto isso, observa os acontecimentos bebendo seu drink, sozinha.
  — Oi — diz ao se aproximar dela.
  — Ah, … — Ela sorri ao ver o semblante dele enquanto ele senta-se ao seu lado.
  — Não vai jogar?
  — Ah, dispenso — apressa-se a responder e completa: — Mesmo assim, não me deixaria perder. — ri.
  — Ele ama tanto tequila.
  — Sim…
  — Já dei um toque nele sobre a .
  — Ah, e ele disse o quê?
  — Que vai conversar com ela.
  — Que bom. Acha que nosso plano cupido dará certo?
  — Não sei, mas, conhecendo bem meu irmão, ele está nervoso.
  — Pelo fato de estar “perdendo” — ela faz sinal de aspas com as mãos — de propósito e beber bastante?
  — Você é tão espera — ele diz encarando-a com um sorriso orgulhoso.
  — Bobo. — fica corada.
  — E é ainda mais fofa quando está com vergonha —diz abobalhado. não vê, mas os olhos de brilham ao olhar para ela.
  — Para, , vou explodir de vergonha. — Ele ri.
  — Parei... Mas, sim, sua teoria está certa — ele diz, concordando com ela e volta seu olhar para o irmão.
  — Será que não está na hora dele parar de perder? — pergunta num tom preocupado.
  — Concordo. Já volto.
   levanta de repente, e vai na direção do irmão o puxando de leve e cochichando em seu ouvido. olha para com um olhar entediado e devolve o olhar. Ao se afastar, não vê a careta que faz para ele, arrancando uma risada de .
  — O que você disse para ele? — pergunta , assim que volta a sentar-se ao lado dela.
  — Para ele maneirar na bebida porque já está pagando vexame igual ao : rindo até do vento que bate na cara dele. — ri do comentário dele.
  — E ele?
  — Disse que sabe o que está fazendo. Creio que ele não irá mais perder de propósito.
  — Que bom.
  — Sim… Mas, mudando de assunto: como vão as coisas com as campanhas da agência? — questiona ele, curioso.
  — Ah, verdade, estão indo bem! Em breve faremos o ensaio fotográfico, depois de meses de discussão, com a Adidas.
  — Legal! E você vai ser a modelo? — brinca .
  — Bobo! Não, eles que vão escolher uma modelo para a campanha.
  — Deveria escolher você.
  — Por quê?
  — Porque você é linda e tem um sorriso que… nossa, tira meu sono — confessa ele, com um ar bobo e fica muito mais envergonhada que antes.
  — … — Sente o rosto esquentar novamente.
  — Estou mentindo?
  — Não sei… você fala como se…
  — Como se?
  — Esquece… — diz ela. — Além do mais, eu não sou modelo.
  — Mas pode virar uma. Dou meu apoio!
  — Eu não levo jeito para isso, .
  — Já tentou?
  — Não, mas…
  — Então não pode saber que não tem jeito.
  — Verdade… não sei se aguentaria. Ouvi relatos de que é um meio cruel, às vezes — comenta ela receosa.
  — Todos são. Mas você é incrível, , e tenho certeza de que você superaria qualquer obstáculo. Você é forte o suficiente para isso.
   a encara e resolve olhar pela primeira vez nos olhos de . Os lindos olhos castanhos de , tão brilhantes, que a deixa desnorteada e desconcertada. O olhar dele lhe transmite uma segurança muito grande que a faz sentir-se ainda mais forte, inconscientemente.
  — Obrigada pelo apoio, .
  — Eu só digo a verdade, .
  Eles ficam um tempo em silêncio. pensando sobre os reais motivos de falar essas coisas para ela. A moça nota o interesse dele, mas também nota seu receio. E está pensando em como deve demonstrar melhor, de maneira mais clara, sobre seus sentimentos, por mais incertos que eles possam parecer para ele.
  —
   diz, após um tempo, o olhar dele está perdido na imagem do irmão, que ainda bebe, porém menos que antes. Além da imagem perturbadora de com um sombreiro mexicano na cabeça dançando a música que toca em cima da mesa.
  — Oi… — está distraída olhando a mesma cena de dançando e todos rindo da desenvoltura do rapaz.
  — Eu quero te contar uma coisa, mas eu acho que você já deve ter notado. — O coração pulsante de está batendo mais forte que o normal. não demonstra, mas está sentindo o mesmo, o coração desconcertado.
  — Conte… você parece nervoso.
  — E estou mesmo — confessa ele e volta o olhar para as próprias mãos e segura uma na outra, apertando-as com força.
  — Diga,
   sente que o rapaz irá confessar algo muito íntimo. Ela não sabe se está preparada para ouvir sobre os sentimentos de . Nem ela mesma sabe o que sente por ele direito.
   aperta as próprias mãos com tanta força que, por um instante, sentiu a circulação parar.
  — O Ichiro sofre de enxaqueca, né? — ele diz e o encara sem entender.
  “Que pergunta é essa, ?!”, ele pensa, se martirizando por ter feito isso. Não foi isso que ele planejava falar. Ele ia dizer que gosta dela, que tem interesse em namorar com a moça, que finalmente conseguiu entender seus sentimentos por li. Mas, por impulso, ele disse isso e agora não tem como voltar atrás.
  — É, eu pesquisei sobre enxaqueca e vi que algumas crises são engatilhadas por alguma coisa, né?
  — Sim… — está confusa, mas entende que não era isso que ele ia dizer, porém, preferiu não tocar no assunto.
  — Aconteceu algo para ele ter crise naquele dia? — diz ele referindo-se ao show.
  — Quando tocou “Tabidachi Graffiti” ele se emocionou. Toda vez que ele ouve essa música ele chora.
  — Oh, me desculpe por causar isso nele.
  — Daijoubu ne. Ele não chora por causa da música e sim pela lembrança que ela traz.
  — Aconteceu algo?
  — Nossa avó materna faleceu há pouco mais de dois anos e essa música o faz lembrar dela. Me faz lembrar também, mas no Ichi tem um efeito pior.
  — Oh, , eu sinto muito.
  — Obrigada, . Nós éramos muito apegados a ela.
  — Imagino… você sabe para quem eu escrevi essa música? — questiona ele que escreveu essa música anos atrás.
  — Para quem?
  — Para minha obaa-chan — revela ele e se espanta, pois não sabia desse detalhe. — Quando ela faleceu, eu escrevi essa letra que fala sobre partida e um pouco da vida dela também e o quão forte ela era — ele conta e vê a emoção tomar conta dele. amolece ao lado da moça ao falar da avó.
  — Faz tempo que ela faleceu?
  — Três anos — responde ele. — sente falta dela também, apesar de não admitir muito. Ele fez a música comigo.
  — Ficou linda, . Perfeita! — O homem sorri, vaidoso.
  — Vamos colocar no próximo CD, talvez.
  — Coloquem mesmo, por favor! Ela é linda! Merece estar em um CD inteiro! — ela diz isso, pois essa música foi lançada com um single em um EP há alguns anos.
  — Já está convidada para a festa de lançamento do CD. — Ele sorri e ela também. — Você e o Ichiro, claro.
  — Estaremos lá, com certeza!
  Os dois voltam a conversar sobre assuntos aleatórios, enquanto Ichiro e disputam para ver quem passava mais vergonha dançando lambada com o próprio corpo.

[🌠]

   e estão na sala da casa. Ninguém nota a ausência deles na festa, que estão há mais de uma hora conversando no sofá. O nervosismo da moça está controlado, mas ainda é presente nela.
  — Você é tão engraçado, — diz ela. O rapaz praticamente a obrigou a parar de chamá-lo de “-san”. — Não imaginava isso.
  — Nossa, sou tão sério assim? — O homem está sentado ao lado dela com uma das pernas dobradas de forma que ele fique de frente para a moça.
  — Aparentemente, você é sim bem sério. Nas entrevistas, nas fotos, no show… Ok, a disse que no show você é mais animado.
  — Nunca foi a um show nosso?
  — Não. Eu ia no de Yokohama, mas tive que ver meus pais no interior — explica ela.
  — Entendo… No próximo show aqui em Tóquio você pode ir. Está convidada.
  — Obrigada, . Vou adorar!!
   para de falar e fica encarando a moça de perfil; coloca o cotovelo no encosto do sofá e estica a mão até o rosto de . A moça vira o rosto para ele e sente a respiração pesar.
  —
  — Hm…
   solta o ar sentindo-o pesar mais em seu peito. Sente que aquele é o momento perfeito para contar o que sente por , mas, no momento em que ela ia contar, aproxima o corpo dele passando a mão pela nuca da moça e puxando levemente o rosto dela para o dele. Ao tocar os lábios de , sente algo estranho, uma sensação boa que percorre todo seu corpo, mas resolve ignorar e continuar beijando a moça. O beijo ficou mais quente a cada instante e não pensa mais na sensação inicial que ainda está presente nele.
  Devagar, ele sente o corpo de se afastando dele para deitar-se no sofá. Acompanhando a moça, ele deita por cima dela e pausa o beijo para encará-la, ofegante. O olhar de lhe transmite uma inocência, uma doçura que ele achou que nunca veria novamente nos olhos de ninguém. Ao acariciar o rosto dela, com o dorso de sua mão, percebe que está à vontade com ele. À vontade demais…
  — Eu te amo,
  Sussurrando, se confesse para ele.
  Paralisado, não sabe o que dizer a ela.
  Sem pensar numa reação plausível ao momento, a beija, mas dessa vez com mais doçura. não sabia o que falar, o que fazer, o que virá depois daquela declaração e muito menos como retribuir.
  Sentindo-se estranho, encerra o beijo e diz que é melhor voltarem para festa, sai e deixa sozinha.
  A moça acha que ele está com receio e não surta, mas, lá no fundo, ela acha que ficou com medo da declaração dela e não quis falar.
  Frustrada, volta com seu drink quase vazio para o quintal dos irmãos .

[🌠]

  Semanas depois
  O clima na agência continua tenso, porém, dessa vez, há mais um motivo.
  — Ele é um cretino! Aposto que ele está te enrolando, -chan! — diz Hiroki energicamente.
  — Não, Hiroki-kun, ele está muito atarefado com a Flow — defende .
  — O que acha disso, ? — questiona Hiroki, de repente.
  — Eu? — diz ela, sobressaltada. — Eu não acho nada. É, já volto.
   levanta e deixa Hiroki e discutindo se é ou não um cretino filho da puta.
  Desde o aniversário dele que o rapaz não fala direito com . Sempre fala estar ocupado com entrevistas e gravações. De fato, com a aproximação do lançamento do novo CD da Flow, eles têm dado muitas entrevistas em programas de TV e rádio. Até tem falado menos com a . Porém, pelos relatos de , anda bastante distante, mas nada do que ele não demonstrasse antes.
   resolve confirmar ou desmentir as histórias de com alguém que o conhece bem: seu irmão.
  — Oi, ! — diz com um sorriso involuntário no rosto. — Pode falar agora?
  — Oi, , claro! Para você eu sempre arrumo tempo — responde ele com um ar bobo. sente o rosto corar.
  — Posso te fazer uma pergunta indiscreta?
  — Wow… depende. Não sei se estou preparado para me expor agora. — brinca ele.
  — Bobo… é sobre o .
  — O meu irmão?
  — E você tem outro e eu não sei?
  — Boba. ri. — Só tenho ele.
  — Eu sei. — também ri e completa: — Então, posso?
  — Pergunte o que quiser, . Sempre serei sincero com você.
  — Vocês estão muito ocupados com o lançamento do CD, né?
  — Muito! Mas por que pergunta? Achei que fosse falar do
  — É sobre ele, sim. É que a me disse que ele falou para ela que está sem tempo.
  — Hm… entendi. , vou ser sincero com você e com a porque ela é muito fofa, realmente gostei dela.
  — Mas ela gosta do , tá, ? — ela apressa-se em dizer.
  — Não se preocupe, só tenho olhos para uma mulher e não é a . sente o corpo arrepiar com a fala dele.
  — Você estava falando… — ela tenta disfarçar e ri.
  — Então, meu irmão se parece bastante comigo nesse aspecto de relacionamento amoroso: ele não gosta muito de se envolver.
  — Hm, entendi.
  — Mas nossa diferença é que eu, quando gosto realmente de alguém, não desisto  — esclarece e sente que aquilo foi uma indireta para ela e finge que não entendeu.
  — Wow, entendo também…
  — Ah, , o está aqui do lado, quer falar com ele?
  — Passa o telefone para ele, por favor, .
  — Com prazer… ele está merecendo ouvir umas coisas…
  Segundos depois, atende à ligação.
  — Hai, -chan — diz ele animado.
  — Oi, — responde , séria. — Vou ser direta: o que você pretende fazer sobre a ?
  — Hã?
  — Não faça “hã” para mim, !
   não está vendo, mas está rindo ao lado do irmão ao ver a expressão estarrecida de .
  — Eu quero saber se você vai ser homem suficiente para dispensar a e parar de dar desculpinhas para ela!
  — -chan, eu…
  — Você o que, ? — pergunta, impaciente.
  — Perdão, -chan. Eu… eu vou falar com a . Eu queria falar pessoalmente, mas…
  — Está demorando muito! Fala de uma vez e para de enrolar minha amiga!
  — Você tem razão.
  — Eu sei disso!
  — Bom, perdão mais uma vez, -chan… Eu tenho que ir. Vou devolver para o , tá? Até mais.
  — Mata ne – “até mais”.
   volta a atender, ainda rindo.
  — Já disse que você é incrível, ? Pois você é!
  — Bobo. Ele precisava de um empurrão.
  — Um chute nas costas!
  — Ah, . — Ela ri e sente o corpo arrepiar só em ouvir a risada dela.
  — , é sempre um prazer falar com você, mas eu preciso ir, ok?
  — Eu também adoro falar com você, .
  — Kawaii!! Nos falamos por mensagem?
  — Sim. Até mais e obrigada!
  — Sempre um prazer! Mata ne.
  — Até.
  Despedindo-se de , volta para sua mesa para continuar seu trabalho.
  Ainda há muito a se fazer em ambas as campanhas que agitam a agência.

[🌠]

  O jovem Ito anda pelo caminho de volta à sua casa. Teve um dia exaustivo e tudo o que deseja é tomar banho e dormir. Sentindo a cabeça doer levemente, Ichiro relembra toda a discussão que teve mais cedo no trabalho.
  Durante toda a tarde, Ichiro passou na sala de seu chefe direto tentando se defender de uma acusação de plágio. Um de seus colegas o acusou de plágio de um dos desenhos que foram pedidos com exclusividade para serem feitos. A ideia era a criação de uma personagem a partir de uma descrição dada por um dos produtores. Esse colega acusa Ichiro de ter desenhado exatamente igual a ele. O jovem Ito ficou muito irritado e quis pedir demissão, mas apenas se desculpou e disse que faria o desenho novamente, somente para que o assunto se encerrasse.
  Ichiro deita na cama com o rosto enfiado no travesseiro e chora. Frustrado e irritado, o garoto não sabe mais o que fazer para que parem de pegar no pé dele.
  O pior é que a confiança nele mesmo que o garoto conseguiu ter nos últimos meses está se fragilizando aos poucos.
  O celular dele toca. Ichiro ignora.
  Outra chamada.
  — Nossa, que insistência! — brada ele, irritado.
  Ao olhar para tela do aparelho, ele vê o semblante de e se anima.
  — Hai, ! — diz Ichiro, atendendo a chamada de vídeo que fez.
  — Ichiro-kun! E aí, como vai? — questiona , ao fundo, Ichiro pode ver que o rapaz está numa espécie de estúdio.
  — Bem, eu acho — responde ele, sinceramente.
  — Oh, o que houve?
  Ichiro suspira e conta tudo o que vem acontecendo com ele no trabalho nos últimos dias em que não conseguiu falar com por conta da agitação em sua própria vida e da agitação na vida do ídolo que está prestes a lançar um novo CD com a Flow. tem sido como um irmão mais velho para o jovem Ito, com ele o garoto pode compartilhar coisas que não tem coragem de falar com a irmã.
  — Que cretino! — brada ao terminar de ouvir o relato de Ichiro. — Você não precisa plagiar ninguém. Tenho certeza que ele fez por maldade.
  — Sim, mas eu não tenho o que fazer, . Não tenho como provar a maldade dele em me incriminar assim. Não quero me desgastar mais com isso…
  — Ichiro-kun! Lembra do que te disse naquela vez?
  — Lembro — Ichiro sorri para o amigo e completa: — “Que eu sou forte e muito legal para dar bola para pessoas babacas”. Eu sei, , mas…
  — Eu sei que é difícil, Ichi — ele fala com carinho e um sorriso no rosto. — Mas você consegue! Ah, eu te contei que já sofri muito quando criança?
  — Não. — Ele faz uma expressão confusa.
  — Sim, eu fui uma criança acima do peso, me comparavam muito com o , que sempre foi muito magro e isso me deixava mal sempre. Como temos idades próximas, estudávamos em séries próximas também e na mesma escola. As comparações eram inúmeras começa a relatar sobre o quanto sofreu com o bullying na infância. — Por anos eu não gostava das “piadas” e sempre brigava. Até o dia que eu passei a prestar mais atenção em mim mesmo e deixar de lado a opinião das pessoas, me ajudou muito, sempre foi um grande irmão.
  — Eu não fazia ideia,
  — Pois é, mas foi isso. Quando adolescente, eu me tornei mais bonito. Virei um galã! solta uma risada e Ichiro ri também.
  — A onee que o diga, né? — brinca ele.
  — Ah, sua irmã gosta de mim, mas não do jeito que estou gostando dela.
  — Está apaixonado por ela, ? — Ichiro brinca novamente.
  — Estou… — confessa , pela primeira vez e surpreende Ichiro.
  — Wow, não esperava essa confissão sua.
  — Nem eu, mas eu estou apaixonado. Muito apaixonado.
  Os sentimentos que, até então, eram confusos para , haviam se organizado em seu coração de maneira mais clara, o que fez com que ele visse o que realmente sente por : uma paixão intensa. Paixão essa que beira o amor.
  — Nossa, … você já falou sobre isso com a onee? — questiona o jovem após um tempo de silêncio de ambos.
  — Não diretamente…
  — Como assim?
  — Ainda não disse com todas as letras, do jeito que te disse agora. Creio que ela não acredite em mim, ela ainda deve achar que eu sou um cara zoeiro e, possivelmente, vai achar que estou enganando ela.
  — Oh, entendo, entendo bem… — suspira Ichiro.
  — Você fala da Harumi-chan, né?
  — Sim… — involuntariamente, os olhos do garoto começam a brilhar diferente e logo esse brilho é notado por . — Eu gosto dela, mas não sei como dizer. Sem contar que ela tem um gênio parecido com o da onee. — Ambos riem.
  — Sua irmã é muito, digamos, persistente. Porém, ela é muito fofa quando está à vontade.
  — Hm, está bem íntimo dela, hein? — O jovem Ito arqueia a sobrancelha e ri.
  — Está com ciúmes?
  — Não tenho ciúmes de você com ela, já disse que apoio esse relacionamento.
  — É, só falta a sua irmã aprovar também. — Eles riem novamente.
  Os dois conversam por mais alguns minutos, mostra um trecho de uma das novas músicas que será lançada em breve no CD novo intitulado MICROCOSM.  Duas músicas do CD, inclusive, escreveu enquanto pensava em e em seus sentimentos pela moça, antes mesmo dele notar que a paixão que ele sente não é passageira feito uma estrela cadente. É muito mais forte e permanente que isso. O chamado que ele ouvia toda noite, o chamado de seu coração que lhe pedia para estar junto da , deixava confuso e angustiado. Hoje ele consegue entender melhor o que esse chamado significa: nada mais é do que seu coração pedindo para estar junto da moça que conseguiu mexer com ele, tirar ele do eixo rotineiro e turbulento que ele vivia para algo mais intenso, duradouro, alegre e, é claro, com muita paixão e desejo envolvidos. As duas músicas seguem vertentes diferentes, uma conta da paixão que o rapaz sente por ela e de sua vontade de estar junto e nunca mais soltar sua mão; já a outra, fala sobre seus desejos carnais pela mulher de corpo incrível que ele anseia ter para si, em sua cama, ele não quer só uma noite com ela, quer a vida inteira.
  Ichiro termina sua noite pensando no sentimento que demonstra ter nas músicas que escreveu para . O jovem pensa em Harumi e, acometido por uma coragem momentânea, resolve chamar a jovem Tanaka para sair no final de semana.
  Mensagem enviada.
  — Agora não posso mais voltar atrás… — diz para si mesmo e vai para o banheiro tomar banho.
  Ele não vê de imediato, mas a resposta rápida e positiva de Harumi o animará quando for lida.

[🌠]

  O primeiro dia do final de semana chega finalmente para a alegria de Ichiro que já está acordado e se arrumando.
  — Hm… vai sair, Ichi? — diz ao parar na porta do quarto do irmão.
  — Sim. Vou ao parque com a Harumi — responde ele olhando-se no espelho enquanto penteia os cabelos.
  — Maji ka? — “sério?”, diz espantada.
  — Para que o espanto?
  — Não era você quem não gostava da Harumi-chan? — questiona, divertida.
  — Eu gosto dela.
  — Wow, que fofo, Ichi! — caminha até o irmão e o abraça pelas costas. — Estou orgulhosa que você finalmente assumiu seus sentimentos pela Harumi-chan!
  — Ah, onee, não é para tanto…
  — Estão namorando?
  — Eu nem sei se ela gosta de mim.
  — Já perguntou?
  — Ainda não, mas me aconselharam a perguntar e a revelar o que eu sinto.
  — Quem?
  — .
  — Ah, nossa, o de novo! — ela diz, soltando o irmão e retorcendo a boca, enciumada.
  — Está com ciúmes da minha amizade com o , onee?
  — Não…
  — Mente de novo porque não me convenceu — brinca ele e ri.
  — Ah, chato! Vou para o meu quarto.
   sai do quarto do irmão batendo os pés, o garoto ri da birra da irmã e volta a pentear os cabelos, passa perfume e dá uma última olhada no espelho antes de pegar o celular e mandar uma mensagem para Harumi.

  9:17 Estou saindo, Harumi-chan 😁
9:18 Ok, vou sair também!  
  9:18 mata ne 😁

Capítulo 5 - O pedido inesperado

  Semanas depois...
  A agência onde trabalha está mais agitada do que nunca. O motivo? Finalmente a Adidas escolheu o modelo para a sessão de fotos na mesma época que o Governo Federal também escolheu seus modelos, as sessões serão na mesma semana. A equipe de , que conta com Hiroki, e mais duas pessoas, ficou responsável pela campanha do Governo Federal.
  — ! ! — grita Hiroki.
  — Pare de gritar! Eu não sou surda! — briga ela após aproximar-se dele em sua mesa.
  — Tá, tá… — diz ele, impaciente. — O chefe quer que você supervisione a sessão de fotos da Adidas — fala Hiroki sem tirar os olhos do computador.
  — Eu? Nem faço parte da equipe responsável…
  — É, mas o chefe confia em você para fazer isso. Queridinha… — a última frase foi sussurrada, mas ouvida por que dá um forte tapa na nuca de Hiroki.
  — Você está insuportável desde que Ichiro e Harumi saíram e brigaram — brada ela. — Não tenho culpa, tá?! E você não deveria se meter nisso, mesmo sendo irmão dela e, muito menos, trazer esse problema para a nossa amizade! — Ele a encara com uma expressão fofa.
  — Desculpa, -chan… perdão! — Hiroki se vira para ela e junta as mãos no ar, acima da cabeça, abaixando o corpo e desculpando-se.
  — Não exagera. — Ela suspende os ombros do amigo e sorri. — Seu chato — dá um beijo terno na bochecha dele que fica sem reação.
  — Awn, vocês dois seriam fofos namorando — comenta , rindo.
  — … — a encara. — Shiu! ri. — Hiroki-kun…
  — Hã? — Hiroki ainda recupera-se do beijo que recebeu.
  — Quando é a sessão de fotos da Adidas?
  — Hã… — Ele espanta pensamentos aleatórios e impróprios da mente. — Hoje, é… lá em Tóquio.
  — Em Tóquio!?
  — Sim. Começa às 14h.
  — Quê?! Isso é daqui meia hora!
  — Desculpe, , devia ter te contado antes, mas…
  — Mas a sua birra infantil não deixou, né?! Vou te matar, Hiroki! — Ela bate nele que se defende.
  — Ai, ai, desculpe, !
  — , melhor você ir logo — avisa —, se for de trem, chegará rápido lá.
  Parando de bater em Hiroki e recompondo-se, pega sua mochila, o endereço da sessão de fotos e sai correndo até a estação. Precisa chegar o mais rápido possível até Tóquio.

[🌠]

  Tóquio, 13:40
   entra no prédio da produtora e sobe até o oitavo andar onde acontecerá a sessão de fotos. Graças ao seu amor pela marca, a Adidas o convidou para ser o rosto de sua campanha. Obviamente que o rapaz aceitou de imediato.
  — -san! — diz o produtor animado ao ver o rapaz. — Seja bem-vindo!
  — Olá, obrigado — agradece ele sorridente.
  — Me acompanhe, por favor, -san — diz e começa a andar pelo longo corredor que separam vários estúdios fotográficos. o acompanha. — O pessoal da maquiagem e figurino já espera por você, -san.
  — Que bom, espero não ter me atrasado. — O homem sorri.
  — Daijoubu desu, não atrasou. Só falta a agência responsável pela campanha. A pessoa encarregada ainda não chegou. Me desculpe por isso. — Ele se curva levemente.
  — Daijoubu.
  — Mas, isso não atrapalha a sessão de fotos.
  — Mondai ga nai — expressão que significa “sem problemas”.
  Paciente, responde enquanto eles chegam no estúdio onde será feita a sessão. Logo, ele é encaminhado até o camarim para trocar de roupa e se arrumar.
  — Pronto, -san — diz a maquiadora ao finalizar a maquiagem leve que fez no rosto do astro.
  — Obrigado — agradece ele e levanta da cadeira.
   vai ao estúdio e veste o novo casaco da Adidas. Será o novo lançamento da marca para o próximo outono, que será no início de setembro. Ele faz algumas poses para as fotos, quando a sessão foi interrompida pelo barulho de algo caindo. Ao olhar na direção do barulho, vê que o “algo” é conhecido dele.
  — ? — questiona ele, baixinho.
  — Gomen nasai — “desculpe/perdão”, diz para a pessoa que ela esbarrou. — Desculpem o atraso e ter atrapalhado a sess… — As palavras parecem ter sumido de sua mente ao recair seu olhar nele. —
  O rapaz está muito bonito, diferente da última vez em que o viu, na festa de . tem a fama entre os fãs da Flow de sempre inovar nos penteados e cores de cabelo. No aniversário de , estava com o mesmo cabelo do show de Yokohama: na altura das orelhas e avermelhado nas pontas. Hoje, apresenta novo corte de cabelo: baixo nas laterais, um topete na frente e, o mais surpreendente para , totalmente preto. Poucas foram as vezes que viu com a cor natural de seus cabelos. Há mais um detalhe que chama a atenção da mulher: usa um cavanhaque e bigode. Realmente, ele é muito bonito.
  — -chan! — chama o homem, sorrindo.
  — Minha querida, o seu ensaio é em outro estúdio — diz o produtor que recepcionou e conduz até a saída.
  — Não, eu sou a representante da agência! — diz , apressada.
  — Você não é modelo? — questiona ele, incrédulo.
  — Não — ela responde, sem jeito.
  — Ela deveria ser modelo! — grita e ouve-se alguns concordando. — Ela é linda, não é? — conclui ele e, mesmo de longe, consegue ver a expressão tímida que tem no rosto.
  — Mulher, ele tem razão. Deveria fazer um teste, certamente iria passar — sugere o produtor.
  — Ah, eu não levo jeito...
  — Deveria tentar, minha querida. E, pelo visto, você já tem quem te apoie. — Ele sorri bem sugestivo e olha para .
   também olha para o rapaz que lhe sorri lindamente. A sessão de fotos foi retomada e começa a observar a desenvoltura de como modelo fotográfico, ela já viu inúmeras fotos promocionais com os membros da Flow, todos são muito fotogênicos, mas está surpreendendo a moça com sua beleza. nunca havia notado o quão bonito ele é e o quão carismático. Ela ainda não disse a ele, mas já conseguiu superar as expectativas que ela tinha dele há muito tempo.

[🌠]

   já está de volta a Yokohama, nem ficou muito tempo após a sessão de fotos, pois precisava reportar ainda hoje sobre tudo que aconteceu lá. Porém, ela ficou tempo suficiente para conversar com por poucos minutos, ambos foram a uma coffee house perto da produtora e conversaram enquanto tomavam café. Foram fotografados por um paparazzo que não demorou a postar a foto na internet com a manchete:

e seu novo affair?
  Ambos são flagrados tomando café intimamente em Tóquio”

  O que mais incomodou ao ler a matéria, foi o termo “novo affair”, pois deu a impressão que tem muitos affairs. Bom, essa parte da vida dele ela não conhece, nem dos outros membros da Flow, mas, pelo jeito de , ela crê que ele realmente é o tipo que fica com muitas mulheres. E, por algum motivo ainda desconhecido por ela, isso a incomoda.

  No dia seguinte, teve um dia muito agitado na agência. Passou o tempo inteiro entrando e saindo de reuniões, ambas as grandes campanhas estavam com seus ensaios fotográficos finalizados e agora eles poderiam compor melhor a campanha impressa e online. Exausta, tudo o que quer ao chegar em casa é tomar banho e dormir, a moça não tem forças nem para comer. Mas, ao abrir a porta de casa, deixar os sapatos no hall e entrar na sala, depara-se com seus pais e seu irmão brincando com o filhote de gato.
  Espera, um filhote de gato?!
  — Onee!!! Finalmente você chegou! — diz Ichiro, empolgado.
  — De onde veio esse gatinho, Ichi? — questiona ao ver a criaturinha morder as mãos de Ichiro e ele nem reclamar.
  — Também queremos saber, filha — diz Akira que está no outro sofá, longe do filhotinho, ele não gosta muito de gatos.
  — Chegou essa caixa para você hoje à tarde, filha — Akito diz apontando para uma caixa que tinha um laço vermelho em cima. — Veio com esse bilhete. — Ela entrega o papel para a filha e completa: — Eu vi que era um gatinho, então o tirei da caixa.
  — Fez bem, mamãe — diz , enquanto desdobra o bilhete. — Quem será que mandou?
  — Foi o ! — revela Ichiro.
  — Você leu meu bilhete, Ichiro?!
  — Ichiro-kun… — repreende Akito.
  — Eu não li! — defende-se ele. — Apenas deduzi que tivesse sido o .
  Ichiro faz a cara mais inocente que consegue expressar, o que não convence a irmã, deixando isso de lado, lê o bilhete.

  Querida ,
  Primeiro: por favor, não brigue com o Ichiro, ele me deu a ideia do presente e eu achei incrível!
  Segundo: eu vi no seu perfil no Instagram que você é amante de gatos, mas Ichiro me disse que vocês não têm gatos. É muito irônico isso, não acha?! 😂 resolvi encerrar essa ironia.
  Terceiro: esse pedacinho de fofura e garrinhas afiadas (que me arranharam bastante) não tem nome ainda, fique à vontade para batizar. É um macho!
  Minha única ‘exigência’ em te dar esse gatinho amarelo (que parece o Garfield, né?!) é que me mande fotos deles, por favor

  Espero que tenha gostado do presente. Assim que possível eu entro em contato para saber como vão as coisas, tá?

  Com carinho,
  .

  P.S.: Ah, eu mandei junto com o gatinho algumas coisas para ajudar nessa primeira noite!

  Ao terminar de ler, os olhos dela encheram-se d’água e um sorriso surge em seu rosto.
  — é incrível, né, onee?! — comenta Ichiro.
  — É sim — concorda ela e Ichiro fica surpreso, esperava que a irmã brigasse com ele por a ter exposto para .
  — Quem é esse , filha? — questiona Akito, curiosa.
  — Guitarrista da Flow.
  — Ah, que gentileza dele lhe dar esse presente tão fofo.
  — Sim...
  — Ele é seu namorado, ? — Akira pergunta, de repente, com a sobrancelha arqueada.
  — Não, papai! — apressa-se em explicar.
  — Mas poderia ser… — diz Ichiro, rindo.
  — Ichiro! Calado!
  O jovem ri mais ainda e levanta para entregar o filhotinho para a irmã que o segura com medo de machucar o pequeno ser, tão fofinho e pequeno. quis mordê-lo. Já em seu quarto, ela ajeita as coisas do gatinho em um canto; coloca a caixa de areia num canto, pretende comprar outra amanhã; coloca o potinho de ração e água perto da escrivaninha; Ichiro a ajuda.
  Nesse momento, Ichiro está no quarto da irmã rindo por causa do nome que ela escolheu para o filhotinho.
  — Onee! Esse nome é horrível — diz Ichiro em meio às gargalhadas. — Zero criatividade!
  — Eu gostei — diz ela, dando de ombros enquanto brinca com o pedacinho de garrinhas afiadas.
  — O vai adorar saber — comenta ele.
  — Oh, preciso ligar para agradecer — lembra ela.
  — Acho que tem show em Osaka hoje.
  — Hm, verdade. Vou mandar uma mensagem, então.
   deixa o gatinho brincar sozinho com o brinquedo dado por e pega o celular para mandar uma mensagem para ele.
  Mensagem enviada.
   volta a brincar com o gatinho e, segundos depois, ouve o celular tocar.
  — Aposto que é o — diz Ichiro, divertido.
  — Será? — pega o telefone e confirma algo óbvio: chamada de vídeo de .
  — Oi, !!! — diz animado. O cenário atrás dele é o de um camarim.
  — Oi, , como vai? — A moça ajeita os cabelos atrás da orelha e sorri.
  — Melhor agora! Recebeu meu presente?
  — Sim, obrigada por isso, , eu amei o presente. Aliás, ele está aqui mordendo o Ichiro. — E, de fato, o gatinho morde o irmão dela.
   ri.
  — Esse gatinho é adorável!!! — diz e completa: — Já escolheu um nome?
  — Sim. O nome dele vai ser neko*.


  *neko - em japonês significa “gato”


  — Neko? Você deu o nome de “gato” para o gato? começa a gargalhar.
  — Qual o problema, ? — Ela dá de ombros e ele continua gargalhando. — Para de rir… — Ele não parar. — ! — Quase um minuto se passa e ele continua rindo. Ichiro começa a rir também. — Cala a boca, Ichi! — briga e dá um cascudo no irmão.
  — Isso dói, onee — reclama ele.
   ainda ri.
  — , eu vou desligar! — ameaça ela e vê o homem tossir e controlar o riso.
  — Perdão, . É que, convenhamos, isso é hilário!
  — Não vejo graça alguma, .
  — Hey… — ele diz e fica sério. — Não precisa me chamar pelo nome, ! — Ele faz um biquinho com o lábio inferior.
  — Awn, kawaii, !! — responde , amolecendo com o beicinho dele.
  Não foi a intenção de , mas ela acabou tendo uma reação verdadeira demais. Não queria demonstrar tanto o que acha de até ter certeza do que sente por ele. A cada mensagem trocada ou ligação feita com o rapaz, sente-se mais confusa em relação ao que sente por ele, ela só sabe que é algo muito forte.

[🌠]

  Gritos, acusações, papéis amassados ou jogados para cima. Um caos. Essa é a atual situação da agência de mangás e animes onde Ichiro trabalha. O foco da confusão, mais uma vez, é o jovem Ito.
  — Eu não fiz nada, eu juro! — brada Ichiro, o rosto já vermelho de raiva reprimida.
  — Ah, o inocente nunca faz nada! Eu sei que foi você quem pegou meus desenhos, Ito! — acusa um dos colegas do jovem.
  — Parou! — grita Hayato que acaba ouvindo a confusão, por acaso, enquanto passava pelo setor. — Ichiro, vamos até minha sala, por favor.
  Hayato ajeita a gravata no pescoço, tenso pela confusão que está ali. Ichiro continua parado, respirando profundamente, o rosto ainda vermelho, o jovem parecia prestes a explodir.
  — Ichiro? Vamos… — chama Hayato novamente.
  — Não... — Ichiro sussurra, a cabeça dele lhe dá pontadas fortes.
  — Como?
  — NÃO!!! — berra ele, todos o encaram. — Estou cansado de acusações sem fundamento!
  — Vamos conversar, Ichiro. — Hayato se aproxima do rapaz, mas ele se afasta.
  — Estou cansado disso… eu me demito! — revela ele, as pontadas cada vez mais fortes.
  — O que? Você não…
  — Eu me demito!!! Eu vou embora! — Ele vai até sua mesa, pega sua mochila, casaco e celular e caminha até a saída.
  — Ichiro, volte imediatamente! — berra o chefe direto do jovem.
  Sem olhar para trás, Ichiro pega o elevador e vai embora. A pressão que ele sentia foi demais para ele, tantas acusações infundadas e picuinhas entre colegas de trabalho o fizeram sucumbir e pedir demissão. A cabeça dele lateja e o faz querer parar de andar e se jogar no chão, gritando de dor. Ou senão, pedir colo para a irmã, mas não tem como ele fazer isso no meio da calçada, né?
  Ichiro caminha sem rumo e as dores de cabeça só pioram, desesperado e chorando ele resolve ligar para .
  — Onee, pode falar agora?  — Ichiro diz ainda chorando.
  — Ichi? Você está chorando? — questiona ela em tom preocupado.
  — Onee… você pode me encontrar agora?
  — Oh, meu amor, estou no trabalho. O que houve?
  — Eu pedi demissão… — ele diz, manhoso.
  — Demissão? Por que, Ichi?
  — Me acusaram de plágio e de roubar um objeto de um colega, mas não fui eu, onee, não fui eu!
  Quem passa por Ichiro na rua nesse momento, deve achar que ele terminou um namoro ou algo assim, tamanho o desespero que o jovem se encontra.
  — Eu sei que você jamais faria algo assim, meu amor — diz ela sentindo a voz embargar. — Eu vou falar com o Hayato
  — Não, onee, não precisa! Eu não quero mais trabalhar lá! Eles estão fazendo de tudo para me sabotar só porque os últimos trabalhos foram dados para mim.
  — Aonde você está?
  — Andando… sem rumo, minha cabeça vai explodir, onee!
  — Ichi, vai para casa, ok? — pede ela.
  — Não quero ir para casa, onee, eu…
  — Ichiro! Vá para casa, agora! Você me ouviu? — brada ela e o jovem sente-se um garotinho de 5 anos.
  — Tá… — ele diz, contrariado.
  — Ótimo, quando chegar em casa, me avise. Eu preciso desligar, terei uma reunião agora. Eu amo você, ok?
  — Também te amo, onee… — Ele funga e encerra a chamada, a cabeça latejando de dor.
  Ichiro obedece a irmã e vai para casa.
  Ao chegar em seu quarto, o jovem é recepcionado por Neko, o gatinho, que ficou ali durante a noite. Ele manda uma mensagem para atualizando sobre a demissão, a bomba finalmente explodiu e destruiu tudo.

  Relaxa, Ichiro-kun, eu sei que você não fez nada errado. Eu sei, ok? Daijoubu ne, vai dar tudo certo. Mais tarde eu te ligo para conversarmos melhor. Toma um remédio e descansa, está bem?
  Se cuida, garoto! 😁

  O incentivo e preocupação do ídolo animam Ichiro, mesmo que levemente. O jovem resolve acatar o conselho dele e toma um remédio, acaba dormindo minutos depois.

  À noite, chega em casa e encontra Neko deitado confortavelmente no tapete que fica no meio do quarto de Ichiro; ao olhar para a cama, vê o irmão largado na cama numa posição incômoda só de olhar. senta-se ao lado dele e afaga os cabelos do jovem que está com a mesma roupa com que foi trabalhar mais cedo, sinal de que ele não tomou banho e de que dorme desde que chegou.
  Nos últimos meses, Ichiro vem desabafando sobre suas angústias tanto no trabalho quanto amorosas (lê-se: Harumi) com . Não que os conselhos de sua irmã tenham ficado ruins de uma hora para outra, mas o faz ter uma nova e diferente visão das coisas que o afligem. Essa relação íntima do irmão com o ídolo deixa enciumada, é um sentimento inevitável para ela.
  Mesmo indo de encontro ao pedido de Ichiro, irá conversar com Hayato e pedir para ele reconsiderar o pedido de demissão do irmão. A moça sabe que o jovem estava de cabeça quente e nervoso e que se arrependerá de sua decisão impulsiva. Enquanto acaricia a nuca do irmão, ela recebe uma mensagem de Hayato que conforta seu coração de irmã preocupada.

  Boa noite, -chan!
  Pode ir na empresa para conversarmos, pela manhã estarei mais livre do que à tarde. Aguardo sua presença ansiosamente.

  Um beijo,
  Hayato

[🌠]

  — Filha, não vai comer? — questiona Akito enquanto frita ovos para o café da manhã.
  — Não, mamãe, tenho uma reunião importante agora cedo. Já vou indo.
  Apressada demais para se despedir direito, a moça pega seu capacete, sai de casa e monta em sua moto dando partida diretamente para a empresa de Hayato. Pelo caminho, ela já se prepara mentalmente para as investidas dele que parece que jamais desistirá de tentar namorá-la.
  A moça estaciona sua moto e tira seu capacete o prendendo na moto; ajeita os cabelos e caminha até a recepção do prédio, após ser liberada para subir ela pega o elevador e chega até o andar onde fica a sala de Hayato. O rapaz já aguarda com a porta de sua sala aberta.
  — Bom dia, -chan — ele diz, animado e com um lindo sorriso no rosto. — Eu estava te esperando.
  — Percebi — brinca ela com o fato dele estar parado na porta de sua sala. — Bom dia, Hayato-kun.
  — Por favor, entre — convida ele, cordialmente.
  A sala de Hayato continua da mesma forma da última vez que esteve nela e o dono dela também continua o mesmo: bem insistente.
  — Imagino o real motivo de sua visita repentina — comenta ele, ajeitando-se na cadeira confortavelmente.
  — Vim falar do meu irmão — diz e encara o rapaz.  — O que houve ontem? Aliás, o que está havendo aqui para que Ichiro sucumbisse dessa forma? Ele estava péssimo ontem…
  — Perdão, -chan. Bom, o Ichiro é muito talentoso e creio que isso tenha causado certo desconforto nos colegas dele.
  — Hm… a acusação de plágio é absurda — ela diz em defesa do irmão.
  — Também não acredito que ele tenha plagiado ninguém, mas a outra acusação é…
  — Você está insinuando que meu irmão roubou alguém? — A moça sente que perderá o autocontrole a qualquer momento.
  — Não foi o que eu disse, … eu também não acredito nela.
  — Então por que falou “mas”? — Ela arqueia a sobrancelha. — Muito suspeito…
  — Me expressei mal. Vou reformular: apesar de tudo indicar que foi o Ichiro, eu não acredito — explica-se ele e completa: — Ontem, antes dele sair daqui eu ia justamente falar isso para ele.
  — Entendi… — não sabe precisar o porquê, mas não acredita cem por cento em Hayato, porém, prefere omitir isso.
  — Se ele quiser, terá o emprego de volta.
  — Ele me disse que não quer mais trabalhar aqui. Agradecemos a oportunidade. — Ela curva-se levemente em agradecimento. — Eu só vim aqui entender o que tinha acontecido, mas já compreendi.
  — -chan, espera…
  Hayato levanta e o acompanha, ele dá a volta na mesa e segura as mãos dela, beijando-as com ternura. O sorriso que Hayato tem no rosto esconde algo, não sabe o que é exatamente, mas sente que saberá em breve.
  — -chan, você está livre para jantar comigo mais tarde? — convida ele.
  — Oh, jantar? Mas, por quê? Alguma ocasião especial? — ela o questiona, confusa e curiosa.
  — Comemorar nossa amizade e desfrutar de sua sempre incrível companhia. Me dá essa honra?
  Os galanteios de Hayato não são novidade para ela. Desde que se conheceram, ainda na faculdade, que ele age dessa forma, sempre cavalheiro e gentil. E sempre tentando conquistar o coração da moça. Por um tempo, sentiu uma paixão por ele, mas foi passageiro feito a passagem de uma estrela cadente. Ela queria sentir algo mais profundo, duradouro, como só sentiu uma vez em toda sua vida.
  O lindo e sedutor rapaz se permite chegar um pouco mais perto de sua amada, sente que o coração dela está tão acelerado quanto o dele. Vendo que esse é o momento ideal, Hayato se aproxima do rosto dela, mas antes mesmo de sentir o toque dos lábios da moça, ele a ouve dizer num sussurro.
  — Não,
  Foi totalmente involuntário, simplesmente saiu. Ao notar sua falha, apressa-se em aceitar o convite de Hayato e vai embora sem nem mesmo explicar o porquê de ter dito outro nome, para ela também é confuso ter falado de ao invés do nome da pessoa que estava com ela. Como pôde errar assim? Porém, ela não quis pensar naquilo, tudo que ela quer é chegar logo ao trabalho e esquecer-se dessa falha.

[🌠]

  Já passa da hora do almoço, e os amigos e Hiroki comem juntos no mesmo restaurante que e almoçaram meses atrás. O assunto no momento é o convite para jantar que a moça recebeu de Hayato. Incomodado com o assunto, Hiroki se permite viajar em seus pensamentos diversos que passam em sua mente agora, enquanto come sua tigela de arroz com curry.
  Desde a faculdade, Hiroki e Hayato disputam entre si para ver quem conquistará o amor de ; o mais velho, Hayato, sempre esteve em vantagem por ser mais direto em suas atitudes. Foi ele quem levou na festa de formatura, ele quem a beijou e foi correspondido naquela época. Já Hiroki sempre ouve a frase “Somos só amigos, Hiroki-kun” quando tenta algum galanteio. Frustrado demais para demonstrar, Hiroki decide que o melhor para ele é ser apenas amigo de , já é o bastante para acalentar seu coração. Assim, ele desiste de tentar conquistar o coração de , oficialmente.
  A filha mais velha dos Ito volta para sua casa para se arrumar, o jantar com Hayato será em breve, após o banho coloca um vestido amarelo não muito longo, salto alto e uma maquiagem leve, perfumou-se e desceu para aguardar a chegada dele.
  — Nossa, está tão linda, filha — comenta Akira enquanto assiste ao jornal na TV. — Algum jantar importante?
  — Vou jantar com o Hayato-kun — diz ela simplesmente e vê a felicidade brotar no rosto dos pais.
  — Oh! Torci tanto por esse dia! — diz Akito.
  — Está tudo bem, filha? — Akira nota que o semblante de não é tão feliz quanto ele esperava.
  — Sim, só estou preocupada com o trabalho — ela mente e sorri.
  Akira sorri, carinhoso e todos ouvem a buzina vindo do lado de fora: Hayato chegou. despede-se dos pais e vai ao lado de fora, o rapaz já a aguarda do lado de fora do carro. Ele está lindo, os ternos definitivamente o deixam ainda mais bonito, elegante e sedutor. Hayato abre a porta do carro para ela entrar, após se acomodar no banco do carona, ele fecha a porta e vai para seu posto de motorista.
  O restaurante escolhido por Hayato é um dos mais conceituados de Yokohama, já com a reserva feita previamente, logo eles foram acomodados na mesa que fica na parte externa. Pedido feito, ambos bebem goles de vinho enquanto conversam e aguardam a chegada da comida.
  — Um brinde… — inicia Hayato erguendo sua taça, faz o mesmo.
  — À que? — questiona ela.
  — À nossa amizade e a nós dois… — Eles brindam e dão um gole no vinho. — Eu não te chamei aqui hoje para isso — completa ele após repousar a taça na mesa.
  — Para que foi, então? Assim você me deixa curiosa, Hayato-kun! — Ele sorri, galanteador.
  — Após o jantar você irá descobrir. — Ele pisca para ela.
  Ele tem essa mania de ser misterioso e de fazer surpresas, foi assim na faculdade e é assim agora. O jantar é servido e desfrutado por ambos. está muito curiosa com esse segredo todo que o rapaz faz, conhecendo bem como conhece, aposta ser algo para deixá-la sem saída, algo que ela não possa contestar. Isso a deixa levemente preocupada com sua própria reação à revelação de Hayato, o medo dela é se arrepender depois e magoar seu querido amigo.
  Durante o jantar, o celular de a alerta de uma nova notificação, ao ler o nome de , imediatamente ela abre para ver o que é. Mais cedo, antes de sair de casa, ela postou sobre a Flow e os sentimentos bons que eles a fazem sentir, marcando os integrantes e o perfil oficial deles no Instagram. Não é comum eles responderem, mas ver a resposta positiva de em sua publicação fez encher-se de um sentimento intenso de gratidão e vontade de abraçar .
  Após o jantar, Hayato não demorou para revelar o que pretendia com o convite. Ele se levanta e vai para o lado da cadeira onde está sentada, ajoelha-se ao seu lado fazendo a moça virar-se para ele já sentindo as pernas bambearem mesmo estando sentada.
  — -chan… — ele segura a mão dela e, sorrindo, faz o pedido: — quer namorar comigo?
  A moça temia por isso e muito. O descontrole que sucedeu a partir do pedido também era esperado e temido por ela. Não sabia dizer se estava feliz ou angustiada, uma confusão de sentimentos.

[🌠]

   deixa sua bolsa em cima da escrivaninha e deita-se em sua cama após o dia cheio de emoções. O pedido de namoro de Hayato, o sim tão incerto como resposta, o beijo apaixonado que recebeu dele, a felicidade no rosto do rapaz que a fez sentir-se mal por não compartilhar nem meios um terço dela. Frustrada e desconfortável, ela pega o celular e navega pelo feed do Instagram, até que uma publicação chama a atenção dela.

  A legenda da foto intriga ela, o que quis dizer escrevendo isso? sabe que todas as letras compostas por ele têm uma mensagem, seja genérica ou específica para alguém. Apesar de não ter conhecimento de nenhum relato anterior, ela desconfia que, dessa vez, o rapaz tenha escrito alguma música para alguma mulher. Postagens com esse tipo de mensagem não são do feitio dele e desconfia levemente para quem quer enviar um recado, mas ela prefere ignorar. Não seria realmente possível. Ou seria?

Capítulo 6 - O vibrar das cordas do coração

  Três meses depois…
  Agosto de 2010

  As campanhas com a Adidas e o Governo Federal foram um sucesso e já não faziam mais parte da lista de preocupações de Ito. Atualmente, o que mais tira o sono dela são as insistentes propostas de seu namorado, Hayato Yoshida, para que ambos durmam juntos. Ela não se sente à vontade para dar esse passo a mais no relacionamento deles, porém as negativas da moça deixam Hayato angustiado. A mais nova obsessão dele são as longas conversas sobre casamento, evento que a moça não pretende embarcar tão cedo, ela nem sabe se será com Hayato mesmo que se casará…
  Contrapondo-se a esse mar de angústias que vive no namoro com Hayato, o lançamento do novo CD da Flow finalmente aconteceu. No dia 16 de junho houve uma pequena recepção na gravadora para poucas pessoas e imprensa, entre elas, e Ichiro, onde foram apresentadas as novas canções, uma delas chamou a atenção de logo de cara: Calling.
  Ela sempre analisou as letras da Flow, mas agora ela tem um motivo especial para fazer isso: curiosidade pelo post de . O trecho da música que mais intriga a moça é:

  “Eu pareço ter um colapso agora que meu coração dói para o sorriso que você me mostrou.
  Você não precisa dizer mais nada, por favor, não largue minha única mão que está ligada a você.”

  Várias teorias pairam a mente dela quando pensa nessa música, mas a mais convincente delas é a que ela teme ser verdadeira: está apaixonado por ela. Isso a faz ficar temerosa pelo simples motivo de ainda não saber o que sente por ele de verdade. Sua única certeza é de que não é somente admiração de fã.

[🌠]

  Todos da Flow estão reunidos na casa dos irmãos para comemorar o sucesso de vendas nesses primeiros meses que MICROCOSM está nas lojas. Descontraídos e contentes com a fase da banda, os rapazes conversam enquanto bebem e beliscam petiscos. O assunto da vez é: os donos da casa e suas diferenças.
  — Tem certeza de que ele não é nosso irmão? — comenta ao falarem sobre Ichiro e no quanto ele é parecido com .
  — Ele é igualzinho a você, , impressionante! — diz rindo.
  — Até as birras — diz Gots divertido e com o rosto vermelho de tanta bebida que ingeriu.
  — Não é? — concorda .
  — É, mas Ichiro é irmão do mesmo. Ele não se parece comigo.
  — Vamos lá, , você também é birrento.
  — Então admite que é birrento? 31 anos depois… — ergue as mãos para o ar agradecendo o milagre e rindo.
  — Eu nunca neguei, irmão. — ri e completa: — Mas você também é!
  — É verdade, — concorda dando um gole em sua bebida.
  — É claro que não! — diz ofendido. — Sou uma pessoa indecisa? Talvez seja, mas birrento eu não sou. Teimoso? Também não. Bagunceiro? Piorou. Agitado? Às vezes, mas nunca no nível do
  — Vai ficar falando minhas qualidades até que horas? — o mais novo diz com os braços cruzados sobre o peito e a cara amarrada.
  — São tantas que eu já terminei, mas se eu lembrar de algo eu te mando uma mensagem. — pisca o olho para o irmão que lhe devolve com uma revirada de olhar.
  — Você me ama muito, incrível — brinca , desfazendo a cara amarrada e descruzando os braços.
  — Até parece…
  — Ama sim, todos sabemos, — provoca Iwasaki.
  — Ama e protege o irmãozinho dele! — completa Gots.
  — Awn! -san kawaii!, Gots e Iwasaki imitam a voz de uma criança e fazem biquinhos com os lábios.
  — Seus cretinos! — reclama , mas não esconde o sorriso. De fato, ele tenta proteger desde criança, coisa de irmão mais velho.

  Minutos se passam.
  A conversa agora passa a ter outra vertente, mas com o mesmo alvo: o que realmente sente por ? Ninguém sabe como a conversa chegou nesse ponto.
  — Vamos lá, , você está nos enrolando há meses — reclama Iwasaki em tom divertido.
  — Verdade, cara — concorda enquanto come.
  — O que querem saber de mim? — indaga o alvo em tom indignado. — De novo, né…
  — A verdade, irmão, aquela que me contou outro dia. — encara como se o mandasse se calar, o mais velho sorri em vitória. — Não me olhe assim, pare de mentir para si mesmo e, principalmente, para a .
  — Eu nunca menti para ela!
  — Já contou sobre a música que escreveu pensando nela?
  — Músicas! — corrige Gots.
  — Ainda não, nem sei como contar. Além do mais, ela tem namorado...
  — Faz assim, você liga para ela e diz: “Oi, , sabe as músicas ‘Calling’ e ‘LUNA’? Então, eu escrevi para você porque eu estou apaixonado! Vamos namorar?!” — diz de maneira teatral arrancando risadas de todos.
  — Não vou dizer isso — fala rindo. — Ela vai achar que é brincadeira minha.
  — para de rir e olha seriamente para o irmão, da mesma maneira que faz toda vez que tem algo importante para falar —, se disser para da mesma maneira apaixonada que eu o vi quando compôs essas músicas, ela vai acreditar sim.
   tem razão. Durante o processo de composição das músicas que fez para , que foram as últimas a serem gravadas, tinha um brilho diferente no olhar, uma alegria e amor que lhe transborda toda vez que fala ou pensa na moça, sua musa inspiradora. O mais novo nunca se sentiu tão bem em pensar e nutrir tais sentimentos por alguém antes, ele tem vontade de gritar ao mundo que o que sente é amor, um amor tão grande quanto o universo. Ok, talvez comparar o que sente com o universo seja exagero, mas não pode negar ou ignorar que é algo que continua crescendo a cada dia dentro de si e forte cada vez mais.
   não percebe, mas tem um sorriso bobo na face.
  — É disso que eu falo, maninho — recomeça . — Com essa expressão genuína de homem apaixonado não tem como a duvidar de você.
  — está certo, — concordam Gots e Iwasaki com um gesto de cabeça.
  — Nós te apoiamos a contar para ela — completa . — Te conhecemos há anos e estamos vendo que você está realmente apaixonado.
   reflete brevemente sobre a fala dos amigos.
  — E essa é a prova de que se apaixona! Isso é um milagre, meus amigos! — zomba .
  Aos risos, os amigos continuam a comemoração pelo sucesso de MICROCOSM. Inquieto, pensa em maneiras de demonstrar para que gosta dela de verdade. Enquanto comemora com os amigos, ele elabora uma estratégia para se declarar assim que a encontrar novamente. Pode parecer fácil, mas para ele é algo mais difícil de sua vida. O mais novo espera saber o que dizer na hora e dizer o correto, dizer aquilo que realmente está sentindo.

[🌠]

  Algumas semanas depois…
  A tranquilidade com que a moça se arruma vai de encontro com o relógio que diz que ela está atrasada. Os últimos dias têm sido mais desgastantes que o normal, sucessivas discussões com o insistente e ciumento namorado a fizeram repensar sobre suas recentes escolhas. Após ouvir o “sim” dado por , Hayato mudou de um rapaz gentil para um namorado muito ciumento quando o assunto é um certo guitarrista. sempre entra em conflito com o rapaz por conta disso, para ela, se não fosse essa obsessão que ele tem com , Hayato seria um namorado ideal. Com isso, ele está prestes a perder a mulher que tanto ama, por conta de sua incrível e insuportável insegurança.
  — Nossa, nem parece que vai encontrar com o namorado — comenta Ichiro, parando em frente à porta do quarto da irmã e ouve o miado de Neko que já está bem grandinho. — Hey, garoto. — O jovem o pega no colo. — Hayato chamou de novo...
  — Ele que espere — diz rispidamente enquanto conclui seu penteado.
  — Você está linda, onee — Ichiro sorri para o reflexo de que o encara também sorrindo.
  — Obrigada, meu amor.
  — Onee
  — Já sei o que vai perguntar — adianta-se ela.
  — Dá para ver que você quer terminar com ele. Por que não termina?
  — Eu não sei. Talvez tenha medo de assumir o que sinto…
  — Pelo ?
  — Não sei… — responde ela suspirando, o que não convence o irmão.
  — Bom, eu sei o que você está pensando e não te julgo por pensar assim, mas eu acho que deve dar uma chance ao seu coração. — encara Ichiro, incrédula com a maturidade das palavras do irmão. — Ah, desce logo antes que Hayato invada a casa e eu tenha que socar a cara dele. — solta uma risada abafada.
  — Já vou descer — diz com simplicidade.
  Não demorou muito para que a filha mais velha dos Ito ficasse pronta e acabasse com a sessão de buzinas e toques na campainha que Hayato proporcionou na última hora. A surpresa de hoje se dá como um pedido de perdão pelos acontecimentos recentes em que Yoshida surtou de ciúmes ao descobrir que Neko foi presente de para . O lindo vestido que lhe cobre até metade das canelas na cor azul marinho foi uma escolha de Hayato como presente para , a condição foi ela usá-lo hoje com ele nesse jantar especial.
  A viagem até Tóquio foi silenciosa, com Hayato dirigindo e observando a paisagem lá fora mudar de Yokohama para a grandiosidade da capital japonesa e tal grandeza fica ainda mais evidente do alto do prédio onde está agora. É realmente deslumbrante.
  Antes de jantarem, ambos desfrutam um pouco da vista da cidade.
  — Tóquio é linda, né? — comenta Hayato aproximando-se de e parando ao seu lado na sacada do apartamento que alugou especialmente para hoje.
  — Sim. É incrível — concorda ela sem tirar os olhos das luzes da cidade.
  — -chan… — Ele passa seu braço pela cintura dela e a puxa para si. — Me perdoa… — ele diz baixinho e com uma expressão fofa.
  — Tá — responde ela de maneira simples.
  — Isso não vai se repetir. — Ele encosta a cabeça no busto dela aspirando seu perfume.
  — Nem pense em fazer algo parecido novamente. Não serei tão benevolente e muito menos paciente — diz , firme. — Estou cansada disso, Hayato.
  — Eu sei, é que eu sinto ciúmes do… — Ele ergue a cabeça e a encara, está de rosto fechado, muito séria.
  — Não fale do corta a fala dele.
  — Aquele guitarristazinho… — insiste Hayato.
  — Eu disse para não falar do ! — exalta-se ela e empurra o rapaz, sem paciência para ouvir as lamentações dele. — Pare de falar dele dessa forma. Você sabe que eu não gosto.
  — Quando você o defende, me irrita — sibila ele.
  — Isso não é problema meu. — dá de ombros.
  —
  — O que é?
  Hayato a puxa para ele novamente com mais firmeza e a beija de surpresa.
  — Para, Hayato! — diz ela ao interromper o beijo e tenta empurrá-lo.
  — Já estamos há um bom tempo namorando,
  — Eu não quero!
  Yoshida a beija novamente, feroz e bruto. Angustiada com o toque dele, o empurra com mais força e consegue fugir para dentro do apartamento, sendo seguida por ele que a puxa pelo vestido e acaba rasgando-o na ponta. A moça pega uma peça de porcelana que há ali e atinge a cabeça de Hayato com força, fazendo-o desmaiar e cair no chão. Não queria chegar ao ponto de machucar o namorado e amigo fisicamente, mas foi necessário. Ela pega sua bolsa e celular, ainda muito nervosa, e sai do apartamento deixando o rapaz desmaiado.
   não sabe como, mas quando se deu conta, já estava perto de uma boate que viu quando passou mais cedo com Hayato, ainda de carro, ela já está longe do apartamento onde estava, porém, perdida. Agoniada e trêmula de medo, a moça resolve contatar a única pessoa com quem ela pode contar agora.
   torce para que hoje não tenha show.

[🌠]

  Tranquilidade.
  Mais uma vez, pode dizer que está relaxado, pois finalmente concluiu mais uma composição, quando isso acontece ele pode enfim ficar tranquilo e esvaziar a mente.
  Deixando tudo no estúdio em sua casa, o rapaz vai ao banheiro tomar um merecido banho de banheira. A noite em Tóquio não está tão quente, até venta um pouco lá fora. A paz que o banho lhe proporciona agora logo foi paralisada quando recebe uma mensagem dela, o que mais o agoniou foi o áudio que mandou pedindo ajuda. Ele não podia deixá-la sozinha, não agora.
  — Aonde vai, ? — questiona ao ver o irmão pegar as chaves do carro na peça da sala.
  — Ver a .
  — Está tarde para viajar até…
  — Ela está em Tóquio — responde ele, rapidamente.
  — Aqui? Nossa, mas… aconteceu algo?
  — Não sei, mas ela me mandou um áudio muito desesperador. Tenho uma suspeita — diz e vai até a porta.
  — Entendo. … — chama e o irmão se vira para encará-lo. — Se aquele Hayato estiver envolvido, por favor, tome cuidado.
  — Daijoubu ne, se o Hayato fez a ficar assim, quem tem que ter cuidado é ele.
  Sem demorar mais, vai à garagem, entra no carro e parte para encontrar . Ele marcou com ela na estação de trem que fica perto da boate onde ela estava quando lhe mandou a mensagem. Enquanto dirigia apressado, o homem manda mensagem para a moça de sua atual localização, pensa em mil motivos para ela o ter procurado, todos eles envolvem o Hayato e isso o irrita ainda mais.
  Os olhos astutos de passeiam frenéticos pelos arredores da estação, até que ele acha seu alvo, estaciona o carro e vai ao encontro dela. está tão… deslumbrante, essa é a palavra ideal para o momento. O vestido azul marinho abaixo dos joelhos, os cabelos soltos caindo despreocupadamente em seus ombros, a maquiagem que usa está borrada, sinal de que estava chorando, mesmo assim está linda. O coração de dá um leve aperto ao vê-la com essa expressão assustada e triste.
  — ! — ele chama ao se aproximar, ela levanta o rosto com o ar cansado.
  — Você veio…
  — Claro que eu ia vir. — sorri com doçura. — O que aconteceu?
  — , me tira daqui, por favor.
  Ela não queria falar e ele respeitaria isso, sem insistir ele conduz até o carro e eles vão para um dos lugares de Tóquio que o homem mais gosta, não é longe dali.

  A enorme praça, que fica dentro de um dos parques da cidade é só uma das cinco que há ali. O ídolo e a fã, que agora já podem ser chamados de amigos, caminham pelo parque quase vazio, a tranquilidade que esse lugar transmite durante a noite é um alívio para depois do que passou mais cedo. Minutos depois e eles chegam ao exato local onde queria leva-la, o ideal seria em outra circunstância, porém não tem problema para ele, o importante é acalmar a moça.
  Quase no fim dos limites do parque há uma pequena elevação onde tem uma grande e única árvore, é o local favorito de quando ele está na cidade.
  — Não sabia que tinha um lugar desses em Tóquio — comenta ao sentar-se na grama, senta ao lado dela.
  — É lindo, né? Sempre que preciso respirar um pouco eu venho aqui, a qualquer hora me dá paz.
  — Entendo o porquê. — Ela fecha os olhos e sente a leve brisa bater em seu rosto.
   fica abobado ao olhar a moça de perfil, ela respira devagar tentando controlar a angústia que sente, se alguém fotografasse a cena veria um homem com a boca semiaberta e uma mulher de olhos fechados e expressão de quase choro. Uma bela foto.
  — Essa brisa é relaxante, né? — comenta , despertando o homem de seu transe.
  — Sim…
  — Você faz bem em vir aqui, realmente é revigorante. Preciso de um lugar desses em Yokohama. — Ela ri abafado.
  — Se quiser eu divido o meu local secreto com você. — Ele sorri e os dois se encaram.
  — Bobo! Comprou o parque público, foi? — debocha ela.
  — Não, mas venho tanto aqui que já considero meu.
  — Ah,
   encara os pés descalços pisando a grama e pensa no quão fácil é sorrir quando está ao lado de , ele a faz rir, a tira do eixo e a põe de volta com apenas um simples gesto.
  — Adoro quando você sorri… — diz ele arrancando mais um sorriso dela.
  — Culpa sua.
  — Que bom! Gosto de ser responsável por isso…
  — Obrigada por… por ter me tirado de lá.
  — Estou sempre a sua disposição, você sabe que pode contar sempre comigo. — Ele pisca e faz sinal de positivo com a mão.
  — Bobo…
  — Mas, o que faz em Tóquio? Achei que só viesse aqui para me ver — diz ele, gabando-se.
  — Não seja convencido, . — Ela ri e suspira pesadamente. — Vim num jantar com o Hayato.
  — Ah, seu namorado, né? — sorri, sem graça, e apenas confirma com a cabeça. — Pelo visto o encontro não acabou bem — comenta ele.
  — Digamos que eu não quis dormir com ele e agora eu estou aqui com você vendo o céu estrelado que eu achei que Tóquio não tinha — revela e sente-se incomodado com a primeira parte da frase dela.
  — Ele… — O rapaz pausa brevemente para controlar a raiva. — Ele te forçou a algo? — Ela solta o ar, observando as estrelas no céu escuro de Tóquio.
  — Meu vestido rasgado responde sua pergunta? — Só agora nota a barra do vestido dela com um rasgo desalinhado até acima dos joelhos.
  — Que imbecil… ele não pode esperar? Cretino! — diz com raiva e segura o braço dele sorrindo.
  — Compartilho de sua raiva, . Eu não sei direito o que fazer… estou tão confusa e exausta.
  — Há algo que eu possa fazer para te ajudar?
  — Me dá um abraço…
   nem pensa em mais nada, apenas acolhe em seu abraço e afaga sua nuca. quis ficar ali para sempre, é tão bom e aconchegante o abraço de que ela não quer que acabe. O cheiro dele é tão bom, um perfume que ela só sentiu vindo do corpo dele numa deliciosa fragrância que a faz se perder nos poucos segundos que dura o abraço; ela sente o corpo dele se afastar um pouco deixando seus rostos um de frente para o outro. A luz do poste que ilumina a elevação onde estão revela a linda cor castanha dos olhos de , inevitavelmente o olhar dela recai sobre os lábios carnudos do homem, tão apetitosos. Ela não queria pensar em beijá-lo agora, mas não consegue evitar o repentino e intenso desejo que a acomete.
  Do outro lado, vive o mesmo dilema, não quis pensar em beijar a boca que tanto deseja desde que a viu, mas foi impossível não pensar, não desejar. Porém, nenhum dos dois se prende mais a questionamentos adversos quando se aproximam e deixam os lábios se tocarem. Uma brisa refrescante sopra em seus corpos enquanto o beijo acontece, suave, calmo e apaixonado. Ao fim, ainda de olhos fechados, sente se afastar, quando percebe, a moça já está deitada na grama com as mãos cobrindo o rosto. Ele suspira feliz e deita-se ao seu lado.
  — … — começa ele, mas é interrompido por sua consciência pesada por ter beijado uma mulher comprometida, por mais que ela seja aquela que ele é apaixonado.
  — Sabe, , eu tenho ciúmes da sua relação com o meu irmão.
  De repente, ela fala sobre isso, fazendo virar o rosto para ela, confuso.
  — Por quê? — Ele entende, segundo após o silêncio que ficou, que ela não quer falar sobre o beijo e resolve fazer o mesmo.
  — Ichiro parou de conversar comigo sobre os problemas dele. Parece que seus conselhos são mais valiosos que os meus. — Ela olha para ele rindo.
  — Boba! Não precisa ter ciúmes. Ichiro é um garoto incrível!
  — É, né? Mas ele é meu irmão — enfatiza ela.
  — Wow, que possessiva! — dá de ombros.
  — Vou roubar o de você, então!
  — Oh, pode levar, ele é todo seu! — diz e ambos riem. — Só não se empolga, pois eu tenho ciúmes.
  — Awn, o é um amor, não sabia que tinha ciúmes dele.
  — E não tenho… eu estava falando de você.
  A encarada que ele dá em faz um arrepio correr por todo seu corpo, ela para de rir e o encara de volta, sem jeito.
  — Você gosta de animes, ? — ele pergunta.
  — Gosto muito.
  — Sugoi, tenho um amigo que escreve roteiros para animes e mangás. Dias atrás ele me mandou um esboço de um dos projetos dele.
  — Sugoi ne, sobre o que fala?
  — É bem básico o esboço, mas fala sobre amor, basicamente. Faz uma comparação que eu achei incrível!
  — Qual? — questiona ela, curiosa. vira o rosto para o céu e começa a contar.
  — Ele diz que nossos corações têm cordas iguais a de uma guitarra. Quando estão sofrendo demais e não conseguimos respirar, as cordas presas em nosso peito doem como se fossem estourar. — Ele solta o ar e volta a encará-la. — É como se estivesse dedilhando e esticando-as até seu limite e até acaba estalando. Ele diz também que essas cordas, às vezes, chegam ao seu limite quando encontramos alguém que nos faz enxergar o melhor de nós mesmos. — Os olhos de ficam marejados ao ouvi-lo falar. — Às vezes pensamos que não tem como consertar as cordas partidas por uma desilusão, mas se alguém as troca para a gente sentimos como se as feridas melhorassem um pouco. Daí ficamos bem.*
  — Isso é lindo, … — ela diz, emocionada.
  — Né?!


  *referência ao anime Given que tem todo o meu amor! ❤️


  Eles voltam a ficar em silêncio, se encarando. Tomado por coragem, ele ergue a mão esquerda e a repousa no rosto de , acariciando a orelha dela com ternura, a moça sente um longo e gostoso arrepio pelo corpo novamente, uma sensação muito boa. A conversa, o carinho e a companhia de estão sendo tão agradáveis para ela que nem percebe as mais de vinte ligações perdidas de Hayato para seu celular antes dele descarregar totalmente.
  — É melhor irmos… — ela diz ainda encarando ele.
  — Quer que eu te leve para Yokohama?
  — Não precisa, já está tarde. Vou me hospedar em algum hotel por aqui mesmo.
  — De jeito nenhum! Você fica lá em casa — decreta ele.
  — Não precisa, . Você já fez tanto por mim. — Ela sorri sem jeito, o rapaz não para de fazer carinho na orelha dela em nenhum momento.
  — Faço porque eu quero e eu não a deixaria dormir em um hotel sendo que tem a minha casa disponível — “ou a minha cama…”, pensa ele.
  — Não quero incomodar.
  — Você nunca incomoda. — Ele solta a orelha dela e puxa seu nariz, rindo. — Tem um quarto de hóspedes lá, , Gots e Iwasaki dormem lá quando temos reunião até tarde.
  — Eles não estão lá, estão? — Ela ri.
  — Não, boba!
  — Obrigada, . Vou aceitar o seu convite.
  — Ótimo! Vamos, então!
  Ele levanta primeiro e a ajuda a se levantar. Fazendo o caminho de volta, pôde notar a mudança de humor que sofreu nas poucas horas que ficaram ali no parque conversando, rindo, se beijando…
  Ah, esse beijo irá pairar na mente de para sempre, mesmo que seja o último ou o primeiro, não importa, ele sempre se lembrará desse beijo. E que beijo bom, apesar de ter sido rápido, foi perfeito.
  A casa de não é longe de onde estão, chegam rapidamente ao local e o rapaz oferece uma roupa dele para que ela pudesse se trocar, pede para que ele avise a Ichiro sobre o ocorrido e que ela passaria a noite ali. Após fazer o que ela pediu, o rapaz vai até o quarto de hóspedes arrumar rapidamente o local. ainda está acordado e o ajuda, ao sair do banheiro dá de cara com os irmãos no corredor e cumprimenta o mais velho, conversam um pouco e logo vai para o quarto descansar. e fazem o mesmo.
  A noite estrelada de hoje, que começou tranquila para ele e agitada para ela, termina de maneira branda para ambos e com uma certeza: há muitos sentimentos entre eles.
  Para , é a comprovação do que já sente.
  Para , é a certeza de que ela precisa dar uma chance para algo novo.

[💫]

  A linda manhã de outono em Tóquio surge e logo desperta, faz sua higiene pessoal e desce para a sala onde encontra os irmãos jogados no sofá.
  — Eu esperava ver outra cena — comenta ela e solta uma risada abafada. — Bom dia, ’s!
  — Bom dia, ! — eles respondem meio arrastados.
  — Vamos comer, levantem. — Ela se aproxima deles e bate na nuca de cada um.
  — Ai, ! — reclama passando a mão na nuca.
  — Você me convidou, mereço um belo café da manhã.
  — Me ver já não é suficiente? — Ele sorri malicioso.
  — Awn, por mais que eu goste da sua companhia, , eu estou com fome!
  — Nossa, que monstrinho devorador de comida — diz ele. — Vem, vamos para a cozinha.
   e vão para a cozinha e apenas observa o comportamento de ambos, certamente aconteceu algo além ontem que o irmão não lhe contou. Seja o que for, deixou o mais novo muito feliz e também, para isso já era o suficiente para deixá-lo juntamente feliz.

  O caminho de volta à Yokohama foi muito divertido para , pois ela e passaram todo o caminho zombando um com a cara do outro. falou dos diversos penteados dele, focando nos mais estranhos e falou do fato dela não saber andar de bicicleta, prometendo ensinar a moça qualquer dia desse que tivessem uma folga em comum. Eles despedem-se e a moça entra em casa. Os pais dela estão na sala, ela os cumprimenta e vai para seu quarto.
  Poder deitar-se em sua cama e finalmente relaxar foi um alívio para . Não que dormir na casa dos tenha sido ruim, mas dormir a poucos metros do homem por quem tem sentimentos confusos foi, no mínimo, tenso. Ainda mais pelo fato do beijo entre eles ter acontecido. Ah, aquele beijo.
  — Onee!!! — diz Ichiro assustando a irmã, ele entra no quarto levando Neko consigo. — Você está bem? O que houve ontem? não quis me contar!! — ele fala, meio bravo, e senta-se na cadeira da escrivaninha da irmã.
  — Oi, meu amor. — A moça senta-se na cama e encara o irmão enquanto ele coloca Neko no chão, logo o felino foi brincar com as pantufas de tigre de .
  — Então, o que houve ontem?
  — Fui jantar com o Hayato e acabamos brigando.
  — Só isso? Ele fez algo contra você? — indaga o jovem ao perceber hesitação na irmã.
  — Bom, ele quer “consumar” nosso namoro. — Ichiro arregala o olhar ao entender o que a irmã quis dizer.
  — Ele tentou… Ohhh, onee!!! — diz ele, espantado. — Que cretino!
  — Ichiro, olha a língua! — reclama ela.
  — Onee, ele não pode fazer isso com você. É errado!
  — Eu sei, por isso briguei com ele e fui embora. — suspira e encosta na cabeceira da cama sentindo os olhos marejaram.
  — Você ligou para o ? Fiquei aliviado ao saber que estavam juntos.
  — É… me ajudou muito ontem. — Inevitavelmente, dá um leve sorriso ao pensar na noite anterior que teve ao lado de .
  — Ele é incrível. — Ichiro também sorri ao falar do amigo.
   conta ao irmão sobre o lugar incrível onde a levou, as estrelas do céu de Tóquio, a conversa que teve com ele, o beijo
  — VOCÊS SE BEIJARAM! Sugoi!!! — berra Ichiro, comemorando, levanta e tampa a boca do irmão.
  — Ichi, pelo amor de Deus! — reclama ela e o jovem a encara com os olhos de perdão, ela solta sua boca.
  — Gomen nasai onee-chan! — “me desculpe, irmã!”
  A moça volta a sentar-se na cama e põe o ainda pequeno Neko ao lado dela, ele traz um dos pés da pantufa de tigre na boca. põe as mãos no rosto, envergonhada, da mesma forma que ficou ontem após beijar . Vendo a angústia da irmã, Ichiro senta-se ao lado dela e a abraça, logo o retribui.
  — Posso te fazer uma pergunta, onee? — indaga Ichiro e se afasta um pouco da irmã que o encara.
  — Fala…
  — Você ficou balançada depois do beijo com o ?
   sabia que o irmão lhe perguntaria isso desde o momento em que seus lábios descolaram dos de ontem à noite, já estava preparada para a pergunta, mas não para dar uma resposta. Na verdade, a moça sabe que o que sentia antes está mais aguçado, mais vívido e pulsante dentro de si. Apesar do sentimento não ser novo para ela, tê-lo presente em si a assusta, amedronta, a deixa sem chão, sem ter o que fazer ou dizer, apenas sentir essa paixão inesperada.
  A mais velha olha para o mais novo e apenas sorri sem jeito e dando de ombros, para Ichiro foi o suficiente para entender o que a irmã está sentindo. Antes dele dar qualquer demonstração de apoio à irmã, eles têm a conversa invadida, de repente.
  — Você beijou o ?!
  Sincronizados, os irmãos voltam suas cabeças para a porta e avistam a figura de Hayato parada à porta encarando-os. Ele ainda está com a mesma roupa de ontem, porém mais amarrotada, os cabelos despenteados, o rosto cansado e com uma expressão de quem fora traído. E de fato foi.
  — Hayato-kun… — se levanta e vai na direção dele que desvia dos braços estendidos dela.
  — Vocês se beijaram? Foi isso mesmo que eu ouvi?
  — Você estava ouvindo a nossa conversa? — questiona Ichiro, indignado.
  — Ichiro, por favor. — olha para o jovem que se cala e apenas observa.
  — Responde, … — A mágoa na voz de Hayato faz sentir-se mal por ter beijado sem antes dar uma satisfação ao outro. Dar um tempo no namoro, por exemplo.
  — Sim… — ela responde com a voz fraca, mal consegue encarar o homem.
  — Como pôde, ? — Ela levanta o rosto e vê algumas lágrimas caírem do rosto dele, fato esse que corta seu coração momentaneamente.
  — Vamos conversar, Hayato… eu preciso…
  — Eu não quero conversar! Você e ele se merecem! — descontrolado, Hayato brada muito nervoso e ainda chorando.
  — Hey, não fala assim com a onee! — briga Ichiro, levantando-se.
  — Ichiro… — diz .
  — Não se mete! — brada Hayato, irritadíssimo. — Você é igual àquele guitarristazinho idiota!
  — Hey, não fala assim do ! — dessa vez, grita, mas é ignorada.
  — Como você, , uma mulher inteligente, linda, brilhante, pode beijar aquele cara? O que ele pode te oferecer? — diz Hayato com desprezo em sua fala.
  — Não menospreze a profissão dele...
  — Profissão? — Ele ri sarcástico e completa: — E desde quando o que ele faz é profissão? Qualquer imbecil faz o que ele faz, seja lá o que for…
  — Não fala do ! — Ichiro perde o controle e vai para cima de Hayato, dando-lhe um soco no rosto.
  — Ichiro!
  — Seu moleque! — brada Hayato e revida o soco. — Faz tempo que você está merecendo uma surra, seu irresponsável!
   tenta separar a briga, mas não consegue. Ichiro e Hayato trocam socos e tapas fortes; unindo sua força de irmã protetora, a moça puxa o braço de Hayato e começa a socar as costas dele que, incomodado, solta Ichiro.
  — O que está havendo aqui?! — Akira grita ao parar na porta do quarto da filha, sua esposa atrás dele horrorizada com a cena.
  — Ichiro! Hayato-kun! — diz Akito levando as mãos à boca.
  — Sai da minha casa, Hayato! — grita ajeitando os cabelos para trás da orelha.
  — Perdão,
  — Sai daqui! — ela grita novamente apontando para a porta.
  — O que está havendo aqui!? — berra Akira tentando se fazer ouvir.
  — Sr. Ito, eu estou envergonhado por isso. — Hayato se curva em sinal de desculpas. — Gomen nasai!
  — Não há perdão, Hayato Yoshida!!! — diz muito irritada. — Você bateu no meu irmão!
  — O quê? — indaga Akira, espantado.
  — Nunca mais volte aqui! Eu tolerei demais as suas cenas de ciúmes por causa do , mas isso eu não vou tolerar. Nunca mais encoste no meu irmão, ouviu bem?!
  — -chan…
  — Não me chame de -chan! — berra ela. — Sai da minha casa.
  —
  — Vai embora daqui, Yoshida! — brada Akira.
  A indiferença com que o sr. Ito fala o sobrenome de Hayato o faz cair em si do mal que havia feito, a grande besteira que cometeu e que não havia volta. Envergonhado e com muita raiva de , ele sai da casa dos Ito com a promessa a si mesmo de não desistir tão facilmente. Ele não poderia perder sua amada , não para um homem feito o guitarristazinho.
   está tão irritada e com desprezo de Hayato que não consegue segurar as lágrimas. Enquanto cuida dos pequenos machucados no rosto de Ichiro, a moça pensa nas coisas que ouviu de Hayato e de tudo que passou com , principalmente no beijo que deram ontem. Para confirmar o que sente por ele e, se é recíproco de verdade, a moça terá que confrontar .
  — Ichi, vamos à Tóquio em duas semanas.
  Com um sorriso meigo, o garoto assente.
  Novembro iniciará em duas semanas e terá show da Flow em Tóquio, depois de tudo o que aconteceu, o jovem Ito sabe muito bem o que a irmã quer fazer na capital do país.

Capítulo 7 - Ter atenção é importante!

  Terça-feira, dois dias após o término
  Ontem, não foi trabalhar, mas hoje ela resolve levantar da cama e ir à agência que quase pega fogo com a inédita ausência de Ito.
  — Wow, -chan! Que espetáculo! — exclama Hiroki, abobado ao ver a amiga. para na frente dele e gira para mostrar todo o seu look.
  — Como estou? — questiona ela.
  — Maravilhosa!
  — Obrigada, Hiroki-kun. — Ela sorri e dá um beijo na bochecha dele.
  — Assim o Hiroki-kun vai se apaixonar novamente — brinca , rindo. Hiroki fica extremamente vermelho e envergonhado.
  — Ai, , por favor…  — diz . — Vai fazer o Hiroki-kun explodir de vergonha.
  — Agora que está solteira novamente… — inicia .
  — Estou, mas Hiroki sabe que…
  — É, eu sei — apressa-se ele, ainda envergonhado —, e eu somos apenas amigos.
  A moça sente por não ser capaz de corresponder aos sentimentos de Hiroki por ela. Seria “fácil” amar o melhor amigo, eles já se conhecem, são confidentes, sabem tudo um do outro, muito cômodo, porém, infelizmente não é assim que funciona o coração, né?
  — Onee!!! — A voz única de Ichiro chama pela irmã e a faz olhar em sua direção.
  — Ichiro? — diz ela, confusa e aguarda a proximidade dele.
  — Ichiro-kun, okaeri! — Expressão usada para dar boas-vindas a quem chega.
  — Tadaima! — expressão usada por quem chega a algum lugar para dizer que chegou.
  — Meu amor, o que faz aqui? Já está com saudades de sua onee? — chega perto dele e aperta suas bochechas.
  — ! Por favor, para! — diz ele sem jeito, o jovem só a chama pelo nome em duas situações: quando está com raiva da irmã ou quando ela o faz passar vergonha na frente dos outros apertando suas bochechas. Ele afasta as mãos da irmã de seu rosto.
  — Mal-humorado. — Ela dá de ombros. — Veio me visitar?
  — Vim te contar algo incrível! — diz ele com empolgação.
  — O que houve?
  — Recebi uma proposta de emprego!
  — Que incrível, Ichi! — diz , orgulhosa.
  — Parabéns, Ichiro-kun — parabeniza .
  — Você merece, Ichiro — completa Hiroki.
  — Arigatou gozaimasu — “obrigado”, usado para agradecer com formalidade.
  — Em que empresa?
  — Na produtora Seven, é uma super produtora de animes lá em Tóquio! Estou tão feliz!!
  — Em Tóquio?! Hm, tem algo a ver com isso? — questiona , desconfiada que o guitarrista tem algo com essa proposta.
  — Não, dessa vez não. — Eles riem e Ichiro explica: — Foi o Gots-san quem me indicou. Ele ama animes e mangás e adorou meu trabalho, mostrou para alguns amigos da Seven, aí eles me ligaram hoje cedo para ir agora para uma entrevista. Vim aqui te avisar, onee.
  — Ah, me lembre de agradecer ao Gots depois, ele é tão fofo!
  — Ne, bom onee, eu já vou…
  —Ah, Ichiro, eu posso falar com você um minuto? — diz Hiroki. — Prometo não te atrasar. — O pedido do rapaz atrai os olhares curiosos de e .
  — Ah, claro, Hiroki-san.
  Ichiro se despede da irmã e de e vai até a saída com Hiroki o acompanhando, no caminho, eles conversam.
  — Ichiro, vou ser direto, ok?
  — Hai
  — Você ainda gosta da minha irmã?
  — ? — Incrédulo com a pergunta, Ichiro se espanta e fica com o rosto rubro. — Por que pergunta, Hiroki-san?
  — Sabe, Ichiro, a Harumi-chan gosta de você.
  — É, eu sei, mas…
  — Mas?
  — Mas é que nós não combinamos muito. Aparentemente, eu sou “muito infantil” para ela — ele responde em tom de sarcasmo, rolando o olhar.
  — Oh, ela disse isso?
  — Disse…
  — Hm, então foi por isso que brigaram naquela vez? — questiona Hiroki.
  — É, e porque ela é muito mandona e brava, sem contar que ela quer sempre que eu fale que gosto dela, como se ela não soubesse. Aí fica dando aquele sorrisinho debochado. Aquele maldito sorriso lindo… — Ao perceber que está falando um pouco demais, ele se cala.
  Hiroki solta uma risada abafada.
  — Gomen nasai, Hiroki-san
  — Tudo bem, Ichiro — diz Hiroki sorrindo solidário ao jovem. — Chama ela para sair novamente.
  — Hã?
  — É, chama a Harumi para sair e, dessa vez, verbalize que gosta dela — intima ele e completa: — Menos a parte do “maldito”, por favor.
  Ambos riem, Ichiro fica nervoso, mas entende o que Hiroki quis dizer. Todos os conselhos que ele deu à irmã e a nos últimos meses, está na hora dele mesmo utilizá-los.

[💫]

  Lindo dia de outono, quinta-feira, 15h.
  Ichiro está esperando por Harumi na entrada do parque onde marcaram de se ver. Foi muito difícil convencer a jovem a sair com ele novamente, mas ele conseguiu com uma grande ajuda de Hiroki.
  — Ichiro-kun… — A voz inconfundível de Harumi o distrai.
  Ao virar seu olhar para ela e encontrar a bela figura da jovem Tanaka, o coração dele entra em descompasso, ele sente que poderia enfartar só em olhar para ela, como está linda…
  Harumi usa uma calça jeans clara, com uma sandália rasteira, blusa listrada, regata e uma blusa de botões de tecido quase transparente por cima, os lindos e longos cabelos soltos caindo por cima dos ombros. Uma imagem divina para Ichiro.
  — Harumi-chan…
  — Desculpe pelo atraso, tive um imprevisto na faculdade — ela se explica.
  — Daijoubu, quer sorvete? Está calor — “jura, Ichiro? Nossa, que gênio…”, ele reclama consigo mesmo mentalmente.
  — Quero, por favor — responde ela com um sorriso amigável.
  Ichiro e Harumi caminham até uma máquina que vende sorvete, o jovem Ito escolhe dois potinhos: um de baunilha e um de chocolate. Depois de pagar e pegar os potinhos, ele entrega o de baunilha para a moça e eles voltam a caminhar comendo em silêncio. Mentalmente, Ichiro pensa em assuntos que poderia iniciar para quebrar o silêncio. Depois da briga que tiveram no último encontro em que Harumi o acusou de ser muito infantil e egoísta, eles não se falaram mais, nem por mensagem.
  — Meu irmão falou da proposta que você recebeu — inicia Harumi, de repente, e assusta Ichiro que a encara ainda com a colher de sorvete pendurada na boca. — Você está todo lambuzado de chocolate. — Ela ri e o jovem nota que está com a boca semiaberta.
  — Desculpe… — Ele limpa a boca com um lenço que leva consigo e sorri sem jeito.
  — Seu bobo, ainda está sujo.
  Harumi puxa o lenço da mão dele e o estende até o rosto de Ichiro, limpando o local onde ainda estava sujo. O jovem sente seu corpo inteiro estremecer com o gesto dela.
  — Bom… é, então, fale-me sobre a proposta de emprego. Deu certo? — Ela retoma o assunto após devolver o lenço para ele.
  — Sim! Começo semana que vem. — Ele sorri e ela também.
  — Parabéns, Ichiro-kun! — O sorriso de Harumi faz o jovem se acalmar e ilumina a vida dele. Uma sensação de que ele poderia observar o sorriso dela para sempre e de que não enjoaria nunca. — Ichiro? — ela chama a atenção dele que ficou tempo demais encarando os lábios da moça.
  — Ah… Arigatou, Harumi-chan — ele diz ainda meio disperso.
  — É em Tóquio, né?
  — Sim.
  — Longe… — ela diz um pouco pensativa.
  — Depende — inicia ele e a jovem o olha —, eu não vou me mudar para lá, apenas irei trabalhar. Mas, se for necessário me mudar, irei sempre voltar para Yokohama.
  — Que bom…
  — Eu não quero ficar longe de quem eu gosto. — O olhar castanho de Ichiro recai sobre o de Harumi, ela sente a pressão que o corpo dele está emanando. — Haru-chan…
  — Hm… — As palavras dela, que são sempre presentes, dessa vez se esvaíram.
  — Haru-chan, eu gosto de você
  Ichiro se confessa e Harumi não tem reação imediata, apesar de ter vontade de abraçar ele, a jovem não consegue se mover de tão surpresa que está. O silêncio dela o faz pensar em se corrigir, será que disse algo errado? Foi difícil para ele se convencer mentalmente a expor em palavras claras aquilo que sente há anos, sentimento que ele só sentiu por uma pessoa: Harumi Tanaka.
  Num impulso, ele a beija.
  Assim como seus delírios noturnos imaginavam, os lábios de Harumi são macios e bons de se beijar. Ichiro está anestesiado pelo beijo que dá na moça, pode até ser um beijo meio tímido, meio adolescente até, porém muito apaixonado. Os sentimentos da jovem Tanaka pelo rapaz são tão fortes quanto os dele por ela, tudo que ela queria era que ele admitisse o que sente, ela finalmente tem sua confissão.
  — Ichi… — sussurra ela após beijar o rapaz, ainda abraçados.
  — Quer namorar comigo? — O olhar dele brilha mais que o céu estrelado que fez ontem à noite e que lhe deu coragem para que houvesse essa confissão.
  — Quero…
  A positividade na resposta dela fez o sorriso de Ichiro abrir-se, iluminando seu rosto. A semana dele começou muito bem: um novo emprego e a namorada que sempre quis. Para ser tudo perfeito, só falta mais uma coisa, mas não depende do jovem Ito. Para ele só lhe resta torcer para que o final seja tão bom quanto está sendo para ele agora.

[💫]

  — Você poderia ter aceitado o convite dele, onee! — reclama Ichiro pela enésima vez.
  Os irmãos Ito caminham pelo aeroporto a caminho da saída com suas malas sendo arrastadas pelo saguão. Eles vieram para o show que acontecerá hoje à noite em Tóquio, a Flow tocará pela primeira vez na turnê as músicas de MICROCOSM e convidaram os irmãos para participarem desse momento. Os dois já tinham combinado de ir, mas o convite partiu de que os chamou também para se hospedarem na casa que divide com . não quis, na última vez foi bem difícil para ela ficar muito próxima a após tê-lo beijado.
  — Não há motivos para ficarmos na casa do e do , Ichi — explica pela enésima vez.
  — E não há motivos para não ficarmos também! — retruca ele.
  — Ai, Ichi, por favor, já está sendo difícil o suficiente para mim. Não complique mais, ok?! — ela fala, impaciente.
  — Yah, está bem, onee. Não falo mais — diz Ichiro enquanto passam pelo portão de saída.
  — Vamos logo ou iremos nos atrasar — alerta ela.
  Finalmente eles chegam ao táxi, colocam as malas no porta-malas e partem rumo ao hotel. O trajeto já está planejado: após se hospedarem no hotel, eles irão para o local do show, pois foram convidados a verem a passagem de som e ficarem no backstage, além, claro, do show ao fim da noite.
  Não demorou para que e Ichiro estivessem no local do show, a passagem de som da Flow já havia começado há algum tempo e, coincidentemente, eles chegam na hora que está tocando “Calling”.

“Você pode ouvir essa voz?
Está sempre chamando do fundo do meu coração

Então deixe o meu outro eu estar sozinho,
mesmo se for só os dois de nós
Ouça, você não estará mais sozinho…”

   para ao lado do irmão, ambos próximos ao palco. O show de hoje faz parte de um festival de bandas, a Flow será a sétima banda a se apresentar. Logo que avista , abre um enorme e caloroso sorriso, enquanto toca sua guitarra, ele a encara e recebe um sorriso tímido de volta. Na mente dele, se passam os momentos em que estava sozinho no estúdio de sua casa, no dia em que compôs essa música, pensando nas qualidades dela que lhe chamaram a atenção. E são tantas…

“Eu não estou sozinho, mesmo se não há ninguém ao meu lado
Será que alguém percebeu essa dor?
E um coração tão certamente está chorando

Não vejo fim para tristeza agora percorrendo esta fortaleza
Eu vou te encontrar
Na verdade, você está completamente procurando por isso
Ouça cuidadosamente o choro que eu ouvi à distância…”

   acha engraçado o fato dela ser impulsiva e ponderada em momentos diversos. Sem contar que ela fica brava com facilidade, depois que ganhou intimidade com a moça, notou isso, chegou a compará-la com que sempre se irrita com suas brincadeiras. O lado “brava” dela vem junto com o sarcasmo aguçado que ele conhece bem, pois também possui o mesmo sarcasmo. Ela também é tão fofa quando está à vontade e relaxada, fato que o rapaz acha extremamente cute e sexy ao mesmo tempo.

“Está chamando por você mesmo
Há somente uma vida, que eu nunca vou deixar você
Apenas em chamas a sua vida queima
eu acredito em você
Quanto às vozes gritantes que não podem ser ouvidas
Elas ecoaram dentro do meu coração,
Eu tinha encontrado um lugar como este…

  E o sorriso dela. Ah, o sorriso que é capaz de exorcizar qualquer demônio que tenha dentro de si, qualquer preocupação que o aflija, um sorriso capaz de iluminar o mundo.

“Eu pareço ter um colapso agora que meu coração dói
Para o sorriso que você me mostrou
Você não precisa dizer mais nada, por favor,
Não largue minha única mão que está ligada a você…”

  Do palco, pôde ver a emoção de ao ouvir a música, se questiona se ela sabe que foi feita para ela. Quando estavam no camarim, antes de subirem ao palco para a passagem de som, toda a banda e alguns dos staffs que trabalham diretamente com os membros, encorajaram a se declarar para hoje, mesmo ela tendo um namorado. Ele contou sobre o beijo que deram e sobre a noite que tiveram, muitos de seus amigos falaram que ela pode sentir algo por e que ele não pode desperdiçar a oportunidade de perguntar.
  Afinal, não custa nada.

“Não vejo o fim para tristeza agora
Como esmagar esta fortaleza, eu vou levá-la
Olha! Eu terminei correndo com todas as minhas forças
Esperando no local onde suas lágrimas foram deixadas para trás.
Para onde você acredita em mim, calor é como o fogo…”

  Pensando nos conselhos dos amigos, na noite que teve com ela, no beijo que deram, em todas as pequenas demonstrações favoráveis que expôs para ele, se enche de coragem e resolve finalmente atender ao chamado de seu coração. Um chamado alto e claro, com nome, sobrenome e um lindo sorriso.
  — “Está chamando por você mesmo” — canta , encarando fixamente uma extremamente emocionada.
  “Calling” é a última música a ser ensaiada, após isso, os rapazes recolhem os instrumentos, menos a bateria, e voltam para o camarim. Um dos staffs acompanha Ichiro e até o backstage para que possam falar com eles e recebem credenciais especiais para que possam circular pelo evento sem serem barrados.
  — Finalmente apareceram!!! — grita ao ver os irmãos Ito entrando no camarim.
  — Olá, rapazes! — diz , animada. — Que saudades de vocês!
   é logo abraçada por ele, o bom e velho abraço de urso de . Depois de cumprimentar todos, ela caminha até o lugar vazio ao lado de e senta-se ali no sofá.
  A conversa animada prossegue. Em dado momento, se aproxima do ouvido de e sussurra:
  — Preciso falar com você depois. — Os olhos arregalados e curiosos de se voltam para ela.
  — Pode ser agora — ele sussurra de volta. o encara.
  — Que pressa… — Ela ri.
  — Ok, eu espero. — Ele faz um biquinho com os lábios como um garoto manhoso e mimado, cruzando os braços e as pernas e virando o rosto.
  — Ah, meu Deus, dramático, vamos logo!
   revira o olhar e se levanta, puxando consigo um sorridente com o resultado de seu drama para adiantar a conversa. Sob os olhares de todos, os dois saem do camarim e procuram por um lugar tranquilo para conversar. Minutos depois, eles entram em um outro camarim que está vazio.
  — Já estamos a sós, , o que queria falar comigo? — questiona ele sentando-se no sofá, ela continua de pé olhando para o espelho.
  — , eu… — ela começa, mas as palavras lhe escapam momentaneamente.
  — — ele a chama e ela o encara —, sente aqui. — Ele aponta para o sofá onde está e sorri. Após sentar-se, ela segura uma das mãos de .
  — Posso ser direta? Senão acho que não conseguirei falar. — O nervosismo dela é visível.
  — Claro que pode. Fica calma. — aperta com carinho a mão dele, lhe transmitindo força.
  — , você gosta de mim?
  Ok, isso foi direto demais.
  Ele fica estático à pergunta dela, nenhuma mulher nunca foi tão direta com ele antes e isso só faz a admiração que ele tem por ela crescer.
  — Antes de responder, posso te perguntar algo?
  — Pode.
  — Você gosta do Hayato? Melhor: você o ama? não esperava que ele fosse perguntar isso. Esperou apenas um “sim” ou “não” e nada mais.
  — É…
  — Pelo visto, você não gosta tanto assim dele.
  — Talvez não… — ela diz com sinceridade.
  — Eu gosto de você — declara-se ele fazendo o olhar nos olhos, o brilho vívido no olhar de ambos que quase ilumina o ambiente. — Você ainda está namorando ele?
  — Nós brigamos de novo antes de eu viajar. Eu terminei com ele, mas… — hesita ela.
  — Ainda não tem certeza do que sente?
  — É… é estranho. Não sei explicar. — Ela abaixa o olhar sentindo que iria chorar.
  — Posso te dizer algo? Não como alguém interessado em você, mas como seu amigo.
  — Claro. — Ela volta a encará-lo.
  — Lembra do papo que tivemos sobre as cordas do coração? — relembra ele.
  — Sim.
  — Você, quando está com Hayato, sente que as cordas do seu coração se esticam tanto como se fossem estourar? Ele te faz chegar aos limites do sentimento?
  — Não… — responde quase que imediatamente.
  — Então você não o ama — decreta quase sorrindo.
  — Eu… eu sinto isso quando eu… — ela hesita, mas ele completa por ela.
  — Eu sinto isso quando estou com você, . Meu coração vibra igual as cordas da minha guitarra.
   julga essa frase como a coisa mais linda e sincera que alguém já lhe disse na vida. Sentindo dentro de si que todas as dúvidas que tinha foram esclarecidas, solta a mão de e se aproxima mais dele. Ele envolve sua mão na cintura dela e a puxa com cuidado, sua outra mão passa pelo rosto da moça que sente um arrepio. sente também os lábios vistosos e macios de tocando os dela num beijo cheio de paixão. Logo as mãos dela estão apertando as costas e a nuca dele e o beijo se intensifica. Se deixando levar pelas carícias quentes dele, a moça se deita por cima de quando ele a puxa para si. Porém, logo algo desperta na mente de e a faz interromper com tudo.
  — Rápido demais? — questiona , ofegante.
  — Um pouco. Me desculpa, … — Ela ia se levantar, envergonhada, mas ele a puxa num abraço carinhoso.
  — Daijoubu, . — Ele dá um beijo na testa dela e sorri.
  — Obrigada… — sussurra ela fechando os olhos.
   sempre teve facilmente as mulheres, isso era algo certo de acontecer e, ao contrário do que um dia imaginou, ele não se irritou ou ficou contrariado com a interrupção de . Dentro de si, o homem sente que com ela será algo especial e duradouro e, por esse motivo e por ele ser bem paciente, valeria a pena esperar o tempo que fosse necessário para ter uma noite íntima com ela. Ah, valeria sim.
  Os dois sentam-se novamente e engatam uma longa conversa sobre relacionamentos, contam sobre o passado, sobre o que acham interessante para uma boa relação e o que pode prejudicar. Até o momento em que o assunto “ex-namorados” vem à tona.
  — Você já namorou um guitarrista antes? — indaga , curioso. está deitada com as costas no peito dele, enquanto ele a abraça.
  — Já.
  — Já? — Ele a afasta um pouco dele, a encarando com a sobrancelha arqueada. — Eu conheço ele?
  — Isso é passado, — responde quase rindo.
  — Hm… então eu o conheço.
  — Conhece. — Ela se encosta no sofá e o olha divertida.
  — Quem é? — questiona ele, muito curioso.
  — O Pon.
  — O Pon?! — repete ele, abismado.
  — É. — faz uma cara muito engraçada de espanto.
  — Aquele cara alto de 1,85m, fofo, super gente boa e que canta bem para um caralho? — pergunta ele e solta uma risada.
  — Ele mesmo, o vocalista da Luck Life.
  — Nossa…
  — O que foi?
  — Me sinto um bobo por ter me confessado para você agora que sei que namorou o Pon.
  — , isso faz muito tempo. Foi no ensino médio.
  — Oh… — Ele sente-se mais aliviado, menos tenso, na verdade. — E por que terminaram? Não que eu esteja reclamando. — Ela ri.
  — Circunstâncias da vida. Pon queria focar na carreira musical e eu achava errado ele não ter um emprego formal, bobagem. O fim você já deve imaginar.
  — Hm, que bom.
  — Bom?
  — É, para ele que faz sucesso com a Luck Life e para mim que pude te conhecer. — Ele sorri.
  — E eu? Nada de bom para mim? — questiona com a sobrancelha arqueada.
  — Você se livrou do Pon, ele é fofinho demais, enjoa — brinca ele e ela ri novamente.
  — Bobo!
  — O bom para você foi ter me conhecido. — Ele sorri novamente, ela retribui sem jeito com o olhar intenso que ele lhe lança agora.
  — Tenho que concordar. — Ela dá um selinho demorado em que se derrete após o beijo.
  — Mas, me conta, como foi a experiência de namorar um músico?
  — Bom… — suspira e sorri. — Pon era muito gentil, ele foi meu primeiro namorado. Na verdade, ele foi meu primeiro em tudo… — confessa ela.
  — Até…
  — Sim. Eu perdi minha virgindade com ele.
   arregala os olhos e, inevitavelmente, começa a se comparar com Pon. Ueno Masumi, ou Pon, é o vocalista e guitarrista da banda Luck Life, ele é um homem muito tranquilo, gentil, meigo e divertido. Aliás, ele é assim desde adolescente, quando namorou por quatro anos até a briga que os separou.
  — Sabe por que eu não quis dormir com o Hayato? — ela diz, de repente.
  — Porque ele é um babaca?!
  — Não, seu bobo. — Ela ri. — Porque para mim o sexo vai além de uma noite de prazer e luxúria. Tem que ser com alguém que me ame e que eu ame também, isso torna o ato ainda mais prazeroso — explica ela e completa: — Pon foi meu único parceiro sexual até hoje.
  — Wow… — ele diz em espanto.
  — Algum problema? — pergunta, ao ver a reação surpresa dele.
  — Nenhum. — Ele sorri e dá um beijo na testa dela.
  — O que mais quer saber?
  — Ah, o que mais puder me contar — responde ele. — Oh, menos detalhes sobre… você sabe. — Ela ri de novo.
  — Nunca iria te contar sobre isso, bobo — diz ela. — Bom, eu não tenho falado muito com ele, faz alguns anos que ele anda sumido.
  — Hm…
  — A última vez, foi quando ele confessou para mim que escreveu uma música em minha homenagem.
  O olhar de volta a se arregalar e segura o riso. Por dentro, o homem vive uma briga intensa: por um lado, há o confiante que sabe que as músicas que escreveu para ela tem tantos sentimentos quanto a de Pon. Por outro, há o inseguro e medroso que acha que o fator altura é essencial para que não o escolha, já que ele tem apenas 1,70m. Comparado com Pon, não passa de um baixinho.
  — Q-Que música?
  — “Kimi no nioi” — “seu cheiro”
  — Maji ka?
  — Sim.
  — Oh, essa música é… intensa.
  A letra da música fala claramente de um amor que foi interrompido e que faz falta. Ao fim dela, Pon fala que espera reencontrar esse amor algum dia. Essa é uma das músicas mais famosas da Luck Life.
  — Achei uma linda homenagem ao que vivemos — ela diz com sinceridade e sente a garganta se fechar. — Assim como eu achei linda a música que você escreveu para mim, .
  — Hã? — Ele a encara, o coração batendo de maneira desconexa e rápida, os olhos brilhando pelas lágrimas que se formam ali.
  — Você escreveu “Calling” para mim, não foi?
  Outra pergunta temida.
   não estava preparado para responder isso apesar de ser uma resposta simples. Basta abrir a boca e dizer que “Calling” foi sim escrita para ela com todo o sentimento bom que ele nutre dentro de si.
  — Eu entendi sua mensagem… — ela diz referindo-se ao post feito por antes do lançamento do CD.
  — Que bom… desculpa, eu fiquei envergonhado agora. — Ele sorri sem graça.
  — Não fique — encoraja e dá um beijo no rosto de . — Eu amei a música, .
  — Fico feliz. — Ele sorri. — É… eu fiz outra também.
  — Maji ka? Qual?
  — LUNA.
  — Você escreveu LUNA para mim? — Espanta-se ela e apenas confirma com a cabeça, ficando sem graça de repente. — Oh, a letra dela é… hot.
  O homem sente o rosto esquentar ainda mais. Não imaginou que fosse sentir tanta vergonha em revelar para que escreveu coisas tão íntimas sem nem ao menos tê-la beijado antes, na época. LUNA fala sobre o forte desejo sexual que sente por ela, desejo esse que ele controla para não faltar com o respeito com aquela que ele tanto preza.
  — Comparando com a do Pon, as minhas músicas nem são tão boas... — diz ele num tom dramático não intencional.
  — … — segura o rosto dele com uma das mãos, o calor emanado da mão dela o aquece.
  — Oi…
  — Eu estou muito agradecida pelas suas músicas, são tão lindas quanto a do Pon. — Ele sorri de leve.
  — Mas você fala do Pon de uma forma… ele é especial para você, né?
  — Sim, mas você é especial para mim também.
   fecha os olhos para receber o beijo carinhoso dado por . Para a moça, seu ex-namorado de adolescência é especial pelas coisas que viveram juntos nos quatro anos de relacionamento, ela tem um carinho especial pelo rapaz que, acima de tudo, é seu amigo. Já o lindo guitarrista que está beijando agora é especial para ela de outra forma, mais forte e profunda, de um jeito que ela ainda não sabe explicar. Só sente que será duradouro e especial.
  O beijo entre e é interrompido por um dos staffs que foi avisar que a apresentação da Flow logo começaria. Eles não notaram, mas se passaram três horas desde que foram conversar a sós. O tempo parece não passar quando estão juntos, é tudo sempre um prazer em desfrutar da companhia do outro. pede a para esperar mais um pouco, pois precisa conversar melhor com Hayato e terminar com ele de maneira mais decente, sem ser em meio à uma briga. Paciente, o homem diz que dará a o tempo que ela precisar. Ele poderia esperar mais alguns dias ou meses se fosse preciso.

[💫]

  Já de volta a Yokohama, os irmãos Ito retomam suas rotinas: Ichiro já está trabalhando em Tóquio, na Seven, e volta ao seu posto de publicitária em sua agência. O mais novo ficou muito feliz ao saber que a irmã iria finalmente ouvir seu coração e dar uma chance a . Não pelo homem ser ídolo dele, mas pelo fato de Ichiro notar a atração que há entre os dois e não só física, mas as almas deles parecem unidas de vidas passadas. O jovem Ito não crê nesse tipo de misticismo, mas vendo aqueles dois juntos ele tem a certeza de que há mais do que um encontro de corpos, há um encontro de almas.

  Muitos dias depois…
   sai apressada da agência, Hayato havia aceitado conversarem sobre a relação deles, após estarem há dias sem conseguir esse encontro. A moça está realmente decidida a terminar independente de sua relação com dê certo ou não. Hayato anda muito inconveniente ultimamente e, para não se afastar de vez dele e perder sua tão preciosa amizade, ela prefere terminar com o namoro que nem deveria ter começado.
  A pressa em encontrá-lo foi tão grande que ela mal fechou o lacre do capacete, esse detalhe custaria caro para ela. Ao costurar entre um carro e outro pelas movimentadas ruas de Yokohama, perde o controle da moto pela primeira vez na vida e acaba colidindo com a traseira de um carro. Folgado, o capacete logo voa de sua cabeça assim que ela atinge o chão, desmaiando na hora. O trânsito é interrompido e as pessoas dos carros em volta correm para tentar ajudar que está caída no chão, o corpo imóvel, a bolsa caída no chão e o celular exposto com uma chamada na tela.
  O nome exibido na tela: .

Capítulo 8 - Tulipas azuis e sorvete

  Tóquio, hora do almoço.
  Ichiro está muito feliz e satisfeito na atual fase de sua vida. O novo emprego na Seven tem lhe rendido muitos contatos importantes na indústria de mangás e animes, o ambiente na empresa é definitivamente melhor e mais agradável do que na antiga, muito mais leve e divertido para ele. O namoro com Harumi anda muito bem, ambos sempre conversam a respeito de atitudes do outro que não lhe agradam, justamente para não gerar uma briga desnecessária; com isso, eles têm uma relação leve e se dedicam a cuidar um do outro sem se desligar de suas vidas individuais.
  Nesse momento, Ichiro está concluindo mais um trabalho quando é chamado pela sua senpai*.


  *senpai – termo usado para se referir a alguém que tem mais conhecimento que você, que te ensinou/ensina algo.


  — Ichiro-kun — chama a moça ao se aproximar.
  — Yumi-senpai!
  Yumi Yamazaki, 33 anos, chefe de Produção da Seven e a pessoa que treinou Ichiro quando ele chegou na empresa. Apesar do pouco tempo, a moça se afeiçoou rapidamente pelo garoto.
  — Telefone para você — anuncia ela.
  — Para mim?
  — Sim, parece que é sobre sua irmã. Não me passaram muitas informações.
  — Obrigado, Yumi-senpai!
  O jovem se levanta e vai até a mesa da recepção atender o telefonema, em sua atual mesa ainda não há um aparelho telefônico.
  — Alô?
  — Oh, você é Ichiro Ito? — pergunta a voz do outro lado.
  — Sim, quem fala? — ele diz, intrigado.
  — Me chamo Toki, prazer em conhece-lo. É, eu achei o seu número no celular da Ito, ela é sua irmã, não é?
  — Onee? O-O que aconteceu? Por favor, fale logo — apreensivo, Ichiro diz e sabe que não irá gostar nada do que ouvirá a seguir, seja o que for, disso ele tem certeza.
  — Ela sofreu um acidente de moto e está sendo levada agora para o hospital. Sinto muito dar essa notícia.
  — Aci-aci-acidente? — O jovem Ito sente as pernas perderem sustentação.
  — Sim, ela acaba de sair na ambulância — confirma o rapaz do outro lado.
  Ichiro não sabe mais o que falar. Na verdade, ele sabe, só não tem forças para isso. Yumi passa por ele e o vê chorando calado ainda com o telefone no ouvido, ele a chama para atender a ligação. Prontamente, Yumi fica a par da situação da irmã do jovem e anota em qual hospital de Yokohama tinha sido levada.
  — Ichiro-kun? Ichiro-kun?! — chama Yumi pela terceira vez, o jovem está atordoado.
  — Hã?
  — Você quer que eu chame alguém? Seus pais? Algum outro parente?
  — Meus pais não! — apressa-se ele. — Mamãe passaria mal e meu pai... bom, meu pai é uma opção. Avisarei a ele — diz Ichiro.
  — Você está liberado para voltar para Yokohama, tá? Vai dar tudo certo com sua irmã — avisa Yumi em tom solidário.
  — Arigatou gozaimasu. — Ele curva-se brevemente. — Preciso ligar para alguém primeiro...
  O jovem volta para sua mesa e pega sua mochila. Com o celular em mãos, ele procura o contato do amigo para ligar. Quando acha, rapidamente aciona a ligação.
  — Ichiro-kun! Como vai?! — a voz contente de diz do outro lado.
  — ... a onee... ela... — voltando a chorar, Ichiro diz em pausas e logo percebe que algo está errado.
  — Ichiro-kun, calma... o que aconteceu com a ? está andando com sua mochila de viagem nas costas acompanhado de seus companheiros de banda. , que está mais próximo, ouve a conversa.
  — Ela sofreu um acidente de moto — a voz embargada do garoto responde e sente seu chão sumir e para de andar.
  — Acidente? Para onde ela foi levada? — questiona ele, angustiado.
  — Para o Hospital Central de Yokohama — responde Ichiro e completa: — , me ajuda, por favor.
  — Calma, garoto. Eu... eu vou passar em casa, pego meu carro e vou até a Seven te buscar, ok?
  — Tá...
  — Vai ficar tudo bem, ok? Fica calmo! — diz também tentando se convencer disso.
  Ao finalizar a chamada, o homem volta a sentir a falta do chão sob os pés, sente-se tonto e prestes a desmaiar. Conta aos amigos o que houve e faz exatamente o que promete a Ichiro. No momento da ligação, ele havia acabado de desembarcar de uma viagem após um show em outra cidade do país, no dia seguinte iniciará a turnê europeia tão esperada pela banda após o lançamento do novo CD.
  O caminho até em casa, a conhecida rotina de sair com seu carro, ir até a Seven buscar Ichiro que está muito angustiado, a conhecida estrada até Yokohama. Todo esse processo feito por tem um gosto amargo para o homem que não sabe o que encontrará quando chegar lá, o coração apertado em angústia pela cegueira de não ter informações concretas sobre . Ele só quer que as horas passem e que tudo esteja bem.

[💫]

  14h, Hospital Central de Yokohama
  O ar gelado do interior do enorme hospital faz o corpo de estremecer levemente. Ichiro vai diretamente até a recepção e se identifica como irmão de , ao ser liberado ele segue até o quinto andar acompanhado de . Ao chegarem à sala de espera dão de cara com Hiroki, Harumi, Hayato, e os pais de . Ichiro abraça os pais e pergunta pela irmã, eles dizem que ainda não falaram nada e que está em cirurgia nesse momento. O jovem Ito é abraçado pela namorada, que o consola.
  Hayato está em pé, com as mãos dentro dos bolsos da calça social, a expressão séria que ficou ainda mais fechada ao ver ali. O homem sentia-se culpado pelo acidente de , já que ela estava a caminho de ir vê-lo. A conhecendo bem, sabe que estava nervosa com toda a situação que viveram dias atrás e queria resolver tudo com ele. Hayato a ama tanto que não sabe o que fará se ela realmente terminar com ele, mas, nesse momento, a única coisa que ele quer é que ela saia dessa cirurgia viva e bem.

  Algumas horas depois...
  A sala de espera do quinto andar não tem muita gente além dos amigos e família Ito. Os pais de foram até a cafeteria do hospital para comerem algo, estão tão cansados e temerosos pela vida da filha que será difícil comer, mas pelo menos um café deve ser ingerido por eles. Com a ausência dos mais velhos, o clima aparentemente pacífico se acaba assim como o apagar de uma vela.
  — O que veio fazer aqui? — Hayato diz sem a mínima cerimônia ou prévia conversa, se postando imponente próximo a .
  — Você não sabe? Não serei eu quem irei te explicar — diz o homem em tom de deboche, mantendo-se sentado ao lado de Hiroki com quem conversou bastante nas últimas horas.
  — Você se acha engraçado, mas não é, sabia? — Yoshida devolve o deboche.
  — E você se acha esperto, mas não é...
  Até então, nenhum dos presentes pensa em interromper a “conversa” entre eles, mas estão todos em alerta a qualquer sinal de explosão de ânimos.
  — Você não é da família, nem deveria estar aqui — braveja Hayato.
  — E você é, por acaso? Se enxerga, Hayato — rebate .
  — Escuta aqui, seu guitarristazinho...
  — Do que me chamou? — se levanta e bate de frente com Hayato.
  — Gente, por favor, acalmem-se — diz Hiroki ao se levantar e se pôr entre eles.
  — Você é surdo? Te chamei de guitarristazinho! — repete Hayato com raiva. — Você deveria se envergonhar e parar de dar em cima de uma mulher comprometida! — brada ele.
  — Eu não estou dando em cima de ninguém [n/a: Tá sim, , pare de mentir!! Kkkk] — diz e ameaça ir para cima de Hayato, mas é barrado por Hiroki.
  — Calma, !
  — Não está? — questiona Hayato rindo incrédulo, abre os braços de maneira caricata. — Você é um imbecil! — Ele também ameaça ir para cima de , mas Hiroki impede novamente.
  — Por favor, parem com essa discussão! — implora o rapaz, mas é ignorado mais uma vez.
  — e eu somos amigos. Agora, se você não sabe lidar com isso, não é problema meu — debocha o homem, já sem se importar.
  — Patético! Se conhecesse a , saberia que ela odeia flores — ele diz com tom esnobe.
  Hayato refere-se ao pequeno, mas lindo buquê de flores que comprou para . De fato, a moça odeia flores, acha elas fúnebres e a fazem se lembrar de sua falecida avó, de toda dor que ela ainda sente, que não passa. sabe disso, pois conversaram sobre esse detalhe naquela noite em Tóquio. O pequeno buquê de tulipas azuis foi comprado por ele, pois quis dar algo bonito para a moça quando ela saísse da cirurgia, ao passar pela floricultura e ver o brilho e vividez daquele pequeno buquê, teve certeza de que adoraria recebe-lo. Porém, agora ele já não tem mais tanta certeza assim.
  — Ela não gosta de flores, mas pode gostar das minhas — diz, sem muita fé em sua fala.
  Hayato ri em deboche.
  — Patético...
  — Já chega!!! — grita Ichiro, chamando a atenção de todos, o jovem levanta-se irritado. — Já chega dessa discussão idiota de vocês! A onee está em cirurgia agora, respeitem isso ou serei obrigado a expulsar vocês dois daqui!!!
  Imponente, o jovem Ito ordena, surpreendendo a todos, e é obedecido. Os ânimos se acalmam juntamente com a volta dos pais de , coincide também com a tão aguardada chegada do médico que fazia a cirurgia da moça. Pela expressão que ele tem no rosto, as notícias são animadoras.
  — A senhorita Ito passa bem, a cirurgia foi um sucesso e ela está fora de perigo — diz ele e ouve-se um coro de suspiros aliviados dos presentes na sala de espera. — A cirurgia foi simples, mas delicada, apenas para conter o sangramento interno. Agora está tudo bem, ela não terá sequelas e em breve acordará — diz ele.
  — Obrigado, doutor — diz Akira, aliviado.
  — Fora isso, ela teve pequenas escoriações no braço e perna — conclui o médico.
  Aliviados, todos suspiram e agradecem ao médico que se retira. Eles se abraçam, todos na sala, menos Hayato que se mantém parado em um canto com o olhar quase doentio direcionado a que abraça Ichiro nesse instante.
  — Falei que daria tudo certo, Ichiro-kun — diz ele e se afasta do jovem que ainda chora de alegria.
  — Obrigado por estar aqui — agradece Ichiro. — Okaasan* — chama ele e Akito se vira para olhá-lo. — Esse é o .


  *okaasan – termo formal usado para se referir à mãe.


  — Prazer em conhecê-la, senhora Ito. — se curva para a mulher que lhe sorri acolhedora.
  — Obrigada por ter vindo mesmo estando ocupado, -chan — diz Akito e Akira concorda com um gesto de cabeça.
  — Até parece... — A voz debochada de Hayato se faz ouvida. E os olhares recaem sobre ele que segue rindo.
  — Há algo engraçado aqui? — indaga sentindo sua irritação voltar.
  — Você! — responde o outro e se aproxima mais deles. — Você e o fato de que você pode ter sido o causador do acidente da !! — acusa o homem com os olhos cintilando de raiva e ressentimento.
  — Do que está falando? — questiona Akira, que está incomodado com a presença de Hayato ali, mas que não o expulsou ainda por um pedido de sua esposa.
  — Esse cara... — começa Hayato, engolindo em seco. — Desde que o conheceu que ela ficou diferente, está distraída... os enfermeiros disseram que o capacete dela estava com o feixe folgado e por isso se soltou. Ela nunca faria isso...
  — E o que o tem a ver com isso, Hayato? Não faz sentido — rebate Akira em defesa de sem nem o conhecer. dá um pequeno sorriso tímido, de canto.
  — O senhor não percebe, senhor Ito, mas esse cara mudou a e isso vai trazer a destruição para ela! — berra o homem, descontrolado.
  — Por favor, parem... — pede Akito com a voz fraca e segura-se no braço do marido.
  — Está tudo bem, querida? — diz ele, preocupado.
  — Não estou...
  O corpo de Akito desfalece nos braços de Akira que logo a ampara, a preocupação de todos foi evidente e não demora para que ela seja levada para ser atendida por um médico. Com o clima ainda tenso, a discussão entre e Hayato recomeça mais explosiva do que nunca.
  — Está vendo o que você fez, guitarristazinho!?
  — Eu?
  — Você! Seu inconsequente! Vai embora daqui! — Hayato vai para cima de com o dedo apontado para o homem.
  — Tira esse dedo da minha cara, engomadinho! — dá um tapa na mão dele e começa um jogo de quem empurra mais.
  — A quase morreu por sua causa!
  Irritado com a acusação sem fundamento, o sangue explodindo nas veias, solta toda sua raiva pelas palavras na figura de Hayato em forma de um soco que atinge o queixo dele de maneira certeira, deixando-o atordoado.
  — Hey, hey, hey, chega! ! — Ichiro empurra o mais velho e o afasta de Hayato que agacha com a mão no queixo, o lábio inferior sangrando. — Não faz isso, ! A onee odiaria saber que vocês dois brigaram — alerta Ichiro, os dois já afastados o suficiente.
  — Eu sei, eu perdi a cabeça! Me desculpe, Ichiro-kun — diz , arrependido do ato bruto, ele não costuma perder a cabeça daquela forma.
  — Ele bem que mereceu. — Ambos riem um pouco com o comentário de Ichiro. — Sai um pouco e esfria a cabeça, daqui a pouco eu te chamo, ok? — Ele aperta o ombro do mais velho e sorri.
  — Está bem, estou precisando respirar — sorri sem jeito.
  Suspirando, o homem vai direto para o elevador com o destino ao térreo, deixa o buquê de flores com Harumi que disse que, mesmo que não gostasse de flores, o fato de serem um presente de já a alegrariam. Isso anima . De qualquer forma, está inseguro, apesar de não querer admitir, as palavras de Hayato mexeram com ele e toda a certeza que ele tinha.
   liga para o irmão e avisa sobre já estar fora de perigo, acaba contando sobre a discussão com Hayato e o soco que deu no outro, o repreende por isso e o alerta para que tome ainda mais cuidado com Yoshida.
  Pensativo, recorda-se de algo que realmente possa gostar de ganhar e vai até o mercado que há perto do hospital, compra a surpresa e volta para o quinto andar do hospital, ao chegar lá dá de cara com uma enfermeira que traz notícias da mulher.
  — Como ela está? — questiona Ichiro para a enfermeira.
  — Está acordada — anuncia ela e ouve-se novamente um coro suspirante.
  — Podemos vê-la? — diz o jovem Ito, ansioso.
  — Ela pediu para um rapaz entrar primeiro — a enfermeira informa tentando lembrar-se o nome que havia ouvido.
  — Deve ser eu, sou o namorado dela — Hayato caminha para frente da enfermeira, até que ela finalmente se lembra o nome mencionado por .
  — Você é o -san? — indaga ela em tom inocente.
  — ? — espanta-se Hayato com os olhos saltados.
  — Eu? — diz , aproximando-se, tem em mãos o presente que comprou para . — Eu sou o . — A enfermeira encara o homem e sorri.
  Ouve-se a risada divertida de Ichiro.
  — Ichiro-kun... — repreende Harumi, ele logo para de rir, controlando-se.
  — -san, por favor, me acompanhe.
  A enfermeira conduz pelo corredor à dentro. Hayato irrita-se por não ser ele quem quer ver primeiro, Ichiro acaba discutindo com o mais velho e o expulsa dali; contrariado, Hayato vai embora com a promessa de voltar, ele não desistiu de reconquistar o carinho de .
  Após expulsar Hayato do hospital, Ichiro pega o buquê que levou para sua irmã nas mãos da namorada e vai entregar ao homem.
  — ! — grita o jovem e recebe uma bronca de outro enfermeiro que passa por ele. — Sumimasen* — “desculpe”, desculpa-se ele.
  — Ichiro? — para de andar e se vira para encará-lo, a enfermeira também para e observa a conversa.
  — Você esqueceu. — Ichiro estende o buquê para ele. — A onee vai gostar. Não dê ouvidos ao que o Hayato disse.
  — Será? Não sei... A não gosta de flores...
  — Dessas ela vai gostar, certamente. — A voz da enfermeira interrompe os pensamentos de que se vira para olhar para ela.
  — Você acha?
  — A maioria das mulheres gostam de ser lembradas e todas de ser valorizadas. Tenho certeza de que o senhor gosta muito da senhorita Ito. — Ela sorri, bondosa.
  — Ela tem razão, — diz Ichiro e volta a estender o buquê para ele. — Leva.
  Ainda inseguro, segura o buquê de tulipas azuis e agradece aos conselhos de Ichiro e da enfermeira. O caminho até a porta do quarto onde está parece ter o dobro de tamanho para , a enfermeira diz que ele pode entrar, mas ele não faz; a paralisia que o acomete é visível, os presentes para em mãos que tremem de nervoso, o coração dele vibra em uma sintonia diferente da normal, suas cordas balançam, dedilhadas pela insegurança e nervosismo dele. nunca se sentiu tão nervoso na vida até então.
  Respirando descompassado, o homem toma coragem para entrar no quarto. É um simples e comum quarto de hospital, a única coisa de especial nele está deitada no leito e está sorrindo para ele.
  — Você veio... — O alívio na voz de alivia a tensão que sente ao vê-la nessa circunstância.
  — Sempre estarei por perto quando precisar de mim. — Ele se aproxima da cama, ainda tímido e com os braços para trás, ele esconde os presentes.
  — Espero que não tenha atrapalhado algum ensaio da Flow... O médico disse que você estava aqui, ele também é fã. — Eles riem.
  — Não atrapalhou nada. Estávamos chegando de viagem quando Ichiro me ligou, ele ficou muito desesperado quando soube do acidente.
  — Como ele está? E meus pais?
  — Estão todos bem. Sua mãe passou mal, mas já está medicada, está tudo bem agora — avisa ele.
  — Ai, meu Deus, eu não queria causar tanto alvoroço — lamenta-se ela.
  — Não é sua culpa, , não fique mal por isso.
   acha melhor não contar sobre a sua discussão com Hayato e muito menos o soco que deu nele, não quer preocupar e nem irritá-la.
  — O que tem aí? — ela diz ao notar o desconforto dele por estar com algo molhado nas mãos.
  — É, eu te trouxe algo para... para te alegrar — diz ele muito tímido, como nunca ficou antes.
  — Deixa eu ver — pede e toma cuidado para mostrar apenas o que comprou no mercado, ao ser revelado, o presente é contemplado por . — SORVETE! — ela diz, animada.
  — Gostou?
  — Claro! Ai, , você é adorável! — Ela dá um enorme sorrido, o que deixa suas bochechas com discretas covinhas. acha muito fofo.
  — Maji ka? Que bom que gostou, . — Ele sorri de volta e completa: — É de chocolate, mas só pode comer quando tiver alta!
  — Pode deixar. Depois você pede para o Ichiro guardar lá em casa, por favor.
  — Claro. Por enquanto, irei colocar aqui em cima, está gelado. — Ele coloca o pote de sorvete sobre a mesinha que há perto da cama dela. Sem querer, ele acaba deixando revelar o buquê de tulipas.
  — E esse buquê também é para mim? — A pergunta faz olhar para a própria mão que segura o buquê e jogá-la para trás do corpo, fingindo que nada aconteceu.
  — É... eu...
  — ... deixa eu ver — pede ela com a mão estendida.
  Ele não tem reação imediata, a sensação de nervosismo volta e o deixa atordoado novamente. Vendo que ainda sustenta a mão no ar, ele resolve entregar o pequeno e formoso buquê de tulipas azuis para ela, vívidos e belos assim como é na visão de . Ela o toma em suas mãos e não diz nada, apenas afaga as pétalas de cada flor com cuidado, os olhos dela brilham e seus lábios tremem levemente.
  — Me desc...
  — São lindas, ! — o interrompe, emocionada e fica boquiaberto.
  — Você gostou?
  — É claro que gostei, ! São lindas, essa cor... são lindas, meu Deus!
  — Confesso que estou aliviado agora! — Suspira ele. — São azuis porque representam a paz e tranquilidade que eu desejo na sua recuperação.
  — Que fofo, , obrigada — ela diz e cheira as flores. — São tão cheirosas!
  — Ne... confesso que... bom, achei que você não gostasse de flores — ele diz com a mão coçando a própria nuca.
  — E não gosto, mas... — Ela dá uma pausa e sorri o encarando em seguida. — São um presente seu e isso eu não posso ignorar.
  — Wow... — sente o rosto ruborizar e sorri sem jeito.
  — Vem cá... — chama ela. — Senta aqui.
   se aproxima mais e senta na cama, ao lado de , a moça põe as flores ao seu lado direito e repousa a mão no rosto de que fecha os olhos. Conduzindo o rosto dele para mais perto, inclina o próprio corpo para frente e o beija. Por essa reação não esperava, mas ele não reclama e apenas curte o toque dos lábios de mais uma vez. Ele não sabia que sentiria tanta falta desse beijo como sentiu. Finalmente ele pôde saciar essa saudade.
  — Não esperava por isso... — diz ao descolar seus lábios dos dela, os rostos ainda próximos se encarando.
  — Você sai de Tóquio, cansado de uma viagem, vem até Yokohama para me ver no hospital, fica aqui todo esse tempo, me traz sorvete e um lindo buquê de tulipas da minha cor favorita e acha que eu não reagiria assim? Achei que me conhecesse um pouco, — ela diz num tom falso de ofendida. sorri.
  — Fiquei com medo de me rejeitar ao ver as flores, sei que... — o cala com um beijo e após o encara sorrindo. — Entendi o recado, Ito.
  — Que bom...
  — Bom, eu... eu acho que seus pais e seu irmão querem muito te ver.
  — Sim... — Eles riem.
  — Vou sair para eles entrarem. — Ele se afasta e ajeita o corpo de maneira ereta.
  — Você volta?
  — Amanhã eu tenho voo para Londres, começaremos a turnê europeia — sorri com a notícia.
  — Sugoi! Mas, que pena que não irei te ver mais hoje. — Ela segura a mão dele e faz carinho, arrepiando .
  — A turnê será longa...
  — Quanto tempo?
  — Quase dois meses — ele diz em tom de pesar.
  — Hã?! Nossa... eu...
  — Eu volto, não se preocupe, pois aquilo que te disse ainda está valendo. Eu gosto de você. sorri sem jeito e sente os lábios quentes dele encostarem em sua mão num beijo. — Eu já vou. Ah — lembra-se —, tem um bilhete dentro do buquê, mas, por favor, espere eu sair para ler, tá?
  — Tá... eu espero você sair.
  — Ah, e o leia sozinha, por favor.
  — Tá bom, . — Ela ri. — Mais alguma recomendação?
  — Se cuida, por favor. — Ele puxa o nariz dela com carinho. — Posso te ligar todo dia?
  — Você já liga, seu bobo. — Ela ri de novo.
  — É, mas agora nossa relação pode ficar diferente....
  — Pode ligar sim, .
  — Ah, depois que você ler, me liga e me dê uma resposta.
  — Que resposta?
  — Você vai entender quando ler. Tá, agora eu já vou. Fica bem, tá? — assente e dá outro beijo em sua mão.
  Assim que sai do quarto, pega o bilhete dentro do buquê e o abre. De tão grande que é, está mais para uma carta. A moça a lê com atenção.

  “Querida ,
  Eu já escrevi e apaguei o início dessa carta inúmeras vezes, me sinto um idiota que está aprendendo a raciocinar agora. Patético. Parece que me tornei incapaz, de uma hora para outra, de me expressar através de palavras. Estou escrevendo essa carta aqui no hospital onde você está internada após o acidente. Confesso que quando soube, eu achei que o pior tinha acontecido, achei que tinha perdido você para sempre, mas, felizmente, você é muito forte e sobreviveu. Ver você aqui nesse hospital me deixou abalado, me deu o estalo que eu precisava para finalmente falar o que eu quero de verdade. Queria que não precisasse chegar ao ponto de te ver assim para que eu caísse na real. Me desculpe por isso, por favor!
  Você sabe que eu gosto de você, já lhe confessei isso naquele dia e até nos beijamos, confesso que foi o melhor beijo da minha vida pelo simples fato de ter sido com você. , você é tão especial para mim que eu não sei se é o melhor momento para te perguntar isso, mas eu sinto que eu preciso falar e tem que ser logo. Eu sei que você odeia flores, já me disse isso naquela noite em Tóquio, mas, ao passar na floricultura e ver essas tulipas azuis sinceramente as achei lindíssimas e acho que combinam com seu rosto, são tão lindas quanto você. Para compensar a minha ousadia em trazer algo que não goste, eu trouxe um pote de sorvete de chocolate. Por favor, só coma após se recuperar, está bem? O médico me mataria se soubesse!
  Bom, eu estou enrolando, né? Eu disse que lhe faria uma pergunta, mas ainda não fiz. Ok, vou fazer sem mais delongas.

   Ito, você aceita ser minha namorada?

  Eu nunca perguntei isso para ninguém, então não sei o que vem a seguir. Espero que não me odeie por sair de repente, mas é que... Eu sou um covarde, realmente. Como você poderia me namorar sendo assim?
  Sinceramente, eu nem sei mais o que estou escrevendo, estou tão nervoso, mas eu te amo e ainda estou lidando com esse sentimento. É tudo novo para mim.
  Espero que se recupere logo, . Eu precisei ir embora, pois tenho voo marcado para a Europa, iremos fazer turnê lá. Seria bom se fosse conosco, eu ia te convidar, mas acho melhor você se recuperar primeiro. Se quiser ir depois, estarei te esperando, aí você pode me responder...

  Boa recuperação, .
  Amo você.

  Com amor,
  

  Ao fim da leitura da carta de , sente os olhos arderem de tanto que chorou durante a leitura, o coração acelerado e cheio de alegria. Ela desejou que estivesse ali com ela nesse momento, queria muito beijá-lo e dar uma resposta agora mesmo, mas ela tenta se controlar para não pegar o celular e ligar para o homem e chama-lo de volta. Ela apenas chora de alegria ao reler as palavras escritas na carta.
  Seu coração não está errado em fazer o que pretendia, afinal.

[💫]

  Alguns dias passam e tem alta do hospital. Finalmente ela poderá voltar ao seu lar junto com sua família e amigos. Durante o período de recuperação, a mulher esteve cercada de cuidados, principalmente de seu irmão e sua cunhada. Ichiro e Harumi todos os dias iam até o quarto de para lhe fazer companhia, ajudar a mulher com a higiene pessoal e alimentação. teve uma ruptura nos ligamentos do tornozelo e uma fratura no braço direito com o qual sofreu o impacto no carro no dia do acidente.
  Mesmo de longe, mantém-se presente, sempre ligando para por vídeo-chamada. A relação deles está a cada dia mais cúmplice, parece que se conhecem desde sempre. Antes de voltar ao trabalho, ela recebeu uma caixa de bombons suíços que os membros da Flow enviaram diretamente do país europeu.
  No dia de sua retomada ao trabalho, a primeira coisa que ela faz é entrar em contato com Hayato para terem uma conversa definitiva. Nessa conversa, que acontece durante o almoço em um restaurante próximo ao trabalho dela, não o mesmo em que foi com , ela termina o namoro com ele e, para sua surpresa, Hayato reage bem quando ela diz isso e quando diz que gosta de verdade de . esperava, pelos relatos que soube do comportamento dele no hospital e por conhece-lo bem, que ele fosse espernear, porém, o rapaz lida aparentemente bem com o término.
  Triste, mas conformado.

  Dezembro de 2010
  O início do inverno no Japão está sendo severamente frio, com temperaturas baixas e ventos fortes que só pioram a sensação térmica. já retirou o gesso do braço e terminou as sessões de fisioterapia que fez para recuperar os movimentos perfeito da perna e braço, fortalecendo os músculos. A Flow ainda está em turnê pela Europa, a cidade da vez é Amsterdam, na Holanda, vem acompanhando pelo Instagram e por vídeos que eles mesmos mandam para ela, tudo o que acontece nos shows ou pelo menos, boa parte.
  Durante esses dias, não contou a que leu a carta e que já tem uma resposta ao pedido dele. Sentindo-se frustrado e com vergonha, não perguntou em nenhum momento sobre isso, ele não tem coragem de falar. Mesmo com o beijo que deu nele no hospital, ele alimenta a narrativa de que ela não gostou tanto assim e que preferiu ficar com Hayato que tem uma vida mais centrada que a dele, que é cercada de viagens e incertezas.
  Porém, para isso não tem importância, já que o sentimento que tem por consegue superar essa turbulência de viagens, turnês e toda a distância entre eles. sente, em seu interior, que seguir ao lado de é algo certeiro para sua vida. Algo que nasceu de repente, como o big bang que explodiu e, de repente, surgiu o universo, ela se sente assim; o medo do novo existe, mas ela está disposta a arriscar.
  O destino já está definido, olhando para a passagem área que diz “Local de destino: Amsterdam, Holanda, a mulher entra no avião com destino ao futuro.
  Ao seu futuro.

Capítulo 9 - Uma noite em Paris

  Dezembro de 2010
  Sexta-feira, Amsterdam – Holanda
  Ao desembarcar em Amsterdam, a primeira coisa que faz é avisar ao irmão que ficou em Yokohama por conta do trabalho que havia chegado bem; a mulher aproveita o final de semana para aproveitar ao lado da banda e, principalmente, de na Holanda. Claro que sua ida para o país é uma surpresa para o homem que não faz a mínima ideia que está lá. Ela nem contou que não estaria em Yokohama no final de semana. E, muito menos, que leu a carta dele.
  Caminhando a passos firmes e rápidos, ela avança para fora do aeroporto rumo ao hotel onde a banda está hospedada. Ela conseguiu reservas lá graças a um dos staffs da Flow com quem fez amizade, o rapaz é um dos que apoiam o relacionamento entre e e tratou logo de ajudar a moça no planejamento de sua surpresa.
  Faz frio em Amsterdam, também é início de inverno na capital holandesa, e está preparada para isso no quesito vestimenta: ela veste um longo sobretudo preto por cima de um grosso casaco de lã, calça jeans, bota preta de cano alto e um gorro de lã em sua cabeça. Essa última peça é a primeira a ser retirada por ela assim que entra no hotel e caminha lobby à dentro. A mulher vai diretamente até a recepção e se identifica como hóspede, fazendo o check-in em seguida. Segundo o staff da Flow que ajudou a ajudou, os rapazes estariam agora ensaiando, ele diz também que eles estão hospedados no décimo primeiro andar, sendo que o quarto de é dois andares acima.
  O quarto de é bem espaçoso, padrão do hotel que está localizado no centro da cidade; o dela é um dos quartos da frente do prédio que tem uma pequena sacada. Ela planejou, juntamente com o staff, que, assim que os rapazes voltassem do ensaio, ele entregaria um recado a que alguém quer falar com ele no quarto 1345. Esse é o quarto onde está. Ela está ansiosa, termina o banho e se veste para aguardar a chegada de . Antes da chegada dele, uma mensagem de seu amigo avisa que eles acabaram de entrar no hotel, o coração de acelera somente em saber que está no mesmo prédio que ela. A mulher, que agora tem certeza de seus sentimentos pelo homem, faz algo que servirá de prova de seu sentimento e ela está doida para mostrar a o que ela fez.

[💫]

   estranha que alguém queira falar com ele em Amsterdam, mas segue de elevador com destino a dois andares acima. Na certa trata-se de alguém da produção do show que a banda faria mais tarde, mas se é esse o caso: por que não falou com ele durante o ensaio? Essa teoria não faz sentido. Ignorando a própria teoria sem sentido, o homem sai do elevador e caminha até a porta que a placa indica 1345, bate à porta, mas ninguém responde. Intrigado, verifica se a porta está aberta e a mesma se abre ao seu toque.
  — Olá? — diz ele, acanhado e empurra mais a porta colocando o corpo para dentro. — Tem alguém aqui? — ele fala, em inglês, e vê uma luz se acender ao fundo do quarto revelando a silhueta que ele logo percebe ser de uma mulher.
  A figura ainda misteriosa chama com os dedos. Conforme ele se aproxima da luz, nota que a pessoa está na sacada, por isso ele ainda não consegue reconhecer quem é, mas assim que chega até a porta de vidro da sacada, ele vê sorrindo para ele.
  — ... — ele diz, paralisado.
  Sem esperar, dá alguns passos para frente e agarra o rosto dele o beijando com paixão. demora alguns milésimos de segundos para entender o que acontece, mas logo toma a mulher nos braços, agarrando sua cintura. A ansiedade desse beijo, de ambos os lados, faz com que os pés deles mal toquem o chão e que seus corpos quase ocupem o mesmo espaço, desafiando as Leis da Física.
  — O que faz aqui? — indaga , ofegante após o beijo e encarando a mulher à sua frente que também ofega.
  — Não gostou de me ver? — questiona de volta.
  — É claro que eu gostei...
  — Eu resolvi aquele problema. — Ela o interrompe e recupera o fôlego e sorri largamente. refere-se à conversa que disse que teria com Hayato, a conversa definitiva.
  — Maji ka?
  — Sim. Vim te contar pessoalmente — revela ela e completa: — O que disse na carta é verdade? Você me ama?
  — Hã? — Os olhos de deram um salto. Ele não se recorda de ter confessado isso na carta, apesar de ser a verdade.
  — Então, não era sério...
  — É claro que é sério. — Ele apressa-se em dizer e agarra o rosto dela com ambas as mãos, tomado por uma coragem repentina, ele se declara: — Eu te amo, .
  A tão esperada frase que quis ouvir saindo dos lábios de finalmente é ouvida por ela. Emocionada, a moça volta a beijar , mas dessa vez com mais calma. O beijo pós confissão. Mas, a calmaria inicial, atrelada ao desejo de ambos um pelo outro, logo dá lugar à agitação das mãos que dançam pelos corpos deles, subindo e descendo. Não demora muito para que ambos estejam deitados na cama um de frente para o outro, deitados de lado, ainda se beijando com o mesmo desejo. Porém, a mente de lhe traz um fato a se considerar, o fato de que aquela é a primeira vez deles dois, a primeira transa com , ela não tinha pensado em tal possibilidade. Esse fato a faz interromper o beijo.
  — Desculpa... — diz no automático.
  — Não, , eu... eu que ainda preciso processar isso e me acostumar... — explica sem jeito.
  — Eu sei, minha querida, sei o que o sexo significa para você e sei também que faz tempo que...
  — Muito tempo... — comenta ela e solta uma risada nervosa.
  — Daijoubu, eu espero o tempo que for. — Ele dá um beijo no nariz dela e depois em seus lábios.

  A tarde deles segue apenas com abraços e chamegos. ficou tão irritada consigo mesma por ter travado, que ela se esquece de mostrar a surpresa real para . Quando se lembra, já não tinha mais tempo, pois logo liga para o irmão, a van já vai partir rumo ao local do show. Levantando-se rápido, convida para ir na van com ele e a banda, ela se arruma e, dez minutos depois, encontra com e os outros no lobby.
  Os rapazes ficam felizes ao vê-la e praticamente não a deixam ficar perto de . Os mais animados são , Gots e Iwasaki. , conhecendo o irmão e sabendo de detalhes que mais ninguém sabe, faz companhia a ele na parte da frente da van, já que no fundo vão os outros conversando e rindo sem parar.
   não vê a hora de chegar ao local do show, mas o que ele quer mesmo é poder ficar à sós com de novo.

[💫]

  Paris, França
  O ar gelado de Paris castiga a pele de que treme dentro da grossa camada de roupa que usa. O hotel onde e os outros estão hospedados é muito bonito, de apenas quatro estrelas, porém muito conceituado; o mais novo casal* caminha até o elevador que os leva à suíte individual no 18º andar do luxuoso prédio; ao abrir a porta, se depara com um pequeno caos: as roupas e instrumentos de espalhados pelo chão do quarto a deixam angustiada só de olhar.
  — Wow… — ela deixa escapar, surpresa.
  — Me desculpa pela bagunça, diz enquanto corre pelo quarto catando as roupas e enfiando dentro das malas.
  — Me disseram que o seu quarto em Tóquio também é assim — comenta ela, divertida, parada na porta do quarto que já está fechada.
  — Meu irmão fala demais. — Ele fica envergonhado e joga a última peça de roupa dentro da mala, fechando em seguida e virando-se para . — Quer comer alguma coisa?
  — Eu posso te mostrar algo primeiro, estou louca para te mostrar.
   paralisa e deixa o sorriso morrer, dando lugar a uma expressão de espanto, pensando em mil possibilidades, todas elas pervertidas. Ele assente, após um tempo, e senta-se na poltrona próxima à cama e retira seu salto alto, suspendendo um pouco a calça deixando à mostra seu tornozelo.
  — Vem ver — chama ela e se aproxima.
  Na lateral do tornozelo dela há uma tatuagem, mas não uma tatuagem qualquer e sim, um lindo desenho de tulipas.
  — Isso é…
  — É para representar o meu sentimento por você, .
  Ele não diz nada, está tão emocionado que só consegue demonstrar o que sente por gestos. Os olhos marejados, a expressão de choro, o aproximar de suas mãos que seguram o pé de , os beijos que ele dá em seu tornozelo, causando arrepios em ambos os corpos. O homem ergue o corpo, ficando de pé, e puxa pela mão abraçando sua cintura com firmeza.
  —
  — Hm…
  — Quer namorar comigo? — O pedido vem sem ele ao menos esperar, os olhos ainda brilhando de emoção.
  — Eu ia te pedir agora… — diz ele encarando-a.
  — Eu pedi primeiro. — Eles riem abobados.
  — Aceito — responde e dá um beijo demorado nos lábios dele.
  — Agora — diz ela após o beijo —, você pode me pedir em namoro. — sorri e solta uma risada abafada.
  — Quer namorar comigo, senhorita Ito?
  — Não.
  — Não? — ele diz, confuso.
  — Você já namora, seu safado! — Ambos riem.
  — Boba. — dá um beijo rápido no nariz dela. — Eu te amo.
  — Diz de novo... — pede ela, manhosa.
  — Eu… te… amo… — ele sussurra no ouvido dela e deposita um beijo ali.
  Por muito tempo não entendia o que sentia por e isso o angustiava e lhe tirava o sono; hoje, ele consegue enxergar dentro de si o amor crescente que sente pela linda moça de Yokohama que ele conheceu naquele bendito show.
  O carinho que recebe agora em sua nuca só faz o beijo nos lábios de ficar mais gostoso. As mãos firmes dele apertam as costas da mulher que caminha para trás na direção da cama de casal do confortável quarto; ao encontrar a cama atrás de si, a moça para de andar e senta-se nela, interrompendo o beijo. retira seu casaco, ficando apenas com a camisa e vê a mulher fazer o mesmo, após ir subindo de costas até a cabeceira da cama. Engatinhando, o homem deita-se por cima dela apoiando o peso sobre o cotovelo esquerdo.
  — Você tem certeza, ? — questiona ele, sabendo o significado que o ato seguinte tem para ela.
  — Tenho — responde sem pestanejar. — Eu te amo, .
  Declarando-se, sorri e puxa o rosto de para mais perto o beijando em seguida de maneira intensa; o homem começa a se empolgar e desce a mão, que o apoiava na cama até a cintura de apertando o local; sorrateiramente, ele passa a mesma mão por dentro da blusa dela, suspendendo a peça de maneira incerta. Interrompendo o beijo, retira a blusa que veste revelando o sutiã verde-água que ela usa, os seios dela não tão vastos, porém perfeitos para ele. Aproveitando o momento, ele retira a própria camisa e revela para parte do corpo que ela tanto imaginou que ele tivesse e ela não se arrepende de ter esperado tanto para ver: é muito gostoso, na visão dela.


  NOTA: O restante da noite de amor entre os pps você pode ler em LUNA. Lembrando que a classificação é de +18!!!

[💫]

  Ao abrir os olhos, nessa fria manhã de inverno parisiense, dá de cara com as costas do atual namorado; automaticamente, as cenas da noite anterior surgem-lhe na mente, ela se sente ligeiramente envergonhada pela nova posição que experimentou com ele. A visão das costas largas de tão perto é satisfatória, ela ainda o abraça e sente o calor de seu corpo, algo gostoso de sentir. Ela suspira, anestesiada pela alegria de estar ali com ele. se mexe um pouco e aperta a mão dela que está sobre seu peito, sorri com o gesto depositando um beijo em suas costas e se aninhando.
  — Hm... que gostoso — diz com sua voz matinal, meio rouca.
  — Eu te acordei? — indaga ela.
  — Não — ele responde e se vira de frente para ela. — Bom dia, my Sunshine. — Deposita um beijo rápido em seus lábios.
  — Bom dia, dormiu bem?
  — Maravilhosamente. — começa a fazer cafuné um pouco acima da orelha esquerda de , aos poucos uma expressão de prazer e satisfação surge no rosto dele. — Hm... — resmunga ele. — Isso é tão bom.
  — Oh, não sabia que era manhoso assim — brinca , rindo.
  — Com um carinho desse, qualquer pessoa fica manhosa — explica ele com os olhos fechados, curtindo o carinho da namorada. — Mas confesso que eu gosto do seu cafuné. — Ele abre os olhos, encarando os da mulher à sua frente. O castanho dos olhos dele que ela acha lindos e mais brilhantes que o Sol no verão.
  — Vou me lembrar disso — ela diz e completa: — Saiba que eu também gosto de carinho — alerta.
  — Te darei todo o carinho do mundo.
   abre um lindo sorriso e passa a mão pela lateral da cabeça de , entrelaçando os dedos em seus cabelos e afagando o local. De imediato, a expressão da mulher fica igual à de segundos atrás; a cara de satisfação do homem ao ver a reação dela fez sorrir. O carinho de é tão gostoso que ela não quer que ele pare nunca mais, com um gemido involuntário, ela começa a ronronar igual a um gato.
  — , você está ronronando? — o homem questiona, encarando a namorada mudar a expressão em caras e bocas de satisfação. Ele começa a achar, por um instante, que o carinho dele a está excitando.
  — É a convivência com o Neko. — Sem querer, o homem solta uma risada divertida.
  — Oh, sei... kawaii, -chan. — Ele dá um beijo nela sem parar o cafuné.
  A troca de carinhos se dá por mais alguns minutos entre eles. Em seus pensamentos, reflete sobre a importância que a noite de ontem tem para ambos. Não foi apenas a primeira vez deles e nem apenas sexo, foi a comprovação de que o sentimento que eles têm é mais que verdadeiro e forte. O fato de só conseguir ter relações sexuais com alguém quando há reciprocidade de sentimentos, faz sentir-se honrado por ter sido escolhido por ela e ele fará de tudo para merecer ainda mais esse posto.
  Após acordarem novamente, e tomam banho, separados, e se arrumam para um passeio antes de irem para o aeroporto rumo a destinos diferentes: de volta a Yokohama e rumo a Berlin, Alemanha para mais um show da turnê europeia que terminará dois dias antes do Natal.
  O homem já faz planos mentalmente para essa data e para o Ano Novo. Ele só não sabe que também faz o mesmo.

[💫]

  Os rapazes da Flow caminham pelo saguão do aeroporto de Paris rumo ao salão de embarque internacional. também acompanha eles nessa caminhada de mãos dadas com . Aliás, a notícia do namoro dos dois foi o assunto do último passeio que fizeram pela Paris cheia de neve e ainda está sendo assunto entre eles. O lado zombeteiro de brinca com o irmão dizendo que finalmente irá apresentar uma mulher para os pais deles. O mais novo fica levemente aborrecido, pois deu a impressão de que ele não se apegava a ninguém o suficiente para apresentar aos pais, o que não deixa de ser verdade e esse fato já é de conhecimento de , que soube através do próprio . Enquanto todos conversam, já sentados nos bancos que compõe o salão de embarque internacional, e não se desgrudam nem um minuto.
  — Podemos zombar da cara do , mas ele e a formam um casal lindo, né? — comenta Gots e Iwasaki concorda com um gesto de cabeça.
  — A é mais bonita — diz e todos riem, menos que o encara com o olhar suspenso.
  — Hey — nota a encarada dele e o cutuca. desvia seu olhar para ela —, não precisa sentir ciúmes do .
  — Eu não tenho ciúmes dele — apressa ele em responder.
  — Sua cara diz outra coisa... — estreita o olhar, rindo.
  — Por que eu sentiria ciúmes do ?
  — Hey! — chama o próprio. — Eu estou ouvindo, sabia? — e os outros riem.
  — Idiota, eu disse isso porque sei que a te considera um amigo, no mesmo nível do Hiroki ou da — explica e completa, rindo: — Sem contar o fato de você ser muito lerdo, nem se ela dissesse que gosta de você você faria algo.
  — ! — grita , indignado. Os outros ainda riem.
  — , que maldade — reclama , mas não consegue conter o riso. — Pobre .
   solta uma risada maléfica enquanto faz um bico enorme com os lábios, emburrado. A relação de amizade entre os dois sempre foi na base da zombaria mútua. Porém, há limites de ambos que são respeitados, coisas que são sensíveis de alguma forma e por esse motivo não são mencionadas.
  O tempo parece correr mais rápido para o mais novo casal, que logo tem que se despedir. A chamada para o voo de vem primeiro, querendo aproveitar cada instante, a acompanha até o portão, onde se beijam e fazem mais uma promessa: passar as festas de fim de ano juntos. O fim da turnê da Flow coincidirá com a chegada do Natal e Ano Novo.
  Já dentro do avião, caminha até seu acento que fica quase ao fundo da aeronave. Após guardar sua mochila no compartimento acima, o homem se acomoda na cadeira do canto e é seguido pelo irmão que se senta ao seu lado. Alguns minutos após a decolagem, segue pensativo olhando a cidade luz se afastar mais e mais diante de sua janelinha. Inquieto, ele vira-se para que tem headphones nos ouvidos.
  — ... — chama ele, acenando para o irmão que logo abaixa o headphone.
  — Oi — diz o mais velho um pouco assustado.
  — Desculpa, mas será que podemos conversar um pouco? — O tom usado por é baixo e levemente apreensivo, o que começa a assustar .
  — Claro... aconteceu alguma coisa? Me parece angustiado — comenta ele e pausa a música que ouvia.
  — Não aconteceu nada, quer dizer, nada de ruim. Na verdade, eu quero falar sobre a — ele diz, tímido.
  — Ah, a . — sorri já imaginando o rumo da conversa. — Sobre a minha cunhada, hm, fala. — sorri abobado.
  — Eu não sei te explicar, irmão, eu... — Ele sorri mais largamente e continua seu raciocínio: — Você sabe que eu gosto muito dela, né?
  — Sei sim.
  — Eu nunca senti isso antes e foi difícil para mim identificar o que estava sentindo e por isso demorei para perceber que... — Ele dá uma pausa e solta o ar.
  — Que estava perdidamente apaixonado por ela — diz completando o pensamento do irmão que apenas concorda com a cabeça. — E, pelo visto, ela também é apaixonada por você há algum tempo.
  — Parece que sim — concorda e completa: — Nós tivemos nossa primeira vez ontem — revela o mais novo.
  — Oh, maji ka? — indaga , espantado.
  — Sim... — tem um ar apaixonado e um sorriso mais apaixonado ainda.
  — Como se sentiu?
  — Como assim?
  — Ah, imagino que, estando apaixonado pela pessoa, o sexo seja diferente, não? — explica .
  — Oh sim, foi diferente, com certeza. Senti que minha alma estava conectada à dela, além de nossos corpos, sabe?
  — Imagino — responde o mais velho. — Sabe que eu nunca experimentei tal sensação — comenta ele e completa: — Mas, algum dia eu consigo, quem sabe, né?
  — Você não dá oportunidade ao amor, meu irmão — diz com um ar de sabichão e encara o irmão.
  — Não vai me dar conselhos amorosos, vai?
  — Vou... você sabe o que eu penso...
  — , por favor, não começa — alerta . — Eu não quero falar disso.
  — Está fugindo da ...
  — !
  — Ok, já parei, não falo mais! — O mais novo ergue as mãos ao ar, rendendo-se e rindo. — Estressado!
  — Ah, falou o pavio infinito — zomba sobre o fato de sempre perder a paciência com o irmão, mas isso era só com mesmo, principalmente na hora de compor, quando eles brigam, porém sempre se entendem no fim.
  — É bom estar apaixonado — sorri e dá um tapinha no ombro do irmão.
  — É bom também ser retribuído — rebate, levemente amargurado.
  — , isso faz muito tempo, desencana! — O mais velho apenas suspira frustrado. Sem insistir, muda de assunto. — Deixa isso para lá. O que eu queria te falar é que estou com uma ideia fixa na mente.
  — Hm... que ideia? Nada perigoso, né?
  — Não, não, na verdade é algo que vai mudar minha vida.
  — Para melhor?
  — Lógico, ! — Ambos riem.
  — Posso saber do que se trata?
  — Claro que pode, até porque eu irei precisar da sua ajuda e dos outros também.
  — Da banda? — indaga , intrigado e curioso.
  — Sim, vou te explicar...
   explica sobre sua ideia fixa para o irmão, detalhes que ele pensou durante a noite de ontem e durante o passeio por Paris. ouvia atentamente e, ao fim, fez apenas uma pergunta ao mais novo:
  — Você tem certeza?
  — Como eu nunca tive antes na vida, meu irmão — responde , convicto de sua resposta.
  — Então eu irei te ajudar com prazer. — O mais velho sorri e completa: — Você pode não acreditar, mas eu quero a sua felicidade, irmãozinho.
  Sorrindo satisfeito, dá um rápido abraço no irmão e termina de contar sobre o quanto está feliz com . Ele mal vê a hora de volta a Tóquio para colocar seu plano em ação.

Capítulo 10 - A proposta de primavera

  Alguns dias depois...
  Namorar à distância está sendo um enorme desafio para e . O homem nunca achou que compor todas as músicas da Flow fosse mais tranquilo para ele do que ficar longe de sua namorada. As ligações diárias que ele já fazia, agora têm um tom de saudades muito maior e significativo, agora ele pode demonstrar para que sente falta dela e vice-versa. Já para , a distância de também está difícil, mas ela tem a companhia de Neko que é praticamente um pedacinho felino do namorado com quem ela tem um amor tão grande quanto tem por .
  Faltam apenas três dias para que finalmente os rapazes da Flow retornem ao Japão para um curto período de folga, show agora só ano que vem. teralmente. Eles estão radiantes com as novidades sobre MICROCOSM: primeiro, que o single do CD, que se dependesse de seria Calling, é uma das vinte músicas mais ouvidas do mundo e a segunda mais ouvida do Japão; segundo, que o clipe de Sign, que é o single do CD, é o terceiro mais visto do mundo e o primeiro mais visto do Japão. Um tremendo sucesso em dose tripla. A terceira grande notícia é a escalada constante de MICROCOSM na parada de CDs mais vendidos pós seis meses de lançamento. Um grande orgulho para os fãs, principalmente para e Ichiro.
  Por falar no Ito mais novo, o jovem está realmente feliz por ser cunhado de e faz questão de contar para todo mundo, até para desconhecidos. Os pais de estranharam o anúncio da filha sobre o namoro com . Não que eles esperassem que a filha reatasse com a Hayato depois das coisas que ele fez, mas acharam que fosse esperar um pouco mais antes de relacionar novamente. logo tratou de dizer que ela já gostava de antes, mas não queria assumir o sentimento por ele e, mesmo assim, isso só diz respeito a eles, que seus pais não têm o que se meter em seus relacionamentos.
   aguarda pela chegada de , que avisou que chega no domingo à tarde, com ansiedade. Está louca para abraçar o seu guitarrista novamente e, é claro, beijá-lo.

 [💫]

  Berlin, Alemanha
  Já é a sexta joalheria que os rapazes da Flow entram em menos de uma hora, sempre liderados por que se sente na pele do irmão de tão indeciso que está. Os outros não aguentam mais andar de um canto a outro atrás de uma aliança perfeita, isso porque o plano de é pedir em casamento, ele não vê a hora de colocar seu plano em prática.
  — , fala com ele, sério — comenta com o ar cansado. — Sexta loja, cara, não é possível que não tenha achado uma aliança boa — reclama o rapaz, suspirando irritado.
  — Depois eu que sou o ranzinza, né? — diz , divertido.
  Eles entram na luxuosa loja e torcem para que o amigo ache o que quer que ele esteja procurando; se bem que, àquela altura, eles não sabem se realmente sabe o que quer.
  — Olá, eu gostaria de comprar uma aliança para um pedido de casamento — pede o homem cheio de pompa.
  — Hm, veio ao lugar certo, senhor. Só um minuto que já lhe trago alguns modelos — literalmente, ele ouviu a mesma frase em todas as lojas até agora.
  Enquanto aguarda a volta da atendente, para ao seu lado
  — Afinal, o que exatamente você está procurando, meu irmão? — indaga o mais velho.
  — Uma aliança perfeita — responde ele.
  — Sabe que isso não existe, não sabe?
  — , não é porque você está desacreditado no amor que ele não exista, tá legal? — diz, indignado.
  — Eu não disso isso — defende-se ele. — Eu disse que aliança perfeita não existe — explica-se ele — Você ama a , não ama?
  — Claro que amo...
  — Então, a aliança que você der a ela, com amor, ela vai gostar — diz com um ar de entendido.
  — Não acredito que você está me dando esse conselho — tem uma expressão de incredulidade na face. — , você sabe quem foi o ex namorado da ?
  — Você me disse. O Pon, né? — ele dá de ombros — O que tem a ver?
  — O que tem a ver? Você já viu o tamanho dele? E a voz? O cara compõe bem para caralho e...
  — ! — o mais velho lhe chama a atenção, se cala e encara o irmão. — Esquece essa bendita música que o Pon fez e foca no seu sentimento com a , naquilo que sentem um pelo outro, por favor.
  Boquiaberto, não diz mais nada. Nesse meio tempo, o atendente retorna com amostrar de alianças de noivado para mostrar para ao rapaz que se vira para aqueles anéis brilhantes e todos são tão lindos ao olhar dele e os analisa. Com o apoio do irmão, finalmente consegue se decidir qual aliança levará. No fundo, o já sabia qual tipo de anel seria perfeito e do gosto de sua namorada, ele já a conhece para saber esse tipo de detalhe.
  Agora que comprou a aliança para pedir em casamento, consegue respirar mais aliviado e pensar no segundo passo de seu plano: o pedido em si.

[💫]

  — Ai, onee, senta um pouco, por favor — reclama Ichiro enquanto encara a irmã andar de um lado a outro com o olhar fixo no portão desembarque.
  — Estou ansiosa — diz ela apertando as próprias mãos.
  — Nene*, logo o -san chegará — diz Harumi, carinhosa.


  *nene – forma de chamar a irmã mais velha. Para quem curte animes, é a mesma forma que a Merlin chama a Elizabeth em “Nanatsu no Taizai”. <3


  Faz bastante frio em Tóquio, estão todos muito bem agasalhados enquanto aguardam o avião que traz a Flow pousar. Segundo os cálculos de , já era para o avião ter pousado há uma hora, mas ele crê que, por causa da instabilidade meteorológica, o pouso tenha sido atrasado. Após mais vinte minutos de espera, onde não conseguiu sentar-se, o anúncio tão esperado é dado: o avião da Flow acaba de pousar. Com um suspiro de alívio, consegue relaxar um pouco e senta-se ao lado do irmão para aguardar a vinda de e os outros.
  Após pegar sua mochila e mala na esteira, caminha até a saída seguido pelos amigos de banda e staffs, todos muito cansados de toda a maratona que fizeram na Europa. De longe, os olhos aguçados de avistam sua amada namorada e seu sorriso se ilumina com a visão dela correndo em sua direção. Os cabelos medianos esvoaçantes enquanto corre, a expressão de alegria no rosto. Em um piscar de olhos, eles estão se abraçando finalmente, um abraço apertado e cheio de saudade e amor. Ele a ergue um pouco no ar enquanto aspirando seu delicioso perfume que ele tanto ama. Os beijos em seu pescoço fazem arrepiar-se e rir com as cócegas que eles lhe causam. Colocando-a no chão e se afastando um pouco, beija sua namorada com todo seu amor e saudade de quase um mês longe um do outro.
  — Que saudades, — ela sussurra ao fim do beijo.
  — Vamos matar essa saudade mais tarde... — sussurra ele de volta e ela ri.
  — Bobo, temos o jantar com meus pais, esqueceu?
  É, ele tinha esquecido da promessa que fez a de ir hoje jantar com os pais dela para conhece-los. Akito preparou um belo jantar, incluindo o prato favorito de : omu-soba, e o favorito de : tonkatsu, ela até preparou wasabi especialmente para .
  Sem jeito, o homem faz uma careta e diz:
  — Desculpa, amor, eu me esqueci — ri e balança a cabeça em negativa.
  — Bobo — ela dá um tapinha na testa dele.
  — Ai, meu Deus, que fofos!!! — diz ao se aproximar deles, os outros os seguem, rindo.
  — , okaeri diz com doçura.
  — Kawaii, por que você não é fofo assim também, ? Ensina para ele, -chan — brinca .
  — Vou te dar outra surra, diz o nome do amigo com firmeza, o cutuca com cara de brava.
  — , deixa ele.
   os deixa em paz e sai dali rindo da expressão que faz ao encará-lo.
  — Hey — chama sua atenção ao tocar seu nariz com o indicador e virar seu rosto para ela —, você vai poder ir hoje? — indaga ela.
  — Claro que eu vou — abre um largo sorriso e o beija.
  — Te amo, amor meu.
  — Ai, meu deus, que fofa! Ela me chamou de amor! — diz, exagerado — Diz de novo? — pede ele com um biquinho nos lábios.
  — Bobo! Meu amor bobão!
  Com um ar apaixonado, os dois se beijam novamente. Após se despedirem da banda, e vão para fora do aeroporto à espera de um táxi para leva-los à Yokohama. Ichiro e Harumi também, mas eles vão em outro táxi para poder deixar os mais velhos à sós um pouco. Já dentro do veículo, o casal -Ito conversa sobre o jantar e conta ao namorado algumas coisas sobre seus pais, principalmente sobre o senhor Akira Ito.
  — Ele diz que não gosta de gatos, mas gosta do Neko? — repete com um ar divertido.
  — Pois é, ele sabe que foi um presente seu e, agora que estamos namorando, ele voltou a implicar com o Neko.
  — Sério? Ah, meu Deus... — ri.
  — Ah, super sério e pode ter certeza de que ele vai comentar algo com você sobre isso. Pode anotar — afirma a moça, rindo.
  — Bom, eu sou um cara paciente, consigo dobrar o seu pai, não se preocupe.
  — Se ele gostar de você, vai te encher pelo resto da vida, amor.
  — Ele já gosta — diz ele, convencido. — Lembra que te comentei que, no dia do seu acidente, ele me defendeu do Hayato.
  — Oh, verdade. Ah, então, não há tanto com o que se preocupar. Eu acho — eles riem.
  — ... — diz, ficando sério, de repente.
  — Diga, amor — toda vez que ela o chama com carinho ele sorri abobado, assim como faz agora.
  — Você tem conversado com o Hayato?
  — Não. Desde que terminamos... — ela diz e solta o ar em forma de um suspiro leve, completa dizendo: — Eu não queria que nossa amizade terminasse.
  — Hm... — está calado e muito sério, com o olhar direcionado para o banco à sua frente.
  — Sei o que pensa dele...
  — Eu não confio no Hayato — determina , convicto. — Mas eu sei que ele é seu amigo, apesar de tudo. Então, eu consigo conviver com a presença dele mesmo que isso diga respeito somente a você — rola a cabeça, encostada no recosto do banco dos fundos do táxi, para o lado e encara . — Eu não vou me meter nisso, não é meu direito. Só quero que saiba que eu te amo e que apoiarei sua decisão.
  — Eu também te amo, .
  — Mas...
  — Mas?
  — Eu não confio nele e no discurso de bom moço de que está tudo bem vocês terem terminado. Tem algo no Hayato que não me desce, .
  A moça não diz nada, apenas dá um selinho demorado em enquanto afaga sua nuca. O , além de achar que Hayato é um homem dissimulado, tem a certeza de que ele não desistirá de reconquistar a atenção de .
  O que ele disse à é verdade, em seu interior realmente ele não irá se importar ou se meter na possível retomada de amizade entre Hayato e ela, porém, não significa que não ficará de olho no homem. Há algo nas palavras proferidas pelo Yoshida que não convencer de sua suposta tranquilidade pós-término com a mulher que ele desejou por anos.
  O não quer mentir para a namorada, por isso expôs o que está sentindo em relação a isso, mas também não quer lhe faltar ao respeito, por isso prometeu a si mesmo que não irá falar nada sobre isso, a não ser que ache extremamente necessário.
  O táxi que leva e chega ao destino em Yokohama e eles desembarcam do veículo. Arrastando sua maça, caminha de mãos dadas com a namorada até a porta da casa.
  — Está pronto? — questiona antes de abrir a porta.
  — Sim — ele dá um sorriso acolhedor e assente com um gesto de cabeça. abre a porta.
  — Tadaima — ela diz ao abrir a porta, tirando os sapatos.
  Ninguém responde, logo nota que os sapatos de Ichiro e Harumi estão ali também junto com os de seus pais, sinal de que eles chegaram primeiro. Tímido, como nunca esperava estar, encosta sua mala na parede e põe a mochila ao lado, retirando os tênis em seguida. Porém, ao invés de acompanhar a namorada que já deu três passos para dentro, ele se mantém parado, acanhado. Notando a ausência dele atrás de si, vira o corpo e o vê parado feito uma criança amedrontada.
  — Amor... vem cá — ela estende a mão e sorri para ele; ainda tímido, se aproxima e segura a mão dela.
  — Desculpa, eu fiquei tímido, de repente — ele sorri sem jeito.
  — Bobo! Meus pais vão amar você, assim como eu amo.
  Ela afaga a mão dele e lhe dá um beijo rápido. Eles caminham em direção a porta à esquerda que dá acesso à sala, na frente e praticamente sendo puxado por ela.
  — Onee! ! Okaeri! — diz Ichiro bastante receptivo. Harumi os cumprimenta também animada.
  — Aonde estão nossos pais? Na cozinha? — questiona a mais velha.
  — Sim — responde ele e ouve-se um miado alto. Logo, a figura pequena e felina de Neko surge detrás do sofá.
  — Neko! — diz , sorrindo.
  — Como ele está grande, wow! — comenta com espanto. — Na última vez que eu o vi pessoalmente, ele cabia na minha mão.
  — Ainda cabe, , suas mãos são grandes — diz Ichiro, divertido.
  — São mesmo — a voz de é ouvida e o tom de desejo é percebido por que sorri e a olha de maneira significativa. espanta os pensamentos pervertidos que passaram rapidamente por sua mente e completa: — Ele ainda se lembra de você, amor — ela diz, disfarçando. ri e agacha para segurar o pequeno gato laranja.
  — Neko-chan, você lembra de mim? Suas garrinhas ainda são afiadas? — parecendo estar ouvindo e entendendo, Neko mia e dá uma mordida no dedo de — Ah, os dentinhos também, né, seu safadinho?
  — Ele não gosta muito que o segurem, amor — comenta divertindo-se com o malabarismo que faz para tentar se livrar das mordidas do gatinho.
  — Eu te adotei, para de me morder! — reclama . — Ele é temperamental igual ao .
  — Não fala assim do , ele nem é tão temperamental assim.
  — Já está em defesa do seu cunhado é? Hm... — diz num tom sugestivo.
  — Bobo! é muito gentil — defende .
  — também é e você viu do que ele é capaz no dia da festa do — diz , rindo. — Ele é um monstrinho! Igual a esse ser que só me morde, meu Deus, Neko! — reclama ele novamente.
  — Põe ele no chão, ainda ri. Ichiro e Harumi também.
  Finalmente põe o felino no chão que, curiosamente, começa a se esfregar nas pernas dele que o olha confuso, dizendo que definitivamente ele é a versão felina de . Ainda rindo, o casal já ia caminhar até à cozinha, mas as figuras dos pais de surgem na sala e o sorriso de morre, dando lugar àquele homem tímido de minutos atrás.
  — Papai, mamãe, esse é meu namorado, o — diz e puxa para frente dela. O home curva o tronco num ângulo de 90º.
  — Prazer em conhece-los, sou — ele diz, formal demais para o gosto de Ichiro e temeroso demais para o gosto de .
  — Oh, -kun, okaeri — diz Akito com a voz calorosa, suspende o corpo e segura as mãos erguidas da sogra. — Que bom que conseguiu vir hoje, -kun — o sorriso de Akito é tão acolhedor quando o de . Agora o homem entende de onde vem tanta fofura.
  — Eu que agradeço por me receberem aqui — também sorri e nota o silêncio do pai de .
  — Akira-kun... — diz Akito com o olhar severo direcionado ao marido.
  — Bem-vindo, — responde Akira de maneira seca.
   apenas o cumprimenta com um gesto de cabeça, muito sem jeito. segura no braço dele, lhe transmitindo apoio e sorri para o namorado o puxando para si. Akito anuncia que o jantar está quase pronto e pede para todos ficarem à vontade. Todos sentam-se pelo sofá e poltronas da sala e começam a conversar, menos Akira que ainda mantém a feição séria e, de vez em quando, lança olharem muito sérios e analíticos para e recebendo olhares repreensivos de sua esposa de volta.
  Não demora para que o jantar seja servido e todos possam deliciar-se com a saborosa comida preparada pela Akito especialmente para a vinda de . Segundo , algo que o pai dela jamais admitirá, o wasabi foi preparado por Akira, que também ama a iguaria. Aliás, segundo , o omu-soba da senhora Ito é o mais gostoso que ele já provou e, de quebra, o wasabi o mais ardido e saboroso no maior estilo japonês. Discretamente, Akira sorri de canto, orgulhoso com o comentário do genro.
  Após o jantar, o combinado era take dormir no quarto de hóspedes e ir embora no dia seguinte, mas o homem decide ir mais cedo de volta à Tóquio.
  — Mas, por quê, amor? — questiona à , ambos estão no hall de entrada.
  — Acho que seu pai não iria gostar, afinal ele acabou de me conhecer como seu namorado — explica ele, enquanto abraça .
  — Quero passar mais tempo com você... — ela diz, manhosa.
  — Vem comigo para Tóquio, minha cama é de casal — ele diz, malicioso.
  — ! Bobo, tarado! — reclama , rindo. — Só porque eu ia te visitar no quarto de hóspedes de madrugada.
  — Hm... safada — eles riem e se beijam. — É sério, quer vir comigo para Tóquio?
   suspira.
  — Melhor eu ficar, afinal, vamos nos ver no Natal e Ano Novo também.
  — Sim... — eles se encaram por um breve tempo e prossegue dizendo: — Eu te amo, baby.
  — Também amo você, baby.
  — Awn, ela me chamou de baby também!! Kawaii! — brinca ele, arrancando uma risada dela.
  — Bobão!
  Eles se beijam novamente e se despedem assim que entra no táxi rumo à Tóquio, onde dorme boa parte da viagem. avisa aos pais sobre a decisão do namorado e Akito fica brava com o marido, pois tem certeza de que o comportamento indiferente dele fez se acanhar e decidir ir embora antes do combinado.
  Os dias se passam e a noite de Natal chega junto com a neve que, até então, não havia caído. Yokohama se ilumina com as luzes natalinas e todo o simbolismo que há ao redor das celebrações da data. A casa dos Ito é uma das milhares que se enfeitam para receber a família e amigos para uma pequena festa. Esse ano, além dos membros da família, os irmãos Tanaka também estão presentes e, é claro, os irmãos também vieram.
   apresenta aos pais que rapidamente gostaram do rapaz, principalmente Akira, o que causa ciúmes em . Porém, ao contrário do que aconteceu no último jantar, hoje, o senhor Ito está mais animado e chama o genro para uma longa e animada conversa no jardim, enquanto bebem taças de vinho e comem petiscos. Apesar de feliz com a aproximação deles, acha estranha a mudança de humor do pai, porém, prefere não comentar nada para não ativar o modo mal-humorado dele novamente.

  Alguns dias depois...
  A chegada da noite de Ano Novo na cidade iluminada da vez é Tóquio, mas precisamente na casa dos irmãos . foi sozinha passar a festividade ao lado de , a surpresa foi a aparição dos pais do homem que não avisaram de sua chegada.
  — Mamãe? Papai? — diz espantado ao vê-los parados na porta.
  — Não vai convidar seus pais para entrar, -kun? Não foi assim que eu te eduquei! — diz a mãe dele um pouco brava.
  — Por favor, entrem — curvando o corpo e dando passagem para os pais.
  Aiko e Yamato , pais de e adentram a casa dos filhos.
  — Viemos conhecer nossa nora, já que você — ela olha diretamente para o filho mais novo — não nos chamou antes. Péssimo, -kun.
  — Hã?
   não sabe o que dizer. Nesse momento, ele reza para que não desça agora, ela está no andar de cima da casa procurando toalhas para arrumar a mesa de jantar, ele reza para que ela o espere subir para avisar sobre a presença dos pais ali. Porém, não dá tempo de finalizar a oração.
  — , aonde estão as...
   paralisa ao pé da escada e encara o namorado atônico, , que acaba de chegar à sala, boquiaberto e dois desconhecidos que a encaram como um olhar fraternal.
  — ... toalhas de mesa? — completa ela com receio.
  — , esses são... — ia falando, mas é interrompido pela mãe.
  — Oh, então você é a -chan? Oh, -kun, não nos disse que ela é tão linda assim! Venha cá, minha querida — chama a mulher e sorri muito sem graça e torcendo para que alguém lhe dê um pouco mais de informação.
  — É, , esses são nossos pais — diz e o agradece com o olhar.
  — Ah, olá, okaeri nasai — ela aproxima-se dos pais de e logo tem as mãos agarradas pela mãe dele.
  — Não precisa ser tão formal, minha querida — diz Aiko com um sorriso acolhedor — Você é da família agora que namora o nosso -kun.
  — Okaasan... — diz , despertando do choque inicial pela presença repentina dos pais ali e se aproxima da namorada.
  — Ora, -kun, não seja ranzinza. Isso é coisa do seu irmão.
  — Okaasan!!! — espanta-se , envergonhado.
  — Quero ver quando você tomará vergonha em sua cara e sossegará... — começa a mulher direcionando-se para o filho mais velho — Até o seu irmão arrumou uma linda namorada e você fica aí sozinho e amargurado. Não pense que não vejo suas fotos pós-shows bebendo pelos camarins, -kun! — ela diz, brava.
  — Como assim “até o seu irmão”, mamãe? — questiona , indignado.
  — Ok, chega, vocês vão assustar a moça — finalmente Yamato se pronuncia e cumprimenta . — Não ligue para eles, -chan, estamos felizes em conhecê-la.
  O homem é tão calmo e sereno quanto , agora percebe de onde vem a paciência do namorado.
  — Obrigada, senhor — ela sorri.
  — Bom, viemos comemorar o Ano Novo com nossos bebês e nossa linda nora, então, o que tem para o jantar, ? ? — diz a mãe deles.
  O jantar está sendo feito por , que é um excelente cozinheiro juntamente com o irmão. O mais novo acomoda os pais na sala e faz companhia para eles junto com , enquanto e Iwasaki, que também estão lá, ajudam a concluir o jantar. Já Gots arruma a mesa de jantar. Aiko bombardeia de perguntas e a moça as responde com prazer, enquanto o filho tenta cessar o interrogatório.
  Após o jantar, todos conversam coisas aleatórias sobre o passado. , e fizeram o ensino médio juntos, sempre um ano a menos que os outros, e esse é o assunto do momento.
  — Esses três pareciam até irmãos gêmeos, sempre grudados para todos os cantos — comenta a mãe dos rapazes para que a ouve com atenção. — Até para namorar eles saíam juntos...
  — Okaasan!!! — os três dizem ao mesmo tempo, muito envergonhados com a exposição.
  — Vocês sabem que é verdade — ela dá de ombros. — Oh, -chan, eu trouxe algo para te mostrar — lembra-se ela e pede para Gots pegar sua bolsa — Você vai adorar!
  — Ai, meu Deus... — diz , baixinho, e ri do desespero dele.
  — Calma, baby — sussurra ela e sorri para o homem que mal consegue olhar para a namorada de tanta vergonha que sente agora.
  — Obrigada, Gots-kun — agradece a mulher quando pega o pequeno álbum de fotos dentro de sua bolsa.
  — Okaasan, a senhora trouxe isso para cá? — diz ao reconhecer o álbum.
  — Trouxe porque eu amo cada foto que há aqui — ela dá de ombros novamente e senta-se ao lado de , expulsando que estava ali. — Veja, -chan, são fotos dos meus meninos quando pequenos.
  — Oh, que lindos! — diz ao folhear as páginas do álbum.
  — Quando tiver filhos com o nosso -kun, você fará a mesma coisa que eu, tenho certeza.
  — Okaasan!!! — diz , desesperado.
  A mãe dele o ignora.
  — Oh, que fofos... — comenta novamente, o álbum contém muitas fotos de e com variadas idades. — E quem é esse aqui? — espanta-se ao ver a foto de um menino bem bochechudo que não se parece com nenhum dos dois.
  — É o -kun com 4 aninhos — diz a mãe dele e praticamente salta no colo de para lhe tomar o álbum de sua mão.
  — , não veja isso, por favor!!! — pede ele, quase deitado no colo dela, ergue o álbum para longe de seu alcance. — okaasan, por que ainda tem essa foto?
  — Você está muito fofo nela, meu filho — explica a mais velha com naturalidade. — Gostou, -chan?
  — Ah, sim, kawaii ne — ela alisa o rosto do garotinho na foto, tão fofo. Os amigos de controlam as risadas.
  — Se quiser, pode ficar com ela — anuncia a mais velha.
  — Maji ka?
  — Sim — elas sorriem uma para outra e joga o corpo para trás, derrotado, pondo as mãos no rosto.
  A conversa segue e logo dá a hora da contagem regressiva para à chegada de 2011. Felizes por estarem reunidos com àqueles que amam e os desejos para o ano que se aproxima é estarem ainda mais perto deles, só atraindo coisas boas para vida de todos.
  Algumas horas após a chegada de 2011 e todos descansam. Os pais de e dormem no quarto do mais velho, enquanto ele divide o quarto de hóspedes com Gots, e Iwasaki. e têm sua privacidade no quarto dele, ambos ainda não dormem e quis entender dele o motivo de sua vergonha mais cedo.
  — Por que você não gosta dessa foto? — a voz dela soou a mais tranquila e compreensiva possível.
  — Me lembra que tenho problemas para controlar o meu peso — responde num tom cabisbaixo.
  — Por isso é tão aficionado em malhação...
  — Sim.
  — ... — chega mais perto dele na cama, ambos estão sentados e encostados na parede —, você é lindo e está muito bem de saúde. Isso que importa: a sua saúde. E eu não lido caso algum dia você engorde.
  — Tem certeza? — o olhar de cãozinho abandonado do namorado sempre derrete o coração de .
  — Eu te amo do jeito que você é e estiver — ela dá um selinho demorado nele que faz um bico com os lábios.
  — Mas eu... me sinto mal quando vejo essas fotos.
  — Tudo bem, amor — ela dá outro selinho nele — Vou devolver a foto para sua mãe.
  — Não, pode ficar, sei que você gostou dela.
  — Tem certeza, amor?
  — Tenho — ele diz e sorri de canto. — Foi um presente da minha mãe para você, isso é raro, não posso ser contra isso — conclui ele, brincalhão. — Obrigado por me apoiar, baby.
  O beijo a seguir marca o início não só de 2011, mas de uma noite regada a amor e luxúria. e começam o ano se amando e foi assim durante alguns dias que se seguiram. Até a vez em que eles experimentaram transar durante o banho sem proteção e com o chuveiro ligado, foram os maiores arrependimentos de ambos, apesar do tremendo prazer que sentiram.

  Abril de 2011, Tóquio, 12h32
   corre de um lado a outro para acertar os últimos detalhes da surpresa que, finalmente, fará para . O show de hoje marcará o iniciar da vida deles juntos e ele quer que tudo saia perfeitamente bem. A Flow tocará no Festival Anime X e será a quinta banda a subir ao palco, por volta das 16h. também está ansioso, mas para que o show termine e ele possa falar com a .
  Nos últimos dias eles vem pensando muito na moça, na verdade, ver o irmão prestes a pedir em casamento fez repensar nos próprios queres e desenterrar as sensações que teve ao beijar há quase um ano e depois em seu carro, há alguns meses. Antes do show, Harumi, , e Ichiro passam no camarim dos rapazes para desejarem bom show. mal olha para a cara de que fica envergonhado em tentar se aproximar e ser ignorado por ela. Eles vão embora e o mais velho sente-se frustrado por sua covardia.
  Durante o show, está muito animado, interagindo com o público e executando seu show particular que nunca é igual ao anterior. tem um baita déjà vu ao vê-lo tocando no palco, dançando e fazendo poses para ela, recorda-se do show em Yokohama de um ano atrás onde o conheceu.
  O ápice do show vem quando a execução de “Calling” chega e pede à palavra ao irmão e a , que já sabiam de tudo, para falar o que planejou há tantos meses. Ele faz um pequeno resumo dos sentimentos que o levaram a escrever essa música e diz que o principal motivo está bem ali na frente dele o encarando. Muitos fãs olham para e têm a certeza de que ela tem algum relacionamento com .
  Quando “Calling” finaliza, está muito emocionado, tanto quanto ele, o homem toma à palavra novamente, retirando sua guitarra do corpo e fala:
  — Eu... eu gostaria de pedir novamente a atenção de vocês, por favor — ele diz e todos fazem o máximo de silêncio possível. — ... — o olhar de cai direto nos olhos dela que sente o corpo estremecer —, você sabe o quanto eu te amo — ouve-se alguns murmúrios de surpresa na plateia, ignora e prossegue: — e sabe o quanto eu quero viver para sempre ao seu lado. Eu demorei para perceber, né? Demorei para ver que eu te amo desde que te conheci há pouco mais de um ano. Mas, hoje eu tenho plena certeza do que sinto e é por isso que... — ele mexe no bolso da calça retirando dali a caixinha onde guarda a aliança que comprou em Berlin —: Ito — ele ajoelha-se no palco e ouve-se um coro de “oh” —, você aceita se casar comigo?
  O pedido é feito.
   realmente não esperava por isso hoje, a surpresa no rosto dela é notável, a moça sente cada célula de seu corpo tremer e, ao mesmo tempo, parar de funcionar, o que faz a mulher perder o controle dos próprios movimentos, paralisando.
  O silêncio que segue pós o pedido deixa um clima estranho no ar, está sem saber como agir, a plateia anseia por uma resposta, os outros membros da Flow observam também ansiosos e continua encarando ajoelhado no palco com a caixinha aberta estendida no ar; o corpo paralisado, imóvel e a mente fervilhando em pensamentos.
  Qual será a resposta de Ito ao pedido de ?
  Saberemos no próximo capítulo, em “Atmosphere”.

“Eu faço sons com meus sapatos enquanto ando sozinho
  O sol brilha através das árvores balançando
  No caminho de pedestres através desta vista serena
  Tem uma voz chamando meu nome
  [...]
  Cada vez que o riso ecoa num céu azul brilhante.”
  ATMOSPHERE, FLOW.

CONTINUA EM ATMOSPHERE



Comentários da autora


  Nota: Olá! Bem-vindos à Microcosm. Vim aqui explicar uma coisa. Essa fic é um projeto grande e consiste em 6 fics dentro de uma só. Conta a história desse casal que se forma em determinada parte e vai evoluindo juntos. A fic tem esse nome, pois as músicas que me inspirei para serem os nomes das fases de Microcosm, são do CD da FLOW que tem o mesmo nome da fic. As músicas são “Echoes”, “Calling”, “Atmosphere”, “Planetarium”, “Ambience” e “Tonight”. Talvez, muito talvez, tenha mais uma última após “Tonight”, mas isso eu decidirei depois.
  Enfim, espero que gostem dessa história, estou me dedicando para ser uma linda e rica história 💕