Metade de nós

Escrito por Anne Amorim | Revisado por Beezus

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Parte do Projeto Songfics - 6ª Temporada // Música: One Direction – Half a Heart

   caminhava pela casa silenciosa, a casa que um dia fora dos dois. Novamente aquelas sensações que ela não sentia há muito tempo a invadiram. Enquanto caminhava pelos cômodos vazios uma sensação de nostalgia passava por sua mente e afetava seu coração. Fora naqueles cômodos que ela sonhara e construíra sua vida ao lado dele, ao lado de .
   era uma “daquelas meninas ingênuas de interior”, como ele mesmo a classificara em sua última briga, se deslumbrou com a grande Londres e com tudo o que tinha a oferecer. Seus planos no inicio era terminar sua faculdade de direito e retornar a pequena e confortável Wolverhampton para construir um escritório e exercer sua função lá.
  Mas ele mudara tudo. Chegara com seu riso fácil e seus olhos sonhadores, ele a levava a mil lugares e a fazia rir, mostrava a ela uma coisa que ela nunca conhecera, a felicidade. vivera toda a sua vida em Wolverhampton, mas nunca conhecera seus pais. Ela crescera em um lar de adoção, e devido ao fato de ter a audição comprometida, nenhum casal ousava se responsabilizar por ela.
  Mas ele nunca ligou pra isso. Mesmo que ela jamais conseguisse ouvir sua voz, ele cantava para ela. Escrevia-lhe músicas, e a fazia sentir todas. E mesmo quando ela acordava desesperada, gritando socorro às três da manhã, ele a abraçava, e sussurrava palavras que ela jamais poderia ouvir, mas conseguia sentir no seu pescoço, junto com o calor dos lábios dele.
  Ao lembrar dessas coisas, encostou na parede e escorregou até estar sentada no chão, as lágrimas rolavam pelo seu rosto, mas ela não se importava em seca-las. Não tinha ninguém ali, ela não precisava fingir que estava bem, ela podia chorar o quanto quisesse.
  Ela nunca se apaixonara antes, então nunca soubera como era um rompimento. Ela não sabia que quando eles terminassem seu coração seria destruído, ela não sabia que quando terminassem ela iria fingir que estava bem, iria rir dele, mas chorar a madrugada inteira.
  De repente, a lembrança do rompimento dos dois veio a sua mente, como uma flecha, lá estavam os dois gritando como loucos, como se o mundo não existisse, ele dizendo a ela o quanto incompreensível ela era, e ela dizendo a ele o quanto desprezível ele era. E então ela leu nos lábios dele:
  - Olha, eu não aguento mais.
  Sua garganta secou, e ela sentiu algo apertar-lhe o peito. Ela cambaleou para trás, e a agarrou pela cintura puxando-a. Ela sabia que estava falando algo, mas não se importou em olhar para os lábios da amiga para entender. Ela não queria entender nada, só queria que o mundo voltasse à manhã daquele dia, quando os dois estavam nos braços um do outro e a única coisa que parecia existir fosse os lábios dele.
  Ela riu durante todo o caminho para casa como se aquilo não passasse de uma grande piada, mas quando finalmente foi embora, ela sentiu um vazio tão grande e as lágrimas vieram com uma enxurrada de sensações, e ela passou a madrugada repassando tudo o que acontecera. Repassando os encontros, as risadas, os beijos, a compra do apartamento e tudo mais. E de repente, ela se sentiu tão sozinha, foi ai que ela notou que voltara a ser só ela e ela.
  Ele não apareceu naquela noite, nem no dia seguinte, nem no outro. E quando ela entrou no facebook, descobriu que e não eram mais um casal, e então ela fez a única que passou pela sua mente, lhe mandou uma mensagem:

   “Venha buscar suas coisas, ou elas virão cinzas.”.

  Ele não apareceu, e ela chorou. Chorou por tudo de ruim que disse a ele, chorou por ter ignorado os seus lábios quando ele lhe gritava palavras que ela sabia que machucariam, e ignorou mais ainda por ter lido naquela boca que ela tanto amava a coisa que mais a doera:

   “Eu fui um completo idiota de um dia ter te amado. Se nem seus pais foram capazes, por que eu seria?”

  Só ela sabia como aquilo a ferira. Mas ela sabia que também dissera coisas cruéis, e isso era o que mais a machucava. Como ela era capaz de ferir alguém que amava?
   era uma boa amiga, aparecera todos os dias, e mesmo que não lhe dissesse nada, ela sentava do seu lado e ficava ali, como se naquele silêncio tivesse coisas que ninguém era capaz de entender.
  Enquanto chorava sentada no corredor escuro do lugar que um dia abrigara sua maior fonte de alegria, andava calmamente pelo lugar onde eles se conheceram. Uma sensação estranha abrigava seu peito, como se ele houvesse perdido uma parte de si, e realmente havia perdido.
   era a primeira e única mulher que ele amara em toda a sua vida, e mesmo depois do término havia marcas dela em si. Como a mania de estalar a língua sempre que estava pensando em algo, ou de cantar quando sentia que algo estava errado. era surda. Jamais seria capaz de ouvir qualquer coisa, mas era capaz de sentir. E por mais que cantasse todas as músicas fora do ritmo, sua voz era a melhor coisa que ele já ouvira em toda a sua vida.
  Ela falava, cantava, mas era incapaz de ouvir até mesmo a própria voz. E isso era algo que aprendera a lidar. Ele aprendera a lidar com ela, com o fato de que se ele não falasse de frente pra ela, ela seria incapaz de entendê-lo. Com o fato de que as brigas com ela, sempre teriam que ser em libras, com o fato de que ela nunca conseguiria ouvir as músicas que ele compunha e assim, nunca poderia saber se ele realmente tinha talento para fazer o que mais amava.
   era simplesmente ela mesma. E era isso que mais amava nela. Perceber isso fez com que sentisse uma pontada em seu coração. Como se algo lhe dissesse que estava perdendo-a. Ele caminhou até o banco mais próximo e sentou observando as crianças brincarem no playground. Ele e sonharam ter filhos. Um menino e uma menina. Samuel e Alice. Mas ele sabia que ela era incapaz de ter filhos, e ela também. Às vezes de madrugada, ela acordava gritando, desesperada, tendo sonhos com o verdadeiro motivo por ela não poder ter filhos, e como uma forma de protegê-la ele a abraçava e sussurrava: “Está tudo bem, já passou!”. Ele sabia que ela não ouviria isso, mas ele fazia do mesmo jeito, como se essas palavras surtissem algum efeito.
  Ele viu se aproximar, mas não demonstrou, o amigo sentou ao seu lado, e os dois ficaram observando aquelas crianças juntos, então interrompeu o silêncio com uma pergunta que fez se enroscar e seu coração doer:
  - Você a ama? Você ainda a ama?
  Sim, ele ainda a amava. Mas sabia que era namorado de , e era melhor amiga de . Tinha medo que ele fosse contar a .
  - Que diferença isso faz?
  - Por que se você a ama, deveria ir atrás dela. – Por um instante os dois se encararam e notou que não havia pedido nada. realmente estava preocupado com ela. – Olha cara, noite passada entrou escondido no apartamento de vocês. A estava deitada no chão, abraçada a um moletom seu, com o rosto manchado de lágrimas, e ao redor dela estava fotos de vocês. Se ela não te amasse não estaria assim.
  Aquelas palavras acertaram uma parte do peito de e o fizeram perceber que ela precisava dele, e principalmente, ele precisava desesperadamente dela. Enquanto se levantava e gritava onde ele estava indo, corria para fora do parque a caminho do apartamento que um dia morara junto com .
  Dentro do carro, enquanto dirigia rumo a ela, as lembranças e momentos que eles tiveram juntos vieram à mente, inclusive sua última briga, onde ele fora desumano com ela. Mergulhado em seus próprios pensamentos, não viu quando aquele carro entrou na contra mão vinda em sua direção, não viu quando o motorista saltou para fora do carro, na verdade, sua última lembrança foi de ouvir alguém gritar, e então nada mais.

  Duas semanas após o acidente...

   estava sentada a beira da cama, os pertences de espalhados pelo quarto, e havia acabado de entrar no quarto com a caixa de coisas que havia deixado em sua casa nos dias que havia ficado lá. sentiu seu coração afundar enquanto suas mãos retiravam as coisas da caixa.
  Ela vira como o carro havia ficado após o acidente, vira no necrotério, e a dor de terminar o namoro não era nada compara a dor que ela sentiu quando viu seu amado morto. Ele estava ali, com um corte na testa que haviam costurado, os lábios sempre tão vermelhos estavam tomando um tom arroxeado, assim como a pele dele.
  Traumatismo craniano. Foi o que escreveram no laudo. Mas sentia como se o seu coração houvesse sido arrancado do peito, como se uma parte de si houvesse partido com ele. Ela ficara ao lado dele durante todo o velório, e em nenhum momento olhara para as pessoas que desejavam pêsames a ela. Nenhuma delas realmente se importavam, só queriam ver se ele realmente estava morto.
  Mas ela sim se importava. Ela o amava! Ela teria morrido com ele de bom grado, por que sem ele, ela era só a metade de um! não notou quando as lágrimas tomaram seu rosto, naquelas últimas semanas a sua vida havia sido essa, lembrar se dele e chorar.
  Chorar por não ter tido chance de se despedir, chorar por não ter tido chance de pedir desculpa, chorar por não ter tido chance de dizer que o amava, e principalmente, chorar por que suas últimas palavras haviam sido tão cruéis.
   tocara seu braço quando colocou a última caixa, com certeza esperando que ela olhasse pra ele e lesse seus lábios enquanto se despedia. Mas ela não fez isso. Ela não queria nunca mais ter que olhar ninguém, ela não queria mais viver. Ele lhe deu um beijo na testa e saiu, deixando a sozinha com a própria dor. Com a dor que estava esmagando-a.
   começou a mexer em tudo, desesperada como se aquilo fosse fazer aquele nó na garganta desaparecer ou aquela dor avassaladora que estava consumindo-a diminuir, dentro da segunda e última caixa que trouxe havia uma carta com a letra de .
abriu lembrando que tinha essa mania, mania de escrever uma carta sobre tudo que acontecia. Mas a carta era endereçada a ela:
  “Minha ,
  eu sei que te disse coisas horríveis, e mesmo que você não tenha lido todas, sei que as magoou.
  Sei que sou um covarde, incapaz de te pedir desculpas, e sei que isso irá me destruir, por que sem você eu não passo de metade de um homem. Mas, eu realmente cansei. Não quero que fiquemos brigando assim, não quero lhe dizer coisas horríveis e lhe pedir desculpas e fingir que nada aconteceu.
  Eu fui horrível com você, mas por mais que me doa, não quero que você me perdoe. Eu não mereço seu perdão! Você sabe que a minha vida é a música, e mesmo que jamais ouça, ou que jamais leia essa música, eu compus para você:

So your friends been telling me
You’ve been sleeping with my sweater
And that you can’t stop missing me
Então, seus amigos andam me dizendo
Que você anda dormindo com o meu moletom
E que você não consegue parar de sentir a minha falta

But my friends been telling you
I’m not doing much better
Cause I’m missing half of me
Aposto que meus amigos andam te dizendo
Que eu não estou muito melhor
Porque eu estou sentindo falta de metade de mim

And being here without you is like I’m waking up to
Only half of blue sky
Kind of there but not quite
I’m walking around with just one shoe
I’m half a heart without you
E estar aqui sem você é como se eu acordasse para
Apenas metade do céu azul
Parte lá, mas não inteiramente
Estou andando por aí com só um sapato
Sou metade de um coração sem você

Forget all we said that night
No, it doesn’t even matter
Cause we both got split into two
If you could spare an hour or so
We go for lunch down by the river
We can really talk it through
Cause I miss everything we do
I’m half a heart without you
Esqueça tudo o que dissemos aquela noite
Não, isso nem mesmo importa
Porque nós dois fomos partidos ao meio
Se você tiver uma hora livre ou algo assim
Podemos almoçar na beira do rio
Podemos realmente conversar sobre isso
Porque sinto falta de tudo que fazíamos
Sou metade de um coração sem você

  Eu precisava compor isso, e sentir que de alguma maneira me redimia com você. Sei que talvez você nunca leia isso, mas é assim que eu me sinto longe de você.

  Eu te amo, minha pequena . xx”

  Ela olhou para cima, como se olhasse nos olhos azuis que tanto amava e falou com a voz embargada de lágrimas:
  - Eu te amo, eu realmente te amo, meu anjo, meu !

FIM!



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