Memories Of a Boyfriend

Escrito por Bruh Fernandes | Revisado por Mah

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  Ser traída não estava em minha lista de desejos. Como dizem, é algo que todos têm que passar um dia, faz parte da vida levar uns chifres de vez em quando. Mas vê-lo ali, com outra, nunca passara pela minha cabeça.
  Ele era o príncipe encantado. Fixava-se nos mínimos detalhes: na data que nos conhecemos, anos atrás, quando nos tornamos amigos. Nas flores só para agradar o dia, nos chocolates nos momentos difíceis, nas noites de conversa na escuridão da madrugada.
  Como imaginá-lo um traidor? Um duas caras? A possibilidade mal passara, um dia, em minha cabeça. Era chocante. Chocante ver seus fortes braços abraçando a cintura de outra mulher. Beijando os lábios que não eram os meus.
  O pior martírio era quem era a mulher. Doeria menos se fosse qualquer uma, uma vizinha, secretária, alguém sem importância. Mas não. Era minha melhor amiga. Em quem confiei anos, contei-lhe tudo, inclusive meu namoro com .
  . Com quem dividi sentimentos, risadas, momentos ruins e bons. E agora lá estava ela, ajudando a destroçar meu coração, enquanto seu olhar explodia de alegria. Como ela era capaz disso?
  Como eles eram capazes de fazer isso comigo?
  - ? ? - sussurrei, minha voz se perdendo no meio do caminho.
  Eles pararam no mesmo instante e se separaram. Tentaram aparentar como se nada tivesse acontecido, mas era tarde demais. Eu vira tudo e a surpresa do meu olhar arregalado e minha boca que tremia evidenciava que eles perderam o segredo.
  - , eu posso explicar. - falou, tentando tocar em meu pulso. Eu me afastei.
  Ele bufou.
  - Não é isso que você esta pensando, . - reforçou. Eu soltei uma risada, indignada.
  - Essa foi extremamente clichê. – cuspi - E me chame de . – pedi, irritada.
  - Está na hora de contar, . - proclamou, virando para a minha ex-amiga.
  - Ah, tem mais coisas que vocês escondem de mim? – inquiri, nervosa - O que é? Você está esperando um filho dele? – encarei a mulher.
  - Não é nada disso, ! - brandeou em resposta.
  Eu abanei a cabeça negativamente.
  - Eu vou embora daqui. Até nunca mais.
  Virei os calcanhares, pronta para sair daquele apartamento, e daquela cidade, e daquele país!
  - Você lembra que sofreu um acidente de carro ano passado? - gritou, me fazendo parar, assustada.
  - Acidente? - os olhei - Do que vocês estão falando?

  Flashback 12 meses atrás.
  - Você não devia ir dirigindo para casa, . - sentenciou, quando eu saía da festa em disparada.
  - Volte pra e para de encher o meu saco. - eu respondi, arrogante.
  - - segurou meu braço, me fazendo olhá-lo novamente - Você sabe o quanto estamos felizes por finalmente termos ficado juntos. Você é nossa melhor amiga, seu apoio é importante.
  Uma lágrima teimosa caiu do meu olho direito antes que pudesse perceber. Limpei-a rapidamente, com minha mão livre.
  - É difícil, . Eu gosto muito de você.
  - E o exato problema que está fazendo você chorar é...? - perguntou, não entendendo toda cena que eu fazia.
   e eu sempre fomos amigos, desde a escola. O problema foi que, depois de um tempo, eu comecei a perceber que eu pensava demais nele. Em seus olhos, seu rosto, seu sorriso e seu corpo... Tomei um susto, quando num dia qualquer, eu sonhei que ele encostava seus lábios nos meus, e sorria com o gesto.
  Esses sonhos se tornaram rotina. Eu admitira a mim mesma, com o passar do tempo, que estava apaixonada por ele. Decidira não contar a ninguém, nem mesmo à . E agora, que sorte a minha, ele ficara com minha melhor amiga. E eu tinha de fingir que tudo estava bem!
  - Sonho com você todas as noites. - Suspirei, tomando um gole de coragem para continuar a falar – Eu amo você, . Como homem.
  Sua boca escancarara e minha reação foi recuar alguns passos. e felizes, isso era o que importava. Dane-se o sentimento dentro de mim. Qualquer idiota podia ver o quanto eles gostavam um do outro, o quanto os olhos brilhavam depois do beijo que trocaram.
  Eu tinha que sair dali. Sair do pesadelo e voltar aos sonhos que nunca se tornariam realidade.
  Off

  Sentada na poltrona, eu dividi meus olhares entre e . Por que eu só comecei a lembrar disso tudo agora?
  - Vocês se beijaram naquela festa? - perguntei, perplexa.
  Eles assentiram com a cabeça, lentamente.
  - Vocês sempre gostaram um do outro? E seus olhares brilhavam... - comentei e meus olhos encheram de lágrimas. – Por que não me lembrava disso?
  - Essa é a parte mais triste da história, . - exclamou. - Eu odeio ter que contá-la.

  Flashback 12 meses atrás.
  Eu não conseguia parar de chorar. Ter um amor não correspondido é uma das piores coisas que se pode sentir.
  E fechando os olhos, eu ainda vejo-o rindo. Sinto seu cheiro.
  Mas então está do seu lado. O abraçando, no lugar em que eu queria estar.
  Bati com força no volante, quando vi o sinal vermelho já perto demais. Freei com toda a força, tentando parar na linha dos pedestres, mas a alta velocidade não me permitiu.
  No meio do cruzamento, eu só pude ver a brilhante luz branca vindo do meu lado, cegando meus olhos.
  Imaginei-me junto a ele, seus lábios molhados nos meus. Senti a força da batida do carro em meus ossos. Meu corpo rodava, eu parecia uma boneca desgovernada. A dor dominou meu corpo. O cheiro metálico de sangue dominou o ambiente. Eu gritei o nome dele, antes de tudo ficar preto.
  Off

  - Eu sofri um acidente... – murmurei, embriagada pelas informações. - E por minha culpa.
me abraçou, e eu chorei em seu ombro.
  - Não foi sua culpa, . – retrucou ela.
  - Na verdade, foi minha. - proferiu.
  Olhei pra ele, tentando entender, e ele sorriu forçado.
  - Você estava chateada por minha causa... Eu sinto muito, . Se eu pudesse voltar no tempo, eu... Eu faria qualquer coisa para te proteger. – sua voz saíra nostálgica.
  - Não é sua culpa, ! Não é culpa de ninguém! - vociferou.
  - Ela... tem razão - concordei, limpando o meu rosto com a manga do casaco - O que aconteceu na minha mente? Por que achei que fosse meu namorado?

  Flashback 10 meses atrás.
  Lá estavam e , conversando com o médico. Enquanto eu estava deitada naquela cama dura.
  De longe, eu podia ouvi-los, mas minha mente estava tão cansada que eu não queria processar as informações. Eu já havia dado um abraço na minha amiga e um beijo repleto de saudades em meu namorado, . Estava bom, por hoje.
  - Ela não lembra como veio parar aqui, acha que está aqui por uma desidratação ou algo do tipo. – começou o médico. - Não se lembra dos dois meses de coma, nem de nada que aconteceu no dia.
  - Por que ela acha que eu sou seu namorado? - perguntou .
  O médico suspirou.
  - Foi uma surpresa descobrir que o senhor não era o namorado dela. Com base nas coisas que você me disse sobre a conversa minutos antes do acidente, ela passou por um caso nunca visto antes na medicina. – olhou rapidamente para mim. - Ela não teve só perda de memória. Ela misturou seus sonhos com a realidade. Todos os sonhos que ela tivera com o senhor, para ela, são situações que aconteceram de verdade.
  Off

  - Vocês brincaram comigo? Com meus sentimentos? – gritei, assustando-os. - Vocês não entendem o quanto isso é pior? Se eu fosse desacreditada naquela época, eu sofreria muito menos!
  - Nos perdoe, ! – pediu, as lágrimas tomando seu rosto - Seria um choque muito grande, você estava fraca, achamos que sustentar uma mentira era melhor...
  - E as coisas ficaram insustentáveis, depois de um tempo. – comentou - Você se entregou demais ao relacionamento e deixou-se levar pelos sentimentos que tem por você.

  Flashback 8 meses atrás.
  - Amor. - chamei-o.
  - Fala, . - olhou em meus olhos, parando a leitura.
  - Eu te amo. – sorriu.
  Ele fechou os olhos antes de responder:
  - Te amo, também. – e voltou os olhos ao livro.
  Eu me joguei em seus braços, puxando-lhe pela camisa. Prestes a começar um beijo, ele me empurrou levemente para trás, reclamando que estava na melhor parte da história.
  Eu, contrariada, levantei do sofá e saí dali, vendo-o bufar. Qual era o grande problema com ele? Será que não gostava mais de mim? Por que me rejeitava?
  Tirei a blusa e a calça comprida, ficando só com o conjuntinho vermelho. Voltei à sala e parei na frente dele, arrancando-lhe o livro da mão. Ele já iria me xingar, mas então reparou em minha situação. Passou os olhos por todo o meu corpo e mordeu o lábio inferior.
  - Merda!
  Foi o que ele disse antes de puxar minha cintura para mais perto de seu corpo.
  Off

  Escondi meu rosto em minhas mãos. Fechei os olhos.
  - Eu sinto muito.
  - Nós é que sentimos. - exclamou, acariciando minhas costas – Sentimos por ter que contar desse jeito.
  - Eu preciso perguntar uma coisa. – olhei para . Ele concordou. – Todos os momentos que tivemos juntos, todas as vezes que eu me entreguei para você, não significaram nada?
   pigarreou, incomodada. Eu a olhei pedindo desculpas com olhar. Ela sorriu brevemente.
  - Foi difícil no começo. – suspirou - Mas, depois, eu fui me entregando. E a cada dia que passava, eu via que minhas mentiras não eram mais mentiras. Eu estava me apaixonando por você.
  - O quê? - inquiriu visivelmente irritada. - Como você ousou continuar comigo mesmo assim?
  - Porque eu estava apaixonado por você. Também. – confessou.
  - Isso é possível? - perguntei.
  - Infelizmente, é. Eu sempre gostei de você, . – encarou minha amiga - Desde a primeira vez que nos vimos. Ter que ficar com você escondido, estava me matando. Quando a beijei pela primeira vez, foi o melhor dia da minha vida. Mas, ao mesmo tempo, foi o pior. – desviou seu olhar para mim - Porque foi o dia que a minha melhor amiga sofreu um acidente sério e perdeu a memória. , nós nos conhecemos desde a época das espinhas. Você sempre fora com quem eu contava sempre. Saber que você me amava, foi um baque. E você sempre foi maravilhosa. Como isso iria mudar só pela mudança de status de relacionamento? E a beijando, a descobrindo, eu fui percebendo que eu podia gostar de você, amar você, de um jeito além da amizade.
  Parou seu discurso, passando as mãos pelo cabelo, visivelmente nervoso.
  - E agora eu estou confuso. Como nunca antes. Amando minhas duas melhores amigas.
  Eu e estávamos boquiabertas com a dupla declaração. O que falar? O que fazer? Como engolir tudo aquilo?
  - E eu tomei uma decisão. Iria contar pra você, , antes de você me agarrar. - tentou brincar, mas diante do clima pesado, simplesmente fechou a cara - Escolher qualquer uma de vocês destroçaria qualquer um de nós três. É um ciclo sem fim. Se eu escolhesse você, , ficaria mal, e eu e você ficaríamos terrivelmente mal por deixá-la daquele jeito. E vice-versa. Então eu decidi ir embora. Deixar que o tempo apazigue o que sinto por vocês. E o que vocês sentem por mim. Isso é um adeus.
  Então abraçou e, em seguida, a mim. Fechei os olhos, tentando eternizar aquele momento. Aquela sensação de estar em seus braços.
  Acabara muito rápido.
  Antes de fechar a porta, ele ainda confessou:
  - Eu amo vocês.

FIM



Comentários da autora


  Hey! Espero que tenham gostado de MOAB! Curtam minhas outras fics: Factory Girl, Uma Linda Mulher, Belle Époque, Immortal, Hipofonoglossia, Paramour e Two Sides of The Law!
  Até xx