Memórias de Natal

Escrito por Isabelle Caroline A. da Silva | Revisado por Hels

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  Eu ainda lembro quando a vi pela última vez. Era em uma noite de natal como essa, estava nevando e as casas estavam todas iluminadas. Nossas famílias se reuniram para fazer a ceia e a casa estava cheia. Todos rindo e conversando, pareciam felizes. Minha irmã tocava músicas no piano de cauda que tinha no meio da sala, mas uma música em especial que ela tocava me marcou para sempre.
  Ela tocava Get Ready e foi nesse instante que a vi perto da lareira, sorrindo para mim e segurando uma xícara de chocolate quente. Passei por todas aquelas pessoas até chegar à ela; o caminho parecia infinito! Eu só queria abraçá-la e sentir seu cheiro de novo. Como sentia saudades. Aquele tinha sido o primeiro ano que passamos separados, sempre fomos tão unidos, ligados, inseparáveis! Minha melhor amiga... Mas sempre a amei além disso. Quando ela se foi para estudar, prometeu-me que iria voltar no Natal para passar as festas comigo. E lá estava ela, mais bonita do que de costume. A abracei forte e ela fez o mesmo. Ela me soltou e ficamos nos olhando por um tempo, o mundo pareceu parar. Eu só conseguia prestar atenção naquele sorriso e em seus olhos brilhando enquanto me olhava.
  - Como senti sua falta... - Disse e ela tomou um gole de chocolate quente.
  - Eu também, Kenny! Não me contenho só com as ligações e mensagens. Precisava te ver. - Ela sorria docemente mas tinha algo diferente em sua expressão. Ela parecia meio preocupada e seu rosto estava pálido.
  - Eu também precisava! - Nessa hora, minha mãe ligou o som da casa nas alturas e todos começaram a dançar. Não dava para ouvir nem os pensamentos.
  - É MELHOR IRMOS PARA OUTRO LUGAR... - Ela falava o mais alto que conseguia e riu.
  - SIM! - Então segurou minha mão direita mais firme e soltou a esquerda me guiando entre as pessoas até a varanda.
  Nos sentamos. Ela foi tomar um gole de chocolate mas tinha acabado, então fez bico e riu. Ri junto mas a minha vontade era de beijá-la naquele mesmo instante. Não sei como ela conseguia mexer tanto comigo. Tinha esperado o ano inteiro por aquele dia, o dia que a veria de novo, o dia que a diria tudo o que sinto... Ela colocou a xícara ao seu lado no chão e me olhava.
  - Então, conseguiu terminar aquela música que escreveu? - Ela se virou para mim e acariciava meus cabelos, como sempre fazia quando conversavamos sozinhos.
  - Estou quase, ainda falta uns ajustes.
  - E aquela banda que vai entrar, deu certo? - Ela continuava a acariciar meus cabelos e sorria.
  - Ah sim, os meninos nem pensaram duas vezes em me aceitar quando me viram tocando. - Pisquei para ela e ela riu.
  - Kenny eu... - A mãe dela apareceu na porta.
  - Queridos, já vamos servir a ceia. Venham! - Ela sorriu e entrou de novo.
  - O que ia dizer?
  - Nada... Vamos entrar se não brigam com a gente! - Levantei e estendi a mão para ajudá-la a se levantar.
  - Sei que não é nada, . Eu te conheço, e depois da ceia vai me contar. - Ela segurou minha mão e levantou.

  Entramos e todos já estavam na mesa, já cheia. Todos conversando e comendo animados. Ela sentou no lugar à minha frente, conversávamos e contávamos piadas como todo natal. Terminamos de comer e os irmãos menores dela queriam brincar de esconde-esconde. O irmão mais novo foi contar perto da lareira, então e eu subimos correndo as escadas para nos escondermos.
  - Não, Kenny! Eu vi o armário primeiro! - Ela tentava entrar primeiro.
  - Não foi não, fui eu! - Ela me olhou séria e eu ri. Ouvimos passos e entramos juntos dentro do armário.
  - Para mim ele era maior... - Ela tentava se ajeitar entre os casacos e acabava esbarrando em mim.
  - Ai !
  - Desculpe.
  - Ele era maior porque você era menor. - A abracei, assim cabíamos melhor.
  - Tem razão. - Ela riu.
  Estavamos muito próximos um do outro, eu sentia sua respiração, que ficava mais acelerada. Nos olhavamos. Resolvi soltá-la já que parecia que se sentia incomodada com aquela situação, mas antes de fazê-lo, ela aproximou seu rosto mais perto do meu e me beijou. Meu coração acelerou e sentia seus braços passarem ao redor do meu pescoço. Intensifiquei mais o beijo e a apertava forte contra mim, enquanto ela acaricia meus cabelos, sua respiração continuava acelerada. Parou bruscamente e me olhou com os olhos cheios de lágrimas.
  - Não posso fazer isso com você, Kenny...
  - Mas por quê? , eu...
  - Não posso Kenny! - Ela abriu a porta e saiu chorando. Não consegui ir atrás dela por que estava sem forças. O beijo que tanto esperei, a sensação que tanto queria sentir... Não era assim que eu queria que terminasse. Sentei no chão do armário e fiquei lá até a festa acabar e meus pais me acharem. Perguntaram o que aconteceu e porque tinha ido embora sem se despedir com o rosto molhado mas eu só consegui dizer que queria dormir. Fui para a cama mas não conseguia dormir. Só conseguia pensar nela. Depois de um tempo consegui pegar no sono.

  No outro dia acordei e desci para tomar o café. Minha mãe fazia as coisas rápido e parecia que estava atrasada para algo.
  - Vai a algum lugar mãe? - Mexia nas panquecas que ela fez, mas sem vontade alguma de comer.
  - Vou. Os estão se mudando hoje e vou lá para ajudar. - Ela sorriu.
  - COMO ASSIM MUDANDO? - Não vi que alterei a voz e ela me olhou assustada. - Desculpe...
  - Eu sei que você e são muito amigos. Mas eles precisam mudar pelo problema da e...
  - Que problema? - Levantei-me de uma vez.
  - Ela não te contou?
  - Não!
  - Bom, é melhor saber isso da boca dela... - Concordei e saimos.
  Cheguei e achei no quarto arrumando suas coisas e com o rosto inchado, tinha passado a noite chorando. Cheguei perto dela, fazendo com que me olhasse e voltou a fazer as malas sem dizer nada. Respirei fundo.
  - O que está acontecendo? - Mas continuava a fazer as malas. - POR FAVOR, , OLHE PRA MIM! - Ela me olhou com os olhos cheios de lágrimas. Não conseguia dizer nada, só encará-la.
  - Não queria te contar isso...
  - Contar o que ? O que está acontecendo? - Ela respirou fundo e segurou minhas mãos.
  - Kenny... Eu estou doente. Esse é o último natal que vamos passar juntos por que minha doença foi descoberta tarde demais... - Eu não conseguia acreditar no que ela dizia. Meu coração apertava e eu entrei em desespero.
  - Você está brincando, não está? Por favor, diga que não é verdade. - Eu chorava e ela também. Ela não conseguia dizer nada, não estava mentindo. Sentei na cama, coloquei as mãos na cabeça e cai em prantos. Ela se sentou ao meu lado e me abraçou. Olhei-a e seus olhos estavam vermelhos e seu rosto molhado. Lhe dei um selinho demorado e sussurei: "Eu te amo como nunca amei ninguém. Vou sentir sua falta", ela me abraçou forte e não disse nada. Depois disso ela foi embora para Nova York. E no mês de Julho, me deixou para sempre. Mas antes de ir embora, ela disse: "Está vendo esses flocos de neve que caem? Cada um deles é um pedacinho do meu amor por você".
  Agora sei que todo natal posso sentir ela comigo em cada floco de neve que cair.



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