Me Beije Devagar
Escrito por Isla Kiepper | Revisado por Natashia Kitamura
Música: Kiss Me Slowly, por Parachute
Já eram 9 horas da noite e eu estava em casa, na minha varanda observando algo que de uns tempos para cá vem se tornando um costume totalmente agradável, mas não o suficientemente satisfatório. Com a terceira xícara de café em mãos, olho para a rua a minha frente, onde um prédio se movimentava em hábitos e dia-a-dias. Onde uma bela jovem de cabelos dourados vivia o seu mundo, o qual eu sonhava participar. E a partir das luzes da cidade, como pontos de luz, iluminando o décimo quarto andar daquele prédio, ela me imitava indo para a sua varando e olhando a vida lá fora.
Droga! O ruim de você fazer parte de um mundo paralelo é quando se esquece totalmente do mundo real. E isso, no meu caso, gerava um grande problema: atrasado para o primeiro dia de trabalho em um local novo. Peguei minha mochila e as papeladas, e saí correndo, ainda tinha que achar um meio de chegar lá no horário e sem errar o lugar. Metro? Muita gente. Ônibus? Pior ainda. É. Vai ter que ser...
- TÁÁÁXIII! Espera! – Estava andando, quer dizer, correndo para o outro lado da rua, pois o táxi havia parado na esquina da frente. E foi nesse momento desesperado que, sem querer, esbarrei em alguém.
- Ai...
- Desculpa, realmente me desculpe. – disse pegando os papeis que deixei cair e ajudando a moça se levantar.
- Não, tudo bem. Fique tranquilo.
Quando terminei de catar a bagunça e me ajeitei, olhei para me desculpar novamente, por que apesar da pressa, ainda sou cavalheiro. E fazendo isso, fiquei estático com a pessoa a minha frente. Minha musa, a perfeição a qual toda noite sonho em sentir sua pele, ficar perto, beijar aqueles lábios que parecem como o paraíso, tocar seus cabelos e vê-los ao vento como seda fina. Ela estava na minha frente.
- Ah, eu... Eu... Q-q-quero me desculpar novamente, – Simplesmente nenhuma palavra saia da minha boca. – Estava muito distraído e não percebi você chegando. – Como assim cara? Como não se vê um anjo desses na rua?
- Tudo bem, eu nem machuquei. Então, ‘tá tranquilo.
- Ok, tudo bem então. Ah...
- Tá. Tchau! – disse ela já andando em direção ao seu prédio. Meu Deus! Eu tinha que ter falado com ela direito. Mas eu sou um completo idiota mesmo. Putz!
- Tchau... – Caramba. Eu, mero mortal, falei com ela. Um ser totalmente inalcançável, divino... É. Eu realmente estou me estranhando. Nunca fiquei tão idiota perto de uma mulher e tão gay em pensamentos. ARGH! Me sinto no meio das aulas de literatura do ensino médio, quando a professora falava da época do romantismo, mal do século... ‘Tá vendo? Essa garota me tira do eixo!
Ah, perfeição...
- E aê, cara? Vai querer um táxi ainda? Não tenho o dia todo não! – gritou o taxista que chamei minutos antes. Merda! O horário... ‘Tô ferrado!
- Claro! Espera aí, ‘tô indo.
Enfim, consegui chegar. A minha sorte foi que a supervisora só chega daqui uma hora, e isso me deu uma pequena vantagem de 20 minutos, já que cheguei 15 atrasados. Esperei por um tempo, até que a supervisora, que iria me mostrar como proceder aqui na empresa chegou. Da sala onde estava, pude ouvir duas vozes: uma do cara que me deu um sermão por chegar atrasado e explicado como ia funcionar a segunda parte com a supervisora, e uma voz até conhecida, mas não me lembrava de onde era. “Sim, pode deixar que o aviso sobre os horários. Passarei as papeladas para assinar e mostrarei o funcionamento em seguida...”, a porta se abriu e pude ter mais uma surpresa hoje: adivinhem. É, por mais clichê que pareça, era verdade. Ela era a supervisora.
- Claro, Sr. Marques. Pode deixar que passo tudo para ele. – Sabe aqueles videoclipes aonde a mulher gostosa vem andando como modelo sensual e em câmera lenta, normalmente ao som de uma música do Maroon 5? Então, foi o que aconteceu quando olhei pra porta e a vi entrar.
- Bom dia, Senhor... Distraído. – Ela disse sorrindo. Alguém se lembra de como se faz para respirar? Um asmático em crise sabe o que estou falando.
- Bom dia. Ah... – Opa! Falta uma informação ainda: qual era o nome dela?
- Manson, Srta. Manson. Mas, ás vezes, pode me chamar de Alice. Mas só às vezes. – porque tinha que ter uma risada tão perfeita? – Então, a pressa toda que o fez esbarrar em mim, era para chegar atrasado à empresa?
- É... Acho que me enrolei um pouco para esse primeiro dia.
O resto do dia passou rápido até demais para minha infelicidade, mas só de ter algumas horas com Alice, minha garota do prédio da frente, ganhei o dia.
Posso dizer que minha semana de aprendizado na empresa foi uma [grande] oportunidade de conhecer Alice. Ela, ao mesmo tempo, que era inteligente, eficiente e concentrada – séria até -, ela era delicada, simpática e linda. E isso só me torna mais apaixonado e louco, e gay. Pelo amor, hein?! Como um homem fica chato, insuportável e piegas quando está na situação que me encontro. Algumas vezes, eu conseguia sair junto dela para ir embora. O que nos fez aproximarmo-nos, e isso, apesar de vocês acharem que eu já estava com tudo garantido, não, eu ainda não consegui conquista-la. Estou na batalha ainda. Hoje, por exemplo, vou levar Alice para um jantar. Clichê? Que nada! Qual mulher não gosta de uma história clichê de príncipe encantado, amor à primeira vista, um cavalheiro de sua dama, flores, jantar à luz de velas... A Alice. Perdeu o fio da meada? Eu explico: todas as histórias e momentos clichês que falei, e você pensou, não fazem parte dos sonhos da minha amada. Pô, mas como assim? É, sempre me faço essa pergunta... Mas como qualquer homem apaixonado diz: Ela é diferente, por isso a amo. E você vai leva-la para jantar, sendo que não curte esse tipo de coisas entre “casais”? Vou. E tenho certeza que não irei decepcioná-la, vai ser um jantar diferente.
Eram sete e cinquenta quando fui para a varanda. E assim como qualquer noite de inverno, o sol já havia se posto e o céu se tornava negro com pontos de luz, e a cidade ganhava vida noturna, brilhando e iluminando tudo ao seu redor. Ela apareceu na varanda, linda, toda arrumada, mas com um olhar longe, perdida em algum ponto desconhecido. O que a fazia ficar assim? Seus olhos azuis pálidos longe na noite... Decidi pegar meu casaco, carteira e chave do carro para poder busca-la na hora.
Assim que cheguei à portaria, pedi para o porteiro avisar que eu já estava ali. E cinco minutos depois, ela caminhava majestosamente até a mim.
- Então Sr. Anderson. Para onde vamos nesse convite de “um jantar diferente”? – disse Alice misteriosa.
- Bom, fiz umas pesquisas e descobri um local bem legal e inusitado para jantar. – respondi com um sorriso no rosto.
- Vamos ver, então.
~ x ~
Às vezes o tempo passa como uma leve brisa em nossos rostos, mas pode deixar pequenos ou grandes rastros por onde passa, dependendo de sua intensidade.
- Simplesmente foi SEN-SA-CIO-NAL! Nick você tinha que ver como era emocionante jantar a 30 metros do chão! Tipo, a mesa flutuava e o garçom parecia que estava tendo um ataque do coração, mas não queria demonstrar! Foi a coisa mais incrível que já fiz! – Alice contava animada para seu colega sobre o jantar que tivemos. Confesso que fiquei muito surpreso com a reação dela. Poxa, ela poderia simplesmente não gostar, achar arriscado, perigoso e não querer ir, ficar chateada comigo, e me demitir. Ah, demitir acho que foi muito, né? Sei lá, tem coisas que não podem ser explicadas, uma delas é a mente feminina.
- Will, você pode levar esses papeis para a sala do Nick? Ele está aguardando os resultados para fazer o relatório geral... – Estava na sala dela quando me pediu para levar umas coisas pro Carter. E quando estava saindo, aconteceu algo que eu não esperava, mas no fundo, estava torcendo para acontecer. - Will?
- Sim, Srta. Manson.
- Ah, muito obrigada pelo jantar na sexta, foi inacreditável. – só de ver aquele sorriso, já estava agradecido.
- Claro. Foi um prazer ter sua companhia.
- Tchau senhor Carter! Até segunda.
- Tchau Will. Bom final de semana!
Depois de me despedir do pessoal, fui para casa, por que ninguém é de ferro, né? Tirando o Robert Downey Jr... Nooooossa, eu sei, eu sei. Péssima. Enfim, essa semana foi puxada, corri por todo o prédio resolvendo problemas e arrumando outros. Quase não vi Alice, a não ser quando passava rapidamente por sua sala para entregar algo, ou pegar papeis.
Hoje, como estava sem carro, fui andando para casa. Não era longe, só alguns quarteirões. Peguei esse costume quando comecei a voltar para casa com Alice, ela ama caminhar, e alguns dias da semana, volta andando para casa. A conversa que sempre tínhamos quando caminhávamos era sobre trabalho, ou a maior parte delas. Sempre que eu tentava descobrir algo mais sobre ela, ou tentava convidá-la para sair novamente, ela dava um jeito de mudar de assunto.
Estranho. Eu reparei que esse corte em assuntos pessoais não eram só comigo, com os seus amigos da empresa também acontecia.
- Will! Espera! – Alice gritou, vindo correndo atrás de mim. Aguardei ela me alcançar para voltar a andar. – Nossa, obrigada por me esperar. Apesar de ainda ser cedo, não me sinto a vontade para voltar sozinha, esses dias que você me acompanha ajuda muito. Obrigada.
- Por nada. É muito bom ter sua companhia. – Ela sorriu e continuamos por alguns metros em silêncio.
- Ah... Essa semana foi corrida, né? Nem consegui comer direito.
- As coisas estão ficando sérias, mas nós vamos dar um jeito logo. Hein, você vai fazer alguma coisa agora? – Eu tinha que tentar alguma coisa, ou íamos continuar nesse estado estranho de “né?”, “ahn...”. Ela franziu a testa como se tentasse lembrar de algo e respondeu.
- Não. Por quê? – Ela parecia animada mesmo, ou é só esperança minha?
- É que eu tenho umas cervejas e uns petiscos lá em casa, e bom, na semana passada, você me disse que curte UFC... Aí a gente poderia assistir juntos. O que acha?
- Adorei a ideia. Vamos fazer o seguinte: eu vou pra casa, tomo um banho, me arrumo e depois vou pra lá. Ok?
- Claro. Bom que eu dou uma arrumada naquela bagunça. – Estávamos chegando, então nos despedimos e fomos para os nossos apartamentos.
Assim que cheguei, arrumei a bagunça que estava a vista e fui tomar banho. Coloquei uma caça jeans, uma camiseta polo branca e fui para a cozinha preparar as coisas. Um prato com salaminho, outra com pedaços de queijo, azeitona e presunto. Gente, da onde eu tirei tanta coisa? Por que vocês já viram como é a geladeira de um homem que mora sozinho, se tiver lasanha congelada é muito, normalmente cerveja ao invés de água era o que tinha. Se você descongelar meu congelador sai cerveja e não água...
Enfim, minha casa estava apresentável e tinha alguma coisa para comer. Então, só faltava a Alice. Já tinha passado uma hora e meia desde que cheguei, e como a Alice ainda não havia chegado, peguei uma cerveja e fui para a varanda. Onde coincidentemente, ela também estava. Não na minha, na dela. Olhando o horizonte, como sempre. Ela desviou o olhar e virou-se para a minha direção, e acredito que tenha se surpreendido por eu estar ali a olhando. Sorri e acenei com a cerveja em mãos, ela parecia estar até assustada, pois demorou a reagir depois que me viu. Em seguida ela sorriu, acenos pedindo para esperar e sumiu dentro do apartamento. Levei aquilo como algo normal, mas foi estranho. Em dez minutos ela chegou, falei para o porteiro que sempre ela estivesse aqui não precisava me informar.
Como ainda não estava nem perto do horário do UFC, coloquei em um canal onde passava o show do Kings Of Leon. Adoro esses caras.
Alice chegou e tocou a campainha, atendi e assim que abri a porta o sonho: ela estava com um vestido vermelho perfeito, não era colado no corpo, mas o desenhava delicadamente, o cabelo em um rabo de cavalo desarrumado. Ah, se eu pudesse desarrumá-lo...
- Desculpe-me a demora, às vezes paro para ficar pensando em nada por uns instantes e acabo esquecendo de tudo.
- Que isso, ‘tá tranquilo. É bom se desligar das coisas algumas vezes. – Assim que falei, ela sorriu e foi entrando.
- Então, enquanto não começa a diversão, vamos ficar ao som de Kings Of Leon? – Falava indo para a copa e pegando um pedaço de salaminho.
- Uhum. Ah! Fique a vontade. Tem cerveja na geladeira.
- Já estou, obrigada! – Ótimo. Ponto para mim.
- Me fale um pouco sobre você, Anderson. De onde é, família, filhos, relacionamentos... – Hm... Questionário. Se ela perguntou, é porque vou poder perguntar sobre ela também...
- Bom, sou de Charlottesville, Virgínia. Sou de uma família de 3 irmãos, sou o do meio. Já namorei, nunca noivei, nem casei. E não tenho filhos. – Não entendi muito da pergunta sobre filhos. Poxa, só tenho 28 anos.
- Hm... Por que saiu de Charlottesville? Não gostava de lá? – ela realmente estava interessada em saber sobre mim?
- Você sabe, melhores oportunidades de trabalho. Aqui em Miami é melhor para mim. E eu gosto da cidade, é boa de se viver.
- Sim, realmente, Miami é um cidade incrível. – Sabe aquele momento que dá uma pausa no assunto e ninguém quer começar a falar? É... Acabou os dois falando juntos.
- Eu...
- Você... – Ops.
- Ah, pode falar.
- Então, e você? Conte um pouco sobre você. – Fiz a pergunta na boa intenção, mas parece que ela não esperava. Parecia estar perdida em pensamentos procurando por alguma resposta avulsa, ou sei lá o quê.
- Eu... Sou daqui mesmo, não falo com a minha família há um bom tempo, não tenho filhos, amigos só os do trabalho, tudo o que tenho consegui com muito esforço... Ah, minha vida não é tão interessante.
- Não, é sim. É ótima. – sorri esperando que ela esquecesse o que estivesse fazendo-a se sentir mal por dentro.
- Posso mudar de canal? Eu acho que já vi esse show umas 50 vezes lá em casa... – Ela sorriu e foi trocar de canal, colocando em um filme que não conheço. – Hein, senta aqui do meu lado.
Ela chamou e claro que eu não ia negar. Estava chegando perto do sofá quando ela resolveu pedir outra coisa.
- Will? Posso pedir um favor?
- Claro.
- Pega uma cerveja e a bandeja de frios pra gente comer durante o filme? – sorriso largo. – Por favooor...
- Nossa, já está assim? Tá né. – dei meia volta e fui pegar os “pedidos”.
- Ué, você não pediu pra ficar à vontade?
- Hahaha, claro, claro.
Voltei da cozinha, entreguei o que ela havia pedido e me sentei ao seu lado.
- Will, eu vi que você tem um violão. Você toca?
- Sim, quer dizer, só por hobbie. Gosto de experimentar melodias e escrever algo que sinto às vezes...
- Que lindo! Seria um prazer ouvi-lo tocar uma de suas músicas.
A noite passou como um piscar de olhos, mas a melhor parte ficou para depois do UFC...
“- Não... Eu... Posso ir sim. ‘Tô bem. – Alice havia exagerado um pouquinho na cerveja, acho que a empolgação da luta causou isso.
- Fica comigo, fica comigo aqui. Eu cuido de você.
- Isso não ‘tá certo. Eu não posso... Eu...
- Tudo bem, então. Quer que eu te acompanhe até em casa?
- Sim. Obriagada.
- É, você está bem embriagada...
Acompanhei-a até seu apartamento, não tinha expectativas de ela pedir mais alguma coisa, aliás, a noite com ela já havia sido ótima, não precisa ser maravilhosa. Apesar de que eu adoraria que fosse.
- Hm... Boa noite.
- Boa noite, Will. Obrigada por tudo.
- Que isso, sempre que puder... – Ela fechou a porta e eu fui esperar o elevador.
- Will?
- Sim? – estranho, ela parecia em dúvida sobre algo que iria me perguntar, mas por que todo esse mistério? E depois de alguns segundos, que pareceram anos, ela terminou a pergunta.
- Me faz companhia essa noite?
Vocês devem pensar que eu tive minha noite dos sonhos, né? Boa tentativa. Não, não sou um maníaco psicopata como você pensa desde o início... Sou somente um apaixonado. Ela me pediu para fazer companhia a ela esta noite, e é isso que vou fazer.
A noite passou lenta e melodiosa. Alice tinha um aparelho no quarto que de determinado horário até de manhã, tocava músicas relaxantes com som de chuva, vento, alguns animais (irritantes, diga-se de passagem) e outras coisas. Levantei, fiz um café com o que consegui achar, mas o barulho na cozinha desconhecida não pode ser evitado, e em uns minutos, a dona da casa apareceu na porta da cozinha.
- Eu não vou perguntar o que você está fazendo aqui, porque além de eu não me lembrar, acredito que essa dor de cabeça é por causa da bebida de ontem. Ou seja, eu te pedi para “me fazer companhia essa noite”, né?
- Sim... – estranho, totalmente estranho. Tem algo nessa história que não seja estranho? Enfim.
- Obrigada por só me fazer companhia... Ou eu também estou me esquecendo de algo que aconteceu?
- Não, não, não... Não aconteceu nada entre a gente.
- Ufa! Nossa, realmente obrigada. ‘Tá falando sério, não é?
- Sim. Fica tranquila. Bom, fiz café. Desculpa pela bagunça e o barulho não quis te acordar... – estava falando e terminando de arrumar a bagunça que havia feito em sua cozinha, quando me virei e ela estava colada em mim. É. Colada. Sabe quando você se vira e dá de cara com alguém? Então, foi o que aconteceu. Eu virei dei de cara com ela e, novamente, eu não sabia o que falar ou fazer. Frouxo, eu? É... Vem viver minha situação. Foi nesse momento “O que eu falo?”, ela simplesmente me beijou. E não foi algo calmo, foi com vontade, feroz.
Fomos nesse beijo por toda a sua casa, chegando ao quarto.
- Alice, o que você está faz... – eu estava tentando entender, como sempre, o que estava acontecendo. Mas ao mesmo tempo gostando da situação.
- Shiiiu... – ela me interrompeu, juntamente com o beijo, passando o dedo indicador na minha boca. Alice voltou a me beijar e desceu seu dedo, antes na minha boca, para minha camisa e começou a desabotoar. Terminando, jogou-a longe e era a minha vez de tirar a sua blusa. Mas assim que tirei, e encostei minhas mãos em seu corpo, ela parou tudo. Ficou como uma estátua em cima de mim.
- Alice, está tudo bem?
- Eu, eu não posso. Não posso. Não posso... – ela começou a repetir e saiu do quarto. Fui atrás dela, mas não a encontrei em lugar algum. Até que senti um vento. A varanda. Peguei o casaco que ela deixou ontem na sala e fui encontrá-la
.
- Alice?
- Me desculpa. Eu não devia ter feito aquilo. Eu, eu às vezes ajo por impulso. Me perdoe.
- Tudo bem. Posso ficar aqui com você?
- Pode.
- Não sei se posso falar isso, mas faz alguns dias que vejo você um pouco perdida, como se estivesse longe nos pensamentos... Tem algo que eu possa ajudá-la?
- É... Acho que posso falar pra você. Eu, antigamente, morava com os meus pais no interior numa fazenda incrível. Éramos ricos e bem sucedidos. Mas em um dia, tudo aquilo acabou. Meus pais foram viajar para resolver algumas coisas, e não voltaram mais, sumiram. Me deixando sozinha no mundo. Apesar da falência. Eu trabalhava e tinha a minha parte separada, o que me ajudou por um bom tempo. Até ele aparecer. – ela fez uma pausa, respirou fundo e continuou. – Erick era lindo, inteligente, aparentemente perfeito em tudo. Até mostrar sua verdadeira face. Ele passou anos ao meu lado, interessado somente no dinheiro e em tudo o que ele trazia. Erick me fez esquecer a incrível infância que tive ao lado dos meus pais, quando eu costumava andar nas colinas e a cavalo. Na verdade, ele destruiu tudo de bom que havia dentro de mim, tornando uma egoísta, metida, mimada e insuportável de conviver. Até que meu dinheiro também foi pro ralo e ele me deu um pé na bunda. Sem estabilidade emocional e financeira, foi o fim para mim, a única chance foi tentar recomeçar do zero. – lágrimas já tinham os seus caminhos traçados no rosto de Alice. Então, abracei-a forte e fiquei ao seu lado. Eu podia sentir ela respirar pesado, podia respirá-la.”
~x~
Passei o dia seguinte a minha festinha particular/casa da Alice em casa, arrumando e escrevendo. Eu havia prometido a ela que hoje tocaria alguma música minha para ela a tarde. Mas depois de tudo o que ouvi ontem, eu precisava de algo especial, para tirar toda aquilo que a fazia presa no passado.
“- Will, estou chegando, passei no supermercado e comprei uns negócios para fazermos um lanche. O que acha?
- Ótimo, vou estar aguardando.
- Ok. Tchau.”
- E aí, já está afinadinho? Quero ver se é bom cantor e músico mesmo. O que vamos ouvir?
- Bom, eu quis fazer algo diferente, especialmente para você. Então, espero que goste. – falei levando as coisas que ela havia trazido para a sala e pegando meu violão. Ela sentou no chão ao meu lado e esperou. Respirei fundo e comecei a dedilhar.
Stay with me, baby stay with me,
(Fique comigo, fique comigo amor,)
Tonight don't leave me alone.
(Não me deixe sozinho esta noite.)
Walk with me, come and walk with me,
(Caminhe comigo, venha e caminhe comigo,)
To the edge of all we've ever known.
(Para o limite de tudo que nós conhecemos.)
Seu olhar era curioso e ao mesmo tempo, sorria pensando em algo.
I can see you there with the city lights,
(Eu posso te ver lá com as luzes da cidade,)
Fourteenth floor, pale blue eyes.
(Décimo quarto andar, olhos azuis pálidos.)
I can breathe you in.
(Eu posso respirar você.)
Two shadows standing by the bedroom door,
(Duas sombras ao lado da porta do quarto,)
No, I could not want you more than I did right then,
(Não, eu não poderia te querer mais do que eu quis naquele momento,)
As our heads leaned in.
(Em que nossas cabeças se aproximaram.)
Well, I'm not sure what this is gonna be,
(Bem, eu não tenho a certeza do que isso vai ser,)
But with my eyes closed all I see
(Mas com meus olhos fechados tudo o que eu vejo)
Is the skyline, through the window,
(É a linha do horizonte, através da janela,)
The moon above you and the streets below.
(A lua acima de você e as ruas abaixo.)
Hold my breath as you're moving in,
(Prendo a respiração enquanto você está se movendo,)
Taste your lips and feel your skin.
(Eu saboreio seus lábios e sinto sua pele.)
When the time comes, baby don't run, just kiss me slowly.
(Quando chegar o momento, não tenha pressa amor, apenas me beije lentamente.)
Quando comecei a cantar o refrão, ela ligou a música a ela e fez aquela cara de surpresa. Às vezes sorrindo, às vezes lembrando de algo em seus pensamentos.
Stay with me, baby stay with me,
(Fique comigo, fique comigo amor,)
Tonight don't leave me alone.
(Não me deixe sozinho esta noite.)
She shows me everything she used to know,
(Ela me mostra tudo o que ela costumava conhecer,)
Picture frames and country roads,
(Molduras e estradas rurais,)
When the days were long and the world was small.
(Quando os dias eram longos e o mundo era pequeno.)
She stood by as it fell apart,
(Ela desmoronou junto ao que foi desfeito,)
Separate rooms and broken hearts,
(Quartos separados e corações partidos,)
But I won't be the one to let you go.
(Mas eu não vou ser aquele que deixa você partir.)
Assim que falei de seu passado, lágrimas caíram de seus olhos e sua respiração ia em compassos lentos, mas profundos. Era como se ela deixasse a melodia invadir seus pensamentos e sentimentos.
Oh, I'm not sure what this is gonna be,
(Oh, eu não tenho a certeza que isso vai ser,)
But with my eyes closed all I see
(Mas com meus olhos fechados tudo o que eu vejo)
Is the skyline, through the window,
(É a linha do horizonte, através da janela,)
The moon above you and the streets below.
(A lua acima de você e as ruas abaixo.)
Hold my breath as you're moving in,
(Prendo a respiração enquanto você está se movendo,)
Taste your lips and feel your skin.
(Eu saboreio seus lábios e sinto sua pele.)
When the time comes, baby don't run, just kiss me slowly.
(Quando chegar o momento, não tenha pressa amor, apenas me beije lentamente.)
Don't run away...
(Não fuja...)
And it's hard to love again,
(E é difícil amar de novo,)
When the only way it's been,
(Quando a única forma que tem sido,)
When the only love you know,
(Quando o único amor que você conhece,)
Just walked away...
(Simplesmente foi embora...)
If it's something that you want,
(Se é algo que você quer,)
Darling you don't have to run,
(Querida, você não tem que fugir,)
You don't have to go...
(Você não tem que ir...)
Just stay with me, baby stay with me,
(Apenas fique comigo, fique comigo amor,)
Seu sorriso quando cheguei à última parte da música estava estonteante. Mas por incrível que pareça, ela não conseguia olhar diretamente para mim. Quando cantei “Don’t run away”, ela disse em sussurros: “Não vou.” E sorriu.
Well, I'm not sure what this is gonna be,
(Bem, eu não tenho a certeza do que isso vai ser,)
But with my eyes closed all I see
(Mas com meus olhos fechados tudo o que eu vejo)
Is the skyline, through the window,
(É a linha do horizonte, através da janela,)
The moon above you and the streets below. Don't let go
(A lua acima de você e as ruas abaixo. Não vá.)
Hold my breath as you're moving in,
(Prendo a respiração enquanto você está se movendo,)
Taste your lips and feel your skin.
(Eu saboreio seus lábios e sinto sua pele.)
When the time comes, baby don't run, just kiss me slowly.
(Quando chegar o momento, não tenha pressa amor, apenas me beije lentamente.)
Oh, I'm not sure what this is gonna go,
(Oh, eu não tenho certeza de que isso vai passar,)
But in this moment all I know
(Mas neste momento tudo que eu conheço)
Is the skyline, through the window,
(É a linha do horizonte, através da janela,)
The moon above you and the streets below. Baby, don't let go
(A lua acima de você e as ruas abaixo. Não vá, amor.)
Hold my breath as you're moving in,
(Prendo a respiração enquanto você está se movendo,)
Taste your lips and feel your skin.
(Saboreio seus lábios e sinto sua pele.)
When the time comes, baby don't run, just kiss me slowly.
(Quando chegar o momento, não tenha pressa amor, apenas me beije lentamente.)
Terminei de tocar os últimos acordes da música e respirei fundo. Dirigi meu olhar para ela e sorri. Ela fez o mesmo, se aproximou de mim e me beijou. Devagar.