Mean Something

Escrito por Annelise Stengel | Revisado por Pepper

Tamanho da fonte: |


  Ele dirigia. Ela apenas olhava pela janela do carro, esperando chegar ao seu destino. O clima no carro não estava estranho, mas não era dos melhores. Estava tudo silencioso. Ele lançou um olhar de canto a ela, mas ela não pareceu perceber. Ele estava um pouquinho preocupado, mas apenas continuou dirigindo.
   tinha acabado de sair do hospital. Ela tinha estado com febre alta nos últimos três dias, e suas amigas e novos amigos não sabiam muito bem o por quê. Eles desconfiavam que era uma doença psicológica, já que não era comum a garota ficar tão doente de repente, principalmente em pleno verão. As amigas também haviam achado uma foto meio amassada, de com o avô dela, perto da cama, e considerando que era tempos de ela falar com a família, podia ter recebido algumas más notícias.
   e seus amigos estavam andando com elas havia pouco tempo. Elas estavam de férias na cidade deles, e por alguns acontecimentos acabaram tornando-se amigos. Ele as achava interessante, vinham da cidade grande, e em particular tinha algo a mais de diferente. Ele não sabia no começo o que era, mas no dia anterior, no hospital, descobrira.

  - Eu estou com um pouco de medo. - uma das amigas dela disse. a olhou, confuso. Ele havia trazido para o hospital e sua mente girava um pouco por causa de tudo. Nem conhecia a garota há tanto tempo, um mês ou um pouco mais, mas vê-la daquele jeito não o fazia se sentir bem.
  - Medo? - repetiu a última palavra dita pela amiga. Ela girou os olhos até que o encarasse.
  - Sim. é sempre uma pessoa alegre, rindo de tudo. Mesmo quando ela está triste, ela esconde essas tristezas e continua a sorrir par não preocupar os outros. - suspirou. - Mas agora, ela perdeu uma parte dela. O fato de ela ficar doente assim, deve ser porque tem algo de errado. Se o avô dela faleceu, como pensamos, ela não é mais a mesma que era antes, tem uma parte dela faltando. E eu tenho medo de como será essa , se isso a atrapalhará muito, ou como será. É meio idiota, não? - riu sem graça, desviando o olhar.
  - Não, faz sentido. - consolou-a, e voltou a olhar a porta atrás da qual se encontrava. - Bem, vamos ter que esperar para ver...
  - Ela não é daqui, você sabe. - a amiga fungou. franziu as sobrancelhas. Não sabia. - Ela veio de intercâmbio. não tem ninguém aqui, e faz pouco tempo que ela confiou na gente também. Deve ser tão difícil...
  - Não se preocupe. Ela é forte, vai ficar bem. - tentou tranquilizá-la, abraçando-a de lado, e sorrindo, mas ele mesmo não estava certo daquilo. Ela ficaria bem?

  Ele avistou as luzes e a música alta, e sentiu dentro de si as coisas se acalmarem um pouco. Talvez fora por isso que ela quisera vir ao parque de diversões. O ambiente em si era agradável, embora agitado. Estava repleto de risadas e alegria, cores e brilhos. Estacionou e olhou para , que agora também o olhava. Ao encontrar os olhos dela com os seus, lembrou-se de quatro dias atrás, quando a encontrara com febre no quarto.

  - ? - estava um pouco preocupado. Os amigos todos tentavam falar com ela, que ficara em casa mesmo todos tendo insistido para ela acompanhá-los. Ela negara, um pouco animada, avisando que tinha que falar com a família. As meninas deixaram-na sozinha e ele e seus amigos decidiram fazer o mesmo. Mas havia tempos que tentavam ligar, tanto na casa quanto no celular, e ela não atendia.
  , por ter se dado melhor com ela, dispôs-se a ir até a casa, conferir se estava tudo bem. A porta estava aberta, e ele entrou com cuidado, olhando os cantos da casa. Não ouviu barulhos, e imaginou se havia saído. Decidiu ir até o quarto, confirmar, e assim que abriu a porta, encontrou a garota jogada na cama, olhos fechados e bochechas coradas. Sorriu fraco com a visão, ela era tão bonita. Aproximou-se lentamente, pensando em dar-lhe um susto, quando percebeu seu rosto coberto por uma fina camada de suor que umedecia os cabelos mais próximos à testa. A respiração também estava ofegante. Preocupado, colocou a mão sobre a testa da amiga e constatou que ela estava fervendo. Ele não imaginava como ela ficara tão doente de repente, já que ele a vira naquela manhã e ela estava perfeitamente bem.
  - ! - ele chacoalhou-a de leve, mas ela não acordou. sacou o celular do bolso e discou rapidamente o número da emergência, chamando uma ambulância. Aquela febre não era algo que podia ser tratado com chá e cobertas, ele nem sabia o que ela tinha. Avisou todos os amigos por uma mensagem em conjunto e voltou a sentar-se do lado dela, segurando-a. - , acorde. Vamos, a ambulância já vai chegar.
  As pálpebras dela tremeram e ela as entreabriu, parecendo perdida por um tempo. Engoliu, mas aquilo pareceu doer, e ela voltou a respirar pesadamente. Suas mãos alcançaram os ombros de , e ela focalizou o rosto do rapaz, a expressão preocupada.
  - ... - sua voz era chorosa. Ele acariciou o cabelo dela, levantando-a levemente e apoiando-a nas costas. As mãos dela fecharam-se sobre sua camisa, e então começaram a sair lágrimas de seus olhos. - ... - ela repetiu, soltando um soluço no fim.
  - ... o que aconteceu? Calma, está tudo bem... - ele tentou acalmá-la. - Já chamei ajuda, ok?
  Ele murmurava outras coisas para ela enquanto com as costas da mão limpava as lágrimas insistentes que rolavam para fora dos olhos dela, enquanto ela parecia não saber o que dizer. Passaram minutos daquele jeito, até que sentou-se melhor e escondeu o rosto no peito de . "Como está quente!", ele pensou, preocupado, passando os braços pelas costas da garota para aninhá-la, já ouvindo as sirenes da emergência aproximarem-se da casa.
  - ... - a voz dela era baixa, e ele aproximou-se um pouco mais para ouvir melhor.
  - O que foi?
  - Eu... - ela hesitou, depois respirou fundo algumas vezes e soltou: - Eu gosto de você. - a confissão soou baixa e tremida, e ela voltou a esconder o rosto no peito dele.
   ficou parado, sem saber o que dizer ou responder. Gostava dele? No sentido... amoroso? Ela queria que ele respondesse que também gostava dela e então começariam a namorar? A cabeça do rapaz ficou confusa e ele olhou novamente para ela. Ela estava acordada, de olhos abertos, mas não o encarava. Suas bochechas estavam bastante vermelhas e embora ela estivesse com a aparência doente, continuava sendo uma garota bastante bonita. Ele pensou em algo para dizer que não a deixasse tão triste de imediado, já que não sabia exatamente qual era a resposta que deveria dar, mas ela não parecia ter acabado de falar. A garota murmurou, logo em seguida:
  - Por que isso tem que acontecer? Por que esse tipo de coisa sempre acontece...? - ela parecia estar falando sozinha, e não pôde perguntar o que ela queria dizer, porque alguém da emergência entrou no quarto e ela agora tinha seus olhos fechados.

  - Vamos? É aqui que você queria vir, não? - Ele perguntou, abrindo a porta do carro. concordou com a cabeça. Soltou o cinto e também saiu do carro, indo até o lado de . Ele se perguntava se ela lembrava do que havia dito pra ele, se tinha sido verdade ou apenas um impulso. Mas se fora um impulso, aquilo estava na mente dela, e ela controlava-se para não dizer, ou esperava a hora certa. Logo, seria verdade, não?
  - Podemos ir lá? - apontou para a roda gigante, que estava iluminada e contrastava com o crepúsculo, quase noite, do céu atrás dela.
  - Não quer deixar para o final? Normalmente sempre vamos em todos os outros antes e finalizamos com a roda gigante. - opinou, mas a garota já abanava a cabeça.
  - Eu só queria ir na roda gigante. - respondeu, começando a andar até ela. deu alguns passos rápidos para alcançá-la e começar a andar ao lado dela.
  - Você gosta tanto assim da roda gigante? Ela não tem nada demais... - ele disse, mas não reforçou nada daquilo porque no momento estava fazendo o que a garota queria, então não podia contestar. Ela lhe pedira para ir ao parque, então ele a acompanharia no que precisasse.

  - ... - a voz de o chamando o fez sorrir. Ele aproximou-se mais da cama dela no hospital. - Desculpe todo o incômodo. - ela sorriu fraco, mas ainda não era o sorriso radiante que ele havia visto no rosto dela quando a conhecera. Talvez as amigas estivessem certas. Talvez aquela ali não era a que ele conhecera. Era uma completamente nova, e eles teriam que descobrir como ela era.
  - Não tem problema. É bom ver que você já está melhor. É isso que importa, não é? - ele acariciou o topo da cabeça dela. O sorriso triste continuou desenhado no rosto delicado e pálido dela.
  - Acho que sim... - respondeu baixo. - Posso pedir uma coisa? - falou, meio rápido, desviando os olhos para as próprias mãos.
  - Claro. O que eu puder fazer. - abriu os braços, mas lembrou-se de não ser muito amigável. Não é que ia tratá-la mal, porém ela havia se confessado para ele e ele não tinha certeza se daria falsas esperanças para ela. não estava muito certo de como se sentia em relação à garota.
  - Você... pode me levar ao parque de diversões? - os olhos dela levantaram-se até os dele e ele percebeu que faltava o brilho de sempre ali. Ele queria aquele brilho de volta, então apenas concordou com a cabeça. Ia levá-la a qualquer lugar que ela pedisse, desde que aqueles olhos e aquele sorriso brilhassem como antes.

  - Ela não é tão ruim quanto você está pensando. - a garota continuou séria ao lado dele. Passavam reto por todas as atrações do parque, por todas as crianças gritando felizes, seguiam apenas em direção à roda gigante. - Ela é o ponto mais alto do parque. É bem próximo do céu. - completou, meio misteriosa. lançou-lhe um olhar de canto. O que queria? Alcançar o céu para falar com Deus? Com o avô que falecera?
  Seguiram em silêncio e logo entraram na fila pequena da roda gigante. A maioria das pessoas provavelmente deixavam a atração para o fim do dia, enão só havia umas cinco ou seis pessoas na frente deles, e eles entraram logo. Assim que a roda gigante começou a se mover, eles ficaram em silêncio, um de frente para o outro, encarando o céu e as estrelas que começavam a surgir, encarando . Ele pensou em puxar assunto, mas não sabia bem o que dizer.
  - Eu... - a voz dela o surpreendeu, e ele piscou algumas vezes, percebendo que tinha se desconcentrado. Voltou a focar-se nela. - Eu estou com medo, ... - ela mordeu o lábio inferior, falando sem olhar para ele. sorriu de canto e soltou um muxoxo.
  - Se tem medo de altura, por que quis vir aqui?
  - Não estou com medo da altura. - ela rebateu depressa, olhando-o. - Estou com medo de mim.
   hesitou, sem saber o que responder. Sentiu que ela tinha mais o que falar e que aquele passeio à roda gigante não era só um passeio por diversão. Provavelmente o brilho no rosto dela nem voltaria a existir como ele imaginava.
  - Medo de quê? - perguntou, um pouco cansado. Ele não estava sabendo como lidar com aquilo. o encarou, mas depois voltou a olhar pela janela.
  - Eu não sei quem eu sou agora... - respondeu, vagamente. não interrompeu, sabendo que havia mais. - Eu... perdi uma pessoa... que era extremamente importante pra mim... Ela era uma parte muito importante de mim... E se eu não tenho mais essa parte, eu não sou mais a mesma pessoa... e eu não sei quem eu sou... Eu não sei quem eu tenho que ser, ou o que eu tenho que fazer. Eu estou com medo. - ela se encolheu, como se estivesse com frio, e fechou os olhos por um tempo. viu uma pequena lágrima escorrer por baixo dos cílios escuros até o queixo dela, sendo secada depois pela manga do casaco.
  Ele decidiu que não podia deixá-la daquele jeito. gostava dela - gostava de quem ela costumava ser -, e não podia deixar que aquela se perdesse. Se ela fosse aquela , ele poderia retribuir os sentimentos dela, ele até gostaria disso. Ela era uma garota incrível. Suspirou e levantou-se, dando um passo hesitante e depois sentando-se ao lado dela, abraçando-a de lado.
  - Acho que você tem que continuar sendo quem você sempre foi. Alegre, animada, rindo. Provavelmente é o que a pessoa importante pra você iria querer. - tentou dizer algo. Ela abriu os olhos, mas continuou encarando o lado de fora. O céu agora já estava em um tom azul escuro, facilmente confundido com roxo denso, e havia mais estrelas do que antes.
  - Eu não entendo porque tudo é sempre assim na minha vida... - ela sussurrou. - Só porque... porque conheci alguém como você... não é justo que eu tenha que perder alguém no lugar... por que não posso ter os dois? Isso me irrita! - resmungou, passando a manga do casaco pelo rosto, e virando-se pra ele. encarou-a, um pouco corado. - Se eu for a pessoa que eu era antes, quer dizer que estou fingindo que meu avô ainda está aqui, e isso vai doer. Mas se eu for uma nova pessoa...
  - Seja a pessoa que você era antes. Não tem esse negócio de mudar, . - ela pareceu ultrajada e ia responder algo, mas foi mais rápido. - Aquele seu jeito é que fez eu me apaixonar por você também. Você disse que gosta de mim, bom, eu também gosto de você. - No momento em que pronunciou as palavras, percebeu que eram bastante verdadeiras. A confusão em sua mente se desfez e ele continuou encarando a garota, que agora tinha os olhos levemente arregalados e uma expressão espantada. - Acho que... se você perdeu alguém importante pra você, no momento em que me conheceu... talvez quer dizer que eu serei extremamente importante pra você. Isso deve significar alguma coisa, você perder alguém e então encontrar outro. Você não perdeu nenhuma parte sua, . Você apenas a teve substituída. - ele sorriu e arrumou uma mecha de cabelo da garota, que ainda não tinha tido muita reação. - Não é tão ruim assim, é?
  Ela negou suavemente com a cabeça e depois sorriu fraco. Aninhou a cabeça no peito dele e ele apertou-a com calma, consolando-a.
  - Obrigada. - ela sussurrou. sorriu.
  - Não tem que agradecer. E não tem que se preocupar. Vou cuidar de você agora, . - ele beijou o topo da cabeça dela. - Vou ser parte de você, também.



Comentários da autora


  n/a: Nha, não tenho certeza se gostei dela.
  A ideia me veio à cabeça e soou legal, mas acabei me confundindo na hora de escrever e parei um tempão, daí hoje sentei e terminei. Uhu. Ainda assim, não tenho certeza se gostei dela ~
  Ultimamente tenho mania de escrever meninas meio sozinhas no mundo, não se importem hueheu
  Espero que tenham gostado e que não achem que isso foi uma perda de tempo hehe obrigada por terem lido!
  xx
  Anne