Maybe It's Just A Matter Of Time
Escrito por Áurea Almeida | Revisado por Mariana
Londres; Inglaterra. 12 de fevereiro, 2014.
- Você é um cretino! Como pôde ter a coragem disso? - Ela gritava, soluçava, chorava. Não tinha forças para dizer mais nada, mas mesmo assim, continuava esbravejando. Naquele momento, tudo o que conseguia sentir era pena, dó, de si mesmo. - Eu deveria ter enxergado isso antes! A vadia da Kate abre as pernas para todo mundo, e não seria diferente com você! Eu fui uma tola em pensar que ela sendo sua amiga, não seria nada de mais, já que eu confiava em você; mas não! Claro que não! Você é homem, igual qualquer outro. Não liga para os sentimentos de uma mulher. É sempre assim, se der mole, vocês pegam. Pode ser até a mais puta de todas!
- Homens não ligam se uma mulher é vadia, . Entenda isso: nós não ligamos, e nunca iremos!
Como ele podia dizer uma coisa dessas, nesse momento? A garota estava acabada, despedaçada. Chorava igual louca, enquanto ele simplesmente jogava suas roupas numa mala, como se estivesse se livrando de uma praga. começou a arremessar objetos nele. Quando ela tacou o perfume que ele lhe dera, o primeiro de todos, nele; foi bem na cabeça. Começou a sangrar, e o perfume invadiu todo o ambiente. Ele soltou alguns palavrões enquanto segurava uma camiseta contra a testa - onde sangrava.
- Como pode dizer isso à mim?! Não vê que estou sofrendo? Eu te amo, . Você não deve saber o quanto é ruim ser traída pela pessoa que ama, mas acredite, isso machuca. E muito. Então, por favor, não fale isso nunca mais!
- Não vai ter um "nunca mais", . Eu estou indo embora. - havia amarrado a blusa na cabeça, e estava com as malas por entre as mãos. - Estou indo para a casa de Kate, caso queira assinar os papéis do divórcio, é só ir na casa ao lado me avisar. Como já disse, estarei lá.
- Eu não acredito! Você é um filho da puta! Um imbecil, cretino, viado, eu te odeio! Se ao menos você estivesse um pingo arrependido... Mas não! Você tem que ser o pior filho da puta do mundo! Me deixar para ficar com a Kate! Eu não sei como pude me apaixonar por você um dia!
chorava. Agora, ela se encontrava esparramada na cama, com os lençóis cobrindo seu corpo e, quando as lágrimas caiam, ela o puxava para secá-las. estava aborrecido por ter de terminar assim. Mas seria melhor desse jeito, assim ela nunca mais o procuraria. E por mais que ele não queria aquilo, era o certo a se fazer. Uma lágrima caiu em seus olhos verdes. Porém, ele tratou de limpá-las logo. Não queria que percebesse que ele se sentia, no mínimo, um pouco triste. No entanto, ele deu seu sorriso cafajeste mais falso, e sussurrou antes de fechar a porta, e deixá-la sozinha:
- O que posso dizer, ela é gostosa.
Londres, Inglaterra. Dias atuais.
A campainha tocou. Mais uma vez. Há meses que não fazia questão de atender sequer o telefone, quanto mais alguém batendo em sua porta freneticamente. Pode-se dizer que ela não está tão ruim em relação à , mas já esteve melhor. Ela nunca teve a sensação de abandono, traição. E agora ela estava sentindo tudo junto: abandono, traição e humilhação. Ela, mais do que ninguém, sabia como era por o pé para fora de casa, e ser encarada por toda a vizinhança. “a garota que foi traída pelo marido e a vizinha puta”. Era o que ela mais ouviu esses últimos meses, nas bocas das pessoas, num sussurro que, se ela não estivesse tão concentrada em saber, ela nunca escutaria.
Mas, voltando a campainha que estava tocando: ela não iria ver quem era. Não mesmo. Sabia que era ele. O filho da puta que a traiu e que a abandonou sem aviso prévio. Que a falou coisas horríveis e que, em momento algum, transmitiu arrependimento durante a discussão. Durante o mês passado, ele havia ligado para ela todos os dias, todas as horas. Claro, no telefone ela foi capaz de encará-lo. Até soltou algumas risadas irônicas, e engoliu o choro. Passou por cima. implorava para tê-la de volta. Mas... Como curar um coração partido? Como ter a coragem de se entregar mais uma vez?
Raiva? Não, isso ela não sentia mais. Esse sentimento só é suprido por muito tempo, quando não amamos a pessoa como pensamos. Dizer que ela nunca sentiu isso por ele, é mentira, mas isso não se passou de um dia. A raiva que ela teve dele foi somente naquele momento de briga, depois? Depois ela se amaldiçoou por não odiá-lo. Mas o amor... O amor é uma dor diferente. Uma dor que, se já foi provada uma vez, o ser humano não mede esforços para sentir de novo. É uma dor gostosa. Mas no momento, tudo o que ela vira desse sentimento, fora tragédia. Céus! Ela parecia uma imprestável! Quando seus amigos não ligavam, ela não saia, não comia. Tudo o que fazia era dormir. Mas com uma ajudinha deles, ela saiu dessa vida. Agora, ela até chegava a caminhar de manhã e saia para trabalhar com a cabeça erguida, deixando para trás os murmúrios de pessoas fofoqueiras.
Mais uma batida. Mais uma batida e ela teria coragem para ir lá, e mandá-lo para o inferno.
Toc. Toc.
- O que diabos...
Ela não tinha forças para terminar a frase. Ele estava tão fofo! possuía um buquê de rosas na mão direita, enquanto a outra segurava uma caixa de bombom. Ele nunca a mandou flores. Nunca.
- Volte pra mim, . Lhe imploro. Eu juro. Eu cansei das armações do meu pai, das tentativas mais idiotas que ele já me fez passar. – respirou fundo – Por favor, deixe-me entrar para poder lhe explicar tudo. Desde o começo.
ponderou. Ela poderia falar um simples “não”, mas aí ela seria obrigada a ficar na porta, esperando ele terminar sua explicação – e isso faria com que os vizinhos xeretas criassem mais fofocas sobre os dois. E ela poderia deixá-lo entrar, sentar-se, e ouvi-lo falar coisas que ela já sabia que não a convenceria de nada. Simplesmente.
- Entra.
sorriu, como se aquilo fosse uma brecha para tê-la de volta. Mas deu uma risada cínica, já sabendo que ele nunca teria mais nenhuma chance com ela.
- Bem, , você sabe que o pai de Kate tem uma empresa que meio que concorre com a do meu pai...
- Tá, mas o que isso tem a ver?
poderia ter deixá-lo entrar, poderia ter dado a chance dele se explicar, mas claro, ela iria dificultar as coisas.
- Me deixa terminar, por favor? – parecia nervoso. Sabia como a mulher era. – Bem, ele meio que me pediu para me enturmar com ela, para tirar algumas informações da empresa do pai dela e...
foi interrompido por uma risada cortante. Ele encarou , perplexo. Quando ela se tornara tão irônica desse jeito?
- Ah, ! Ele pediu pra você comer ela, para tirar informações? – fingiu limpar algumas lágrimas, causadas pelo riso e, talvez, pelo nervoso – Conta outra, por favor!
- Porra, , é sério! – exclamou – Vou começar tudo de novo! Ele me pediu para tirar informações dela, e foi isso que fiz. Virei amigo dela, tentei tirar as informações, mas nada. Eu fazia tudo, chegava na casa de meus pais sempre com uma novidade diferente e ele sempre falava que não estava bom o bastante, e foi por isso que eu comecei ir mais vezes para lá e...
- Se apaixonou por ela?
- Não, , não! Eu nunca fui apaixonado por outra mulher, a não ser você.
a olhou com ternura, que quase fez com que se arrependesse de estar sendo tão dura. Mas não. Ela tinha que continuar. Ele a fez sofrer, ele a disse coisas horríveis. E aquele momento era perfeito para a vingança completa.
- Enfim, eu continuei indo para a casa dela, e numa dessas vezes, que foi a única que eu traí você, e você sabe, no fundo sabe, ela estava só de biquíni. E eu não vou mentir. Ela é uma vadia, sim, todos os caras da vizinhança já ficaram com ela, mas eu sou homem! Eu não tenho culpa que caí na tentação.
riu histericamente.
- Claro que não tem. Imagina se tivesse.
respirou fundo, sabia que com ela naquele estado, nada seria fácil de convencê-la.
- Olha, , eu fui um idiota, um filho da puta por ter traído a mulher que eu amo. Mas eu estou aqui. Depois de meses criando vergonha na cara, eu estou aqui. Te pedindo pra voltar. Então, por favor, não finja que isso não importa, porque eu sei que importa sim. E muito. Volta pra mim. É tudo que eu te peço.
aguardou a resposta da garota. Mas ela não veio na hora. parou de rir, e parou com as gracinhas. Ela, pela primeira vez naquele momento, sentiu vontade de chorar. Ela estava cedendo à ele. Mas não podia. Não quando já chegou tão longe. Então tudo o que ela fez foi se levantar do sofá aonde estava, caminhar até o rapaz e agachar para ficar na reta dele. Aproximou seus lábios macios aos dele, e já poderia sentir a pulsação em seu corpo. Mas ela desviou. E dessa vez, seus lábios não foram de encontro aos dele, mas sim, de encontro a sua orelha esquerda. E sensualmente sussurrou:
- Talvez seja só uma questão de tempo, mas tudo o que eu quero de você, é distância.
FIM