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#017 Temporada

One More Night
Maroon 5



Mais Uma Noite

Escrita por Bárbara Oliveira

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  A ansiedade tomava conta de todo o corpo de enquanto ele se encontrava em uma batalha consigo mesmo sobre seguir em frente ou ir embora. Havia tempos em que não se sentia assim e poderia jurar que meses antes ele sequer teria essa dúvida ao estar nesse mesmo lugar. Encarava o final do corredor do quarto andar daquele pequeno prédio quase como se dependesse disso para viver e quando tomou coragem para dar o primeiro passo em direção à porta que levaria ao apartamento de número 43, ele hesitou mais uma vez e respirou fundo tentando recobrar a coragem de segundos atrás. Normalmente as suas noites de sábado sempre começavam naquele mesmo corredor, chegando àquele mesmo apartamento cheio de sacolas nas mãos, após comprar o jantar no pequeno restaurante na esquina do final da rua. Mas, já havia dias que não era mais assim. Ele já sabia desde o início que, hora ou outra, ele chegaria naquele ponto e se deixou levar mesmo assim.
  Ainda conseguia lembrar da voz de seu melhor amigo lhe alertando sobre , quando ele notou seu interesse pela sua irmã.

  “Ela não quer compromisso, você vai quebrar a cara. É perda de tempo.”

   discordava. Qualquer tempo com ela já era uma vitória para ele. E como ele já havia dito várias vezes, não era como se ele pudesse evitar. No segundo que bateu os olhos sobre ela, ele já havia perdido qualquer senso que pudesse lhe impedir de chegar até a garota, mas tentou resistir o quanto pode. Porém, obstinada como só, não deixou que essa tarefa fosse exatamente fácil.
   lembrava-se com perfeição daquela noite quente do início de Agosto quando ele finalmente a conheceu. , seu melhor amigo, havia passado a semana inteira sem se conter de felicidade pois sua irmã mais velha finalmente voltaria para casa depois de passar quatro anos morando na Inglaterra. Ele a tinha como ídola. Falava com tanto orgulho da irmã e de como eram unidos que sentiu pena do amigo por ter passado tanto tempo sem vê-la. Quando comentou que ela voltaria para Boston, não criou nem um pingo de expectativa. Àquela altura ele já sabia bastante dela sem nem ao menos tê-la visto pessoalmente, resultado de todas as chamadas de Skype que fazia com ela todo mês. Então já sabia de várias coisas da vida de , como por exemplo, que ela já havia quebrado o braço durante uma apresentação de balé na infância, situação a qual fez questão de mostrar fotos para o amigo enquanto tinha crises de riso contando sobre o episódio. Sabia que ela era alérgica a morangos, mas comia escondido de sua mãe todo natal e, o mais importante de todos, que tinha o sonho de ser uma médica brilhantemente bem sucedida. “Coisa que todo mundo sabe que ela será.” dizia toda vez. No entanto, na noite em que conheceu , lhe disse, poucos minutos antes da irmã chegar ao bar em que estavam, que ela estava triste por ainda não ter recebido a resposta do hospital em que tinha se candidatado para a vaga de residente em cardiologia. então, esperou que ela chegasse ao bar com a aparência abatida e possivelmente abalada pela apreensão da falta da resposta que poderia mudar toda a sua carreira, porém, indo contra qualquer expectativa dele, ela chegou ao bar com um sorriso estampado no rosto, dando a uma memória que ele jamais se esqueceria: o deslumbre de vê-la chegar e iluminar todo aquele lugar.
  – Finalmente! - foi a primeira coisa que ela disse à ele quando o viu pela primeira vez.
  Disse com a entonação tão animada e meramente aliviada, quase como se tivesse esperado a vida inteira para conhecê-lo. Ele não tinha certeza sobre ela, mas era exatamente essa a sensação que ele tinha, que havia esperado toda a vida por aquele momento. Passaram a noite toda conversando, bebendo e dançando, como se tivessem se conhecido há anos, o que levou a sentir como se a noite tivesse passado num piscar de olhos. Ele não queria admitir, mas queria o passar o máximo de tempo que pudesse perto de e enrolou o máximo que pôde para ir embora e quando o fez, foi ansiando pelo o momento que a veria de novo. Coisa essa que não demorou muito tempo, pois alguns dias depois, quando lhe enviou uma mensagem de voz o convidando para conhecer o novo apartamento da irmã, ele foi sem contestar. Então, na noite daquele mesmo dia, se encontrava naquele mesmo pequeno prédio, caminhando por aquele mesmo corredor em tons bege, direcionando-se para aquele mesmo apartamento. O apartamento era pequeno e aconchegante. Ela havia chamado alguns pouquíssimos amigos para aquela noite e mal teve tempo de conversar com ela, mas as trocas de olhares que tiveram durante toda a noite o fazia arder por dentro em expectativa.
  Semanas depois, notando as trocas de olhares que eles nem faziam questão em esconder, alertou o amigo sobre a falta de interesse de em compromissos desde um término turbulento que tivera, o que fez com que se tornasse um pouco mais cauteloso em relação a ela. Gostava de ter por perto, mesmo que como amiga. Gostava das conversas que tinham, de como ela sempre contava animada sobre os casos que atendia no hospital e de como ela sempre ouvia atenta sobre os projetos dele de fotografia. Ele já estava cansado de saber - por si só e pelos alertas de - das intenções de em não se envolver com ninguém e tentava se contentar só com a amizade da garota, até que um dia, no final de outubro, ela o beijou em uma festa de Halloween enquanto trajava uma fantasia improvisada de última hora de Potter, que a deixava adorável. Naquela noite ele soube que não poderia ficar sem aquele beijo e sem o cheiro de lavanda que vinha dos cabelos dela nunca mais. provavelmente teve uma sensação parecida, pois sugeriu a , no dia seguinte, que tentassem algo sem compromisso algum, “para ver onde vai dar”, nas palavras dela. , em sua estúpida inocência, achava que não iria se envolver tanto e que o estabelecido com já lhe era suficiente. Ele pensava o mesmo sobre serem só amigos e, como aconteceu antes, quis mais. O que levou a inúmeras brigas, pois ao passo que deixava claro que só queria algo sem compromisso, ela também dava a entender de inúmeras formas que estava no mesmo nível que , o que o deixava confuso sobre as intenções dela com ele e então, sempre que brigavam sobre isso, prometia que era a última vez. Falava para que não tinham nada sério que cortaria aquilo tudo a hora que não aguentasse mais e sempre, depois de toda briga, precisava ouvir do amigo “foi a última vez que me envolvi com sua irmã”, para que na manhã seguinte, quando ligasse para para saber de seu paradeiro, acabar descobrindo que ele passara a noite com . Estavam presos em um ciclo vicioso de brigar e fazer as pazes que visivelmente estava fazendo mal para . Ele não podia esconder, estava tão imerso, tão apaixonado pela garota que toda vez que prometia ao amigo que era a última vez, ela o fazia voltar para si quase como se o enfeitiçasse. O que o levou a essa noite de sábado, onde após dois dias desde a última - e pior - briga que tiveram, ele se encontrava sem saber se iria ou não até o encontro dela. Enquanto ainda permanecia estático no corredor, sentiu seu celular vibrar em seu bolso, o libertando, por hora, de sua pequena guerra interior.
  – já me ligou duas vezes atrás de você. - A voz de soou repreensiva do outro da linha no segundo em que aceitou a chamada. Sentindo a crescente vergonha dentro de si, respondeu com a voz baixa.
  – Estou no corredor do andar dela. - ouviu suspirar do outro lado da linha. Já sabia o sermão que se seguiria.
  – Cara, ela é minha irmã, sabe. - começou o amigo - Eu a amo, mas você não pode deixar que depois de toda briga de vocês ela te faça voltar assim.
  – Eu sei, vim para conversar com ela sobre isso, aquela foi definitivamente nossa última vez juntos. - pôde jurar que rolou os olhos do outro lado da linha. - Eu juro.
  – Você quem sabe, só não vá passar a noite aí com a desculpa de que é a última noite e acordar arrependido amanhã de manhã. - disse já sabendo que esse seria exatamente o cenário da manhã seguinte.
   então desligou o celular e tomou coragem, seguindo a passos firmes o caminho para o apartamento 43. Se sentia imensamente estúpido de estar ali mais uma vez. Ele sabia que tinha razão nas brigas, ele demonstrava a todo tempo o que sentia, ao que fazia exatamente o contrário. Dizia não querer nada sério, que não queria compromisso, mas agia como se fossem casal há anos. Fugia de conversas sobre sentimentos e sobre em que patamar estavam e se limitava a dizer apenas que gostava dele e estavam “vendo até onde isso iria levá-los”. Ele poderia simplesmente parar com tudo de uma vez, usando a desculpa que ela mesma usava para tudo, a de que não tinham nada sério. Mas precisava de mais uma vez. Precisava de mais uma noite com ela. Como e ele já sabiam, ele iria se arrepender disso na manhã seguinte, mas preferiu ignorar tudo o que lhe dissesse isso e seguir em frente. Sentiu que era a coisa certa a se fazer no segundo que abriu a porta. Indubitavelmente mais linda que nunca.
  – Achei que não viesse. - ela disse, com um leve sorriso no rosto, que fez com  quisesse jogar toda culpa, todo sentimento de estupidez e toda a noção para longe.
  – Acho que ainda não aprendi a dizer não pra você. - ele disse em tom baixo em meio a um sorriso, ao que ela soltou um leve riso, dando espaço para que ele entrasse em seu apartamento.
  O lugar era uma leve bagunça inegável. era residente, mal tinha tempo de fazer qualquer coisa, então era comum achar alguns copos espalhados pela casa, algumas peças de roupas aqui e outras ali, resultado iminente de todas as noites que chegava ao apartamento, alguns - muitos - livros espalhados pelo chão da sala e algumas poucas plantas que tentava a todo custo cuidar para não morrerem. Era de todo aconchegante e gostava de estar ali, tanto que passava mais tempo ali que em sua própria casa. Sentiu então a estranha sensação de saudade de algo que ainda estava vivendo, mas não saberia quando e nem se viveria de novo, a sensação de estar no pequeno universo dela.
   então abriu uma garrafa de vinho e convidou a se sentar no pequeno sofá amarronzado da sala, dizendo que precisavam conversar. Ele já sabia o que viria a seguir. Aquela conversa já estava sendo adiada há tempos e ambos sabiam disso. Ambos estavam cansados das brigas e de toda essa situação. Precisavam acabar com aquilo, ele sabia. Mas ao passo que as palavras eram proferidas da boca avermelhada de , não podia conter o sentimento dentro de si. Mal podia ouvir o que ela falava. Cada gesto que ela fazia com as mãos ao falar, cada vez que ela, sem notar, olhava para a boca dele. Cada pequena coisa que ela fazia, fazia crescer em a vontade de se render a ela para o que ela precisasse, mesmo que ele soubesse que se arrependeria disso depois.
  Não podia conter o quanto estava apaixonado, o quanto sabia que precisavam terminar o que quer que aquilo fosse, mas precisava dela nem que fosse mais uma noite. Só mais uma noite. Contrariando qualquer sensatez, ele se aproximou dela o máximo que pode, ação essa que ela reagiu quebrando a distância sobre eles, selando seus lábios. adorava aquela sensação de senti-la dentro de seu abraço, de poder beijá-la, do cheiro suave que a pele dela tinha e, a medida que seus corpos foram esquentando, a necessidade de tirarem suas roupas se tornou questão de sobrevivência. Assim que fez menção em tirar a última peça de seu corpo para que finalmente pudessem se entregar um ao outro, se afastou alguns poucos centímetros.
  – , a gente ainda precisa conversar sobre a nossa situação. Até quando vamos ficar assim? - ela perguntou arfando, quase como se lhe faltasse ar para respirar, ao que a interrompeu, dizendo mais para si mesmo do que para respondê-la.
  – Só mais essa noite.

FIM