Maguire

Escrito por Naya R. | Revisado por Mariana (capítulos 1-5) | Natashia Kitamura (capítulo 6+)

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Prólogo

  Aproximadamente dois meses da estreia do novo filme do Homem Aranha: Sem volta para casa, meu irmão acabou me fazendo uma ligação delicada. Eu estava no banho quando o telefone tocou, e acabei perdendo o primeiro telefonema, quando vi que se tratava dele, não dei muita bola e acabei ignorando. Se tinha uma coisa que a minha família americana me ensinou, era de que eles não davam a mínima para quem estava fora do país. A pandemia estourou mundialmente e não ouvi uma notícia sobre meu pai ou meu irmão, nem sabia se estavam vivos ou mortos, a não ser pela curiosidade que as vezes batia e eu acabava pesquisando no Google. Porém, meu orgulho era muito mais forte do que isso.
  Dois dias depois meu celular voltou a tocar.
  - Oi. Este telefone ainda é da ? – A voz falou inteiramente em inglês. Graças ao esforço absurdo de minha mãe, e não graças ao meu pai americano ausente, meu inglês era ótimo, obrigada.
  - Sim, este telefone ainda é meu. Quem deseja falar? – Minha voz saiu especialmente rude, e eu sabia exatamente quem estava falando do outro lado.
  - Oi , aqui é o Tobey, você lembra de mim? Seu meio-irmão? – Perguntou a voz dele, não consegui decifrar se era algum tipo de preocupação encubada ou apenas uma atuação boba para me fazer amolecer.
  - Lembro sim. Meu irmão riquinho e famoso que nunca deu a mínima para mim, ou para a minha família aqui no Brasil. Estava muito ocupado filmando seu milésimo filme do Homem-Aranha que não conseguiu ligar para ver se eu havia morrido de Covid? – Soltei tudo sem dar um puxão de ar, que no fim da frase a voz foi perdendo a força.
  - Uau. – Ele apenas disse, provavelmente se arrependendo de ter ligado.
  - O que você quer? – Perguntei, arrumando minhas coisas pois eu tinha um encontro marcado com minhas amigas. Abri o guarda-roupa enquanto ele gaguejava sem saber por onde começar.
  - Bom, eu... Primeiramente, eu gostaria de me desculpar por todos estes anos que fui absolutamente negligente quanto à nossa família. Sei principalmente que nosso pai não foi um homem que honrou sua palavra, e muito menos deu qualquer tipo de garantia para a sua família. Não consigo nem imaginar como deve ter sido difícil a sua vida, com um pai ausente. E novamente, peço desculpas por não ter feito o papel de irmão mais velho. – Ele disse, tão rápido quanto eu. Mas não tão despreparado. Ele provavelmente esperava que eu, no mínimo, fosse pedir uma explicação plausível.
  - Maguire, eu não espero nada de vocês há anos. Minha vida seguiu sim, sem meu irmão mais velho e meu pai de sangue. Mas, não graças a vocês, não cresci sem um pai. Cresci com uma mãe independente que faria tudo por mim, que depois de arrumar a bagunça que vocês fizeram, casou-se novamente com o homem que hoje é o meu pai. – Expliquei-me, sem querer ser bruta ou ignorante. Apenas falei a verdade.
  - , eu... – Ele tentou falar. Interrompi:
  - Não me chame de . – Agora sim eu estava sendo bruta e ignorante. Ele pigarreou e continuou:
  - , eu sinto muito por isso. Do fundo do meu coração. Eu sou um cara idiota e mesquinho, que a fama subiu à cabeça e acabei esquecendo de onde eu vim. Não posso me desculpar pelo meu pai, ele faleceu fazem alguns anos, e se ele tivesse algo para falar com você, creio que o teria feito, como estou fazendo agora. – Ele suspirou. Parecia cansado, talvez perdido. Minha cabeça foi longe, enquanto minha mão passava pelas roupas do guarda-roupa penduradas no cabide. Passei poucos anos da minha vida com Tobey. Quando nasci, ele tinha 19 anos, já tinha uma carreira consolidada em Hollywood, mas era um adolescente reservado e gostou de passar um tempo com a irmãzinha. Seu pai e minha mãe se conheceram no Brasil, ela era garçonete e ele um dono de empresa de construção civil que estava estudando as possibilidades de abrir uma empresa no país do carnaval. Se apaixonaram e me tiveram, minha mãe, a inocente garçonete, não casou-se com ele no papel, então o homem acabou abandonando-nos quando eu tinha quatro anos. Tobey enviava algumas cartinhas no natal até fazer uns vinte e três anos, e depois disso, nunca mais manteve contato.
  Minha mãe sofreu muito com aquela perda e custou a se curar daquela ferida aberta. Fiz ela me levar ao cinema para assistir todos os filmes do “maninho”, mesmo que ninguém acreditasse de verdade em mim.
  - Tobey, eu tenho 28 anos. Não tenho mais idade para ficar brincando de família com você. Sei que você sente muito, e no fundo isso mexe comigo, mas você não acha que é muito tarde? Você está com o quê? Quarenta anos? Está casado e com filhos? Olha quanta parte de nós que perdemos. – Respondi depois do meu devaneio. Ouvi um suspiro do outro lado da linha. – Me responde de verdade, para que você ligou?
  - Eu quero reaver nossa amizade. Quero ter você na minha vida de novo. Tenho dois filhos lindos que eu gostaria que você conhecesse. – Ele mal me deixou terminar a frase. A urgência na voz dele me mostrava um desespero quase palpável.
  - Não sei se consigo fazer isso, minha vida está muito bem estruturada agora. Tenho uma casa, um bom emprego, minha família me ama e me apoia em qualquer decisão. Você não pode me ligar depois de vinte e cinto anos e fingir que sempre fez parte disso.
  - Eu sei que não posso mudar o que foi feito, mas me dá uma chance de mudar o futuro. Me dá quinze dias. Me dá uma oportunidade de te mostrar que ainda sou seu irmão. – A voz dele suplicava. Meus olhos se encheram de água. Minha mãe era a única coisa que passava na minha cabeça, se ela ficasse magoada com isto, eu nunca iria me perdoar.
  Fiquei em silêncio e perdi a noção do tempo, enquanto minha cabeça martelava com a sensação de que ele realmente sentia muito. Por que ele iria puxar assunto depois de todo esse tempo?
  - Por favor, , me deixa fazer a coisa certa, para variar.
  - Preciso falar com a minha mãe primeiro. Se ela achar uma péssima ideia, pode esquecer.
  - Porra, obrigado! Isso! Você está me fazendo muito feliz. Obrigado! Obrigado! – Ele disse a segunda palavra em português e meu coração de pedra amoleceu por um momento.
  - Não se anime tanto. Ainda estou brava com você. – Desliguei o telefone e joguei-me na cama, completamente absorta em pensamentos.

Capítulo 01

  Um mês depois da estreia do Homem-Aranha: Sem volta para casa no Brasil, eu estava pegando um avião para os Estados Unidos da América, lugar onde nunca pensei que pisaria, mesmo tendo direito à um Greencard.
  Desci do avião com certa urgência. Depois da primeira conversa, eu e Tobey acabamos nos aproximando bastante, fizemos ligações de vídeo e conversamos por horas, colocando todas as fofocas em dia.
  Na realidade, acabei o conhecendo de verdade agora, o que eu lembrava era algo distorcido e infantil da minha cabeça de quatro anos de idade. Porém, tenho muito mais lembranças dele do que de meu verdadeiro pai. Isto é, provavelmente proveniente de minha mãe, que basicamente excluiu aquele homem de minha vida.
  Minha mãe ficou chocada num primeiro momento, depois amoleceu o coração assim como eu. Acho que puxei esse coração mole dela, pois na primeira chamada de vídeo que fiz com eles, minha mãe desatou a chorar e agradecer por ele ter vindo atrás de nós depois de todo este tempo. Tobey foi muito simpático com ela e extremamente empolgado para falar português, mas creio que ele não andou praticando nesse tempo em que tivemos afastados e tudo acabou sendo um grande fiasco. Fui a intérprete. Essa ligação foi extremamente dramática, e muito importante para a minha decisão de ir até ele no fim das contas.
  Desci do avião com meu coração saindo pela boca. Engoli a seco quando vi várias pessoas esperando seus respectivos colegas com plaquinhas e sorrisos com olhos sinceros, e a plaquinha que segurava “ ” não era diferente. Ele usava um boné azul escuro na cabeça, uma máscara descartável no rosto, um casaco de moletom marrom e calça jeans, um cara comum na multidão. Não corri ao seu encontro para não chamar a atenção, mas o abracei forte quando cheguei ao seu alcance. Nunca em toda minha vida eu achei que um abraço pudesse transmitir tantos sentimentos, até o dia em que dei esse abraço. O ato durou pelo menos dois minutos inteiros e não foi de maneira alguma constrangedor, não falamos absolutamente nada e aquilo me tranquilizava. Tobey fungou e só assim percebi que ele chorava feito um bebê. Cortei o abraço e sorri, passando a mão no seu ombro em um ato de carinho sem proximidade.
  - Eu tenho tanta coisa para dizer, que nem sei por onde começar. – Falou, fungando. Os olhos marejados de uma felicidade implícita em sua fala. Nesse momento, percebi que fiz a coisa certa. Meu irmão estava solitário de um recém divórcio, a casa vazia, as crianças indo apenas nos fins de semana marcados, meu coração aqueceu dentro do meu peito, e doeu de saber que eu poderia ter feito alguma coisa antes dele vir falar comigo. Não o fiz por orgulho.
  - Não pensa nisso agora, vamos atrás da minha mala e vamos sair daqui antes que te reconheçam. – Eu disse, indicando a direção oposta de onde eu havia acabado de vir.
  - Você é muito ingênua. Já me reconheceram desde que saí de casa. Estão em todos os lugares, olha. – Apontou para um homem que estava à nossa esquerda com uma câmera nas mãos e deu um tchauzinho. – Piorou bastante depois dos boatos do novo filme do Homem-Aranha, estão atrás de algum encontro que eu tenha com o Tom Holland ou o Andrew Garfield, mas ainda estamos mantendo a discrição, o filme lançou aqui a apenas duas semanas.
  - Que absurdo! – Exclamei indignada. Ele deu de ombros e seguimos para pegar minha mala e irmos para a sua casa.
  Eu havia visto o filme, infelizmente não consegui mais comprar os ingressos na pré-estreia quando finalmente decidi que era o certo ir. Chorei feito um bebê quando ele apareceu, e gritei com todos dentro da sala do cinema. Até falei para a pessoa desconhecida ao meu lado que ele era meu irmão, mas o cara não acreditou.
  - Então, - Disse ele, quando chegamos à sua casa. – Seja bem-vinda à minha humilde residência. Deixa eu já te levar pro seu quarto para você já deixar as suas coisas lá. Depois podemos pedir uma pizza, o que acha? Está muito cansada? Se não, podemos sair para jantar também, posso te mostrar a cidade. Los Angeles não é tão famosa quanto Nova Iorque, mas tem o seu charme.
  - Estou meio cansada da viagem sim, podemos fazer algo mais caseiro, se você não se importa. – Falei, enquanto subíamos as escadas.
  - Pizza então. – Ele disse, seguimos até o quarto que deveria ser meu e ele abriu a porta. As paredes eram todas azul marinho, e os detalhes eram feitos em gesso branco. Havia uma enorme cama de casal, e uma escrivaninha de maneira. De frente para nós, do outro lado do quarto, havia um espelho, e só assim consegui ver nós dois ao mesmo tempo. Ele notou que eu sorri para nossos reflexos e acabou sorrindo também.
  Lá estava eu, do outro lado do mundo, com um parcialmente desconhecido sorrindo para mim através de um espelho. Nossas feições não eram tão parecidas, exceto talvez pelo nariz e os olhos, eu não tinha olhos azuis como os dele, mas o formato era muito parecido e em meu olho esquerdo, eu tinha algo chamado heterocromia, onde um quarto do meu olho era azul, e o resto era castanho claro como o de minha mãe, o olho direito era castanho claro também.
  Tobey estava de cabelos cortados, diferente da última vez que eu o havia visto na vídeo chamada, seus olhos estavam ligeiramente inchados da choradeira, e ombros caídos, mesmo assim o sorriso permaneceu, fazendo o meu se alargar ainda mais.
  - Obrigada por me convencer a vir, estou muito feliz, Tob. – Fale sincera, ainda olhando para o nosso reflexo no espelho.
  - Eu também estou. Você não faz ideia. Inclusive... – Ele colocou minha mala de qualquer jeito ao lado da escrivaninha e pegou a mala pequena que eu trazia no ombro, colocando-a em cima da cama. – Deixa eu te mostrar algo.
  Ele me puxou pela mão, me guiou até o que eu supus ser seu quarto, que tinha as paredes pintadas em um tom de verde militar lindo, abriu o closet e em uma gaveta mais afastada das outras ele retirou uma caixa.
  Sentou-se na cama com a caixa e me chamou com a mão.
  Dentro havia todos os tipos de recordações possíveis sobre sua pequena vida no Brasil. Havia uma foto dele muito mais jovem, com uma criancinha no colo que reconheci muito bem, meus cabelos eram muito mais claros do que são hoje. Em outra foto ele está sorrindo e segurando nas minhas mãozinhas enquanto estou tentando dar meus passos atrapalhada. Havia pelo menos umas dez fotos daquele mesmo dia. Ele havia guardado também, meus poucos cartões de natal e alguns dos presentes que eu mandei: uma pulseira escrito Tob & com várias miçangas coloridas, uma correntinha prateada com um pingente da bandeira do Brasil, e uma caixinha de paçocas vazia. O único presente que eu realmente lembro era a pulseira de miçanga, lembro de fazê-la com a mãe.
  - Eu amava isso aqui. Devia ter pedido para você trazer. – Falou ele balançando o pote vazio.
  - Podemos fazer qualquer dia, deve ter a receita na internet. – Dei de ombros e vi seus olhos brilharem.
  - Você acha?
  - É claro. – Respondi rindo da sua cara. E voltamos a atenção para a caixa. Ele me mostrou os cartões postais que minha mãe havia feito em meu nome e até alguns exemplares dos gibis da turma da Mônica, verdadeiras relíquias com direito à almanaques e tudo.
  Fiquei realmente sentida por todo aquele carinho que emanava dele, enquanto me mostrava a caixa. Era visível que ele tinha um sentimento forte com tudo aquilo e simplesmente o abracei novamente.
  - Me desculpa, , de verdade, eu fui um completo idiota por te abandonar, eu era jovem, estúpido e sem noção. Não me deixa fazer isso nunca mais.
  - Eu te desculpo, Tob, peço desculpas por ter sido tão rígida com você no início, mas eu não te conheço mais, tive que me proteger. – Respondi.
  - Você não tem que se preocupar em me pedir desculpas, eu sou o único errado da situação, você era uma criança quando tudo aconteceu. – Ele soltou do abraço e me olhou nos olhos. Aqueles olhos azuis profundos e encantadores.
  O nosso momento foi quebrado pelo meu telefone, era minha mãe fazendo uma ligação de vídeo.
  - Oi mãe. – Atendi.
  - Oi Dona Miranda. – Tobey disse totalmente em português, abanando a mão logo atrás de mim.
  - Oi meus queridos. – Ela ficou visivelmente afetada, por nos ver finalmente juntos. – Como foi a viagem, ? Pedro está perguntando como você está. – Pedro era o meu pai não oficial, o homem que me assumiu e que eu amava como se fosse o verdadeiro pai da minha vida.
  - Estou bem, a viagem foi boa. Estávamos aqui vendo algumas lembrancinhas que o Tob guardou durante todos estes anos. – A conversa foi demorada e divertida. Mostrei a ela as fotos e prometi que iria fazer cópias para levar a ela. Comentei sobre a paçoca e ela me passou uma receita de família que, segundo ela, era moleza.
  A noite seguiu sem mais surpresas, comemos pizza, conversamos sobre muitas coisas e segui para minha cama, me despedindo de um irmão feliz e sonolento que me levou até o quarto antes de seguir para o seu. Dormi feito uma criancinha.
  Acordei sentindo cheiro de café da manhã.
  - Espero que goste de panquecas e ovos mexidos, pois são as únicas coisas que sei fazer para café da manhã.
  - Você nem precisava se preocupar com isso. – Puxei uma cadeira para me sentar, enquanto ele finalizava as panquecas. – Na próxima, deixa que eu faço, quero te mostrar algumas coisas que sei fazer. – Falei, sou formada em gastronomia há cinco anos e hoje trabalho como sous chef em um restaurante bem badalado de Florianópolis. Continuei: - Então, ontem você mencionou o Tom Holland e o Andrew Garfield... O que você pode me dizer sobre isto?
  Ele virou para mim, cerrando os olhos e eu sorri travessa, sabendo que ele não podia falar muita coisa ainda.
  - O que você quer realmente saber? – Notei que não era o que ele queria fazer, mas eu estava com um vale intitulado: sou a irmã mais nova e você está me devendo muita coisa, faça o que eu pedir ou posso ficar magoada. E eu não vou negar que estava usando isto a meu favor. Dei meu melhor sorriso encorajador e vi que ele cedeu.
  - Você tem que me prometer que não vai falar isso à ninguém, ou eu posso levar um multa milionária. – Ele disse, apontando a espátula de virar panqueca para mim.
  - Ok, eu prometo. Quero saber como você se sentiu, como foi a experiência? Você fez apenas pelo dinheiro, ou sentiu uma pontinha de nostalgia?
  - Primeiro você tem que entender que todo ator só faz filmes pelo dinheiro. É o nosso trabalho. Segundo, eu fiz porque gostei da nostalgia, gosto de como o universo Marvel está se solidificando nessa nova fase e gostei de contracenar com outros homens-aranha. No fim de tudo, foi muito divertido. Fiz uma boa amizade com Tom e Andrew, coisa que eu não achei que fosse acontecer.
  Dei um gritinho afetado e ele sorriu.
  - Falando nisso, você está oficialmente convidada para me acompanhar no tapete vermelho que irão fazer no fim de semana, já que o filme já estreou faz um mês e a minha presença e a do Drew não é mais uma novidade bombástica. – Ele disse, dando atenção à frigideira.
  - Nossa, é sério? – Perguntei pasma.
  - Claro, alugo uma limusine, e podemos ir escolher um vestido qualquer dia desses. Se você quiser ir, é claro.
  - É claro que eu quero ir! – Falei mais rápido do que deveria, mas quem em sã consciência não iria? Conhecer gente famosa, conhecer Zendaya, Marissa Tomei e quem sabe (se Deus quiser) Robert Downey Jr. Meu coração palpitou só de pensar.
  - Ai que bom! Eu estava guardando este ingresso só para ti. – Disse ele, feliz da vida.
  Tomamos café conversando sobre o filme e diversos outros que ele havia feito. Comentei que alguns eu havia deixado de assistir por estar na fase de distanciamento dele. Conversamos também sobre a sua amizade com Leonardo DiCaprio, que sempre foi uma fonte de curiosidade minha, e sobre o seu namoro com Kirsten Dunst.
  - O meu namoro com Kirsten foi absolutamente marketing. Isso existe mais do que você imagina, e tudo o que acontece, a imprensa usa como o estopim de algo. É bem triste saber como as coisas realmente acontecem por trás da câmera... – Tob foi interrompido por uma batida de porta esquisita, não era da porta da frente, e pensei que pudesse ser da sua ex-mulher entrando pela garagem.
  Tobey levantou fazendo sinal de “um minuto” para mim, e seguiu até a porta misteriosa.
  Voltou alguns minutos depois, com o olhar meio perdido e um pedido de desculpas implícito em seu rosto.
  - Cara, eu tive que dar três voltas no quarteirão para despistar os... – Uma voz desconhecida com um sotaque expressivamente inglês adentrou a cozinha e parou no ar, provavelmente quando notou que Tobey não estava sozinho. Soltei minha xícara de café e travei um instante quando vi Tom Holland parado logo à minha frente.
  - Meu Deus, cara, por que você não falou que estava acompanhado? Eu sou idiota, mas tenho o mínimo de noção. Desculpa, moça, ele normalmente está sozinho quando eu faço esse tipo de visita.
  - Ele pegou esse costume quando estávamos lendo o script, e acabou que virou uma tradição ele vir aqui de vez em quando. – Tob explicou.
  - Isso se chama amizade, acho que ele não conhece esse conceito ainda. – Tom falou esticando o braço até mim. – Eu sou Tom, é um prazer.
  - Tom, essa é minha irmã. – Tobey disse, ainda achando estranho essa intromissão, provavelmente pensando que eu poderia me assustar ou me arrepender. A questão é que eu estava adorando.
  - A famosa . – Ele disse enquanto eu apertava sua mão. Famosa? Então Tobey falava de mim para os colegas de trabalho?!
  - É um prazer, Tom, eu sou . – Apertei sua mão e chacoalhei por um instante.
  - Tom era um dos poucos que sabia sobre a sua vinda, ficou realmente feliz que você aceitou vir. Acho que foi um dos poucos que viu a maré de merda que eu estava durante as gravações. – Tobey disse dando de ombros e peando sua caneca de café de volta da mesa. – Quer um café?
  - Não, não, já estou de partida, não quero incomodar vocês. – Ele disse aparentemente sem graça.
  - Que isso, você não está incomodando. – Eu disse, não vou negar que meu coração estava ligeiramente descompassado no momento. Eu sempre soube que meu irmão era famoso, mas eu não estava preparada para aquilo. Eu estava de pijamas! Tentei me manter calma por fora, mas eu tinha sim, uma parte de mim que era uma tiete assumida.
  - Na verdade, estou sentindo que sou eu que estou incomodando. Vou dar um pouco de privacidade para vocês e vou lá em cima tomar um banho, ok? – Virei minha xícara de café com tudo, apertei levemente a mão de Tobey em despedida, e passei com certa urgência pela porta da cozinha. Durante o trajeto, ainda consegui ouvir naquele sotaque maravilhoso:
  - Uau, ela é adorável.
  Desci as escadas esperando que Tom não estivesse mais ali, mas ele estava. Tentei dar meia volta sem ser percebida, mas Tobey me chamou.
  Entrei na cozinha e vi um Tom Holland com os olhos vermelhos e as mãos cruzadas em cima da mesa.
  - Oi? – Perguntei sem saber muito bem o que fazer.
  - Dentro do congelador, tem um pote de sorvete... – Ele não precisou dizer mais nada. Peguei o mesmo, e três bowls que estavam em uma prateleira ao lado da geladeira. E colheres na gaveta.
  - O que houve? – Perguntei ainda perdida. Sentando-me com eles à mesa.
  - Lembra da conversa que estávamos tendo antes dele chegar? Que Hollywood tem seus casais...?
  - Ah não! Não, não, não me diz que você e a Zendaya são apenas marketing? – Perguntei horrorizada, Tobey abriu o pote de sorvete e deu a colher à Tom.
  - Sim. Você não faz ideia de como é difícil às vezes. Eu gosto dela, gosto demais. Mas como amigo. Foi como nossa relação começou. Ela teve que terminar outra relação que tinha para começar a me namorar. Tem muita coisa envolvida. Estamos apenas esperando a première terminar, e a poeira do filme baixar para podermos ter nossas vidas de volta. Algumas coisas são um saco. – Ele disse pegando uma colherada de sorvete. – Eu e o seu irmão tivemos uma conexão instantânea no set, e depois, conversando um pouco melhor, vimos que tínhamos bastante em comum.
  - É, nós dois estávamos passando por fases ruins e acabamos nos dando bem por isso. – Tob comentou, também pegando um pouco de sorvete. Peguei um pouquinho só para não ficar deslocada, mas estava achando absurdo o fato de tomar sorvete essas horas da manhã.
  - Nem sei o que dizer. – Admiti. – Estou arrasada. Não sabia que a vida de vocês era assim, não sei se conseguiria viver assim.
  - Meu deus, vamos trocar de assunto, não quero deixar sua irmã baixo astral no segundo dia dela aqui. – Tom riu um pouco e pegou mais um pouco de sorvete. Tentou trocar de assunto: - Você é muito bonita, tem certeza de que tem algum parentesco com esse cara aqui?
  Caí na gargalhada enquanto Tobey o olhava com certa indignação.
  - Cara! – Disse ele.
  - O quê? Só estou dizendo que ela é bonita, não é mentira. – Voltou a dizer, e então eu notei que ele era exatamente aquela pessoa bondosa e carismática que se vê na internet, até certo ponto ingênua. Tobey continuava sem palavras.
  - Obrigada, Tom, você deixou meu dia mais feliz. – Eu olhei em seus olhos e ele sorriu de volta, com a colher de sorvete entre os dentes.
  - Uaaaau! Seus olhos... – Ele disse aproximando o rosto do meu para ver melhor. Seu cheiro era maravilhoso, assim como sua pele. Deixei-o examinar meus olhos por alguns segundos. – Incrível! – Seu hálito de sorvete bateu no meu rosto, e por um micro segundo, minha guarda de mulher independente, livre e coração de pedra amoleceu.
  Tobey pigarreou e ele se afastou de mim. Fiz meu maior olhar de sonsa para ele, que repreendeu Tom apenas com o olhar e o menino se endireitou na cadeira.
  Olha, eu não me importaria se Tom Holland, o queridinho da América no momento, me achasse bonita e meus olhos incríveis, já que, sendo brasileira, os homens não faziam muito o meu tipo... Quem sabe um inglês mais novo que eu, com um sorriso encantador e com um cheiro que podia me desmontar em pedaços, podia me dar uma chance.

Capítulo 02

  A semana passou sem muitas novidades. Nem Tom apareceu mais para me encantar com seu carisma absurdo de britânico. Tobey me levou em uma avenida chiquérrima para escolher um vestido e marcar um cabelereiro para me montar no dia do tapete vermelho. Eu quis me fazer de durona na frente dele, mas estava completamente sem estruturas para este dia e ainda seria a primeira aparição dos três juntos em público após o filme. Ele participaria de entrevistas, fotos maravilhosas e eu estaria ao seu lado com pessoas do mais alto escalão de Hollywood (eu estava mesmo esperançosa que Robert Downey Jr. estivesse presente). Meus joelhos cediam só de pensar muito no assunto, entenda: eu era uma mera mortal, vinda do Brasil, onde as pessoas achavam que eu andava com um macaco nos ombros.
  Escolhemos meu vestido em uma loja que eu não sabia nem pronunciar o nome, era um vestido vermelho, que teve um caimento perfeito no meu corpo com padrões brasileiros de bunda (confesso que peito não era meu forte). O decote do vestido vinha até minha barriga, as alças eram bem finas e nas costas a tira fina das alças fazia alguns cruzamentos antes de fechar com um laço, deixando à mostra minhas tatuagens esquisitas que eu amava. O zíper invisível vinha do meio das minhas costas até minha bunda. Quando saí do provador, o vendedor deu um gritinho fino e correu para amarrar as tiras nas minhas costas.
  Tobey tapou a boca caída (mesmo com a máscara) com a mão e, confirmou com a cabeça.
  - É esse. – Falou com os olhos sorrindo. – Você gostou?
  - Gostei, mas tem certeza? Não é muito revelador? – Me olhando no espelho, percebi que ele tinha uma fenda na perna direita, na fenda, dava para notar um detalhe em branco, como se fosse o forro do vestido, mas não era.
  - Claro que não, menina. Você está feroz. Consigo sentir meu sangue latino pulsando de longe. – O vendedor disse, estalando os dedos. Empurrou meu ombro para eu dar uma voltinha.
  - Eu também gostei bastante. – Falei sem graça, olhando todos os detalhes no espelho gigantesco.
  - Vocês conseguem fazer alguma alteração no vestido? – Tobey perguntou, colocando a mão no queixo.
  - Nós não costumamos fazer quando muda o design do vestido, senhor. Mas qual seria a sua sugestão? Posso passar aos meus superiores... – O vendedor falou simpático.
  - Teria como trocar aquele tecido branco na fenda por um azul? As cores do Homem-Aranha, sabe como é... – Ele tentou ser o mais charmoso que pôde. E eu vi a guarda do vendedor baixar.
  - Vou ver o que posso fazer pelo senhor. Creio que seja possível, pois não muda o design, apenas a cor do tecido. - Ele anotou o detalhe em uma prancheta, e chamou uma moça para fazer os retoques de altura do vestido enquanto falava com o gerente.
  Nem dois minutos depois ele voltou com uma caixa de tecidos para Tobey escolher o tom de azul que ele queria, e eu dei risada vendo como tudo era fácil quando se tinha dinheiro e um nome.
  Eu estava realmente bonita naquele vestido. Com o penteado perfeito e a sandália que havíamos escolhido na loja anterior, eu estaria pronta para acompanhar alguém à altura de Tobey Maguire, o Parker preferido de uma geração.
  O sábado chegou, e com ele, o meu nervosismo absoluto quanto ao tapete vermelho.
  Levantei antes de Tobey, algo que me acostumei a fazer desde o segundo dia. Eu já estava me sentindo em casa. Nossa relação se fortaleceu muito depois de alguns dias de conversa intensa, contei a ele sobre meus relacionamentos fracassados e a minha promessa boba de que não iria mais me apaixonar por qualquer um, e muito menos baixar a guarda com facilidade. Contei sobre meu gato, Jacquin, e expliquei a ele sobre a origem do nome (Master Chef Brasil), e informei que minha mãe estava com ele no momento. Contei sobre minhas amigas e meus colegas de trabalho.
  Enquanto pensava em como minha vida havia mudado da água para o vinho, fiz um pequeno café da manhã para nós dois:
  Omelete francês, com torradas, avocado e tomates.
  - Vou acabar ficando mal-acostumado. – Ouvi a voz de Tobey dizer enquanto ele puxava um jornal que já havia sido deixado acima do seu lugar na bancada de café por sua governanta, Beth.
  - Bom, você está fazendo tanta coisa por mim, estou ficando sem graça. – Brinquei.
  - Eu não estou fazendo nada, nada comparado ao que devia ter feito desde o início. – Ele disse em um tom sério. – Você sabe disso.
  Coloquei a omelete no prato, derramei um fio de azeite em cima, acomodei as torradas ao lado e o servi, meu prato já estava posto no meu novo lugar na bancada.
  - Preciso estar no cabelereiro às 13 horas, você consegue me levar? – Perguntei mudando de assunto. Ele soltou o jornal, admirou o prato a sua frente, bateu uma foto e concordou com a cabeça.
  Conversamos um pouco sobre nossos horários, e deixamos tudo pré-agendado para não nos perdermos.

  Meu cabelo parecia ter sido desenhado pelos deuses, eu nunca havia sentido ele tão cheiroso e tão sedoso na vida. Estava preso por uma trança lateral que saía de cima da minha orelha direita e ia até a nuca, onde iniciava um coque desfiado, cada mecha estava em sintonia e nada saía do lugar se não fosse programado. A maquiagem era outro show à parte: eu nunca tinha utilizado tanta maquiagem, e ao mesmo me sentido tão natural. A maquiadora disse que eu tinha uma pele ótima e uma cor linda. Elogiou minhas sobrancelhas grossas, e minha boca carnuda (obrigada, mãe). Ela desenhou um delineado perfeito em cima de uma sombra quase sem cor aparente, mas com um brilho nude que parecia o próprio carnaval quando eu piscava. Explicou que como meu vestido já era bem colorido, o rosto não precisava ser tanto. E que um delineado bem-feito valia por mil sombras. Nos lábios, colocou um nude escuro, quase marrom. Disse que minha paleta de cores combinava muito com cores terrosas e eu nem sabia o que isso queria dizer direito, mas acreditei quando vi meu rosto esculpido no reflexo do espelho, e meus olhos marejaram.
  - Você não é LOUCA de chorar! – Brigou comigo e veio correndo com um cotonete para enxugar meus olhos.
  Dei uma risada gostosa.
  Quando todo o trabalho estava feito já passava das 17h30, meu irmão havia me informado que sairíamos de casa às 18h, para chegarmos no local às 18h45. A maquiadora e o cabelereiro me abraçaram calorosamente, ela explicou que a maquiagem só sairia com demaquilante, que eu poderia ficar tranquila quanto a isto, e o homem me disse que meu cabelo só desmancharia se um furacão passasse por nós. Respirei tranquila quando saí do lugar, indo direto ao carro de Tobey, que já estava perfeitamente alinhado em seu terno caro, cheiroso como apenas um ricaço como ele poderia estar. O cabelo penteado perfeitamente para trás, a gravata azul escuro, exatamente do mesmo tom do tecido interno do meu vestido.
  Minhas mãos suavam quando chegamos no local.
  Ele olhou para mim sorrindo carinhosamente:
  - Fica tranquila, são só algumas pessoas famosas. Nenhuma delas é mais bonita do que você. Então não tem por que ter medo. A única coisa que diferencia delas para você é a quantidade de dinheiro, o talento você tem de sobra. Então não deixa eles pisarem em ti. Brilha como a estrela que você é. Fica sempre ao meu lado e segura minha mão se você achar que precisa. – Ele beijou meu rosto. Foi a primeira vez que ele me beijou, e eu imediatamente me senti confiante. O motorista já tinha saído do carro para abrir porta para nós.
  A multidão lá fora era absurda, ensandecida e completamente barulhenta. Estavam lá para ver Tobey, eu podia sentir. Andrew Garfield havia entrado um carro antes de nós, e o barulho foi ensurdecedor.
  - Mais uma coisa, não se abale com os flashes, ou você vai sair fazendo careta em todas as fotos. Finge que é só mais um dia. Que você está fazendo um prato que você faz todos os dias. Aquela omelete maravilhosa que você fez para mim hoje de manhã. – Disse ele, e eu respirei fundo antes do motorista abrir a porta.
  Tobey saiu e a multidão ovacionou. Durante minutos que me pareceram intermináveis, ele deu alguns acenos para os flashes e esticou a mão para mim, que ainda estava dentro carro.
  Saí de lá e os flashes continuaram, a multidão continuou gritando seu nome. Os seguranças passaram trabalho, e eu fiquei encantada em ver como Tobey tinha um talento natural com aquilo, com certeza saí fazendo careta nas primeiras fotos, até meus olhos se acostumarem com tudo aquilo. Ele estava gracioso, o peito estufado, um sorriso no rosto, e foi ele quem pegou a minha mão. Talvez estivesse querendo um apoio moral, talvez estivesse querendo me dar apoio moral, ou talvez, só talvez, ele estivesse emocionado de me ter ao seu lado. Eu gostava imensamente desta ideia.
  O caminho era reto até onde o resto dos atores estavam. Todos sabiam que Tobey havia chegado, apenas pelo barulho. Batemos algumas fotos sozinhos, Tobey fez questão de me abraçar pelo ombro em algumas, sorrindo como se o mundo precisasse daquilo. E eu realmente precisava, eu via em seus olhos o quão orgulhoso ele estava.
  Tom veio diretamente até nós e abraçou Tobey com força.
  Ele estava absolutamente lindo em um terno preto e gravata borboleta, no rosto usava um óculo de grau que eu já havia visto em algumas outras entrevistas no Instagram. A plateia e as câmeras pareciam ter tudo que eles queriam naquele abraço, até o momento que Andrew chegou por trás de Tom e deu um tapa em sua bunda e entrou no abraço. O público pirou. Os flashes pareciam ser apenas um holofote ligado no nosso rosto, não parava em nenhum milésimo de segundo. Fiquei ao lado deles, ligeiramente afastada rindo feito uma boba. A química deles eram tão palpável quanto no filme, e mais incrível do que isso era como Andrew Garfield era bonito pessoalmente.
  Ele estava com os cabelos ligeiramente mais compridos do que no filme e muito bem penteados. O terno era cinza, eu podia ver por dentro um colete bem acinturado e uma gravata preta.
  Os três juntos renderam pelo menos dez minutos de risadas e fotos completamente espontâneas. Eu me divertia ouvindo as palavras deles, e logo Tobey me puxou para perto. Tom logo veio me cumprimentar (Deus do céu, não me faça virar meme enquanto beijo esses dois deuses gregos que são colegas de trabalho do meu irmão mais velho), beijou minha mão num ato exagerado de cumprimento e Andrew, que nem me conhecia até o momento, pegou minha outra mão e beijou também, me fazendo ficar tão vermelha que dei uma risada alta, os flashes não paravam um segundo. Tom me abraçou e disse que estava muito feliz de me ver ali, o agradeci e disse que também estava feliz de estar ali. Andrew me puxou para um abraço também para não ficar para trás em frente às câmeras.
  - É um prazer finalmente te conhecer, irmã Maguire. – Ele praticamente gritou no meu ouvido para que eu pudesse ouvir. Não quis corrigir meu sobrenome na frente de todas aquelas câmeras, então apenas sorri e respondi:
  - É um prazer te conhecer também, espetacular Andrew Garfield. – O ato de eu me aproximar da sua orelha em frente às câmeras certamente foi um erro, pois o cheiro daquele homem me arrebatou com toda a força possível. Juro que tonteei e dei um passo para trás.
  Ele entendeu a brincadeira que fiz e sorriu, batemos algumas fotos os quatro e seguimos em frente onde se encontravam os demais atores do filme. Para a minha grande decepção, Robert Downey Jr. não se fez presente (não existia motivo algum para ele estar ali, porém meu coração de tiete tinha uma esperança), mas Benedict Cumberbatch fez o papel de galã mais velho e eu babei nele como qualquer mulher normal faria. Que homem elegante, meu Deus... Foi tão simpático comigo quanto os demais, a mulher dele o acompanhava.
  Encontrei Jamie Foxx, Jason Batalon, Marisa Tomei e a maravilhosa, esplêndida e majestosa Zendaya. Meu coração foi a mil quando a vi, que mulher, meus amigos.
  A noite passou como um borrão de flashes, encontrei diretores, produtores e mais tanta gente que não lembrava o nome nem da metade. Tobey veio me avisar, em algum momento que iríamos ter um afterparty quando tudo acabasse.
  O evento inteiro durou muito mais do que uma hora. Uma hora de fotos e mais fotos, pequenas entrevistas com revistas e sites de entretenimento. Alguns cartões, bonecos e sabe-se lá mais o que que os fãs pediam, com os braços esticadíssimos para que um deles pegasse.
  Era nítido que meu irmão era o preferido: quando ele se aproximava da multidão, eles queriam quebrar as grades, os gritos eram ensandecidos, e os flashes aumentavam. Em quase todas as entrevistas que ele deu, ele me apresentou como sua irmã, antes que os tabloides falassem algo errado e doentio sobre nós. O que não seria difícil levando em conta que eu era claramente latina, ao seu lado. Minha pele se bronzeava com facilidade, estávamos no verão do Brasil, e eu não perdia a chance de ir para o sol.
  O afterparty seria na casa de Jamie Foxx, homem este que era conhecido por suas festas de parar um quarteirão. Ele também era um homem de respeito dentro do seu terno azul, simpático e divertido como aparentava ser, me arrancou boas risadas enquanto apresentava sua inacreditável mansão.
  - , caso você esteja desconfortável e queira ir embora, por favor, me avise. – Tobey me chamou para um canto quando foi cada um para o seu lado. – E não quero bancar o pai neurótico, mas não beba nada do copo de ninguém. O pessoal aqui pega pesado de verdade. – Falou ele, colocando o dedo indicador sobre uma narina disfarçadamente.
  - Ok. Obrigada por avisar. – Eu já imaginava esse tipo de coisa, mas foi bom ele me relembrar para que eu não parecesse uma idiota caipira no meio do tanque de tubarões.
  Ele me levou até a sala central, onde havia uma mesa cheia de bebidas de todos os tipos possíveis, frutas que eu nem conhecia, e potes chiques de vidro, com açúcar, sal e sabe-se lá mais o quê.
  - Quer que eu te ajude? – Perguntou ele apreensivo. Eu sorri, pegando a coqueteleira.
  Num movimento rápido, cortei rodelas de laranja, toranja e limão. Fiz um drink simples, parecido com caipirinha, mas sem a tradicional cachaça. Dei um gole para ele experimentar e seus olhos brilharam.
  Dividi a coqueteleira em dois copos grandes, coloquei duas folhinhas de hortelã em cima, e quando terminei, Andrew fucking Garfield aplaudiu do outro lado da mesa.
  Ele se aproximou, visivelmente admirado. Cumprimentou Tobey mais uma vez e falou algo em seu ouvido, meu irmão deu uma risada alta e respondeu ele, que ele veio sorrindo até mim.
  - Seu talento com essas facas me deixou apreensivo. – Brincou, seu hálito batendo em minha orelha.
  - Você não viu nada. – Respondi no mesmo tom brincalhão que ele, e ele riu mais ainda.
  - Foi exatamente o que seu irmão disse a mim. – Ele disse e eu ri. – Posso experimentar? – Perguntou ele, apontando para o meu drink. Entreguei meu copo a ele, sem piscar um segundo, lembrando do aviso que meu irmão havia dito antes.   Tobey veio até mim rindo.
  - Não precisa ficar olhando fixamente, pode dar uma disfarçada. Não fica tão tensa, ok? Vou dar só uma voltinha, fique aqui com o Drew, confio nele. – Tobey disse, me dando mais um beijinho no rosto e falou algo no ouvido de Andrew antes de sair.
  - Ele disse que se eu não cuidasse de você, ele cortaria minhas bolas e daria para você cozinhar com feijão. – Ele terminou a frase dando uma alta risada, devolvendo-me meu copo. – Está uma delícia, consegue fazer um para mim depois? – Indicou o próprio copo, que estava com outra bebida no momento.
  - Claro. – Dei de ombros, a música finalmente começou a tocar e consegui relaxar um pouco os ombros.
  - Você não é muito de falar, né? – Ele disse, me empurrando pelos ombros para fora da casa, onde a música estava menos alta e as pessoas estavam mais espalhadas.
  - Cara, eu falo, falo até demais. É só que é muita coisa rolando ao mesmo tempo, estou com uma maquiagem de pelo menos 3 milímetros de espessura, um salto mais alto do que jamais usei, um vestido que deve valer milhões da cor do Homem-Aranha! Conheci tanta gente famosa na última hora que não consigo contar nos dedos, e estou aqui agora, falando com Andrew Garfield e ele está prestando a atenção no que eu estou falando, mesmo com esse sotaque esquisito e meu inglês feio. – Soltei tudo de uma vez e ele deu uma risada jogando a cabeça para trás.
  - Você tem que entender que pessoas famosas são pessoas normais, a gente trabalha, anda de carro, estuda, come e vai ao banheiro, assim como todo mundo. – Ele disse, tomando um gole da sua bebida enquanto a voz da Cardi B preenchia o ambiente. – Você não é diferente de nós, e melhor ainda, você é da família. O que deixa tudo mais interessante.
  Eu pude jurar que a última parte da frase teve um “quê” de malícia, mas achei sexy demais para achar estranho.
  - Aliás, seu sotaque não tem nada de esquisito, e seu inglês é ótimo. – Ele disse, tirando o paletó, e colocando no encosto de um mini sofá que havia ali perto, nos sentamos. Se Andrew Garfield ficava bem de terno, ele ficava muito melhor de colete, com a manga da camisa dobrada até o antebraço e aquele cabelo perfeitamente arrumado e propositalmente bagunçado até certo ponto.
  - Obrigada, é muito gentil da sua parte. – Tomei mais um gole de minha bebida. – Você pretende ficar de babá a noite toda? – Perguntei rindo. – Não quero ser a sua empata foda, sei me virar. – Quis parecer mais durona do que realmente era.
  - Babá? Meu Deus, quantos anos você tem? Acho que você sabe se virar muito melhor que eu com aquelas facas, na verdade estou aqui porque sei que você pode me proteger melhor que meus seguranças. – Ele disse divertido. Dei uma risada, ele era muito bom, tenho que admitir.
  - Você entendeu o que eu quis dizer. – Dei um empurrão leve no seu ombro.
  - Não sei à que você está se referindo quando disse empata foda. – Tomou mais um gole da sua bebida, olhando as pessoas se divertindo à nossa frente. – Estou conversando com a mulher mais bonita da festa. – Olhou de canto para ver a minha reação.
  Mantive a compostura, uni as sobrancelhas e respondi:
  - Você está completamente errado, Marisa Tomei e Zendaya estão nessa festa. – Tomei mais um gole da minha bebida, o rosto completamente sério.
  - Bom, você está certa. Uma delas é 19 anos mais velha do que eu, e a outra é 13 anos mais nova, uma delas já namorou Robert Downey Jr. e a oura namora o mais novo queridinho da América. Acho que você está certa, eu devia mesmo ir até elas. – Ele terminou de falar, em um tom tão irônico que dei uma risada alta. – Você tem uma risada ótima.
  - Meu Deus, Garfield, você não para nunca? – Perguntei entre um riso e outro, e ele bebeu mais de sua bebida.
  - Depende, está funcionando ou não? – Perguntou ele, levantando as sobrancelhas em curiosidade.
  - Não decidi ainda. – Falei séria e me levantei para fazer outro drink. Virei-me para perguntar se ele queria um também e acabei pegando-o no flagra, analisando minha bunda com a boca entreaberta.
  Aquilo podia ter deixado meu lado feminista furioso em outra época, mas empoderei a majestosa gostosa que havia dentro de mim, e Andrew querido, se você queria um pouco desse suco, você teria que merecer.
  No timing perfeito, quando cheguei à mesa das bebidas “No scrubs” começou a tocar.
  Desta vez peguei morangos e mirtilos para fazer a mistura da bebida, ficou tão boa quanto a primeira, e enquanto eu a fazia, Tobey se aproximou de mim.
  - Como estão as coisas por aqui? – Falou pegando meu copo, e tomando um gole, virando os olhos para cima em êxtase. – Caralho, está muito bom.
  - Obrigada. As coisas estão bem, tirando o fato de que Andrew fucking Garfield está dando em cima de mim. – Falei séria, para ver qual seria a sua reação.
  - , você é adulta. Se achar que está ruim, dá um fora e pronto, ok? Se achar que precisa de ajuda, me fale agora. Você é dona da sua vida, não quero ser o cara que vai te privar da sua própria vida. – Falou ele, em um tom realmente sério. Porém virando meu copo mais uma vez.
  - Ok Tob, obrigada pelo apoio. Estou bem, só queria saber o quão bem você está com isso. – Falei sorrindo.
  - Se você tivesse 18 anos a conversa seria diferente. Você tem 28, é um mulherão da porra, dona da própria vida. Mas se achar que precisa de ajuda, estou aqui. Tá bem? – Ele me devolveu meu celular que estava com ele desde o tapete vermelho. - Estou no andar de cima, conversando com Jamie e mais um pessoal, não hesite em me chamar.
  - Obrigada. – Beijei seu rosto, e notei que ele ficou surpreso. Sorriu adoravelmente em retribuição.
  Virei-me em direção ao jardim que era onde eu estava anteriormente, levando dois copos, e lá estava ele, conversando com Tom e Zendaya. Meu coração deu um pulo, quando eu me acostumaria com isso?
  - Hey, Maguire! – Tom falou abrindo os braços em minha direção.
  Abracei-o com as mãos ocupadas. Ele estava mais animado do que deveria, provavelmente estava bebendo algo mais forte do que meus drinks.
  - Hey! – Falei animada também. Zendaya se aproximou para me dar um beijo no rosto. Beijei-a. – Ok, aproveitando que vocês estão aqui, preciso corrigir antes que isso vire uma febre: Eu não sou Maguire. Meu sobrenome é .
  - Não! – Tom disse desapontadíssimo. – Mas você é a caçula Maguire! Você pode sair do Maguire, mas o Maguire não pode sair de você.
  Todos riram, entreguei meu copo à Andrew.
  - Caralho, que coisa boa. – Andrew ofereceu seu copo à Tom. E eu fiquei “sozinha” com Zendaya por um segundo.
  - Você está linda. – Ela disse sorrindo. – É bom ter alguma mulher da minha idade para conversar.
  - EU estou linda? Olha só você! – Falei pegando sua mão e fazendo-a dar uma volta. – Você está maravilhosa, gata.
  Ela pareceu relaxar um pouco, vendo que comigo não havia rivalidade feminina. Entramos em uma conversa longa sobre isto, em como ainda existia rivalidade feminina no mundo, onde as pessoas e a imprensa viviam colocando mulheres umas contra as outras, sendo que as mesmas deviam se apoiar a todo custo. Nossa epifania durou pelo menos uns dez minutos. Nosso santo bateu quase que imediatamente.
  Houve um momento em que percebemos que os homens haviam parado de falar, e notamos que eles estavam nos olhando conversar, com as cabecinhas encostadas uma na outra.
  - Vocês são muito fodas! – Tom falou com entusiasmo. Eu e Zendaya, eu nunca me acostumaria com isto, demos risada.
  - Vamos lá, Tom? – Zendaya falou mexendo a sobrancelha, indicando que era para nos deixar sozinhos.
  Naquele momento me caiu a real de que eles eram um casal falso, e me senti mal ao ver como eles tinham que engolir tudo aquilo praticamente 24 horas por dia. Me pareceu o próprio inferno.
  Eles saíram, me deixando sozinha com Andrew.
  - Você tem muito talento, sabia? – Falou ele, indicando a bebida em suas mãos, porém me olhando nos olhos. – Meu Deus, seus olhos são lindos.
  Dei uma risada, estava acostumada com aquele tipo de reação, mas nem sempre era para falar que são lindos, as vezes um “esquisito” também fazia parte do elogio.
  - É o meu ¼ Maguire. – Brinquei e ele se divertiu.
  - Bom, pelo menos você pode dizer que tem olhos azuis. – Ele deu de ombros. Tomei um gole da minha bebida.
  - Olhos azuis são superestimados. Você sabia que pessoas de olhos azuis têm mais problemas de visão do que pessoas de olhos castanhos? – Ergui as sobrancelhas, e ele sorriu sabendo que ganhou pelo menos essa.
  - Bom, não sei se você notou, mas tenho olhos castanhos. – Falou ele, piscando freneticamente perto do meu rosto, fazendo-me rir.
  - Notei sim, Andrew. – Aquele cheiro tão perto de mim assim, poderia ser perigoso.   Até então Andrew estava sendo um cara legal e divertido, como ele aparentava ser. Ficamos batendo papo e flertando por um bom tempo e ele não parecia estar abalado pela minha guarda ligeiramente alta para ele. Pensei que ele fosse mudar o rumo quando se levantasse para ir ao banheiro, ou que não estaria mais no “nosso sofá” quando eu voltasse do banheiro, mas ele sempre estava lá. Sinal de que estava disposto a me aturar. Fiz alguns drinks até estarmos bêbados. Meu irmão aparecia vez ou outra para ver como estávamos e me admitiu que estava trocando saliva com uma mulher no andar de cima. Dei um high-five com ele e caímos na risada. O álcool já estava bem mais alto em nossas veias.
  Em um certo momento, iniciou-se uma sequência de funks brasileiros, e não pude segurar meu corpo, dancei sentada como uma mocinha comportada “No chão novinha”, mas a minha vontade era levantar a bunda pra cima e dançar feito a Anitta, mesmo que não tivesse a metade da desenvoltura que ela tinha para dançar, depois desta música, tocou “Ela me falou que quer rave” e não me aguentei, levantei-me e chamei Andrew para dançar comigo enquanto absolutamente todos pulavam e dançavam. Explodi de felicidade de ouvir uma música tão besta, mas que me lembravam meus amigos e meu país. Andrew não estava entendendo nada, mas me acompanhou até o meio das pessoas e até se embalou no ritmo da música, que na verdade era uma música conhecida apenas remixada. Dancei feito uma doida, cantando a todos os pulmões. A verdade é que eu não gostava muito de funk, mas quando você está em uma festa americana, cercado só por pessoas que não falam uma singela palavra em português, aquilo era o paraíso. A música acabou e eu já estava sem fôlego, voltamos ao “nosso” sofá dando gargalhadas sobre a minha loucura repentina e expliquei que era apenas pela alegria de ouvir português. Iniciamos uma conversa sobre a tradução de ambas as músicas e eu tentei explicar que não era sobre o que eles diziam e sim sobre a batida envolvente que fazia a gente querer dançar. Ele não comprou muito a minha ideia, então acabei empurrando seu ombro, alegando que ele não compreendia o Brasil.
  A festa estava ficando cada vez pesada, pessoas jogavam-se na piscina, mesmo estando frio, a música tocava frenética, e tinha gente caindo pelo gramado ao nosso lado. Parecia coisa de vídeo clipe.
  - Essa festa foi de 0 a 100 muito rápido, ou nós estamos muito velhos para isso? – Ele perguntou próximo do meu pescoço, pois eu estava olhando na direção contrária da dele. Os pelinhos do meu braço se arrepiaram, e ele notou.
  - Acho que um pouco dos dois, talvez. – Falei rindo. Para falar a verdade, estava começando a ficar com sono. Senti algo ser colocado sobre meus ombros e vi Andrew fazendo o maior cliché de todos: colocou seu paletó sobre meus ombros. Um doce de menino, achando que me arrepiei de frio, quando na verdade foi sua voz ao pé do meu ouvido.
  - Você está a fim de ir embora? Posso falar com seu irmão, se quiser... – Ele acariciou meu ombro sobre o terno.
  - Claro que não, estou de boa. – Falei dando de ombros.
  - Você está morta de sono. Como você mesma me listou no começo da festa, você fez mil coisas hoje das quais não está acostumada. Deve estar morta de cansada. Vamos. - Ele se levantou e me puxou pelos dois braços. Me fingi de mole, fazendo-o rir. – Vamos até o seu irmão.
  Ele me guiou pelas pessoas, segurando minha mão. Subimos para o segundo andar, onde encontrei Tobey conversando com uma mulher muito bonita que eu não conhecia. Andrew falou algo no seu ouvido, e seus olhos azuis encontraram os meus, como se o ponto da conversa fosse eu e era, é claro. Me adiantei e fui até o outro ouvido de Tobey.
  - Pode ficar aí, Tob, vou chamar um Uber. – Falei sorrindo, não querendo incomodar de maneira alguma.
  - Deixa de ser boba, , o Drew te leva. – Ele disse piscando. Só então entendi que Andrew na verdade estava avisando que me levaria para casa, e não pedindo para que Tobey me levasse. Tobey me deu as chaves de casa e eu agarrei com força.
  Andrew me levou em casa, na verdade, seu motorista nos levou, durante o trajeto ele explicou que não gostava de dirigir nos Estados Unidos. Quando o carro parou, na frente do portão da casa de Tobey, virei-me para lhe dar um beijo no rosto, mas ele já estava abrindo a porta do carro para me levar até a porta.
  - Entenda. – Ele disse, notando minha cara surpresa. – Se eu não te entregar sã e salva em casa, amanhã terei o próprio Homem-aranha vindo arrancar minhas bolas.
  Dei uma risada, enquanto ele me acompanhava até a porta. Minha sandália já estava em minhas mãos.
  - Obrigada por ficar ao meu lado hoje. – Falei quando finalmente chegamos, e eu abri a porta. Subi um degrau e ainda assim fiquei mais baixa do que ele.
  - Não foi nenhum esforço, sua presença é muito agradável. E convenhamos que seu irmão estava precisando de uma festa daquelas.
  - Estava sim. Fiquei feliz por ele. – Admiti, colocando as mãos no bolso do paletó que eu ainda vestia, lembrei-me de devolvê-lo. E Andrew, cheio de clichés que eu já havia notado, me veio com essa:
  - Pode ficar, outro dia eu tenho uma desculpa para passar aqui. – Piscou e sorriu, aquele sorriso maldito com os dentes bonitos. Eu adorava homens com dentes bonitos, era algo que me chamava muito a atenção. Ele deu um passo em minha direção, o sorriso parou de repente e seus olhos se fixaram apenas em uma coisa: minha boca, e eu, sendo esperta como sou, lambi os lábios, para ver a reação que ele teria. Meu pai amado, me ajuda nesse momento, porque faz tanto tempo que não beijo que estou com medo de fazer fiasco. Consegui ver um meio sorriso antes de nossas bocas colarem. Não foi o beijo suave que eu achei que seria, Andrew me empurrou para dentro de casa e prensou-me contra a parede, nossas línguas se misturaram e minha mão seguiu para a sua nuca, a outra agarrando o tecido do seu colete em sua cintura. Seu cheiro me deixou desnorteada por alguns segundos e acabei esquecendo como se respira, suas mãos geladas estavam por dentro do seu paletó, tocando minha pele quente. Uma delas apertava minhas costas, me puxando mais para perto e a outra estava na barra inferior do meu vestido, sobre a minha bunda, mas sem ultrapassar o limite permitido que eu havia criado na minha cabeça. Sua língua era ágil e habilidosa, e seus lábios eram macios, tão macios que tive vontade de morder e foi exatamente o que fiz, parti nosso beijo, o fazendo suspirar enquanto dava um leve puxão em seu lábio inferior. Ao invés de voltar a beijar a minha boca, ele desceu os beijos pelo meu queixo, mandíbula e pescoço, onde puxou o ar dramaticamente e falou:
  - Caralho, esse cheiro está me deixando louco a noite inteira. – Não posso fingir que eu estava bem, com aquele sotaque sussurrado no meu ouvido. Minhas pernas já estavam bambas e o meu semblante de mulher brava já estava dando tchauzinho lá da esquina. Eu queria aquele homem, com aquela pegada e aquele pau roçando na minha virilha, no meu quarto agora, me dando o tapa que a minha bunda merecia. Segurei seu cabelo pela nuca e guiei sua boca novamente na minha, sua mão que estava em minha bunda, desceu e me deu um impulso para que eu enrolasse minhas pernas em sua cintura e foi o que eu fiz. Suas mãos automaticamente pousaram em minha bunda e seu tronco ficou colado no meu, e assim pude sentir sua ereção com toda a força possível. Eu sorri entre o beijo, ainda demorando um pouco para aceitar que aquilo estava mesmo acontecendo: Eu estava mesmo beijando Andrew Garfield, beijos estes que estavam deixando ele de pau duro e me fazendo implorar por mais.
  E então, tão rápido quanto o beijo se iniciou, o mesmo terminou. Andrew me deu um selinho molhado, cheirou mais uma vez o meu pescoço, como se quisesse guardar o cheiro para si e se afastou devagar da parede para eu conseguir encostar meus pés no chão com calma. Um medo repentino de que eu não conseguisse me manter em pé tomou conta de mim, mas senti minhas pernas firmes. Não falei nada, mas uni as sobrancelhas quando voltamos à porta e ele riu:
  - Não me entenda mal, Maguire. Eu quero, só queria ter certeza de que você também quer. – Ele lambeu os lábios ligeiramente rosados. – E sei que você está cansada. Podemos continuar isto em algum momento em que você não esteja assim.
  - Você é bem convencido, sabia disso? – Perguntei, juntando a sandália que eu nem sei como foi parar no chão, a sua ereção ainda era visível pela calça sob medida.
  - Sei sim, eu sou convencido e você beija muito bem. Então acho que estamos quites. – Falou ele, afastando-se e abanando para mim quando estava entrando no carro.
  - E quem disse que vamos continuar isso em algum momento? – Tentei me fazer de durona, mesmo que instantes atrás estivesse completamente perdida.
  - Qual é, Maguire, nós dois sabemos que isso não vai acabar aqui. – Piscou e fechou a porta do carro.

Capítulo 03

  Dormi desnorteada. Virei na cama um milhão de vezes, ouvi quando Tobey entrou em casa, tentando não fazer barulho e checou no quarto se eu estava sã e salva. Achei fofo da sua parte, porém me peguei imaginando se por algum acaso Andrew tivesse ficado ali, qual seria a sua reação.
  Acordei e dei uma olhada no meu celular, que até então estava abandonado e sentei-me na cama de supetão. Mais de 50 mil pessoas haviam me seguido àquela noite. Pessoas respondendo meu stories e me enviando directs. No Reels só dava vídeos meus, trechos em que Tobey e eu nos olhávamos e sorríamos cumplices, com frases dizendo:
“Amor de irmãos”
“só quem tem irmão entende esse olhar”
“eu amo os irmãos Maguire”.
  Havia um artigo inteiro no Buzzfeed falando sobre minha vida, e como minha atitude havia salvado Tobey do terrível divórcio.
  Havia vídeos e mais vídeos de Tom Holland e Andrew à minha frente beijando minha mão com os dizeres:
“eu só queria ter a sorte da irmã do Tobey”
“é errado shippar?”
“quero uma fanfic na minha mesa para ontem”
“zendaya cuidado!”
  Havia um artigo completo na E! sobre o meu vestido e minha postura na première.   Fiquei zonza. Num geral as pessoas gostaram de mim, não que eu precisasse de aprovação, mas era terrivelmente assustador ter seu nome divulgado em toda a internet.
  Tobey não tinha redes sociais, o que deixava as coisas mais difíceis. Respondi os direct que eram dos meus amigos e resolvi bloquear a opção de responder stories.
  Desci as escadas e Tobey já estava lá.
  - Bom dia, como foi a noite? – Perguntei querendo saber se ele trouxe a mulher para casa ou não.
  - Na verdade foi ótima, seu irmão não saiu de forma durante esse tempo de casado. – Gabou-se brincalhão e dei um tapa no braço dele rindo.
  - E como foi com o Andrew?
  - Você quer mesmo saber? – Perguntei unindo as sobrancelhas. Estava com preguiça de fazer algo para comer, então apenas acompanhei ele nas frutas que estavam no centro da bancada, e uma boa xícara de café que Beth já havia passado.
  - Sim... Não sei... Talvez? – Perguntou ele arqueando as sobrancelhas sugestivo.
  - Ele foi muito gentil comigo a noite inteira, flertamos bastante... E vou te poupar de qualquer outro detalhe, porque tem coisas que os irmãos não precisam saber. – Tomei um gole rápido de café. E ele riu concordando.
  - E hoje, o que faremos? – Perguntei para mudar de assunto.
  - Hoje você vai conhecer os meus filhos. – Ele disse sorridente, e eu comemorei, pois já havia perguntado tanto deles que Tobey estava ficando chateado de não conseguir me mostrar eles pessoalmente até então. Não é que ele não pudesse, ele podia, mas não queria forçar a ex-mulher dele há nada que pudesse interferir na divisão de guarda que o juiz ainda estava decidindo. Por enquanto a divisão estava duas semanas com cada, o que era a melhor opção para os dois, mas ela poderia entrar com algum recurso dizendo que ele era muito ocupado e que as crianças iam passar mais tempo com babás do que com ele, e isso poderia baixar o tempo de guarda dele consideravelmente se ela conseguisse provar. Ela podia? Não sei, mas ele não queria mexer em time que está ganhando.
  Quando as crianças estavam com ela, os domingos eram dele, e vice-versa.
  Ele preferiu ir buscar as crianças sozinho, e não julguei ele por isso.
  Enquanto esperava ele voltar com meus sobrinhos, sobrinhos... Era estranho dizer isso, eu tomei um bom banho para tirar qualquer resquício de maquiagem que eu não tivesse conseguido tirar ontem, pois estava meio bêbada. Fiz todo meu skin care e fui para a sala esperá-los.
  Um minuto depois que me sentei na sala para assistir um episódio qualquer de The Office, a campainha toca.
  Ouvi os passos de Beth se aproximando para abrir, mas avisei que eu atendia.
  - Finalmente posso tocar a sua campainha e entrar pela porta da frente! – Tom Holland em pessoa falou assim que eu abri a porta e depois ficou quieto quando me viu. – Desculpe, ainda não estou acostumado com você aqui. – E já abriu os braços para um abraço que retribuí. Me peguei pensando em como eles tinham essa ligação estranha, se só haviam feito um filme juntos. Será que era o poder do Homem-aranha unindo esses caras? Porra, ele era o Tom Holland, não tinha amigos não? Parei um segundo, pensando que ele podia se sentir tão confortável, pois ninguém mais entendia o que ele estava passando. E que, finalmente, eu não devia me meter na vida dos outros.
  - Tudo bem. – Apenas falei sorrindo. – O Tob não está, ele foi buscar os filhos para eu conhecer. Quer entrar? Ele já deve estar chegando.
  Ele pareceu pensar durante um instante.
  - Acho melhor não, não quero me intrometer no lance de família de vocês. – Eu podia dormir com ele lendo um livro com esse sotaque maravilhoso. Harry Potter, talvez? Eu amava como eles falavam Poh-Er.
  - Você sabe que não vai intrometer, certo? – Perguntei sabendo que Tobey não ia se incomodar.
  - Eu vou sim, eu tenho esse problema, sabe? Que eu não consigo saber o quanto eu estou incomodando. Mais tarde eu volto, ou outro dia. É só que estou com uma ótima notícia e quero contar a ele de primeira mão. – Tom pareceu empolgado, e até ligeiramente ansioso.
  - Tem certeza? – Perguntei levantando uma sobrancelha.
  - Tenho sim, pequena Maguire. Até outro dia. – Falou ele, me dando um beijo no rosto e saindo tranquilamente até seu carro.
  - Vou avisar Tobey que esteve aqui. – Falei um pouco mais alto para ele ouvir, e ele fez um joinha com a mão antes de entrar no carro.
  Aquela cena me fez lembrar de ontem, e me fez pensar em como duas pessoas podiam ser tão diferentes.

  Devo admitir que eu não pesquisei muito sobre a vida dos meus sobrinhos antes de encontrá-los pessoalmente, porém eu estava esperando crianças. Crianças de até 10 anos no máximo.
  Meu irmão trouxe uma adolescente de 15 anos e um pré-adolescente de 12 anos de idade, eu não fazia ideia do que eles gostavam e o que eles não gostavam. Por sorte, depois que Tom foi embora, ao invés de assistir televisão, eu resolvi ir fazer um bolo para recepcioná-los e isso acabou quebrando um pouco o gelo.
  - Por que você não me contou que eram dois adolescentes? – Cochichei para Tobey enquanto nós dois olhávamos, encostados na pia, aqueles dois lindos espécimes de grandes olhos azuis e cabelos loiros que caíram em cachos largos.
  - Eu achei que você sabia! – Ele se defendeu, porém, falando no mesmo tom que eu.
  - Eu não sei lidar com adolescentes, principalmente com adolescentes que não criei. Do que eles gostam?
  Otis havia adorado o bolo, pois estava na terceira fatia. Ruby comeu apenas uma, e agora olhava no seu celular, entediada. Senti o desespero subir minha cabeça em menos de um segundo: Eu seria a tia chata!
  - Otis, vai devagar no bolo. Não quero você tendo outra indigestão. – Tobey falou rindo, e Ruby também riu.
  - A última vez, Otis cagou na calça. – Ruby disse olhando para mim e caindo na gargalhada. Dei uma risada também, mas me segurei para que Otis não achasse ruim.
  Ele virou-se de frente para mim e disse:
  - É que eu adoro bolo. – A boca estava toda lambuzada da cobertura de ganache que eu havia feito. – Foi você que fez?
  Concordei com a cabeça.
  - Uau, você pode fazer outro de tarde? Para eu levar pra comer na mãe. – Ele disse encantado.
  - Só se você me ajudar. – Fiz essa tentativa e ele gostou da ideia.
  Tobey olhou para mim com orgulho, como quem diz “Viu só? Você tem jeito”.
  - Nossa! Essa daqui é você? – Ruby disse, virando o celular para nós, na tela do celular, a foto que aparecia era Tom me abraçando, ela deslizou o dedo sobre a tela e depois apareceu a foto em que os dois estavam beijando minhas mãos.
  - Ruby tem um crush no Tom. – Tobey me informou cochichando. Apenas assenti disfarçadamente.
  - Essa sou eu sim. – Falei, colocando cabelo para trás da orelha, meio sem graça.
  - Que sortuda! Eu queria ir em uma première assim, mas o papai nunca nos leva! – Ela bufou, largando-se sobre a mesa.
  - O pai de vocês não leva, porque a mãe de vocês não deixa. – Tobey falou simplesmente, dando de ombros.
  - Bom, talvez ela esteja certa e este não seja o melhor lugar para vocês irem. É muita invasão de privacidade. – Falei dando de ombros também. – Eu fui, e hoje na internet só aparece essas fotos, pessoas misturando meu sobrenome com o deles, e criando teorias de que eu deveria namorar com eles. Talvez, só talvez, eu acho que vocês estão muito novos para esse tipo de relação com a internet. – Expliquei, e Ruby deu de ombros, como quem diz “Whatever”.
  - Então você conheceu o Tom? Como ele é pessoalmente? Papai só diz que ele é um banana. – Falou ela e Tobey caiu na risada.
  - Não fale isso para os outros, querida. – Advertiu ainda rindo.
  - Ele é um amor de pessoa. Falando nisso, esteve aqui meia hora antes de vocês chegarem. Disse que tinha uma novidade para te contar, e que talvez voltasse aqui hoje mesmo. – Falei mais para Tobey do que para Ruby.
  - Ah, papai, chama ele para vir aqui! Antes que ele vá embora para Inglaterra. Vai que ele se apaixona por mim! Por favor, por favor! – Ruby suplicou, enquanto o irmão ainda se empanturrava de bolo.
  - Ele é dez anos mais velho que você, querida, e ele está namorando, lembra? – Explicou Tobey, enquanto tirava o resto de bolo da mesa e colocava na geladeira.
  Ela voltou a ficar emburrada, como uma adolescente normal. Otis, que até então não havia dito nada além de elogiar o bolo e pedir mais, levantou o moletom que usava e mostrou à todos o tamanho da barriga espichada dele. Caímos na gargalhada.
  Por fim, seria mais fácil do que eu estava realmente preocupada. Era só entender o que era BTS, Tiktok, Harry Styles (em carreira solo, pois fiquei sabendo que One Direction já estava ultrapassado) e, por algum motivo que eu não havia entendido, o novo desenho da Disney chamado Encanto estava bombando no Tiktok, então, como pai e tia obedientes, assistimos ao filme enquanto Otis e Ruby fizeram as dancinhas que estavam em alta no aplicativo. Passamos o dia inteiro com eles, ensinei-os a falar algumas palavras em português, Tobey e eu contamos da nossa história e no fim da tarde, eu e Otis fomos fazer o bolo, enquanto Tobey e Ruby conversavam sobre qualquer aleatoriedade.
  Otis ficou absolutamente encantado com minha habilidade na cozinha e me admitiu que adorava tudo relacionado à cozinha, que ele gostaria muito de fazer um curso, mas que a mãe dele não o incentivava pois não era uma “boa profissão”. Me frustrei por um segundo, corri para o segundo andar, peguei meu dólmã, meu toche blanche que estavam na minha mala e levei a ele.
  Fiz ele vestir a roupa, e por um momento achei que fosse a criança mais feliz do mundo, correu na sala para mostrar ao pai e à irmã, fez pose para as fotos e disse que queria um igualzinho quando crescesse. Meu ego e minha felicidade foram às alturas. Tobey olhou para mim do outro lado da sala com os olhos marejados.
  Fizemos o bolo juntos, ensinei ele a usar uma batedeira planetária e o dosador, fiz ele me prometer que não ia contar à mãe dele que eu deixei ele usar uma faca de verdade, e o ensinei a cortar o chocolate para ficar em lascas. Ele deu a sugestão de usarmos morango no recheio e foi isso que fizemos. No final, virou um naked cake de chocolate com morango. O bolo ficou tão lindo que Ruby fez um Tiktok exclusivamente para apresentar o bolo que o irmão e a tia dele fizeram, onde ela deixou bem explícito que eu era a tia que fez o Tom Holland e o Andrew Garfield se curvar diante de mim. Não neguei e não pedi para ela excluir essa parte, ela queria engajamento com os seguidores, eu queria engajamento com meus sobrinhos.
  Já eram 20h quando Tobey saiu para levá-los, fiquei limpando a bagunça que fizemos na cozinha.
  - Sra. Maguire, pode deixar que eu limpo a bagunça. – Beth veio até mim, tentando me enxotar da cozinha. Dei uma risada.
  - Beth, de onde eu venho, quem faz a sujeira faz a limpeza. Não se preocupe comigo, pode ir. – Falei querendo ser simpática e ela aceitou de bom grado.
Quando ela estava saindo da cozinha, a porta da frente tocou.
  - Pode deixar que pelo menos isso eu faço. – Ela disse sem graça e seguiu até a porta.
  Um minuto depois ouvi aquele sotaque que já me soava familiar.
  - Ouvi dizer que você fez um bolo e tanto.
  Virei-me apenas para mostrar minhas mãos sujas de sabão como desculpas para não o cumprimentar corretamente.
  - Dá até para escolher, tem de chocolate e chocolate com morango, aceita um pedaço? – Perguntei de costas para ele. Eu usava um short “mom” jeans de cintura bem alta e uma blusa com estampa de melancias por dentro do short.
  - Olha, se não for muito trabalho, vou aceitar um pedaço do de chocolate com morango. – Ele disse, com as mãos dentro do bolso da calça encostado no batente da porta da cozinha.
  - Pelo amor de Deus, Tom, entre e fique à vontade. A casa não é minha, mas você a conhece melhor do que eu. Tob já deve estar vindo. – Eu disse, agoniada com toda aquela formalidade dele. Ele ficou em silêncio, mas sorriu enquanto puxava uma banqueta para se sentar.
  Sequei as mãos, eu não gostava de servir as coisas malfeitas, sou uma cozinheira sous chef de um restaurante renomado e ganhador de uma estrela Michelin, ainda mais para uma pessoa como Tom Holland. Por este motivo, peguei um morango na fruteira, uma faca no meu estojo e fatiei o morango em menos de um minuto, de modo que ele ficou parecendo um leque. Peguei um prato branco, cortei uma fatia generosa do bolo, acomodei o morango ao lado e peguei dentro da geladeira, uma bisnaga com o restinho da geleia de morando que havia sobrado do bolo e fiz um risco certeiro no lado da fatia, de modo que o prato ficou parecendo um quadro contemporâneo.
  Tom estava boquiaberto.
  - Como você fez isso em menos de um minuto? – Perguntou, enquanto eu apenas dava de ombros, depois de me gabar na frente dele daquele jeito. A verdade era que eu amava cozinhar, então qualquer oportunidade que eu tinha de fazer algo bem-feito, eu fazia.
  - É prática, não precisa ficar achando que é algo fora do normal. – Falei, indo pegar um garfo para ele na gaveta de talheres.
  - Foi muito bom! Confesso que fiquei com um pouco de medo desse kit de facas. – Ele disse, pegando um pedaço do bolo. Fechou os olhos e mexeu a cabeça para os lados como se estivesse curtindo a vibe. – Meu Deus que bolo... – Nem terminou a frase pois já enfiou outro pedaço na boca.
  Eu sorri vitoriosa enquanto ele terminava o pedaço.
  Terminei a louça rapidamente enquanto ele comia o bolo, e enquanto passava um paninho na pia, ouvi a sua voz tão perto de mim, que acabei dando um pulo:
  - Esse bolo foi a segunda melhor coisa que me aconteceu hoje. – Ele disse enquanto colocava o prato na pia, sem maldade. Fiz a desentendida e não lavei o prato, pois a pia já estava impecável.
  - Sério? E qual foi a primeira? – Perguntei cruzando os braços, vendo-o voltar ao seu lugar à bancada.
  - Estou esperando seu irmão chegar para contar. – Ele fechando os olhos como quem diz “espera, e verás”.
  Sentei-me junto para lhe fazer companhia.
  Eu não tinha assuntos para puxar com ele, ficamos em um silêncio constrangedor por volta de um minuto até ele quebrar:
  - Você viu as fotos de ontem? Ficaram ótimas, você estava linda. – Ele disse sem graça, olhando a própria mão enquanto dizia.
  - Ah, obrigada. Você também estava. – Falei tão sem graça quanto ele. – Você fica ótimo de óculos, devia usar mais vezes. – Não o deixei responder. – Eu vi algumas fotos sim, alguns vídeos também, na verdade fiquei meio assustada em como a internet é rápida nesse quesito.
  - Você se acostuma logo. Eles gostaram de você, você é exótica, é completamente diferente do seu irmão, então é carne fresca para comentarem. Ontem a novidade era Tobey e Andrew, então foi normal que eles focassem em você também. – Ele disse, dessa vez olhando para mim. – E o seu vestido, com as cores do Homem-aranha só fez tudo ficar ainda mais divertido.
  - O vestido foi ideia do Tobey. – Admiti. – Você toma alguma coisa? Quer uma cerveja? Acho que tem aqui em algum lugar... – Falei enquanto levantava para pegar na geladeira.
  - Vou aceitar, preciso comemorar.
  - Você está deixando muito suspense no ar, estou ficando com medo dessa notícia. – Peguei duas long neck que havia na geladeira, abri com o auxílio de um pano e entreguei uma à ele que logo levou a mesma à boca para tomar um gole.
  - NÃO! – Gritei mais alto do que deveria e ele paralisou com a garrafa encostada na boca. – Bebeu sem brindar, dez anos sem transar!
  - O quê?
  - É algo que só faz sentido no Brasil, pois tem rima, mas é algo muito sério. – Falei levantando minha garrafa até ele que, ainda meio assustado, brindou comigo.
  - Você me assusta, sabia? – Ele bebeu um gole da cerveja, me olhando com as sobrancelhas unidas. – Dez anos sem transar... Isso não faz sentido nenhum.
  - Bom, e que dá azar se beber sem brindar. Você não sabia? Nesse caso, o azar é ficar dez anos sem transar.
  - Dez anos sem transar é um absurdo! – Ele disse indignado.
  - Quem ficou dez anos sem transar? Você? – Tobey entrou na cozinha de supetão, dando um susto em nós dois.
  - Sua irmã está lançando uma praga brasileira em mim. Disse que vou ficar dez anos sem transar. – Tom resmungou, bebendo mais um gole.
  - Bom, você já passou 25 anos da sua vida sem transar, o que são mais dez? – Tobey brincou, me fazendo rir e Tom arremessou a tampinha da garrafa nele.
  - Vão se foder vocês dois, estão tirando sarro com a minha cara!
  Tobey nos acompanhou na cerveja, e colocou um pacote de amendoim no nosso meio para beliscarmos. Tom estava completamente ansioso, mas aguardava Tobey sentar conosco para iniciar a conversa, por um momento me senti uma intrusa:
  - Tom, você prefere que eu saia? Estou sendo completamente invasiva.
  - Claro que não, mas será que você não poderia colocar uma musiquinha para animar? – Comentou ele, sorrindo.
  Fui até a Alexa mais próxima e pedi para ela tocar “No scrubs” na casa inteira, esta música vagava pela minha mente desde ontem à noite e nada fazia ela sair, talvez escutá-la fizesse com que saísse. Voltei até a cozinha e ele me aguardava para dar a notícia. Tobey arqueou as sobrancelhas e levantou os ombros como quem diz “Tô entendendo nada”.
  - Então... – Ele esfregou as mãos. – Minha assessora me ligou hoje de manhã e disse que eu e Zendaya estamos livres para terminarmos o namoro. Que temos apenas que dar uma entrevista para algum meio de comunicação famoso, ela deu uma lista, para nos explicarmos melhor, dizer que não havia química, ou algo assim e pronto! Eu estou livre!
  Tobey e eu aplaudimos. Tobey inclusive levantou e eles se abraçaram, um abraço longo que encheu os olhos de Tom de lágrimas.
  - Você não sabe como é difícil. – Tobey disse para mim. – Só quem já esteve em uma relação dessas sabe como é, você estar preso por um contrato milionário, fazer aparições e entrevistas falsas, não poder se envolver com ninguém enquanto o contrato não for revogado, por medo que a imprensa veja algo de estranho.
  - Eu amo a Zen, amo de verdade do fundo do meu coração. – Tom complementou. – Ela é sensacional, uma mulher excepcional, mas quando a gente se beijava, eu sentia como se estivesse beijando um irmão meu. Não uma irmã, um irmão mesmo, de tão forte que a nossa ligação como amigos era. Ela sente exatamente o mesmo, por sorte a gente ainda se gosta. Seu irmão não pode dizer o mesmo.
  Olhei para Tobey com pena nos olhos e ele os baixou imediatamente.
  - Eu nem se quer gostava de Kirsten, ela era uma colega de trabalho e nada mais. Foi bem difícil manter as aparências... Por sorte a internet não era como é hoje, se não com certeza teria sido mil vezes pior. – Ele tomou um gole da cerveja. – Me lembro perfeitamente do dia em que me falaram que podíamos terminar, foi um alívio absurdo.
  - Eu nem consigo imaginar, é pior do que um relacionamento abusivo. – Falei por fim.
  - O relacionamento abusivo está nas entrelinhas dos contratos. São preços a se pagar pelo sucesso. Infelizmente os tabloides ainda mandam bastante. – Tobey disse intercalando com a cerveja. – Filmes que têm público adolescente é muito normal de acontecer. Lembra de Crepúsculo? Da Stewart e o Pattinson? Mesma coisa.
  - E o Andrew e a Emma? – Finalizei minha cerveja e levantei-me para despistar minha curiosidade.
  - Ah não. – Tom falou, como se eu tivesse ofendido. – Eles foram de verdade. Andrew sente até hoje.
  Peguei uma cerveja para cada.
  - O deles foi real. Teve contrato, mas não teve mentira. – Tobey explicou melhor.
  - Pessoa certa, momento errado. – Tom disse, aceitando a cerveja que ofereci.
  - Como assim momento errado? – Perguntei.
  - Você nunca ficou com uma pessoa, que depois pensou “Se eu tivesse conhecido essa pessoa com uns 35 anos, eu casaria com ela, hoje ainda não estou pronta para casar”? – Tobey me perguntou, terminando a cerveja que tinha nas mãos.
  - Não. Acho que ainda não encontrei essa pessoa. – Falei sincera, dando de ombros.
  - Bom, um dia você vai conhecer. E você pode ter certeza de que Drew ainda pensa nisso quando deita a cabeça no travesseiro algumas noites. Emma era a sua alma gêmea. – Tom disse, dando um suspiro longo e romântico. – É por isso que ele não está aqui hoje. Ele não tem a mesma história que nós, não se conectou como nós.
  - Bom, se for parar pra pensar, quem mais deve ter sofrido foi ele. O de vocês, teve mentira e sofrimento. O dele teve verdade e sofrimento. Vocês sabiam que o de vocês ia acabar em algum momento, ele não queria que acabasse e acabou. – Falei levantando uma das sobrancelhas, enquanto eles se entreolharam.
  - Nunca pensei por esse lado. – Tom falou, sem graça.
  - Pensem bem, são situações opostas. Vocês estavam infelizes durante o relacionamento, ele estava extremamente feliz. No término, vocês explodiram de felicidade, já ele... – Deixei a frase no ar. Andrew parecia muito bem, no tempo em que passamos juntos, afinal já fazem alguns bons anos que o relacionamento dele com Emma acabou, porém nunca se sabe o que se passa dentro da cabeça de cada um. Espero realmente que ele esteja bem.
  Por pelo menos um minuto, todos ficamos em silêncio apreciando nossas cervejas e a música, que já havia mudado para “Tongue Tied”.
  - Essa música me deixa feliz, vamos fazer uma festa para comemorar? Chamamos só os mais chegados. Preciso extravasar essa alegria sem fim que está dentro de mim! Vai ser a primeira festa em que vou estar solteiro em um bom tempo. – Tom disse, entornando a cerveja que eu havia dado de uma só vez.
  Tobey, o recém divorciado que parecia ter voltado aos 20 anos, fez exatamente a mesma coisa, batendo a cerveja com força sobre a mesa:
  - Vamos! Eu preciso de festa. Sou um recém divorciado, porra!
  - Vocês parecem duas crianças. – Falei fingindo que não ia adorar uma festa com aqueles dois.
  - Você pode ficar feliz, nós vamos convidar o Andrew... – Tobey disse e levantou-se rápido para se esconder. Levantei a mão para lhe dar um tapa, mas ele escapou. Dei uma olhadela para Tom, que sorria sem qualquer tipo de manifestação de ciúmes. O que era óbvio. – Brincadeira maninha. – Beijou o topo da minha cabeça.
  - É claro que vamos convidar ele, estou com peso na consciência depois do discurso que você nos deu sobre ele estar na pior, sem superar a Emma.– Tom riu e Tobey o acompanhou.
  - Eu não disse que ele estava na pior, só disse... Ah, vocês entenderam! – Eles caíram na gargalhada.
  Ficou decidido: Na quarta-feira teríamos uma festa na casa de Tobey, e até o fim de semana teríamos mais uma festa que não ficou decidida onde.
  - Temos mais uma festa para organizar, mas essa tem que ser com tempo. – Olhei sugestiva para Tobey e ele pareceu pensar por tempo demais.
  - Seu aniversário? – Tom sugeriu, e Tobey arregalou os olhos, envergonhado.
  - Claro. Dia 14 de fevereiro. – Tobey fez questão de falar a data para me mostrar que sabia.
  - No Dia dos Namorados? – Tom perguntou intrigado.
  - No Brasil não é Dia dos Namorados, então para mim é só mais um dia. – Expliquei e ele ficou animado.
  - Vamos fazer uma festa temática! Não necessariamente do Dia dos Namorados, mas você tem que fazer. – Tom disse mais empolgado do que eu esperava. Ou ele era muito empolgado com festas, ou estava muito empolgado para passar o Dia dos Namorados solteiro. Mas, pelo que eu me lembre, o Dia dos Namorados nos Estados Unidos é uma festa meio triste para os solteiros, porém isso podia muito bem ser apenas uma versão boba de filmes de romance que eu havia criado em minha cabeça depois de muitas comédias românticas assistidas.
  - Só se você vier vestido de cupido. – Falei sorrindo persuasiva, piscando um dos olhos e mordendo levemente a ponta da língua. Tom mordeu o lábio inferior, unindo as sobrancelhas.
  - E trabalhar como pombo correio a festa inteira levando cartinhas de uma pessoa a outra sem contar quem foi. – Tobey disse, no mesmo tom que eu, desafiando-o com uma sobrancelha levantada.
  - Ela já tinha me convencido, cara. Você não precisava ter tentado ser sexy para cima de mim.
  Conversamos mais um pouco e acabamos decidindo que minha festa seria sim temática do Dia dos Namorados, com corações vermelhos e rosas por todos os cantos, haveria um stand onde as pessoas escreveriam bilhetes e um cupido que não precisaria ser necessariamente Tom faria as entregas. Haveria também, exigências de Tobey, um stand onde alguém faria todos os tipos de drinks que eu quisesse, para que ninguém mais me pedisse este tipo de coisas durante minha própria festa. Tobey deixou à vontade para eu pedir o que quisesse, então solicitei que houvesse docinhos brasileiros do modo mais tradicional possível, brigadeiros, beijinhos, cajuzinhos, casadinhos, e leite ninho com Nutella e, é claro, a playlist devia ter algumas músicas brasileiras para que eu pudesse cantar quando estivesse bêbada.
  Os dois gostaram das ideias e Tobey anotou tudo em um app no seu celular, para que lembrássemos de tudo depois, criou um lembrete com a Alexa para não esquecermos da festa, como se fosse possível depois de tantos planos.
  Meu coração ficou quentinho depois de todo esse planejamento, seria a última semana que eu passaria aqui e seria muito bom passar no aniversário com Tobey depois de tantos anos.
  Eu sentia que nosso laço estava mais forte do que nunca, e seria eternamente grata por aquela ligação que ele fez e mudou completamente a minha vida.

Capítulo 04

  Mais um dia se passou, Tobey me levou para passear, visitamos alguns lugares históricos e compramos uma Polaroid em uma loja de esquina para marcarmos alguns momentos juntos. Pedimos para as pessoas baterem fotos nossas, compramos óculos iguais e sorvetes, fizemos careta e rimos até nossas barrigas doerem. Nunca achei que eu estaria neste lugar um dia, sendo feliz e rindo com meu irmão enquanto nos divertimos de verdade e tentávamos apagar tudo o que havia passado.
  Eu já sentia um amor nele que era difícil descrever, não achei que ia esquecer do passado tão rápido, mas ver que ele ainda era o irmãozão que eu ainda lembrava fazia meu coração ficar quentinho. Tantas noites que passei em claro, pensando em minha mãe, em como ela havia sido forte, e agora ao lado dele, eu via ainda mais o quanto ela sofreu para esquecer, também, o filho que ela nunca teve, mas que também apagou da sua vida. Tobey era amigável, carinhoso e gentil, o completo oposto do que os paparazzi normalmente registravam dele. Ele parava para bater foto com fãs e assinar papéis, as crianças apontavam para ele e acenavam, e o sorriso em seu rosto nunca saia de lá. Mas o encontro com qualquer fotógrafo escondido o fazia fechar o rosto imediatamente e resmungar baixinho até supostamente estarmos fora de vista. Acabei me acostumando, mais facilmente do que esperava, com essa vida de irmão famoso, já que para mim, ele era apenas o meu irmão mais velho.
  Algumas horas depois de voltarmos de nosso passeio, fotos nossas já estavam na internet, títulos exagerados e atraentes estavam no topo das manchetes de colinas bobas de fofoca:
“Irmãos Maguire se divertem durante tarde ensolarada de inverno;”
“Veja 10 motivos para amar os irmãos Maguire;”
Maguire e as suas tatuagens descoladas;”
Maguire, tudo o que você precisa saber sobre a meia-irmã de Tobey Maguire;”
  Cliquei nesta última opção por curiosidade e acabei vendo bobagens das quais eu já esperava:
" , 28 anos, é a mais nova queridinha do momento, depois de aparecer de surpresa no Met gala acompanhando seu recém-divorciado irmão Tobey Maguire, a brasileira arrancou suspiros de toda a plateia mostrando toda a sua simpatia ao lado de todo o elenco do filme Homem-Aranha: Sem volta para casa. Além da beleza exótica, a moça mostrou um bom gosto e requinte utilizando um vestido modificado especialmente para a premiere do filme, com maquiagem e cabelos que disputavam frente a frente com ninguém mais do que Zendaya.
  Continue lendo abaixo para saber todos os detalhes da vida dessa mulher que arrasou com o coração de todos os fãs que foram à premiere para ver Tobey Maguire e se surpreenderam com a agradável surpresa"
  O artigo seguia com detalhes inexplicáveis sobre a minha vida, inexplicáveis pois eu não sabia como haviam desenterrado tantas coisas sobre mim. Não costumo utilizar muito as redes sociais com exceção do Instagram, então acabei me preocupando com os meios de investigação. De qualquer maneira, não me importei muito com aquilo, mesmo sabendo que era por estes motivos que meu irmão abominava os paparazzis.
  - Sei que você não se preocupa muito com isso, mas me desculpe por todo esse incômodo que estão te dando na mídia. Você sabe que não suporto isso, certo? Mas infelizmente não tem como lutar, eles são invencíveis. - Tob disse, colocando a cabeça para dentro do meu quarto, depois de dar uma batidinha na porta.
  - Não se preocupe com isso, não vou dizer que é a vida que eu pedi, mas não me arrependo de ter vindo. - Respondi e ele sorriu amigavelmente.
  - À noite vou te levar para comer sushi, o que acha? - Perguntou ele, ainda apenas com a cabeça na porta.
  - Acho ótimo, você sabia que eu amo culinária japonesa? - Perguntei, pois não lembrava de ter dito.
  - Não, aprendi lendo o artigo sobre 10 curiosidades sobre ti. - Ele disse dando risada enquanto eu arremessava uma almofada.
  Tomei banho e me arrumei para irmos ao restaurante, escolhi uma calça jeans rasgada e um cardigã listrado com cores pastéis. Amarrei meu cabelo em uma cola bem alta e soltei alguns fios próximos da orelha. Nada de maquiagem.
  Desci as escadas ao encontro de Tobey e percebi que o mesmo não estava sozinho. Meu coração deu um pulo forte em meio aos batimentos normais quando avistei aquele sorrisinho travesso novamente: Andrew.
  Beijei seu rosto enquanto ele me analisava dos pés à cabeça com aqueles olhos bondosos, mas ardilosos que tinha. Seu cheiro estava maravilhoso, o que eu supus ser algo recorrente.
  - Drew apareceu de surpresa, quer te perguntar algo. - Tobey sorriu sacana para mim. E eu uni as sobrancelhas e cruzei os braços, dando minha atenção à Andrew.
  - Bom, eu gostaria de saber se você se interessaria em ir à Premiere de Tick, Tick, Boom... como minha acompanhante. Não se sinta pressionada, é que eu tenho direito à acompanhante, mas não tenho necessidade disto. Só achei que você fosse gostar, já que acompanhou seu irmão nesse fim de semana e… - Sua voz foi sumindo aos poucos.
  - O que você acha, Tob? - Perguntei dando atenção à Tobey, eu não sabia o que pensar. Não sabia se era bom ou ruim. A opinião sincera de Tobey seria uma grande ajuda. - Seja sincero.
  - , não vejo por que não. Vocês dois se deram bem desde o primeiro momento que se encontraram. A não ser que você ache que seja um problema, não tenho motivos para você não ir. - Tob disse dando de ombros e coçando a cabeça. Eu via sinceridade no seu olhar e, na verdade, via também um olhar brilhante que talvez dissesse "seja você mesma".
  - Quando é? - Perguntei unindo as sobrancelhas e olhando no fundo dos olhos castanhos daquele estranho que havia me prensado contra a parede alguns dias atrás. Os pelinhos do meu braço se arrepiaram, por sorte não estavam à vista.
  - Quinta-feira. Na verdade, é na sexta, mas teríamos que sair daqui na quinta. - Ele respondeu, colocando as mãos na cintura. - Ei, está tudo bem se você não quiser ir, de verdade. É só que gostei da sua companhia no fim de semana, e achei interessante repetir a dose.
  Eu via sinceridade no seu olhar, não sei como essa minha leitura de personalidades funciona, mas não costuma falhar.
  Bom, vamos aos fatos, primeiro de tudo: não sou comprometida, segundo: ele aparentemente também não, terceiro: se ele está chamando, não é só por educação, pois ele podia simplesmente nem mencionar nada disto e eu provavelmente nem ficaria sabendo, quarto: ele era um cara lindo, cheiroso, charmoso, famoso e absolutamente tentador e quinto: eu não conseguia encontrar motivos para não ir.
  - Claro, por que não? - Falei levantando as mãos e sorrindo. Andrew soltou ar pela boca e sorriu tão abertamente que guardei aquela imagem em uma caixinha separada em meu cérebro. Tobey sorriu também e o convidou para ir conosco comer sushi. Andrew negou fervorosamente, dizendo que tinha compromissos e agradeceu-me.

  Passei o jantar inteiro avoada, minha cabeça nas nuvens enquanto Tobey fazia os pedidos.
  - Você está bem? – Perguntou ele, unindo as sobrancelhas, enquanto passava um pouco de wasabi sobre o seu salmão.
  - Estou sim, só estou... – Perdi as palavras. – Avoada? Minha cabeça ainda não digeriu o convite de Andrew. Está tudo indo tão rápido.
  - Se você não está confortável com isso, posso ligar para ele, ou passar o número dele para você. Ele é estranho assim mesmo, você se acostuma. Ele é um cara do bem. Só gostou de você. Ele e Tom, para falar a verdade.
  O encarei, virando a cabeça ligeiramente para esquerda, mostrando minha confusão.
  - Ah , qual é. - Riu da minha cara. – Os dois estão caidinhos por ti, por que você acha que Tom aceitou se vestir de cupido no seu aniversário? Por que você acha que Andrew veio pessoalmente te chamar para acompanhá-lo?
  - Por que eles estão sem opção? – Sugeri, pegando um pouco de gengibre e colocando sobre meu sushi e o colocando na boca.
  - Na verdade é o oposto, opção eles têm de monte. Agora uma opção bonita, conhecida, que não é famosa a ponto de causar um escândalo, porém confiável o suficiente para saber que não vai sair correndo para o jornal local contando o que vocês fizeram e onde... – Ele disse, e suspirou no final. – Você não sabe como é difícil encontrar alguém assim. Por isso entendo o fato deles estarem encantados por você.
  - Eles não estão encantados, Tob, para com isso. Que besteira. Eu estar encantada por eles é algo entendível. O contrário é, no mínimo, absurdo. Eu sou a , lembra? A garota caipira do sul do Brasil que nunca havia andado de metrô até os 20 nos de idade.
  - ... – Ele iniciou a fala.
  - Pode me chamar de . – O interrompi. Desde a primeira ligação que ele me fez no ano passado, ele não me chamava mais pelo apelido, achei que já estava na hora de devolver esse crédito.
  Juro que pude ver seus olhos brilharem, Tob segurou minhas duas mãos sobre a mesa e baixou a cabeça sorrindo, porém quando levantou, as lágrimas corriam teimosas por suas bochechas.
  - Ei. – Chamei-o e fiz carinho em suas mãos. – Não é grande coisa.
  - É sim, . Quando você falou aquilo para mim, foi um chamado. Meu coração de despedaçou, sabe? Obrigado por estar dando essa oportunidade de me montar de volta. Isso é muito importante para mim.
  - Você é importante para mim também. – Olhei em seus olhos e tudo que pude ver foi orgulho e admiração. Meu sentimento era recíproco.
  - Você é uma das mulheres mais incríveis e talentosas que eu já tive o prazer de conhecer. Não se subestime. Se empodera e faz aqueles dois paspalhos comerem areia por você.
  Terminamos de comer e continuamos falando aleatoriedades até o restaurante quase fechar.

  No dia seguinte, Tob adiou a festa que havia combinado com Tom para o fim de semana, já que nem eu nem Andrew estaríamos presentes e Tom pareceu aceitar numa boa. Fomos também atrás de um vestido para eu usar, e contratamos os serviços do mesmo cabelereiro e da mesma maquiadora, eles viajariam até o hotel que ficaríamos para me preparar.
  À tarde Tobey iria em uma entrevista/podcast para falar oficialmente pela primeira sobre o filme, resolvi ficar em casa. Não queria parecer a pessoa intrometida que ia a todos os lugares para procurar holofotes.
  Fiz uma ligação para minha mãe para matar as saudades e depois liguei para meus amigos também, para eles contei os babados mais fortes.
  A semana seguiu sem muitas novidades, com exceção da internet completamente devastada pelo iminente término de Tom e Zendaya, que foi meticulosamente medido pela internet, cada palavra que eles falaram no anúncio. Alguns diziam que eles estavam apenas fazendo aquilo para chamar mais a atenção para o filme, outros diziam que não era verdade e sim apenas uma piada de mau gosto, e outros até citaram meu nome maldosamente como o motivo de tudo. Tive que puxar todo o ar do mundo para engolir esse comentário desnecessário. Por sorte, nem eu seguia Tom nas redes sociais e nem ele me seguia, o que acabou acalmando os nervos dos internautas investigadores.
  Quinta-feira chegou, e com ela uma ansiosidade dentro de mim que eu não sabia como tirar, depois do meio-dia, minhas malas estavam feitas, e meu vestido devidamente embalado estava deitado sobre o sofá.
  Tobey me abraçou sorrindo, dizendo coisas bobas como “minha menininha está crescendo” e “estarei contando os dias para ver minha abobrinha de volta”.
  Andrew passou por ali à tarde, me ajudou a colocar as coisas dentro com carro junto com o seu motorista. Me despedi de Tobey e entrei no carro, o coração à mil. Na minha cabeça eu só ouvi a voz de Tobey dizendo “Se empodera e faz aqueles dois paspalhos comerem areia por você”, será que eu tinha capacidade para isto?
  - Parabéns pelo Globo de Ouro, foi muito merecido. – Falei assim que entramos no carro, ele sorriu singelo.
  - Obrigado, não dei muita bola, pois o boicote é real e tem que ser ouvido. Mas obrigado mesmo, fico lisonjeado de saber que você assistiu ao filme. – Ele disse, expressando-se com as mãos. Ele tinha esse costume. Mais uma nota mental: Seu sotaque era tão gostoso quanto o te Tom, não era tão carregado, mas era maravilhoso.
  - Nossa, fico muito feliz em saber que o boicote foi algo geral, obrigada por fazer parte disso. – Eu sorri realmente agradecida e ele sorriu sem mostrar os dentes, virando o rostinho para o lado. Meu coração derreteu.
  - Qual a cor do vestido? – Andrew trocou de assunto. Seu cabelo estava bagunçado e ele usava óculos escuros.
  Eu usava um casaco fininho sobre uma regata básica preta com um decote quadrado, calça jeans e chinelos amarelos. No rosto eu usava meus óculos escuros em forma de coração que comprei com Tobey alguns dias antes, era como um Ray-ban aviador, só que em forma de coração, um charme.
  - Roxo escuro, vinho. – Falei o olhando pelas janelas iríamos para o aeroporto. Seria minha primeira aparição com um deles sem a presença do meu irmão. Ele pareceu notar que eu estava nervosa e apertou minha mão.
  - Relaxa, viu? Não estamos fazendo nada de errado e você não deve satisfação a ninguém. – Apertei de volta sua mão e, ah Jesus, aquele cheiro. Eu teria que aturar aquele perfume dentro de um avião durante uma hora e meia. Eu podia, certo?
  No aeroporto, não tiramos os óculos, por sugestão dele e seguimos discretamente ao check-in.   Na fila para passar no detector de metais, uma criança o reconheceu e um pequeno falatório se iniciou até ele ir cumprimentar a criança com um soquinho. Estávamos de máscara e óculos e ainda assim ele era reconhecido! Eu nunca reconheceria nem o Roberto Carlos em pessoa se ele aparecesse assim na minha frente.
  Antes de embarcarmos, batemos uma foto com uma das aeromoças (ela quis que eu participasse da foto) e aquilo foi absolutamente surreal para mim.
  - Como está se sentindo? – Perguntou ele, caridoso quando nos sentamos em nossas poltronas.
  - Parece que estou vendo minha vida em terceira pessoa. É surreal. – Suspirei fundo.
  - Você se acostuma. Eu juro. Até com o que não é bom. – Ele disse, no momento com o óculo sob a cabeça, puxando seus cabelos para trás.
  - E o que você consideraria ruim? – Perguntei apenas para puxar assunto. Ele suspirou como se falasse “A lista é longa”.
  - Acho que o principal é o assédio. Eu poderia ter uma vida normal sabe? As pessoas não entendem que é um trabalho. Com a internet em alta do jeito que está, fica bem difícil ter uma vida próxima do normal. Tá bem distante disso no momento. – Admitiu ele e eu vi como isso afeta a vida deles, queria poder tirar isso tudo dos ombros de todos. Seria como um presente pessoal meu. Infelizmente a única coisa que posso fazer é não piorar a situação.
  Conversamos o voo inteiro sobre o assédio moral que a internet faz hoje, alienando tudo e todos com informação passada de maneira errada e distorcida. A conversa entre nós simplesmente fluía sem força. Chegamos em São Francisco em praticamente uma hora em um voo tranquilo e sem turbulências.
  No hotel, fomos dirigidos aos nossos próprios quartos, que ficavam lado a lado e combinamos de nos encontrar em duas horas para jantarmos. O jantar foi tranquilo, no próprio hotel, que servia pratos incríveis. Andrew me deixou escolher o seu prato, com um quê de “me surpreenda” e acabei pedindo um menu mais mediterrâneo para mim, e para ele mais francês. Então de entrada, recebi tiras de peixe em um molho de limão siciliano e tomates confitados, e ele, raviólis de camarão com molho branco. Experimentamos um o prato do outro como um casal de namoradinhos em início de namoro, para o prato principal, recebi legumes grelhados, alhos assados e frango com muito manjericão fresco. Ele recebeu carré de cordeiro, com um purê de batatas impecável e molho de laranja. Ele amou o prato que escolhi e disse que eu poderia escolher tudo que ele fosse comer a partir de agora. De sobremesa ele recebeu um mil folhas clássico e eu um sorvete de nata com uma calda de figos divina. Andrew adorou tudo e fomos rindo ao quarto depois de tomarmos uma garrafa de vinho inteira.
  Me despedi dele na porta, sem dar a chance de que ele me agarrasse novamente como havia feita na última despedida na porta que ainda não havia saído da minha cabeça. Apenas beijei seu rosto rapidamente e fechei a porta sorrindo, com a agilidade que só uma pessoa que teve muitos dates ruins no Tinder podia ter, e essa pessoa era eu.
  Não consegui ver a sua expressão antes de fechar a porta, mas cinco minutos depois, recebi uma mensagem no celular.
  “Tenho medo do trauma que devo ter causado em você para que tenha fechado a porta com tanta habilidade e velocidade. Andou treinando em casa?” Dei uma risada alta quando li a mensagem.
  “Causou trauma nenhum, pode ficar tranquilo! Corri, pois tenho que dormir cedo para amanhã não estar com olheiras.” Enviei logo em seguida.
  “Ok! Você está certa. Só não precisa fugir da próxima vez. Minha bochecha está formigando, agora não sei se é da força que você colocou ou se é trabalho das borboletas”. Meu coração palpitou, borboletas? Sério, Andrew? É assim que você quer jogar, o bonzinho apaixonado?
  “Borboletas nunca são um bom sinal, tome cuidado.” Assim, encerrei a conversa.
  No dia seguinte, acordei mais tarde do que deveria. Dei um pulo da cama e corri para o salão principal para tomar café. Andrew já estava lá, com seus óculos escuros. Ele usava um moletom preto e bermudas, como se o friozinho que fazia não o afetasse da cintura para baixo. O lugar era aberto, e uma luz solar maravilhosa tomava conta do ambiente.
  - Nossa, dormi feito uma pedra. Perdi completamente a hora. – Falei sem graça, quando cheguei à mesa. Ele fez um gesto dramático para olhar o relógio e disse:
  - Eu quase não notei, mas confesso que seu cabelo e seus olhos denunciam. Mas não se preocupe, você está radiante. – Eu não sabia o que era ironia e o que não era. Apenas ri, enquanto o garçom trazia o expresso que eu havia pedido.
  Tomei um gole e a bebida quente pareceu me preencher por inteiro. Eu nunca fui muito do café, realmente não gosto. Mas existem dias e momentos que só um café pode salvar.
  - Puta merda, que café bom. – Falei completamente em português, e Andrew uniu as sobrancelhas me encarando.
  - Você está elogiando o café em português? – Perguntou segurando o riso, e apenas dei de ombros, tomando o resto da xícara em um só gole. – Fala mais alguma coisa em português, eu gostei.
  - Agora que você falou que gostou não consigo, fico com vergonha. – Respondi e ele deu uma risada gostosa.
  - Ok, então fale aleatoriamente sem eu estar esperando, foi muito bom de ouvir. – Ele disse, dando atenção ao seu celular, enquanto eu buscava algumas frutas para beliscar.
  Às onze da manhã, Carlos e Genevieve chegaram para começar a me arrumar, eu os aguardava de banho tomado.
  Duas pessoas vieram para ajudar Andrew também e nos despedimos na porta dos quartos.
  Meu vestido era completamente de veludo, era bem colado ao corpo e a parte de cima era estilo ciganinha, onde meus ombros ficavam completamente de fora e as mangas eram compridas. O comprimento do vestido era pouco abaixo do joelho e com uma pequena fenda apenas para ajudar no movimento, o decote era em formato de coração, sem ser, de maneira alguma, vulgar.
  Carlos colou unhas postiças compridas em mim, e pintou da mesma cor do vestido e passou uma base fosca que daria toda a diferença no final. Nos meus cabelos, ele fez uma trança espinha de peixe embutida que tinha tantas camadas que ele levou horas para deixar tudo perfeito, como da outra vez, alguns fios soltos propositalmente e a trança frouxinha deixava o look menos sério.
  No meu rosto, Genevieve fez um novo delineado que na ponta, puxava outro delineado em direção ao meu côncavo. Eu nunca teria a capacidade de fazer aquilo no meu rosto sozinha e depois de algumas horas eu estava novamente impecável.
  Gen e Carlos deram as mãos e me aplaudiram emocionados quando dei uma voltinha, nos dávamos muito bem e eu sentia que nos veríamos em breve novamente.
  Quando eles foram embora, já estava na hora de irmos, já que ficamos matando tempo conversando um pouco. Descobri que eles trabalhavam com várias celebridades e que trabalhavam com Tobey há mais de dez anos. Quando eu estava saindo do quarto Carlos cochichou no meu ouvido:
  - Vai lá e mata aquele gostoso do coração, depois me conta como foi o babado. – Piscou enquanto a porta do elevador fechava.
  Bati na porta do quarto de Andrew, mas aparentemente ele já havia saído, desci até o hall de entrada e ele me aguardava sentado em uma poltrona, distraído com o celular.
  Pigarrei ao seu lado e só então ele subiu os olhos dos meus pés à cabeça, com a boca abrindo à cada milímetro que ele subia.
  - Meu Deus. – Ele apenas soltou. Pigarreou e continuou: - Você está maravilhosa.
  Agradeci educadamente.
  - Você também não está tão mal. – Brinquei. Ele estava lindo, com um blazer preto e uma camisa branca por baixo, o colarinho estava desabotoado e não usava gravata. Por um momento vi aquele colarinho todo sujo com meu batom. Mas apaguei essa imagem da cabeça antes que fosse tarde.
  Ele me guiou até o carro e seguimos até o local que eu não fazia ideia de onde era.
  No caso daquele filme, eu conhecia apenas a Vanessa Hudgens, havia um ou outro rosto familiar que devo ter vindo em outros filmes, mas eu não sabia o nome de todos assim como sabia dos filmes da Marvel.
  Andrew com certeza era, neste caso, a estrela mais esperada, principalmente depois do Globo de Ouro. Na verdade, aquela não era uma première, era meio que uma turnê bancada pela Netflix para que o filme fosse mais bem divulgado, afinal agora era um vencedor de estatueta.   Chegamos ao local, e ele não estava tão cheio como o da semana anterior. Havia bastante fãs e muitos fotógrafos, mas não chegava aos pés da majestosidade que havia sido o trio de Homens-Aranha.
  - Está tudo bem? – Andrew me perguntou, antes da nossa vez de sair do carro. Segurou minha mão mais uma vez.
  - Está sim. – Respondi respirando fundo, seu perfume estava especialmente forte e delicioso.
  - Obrigado por fazer isso. Vou colocar a mão na sua cintura para bater fotos, tudo bem para você? – Coçou a sobrancelha, sem graça. Eu gostava do fato dele ser tão confiante em alguns momentos e em outros ser extremamente envergonhado. Era óbvio que não íamos bater fotos afastados e completamente longe um do outro, também não bateríamos fotos de mãos dadas pois significara algo mais sério. Então o abraço pela cintura era a melhor opção de “estamos juntos sim, mas pode não significar nada”.
  Chegou a nossa vez de sair do carro, e o motorista abriu a porta enquanto os flashes iniciavam com fervor.
  Andrew saiu do carro e a chuva de luz se intensificou, os gritos da plateia também ficaram mais altos e podiam-se ouvir palmas de todos os cantos. Ele esticou o braço até mim e quando fiquei ao seu lado, alguns gritos pareceram se intensificar. Os flashes não paravam um segundo.
  Seguimos para o tapete vermelho e as logos da Netflix faziam um caminho que não parecia ter fim. Andrew sorria, abanava a mão e mandava beijos para a plateia e aos fotógrafos. Alguns jornalistas já berravam algumas coisas incompreensíveis e ele sorriu mais ainda quando passou a mão pela minha cintura. Fizemos algumas poses e ele ainda me fez dar uma voltinha antes de seguirmos em frente. Logo atrás de nós surgiu Vanessa Hudgens que também arrancou ótimos gritos e flashes da imprensa.
  Vanessa e ele se cumprimentaram com um longo abraço e dei espaço para serem fotografados juntos.
  Ela me cumprimentou também, sorrindo simpática e me deu um beijo no rosto, trocamos algumas palavras e seguimos.
  Andrew foi entrevistado um milhão de vezes e muito elogiado por sua performance e pelo Globo de Ouro, ele sempre me incluía na entrevista, brincando comigo, mexendo no meu cabelo o me abraçando pela cintura, eu apenas sorria e respondia curtas respostas quando alguma pergunta era direcionada a mim.
  Várias vezes fomos perguntados se éramos o mais novo casal de Hollywood e negávamos em todas as vezes, dizendo que éramos apenas amigos se apoiando, a resposta com certeza não seria convincente para a internet, mas eles não teriam prova nenhuma de qualquer coisa que passasse de amizade ou no máximo uma pegação. Continuaríamos firmes com as respostas.
  A noite passou tranquila, vez ou outra Andrew cochichava em meu ouvido, ouvi coisas do tipo:
  “Se essa entrevista durar mais um segundo, vou mijar nas calças”
  “Eu adorei as suas unhas”
  “Meu rosto está sujo de batom?”
  “Essa cor fica muito bem em você”
  “Aquele cara ali é o ser mais chato que já tive que contracenar na vida”
  “Você está muito cheirosa” Este comentário veio seguido de um beijo em meu ombro, que acabou tendo muitos flashes envolvidos.
  “Esta mulher estava muito interessada em você”
  Depois de algumas horas e nenhum after-party, seguimos para o hotel, antes passamos no McDonald’s e pedimos tanta coisa que foi cansativo de pegar tudo do drive-thru e colocar no carro.
  Nos enfiamos em seu quarto de hotel e solicitamos duas garrafas de champanhe caríssimos pelo serviço de quarto.
  Andrew atendeu com um BigMac na mão e trouxe a bandeja até nós. Abriu a garrafa e me serviu, jogando-se no sofá em seguida.
  - Quatro horas se arrumando para ficar me aturando e aturando outras pessoas chatas durante duas horas e voltar para o hotel impecável para comer BigMac... O que você acha disso? – Perguntou, brindando comigo e bebendo a taça de uma só vez.
  - Acho muito aceitável. – Respondi bebendo e em seguida terminando meu BigMac. Com exceção das sandálias, eu ainda estava impecável, de vestido, com o cabelo perfeito e a maquiagem também. Nem o batom havia saído depois de algumas mordidas.
  - Você não deve bater bem das ideias, o que vão falar lá no Brasil, quando seu chef descobrir que você está comendo McDonalds?
  - Eu possivelmente poderia perder meu cargo, mas ele nunca irá saber disso. – Quando terminei a frase, Andrew pegou seu celular e apontou para mim.
  Eu sorri, com uma caixinha de batata-frita nas em uma das mãos e a taça de champanhe em outra. Click.
  - Agora você está em minhas mãos. – Brincou, mexendo no mesmo e colocando uma estação de rádio.
  - Nem em seus sonhos. – Respondi mostrando a língua.
  - Ah, nos meus sonhos você está em minhas mãos sim. – Ele de repente ficou com o semblante sério. – E minhas mãos estão em ti.
  - Vai se fuder. – Sussurrei em português, mordendo os lábios e ele fechou os olhos sorrindo.
  - Porra, , assim você me mata. – Meu apelido em seu sotaque era a melhor coisa que eu podia ouvir naquele momento. Por sorte estávamos afastados.
  Por esse motivo larguei batatinha pela metade, enchi minha taça de champanhe e segui para a grande janela de vidro que ficava no final do quarto. Era uma sacada infinita, já que eram proibidas sacadas tradicionais em hotéis daquela região.
  Ouvi ele se aproximando devagar, seu cheiro chegou antes da sua presença física, sem salto meu rosto ficava na altura do seu peito, ele parou ao meu lado, também apenas segurando a champanhe.
  - Obrigada por me acompanhar hoje, foi muito gentil da sua parte. – Ele foi sincero. Tomei um gole da minha taça. A paisagem da cidade à noite era linda.
  - Não foi esforço nenhum, você é uma boa companhia, Garfield. – O olhei de canto de olho, ele sorria e me encarava.
  - Você está se tornando minha companhia preferida dos últimos meses. Como você fez isso? É algum tipo de feitiço brasileiro? – Perguntou se aproximando, sua mão encostou em minhas costas levemente, sem qualquer tipo de pressão, apenas encostada.
  - É sim. Fiz um ritual no fim de ano, consegui um pouco de cabelo seu pela internet e aparentemente deu certo. – Falei calma e baixinho, o fazendo rir pelas narinas.
  - Deu muito certo, agora preciso aprender para fazer contigo... Você me ensina? – Perguntou baixinho como eu, tão calmo quanto a sua voz, ele foi aproximando seu rosto do meu, mesmo que eu ainda olhasse apenas para frente. Minha respiração falhou e ele percebeu, a tensão sexual era palpável. Seu nariz roçou em minha bochecha e ele desceu ao meu pescoço onde depositou um beijo suave, continuei tomando meu champanhe enquanto ele desceu o rosto para minha clavícula, fechei os olhos suspirando descompassada, ele já havia notado como meu corpo reagia ao seu toque, e tive a impressão de que se divertia com isso. Ele deu um último beijo em meu ombro e subiu seu rosto pelo mesmo lugar de onde tinha descido, quando seu nariz estava de volta ao lado de minha bochecha, ele virou meu rosto suavemente e eu colei nossas bocas com a urgência que eu já sentia entre minhas pernas.
  Suas mãos seguiram diretamente para minhas costas, uma delas na altura das minhas costas e a outra na curva onde iniciava minha bunda, como da primeira vez, uma de minhas mãos segurava seu rosto, enquanto a outra ainda estava com aquela taça idiota, e nossas línguas já se enroscaram como as conhecidas que eram. Tive que separar o beijo.
  - Espera, eu preciso... – Falei balançando a taça. Ele virou os olhos para cima, mostrando a dele que estava no reforço inferior da janela, que por mais que não abrisse, tinha um reforço de metal de uma largura que cabia nossas taças.
  - Achei que você fosse mais esperta. – Brincou já escondendo o rosto no meu pescoço, pois minha mão mal largou a taça e já veio direto em sua orelha dar-lhe um tapa.
  - Deu? Posso te beijar à vontade sem intromissões? – Ergueu a sobrancelha. Seu rosto estava tão perto que eu podia contar as pintinhas próximas do seu nariz. Suas mãos estavam passeando devagar por minhas costas, meus braços em volta do seu pescoço. Não precisei responder, pois nossos lábios colaram-se novamente sem qualquer dificuldade. Dessa vez, eu não quis ser a bobinha, nossas línguas se misturaram, e eu coloquei minha mão em sua nuca para intensificar o beijo. Andrew estava indo devagar, provavelmente com medo de me assustar, já que ontem eu acabei fugindo dele sem muita explicação.
  Hoje eu não pretendia fugir.
  Espalmei minha mão livre em seu peito e deslizei ela até seu ombro, fazendo seu blazer deslizar ligeiramente para trás, ele entendeu que era para tirar e retirou as mãos das minhas costas para o fazer. Sem partir o beijo, Andrew passou um braço por baixo da minha bunda, me dando impulso para pendurar minhas pernas em sua cintura, porém com isso, meu vestido acabou subindo por minha cintura, já que era muito colado e bem elástico. Ele pareceu gostar da minha nudez parcial, já que espalmou uma das suas mãos na minha coxa, sem deslizar até minha bunda. A outra mão me segurava pelas costas. Ele tinha uma força que eu desconhecia, pois foi nos guiando, sem partir o beijo que parecia ficar cada vez melhor a cada passo que ele dava. O gosto da sua boca se misturava com a minha de uma maneira que simplesmente parecia certo. Encostamos em algo que eu reconheci como o sofá e parti o beijo para me acomodar.
  Andrew tinha os olhos sedentos correndo por todo meu corpo, o vestido estava todo enrugado na minha cintura e tapava um pouco da minha virilha, mas minha calcinha preta aparecia parcialmente. Ele notou a tatuagem gigante que eu tinha na coxa esquerda, e a analisou por alguns segundos, passando os dedos sobre ela, eu tinha outras tatuagens, mas não era momento para falar sobre elas. Sorri o puxando pelo colarinho da camisa, colamos nossas bocas novamente e o Andrew da outra vez pareceu vir à tona, prensando meu corpo contra o sofá, porém não deixei isso acontecer, ainda agarrada em seu colarinho, o empurrei para que ele sentasse e passei minha perna por sua cintura, sentando em seu colo. Ele pareceu gostar daquilo e suas mãos começaram a procurar o zíper do meu vestido enquanto as minhas mãos desabotoavam sua camisa. Parti o beijo para descer por seu pescoço, arrancando suspiros seus, beijei seu pescoço, dei uma mordida leve no lóbulo da sua orelha e em seu queixo.
  - Achei que você fosse mais esperto. – Devolvi seu comentário e ele deu uma gostosa risada enquanto eu guiava suas mãos ao encontro do zíper do meu vestido. Ergui os braços quando ele trouxe o vestido para cima. Seu pênis já me dava bons sinais a bastante tempo, mas quando ele tirou meu vestido, sua empolgação contra minha virilha me vez virar os olhos. Eu usava um sutiã tomara que caia que era amarrado pela frente como um pequeno espartilho, Andrew beijou toda a extensão do meu colo, enquanto suas mãos passeavam livremente pela minha bunda. Tiramos sua camisa e a regata básica que ele usava por baixo, eu não esperava que ele fosse tão definido, e sorri enquanto ele subia os beijos do meu colo pelo meu pescoço, mas antes de colarmos nossas bocas novamente, meu celular tocou.
  Bufei realmente brava, e Andrew o alcançou para mim. No visor dizia “Mãe” e no fundo aparecia uma foto minha com ela, abraçadas.
  - É sua mãe? – Perguntou ele. Concordei com a cabeça. – Por favor, atende.
  Roubei sua regata e vesti de qualquer jeito. Era uma chamada de vídeo. Minha mãe adorava chamadas de vídeo.
  - Oi mãe. – Falei, saindo do seu colo e indo para mais longe. Eu não sabia como devia estar, mas com certeza não estava em estado apresentável para falar com minha mãe.
  - Oi filha! Nossa que maquiagem linda, aonde você vai? – Perguntou sorrindo enquanto colocava alguma comida na boca.
  - Eu já fui, estava em uma première de um filme, acredita?
  - Nossa, mas você tá muito chique mesmo. Olha só Pedro, como ela está bonita. – Eu amava aquela inocência que minha mãe tinha intrínseca. Ela moveu a câmera e Pedro me olhou sorrindo e dando tchauzinho. Acenei de volta. Tomei o cuidado de ficar de frente para Andrew, de modo que ele não aparecesse no fundo da ligação.
  - Como vocês estão? – Perguntei, notei que estavam bebendo cerveja e comendo amendoins, era algo que faziam nas sexta-feiras.
  - Estamos bem, estamos tomando nossa cervejinha de sexta e lembramos de vocês. Tobey está por aí? – Notei que Andrew entendeu o nome do colega e me olhou interessado.
  - Na verdade estou em um hotel em outra cidade, eu vim em uma première com um amigo dele. – Não havia motivos para eu mentir para a minha mãe.
  - Nossa querida, tome cuidado com esses estranhos, gente famosa é doida. – Ela disse e eu dei uma risada.
  - É verdade, mãe, mas Tobey disse que eu podia confiar nele e foi o que eu fiz. Se eu amanhecer morta, coloquem a culpa nele. – Brinquei e Pedro deu uma risada.
  - Para com isso sua tola, ele é gatinho pelo menos? – Perguntou minha mãe e eu vi a mão de Pedro empurrando seu ombro. Dei uma risada.
  - É gatérrimo, mãe. E aparentemente está a fim de mim.
  - Não me admira, você está linda! Imagina quando estava com o vestido... Que cor era?
  - Vinho.
  - Uh lalá. – Ela disse se abanando e rindo. – Mas então ‘tá bom, linda, só queríamos ver como vocês estavam. Outra hora a gente se fala, ‘tá bom? Qual é o nome do gatão? Quero pesquisar fotos dele no Google. – Ela disse na caruda e eu dei uma risada alta.
  - Andrew Garfield. – Eu disse e Andrew arregalou os olhos à minha frente. – Mas não fica achando besteira, e contando fofoca pras suas amigas.
  - ‘Tá bom. É o nosso segredinho. – Ela fez sinal de “Shh”.
  Nos despedimos e joguei-me no sofá ao seu lado.
  - Você estava falando de mim para a sua mãe? – Perguntou convencido.
  - Ela perguntou do Tobey e eu disse que havia ido à uma estreia com um colega dele... – Expliquei. – Ela perguntou seu nome pois queria pesquisar você no Google. – Falei dando uma risada, ele me acompanhou.
  - Eu amei o jeito como você falou meu nome a ela, com um sotaque bem brasileiro. – Ele disse, fazendo um carinho sem segundas intensões na minha coxa.
  - É, se eu falasse muito americanizado, talvez ela não fosse conseguir digitar corretamente. – Expliquei e ele pareceu entender. Ele me fez mais algumas perguntas sobre minha mãe e notei que o clima havia ido embora. Então apenas continuamos conversando, ele sem camisa, eu com a sua blusa. Comemos mais McDonalds e acabamos dormindo por ali mesmo.

Capítulo 05

  No dia seguinte pegamos o primeiro voo de volta à Los Angeles, Andrew e eu conversamos sobre qualquer coisa enquanto o avião não chegava, ambos de máscara e óculos escuros.
  Eu gostava de como nossa relação estava, nos dávamos muito bem e tudo parecia estar no lugar correto. Ele sabia que em menos de um mês eu estaria voando de volta ao Brasil, e que devíamos aproveitar esse momento do jeito que dava, se eram apenas uns beijos sem transa, que fosse, se era apenas uma conversa legal sobre como o tempo estava esquisito, estava tudo bem também. Mas uma coisa estava clara na minha cabeça: Eu queria transar com Andrew, e ele também queria transar comigo. Era só questão de tempo para esse tipo de coisa acontecer.
  Chegamos em L.A. e Tobey nos aguardava no aeroporto.
  - Hey . – Falou ele, me dando um abraço aconchegante. Cumprimentou Andrew com um aperto de mãos e um abraço cheio de risos.
  - Você cuidou dela? – Perguntou num tom brincalhão e Andrew deu uma risada gostosa.
  - Cuidei sim. Não foi, ? – Perguntou ele, lambendo os lábios e levantando uma das sobrancelhas. Meu coração ainda descompassava com meu apelido saindo pela sua boca.
  Tobey deu um empurrão em seu ombro, rindo.
  - Assim não, cara!
  - Eu já te disse para não perguntar detalhes dos quais você não quer saber. – Entrei na brincadeira, levantando os ombros. Andrew deu mais uma risada gostosa, eu poderia ficar ouvindo aquela risada o dia inteiro.
  Seguimos para fora do aeroporto, fingindo não notar os fotógrafos.
  - Como foi lá? – Perguntou Tob quando entramos no carro, achei incrivelmente fofo o fato dele ter ido nos buscar no aeroporto e ainda dar carona para Andrew. Acho que eu subestimava a amizade deles, já que quem vivia na casa de Tob era Tom.
  - Foi bom, ainda bem que quis ir comigo, se não, seria bem menos interessante. Teria ido ao aeroporto sozinho, viajado sozinho, ficado no hotel sozinho. É bom ter companhia. – Andrew respondeu tranquilamente.
  - Fico feliz em ter ajudado. – Falei bagunçando seu cabelo, já que eu estava no banco de trás do carro, igual uma criança.
  - E o vestido, ? O pessoal da maquiagem e do cabelo foram direitinho? – Tob perguntou, me olhando pelo retrovisor.
  - Tudo perfeito, eles são muito bons.
  - Fico feliz que tenha dado tudo certo, então. – Suspirou ele, feliz. - Queria aproveitar, , para te convidar para ir conosco no programa do Jimmy Fallon semana que vem. Minha agente acabou de me lembrar, já está marcado a algum tempo.
  - Meu Deus, vocês acham uma boa ideia eu ir junto? – Perguntei sem saber o que dizer. Jimmy Fallon! Quando eu me acostumaria com esse tipo de situação em que meu irmão ais velho me colocava?
  - Claro, por que seria uma ideia ruim? – Andrew respondeu minha pergunta, com outra pergunta.
  - Não sei, só fico com medo. Esse mundo de vocês, famosos, é um mundo novo para mim.
  - Deixa de ser boba. Vai dar tudo certo. – Tobey disse, sorrindo com os olhos pelo retrovisor.
  Deixamos Andrew na casa que ele normalmente ficava quando tinha que passar tempo na América, já que a sua casa era na Inglaterra. Tob nos guiou até sua casa explicando que a festa estava de pé, e que Tom estava muito animado para tudo. Não parava de mandar mensagens dizendo que convidou não sei quantas pessoas, ele queria mesmo comemorar.
  - Então é bom você se preparar para ter bastante gente famosa aqui mais tarde. Mas não sei, acho que você já se acostumou com isso, certo? – Tobey disse, me olhando de canto de olho para ver minha reação.
  - Tob, você é famoso. Tipo, muito famoso. Se eu não me acostumar com isso, vou me acostumar com o quê? Já me acostumei com Andrew e Tom, já bati papo com a Zendaya e com a Vanessa Hudgens. Conheci Jamie Foxx e Benedict Cumberbatch... Se isso não for o suficiente para eu me acostumar, não sei o que é.
  - Bom, fica mais fácil de se acostumar quando você está pegando um deles. – Ele disse rindo e levou um tapão no ombro.
  - Não estou pegando ninguém. Foi você que disse que era pra deixar eles comendo na minha mão. – Expliquei.
  - Eu sei, mas não precisava deixar ele babando por você. É maldade. – Ele disse estacionando o carro na garagem.
  - Eu... Ele não está babando. Deixe de ser babaca. – Falei saindo do carro.
  - Só estou falando o que estou vendo. – Ele disse dando de ombros.
  - Para de colocar coisa na minha cabeça. – Falei unindo as sobrancelhas.
  - , de verdade, você é gata. Você é até gata demais para eles. Não estou colocando coisas na sua cabeça, você só precisa aceitar isso. – Tob disse, abrindo a porta e entrando em casa.
  A sala já estava diferente. O sofá estava encostado na parede, dando mais espaço no centro, tinha um aparelho de karaokê conectado à TV e a mesinha que normalmente tinha fotos da família tinha tantas bebidas que dava para fazer uma foto conceitual no Tumblr.
  - Você está maluco, Tob. Eles são Tom Holland e Andrew Garfield, sabe? Atores famosos, bonitos e muito bem-sucedidos. Um deles namorou a Zendaya e o outro namorou a Emma Stone.
  - E você não perde nenhum pouco para elas. Então para de se rebaixar.
  Eu realmente precisava ir ao mesmo psicólogo que Tobey ia, eu gostava de como ele lidava com a autoestima e de como ele me tratava sem ser a irmãzinha indefesa. Eu gostava do adulto que ele havia se tornado, um homem emponderado e feminista, me deixava cheia de orgulho.
  Passamos o dia sem grandes novidades, assistimos ao novo filme da Netflix (Não olhe para cima) no seu quarto e depois disso começamos a nos arrumar para a festa.
  Escolhi um vestido frente única de seda que eu só usava em ocasiões especiais no Brasil, o comprimento batia no meio das minhas coxas, a cor dele era um rosa bem clarinho, como champanhe, e nas costas ele tinha tiras fininhas como o primeiro vestido que usei no tapete vermelho do Homem-Aranha. Pedi para Tobey amarrar para mim e ele perdeu alguns bons minutos tentando dar o laço perfeito.
  Deixei meus cabelos soltos e naturais, ondulados provenientes da mistura do lindo cacheado da minha mãe com os cabelos lisos de meu pai.
  Fiz uma maquiagem simples, e até certo ponto leve, pois eu não sabia me maquiar sozinha a ponto de considerar uma maquiagem pesada, caprichei no delineado até onde minha capacidade conseguia, passei bastante iluminador e um batom vermelho fosco que deixava minha boca no maior estilo Angelina Jolie, obrigada, mãe, por estes lábios maravilhosos.
  Nos pés optei por um tênis branco de couro, que não condizia com o vestido que eu usava, mas me deixava com uma vibe mais caseira, do jeito que eu gostava.
  Batemos fotos um do outro com a Polaroid e batemos selfies juntos que ficariam eternizadas na nova caixinha de madeira que Tobey havia escolhido para as novas recordações.
  - Você está linda, maninha. – Tobey disse, me fazendo dar uma voltinha, ele também estava, com uma camisa preta com o colarinho desabotoado, e as mangas dobradas até o antebraço, calças jeans que pareciam ter sido desenhadas a ele, e sapatos pretos.
  - Você também está gato.
  Descemos até a sala, fiz uma caipirinha de vodca para mim e Tob pegou uma cerveja. Escolhi uma música aleatória para tocar e começamos a jogar truco enquanto esperávamos os convidados. Minha mãe havia ensinado truco à Tobey e ele realmente adorava, dizia que era muito melhor e mais empolgante do que Poker.
  Durante uma música de SZA, a campainha tocou e Tobey foi atender.
  Tom o abraçou animado, trazia em suas mãos uma garrafa de vodca e uma de champanhe, ele deixou as garrafas na mesa com o restante das bebidas e veio em minha direção sorrindo, ele estava lindo, usava um blazer preto e uma blusa de botões com desenhos de folhas de palmeiras e flores coloridas. Atrás de Tom entrou Jacob Batalon e mais dois rapazes que eu não conhecia. Abracei Tom e ele beijou meu rosto. Cumprimentei todos.
  Tobey voltou com taças de champanhe da cozinha, animado.
  Jacob pegou o champanhe que Tom trouxe e não sabia nem como retirar o plástico que envolvia o arame. Dei uma risada e tomei a garrafa dele com educação. Peguei um saca-rolhas que havia em cima da mesa, que normalmente vinha com uma faquinha de serra para este tipo de embalagem. Menos de um minuto depois eu já estava fazendo festa antes de tirar a rolha com facilidade, sem fazer sujeira no chão. Enchi todos os copos presentes.
  - À amizade. – Jacob disse, levantando a sua taça.
  - À liberdade. – Tom disse, levantando a sua também.
  - À maturidade. – Tobey disse rindo, fazendo o mesmo.
    - À felicidade. – Falei acompanhando Tobey na risada.
  - Aeeee! – Os dois que restaram só gritaram e brindamos.
  Pude jurar que durante todo o momento do bride, Tom não tirou os olhos de mim, mas creio que era coisa da minha cabeça. Virei a taça.
  Aos poucos foram chegando mais e mais pessoas, pessoas conhecidas e desconhecidas, que pareciam se conhecer há anos. Eu estava acompanhando Tom e Jacob, que descobri ser um amor de pessoa, me afeiçoei ele imediatamente. Batemos fotos juntos para postar nos stories do Instagram e, com certeza, viraríamos notícia. Jacob fez vídeos meus com Tobey, boomerangues e filtros bobos. Demo boas risadas.
  Fiquei famosa por minhas caipirinhas e a todo minuto pessoas vinham me pedir para fazê-las, eu sempre fazia, sorrindo e enchendo eles de álcool.
  Tom bebeu três e já estava vendo estrelinhas.
  - O que você colocou aqui dentro? Drogas?! Logo você, irmã Maguire? – Perguntou ele, balançando o copo, derramando bebida no chão.
  - Com certeza não, vem cá. Vamos tomar uma água. – Falei, puxando-o pela mão, levando-o até a cozinha. Peguei uma garrafa de água na geladeira. Ele bebeu quase inteira.
  - Porra, eu estava precisando disso. – Falou suspirando, tirou o blazer e passou as mãos no cabelo.
  - Claro que estava. Caipirinha é forte e você aparentemente não está acostumado com bebida alcoólica. – Falei no maior estilo mãe protetora.
  - Tá bom, mãe. – Ele disse, empurrando meu ombro. Ouvimos um barulho que parecia ser do karaokê e os olhos de Tom brilharam. – Vamos, eu adoro karaokê.
  Quem gosta de karaokê, na vida real? Achei que era coisa de filme de adolescente bobo. Me enganei completamente, pois Tom fucking Holland aparentemente adorava.
  Seguimos para a sala, o lugar estava cheio, grupinhos de pessoas estavam espalhados pelo ambiente inteiro e, em frente à TV algumas pessoas se afastaram para dar espaço para a pessoa que iria cantar. E lá estava Jacob, ele acenou quando viu Tom e o chamou.
  A música já havia sido escolhida e era “Leave The Door Open” do Silk Sonic.
  Dei risada vendo os dois cantarem a música que visivelmente havia sido ensaiada. Os dois arrancaram risadas e aplausos de todos, e logo outras pessoas começaram a cantar também. Peguei minha bebida e dei uma volta, procurando Tobey, ele estava do lado de fora, ao lado da piscina conversando com pessoas que eu não conhecia. Ele me chamou e me apresentou a todos, que foram muito simpáticos e me cumprimentaram. Fiquei ali por um tempo e acabei avistando Andrew do outro lado da piscina, conversando com algumas pessoas. Ele me viu e piscou sorrindo. Assim como todos os Homens-aranha daquela festa, ele também estava lindo, usava uma calça social clara, uma camisa branca e por cima um colete de lã, que poderia ter ficado péssimo em qualquer em pessoa, mas combinava perfeitamente com ele e com a ocasião.
  Ele se aproximou e me abraçou.
  - E ai, Maguire, como você está linda. – Disse. – Gostei disso. – Ele simplesmente falou, se referindo aos meus cabelos solto naturais.
  - Obrigada. Gostei disso. – Falei me referindo ao colete e ele sorriu de lado, fofo como sempre.
  - Como você está? – Perguntou ele, bebendo.
  - Estou bem, ligeiramente bêbada. – Admiti rindo frouxo. – E tu?
  - Estou bem também, mas não cheguei no seu patamar ainda... Não tenho um certo alguém me fazendo drinks. – Falou ele, arqueando as sobrancelhas esperando minha reação.
  - Não tem por que não quis. Era só ter pedido. – Expliquei, fazendo cara de convencida.
  - MAGUIRE! – Tom gritou da porta dos fundos. Eu olhei, e vi que Tobey também olhou. – Vem cantar no karaokê. – Ele disse, dessa vez nitidamente para mim. Tobey deu risada no fundo e eu dei de ombros indo na sua direção. Virei minha caipirinha e deixei em uma mesa, quando entrei em casa. Notei que Andrew veio atrás de mim, ele não iria querer perder aquele grande show.
  - Não sei que música cantar. – Admiti no ouvido de Tom e ele virou os olhos.
  - Sabe sim. Todo mundo sabe que música cantar no karaokê, só não tem coragem de dizer. – Ele disse me olhando sério. E eu realmente tinha uma música para cantar. Sussurrei em seu ouvido e ele sorriu, gritando um “Yeah”. Me deu o microfone e, bom, eu já estava com o álcool gritando em minhas veias.
  A música de Elton John começou a tocar e fiz o possível para manter o sotaque inglês como o dele. Minha voz não era nem um pouco parecida com a daquele muso, mas tentei ficar séria, mesmo querendo dar gargalhadas.

I miss the Earth so much I miss my wife
It's lonely out in space
On such a timeless flight
And I think it's gonna be a long, long time
'Til touchdown brings me 'round again to find
I'm not the man they think I am at home
Oh, no, no, no
I'm a rocket man
Rocket man, burning out his fuse up here alone

  Cantei esta parte e pude jurar que os olhos de Andrew queimavam minha pele. Tom e Jacob dançavam juntos, batendo palmas, assim como alguns outros convidados, todos com a nostalgia a flor da pele, todo mundo amava Rocket Man.

And all this science
I don't understand
It's just my job five days a week
A rocket man
A rocket man
And I think it's gonna be a long, long time
'Til touchdown brings me 'round again to find
I'm not the man they think I am at home
Oh, no, no, no
I'm a rocket man
Rocket man, burning out his fuse up here alone

  Eu já estava me achando o próprio Elton John, jogando meus cabelos, fingindo tocar um piano invisível e fazendo passinhos bobos, já que eu não era uma eximia dançarina e, neste caso, muito menos cantora. Mas o pessoal parecia estar se divertindo, então cantei a música inteira neste mesmo estilo, fingindo um sotaque e dando risadas.
  A música terminou e os aplausos vieram com tudo, Tom pulou em meus ombros animado e seguimos para fora da casa rindo, Andrew nos acompanhou.
  - Tom está a fim de você. – Andrew sussurrou no meu ouvido e eu serrei os olhos, o examinando. Eu, com certeza, precisava de água. – Está tudo bem, não sou ciumento. – Ele completou brincando, e eu o empurrei de leve.
  - Você é idiota, sabia disso? – A bebida com certeza falava mais alto.
  - Infelizmente estou ciente deste fato. – Ele disse sorrindo, completamente convencido. Virei os olhos.
  - Que bom, pois é irritante. Tem horas que você é um amor, e tem horas que é um babaca. Como consegue fazer para manter as duas personalidades tão bem misturadas? – Conversávamos baixo, pelo menos eu achava que sim.
  - Ah, são muitos anos de treino. Uma hora você se acostuma. – Ele piscou para mim e seguiu seu caminho até o grupo de pessoas que ele estava inicialmente.
  - Maguire, você é incrível. Tem algo que você não saiba fazer? – Perguntou Tom, sentando-se em uma cadeira junto de uma mesa livre no meio do jardim.
  - Olha quem fala, Tom. – Virei os olhos, sentando ao lado dele com cuidado, pois meu vestido era meio curto.
  - Você sabe cozinhar, fazer drinks perfeitos, sabe abrir champanhe feito uma donzela, canta e dança... Tá bem difícil de competir. – Disse ele brincando, seu sorrisinho fofo me encantando.
  - E quem disse que isso é uma competição? – Perguntei, unindo as sobrancelhas.
  - Ta vendo? Além de tudo, você é sensata. – Tom disse sorrindo. Passamos um tempo ali sentados no jardim conversando. Logo mais, Tobey nos acompanhou e Andrew também veio.
  Eles brincaram e trocaram carícias, vendo que eram o centro das atenções mesmo sem querer, fiquei apenas admirando aqueles três homens maravilhosos à minha frente, rindo feito uma boba, pensando o que, em nome de Deus, eu havia feito para ter aquela vista privilegiada que eu estava tendo. Conversamos sobre besteiras de bêbados, com Tobey pegando no meu pé enquanto os dois falavam sobre quem havia cantado melhor, onde Andrew defendia a performance de Tom e Tom defendia a minha performance. Era óbvio que Andrew estava zoando Tom, mas ele não parecia notar, o que deixava tudo muito mais engraçado.
  - Você faz outro drink para mim? – Perguntou Tom sorrindo bobo, passando a mão sobre os cabelos.
  - Claro. – Creio que eu nunca conseguiria dizer não a este pedido, feito com tanta fofura envolvida. Levantamo-nos sem chamar muita atenção, deixando Tob e Andrew conversando sobre um grupo de mulheres que estava mais a frente. Tobey sempre me olhando de soslaio para ver minha reação.
  Fomos até a cozinha, onde já tinha uma tábua com algumas coisas ali que eu havia usado, misturei algumas frutas e fiz uma caipirinha com duas doses de vodca e uma de água para ele.
  Ele estava ao meu lado, olhando cada passo e cada coisa que eu fazia, como se quisesse aprender. Entreguei a ele o copo, com uma fatia de morango na beirada e ele sorriu em agradecimento. Deu um grande gole na bebida e a colocou de volta na pia.
  - Eu vou fazer algo que estou querendo fazer desde a primeira vez que te vi, ok? – Ele disse, aquele sotaque me zonza. Colocou uma das mãos no meu rosto e fechou os olhos, fechei os olhos também, sabendo o que viria em seguida, porém antes de qualquer coisa, ouvimos um barulho alto da porta de correr se abrindo e nos afastamos rapidamente.
  - Ah sim, eu nem consigo imaginar o que vocês estavam prestes a fazer. – Tobey disse dando uma risada alta. Olhei para Tom, e ele estava completamente sem graça, passando a mão sob a nuca. Dei uma risada também. Limpei o canto da sua boca com o dedão, brincando. Tom não sabia se sorria, ou se saía correndo.
  - Cara, relaxa. Não sou dono de ninguém, minha irmã é bem grandinha. Inclusive é mais velha que você, então pode muito bem te dar uma surra. – Falou Tob, colocando a mão no ombro dele, o deixando ligeiramente menos tenso.
  Tobey pegou uma garrafa de água e saiu da cozinha, ainda rindo.
  Tom me olhou mordendo o lábio inferior.
  - Você vai me dar uma surra?
  - Se você der motivos para isso... – Respondi rindo, empurrando-o. Ele pegou o copinho dosador que eu estava usando para fazer os drinks, encheu de tequila e tomou um shot, encheu novamente e me ofereceu. O que poderia dar errado? Tomei.
  - Vamos cantar mais uma música no karaokê, quero ver o que mais você sabe fazer. – Ele disse me puxando pela mão.
  Aquela tequila desceu queimando. Senti meu corpo ligeiramente mais mole do que de costume.
  Tom pegou o microfone, o pessoal já o ovacionou enquanto ele procurava a música para cantar. O começo conhecido de Blinding Lights tocou e todo mundo voltou a berrar.

I've been tryna call
I've been on my own for long enough
Maybe you can show me how to love, maybe
I'm going through withdrawals
You don't even have to do too much
You can turn me on with just a touch, baby

  Tom cantou dando pequenas olhadelas para mim, mas a maior parte do tempo estava de olhos fechados. Eu sentia aquela tequila fervilhar dentro de mim, e sorri enquanto ele cantava desajeitado aquela música cheia de significados. Jacob aplaudia no ritmo da música no sofá e até vi Andrew no meio da multidão dando risada e aplaudindo o colega.
  Quando ele terminou a música e todos começaram a aplaudir fervorosamente, corri ao banheiro para ver como eu estava antes de cantar novamente. Meus olhos estavam nitidamente bêbados. Não havia mais batom na minha boca e meus cabelos estavam mais revoltados do que no início da noite. Tirando isso, aparentemente estava tudo certo.
  Saí do banheiro e Jacob já veio me buscar para que eu fosse a próxima à cantar.
  - Gente, eu estou mais bêbada do que deveria, então ignorem as idiotices que eu fizer durante a performance. – Eu falei ao microfone e todos deram risadas se divertindo.
  O início de Kiss me more de Doja Cat começou a tocar e notei as pessoas animadas com aquilo. Dei uma risada alta ao microfone sabendo que aquilo seria divertido. Tom me olhava com olhos admirados, mas no fundo da sala eu via outro par de olhos tão admirado quanto.

We hug and yes, we make love
And always just say "Goodnight"
And we cuddle, sure, I do love it
But I need your lips on mine

  Na minha cabeça, eu soava exatamente como Doja Cat, mas eu sabia que minha voz estava horrível. A plateia aplaudia no ritmo da música e eu estava animada para continuar aquele absurdo de música que eu tive a coragem de iniciar. Fiz o mesmo de antes e cantei fazendo pequenos passos bobos, apenas para dizer que estava dançando. As vezes dava giros e rebolava a bunda, apenas para dar o toque latino que eu sabia que tinha fervendo em meu sangue.

Can you kiss me more?
We're so young, boy
We ain't got nothin' to lose, oh, oh
It's just principle
Baby, hold me
'Cause I like the way you groove, oh, oh

  Eu juro que Tom estava mais animado do que deveria com a música, pensando bem, não era mais do que deveria, a música era simples e a letra era bem direta. Cada pessoa que estivesse ouvindo saberia o que eu queria dizer com aquilo. Não havia outro jeito de esperar que ele estivesse.

Boy, you write your name, I can do the same
Ooh, I love the taste, oh-la-la-la-la
All on my tongue, I want it
Boy, you write your name, I can do the same
Ooh, I love the taste, oh-la-la-la-la-la
All on my tongue, I want it

  Terminei a música e literalmente todo mundo gritou junto com Tom, alguns assoviaram e eu fiz uma reverência exagerada, tropeçando.
  - Porra, . – Tom exclamou mais uma vez, apenas rindo divertido. – Assim você vai me matar do coração. Meu pobre coraçãozinho não aguenta.
  Saímos da sala rindo enquanto as pessoas ainda aplaudiam e comemoravam, Tom me puxou para o quarto mais próximo, que na verdade era um escritório onde Tobey guardava suas estatuetas, prêmios, scripts e esses tipos de coisa.
  Ele parou em minha frente, me encarando despretensiosamente e fez algo que deixou meu coração feliz.
  Segurou meu rosto com as duas mãos e me perguntou:
  - Você está bem? – Disse me olhando profundamente nos olhos, tão perto que eu via suas sobrancelhas bagunçadas fio a fio.
  Eu estava bêbada, sim, mas não achava alucinando ou a ponto de vomitar e não ter ciência de meus atos, mesmo assim achei melhor prevenir.
  - Estou, mas por mais que eu tenha cantado aquela música, não estou bem o bastante para fazer qualquer coisa. – Expliquei, fazendo sinal e ele deu uma gargalhada, jogando a cabeça para trás.
  - Maguire, você é hilária.
  Uni as sobrancelhas esperando-o se recompor para explicar.
  - Como você sabe, faz alguns meses que eu não faço esse tipo de coisa, sabe, por conta da Zen, não podia simplesmente correr o risco de que descobrissem e tivesse uma recepção negativa do filme.
  - Ok. – Respondi, sabendo que vinha mais coisa.
  - Então, , quando eu tiver essa chance, quero estar sóbrio, para lembrar de cada momento, sabe?
  - Isso é muito sensato. – Concordei séria, afinal em nenhum momento ele disse que seria comigo. Apenas que queria estar sóbrio. Olha, não seria um esforço tremendo ter que transar com Tom Holland, isso eu posso assegurar. – O álcool dá muitas sensações boas, e infelizmente perda de memória e arrependimento normalmente também vêm junto. – Acrescentei e ele riu, colocando as mãos em minha cintura, coloquei meus braços em volta do seu pescoço.
  - Exatamente, por este motivo transar sóbrio sempre vai ser a melhor opção, ou no máximo com uma taça de vinho ou duas. – Explicou e eu concordei.
  - Ok, então a minha apresentação anterior não tem nada a ver com o fato de você ter, por acaso, me levado diretamente à um quarto?
  - Maguire, o que eu mais quero agora é te levar à um quarto. – Ele disse, olhando em meus olhos novamente, com as sobrancelhas unidas e um sorrisinho nos lábios. – Eu só preciso saber se você também quer isso, enquanto está sóbria. Pois não sei você, mas eu fico muito mais corajoso quando estou bêbado, e tenho medo de que você só esteja a fim de mim por causa da bebida.
  Aquilo era uma pontada de insegurança que eu estava vendo sob aquela linda casca de Tom Holland?
  - Em algum momento a gente descobre. – Pisquei e segui meus lábios ao encontro dos dele, mas antes que isso acontecesse, Tom se desvencilhou de meus braços e vomitou sobre meus pés.

Capítulo 07

  - Como foi o jantar ontem? - perguntou meu irmão, quando entrou na cozinha no dia seguinte.
  Meus pensamentos varreram os acontecimentos da noite anterior e eu sorri antes de responder:
  - Foi ótimo, me diverti bastante. - Ele pareceu analisar meu sorriso antes de sentar-se.
  - Hmm, e você já tem um preferido? - perguntou maliciosamente, eu podia sentir o seu tom de deboche.
  - Do que você está falando? - Me fiz de desentendida, mesmo sabendo que aquilo não iria funcionar.
  - Ah, você sabe, se ambos te convidassem para sair hoje? Com qual deles você iria? - perguntou, levando sua xícara de café fumegante até a boca, com seu sorrisinho cínico ainda nos lábios.
  - Não vou te dar esse gostinho, Tob, nem comece. Você sabe que estou apenas aceitando as oportunidades que a vida está me dando - o respondi e ele concordou com a cabeça. - E você sabe também que a minha preferência, em primeiro lugar, é sempre você.
  Tobey riu, mas pude ver em seus olhos que ele gostou da resposta e seu ego inflou um pouco antes de continuar:
  - Mudando de assunto, você vai querer ir ao programa do Jimmy Fallon esta semana? Lembra que comentei contigo no dia da festa?
  Eu não era a maior fã de programas de auditório e entrevistas, pelo menos não daquele estilo que não tinha um conteúdo realmente relevante e era mais para matar o tempo, mas realmente gostei do convite. Eu nunca havia ido à um programa de TV, muito menos com plateia e muito menos ainda acompanhando pessoas famosas, então com certeza seria algo que eu teria a possibilidade de riscar da minha lista de coisas a fazer.
  - Claro que sim! Meu Deus, que pergunta besta. Quando será?
  - A gravação é amanhã, não lembro quando o programa vai ao ar. Mas minha agente me avisou, eu só esqueci mesmo - ele disse dando de ombros.
  - AMANHÃ?! - perguntei quase me engasgando com a uva que havia colocado na boca.
  - Sim, aparentemente Kendall e Kylie Jenner cancelaram a presença em cima da hora e eles anteciparam a nossa ida, que convém muito com a agenda dos dois britânicos que teriam que ir e voltar para do Reino Unido para cá por causa desse talk-show. E acabou que você ainda está aqui, então deu tudo certo - ele disse tranquilamente, como se aquilo fizesse parte do seu dia a dia: essas mudanças de calendário em cima da hora. E realmente fazia, ele apenas ia seguindo o fluxo que sua agente planejava.
  - Mas o que devo vestir? Não faço ideia do que usar num evento assim, nunca tive o hábito de assistir muitos talk-shows para saber o que usar. Muito menos um do Jimmy…
  - , relaxa. Hoje a gente vai atrás de algo para você usar, não se preocupa com isso - ele disse rindo do meu desespero.
  A verdade era que não era só aquilo que estava me procurando, e sim o fato de ter que lidar com Tom e Andrew ao mesmo tempo e, desta vez, eu já havia me envolvido com os dois. Ok, foi só um beijo de ambas as partes, mas porra! Minha vida ainda estava de cabeça para baixo e aquilo ali não ajudava em nada. Eu sei que não devo nada a ninguém, e é só tratar os dois igualmente sem problema algum, mas eu nunca fiquei com dois caras ao mesmo tempo, não sei como isso funciona. E se Tom decidisse me cumprimentar com um selinho?! Eu não sei o que se passa na cabeça dele e obviamente ele não faria isso, mas… e se o fizesse? Meus pensamentos foram longe enquanto eu comia o mix de frutas vermelhas que estava em minha frente, tão longe que Tobey teve que me puxar de volta.
  - Não me diz que você está pensando em como vai lidar com os dois ao mesmo tempo? - perguntou, rolando os olhos dramaticamente. Soltei um risinho nervoso pelo nariz.
  - Eu não… - Tentei me defender, mas ele me interrompeu novamente.
  - , respira. - Sua voz era calma e leve. - Você não deve nada a nenhum dos dois. Eu não sei até que ponto vocês foram, mas isso não torna vocês propriedade uns dos outros. Se foi só beijo, aí mesmo é que você não tem que se preocupar. Os dois sabem que você não vai ficar aqui para sempre e só querem aproveitar os momentos de vocês juntos e eu imagino que você pense o mesmo - murmurou de forma que pareceu aguardar a minha confirmação e eu concordei com a cabeça. - É sobre isso, você não é uma propriedade e você não tem que se preocupar em como eles vão reagir, já que vocês são todos adultos. Tenho minhas dúvidas se já posso considerar Tom um adulto, mas se você não tem um problema com isso, não sou eu que terei - ele disse por fim.
  - Ok, Tob, obrigada por me acalmar. Você sempre me dá esses sermões que me deixam com a consciência menos pesada - admiti rindo e ele riu junto.
  - É o meu papel de irmão mais velho, e convenhamos que sou eu que estou te colocando nessa emboscada, então nada mais justo do que eu tentar te ajudar a sair disso. - Deu de ombros. Terminamos de comer e continuei contando a ele mais detalhes sobre a noite anterior.

  À tarde, Tobey me levou em uma loja para escolher uma roupa para o programa, segundo ele, o entrevistado devia ir com uma roupa mais produzida, mas que o pessoal da plateia podia ir com uma roupa simples. Como havia a possibilidade de que Jimmy viesse a trocar uma ideia comigo, já que houve tanta comoção na internet quanto a mim, ele disse que eu podia ir um pouco mais elegante do que o resto da plateia, e era isso que estávamos procurando. Uma roupa simples para eu não me destoar, mas elegante o suficiente para que eu não fosse qualquer uma. Foi exatamente isto que Tobey falou à vendedora quando fomos atendidos.
  A loja era linda, eu me sentia a própria Julia Roberta em Uma Linda Mulher, enquanto passava por araras com roupas mil e uma cores. A vendedora me trouxe um conjunto de calça e blazer de alfaiataria na cor rosa bebê, era lindo e fui ao provador. A calça tinha um caimento perfeito e acabava acentuando as curvas da minha cintura fina e da minha bunda, o comprimento dela ia até meus tornozelos. Por baixo do blazer, uma camisa mais despojada, branca com algumas manchas de glitter, como se fosse um tie dye, além disso ela tinha um nó no comprimento, que a deixava com um ar de cropped, mas como a calça tinha a cintura bem alta, minha pele nem chegava a aparecer, era o comprimento perfeito. O blazer por cima era liso, básico e lindo. Me olhando no espelho, eu sentia como se aquela roupa fosse minha, combinava muito comigo. Saí do provador, e Tobey me analisou.
  - Você está linda - disse sorrindo, os olhos cheios de sentimento. - Você gostou?
  - Gostei. Mas tenho medo de que seja demais, sabe? - expliquei, dando uma voltinha na frente do espelho. Eu estava ótima mesmo, a vendedora tinha um olho bom para este tipo de coisa.
  - Não é demais. Não se preocupe com isso - Tobey disse gentil e a vendedora concordou:
  - Se me permite – murmurou ela, simpática -, caso você esteja com medo de que seja algo muito sério por causa do blazer, use com um tênis e vai quebrar um pouco, junto com a blusa. Você tem pés pequenos, então com o tênis certo, vai continuar lindo sem ser tão sério.
  - Está vendo? Vamos atrás de um tênis então - disse Tob, divertido.
  Voltamos para casa com mais sacolas do que a própria Jenna Rink em De repente 30, roupas, sapatos, acessórios e mais acessórios. Tobey escolheu uma roupa para si também, uma camisa rosa de botões e um blazer azul escuro, os sapatos e a calça seriam garimpados em casa.
  À noite fomos jantar em uma pizzaria realmente italiana, com massa caseira feita com fermentação natural, minha boca salivava só de pensar nisso e fizemos uma ligação de vídeo com minha mãe durante a janta, conversamos um pouco e pude notar como o português de Tobey estava melhorando.
  Ele estava fazendo aulas com uma professora particular brasileira quase todos os dias em que eu estava ali. Me ofereci para ensiná-lo, mas ele já havia fechado o pacote com a moça quando eu cheguei nos Estados Unidos. Minha mãe, por outro lado, chorava feito uma bebezinha vendo-o falar tão bem em português. Eu sabia que havia feito a coisa certa quando via aquele tipo de cena na minha frente, minha mãe estava orgulhosa de mim, estava feliz e agradecida por estarmos unidos novamente. Como ela mesma havia dito: Tobey, seu pai foi um idiota, mas fico feliz que a idiotice não continuou na linhagem. Ela o considerava o filho que nunca teve, e eu ficava muito feliz de vê-los daquele jeito.
  Comemos duas pizzas antes de irmos embora, uma mais maravilhosa do que a outra. Conversamos sobre nossas famílias e como o tempo estava passando rápido naqueles dias em que eu estava ali. Minhas férias estavam acabando e a realidade da minha vida no Brasil estava voltando à tona, logo eu estaria em Florianópolis de novo, mas não posso negar que estava com saudades das praias geladas e de falar minha língua natal. Família e amigos eu nem levo em consideração, pois a saudade é inexplicável, mas a minha praia e meu português estavam me fazendo mais falta do que eu realmente esperava.

  No dia seguinte, acordei empolgada e fiz um Croque Mounseir para mim e um para Tobey. Ele comeu com tantos elogios que fiquei com o ego inflado. Conversamos um pouco em como seria a nossa agenda e seguimos o cronograma. O programa era gravado no fim da tarde, então precisávamos pegar um voo para NY, almoçar algo simples lá e depois Genevieve e Carlos fariam a sua mágica.
  O voo foi calmo, viajamos de primeira classe, assim como quando viajei com Andrew. Eu estava começando a me acostumar com os voos, que sempre foi algo que eu tive bastante medo, porém, dizem que chega um determinado número de voos que você se acostuma e não era mentira, eu estava me acostumando. Quando chegamos, fomos direto ao hotel, colocamos nossos pertences nos devidos quartos e descemos para o lobby para almoçar. Em menos de meia hora, Gen e Carlos estavam chegando para nos arrumar.
  Eu estava esbaforida! Não estava acostumada com tanta correria assim, apenas dentro de uma cozinha e não no dia a dia. Quatro horas dentro de um avião, mais meia hora para almoçar, depois ir correndo tomar um banho para fazer cabelo e maquiagem... Eu, com certeza, não funcionava assim. Mas tive que engolir tudo e aceitar que minha vida seria assim por enquanto, não sei se aguentaria. Elogiei Tobey por isso e ele deu de ombros, afinal era apenas mais um dia para ele. Normal.
  Depois do meu banho, Gen veio fazer minha maquiagem primeiro, enquanto Carlos arrumava Tobey. Dessa vez ela fez uma maquiagem genuinamente leve, com um marrom claro em minhas pálpebras, um coraçãozinho rosa com delineador no canto de cada olho e um batom nude com bastante gloss nos lábios. Depois, Carlos escovou meus cabelos, e os deixou propositalmente ondulados e esvoaçantes, com a desculpa de que se fizesse um penteado, o look pudesse voltar a ficar muito sério. Colou unhas postiças em meus dedos novamente, desta vez em um degradê que saía do branco na raiz e nas pontas era de um rosa claro que combinava perfeitamente com meu blazer. E assim, eu estava pronta novamente para um novo desafio: TV show.
  Encontrei Tobey no lobby do hotel, absolutamente lindo, com uma calça de alfaiataria azul escura como o blazer, e a camisa rosa por baixo com os botões do colarinho abertos. Seus cabelos estavam perfeitamente penteados para o lado. Ele sorriu quando me viu e me abraçou orgulhoso.
  - Você está linda – disse segurando minha mão e me guiando ao carro.
  Estávamos exatamente no horário. Se pegássemos qualquer trânsito, iríamos nos atrasar.

  Chegamos ao prédio onde eram feitas as gravações do programa, o lugar era lindo e enorme, haviam tantas portas e corredores que eu me perderia com facilidade, se uma moça não estivesse nos guiando lá dentro. O lugar era uma bagunça organizada: pessoas correndo para todos os lados, câmeras, fios, pranchetas, crachás e tickets. Me deram um crachá que dizia “acompanhante” e depois colocaram outro por cima que dizia “plateia”. Eles levaram eu e Tobey a um camarim, e Tobey logo fechou a porta e me olhou rindo:
  - Você está apavorada. – Deu uma gargalhada, levando a cabeça para trás.
  - Estou! – admiti, rindo também. Me abanei com a mão, sentindo um calor de nervosismo subindo pelo meu tronco. – Acho que prefiro a cozinha quando vem um crítico, a emoção é diferente, você sabe o que tem que fazer. Aqui eu ‘tô simplesmente perdida.
  - Relaxa , você está indo bem. Só quero que você se sinta à vontade, então qualquer problema, me avisa. Não passa perrengue, ok? – Tob disse, sorrindo em compaixão.
  Respirei fundo e devolvi o sorriso. Tirei meu blazer e dei uma volta pelo camarim tentando recuperar minha respiração de volta. Uma batida leve na porta me fez voltar à realidade.
  - Hey man! – Ouvi a voz de Tobey e eu já sabia que só podia ser um dos dois. Virei-me e, descobri que não estava preparada par aquilo: Andrew estava absolutamente maravilhoso.
  Os dois se abraçaram e trocaram palavras que não ouvi, pois estava completamente hipnotizada. Ele usava calças pretas e um suéter preto de gola alta, seu cabelo estava penteado para trás e a barba por fazer. Juro que meu coração descompassou com tamanha beleza, e tive que me controlar para não ficar com a boca escancarada enquanto ele vinha até mim sorrindo, aquele sorriso cheio de malícias que ele sabia fazer muito bem.
  - Como você está, pequena Maguire? – perguntou a mim, beijou meu rosto e me abraçou calorosamente. Seu cheiro me abraçou junto, me deixando boba.
  - Estou bem e você, Garfield? – perguntei enquanto ainda estávamos abraçados e pude ver Tobey fazendo um coraçãozinho com as mãos, rindo da minha cara. Rolei os olhos para ele.
  - Ótimo – apenas respondeu simpático. – O que está rolando aqui? – Ele se referiu a mim, porém perguntando a Tobey.
  - está nervosa, nunca participou de um programa de televisão antes – explicou, e eu continuei me abanando, andando de um lado para o outro no camarim. Já não sabia mais se o abano era por conta do programa ou por conta do homem que acabou de me abraçar. Só sei que minhas mãos suavam e tive que ligar o ar-condicionado para me deixar mais tranquila.
  Tobey e Andrew continuaram conversando feito dois cavalheiros, os cabelos e as roupas impecáveis, e eu parecendo uma bruxa, suando, nervosa e besta. Só eu mesma para aceitar um convite desses.
  Menos de cinco minutos depois, bateram à porta do camarim de novo, dessa vez a batida esquisita e sem ritmo, a mesma que Tom fazia lá na casa de Tobey. Meu coração descompassou novamente e Tobey abriu a porta, Tom, como usualmente, já estava falando:
  - Eu sabia que você só podiam estar aqui, bati na porta do Andy e estava vazio, era claro que aqui seria o esconderijo secreto. Meu Deus, que quarto gela... – Tobey o puxou para um abraço para que ele se calasse.
  Tom também não ficava para trás, estava tão maravilhoso quanto os dois homens que o cumprimentavam. Usava uma calça cinza que parecia ter sido desenhada para ele, uma camisa branca com o colarinho desabotoado e as mangas perfeitamente dobradas até o antebraço. Ele cumprimentou os dois que estavam próximos da porta e veio até mim sorrindo, aquele sorriso que mostrava todos os dentes, e me abraçou calorosamente, seu cheiro era completamente diferente dos demais e também me deixou de pernas bambas. Ele soltou o abraço, segurou meus ombros e deu um beijo na minha bochecha, sem tirar o sorriso do rosto.
  - Tudo certo, irmã Maguire? – perguntou ele, seus cabelos estavam naturais e ligeiramente puxados para trás, estavam crescendo bem, alguns cachinhos já se formavam sobre sua testa.
  - Tudo sim – apenas disse, ainda mais nervosa do que antes. Tinha como eu não estar nervosa, sabendo que: primeiro, logo eu estaria conhecendo Jimmy Fallon; segundo, que eu estaria participando de um programa dele, e existia uma possibilidade, mesmo que mínima, de ele querer conversar comigo; terceiro, eu estava na presença de dois homens particularmente formidáveis, lindos, charmosos e encantadores; e quarto, mas não menos importante, eu havia beijado os dois e me apavorava o fato de que em algum momento isso viesse à tona.
  - Ela está fingindo! – Andrew disse rindo. – Está nervosa por conta do programa.
  Dei um sorriso amarelo e os três riram da minha cara. Tobey estava amando tudo aquilo, seus olhinhos maliciosos rodavam todo o ambiente, para que nada passasse despercebido. Miserável.
  - Não tem por que ficar nervosa, – Tom disse, ficando por trás de mim e apertando duas mãos em meus ombros fazendo uma massagem.
  - Ah sim, é muito fácil para vocês três falarem isso. Os três bonitões de Hollywood que já tiveram um zilhão de entrevistas na vida – falei unindo as sobrancelhas. – ‘Bora cozinhar um ovo poche para ver se vocês não vão ficar nervosos. – Bufei e eles caíram na gargalhada, Tom continuava fazendo massagem em meus ombros.
  - Você fica engraçada quando está irritada, – Tob disse, me fazendo revirar os olhos.
  - Irritada e nervosa. – Andrew fez questão de acrescentar.
  - Relaxa, Maguire, não é nada demais – Tom disse, e saiu de trás de mim, piscou um olho quando foi ao encontro dos outros. Eu apenas bufei mais uma vez com o ar-condicionado deixando minhas mãos geladas.
  Depois de alguns minutos, uma moça veio até o quarto e pediu para que eu fosse com ela até a plateia. Tobey segurou minhas mãos e me desejou boa sorte, dizendo que tudo ficaria bem.
  Segui com ela pelo emaranhado de corredores e chegamos ao local onde eram feitas as entrevistas, o palco era gigantesco e ainda estava vazio, pela TV parece ser algo pequeno e aconchegante, mas na realidade eram apenas jogos de câmera muito bem executados.
  As pessoas na plateia estavam espalhadas com pelo menos duas cadeiras de distância e, alguns minutos depois, a banda começou a subir no palco, algumas pessoas aplaudiram sem muito entusiasmo. Aos poucos, as pessoas foram chegando, os operadores de câmeras, algumas pessoas com headphones e sabe-se lá o que mais. Por fim, cerca de 20 minutos depois, tudo parecia estar pronto para iniciar.
  Um letreio luminoso entre a plateia e o palco tinha instruções de como seria a experiência, de onde e quando fosse para aplaudir, estaria escrito ali, e quando fosse para ficar em silêncio, ou de pé, e assim por diante. Fizeram um teste e todos acompanharam as instruções obedientes, inclusive eu. O nervosismo acabou dando uma acalmada quando me afastei dos causadores dos meus problemas e só fiquei ligeiramente ansiosa para ver a entrada de Tobey.
  Depois de mais alguns minutos que me pareceram eternos, Jimmy Fallon entrou, aplausos. Ele fez um monólogo didático e engraçado sobre como ele já era adulto quando o primeiro filme do Tobey havia sido lançado então ele não entendia muito bem este estado eufórico do resto do país, mas que como as contas dele deviam ser pagas, ali estava ele.
  A banda tocou a música tema e ele chamou Tom primeiro, eles se cumprimentaram trocaram algumas palavras e Tom ficou de pé enquanto ele chamava os demais. Em segundo lugar, ele chamou Andrew, que cumprimentou Tom e Jimmy e colocou-se ao lado de Tom, também em pé. A cada chamada a plateia aplaudia exatamente como estava no letreiro. O próximo, obviamente foi meu irmão, que entrou com energia no palco e cumprimentou os colegas e também Jimmy. Os três deram tchauzinho para a plateia que estava mais animada com todos os três juntos, e sentaram-se.
  A entrevista iniciou com Jimmy perguntando como foi a experiência, e todos eles responderam entusiasmados sobre como foi e em como eles criaram um vínculo de amizade forte durante as gravações. Eles brincavam um com o outro, com respostas divertidas e leves, Tom era nitidamente o mais carismático, Andrew era o mais divertido e Tobey era o mais sério, era gostoso ver como as personalidades refletiam nos seus personagens e em como eles se complementavam.
  Jimmy perguntou a eles como foi esse processo de guardar segredo por dois anos, e todos falaram que foi algo realmente difícil, Tom fez piada dizendo que evitava toda entrevista que podia, por motivos óbvios e Tobey e Andrew deram risada dele enquanto apenas disseram que mentiam e pronto.
  A entrevista continuou durante pelo menos meia hora tranquila e leve, como o programa de Jimmy Fallon normalmente era (por menos que eu visse, eu sabia que ele era um comediante leve), e em um momento “após os comerciais” Jimmy disse que tinha uma brincadeira para eles, mas que antes ele tinha uma pergunta especial para nos fazer.
  - Eu tenho uma pergunta, na verdade não é bem uma pergunta, mas... Os fãs estão curiosos, a plateia está curiosa e, bom a internet está pirando. Então não posso deixar de falar isso. - Ele fez uma pausa dramática e um músico sagaz fez uma batidinha na bateria. O silêncio se instalou no ambiente e ele disse: – , falem.
  A plateia caiu na risada, já que um olhou para o outro sem saber o que falar. Meu coração parou. Deu um baque surdo e eu senti minhas mãos molhadas.
  - Bom, posso falar primeiro? – Tobey perguntou, levantando as mãos.
  - Claro. Deve. – Jimmy disse rindo. Era a primeira vez que Tobey ia falar de mim abertamente, sem segredos ou paparazzi batendo fotos nossas escondidos.
  - é minha irmã apenas por parte de pai, meu pai se apaixonou pela mãe dela em uma viagem à negócios no Brasil. Nós nos afastamos quando eu tinha 19 anos e ela tinha 4. Ficamos 25 anos sem nos falarmos e agora, depois de ser convencido por estes dois – Tobey apontou para Tom e Andrew –, eu a convenci de que devíamos nos reaproximar. E é isto que estamos fazendo desde então – Tob disse, abanando a mão para mim e eu devolvi o aceno, enquanto a plateia fazia “Awn”.
  - Nossa, que história maravilhosa! Que bom que vocês estão tendo essa oportunidade de se reencontrar. Ah, oi , não sabia que você estava aqui! – Jimmy disse, abanando a mão para mim também, a simpatia em pessoa. – Depois eu te dou mais atenção, primeiro quero ouvir algumas palavras desses dois aqui. – A plateia estourou em risadas novamente.
  Jimmy ficou encarando Tom e Andrew para ver qual deles iria falar primeiro. Meu coração parecia uma escola de samba. Os dois ficaram sem saber o que dizer, Tom arriscou algumas palavras e apenas gaguejou. Jimmy estava ADORANDO tudo aquilo, ele sabia que tinha acertado em perguntar sobre mim. Tobey ria abertamente também.
  - Bom, creio que posso ajudar vocês um pouquinho – Jimmy disse, movendo-se sobre a cadeira e retirando um envelope de baixo do seu balcão. – Tenho algumas fotos aqui que estão deixando a internet em surto coletivo.
  Surto coletivo era o que estava acontecendo em meu peito. E eu não podia esboçar muita reação, pois havia uma câmera mirando apenas em mim.
  A primeira foto que ele mostrou foi a foto da première do filme do Homem-Aranha, onde os dois estavam beijando minhas mãos. A plateia ovacionou. Ufa, soltei um pouco de ar.
  A segunda foto era Andrew beijando meu ombro, com os olhos completamente vidrados em mim. A plateia ovacionou novamente, desta vez com um pouco mais de entusiasmo.
  A terceira foto era uma foto nitidamente tirada escondida, e era eu e Tom jantando no restaurante anteontem. Era nítido que era um jantar particular e, na foto, Tom ria abertamente enquanto eu tomava um gole na taça de vinho. A plateia foi à loucura, bateram palmas e gritaram, era exatamente o tipo de reação que Jimmy queria. Ele sorriu vitorioso.
  Quando a plateia calou-se, Andrew foi o primeiro a falar:
  - Bom, é uma ótima pessoa. Uma mulher incrivelmente divertida e uma companhia excepcionalmente agradável. – Seu sotaque deixava aquelas palavras ainda mais bonitas. – Eu a conheci na primeira foto, como vocês podem ver, e a convidei para ser minha companhia na segunda foto. Eu... Acabei deixando esse beijo no ombro escapar porque ela estava extraordinariamente cheirosa naquele dia, e eu inclusive disse isto a ela antes do ato. Um beijo no ombro amigável e sem segundas intenções. – Ele mal terminou a frase e a plateia gritou novamente, aplaudindo. Por fim ele concluiu, galanteador demais para o meu gosto: - Somos grandes amigos – disse sorrindo e mandando um beijo para mim com as duas mãos. Eu só conseguia rir e nada mais, minhas bochechas estavam ardendo.
  Tobey se divertia como nunca.
  Todos os olhos correram para Tom, ele respirou fundo.
  - Acho que Andrew descreveu corretamente, é maravilhosa e uma ótima companhia. Não sei se vocês sabem, mas ela é uma cozinheira profissional e, bom, eu tinha o contato desse cara no restaurante e quis levá-la para conhecer o ambiente... – Jimmy interrompeu Tom, fazendo todos rirem.
  - Você está me dizendo que esta foto representa o fato de que você estava a levando para conhecer um restaurante?
  - Absolutamente – Tom disse sorrindo.
  A plateia aplaudiu rindo.
  - , minha querida, você quer ter a opção de ajudar seu amigo Tom? – Jimmy falou, me encarando, segurando o riso. Em menos de meio segundo, já havia alguém ao meu lado com um microfone ligado.
  Dei uma risada nervosa ao microfone, arrancando mais risadas de todos. Levantei-me.
  - Primeiramente, boa noite a todos. Jimmy, é um prazer imenso estar aqui, obrigada pelo convite. E sobre as fotos, sinto lhe informar que todos foram verdadeiros em suas respostas. Eu realmente sou irmã de Tobey – falei e todos riram novamente. – Andrew realmente elogiou meu perfume no momento daquela foto e o beijo no ombro foi algo tão simples e bobo que nenhum de nós pensou que fosse causar todo esse alvoroço. E sobre Tom, é verdade, eu sou uma cozinheira profissional no Brasil e ele me levou lá com a melhor das intenções, na verdade eu fiquei muito mais tempo vendo os cozinheiros trabalharem e conversando com o chef, do que jantando. De qualquer maneira, creio que a foto de nós jantando era muito mais interessante.
  Quando terminei de falar, todos aplaudiram, inclusive os entrevistados que sorriam para mim, um mais adorável do que o outro.
  - Ok - Jimmy disse, quando os aplausos cessaram. – Vamos todos fingir que acreditamos nisso, e vamos fingir que a internet também acreditou.
  Depois de algumas piadas e muitas risadas, Jimmy finalmente mudou de assunto.
  Bom, a internet que pegue leve comigo! Estou aqui há poucos dias, e também há poucos dias o término entre Tom e Zendaya aconteceu, sei que não tem absolutamente nada a ver com a minha vinda, mas o timing não foi o melhor possível a meu favor.
  O programa seguiu com uma brincadeira onde vários famosos usavam a máscara do Homem-Aranha e eles tinham que adivinhar quem eram, eles ficaram atrás de balcões com um botão vermelho no meio e quem tivesse mais pontos, ganhava. O programa foi muito divertido e agradável. Quem ganhou a brincadeira no final foi Tom, que acertou onze das vinte celebridades, sendo que na verdade ele só era mais rápido do que os outros ao apertar o botão.
  Após as gravações se encerrarem, Jimmy Fallon em pessoa veio até mim se apresentar e pediu desculpas por me envolver em tudo e por não me avisar anteriormente, mas ele queria uma reação genuína de todos, inclusive minha. Falei que não tinha problemas (e realmente não tinha) e só o informei que ele quase me matou do coração. Tobey se aproximou de nós, envolveu meu pescoço com o braço e deu um beijo em minha têmpora. Trocamos mais algumas palavras e batemos algumas selfies, todos juntos para Jimmy postar nas redes sociais. O programa iria ao ar dentro de uma semana.

  No carro, Tobey me pediu desculpas por aquilo tudo, e disse que não fazia ideia de que iriam me expor daquele jeito, expliquei que não ligava desde que não prejudicassem eles, afinal, as fotos não mostravam nada de mais, eu só precisava ter o psicológico preparado para o tipo de coisas que poderiam falar na internet. Como Tobey já me disse uma vez, tem que levar com leveza, pois se for tudo a ferro e fogo, você acaba pirando.
  Seguimos para o hotel, onde Tom e Andrew também estavam hospedados (hotel das celebridades) e fomos direto ao bar jogar conversa fora.
  - Então, , o nervosismo foi necessário? – Tobey me perguntou bebendo um gole do seu whisky que havia pedido. Estávamos todos no balcão do bar, havia muitas mesas livres, mas acabamos ficando por ali mesmo.
  - Você ainda me faz essa pergunta? – Empurrei seu ombro rindo. Ele riu também, assim como os demais.
  - No momento em que ele falou em fotos, eu já sabia que seria alguma coisa relacionada a ela – Andrew admitiu rindo, ele havia pedido um whisky também.
  - Minhas mãos estavam pingando suor, achei que ia ter um trecho no coração – eu disse, arrancando mais risadas deles.
  - Acho que você está exagerando, . Não foi nada demais – Tobey comentou, dando seu sorriso malicioso. Tom, que até então não havia se pronunciado, disse:
  - Acho que conseguimos contornar bem a situação, não tem por que se preocupar, .
  Todos caímos na risada.
  - Tom, você é tão ingênuo – falei, passando a mão no seu ombro. Tobey e Andrew concordaram, Tom ficou visivelmente desconfiado.
  - Vocês acharam que a desculpa não foi convincente?
  - O problema não foi a desculpa, Holland – Andrew explicou, se divertindo com tudo aquilo. – Foi a sua reação, a sua gagueira.
  - Mesmo que for verdade, as pessoas não vão comprar a ideia. – Tobey terminou.
  - Porra, eu não tinha pensado nisso. Desculpa, – Ele disse sincero, com as sobrancelhas unidas.
  - Que isso, Tom, já foi. A sua reação foi honesta, você ficou nervoso. É bom saber que não sou a única que fico nervosa. – Arqueei as sobrancelhas e peguei minha vodca com suco de laranja que o barman acabava de me entregar. Levantei o copo.
  - Às reações humanas – falei a primeira coisa que apareceu na minha cabeça.
  - À honestidade – Tom disse, me acompanhando.
  - À ingenuidade – Andrew disse também.
  - Ao amor – Tobey disse caindo na risada.
  Brindamos, e eu olhei para Tobey com cara feia, ele apenas deu de ombros. Ele pegou o celular, digitou algo e logo o meu celular vibrou, Tom e Andrew estavam conversando sobre qualquer coisa e não notaram.

  Não é possível que Tobey vai acertar sempre, ele está se divertindo muito com esse meu caso peculiar, e isso está me irritando profundamente. Em poucas semanas, Tobey já havia tomado de volta o seu lugar de irmão mais velho irritante que eu nunca tive. Sou melhor amiga de irmãos gêmeos e eles são exatamente assim, um pegando no pé do outro a todo segundo. No fundo, bem no fundo eu gosto do fato de que estamos entrando neste nível de amizade, mas ao mesmo tempo aquilo me irritava de um jeito inegável.
  - , quantas tatuagens você tem? – perguntou Andrew absolutamente do nada, me tirando de meu pequeno devaneio.
  - Como diabos vocês chegaram nesse assunto? – perguntei unindo as sobrancelhas e Tobey me olhou de soslaio, com aquele sorrisinho malicioso que dizia “Viu? Estavam falando de você”.
  - Tom estava falando que quer fazer uma tatuagem em homenagem ao Homem-Aranha, e uma coisa foi levando a outra – Andrew explicou como se fosse óbvio, dando de ombros e terminando seu copo de Whisky, balançou o copo para o barman que já entendeu o recado.
  - Tenho oito tatuagens – falei simplesmente, tomando um gole da minha bebida.
  - E elas têm significado? – Tom perguntou curioso.
  - Algumas sim, outras eu apenas gostei do desenho e o tatuador estava com horário livre. – Dei de ombros, os três sorriram com a minha simplicidade na fala.
  - E tem alguma da qual você se arrepende? – Desta vez era Tobey que estava curioso.
  - Até o momento não. Gosto das minhas tatuagens, mostram diferentes momentos da minha personalidade – expliquei.
  - ‘Tá vendo? – Andrew levantou as sobrancelhas para Tom.
  - Tom, você tem dinheiro para um caralho. Faz logo essa tatuagem, só pensa bem no lugar em que você vai fazer e se você se arrepender, é só apagar. Hoje em dia já tem tecnologia para isso.
  - Mas não apaga perfeitamente – Tom justificou.
  - Então faça algo pequeno, de modo que você possa cobrir com outra coisa. – Ergui os ombros.
  - Pare de persuadir assim o menino, . Ele é muito influenciável e você está sendo uma má influência para ele – Andrew murmurou, tapando os ouvidos de Tom dramaticamente. Todos demos risadas.
  - Bom, eu sou uma pessoa suspeita a falar mesmo. Eu adoro gente tatuada. Acho que todo mundo tinha que se tatuar uma vez na vida – expliquei fazendo cara de esnobe.
  - Você faria uma tatuagem comigo? – Tobey perguntou de repente, aparentemente motivado pelo meu discurso.
  - Mas é claro que sim – falei sorrindo, acariciando sua mão.
  - Então ‘tá, vai pensando em algo que podíamos fazer em dupla. – Eu sorri emocionada, aquilo representava muito para mim: Tobey querendo fazer uma tatuagem comigo aos 46 anos de idade. Aquilo com certeza significava algo, e assim, minha irritação de irmã mais nova havia passado.
  Fiquei sorrindo o resto da noite, enquanto falávamos sobre aleatoriedades até a hora de dormir. Fui a primeira a subir.
  Tomei um banho, tirei a maquiagem, fiz todo o meu tratamento de skincare e coloquei meu pijama, que era uma regata branca com letras rosas escrito: “Ma milkshake brings all da boys to the yard!” e uma calça com manchas pretas como uma estampa de vaquinha.
  Liguei a TV e entrei no Youtube, coloquei uma música d’O Terno para matar a saudade do meu país e me deitei na cama. Mexi no celular, respondendo as mensagens de meus amigos e família, e alguns minutos depois disso, ouvi uma batida na porta.
  Meu coração deu um pulo.
  Continuei deitada, fingindo não ter ouvido a batida, porém, seja quem fosse, estava determinado a me esperar. Levantei-me com calma. Passei um perfuminho, pois não sou completamente idiota. Abri a porta e lá estava ele. O sorriso completamente convencido e uma das sobrancelhas abaixada.
  - Não consigo parar de pensar nas suas oito tatuagens e em como eu quero procurá-las uma por uma – Andrew disse, lambendo os lábios sem pressa nenhuma.


  Nota da Autora: Eu morro escrevendo essas cenas, e fico mais morta ainda pensando em tudo que essa PP já passou num período tão curto de tempo hahahahahah A sorte de milhões da gata.
  Espero que estejam gostando e façam uma autora feliz comentando! Muito obrigada <3

Capítulo 08

  Não consegui conter um sorriso, pensando o que Tobey diria amanhã, quando eu contasse a ele. Dei espaço para Andrew entrar, antes que alguém o visse no corredor.
  - Andrew, eu não... – Falei, antes de sentir suas mãos em minha cintura, ele estava atrás de mim. Encostei a porta, perdendo completamente a fala enquanto uma de suas mãos afastava meu cabelo bagunçado para o lado.
  - , eu prometo que não vou fazer nada que você não queira. – Seu sotaque e seu hálito de dentes recém escovados me deixaram de pernas bambas. Eu definitivamente não estava preparada para aquilo. Estava com tanta “raiva” de Tobey que realmente estava com esperanças de que nenhum deles batesse em minha porta. – Você só precisa me dizer, e eu vou embora, sem mágoas ou sem ressentimentos.
  A mão dele que estava em minha cintura acariciou o local, e a blusa subiu alguns centímetros fazendo sua pele tocar na minha.
  Eu sou um ser humano. Um ser humano que gostava de Andrew me acariciando, a quem eu estava querendo enganar? Ele era um puta gostoso e estava a fim de mim: ele já tinha deixado isso bem claro. A vinda dele ao meu quarto só confirmava isso! Segui meus instintos e deixei aquilo acontecer, não precisei falar nada para ele saber que eu havia cedido, apenas fechei meus olhos. Seus lábios beijaram a curva entre meu pescoço e meu ombro, fazendo os pelinhos do meu braço se arrepiarem. Sua mão que estava em minha cintura se enfiou por baixo da minha blusinha e passeou pela minha barriga, me arrancando arrepios e um suspiro que o fez sorrir, eu sabia que ele sorriu pois soltou ar pela boca antes de voltar a beijar meu pescoço. Jesus. Eu estava com uma mão ainda apoiada na porta recém-fechada e a outra ele mesmo segurou, e usou para me dar um puxão que me fez virar de frente para ele.
  Pude finalmente olhá-lo corretamente, seus cabelos estavam ligeiramente molhados e bagunçados, no corpo ele usava uma calça verde militar de moletom e uma camiseta branca básica, estava descalço o que me indicava que o quarto dele não era tão longe.
  - O que você fez comigo? – Perguntou ele, segurando meu rosto com as duas mãos, olhando fixamente para minha boca.
  - Acredite, Garfield, não fiz nada. – Fui sincera em minha resposta, vendo que ele uniu as sobrancelhas antes de colar nossas bocas. Como eu já esperava, sua boca tinha gosto de pasta de dente, nossas línguas se misturaram com facilidade e minhas mãos procuraram suas costas por baixo da sua camiseta. Ele separou o beijo e sugou ar pelos dentes, provavelmente pelo fato de minhas mãos estarem congelando.
  - Porra. – Reclamou antes de voltar a me beijar, suas mãos se separaram, uma foi para a minha nuca e a outra para meu quadril, onde ele colocou-a por baixo da blusa novamente. O beijo era surreal, nossas línguas se misturavam com uma facilidade surpreendente e Andrew me pressionou contra a parede novamente, coisa que eu já sabia que ele gostava de fazer, e eu adorava que ele fizesse, deu um puxão em meu cabelo me fazendo arquear as costas, sua pele era quente, quase febril e o seu cheiro... Eu nem queria chegar nesse assunto, era algo que me deixava anestesiada.
  Quando ele separou nossas bocas para poder respirar direito enquanto descia os mesmos para minha mandíbula, eu sabia que ali não estava confortável o bastante. Por este motivo, afastei seu rosto com delicadeza, segurei uma de suas mãos e nos guiei até o quarto. Quando chegamos, empurrei-o na cama, a voz de Tim Bernardes ainda embalava o ambiente. Andrew mordeu os lábios vendo que eu havia tomado as rédeas do momento, brinquei com o elástico da sua calça enquanto subia na cama, e ao mesmo tempo em cima dele, já que estava de joelhos, com uma perna em cada lado seu, quando o meu rosto chegou na altura do seu, eu apenas disse:
  - Oi. – Dei o sorriso mais safado que consegui naquele momento e vi seus olhos brilhando de verdade antes de colar nossos lábios novamente. Suas mãos seguiram diretamente até minha bunda, onde ele depositou um tapa que me fez gemer durante o beijo. Senti seu pênis saltar em minha intimidade, me fazendo perder o ar por um instante.
  Ambas as mãos dele subiram da minha bunda, para o meu quadril, cintura e costelas, trazendo junto minha blusa. Antes de tirá-la por completo, Andrew sentou-se na cama, sem separar nossas bocas, fazendo com que eu ficasse sentada em seu colo. Beijou meu queixo, minha mandíbula e meu pescoço, deixando um rastro de saliva por ali, fazendo-me arrepiar novamente. Fiz o mesmo com ele, puxei seu cabelo, fazendo sua cabeça ficar levemente arqueada para trás e beijei seu queixo com a barba por fazer, desci por sua mandíbula e depois deu pescoço, mordisquei o lóbulo da sua orelha quando notei que seus pelinhos também ficaram arrepiados e sorri vitoriosa.
  - Você fez isso só para ver se eu me arrepiava? – Perguntou ele, com a voz baixinha e suave, eu ri e concordei com a cabeça sem falar nada. – Você é má. – Ele disse sorrindo e voltando a beijar meu pescoço, suas mãos voltaram a subir minha blusa, era óbvio que eu estava sem sutiã, já que nenhuma mulher normal dormia de sutiã, então o fato dele tirar a minha blusa era um sinal de que não teria volta, eu iria transar com Andrew Garfield. Sendo assim, quando senti seus dedos próximos de minhas axilas, levantei os braços e separamos o beijo para que ele conseguisse tirar a blusa por completo. Seu pênis deu mais um salto absurdo, enquanto suas mãos seguiam para minhas costas descobertas e sua boca descia para meu colo. Soltei um gemido que não consegui segurar quando sua língua tocou meu mamilo e arqueei minhas costas sentindo seus dedos pressionarem minha pele, minhas mãos se perderam em seu cabelo, dando puxões de acordo com as lambidas e sugadas que ele investia em meus seios.
  Em certo momento, Andrew decidiu que devia ficar por cima e segurou-me no colo, trocando nossos lugares, jogou-me na cama. Ele tirou a camiseta e seguiu para cima de mim, colou nossos lábios mais uma vez, forçando sua ereção contra a minha vulva, me fazendo virar os olhos nas órbitas. Enrolei minhas pernas em sua cintura, fazendo com que nossas virilhas se roçassem a todo momento, nos levando ao delírio. Andrew estava completamente ardente, me beijava com avidez, mordia meus lábios, apertava meus seios da maneira certa e eu já estava completamente molhada, basicamente implorando por mais. Por este motivo, levei minha mão até seu pau e o massageei por cima a calça, o fazendo separar nosso beijo para dar um suspiro alto seguido de um gemido baixo.
  - Porra. – Exclamou novamente com seu sotaque delicioso. Eu sorri mordendo os lábios e ele sorriu comigo, passei meus dedos para dentro do elástico da sua calça, indicando que queria que ele tirasse e ele entendeu o recado, levantando-se rapidamente e baixando a calça, deixando à mostra apenas sua cueca box preta que lhe vestia muito bem e delineava seu membro com a maestria que ele aparentava ter. Lambi os lábios, o admirando e ele sorriu levando suas mãos até a barra da minha calça, ergui minha bunda para ajudá-lo a retirar a mesma.
  - Puta merda. – Foi o que ele disse, quando me viu deitada na cama, apenas de calcinha azul bebê, sorrindo feito uma idiota.
  Andrew beijou meu pé, subiu seus lábios por minha panturrilha, minha coxa e parou em minha virilha sorrindo, aquele sorriso malicioso. Começou a puxar minha calcinha para baixo quando ouvimos a batida completamente descompassada na porta.
  Nos olhamos ao mesmo tempo, sem saber o que fazer.
  - Deixa bater, seja quem for, vai desistir. – Falei bem baixinho.
  Eu sabia quem era, apenas pela batida esquisita.
  - Se for o Tom, não vai desistir, ele deve ter ficado esse tempo todo pensando em vir, agora que criou coragem, não vai voltar tão cedo. – Andrew disse tão baixinho quanto eu.
  A porta voltou a bater.
  - O que eu faço? – Perguntei ligeiramente desesperada, não queria que o clima fugisse como da última vez. Eu estava em Nova Iorque, tive um dia estressante e só queria tirar todo esse estresse com o homem absolutamente maravilhoso que estava prestes a me fazer um oral. Andrew ficou em silêncio, pensando, enquanto estava ajoelhado ao pé da minha cama, com uma de minhas pernas sob seu ombro, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
  Seus ombros eram cheios de pintinhas.
  - Acho que a melhor opção é ir lá ver o que ele quer. – Ele sussurrou, seu hálito quente batendo no interior da minha coxa.
  - E se ele quiser o mesmo que você quis? – Sussurrei de volta, fazendo ele rir.
  - É óbvio que ele quer isso, . Olha só para você. – Ele disse ainda sorrindo. Empurrei seu ombro com o pé, fazendo-o cair sentado no chão. Levantei-me da cama, juntei sua camisa que estava no chão, com minha bunda virada para ele de propósito, fazendo-o grunhir e passar a mão antes de eu sair andando vestindo sua camiseta que batia bem na altura da minha papada. Me olhei em um espelho grande que tinha no corredor, os cabelos bagunçados e a camiseta amarrotada podiam passar um ar de quem acabou de acordar.
  A porta bateu mais uma vez.
  Abri a porta, o suficiente para ele ver que eu vestia uma roupa de dormir, mas não o suficiente para que ele se sentisse convidado a entrar.
  - , oi. – Tom disse visivelmente nervoso. – Nossa, eu te acordei? Desculpa!
  - Tom? – Baixei minhas pálpebras antes de abrir a porta, então devia estar com a cara de sono que eu queria que ele acreditasse que eu estava.
  - Eu não devia ter vindo, me perdoe por isso. Não sei onde eu estava com a cabeça. – Ele disse, baixando o olhar e finalmente percebendo que eu estava apenas de camiseta. – Porra. – Sussurrou mais para ele do que para mim, mas consegui ouvir.
  - Relaxa Tom, desculpa não te dar muita atenção, mas é que eu estava literalmente na cama agora. – Não era tecnicamente uma mentira, mas eu não me sentia bem em fazer aquilo com ele.
  - Não, , sou eu quem peço desculpas. Eu sou completamente sem noção! Tenha uma boa-noite. – Ele disse sorrindo e se afastando de costas, ainda me olhando.
  - Boa noite, Tom. – Eu apenas disse, fechando a porta devagar.
  Voltei ao quarto e vi Andrew de pé, apenas de cueca com meu frasco de perfume na mão.
  - Então é daqui que vem o seu feitiço. – Ele disse divertido. Espirrou um pouco em seu pulso, balançou-o e cheirou.
  - Não é a mesma coisa. – Pareceu decepcionado.
  - O perfume reage diferente em cada pele, você sabe disso não sabe? – Falei sentando-me na cama.
  - Na sua pele fica mil vezes melhor. – Ele esticou o pulso para eu sentir o cheiro. Era o cheiro do meu perfume normal da loja O Boticário, absolutamente nada demais. Andrew sentou-se ao meu lado. – Você está bem?
  - Estou sim, só estou... Com a consciência pesada por ter mentido para Tom. – Eu admiti e ele riu baixinho.
  - , era a melhor coisa a se fazer. O que você ia dizer? Que eu estava aqui? Olha, até onde eu sei, você é solteira e faz o que bem entender. Mas o que você fez foi a melhor opção, pelo menos a melhor que conseguimos pensar nesse meio tempo. – Andrew disse, colocando uma mecha do meu cabelo para trás da minha orelha e me dando um selinho suave.
  - Eu sei, eu sei... Só não me sinto bem, não sou uma mentirosa, sabe? – Olhei em seus olhos e ele concordou com a cabeça.
  - Eu sei, você sabe e ele sabe. Não se preocupe com isso, . Vem, vamos deitar. Não precisamos fazer nada que você não queira, lembra? – Andrew me puxou pelos ombros, me fazendo deitar a força. E lá tinha ido o clima novamente, dando tchauzinho pela janela.
  Mesmo assim, Andrew pediu permissão para fazer o que tinha vindo fazer: procurou cada uma de minhas tatuagens e analisou com cautela, me fazendo rir muito. Perguntou o significado de cada uma, mesmo que fosse um desenho óbvio e sem motivo aparente de eu ter tatuado.
  Fomos dormir altas horas da noite e, inclusive, ele foi o primeiro a cair no sono.

  Acordei primeiro, vendo Andrew de costas para mim dormindo de barriga para baixo. Suas costas tinham tantas pintinhas que eu teria que ficar ali a manhã inteira para contar todas.
  Levantei-me, tomei um banho e saí do quarto na maior quietude que consegui e segui para o salão principal para tomar café.
  Uma música do Ed Sheeran tocava nos autofalantes escondidos pelo local, e encontrei uma mesa vazia para me sentar, me servi de algumas frutas e uma xícara grande de expresso. Não demorou muito para que Tobey me acompanhasse.
  - Bom dia, maninha, dormiu bem? – Beijou o topo da minha cabeça antes de sentar-se.
  - Dormi sim e você? – Perguntei.
  Ele apenas concordou com a cabeça, roubando um mirtilo meu e pondo na boca.
  – Alguma novidade que eu deva saber? Estou te devendo um presente? – Seu sorriso já era malicioso, eu não conseguia entender como ele conseguia acordar e já estar com aquele pique de quem queria me incomodar.
  - Não, EU estou devendo um presente e aparentemente uma vaga em minha casa na sua viagem para o Brasil. – Falei emburrada e ele deu uma risada alta no meio do local, chamando a atenção de todos.
  - Não acredito! Sério?? – Ele tapou a boca com as mãos, rindo abertamente. Me deixando com o semblante mais bravo ainda. – Meu Deus , eu te subestimei.
  - Cala a boca, Tob. – Falei unindo as sobrancelhas, com cara de poucos amigos. Odiava o fato dele estar certo, pois aquela verdade era simplesmente absurda. Estamos falando aqui de dois galãs absolutos do momento, caras que namoraram com verdadeiras beldades de Hollywood, vindo atrás de mim no meio da noite. Não que eu esteja me colocando pra baixo, mas convenhamos que isto não era o tipo de coisa que acontece com pessoas normais, pessoas normais que usam perfumes comprados de um catálogo vendido pela faxineira do local de trabalho. Me irritava o fato de dois homens como eles estarem “caidinhos”, como Tobey já tinha dito, por uma pessoa como eu. Sou sim uma mulher bonita, poderosa e confiante, tenho ciência do carisma, corpo e da personalidade que tenho, porém eu não era uma Zendaya que esbanjava confiança e sabia desfilar com um salto de 25 centímetros ou usar um uma calça e uma camiseta quatro vezes maiores do que ela, parecer que usou quatro carreiras de cocaína e continuar maravilhosa, como na série Euphoria.
  - Você pode ficar brava o quanto quiser, mas a verdade está aí, literalmente batendo na sua porta. Você pode negar e pode emburrar, mas nada vai mudar o fato de que Tom e Andrew gostam de ti. Pode ser que eles queiram apenas transar contigo e nunca mais olhar nos seus olhos de novo, pode ser que eles só te achem interessante por você ser minha irmã, pode ser que estejam se apaixonando... Seja qual for a opção, você tem que aceitar que enfeitiçou os dois. E se, por acaso, você gostar de um deles ou dos dois, não vejo qual é o problema. – Tobey disse, dessa vez com um semblante mais sério. – Não consigo entender qual é esse seu estado de negação tão grande.
  - Eu simplesmente não consigo aceitar. – Admiti, comendo um morango. – Não sei, minha cabeça ainda pensa como a mulher caipira que veio do Brasil. Não estou nesse mundo dos famosos há 35 anos como você, são apenas duas semanas... Minha cabeça ainda está se acostumando. Estou conhecendo e lidando com pessoas que eu era fã apenas. É difícil, ok?
  - O que é difícil? – Tom chegou de supetão, me dando um susto que me engasguei.
  - aceitar que a vida dela iria mudar drasticamente quando aceitou vir passar este tempo comigo. – Tobey disse na maior cara de pau, e ainda assim mantendo o assunto de maneira secundária, enquanto Tom sentava-se conosco. Deus do céu, eu não teria um segundo de paz, sem um desses dois de deixando louca?
  - Ah, isso era bem óbvio que ia acontecer, talvez o timing do filme sendo lançado agora e fazendo tanto sucesso não tenha sido a melhor ideia do mundo, mas foi o que aconteceu. – Tom disse, dando de ombros. Simplesmente se intrometendo na conversa. Tobey concordou com a cabeça.
  - Está vendo, ? É natural que você vá chamar um pouco mais de atenção no momento, por conta do filme. Logo isso passa. É apenas questão de tempo. – Disse Tob, bebendo um pouco do seu café. – E logo você volta para o Brasil, então creio que poderá ter uma vida normal novamente.
  - Quando você volta ao Brasil? – Perguntou Tom interessado, arqueando as sobrancelhas enquanto me olhava. Coloquei uma cereja na boca antes de responder.
  - Semana que vem, logo depois do meu aniversário. Eu gostaria de ficar mais, mas meu trabalho não é exatamente o trabalho mais compreensível do mundo, existe inclusive a chance de eu chegar lá e ter pedido meu cargo. Cozinha é um ramo muito movimentado, se tiver necessidade, eu serei substituída sem pensar duas vezes. – Expliquei e Tom arqueou as sobrancelhas ainda mais.
  - Uau, eu não sabia disso.
  - É, cozinha profissional não é lugar para amadores. Eu sabia do risco quando aceitei vir para cá, agora tenho que arcar com as consequências quando eu voltar. – Expliquei sem graça, eu não havia admitido esta verdade nem mesmo para Tobey, não achava que seria justo com ele.
  - Nossa, , por que você não me contou isso? Você tem tanto orgulho desse trabalho! – Tobey disse tão incrédulo quanto Tom.
  - Tobey, eu fiz a minha escolha. Coloquei minha família acima do meu trabalho e faria isso de novo se fosse necessário. Eu amo meu trabalho, e tenho certeza de que vou conseguir algo tão bom quanto isso caso eu tenha perdido meu cargo atual. – Expliquei com simplicidade, e notei os olhos de Tobey enchendo-se de lágrimas.
  - Oh merda, cheguei em uma hora ruim? – Ouvi a voz de Andrew atrás de mim.
  - Sim, e acho que os dois precisam de um tempo a sós. – Tom disse levantando-se depressa, pegando apenas sua xícara de café e puxando Andrew consigo.
  - Você não pode dar as costas para a sua vida por minha causa , eu não sabia que estava causando isso a ti, além de tudo que eu já causei. Eu... você ama esse trabalho, já se gabou dele algumas vezes e até fez meu filho usar o seu chapéu de cozinheira. Simplesmente não é justo. – Ele disse sério, com uma lágrima teimosa correndo por sua bochecha.
  - Olha, Tobey, eu pensei bastante antes de vir. Conversei muito com minha família e decidi que era o certo vir. Eu decidi isso. Restaurantes não param em nenhum feriado, nenhuma data importante e não passo nem o Dia das Mães com a minha mãe, eu precisava disso, tá bem? Se meu chefe não entender isto, paciência, tenho certeza de que a minha família estará para me apoiar se tudo der errado. Minha família inteira. – Falei apertando sua mão que estava em cima da mesa. Ele sorriu por um momento breve.
  - Eu com certeza estarei ao seu lado para qualquer coisa, só não concordo com o fato de você dar as costas ao seu sonho de ser uma sous chef para vir ver seu irmão que não conversou contigo durante praticamente vinte anos da sua vida. – Ele disse segurando minha mão de volta.
  - Tobey, esta é a minha vida e eu estou vivendo ela do jeito que eu acho certo. Posso vir a me arrepender? Com certeza, mas estou aqui e quero viver isto. O amanhã é outro momento. Ok?
  - Ok. – Ele disse baixinho.
  - Eu nem sei se realmente vou perder o cargo, é algo que está em risco, mas não recebi nenhuma mensagem de meus colegas de trabalho. Então estou bem tranquila. – Soltei sua mão, enxuguei sua lágrima teimosa com o dedão e ele sorriu. – Eu não me arrependo, Tob, isso aqui é importante. – Falei apontando para nós dois.
  - Eu sei que é importante, eu sinto isso, mas... – Ele disse, porém o interrompi:
  - Tobey, me escuta. Eu prefiro me arrepender de algo que fiz do que de algo que não fiz. – Expliquei com calma. – Eu quero olhar para trás daqui há 20 anos e pensar que eu vim e fiz tudo o que podia para aproveitar ao máximo, do que pensar que nem tentei me reconectar com você.
  - Eu te amo, . – Ele disse simplesmente, como se estivesse comprando um pão no supermercado. – Eu nunca deixei de te amar.
  Levantei-me e fui ao seu encontro, ele também levantou e demos um abraço que deve ter durado pelo menos uns cinco minutos, meus braços envoltos em sua cintura e os dele envolvendo meu pescoço, depositou um beijo em minha cabeça.
  - Eu também te amo, Tobey.
  - Obrigado por estar me tirando do fundo do poço, por me divertir, me ouvir e retribuir o amor que eu sinto por ti. Me sinto completo, de uma maneira que não sentia a muito tempo. – Ele admitiu, ainda abraçado a mim. Sua respiração era calma e tranquilizante.
  - Você sabe que eu não fiz absolutamente nada, certo? Você fez sozinho, Tob, eu só estava junto para te acompanhar nessa jornada. E eu ainda estou aqui. Sempre estarei. – Admiti sorrindo, e ele me apertou mais forte.
  Ficamos ali, curtindo a presença um do outro, sem a pressa de soltar do abraço, Tobey tinha cheiro de amaciante de roupas e eu adorava isto nele.
  Senti alguém nos abraçando do lado direito e alguém do lado esquerdo e já sabia quem eram.
  - Vocês são lindos e nós ficamos com ciúmes. – A voz de Tom surgiu, completamente inconveniente, mas não consegui conter uma risada.
  - Tob, seus amigos estão estragando nosso momento. – Falei com a voz abafada.
  - Não, estamos melhorando o momento. – A voz de Andrew preencheu o abraço.
  Soltamos o abraço rindo, Tobey enxugou as lágrimas com a manga da camiseta e todos voltamos a tomar café como se aquele momento nem tivesse acontecido.
  Notei que Andrew tomou o cuidado de não usar a mesma camisa de ontem à noite, mas a calça de moletom era a mesma. Um calafrio correu por meu corpo, lembrando de momentos específicos e ele notou que eu o olhava de soslaio.
  Deus do céu, me ajuda.

  Após a noite conturbada e o café da manhã dramático, eu e Tobey voltamos ao aeroporto. Nos despedimos de Tom e Andrew logo após o café e seguimos para sua casa, onde conversamos bastante sobre minha festa de aniversário, que logo teríamos que decidir algumas coisas:
  Eu viajaria de volta ao Brasil no dia 16 de fevereiro. Meu aniversário era dia 14, uma segunda-feira. A festa deveria ser feita no sábado, dia 12. Para isso, tínhamos basicamente 3 dias para programar tudo, desde decoração, comidas, bebidas, som e Tobey queria que eu usasse uma roupa especial para a data.
  Corremos a cidade inteira durante a tarde, encontramos uma padaria brasileira no Google que era do outro lado da cidade, fizemos a encomenda de docinhos tradicionais e de um bolo de cenoura recheado e coberto com brigadeiro.
  Fomos em uma loja de decoração e compramos tudo que havia de relacionado com o Dia dos Namorados, e isto incluía banners, balões em forma de coração, flores falsas, balinhas de coração e cartões personalizados; teríamos trabalho para deixar tudo pronto.
  Tobey ligou para um conhecido que conhecia um restaurante que alugava um stand de bebidas, fomos até lá para escolhermos a lista de bebidas que deveriam ser distribuídas na festa:
  - Caipirinhas de cachaça, vodca e vinho;
  - Sex on the beach;
  - Manhattan;
  - Cosmopolitan;
  - Margaritas;
  - Piña colada;
  - Mojitos;

  Quando voltamos à sua casa, já era noite e fiz uma macarronada com almondegas tradicional para jantarmos.
  - , obrigada por aceitar todas as minhas maluquices, as minhas correrias e problemas do meu mundo. Eu sei que não é fácil. – Tobey disse, depois de repetir o prato de macarronada pela segunda vez.
  - Tob, esquece isso. Eu estou adorando tudo. Estou saindo da minha zona de conforto todos os dias. Eu gosto dessa sensação, na hora parece que vou morrer, mas depois eu consigo lidar com uma certa segurança. – Respondi com sinceridade. É claro que eu não estava acostumada com tamanha exposição e tamanha atenção que eu estava recebendo. E, com certeza, eu iria demorar a me acostumar com isso. Porém eu poderia aceitar aquilo para manter o vínculo que eu estava criando com Tobey. Um vínculo que eu não sabia que me faltava e que agora eu tinha plena certeza de que me completava.
  - Eu não consigo simplesmente aceitar que tudo está bem. Você se faz de durona por fora, mas eu sei que você se derrete tanto quanto eu. Eu sou ator, . Eu sou um chorão nato, principalmente com coisas que se relacionam a ti e sua mãe. Isso me atinge de maneira inexplicável. Mas você não precisa fingir que está tudo bem só para me agradar, ok?
  - Não estou fingindo Tobey, está tudo bem mesmo. Sobre as fotos na internet e paparazzis: é uma pena que aconteçam mais do que deveria, mas não é algo que me incomoda pois sei que não tem saída, você é a prova vida disso. Sobre estes encontros com famosos em estreias e programas de TV: ainda estou me acostumando, ainda é um pouco surreal para mim, mas de maneira alguma é algo ruim. Sobre a exposição na internet: não é algo que eu fico confortável, mas é o mesmo caso dos paparazzis, não tenho muito para onde correr, eu sou uma pessoa do bem e sei disso, o que falam ou não de mim lá está fora do meu controle. Sobre o meu emprego no Brasil: não adianta se desesperar antes de qualquer coisa acontecer, não quero ficar com ansiedade enquanto estou aqui. Quero primeiro viver o que estou vivendo e depois ver o que aconteceu lá. E sobre o meu caso com Tom e Andrew: estou tentando levar numa boa, não estou fazendo nada que eu não queira. – Expliquei com cuidado, o vendo comer e me olhar com calma.
  - Entendi. Estou realmente feliz de você estar levando tudo assim na boa. Você sabe, eu pego no seu pé para te encher o saco, mas caso qualquer coisa esteja te incomodando além do que eu sei que estou incomodando de propósito, por favor, me fale.
  - Tá bem, Tob, obrigada por toda essa abertura. Isso se chama relacionamento saudável. – Falei brincando e ele sorriu.


  Nota da autora: Esse capítulo foi curtinho, mas escrevi tudo o que queria nele. A misturinha perfeita entre a safadeza e a fofura, os extremos que eu sempre venho tentando buscar com os dois pretendentes da PP. Sem estruturas para Andrew Garfield e mais sem estruturas ainda para Tobey Maguire sendo o irmão mais velho fofo.
Pra quem leu até aqui, obrigada por acompanhar <3
Faça uma autora feliz e comente!

Capítulo 09

  O dia da minha festa de aniversário chegou e com ele um aperto no coração de saber que meus últimos dias ali estavam contados.
  Tobey estava grudado em mim feito chiclete, queria fazer tudo comigo, aprender receitas, falar em português para treinar (ele estava muito bom, por sinal) e passear para colecionarmos memórias.
  A casa estava pronta, havia balões de gás hélio vermelhos e dourados em todos os cantos, na parede da sala meu nome estava colado com letras gigantes também feitas de balões dourados, havia rosas vermelhas e trufas de chocolate sob todos os móveis e muitas pétalas falsas sobre o chão, deixando aquela sensação de Dia dos Namorados bem acentuada. Eu estava muito feliz com o resultado, não havia imaginado nada comparado àquilo. Na cozinha seria o local dos coquetéis, tudo já estava preparado para a chegada do homem que iria fazer todos os drinques. E na sala, na parede onde estava colocada o meu nome, havia uma mesa com o enorme bolo de cenoura e todos os docinhos brasileiros que eu mais amava.

  Tobey tinha chamado Carlos e Genevieve para me arrumar, usando a desculpa de que eles eram convidados para a festa, mas no fundo eu sabia que ele queria que eu estivesse mais que perfeita para o meu dia. Ele havia se esforçado bastante para isso, eu me sentia uma rainha.
  Escolhi um vestido tubinho colado, as alças eram de corrente douradas que cruzavam minhas costas e o decote era drapeado. Simples e eficiente.
  Por ser meu aniversário e meu vestido ser versátil, Genevieve me perguntou se eu queria algo específico no rosto e eu simplesmente falei sem nem pensar:
  - Maddy de Euphoria. – Falei e ela e Carlos deram um high-five, animados.
  - É isso aí, garota! – Carlos disse mexendo em meus cabelos, enquanto eu estava sentada em uma cadeira que deitava ligeiramente as costas. Os dois trabalharam em mim ao mesmo tempo e me confirmaram que realmente ficariam para a festa.
  Carlos deixou meu cabelo liso, reto e dividido no meio, na raiz, onde aparecia meu couro cabeludo, ele colou uma sequência de strass. Gen fez um delineado especialmente elaborado em meus olhos, com detalhes em dourado para combinar com o vestido, na boca um batom nude lindo e assim, acabei virando Maddy Perez sem nem mesmo ser uma festa à fantasia.
  Era o “boom” de autoconfiança que eu precisava.
  Desci as escadas depois que fiquei pronta e já estava tudo ok, ao pé da escada estavam Tobey, o moço que foi contratado para fazer os drinques, o DJ, a Gen e o Carlos; todos me acompanharam descer as escadas de boca aberta. Carlos bateu palmas quando cheguei no último degrau e esticou a mão para me fazer dar uma voltinha.
  - Eu posso sentir o calor daqui. A testosterona. – Cochichou em meu ouvido e demos uma risada cúmplice.
  - Meu Deus, , hoje você avacalhou. – Tobey disse, me abraçando. Ele também estava lindo com uma camisa preta com os primeiros botões desabotoados, cheiroso como só ele poderia estar.
  - Você também não está nada mal. – Brinquei.
  Ele tratou de me apresentar os dois pedaços de mal caminho que estavam ali. O homem dos drinques era um belíssimo mexicano que usava uma blusa colorida com estampa de costelas-de-Adão e o DJ era um sueco loiro de dois metros de altura que tinha um sotaque estranho, mas inexplicavelmente elegante. Gen gostou dele de cara e eu sabia que o cupido teria um trabalhinho hoje.
  - , tenho um presente adiantado para te dar. Por favor, não fique brava comigo. – Tobey disse coçando a nuca, como se estivesse escondendo algo. Uni as sobrancelhas quando ele esticou a mão para que eu o acompanhasse.
  Ele me levou até a porta do seu escritório, aquele fatídico quarto que Tom havia vomitado em meus pés. Tob fez um drama ao abrir a porta e nem preciso dizer que meu coração já estava quase saltando pela boca quando vi meus melhores amigos tão arrumados quanto eu dentro daquele quarto: Baby e Johnson, os gêmeos que eu tanto amava.
  Dei um grito afetado e corri ao abraço deles, Johnson me tirou do chão girando-me enquanto Baby gritava tanto quanto eu.
  - O que vocês dois estão fazendo aqui?! Como deixaram a ralé entrar? – Perguntei em português rindo, fazendo os dois rolarem os olhos para cima ao mesmo tempo.
  - A ralé já estava aqui, amore. – Johnson respondeu rápido. Abracei Baby pelo pescoço.
  - Você vai estragar meu cabelo, sua vaca. – Disse ela me largando, ainda ríamos.
  - Foi você que fez isso? – Perguntei à Tobey, ele se aproximou sorrindo.
  - Foi, espero que tenha gostado, foi bem trabalhoso falar com a sua mãe sem ajuda. – Ele admitiu sem graça.
  - ‘Tá brincando? – Perguntei. Ele deu de ombros. – Eu amei, Tobey, são meus melhores amigos, é claro que eu ia amar! Obrigada por isso. – Abracei-o com sinceridade.
  - Ok, vou deixar vocês sozinhos por um tempo. – Ele disse sorrindo e saindo do quarto.
  - Meu Deeeeeeus, , seu irmão é um gato! – Johnson disse colocando o cabelo para trás da orelha, como se fingisse estar encabulado, coisa que eu sabia que ele não estava.
  - Verdade! – Baby disse afastando os cabelos da nuca e se abanando com as mãos.
  - Está solteiro, hein? Aproveitem que hoje é dia do flerte sem compromisso com o nosso cupido. – Pisquei e eles deram uma risada malvada. Johnson e Baby eram meus melhores amigos desde que me lembro, obviamente o nome deles não eram estes e sim Gabriel e Gabriela, porém eles viraram Johnson e Baby depois de um vídeo deles fazendo uma propaganda da Johnson’s Baby quando ainda estávamos na época do Orkut. Foi o suficiente para o apelido pegar e até hoje são conhecidos assim na cidade onde moramos.
  Conversamos sobre como tudo aconteceu, Tobey entrou em contato com eles depois de falar com a minha mãe, que avisou eles que meu irmão entraria em contato. O inglês deles estava enferrujado, mas servia para durar a noite inteira. Contei a eles sobre minha situação com Andrew e Tom e cada um tomou um partido, Johnson era a favor de Andrew, já que ele já havia estabelecido o tipo de relação que queria e obviamente era o que eu estava precisando no momento e Baby tomou o partido de Tom, já que ela claramente preferia um cavalheiro que dava passos devagar e com cautela.
  Traduzindo: Não me ajudaram em nada, apenas me deixaram com mais dúvidas.
  Voltamos ao encontro de todos, apresentei cada um e pedi para que o DJ começasse a tocar algo enquanto os convidados não chegavam e solicitei ao barman que me fizesse algumas Piñas Coladas para aquecer com classe.

  Não demorou muito para que a sala já estivesse cheia de pessoas, alguns rostos eram conhecidos e outros não, mas eu não ligava. Estava feliz de estar perto das pessoas que eu gostava e da festa estar do jeito que eu queria.
  Notei quase que imediatamente que Carlos e Johnson se deram muito bem, assim como Baby e Tobey, eu precisava apenas de um jeito de fazer o DJ e Gen darem certo e a Operação Cupido da noite estaria completa.
  Tom foi o primeiro a chegar, acompanhado de Jason e os dois colegas que vieram na outra festa. Depois de todas as apresentações feitas, ele veio ao meu lado me perguntar como eu queria que funcionasse o “negócio do cupido”.
  - Bom, você sabe que não precisa fazer, certo? – Perguntei levantando a sobrancelha e ele levantou a dele também.
  - Eu me comprometi com você. Comprei esta blusa especialmente para isto. – Explicou sério, segurando o tecido da camisa. Ele usava uma camisa de botões branca com desenhos de corações vermelhos. E ficava adorável com ela.
  - Tudo bem, tudo bem. – Levantei as mãos me defendendo. – Só não quero que você perca a festa inteira por causa de uma besteira.
  - Está brincando? Vou saber os babados mais fortes com essa coisa. – Explicou ele animado. Tom colocou uma pochete pelo pescoço cruzando seu peito, conferiu a quantidade de canetas e a quantidade de bilhetinhos cortados em formato de coração. - Estou pronto. Quer mandar bilhetinho para alguém?
  Pensei por um segundo. Eu não estava bêbada ainda, então não.
  - Bom, eu tenho um para você. – Falou ele, colocando o cabelo para trás da orelha e tirou o pequeno coração do bolso de trás da calça jeans que usava.
  Peguei o bilhete e li:

  “Você está linda.
  Posso não tirar os olhos de você esta noite?”

  A letra era miúda e juntinha, a escrita era forte que deixava marcas fundas no papel.
  Minhas pernas fraquejaram por um segundo, e minha pose de Maddy gostosona se desmanchou. Quando levantei os olhos, ele já estava tão perto que acabei de perder o último resquício de ar que tinha em minha garganta. Sua mão pousou em minha cintura e ele juntou nossas bocas. Nossas línguas se misturaram com naturalidade, minha mão seguiu até sua nuca mesmo segurando o bilhete e sua mão livre correu minhas costas e parou no meio. Sua boca tinha gosto de cereja e o seu cheiro era tão bom que me fez tremer na base enquanto seus lábios me deixavam tonta. Para encerrar o beijo, Tom puxou meu lábio inferior com uma leveza que só ele podia ter num momento como aqueles e me deu um selinho antes de dizer:
  - Só para garantir, enquanto estamos sóbrios. – Deu seu melhor sorriso, aquele que ele parecia saber que detonava meu senso de direção, e saiu antes que eu falasse qualquer coisa. Saí do quarto e Johnson veio ao meu encontro.
  - Já, sua piranha? – Perguntou, me fazendo dar uma gargalhada. Minha cara entregava tanto assim?
  - Ele me pegou de surpresa. – Expliquei e ele riu. Chamei Baby para o quarto em que estávamos.
  - Gente do céu, o que eu faço? Tom me beijou. Os dois vão estar aqui hoje! – Falei arregalando os olhos e colocando as duas mãos no rosto.
  - Ok, respira. – Baby disse calma. – Você já passou por situações parecidas, certo? Como foi?
  - Já. Na primeira festa, fiquei com Andrew já que Tom ainda namorava Zendaya. Na segunda, Andrew ficou afastado, apenas me falou que não tinha ciúmes. Naquele dia não fiquei com nenhum deles. Na outra vez foi no hotel na gravação do programa, nenhum dos dois fez nada na presença do outro, mas Andrew veio até o meu quarto primeiro. Tom veio depois, e tive que pedir para ele ir embora.
  - Safada! Adoro. – Johnson me abraçou pelo pescoço. – Miga, dá mole para os dois. O que te levar pro quarto primeiro ganha. É simples. Andrew já sabe que Tom está afim. Já o Tom, não temos certeza de que ele sabe que o Andrew está no jogo. As vezes ele sabe, e por isso veio primeiro te beijar para te deixar abalada...
  - Verdade. – Baby concordou. – Ele pode estar jogando também. Faz a sonsa, miga. Você possivelmente não vai mais ver eles depois que for embora, pensa nisso e aproveita o momento.
  
Ok. Eles estavam certos. Se não tivessem, pelo menos estavam do meu lado o suficiente para que eu não me sentisse sozinha se alguma merda acontecesse.
  - Ok. Vocês estão certos. Agora vão lá e mandem cartões. Você para o meu irmão. – Falei apontando para Baby. – E você para o Carlos. – Apontei para Johnson.
  - Cara, eu preciso admitir que ainda não me acostumei com o fato do TOBEY MAGUIRE ser seu irmão e ter chamado a gente para vir pra cá. É surreal. – Baby disse, tento um pequeno surto.
  - Pois pode se acostumar, porque além de ele ter te chamado para vir para cá, ele ainda vai te convidar para ir conhecer o quarto dele. – Pisquei maliciosa para ela que deu uma risada gostosa.
  Conversamos mais um pouco antes de voltarmos para a festa que a cada segundo enchia mais.

  Eu já devia estar na minha terceira caipirinha de vinho quando Andrew chegou, com um blazer de veludo rosa, uma camisa branca por baixo e calças de alfaiataria da mesma cor do blazer.
  - Irmã Maguire, como você está? – Perguntou ele, dando-me um abraço caloroso.
  - Estou muito bem Garfield, e você? – Eu disse, mantendo o abraço por um segundo. Ele estava lindo.
  - Estou desnorteado com a sua beleza. – Disse ele, passando a mão na corrente do meu vestido. Apenas empurrei seu ombro sorrindo sem graça. – Vai me enviar bilhetinhos hoje a noite? – Perguntou malicioso e eu o acompanhei piscando. Não respondi nada.
  Apresentei ele aos meus amigos e Johnson obviamente pirou, o abraçou tanto que acabei ficando com vergonha.
  - A beleza de milhões que esse homem tem, meu Deus! – Ele disse para mim em português e Andrew nos observou com as sobrancelhas unidas. – Acho que estou apaixonado.
  - Ele disse que está apaixonado por você. – Expliquei à Andrew e ele deu uma risada divertida, jogando a cabeça para trás.
  - Hoje eu só aceito flerte por bilhetinho, Johnson. – Andrew respondeu carismático e Johnson fingiu estar desmaiando, amolecendo as pernas. Foi até o ouvido de Andrew e cochichou algo.
  Os dois riram e apertaram as mãos, me deixando com cara de panaca.
  Andrew se afastou, provavelmente atrás de uma bebida e eu fui atrás de Tom, pois queria um bilhetinho em branco para iniciar minha Operação Cupido com o DJ e Gen.
  - Estou com um bilhetinho da sua amiga para o seu irmão. – Tom simplesmente dedurou Baby, me fazendo cair na gargalhada. – Eu estou amando isso!

  “Não consigo tirar os olhos de você”
  Escrevi no bilhete e pedi para Tom fazer a ponte entre Gen e o DJ, ele piscou para mim.

  Peguei outro bilhete, escrevi:
  “Por favor, não vá vomitar em mim de novo”

  Entreguei-o à Tom e sumi antes de ele me perguntar para quem era. Essa festa seria uma correria só, passei pela mesa e enfiei um brigadeiro na boca. A sala e as escadas já estavam cheias, pessoas que eu nunca havia visto, o DJ tocava músicas para todos os gostos, variando entre POP, eletrônica e alguns remixes, fui até ele e pedi algumas músicas brasileiras e o mesmo respondeu que já estavam prontas, estava só esperando a festa tomar forma para iniciar, o agradeci.
  Procurei meus amigos que aparentemente estavam muito bem enturmados e acabei pegando Tobey e Baby se agarrando na cozinha. Baby não fez nem cara de quem estava assustada ou arrependida, passei por eles e os abracei, apertando a bunda de Baby que me deu um tapa no ombro.
  - Depois quero ter uma conversinha com o senhor. – Brinquei falando com Tobey e ele riu mordendo os lábios e dando de ombros.
  Johnson me puxou da cozinha mostrando o dedo do meio para Baby, me fazendo cair na risada, e me entregou um bilhetinho.

  “Can you kiss me more? We're so young, baby, we ain't got nothin' to lose”
  (Você poderia me beijar mais? Nós somos jovens, baby, e não temos nada a perder)

  Era Andrew, a letra era bonita com uma escrita suave. Dei uma risada enquanto Johnson ria abertamente da minha cara também. A letra era da música da Doja Cat que eu havia cantado no karaokê, na última festa.
  - Miga, dá pra ele logo. Tá estampado na sua cara que você está afim dele. – Ele disse no meu ouvido.
  Fechei os olhos e respirei fundo, já que Johnson estava fazendo o papel do diabinho no meu ombro, em contrapartida, eu conseguia ouvir o anjinho do outro lado falando “Mas você acabou de beijar Tom e flertar com ele”. Minha cabeça estava a um milhão por hora.
  - Lavou ‘tá nova, amore. – Ele disse piscando e me entregando um bilhetinho em branco.

  “Então você prestou atenção na música aquele dia?”

  Respondi e Johnson pegou o bilhetinho satisfeito, saiu sorrindo com a maior cara de safado do mundo.
  A noite continuou recheada de docinhos, bilhetes secretos e beijo na boca. Sim. Todo mundo beijou, menos eu. Se não fosse pela caridade de Tom no início da noite, eu seria a única pessoa naquela festa que aparentemente não havia trocado saliva com alguém.
  Tom voltou a me encontrar e entregou-me um bilhete, virando-se logo em seguida.

  “Um dos motivos daquilo acontecer foi como você me olhava naquela noite”

  Dei uma risada sozinha e fui atrás de um bilhetinho para devolvê-lo, acabei encontrando um bloquinho de notas no escritório de Tobey e coloquei-o em um lugar estratégico da sala para eu poder escrever meus bilhetinhos secretos.

  “Ah, então a culpa é minha? Você acha que é o único que fica nervoso com tudo isso?”

  Quando encontrei Tom, coloquei o bilhete em sua mão e passei reto, fazendo-o sorrir de canto. O DJ começou a tocar algumas músicas latinas, com aquele ritmo que quando você está leve da bebida, o seu quadril simplesmente não consegue se segurar. Em menos de um minuto depois, Baby e Johnson estavam comigo, dançando nossas coreografias ensaiadas de quando íamos a festas e fazíamos aulas de fitdance, que eram completamente influenciadas por Johnson.

  “Não foi só na música e não foi apenas aquele dia”

  Johnson me entregou o bilhete sorrindo sacana como sempre. E lambi os lábios sorrindo quando li o conteúdo do bilhete.

  - Acho que não é só você que está apaixonada pelo Andrew. – Ele brincou, falando ao meu ouvido, se abanando e indicando Andrew com a cabeça. Tentei disfarçar, mas notei que Andrew nos observava de longe, uma das mãos no bolso da calça e a outra segurando uma bebida que ele levou à boca bem quando nossos olhos se encontraram. Ele sorriu e deu as costas.
  - Puta merda, , que homem. – Johnson me fez cair na risada. Graças a Deus ele e Baby estavam ali para aliviar minha tensão.
  Baby veio cochichar em meu ouvido também.
  - Se você não ficar com Tom, eu vou, desgraça. – Disse, e indicou Tom com a sobrancelha. Ele estava logo atrás de mim. Tocou minhas costas com a mão, beijou meu rosto e seguiu até Baby, onde cochichou em sua orelha. Os dois riram como se fossem velhos conhecidos e Tom entregou um bilhetinho, provavelmente de Tobey, para Baby.
  Puta merda. Puta merda. Puta merda. O que eu vou fazer?
  Eu me sentia em uma comédia romântica boba, em “Crepúsculo”, “Jogos Vorazes” ou em “Eu Nunca...”, ou qualquer outro filme com um triângulo amoroso. Eu não servia para aquilo e muito menos para escolher um dos dois. Eu gostava dos dois. Gostava de sua companhia e de como cada um me fazia sentir individualmente.
  Mas ok, como meus melhores amigos estavam falando: Eu não estava exatamente escolhendo um marido para casar, certo? Em nenhum momento foi falado nada sobre exclusividade ou relacionamentos. Então eu ia apenas deixar fluir. Respira , você pode fazer isso.
  Antes de sair do nosso círculo, Tom entregou-me mais um bilhete e deu as costas.

  “Você não tem noção do que faz com as pessoas, isso é maldade.”

  Uni as sobrancelhas e fui até o meu bloquinho particular.
  Para Tom escrevi:

  “Maldade é você fazer este tipo de coisa com meras mortais como eu.”

  Para Andrew escrevi:

  “Devo ficar com medo?”

  Entreguei cada um para meus entregadores particulares, Baby e Johnson sorriram satisfeitos.
  Quando deu meia-noite, todos se reuniram na sala para cantar “Parabéns pra você”, com direito à velinhas e assovios extremamente altos vindos dos meus melhores amigos espalhafatosos. Todo mundo comeu bolo, docinhos e bombons, o moço dos coquetéis estava suado e cansado de tanto fazer bebida, e acabei pedindo uma água para ele. Enquanto eu bebia, Johnson e Baby me puxaram para dançar, já que o DJ finalmente havia começado a tocar músicas brasileiras. Dançamos feito doidos, rebolando a bunda e rindo completamente descompassados pela bebida. Em um certo momento, Johnson entregou um bilhetinho disfarçadamente em minha mão, ainda rindo com aquela cara sacana do diabinho no meu ombro.

  “Medo de mim? Eu é que tenho medo do que você está fazendo comigo!”

  Dei uma risada alta e meus olhos procuraram por ele, e acabei encontrando, do outro lado da sala, conversando animadamente com Tom e Tobey, aquelas três beldades esculpidas à mão, sorri sozinha e Johnson berrou no meu ouvido:
  - Você pare agora com esse sorrisinho besta apaixonado. Você é uma gata ou uma rata? – Johnson falou para mim, pondo as mãos na cintura. – Deu desses olhinhos bobos e suspiros longos. Empodera a majestosa gata, e vai à luta.
  - Johnson, cadê o Carlos? – Perguntei, querendo que ele mudasse de assunto.
  - Já peguei e já ‘tô em outra. Aprende comigo, não dá bola para minha irmã que já está lá babando pelo seu irmão. A Baby adora casar nas festas. Beija um e já está apaixonada. Você é das minhas. – Ele disse dando de ombros. Johnson era assim. Simples e objetivo. Eu o amava por ser essa pessoa espontânea que eu não sabia ser. E amava sua irmã por ser o completo oposto, o amor e drama em pessoa. Eu gostava de dizer que era a mistura perfeita deles, o yin-yang dos gêmeos.
  - Você sabe que eu só me faço de Maddie, mas no fundo sou mais Lexy, certo?
  - É, você não é Maddie, mas eu te amo do mesmo jeito. Mesmo sendo chata. – Ele disse rindo e me abraçando. Outra música da Anitta começou a cantar, e em meio segundo Baby já estava conosco dançando novamente.

  “Não é a primeira vez que te digo que não estou fazendo nada. Acredite, é você que deve estar muito tempo sem sexo”
  Respondi para Andrew dando risada enquanto escrevia.

  Baby me entregou um bilhetinho e eu já sabia que devia ser de Tom:

  “Mero mortal sou eu, comparado ao quanto você está linda hoje”

  Jesus amado. O que vai ser de mim?
  Fui ao banheiro, respirei fundo enquanto me olhava no espelho. A maquiagem ainda estava impecável, assim como o cabelo. Encarando meu reflexo no espelho, falei sozinha:
  - , o que você está fazendo?
  Ri sozinha depois de ouvir minha voz ecoar no banheiro vazio, e notei que a bebida podia estar ligeiramente acima do nível considerável aceitável. Por este motivo me dirigi ao bar e pedi mais uma água.
  Bati um papo com Carlos e Gen que estavam próximos do bar, e ao lado da mesa do DJ, que fazia gracinhas para Gen enquanto conversávamos e dei um high-five com ela que também estava alegre por conta da bebida.
  Johnson me encontrou, mas deu atenção à Carlos primeiro, falando gracinhas em seu ouvido e brincando com seu cabelo, fazendo eu e Gen nos afastarmos ligeiramente para deixá-los mais a vontade. Porém ele esticou a mão com um bilhetinho antes que eu me afastasse o suficiente.

  “Não vou negar que talvez você esteja certa, mas podemos acabar com esse problema rapidinho.”

  Puta merda. Puta merda. Puta merda.
  Gen me olhou curiosa e entreguei o bilhetinho para que entendesse o motivo do surto, expliquei que meu último bilhete se referia ao fato dele sentir falta de sexo. Ela deu um gritinho afetado e demos risada. Mesmo assim ela perguntou:
  - Tom ou Andrew?
  - Quem você acha? – Perguntei querendo testar sua destreza em ler as pessoas.
  - Andrew. O Tom tem cara de ser meio lerdinho. – Admitiu ela dando uma risadinha.
  - Ele é mesmo. Você acertou.
  Ficamos alguns minutos ali dando risada e ela me contou como aconteceu com o DJ e eu admiti que fui a causadora de tudo.
  - Eu sabia! Imaginei que só podia ser você ou o Carlos, mas ele jurou por tudo que não havia sido ele.
  Demos risada vendo Carlos e Johnson se pegando ao nosso lado, Johnson havia acabado de me dar sermão sobre não “casar” em festas e estava ali se agarrando com Carlos de novo, parece que o mundo virou, não é mesmo?
  Me perdi em meus pensamentos por um segundo e Gen me puxou de volta.
  - E o que você vai fazer?
  - Sobre o que?
  - Sobre esse bilhete que está na sua mão. – Disse ela virando os olhos e rindo da minha cara.
  - Eu não sei. – Admiti.
  - Você sabe sim. Só está com medo do que pode acontecer depois. – Ela disse erguendo as sobrancelhas. – Deixa de ser boba, menina. Vai aproveitar as oportunidades que a vida está te dando.

  Respirei fundo, segurei o bilhete que havia acabado de escrever e fui atrás de Baby, encontrei-a novamente agarrada com meu irmão.
  - Vocês são péssimos. – Brinquei virando os olhos para cima. Tobey sorriu com a boca cheia de batom borrado. Cochichei minhas intenções com Baby e ela sorriu com malícia enquanto piscava disfarçadamente.
  - Vou falar com Johnson, pode ficar tranquila. – Beijou minha bochecha e me abraçou, como se estivéssemos nos despedindo. Demos uma risada cumplice antes de eu sair.
  Segui minha intuição e encontrei Johnson. Entreguei à ele meu último bilhete para Andrew e continuei indo na direção do meu quarto. Encontrei Jason Batalon na escada e beijei seu rosto, abraçando-o, ele me desejou feliz aniversário novamente e disse que a festa estava ótima.
  Entrei em meu mais novo quarto, fechei a porta e respirei fundo antes de notar que não estava sozinha. Johnson ia ficar a noite inteira procurando Andrew e não o encontraria, já que ele estava em meu quarto.
  - Hey Maguire. – Disse sorrindo abertamente.


  Nota da autora: O capítulo confuso de centavos, mas sim, os bilhetinhos foram feitos propositalmente para deixar a gente na dúvida e na curiosidade do que um iria enviar ao outro. Espero que tenham se divertido lendo esse capítulo o tanto que eu me diverti escrevendo.
  Façam uma autora feliz e comentem! <3

Capítulo 10

  Ponto de vista do Andrew

  Ouvi a porta do quarto se abrir, cruzei os dedos em minhas costas torcendo para que não fosse Tom. Se fosse, teríamos que nos explicar, ou cada um daria uma risada sem graça e sairíamos do quarto fingindo ter coisa melhor para fazer?
  A luz do lado de fora iluminou a silhueta perfeita de e pude descruzar os dedos, vendo-a fechar a porta, ainda sem me ver. Ela encostou as costas na porta e suspirou alto, finalmente abrindo os olhos e notando que eu estava logo ali do outro lado da cama. Dei um sorriso aberto, vendo sua mistura de satisfação e confusão no rosto.
  - Hey Maguire. – Falei, vendo-a dar um pequeno sorriso, aquele que eu adorava e que me deixava em completo êxtase.
  Deixei meu copo na escrivaninha que tinha ali perto e não perdi tempo, algo simplesmente me dizia que ela havia vindo ali por mim, talvez seus olhos, ou a sua linguagem corporal. Não sei, mas não posso negar que ela vibrava, seu corpo inteiro parecia pulsar quando me aproximei completamente absorto em seu corpo e puxei seu rosto para um beijo. Seus lábios eram provavelmente os mais macios que eu já havia beijado a minha vida inteira e o fato da sua boca ter gosto de morango com álcool não me ajudava em nada. Pressionei seu corpo com o meu, coloquei minha perna no meio da sua, deixando o espaço entre nós quase nulo e senti suas mãozinhas entrando por baixo do meu blazer. Separei nossas bocas, pois eu precisava alimentar meu vício em seu cheiro, por isso desci minha boca para seu pescoço, enquanto ela deixou escapar um suspiro suave próximo da minha orelha. Tudo naquela mulher me deixava com um tesão dos infernos e ela simplesmente não fazia ideia de como era incrível. Seu cheiro despertou meu amigo no andar debaixo e tenho certeza de que ela notou pela nossa proximidade. Minhas mãos desceram para a sua cintura, enquanto meus lábios subiam para a sua boca novamente, encostamos nossas testas antes de colarmos nossas bocas, ela disse:
  - Por favor, Garfield, vamos até o fim desta vez. – A sua voz quase inaudível, junto com aquele sotaque delicioso fizeram meu membro pulsar mais uma vez, e ela deixou escapar um sorriso malicioso.
  - Eu prometo. – Falei lambendo os lábios antes de voltar a beijá-la. Dessa vez suas mãos estavam agarradas em meu pescoço e o beijo foi mais intenso do que o anterior. Dei um impulso com as mãos em suas costelas, fazendo-a sair do chão e ela prontamente enrolou as pernas em minha cintura. Nossa química era inegável e seu cheiro me abraçava, separou nossas bocas e beijou meu queixo e mandíbulas, fazendo com que minha pele se arrepiasse completamente, seguiu os lábios até meu pescoço e beijou ali com voracidade enquanto minhas mãos seguiam da sua cintura para as coxas e das coxas para a bunda. Seus dedos enlaçaram-se em meus cabelos, puxando e guiando minha boca até a sua novamente. Peguei-a no colo e sentei-me calmamente na cama, fazendo com que ficasse sentada em minhas pernas, pareceu gostar, e em seguida sugou meu lábio inferior, me deixando completamente a mercê de seu toque e puxou levemente meu blazer para trás, indicando que eu deveria tirá-lo, obviamente o fiz. Minhas mãos continuavam em sua bunda ainda por cima do vestido preto que vestia ela tão bem.
  Seus dedos ágeis começaram a desabotoar minha camisa e, enquanto ela se concentrava nisto, desci meus beijos mais uma vez, beijando seu pescoço, clavícula e ombros, onde deixei ali uma mordida leve, deixando-a escapar um gemido que me deixou entorpecido.
  Tirei minha camisa, e ela pareceu me admirar por alguns segundos antes de me beijar novamente, seu gosto era viciante e eu tinha plena certeza de que podia ficar beijando sua boca por horas, suas mãos passeavam por todo meu tronco, as vezes arranhando-me com suas unhas curtas, arrancando suspiros de minha boca e tremores de meu pênis.
  Minhas mãos nada bobas iniciaram o movimento de levantar seu vestido devagar, sem malícia ou pressa, apenas subindo pouco a pouco enquanto ela agarrava meu cabelo como se dependesse daquilo, poucos milímetros de subida do vestido e notei que ela usava uma calcinha vermelha de renda, porra, eu não estava preparado para aquilo.
  - Porra, , calcinha de renda vermelha?
  - É para combinar com o tema da festa. – Ela deu um sorriso nada inocente.
  Dei uma risada alta e levantei-me com ela no colo, e coloquei-a sentada na escrivaninha, colei meus lábios em seu pescoço enquanto ela desafivelava meu cinto. Procurei o zíper do seu vestido nas costas, o vestido ficou mais frouxo e, antes de puxá-lo para cima, olhei em seus olhos:
  - Tem certeza disso?
  - Sim. – Ela disse, erguendo um pouco o quadril para facilitar a retirada do vestido. Tirei o mesmo por sua cabeça e reencontrei seus seios firmes mais uma vez. Meu pau já me incomodava dentro da cueca e da calça, mas logo chegaria a vez de ele ganhar atenção, enquanto isso, beijei todo o seu colo, apertando um de seus seios com a mão esquerda enquanto o outro eu sugava, lambia e beijava com toda a ferocidade que havia em mim. Seus gemidos leves e roucos ecoavam em minha mente, me deixando mais duro, se é que isso é possível.
  Durante meu processo de lamber e beijar todo o seu colo, deu um jeito de abrir o zíper da minha calça, que era mais soltinha e acabou caindo até meus pés e eu apenas movi minhas pernas para me livrar dela. Peguei-a de novo no colo, colando nossas bocas e a guiei novamente até a cama, onde a coloquei deitada e a admirei por alguns segundos assim como ela havia feito comigo. Não havia mais batom na sua boca, seus cabelos estavam bagunçados, o peito subia e descia com velocidade e o seu corpo, ah o seu corpo, as tatuagens nos lugares certos, a cintura fina e a bunda perfeita, aquela calcinha parecia ter sido desenhada para seu corpo e ela sorriu maliciosa vendo-me aproximar dela. Beijei seus pés, pensando em continuar o que eu havia parado na última vez, subi para as panturrilhas, o interior de suas coxas e notei os pelinhos do seu braço arrepiados quando toquei em sua vagina com o dedão por cima da calcinha ensopada. agarrou seus seios por instinto e fechou os olhos enquanto eu baixava sua calcinha, retirei-a com sua ajuda e admirei a majestosidade que estava em minha frente antes de tocar minha língua em seu clitóris, fazendo-a estremecer dos pés a cabeça. Lambi toda a extensão da sua vagina, e deixou escapar um gemido completamente delicioso, continuei minhas investidas no local, enquanto uma de suas mãos veio de encontro dos meus cabelos. O gosto ligeiramente salgado e ácido da sua intimidade me deixava insano e seus suspiros contínuos não estavam me ajudando a manter a sanidade. Não me dei ao luxo de fechar os olhos um segundo sequer, pois não queria perder um milésimo do espetáculo que estava à minha frente: se encontrava com os olhos fechados com força, a boca entreaberta, as pernas abertas e ambas as mãos agarradas em meu cabelo, os gemidos variavam de acordo com o que eu fazia, e o ápice veio quando coloquei dois dedos dentro dela e vi suas pernas perdendo completo controle sobre si e tremendo com tanta força que tive que me concentrar muito para não gozar apenas de vê-la gozando. Que mulher!
   arfava e sorria completamente safada quando abriu os olhos para me encarar após seu primeiro orgasmo e me chamou com o dedo, fazendo com que eu rastejasse até nossas bocas se encontrarem novamente. O beijo ardia, nossas peles inflamaram de tanto desejo que havia envolvido, cada toque seu me fazia desejá-la mais, e tive que me concentrar muito mais quando ela tocou meu pênis, enfiando sua mão por dentro de minha cueca, reprimi um gemido durante o beijo e pude notar que ela sorriu.

  Eu sabia que precisava ir atrás da minha calça para pegar uma camisinha na carteira, mas me desvencilhar de seu corpo era uma tarefa quase impossível de exercer naquele momento, como se lesse a minha mente, começou a tatear a mesinha que havia ao lado da cama, e abriu a gaveta, partiu o beijo como quem dizia: “só um minutinho”, e retirou a mão de lá segurando uma camisinha.
  - Você leu a minha mente. – Eu disse sorrindo, vendo-a abrir o pacote preto com os dentes.
  Retirei minha cueca e vi seus olhos me admirando novamente, e lambendo os lábios com malícia antes de colocar a camisinha para mim, sua mão me masturbando com habilidade antes de colocar a camisinha até o fim.
  Nos beijamos mais uma vez antes de cruzarmos esta linha que não teria volta, dei um selinho molhado em sua boca e ela sorriu quando fiquei de joelhos na cama, passei a ponta do meu pênis por toda sua vulva, fazendo-a revirar os olhos na órbita, brinquei um pouco na entrada da sua vagina antes de penetrá-la completamente, momento este que foi registrado por um gemido sincronizado de ambas as partes. Deus do céu. Como eu precisava disso.
  - Porra. – Ela sussurrou em português e meu tesão que já estava nas alturas pareceu explodir.
  Movi meu quadril, retirando completamente meu membro de dentro dela e enfiando novamente, seguindo o vai-e-vem delicioso que aquela mulher estava me proporcionando, continuei assim por alguns minutos, soltando suspiros profundos e ouvindo gemidos dela que me faziam acelerar cada vez mais. Seu corpo respondia a cada toque que eu fazia, suas unhas me arranhavam, seus lábios me beijavam, sua pele me esquentava e seus olhos me enlouqueciam, nosso movimento era sincronizado e muito bem executado, a cada estocada que eu dava, uma sensação diferente me dominava, nossos corpos suaram e a atmosfera ficou mais densa dentro daquele quarto. Em um determinado decidi puxar suas pernas para cima pois precisava de apoio, então coloquei cada uma delas em meu ombro e abracei-as, com apoio consegui aumentar a velocidade das estocadas e os gemidos dela acabaram ganhando mais força, nada absurdo de filme pornô que nos ouviriam de fora do quarto, mas o suficiente para fazer os pelos do meu braço se arrepiarem e uma onda de êxtase correr pelo meu corpo.
  - Continua assim, Andy, eu vou... Eu vou gozar. – Ouvi sua voz dizer em um sussurro leve, simples e suave.

  Andy, aquilo entrou em meus ouvidos como música, era a primeira vez que ela me chamava por qualquer apelido e, meu corpo reagiu àquilo como um estopim para fazê-la gozar, estoquei-a com mais força e com um pouco menos de velocidade e notei que foi certeiro. Ela fechou os olhos com força novamente, abriu a boca, mas nenhum som saiu, suas pernas que eu abraçava com tanto gosto acabaram tremendo em meus braços, senti seus espasmos internos contra meu pênis e foi o suficiente para que eu mesmo gozasse quase em sincronia com ela.
  Deitei meu corpo sobre o dela, segurando meu peso para que eu não a sufocasse e respiramos fundo, apenas processando o que havia acabado de acontecer. Ambos os corações completamente descompassados e batendo forte.

  Acordei assustado com o barulho ensurdecedor do celular de tocando na cômoda ao lado dela na cama. Abri os olhos com dificuldade e notei que ela estava no banheiro. O tempo que levei para conseguir conectar minha mente ao corpo e alcançar o seu celular, foi o suficiente para que ela saísse do banheiro de roupão azul escuro e cabelos molhados e alcançasse o mesmo.
  Sussurrou um “Me desculpe” e seguiu para fora do quarto, porém a impedi, segurando seu pulso e movi meus lábios em um “Fica”, enquanto me levantava nu em direção ao banheiro e ela sentava-se na cama atendendo a ligação que percebi ser de vídeo.
  Fiz minha higiene pessoal e tomei uma ducha enquanto minha mente vagava por meus momentos preferidos da noite anterior.
   era uma mulher que acabou superando qualquer expectativa que minha cabeça doentia colocava sobre ela. Transamos três vezes naquela noite, uma para cada vez perdida ou desperdiçada que havíamos passado. Seu corpo nu não saía da minha cabeça, seus gemidos ecoavam pelos meus ouvidos e a sensação de estar dentro dela me deixava excitado só de lembrar.
  Saí do banheiro com uma toalha enrolada na cintura com receio de que ela estivesse de costas para mim e eu acabasse saindo no fundo da ligação de vídeo, por sorte, vi que ela estava sentada na cama, com as costas apoiadas na cabeceira, conversava animadamente em português com uma mulher que eu supus ser sua mãe novamente.
  Juntei minha cueca do chão, vesti-a e me deitei na cama ao seu lado, com cuidado o suficiente para que não aparecesse em sua chamada de vídeo.
  Fiquei prestando atenção, confiante de que entenderia pelo menos algumas palavras perdidas, mas nada. Nem uma mísera palavrinha conseguiu entrar em minha cabeça traduzida, nem meus poucos anos estudando espanhol ajudaram (já haviam me dito que português e espanhol era bem parecidos, mas confesso que não acreditei até então).
  A conversa delas parecia estar tomando fim quando vi mandando beijo e dando gostosas risadas à mulher negra que estava na tela do seu celular.
  - Era a sua mãe? – Perguntei curioso, quando a ligação se encerrou. Ela sorriu para mim, com seus olhos doces encantados, como se aquela conversa tivesse lhe enchido de alegria renovada.
  - Sim. Ela te mandou um beijo. – Disse deitando-se na cama, de frente para mim.
  - Você falou de mim para ela de novo? – Minhas sobrancelhas subiram.
  - Na verdade, não, mas ela deduziu, imagino que tenha te visto ou ouvido. – Explicou ela, olhando disfarçadamente para meu corpo coberto apenas com minha cueca. Eu sorri com isso e ela notou que eu notei, fazendo suas maçãs do rosto ficarem ligeiramente rosadas. Eu gostava do fato de que a nossa atração física não vinha apenas de minha parte.
  - Puts, desculpa por isso. – Falei e ela deu de ombros. - Como é a relação de vocês?
  - Ah, minha mãe é tudo para mim. Ela é a minha guia, meu mundo. Não consigo imaginar minha vida sem ela, sabe? – Explicou com um ar levemente sonhador. – Ela é minha melhor amiga, sem sombra de dúvidas.
  Aquela resposta me deu uma alegria inexplicável.
  - Que legal, , e como é a sua relação com o atual marido dela?
  - Bom, ela casou-se com ele quando eu ainda era pequena. Devia ter uns seis ou sete anos. Pedro é meu pai. Não consigo imaginar outra pessoa sendo meu pai a não ser ele. – Respondeu. Eu realmente estava interessado nesta conversa, como a relação com minha mãe sempre foi algo muito sério, eu gostava de saber como era a relação dos outros com suas mães. – Eu agradeço imensamente que ele tenha entrado em nossas vidas, foi um divisor de águas.
  - Fico feliz de saber que você teve uma vida “normal” mesmo com o abandono do seu pai e do Tob, sei que não deve ter sido fácil na época, principalmente para a sua mãe, mas é bom saber que no fim das contas deu tudo certo... – Respondi e ela pareceu surpresa por eu falar aquilo.
  - Sim, minha mãe foi uma guerreira. Eu era muito pequena, ela cuidava de mim, me levava para o seu trabalho, me ajudava com os deveres enquanto atendias as mesas. Saía de casa às cinco da manhã e voltava às onze da noite. E foi assim até eu ter idade para pegar o ônibus sozinha. – Explicou suspirando fundo. – Não sei o que seria de mim, se minha mãe não tivesse a força de vontade que ela tinha. Devo tudo o que tenho a ela.
  - Mães são seres que deviam ser eternos, não é? – Eu disse, com a voz ligeiramente afetada. Ela pareceu perceber apenas pelo meu tom, o que eu havia passado.
  - Com certeza. A sua mãe já se foi? – Perguntou com delicadeza, passando a mão em meu braço. Eu sorri sem mostrar os dentes.
  - Sim. Fazem três anos. E eu posso te dizer com toda a certeza do mundo que você nunca irá passar tempo o suficiente com a sua mãe. É um vazio dentro de nós mesmos que nunca vai deixar de existir. – Respondi, sentindo meus olhos ficarem marejados. Seus olhos me encaravam com ternura.
  - Eu não consigo nem imaginar a dor. – Admitiu ela e eu retribuí o carinho em sua perna. Continuei:
  - Você simplesmente aceita. Não têm muito o que se fazer quanto a este sentimento, é amor apenas. Um amor de luto, que vai estar contigo até o fim. Nada nunca vai preencher, e até certo ponto, não é um problema se você souber lidar com isso. Tive alguns colapsos até aprender. Hoje vejo como algo bom, participei da sua vida, passei natais e feriados com ela e disse todos os “eu te amo” que pude.
  - E nunca vai ser o suficiente. – Completou minha frase, colocando sua mão sobre a minha. Uma lágrima teimosa correu por meu rosto e limpei com a mão livre. Como eu já havia percebido, a conversa com ela simplesmente fluía, eu gostava de conversar com , era algo que eu sentiria falta.
  - Não, nunca será. Mas já aprendi que a vida é sobre isso. Trinta e oito anos de vida, uma hora eu tinha que aprender. – Dei uma risada e ela sorriu junto. me puxou para um abraço, provavelmente por quê percebeu que eu precisava daquilo. Correspondi.
  - Não importa onde ela esteja ou no que você acredite, pode ter certeza de que o orgulho que ela tinha por você só cresce.
  - Obrigado, . – Respondi terminando o abraço que não parecia constrangedor, parecia certo.
  Fomos interrompidos com o barulho da porta, numa tentativa de ser aberta, mas estava trancada, desceu da cama e abriu a mesma.
  Na porta, encontrava-se meu cúmplice da noite passada, Johnson, com uma cara tão amassada que eu podia jurar que ele havia saído da cama e ido direto à nossa porta. Conversaram meias palavras em português e Johnson acenou para mim, ainda com cara de poucos amigos. Provavelmente seu corpo ainda estava fazendo download da alma, assim como eu também ficava quando acordava, principalmente de ressaca.
   fechou a porta com eles dando um sorrisinho cúmplice e imaginei que eu era o assunto, mesmo assim ela não se abalou e apenas disse:
  - Johnson quer café. Em uma hora eles têm que estar no aeroporto. Disse que não precisamos nos incomodar, eles vão de Uber, pois sabem que ainda nem acordamos direito. – Explicou ela, parecendo ligeiramente tristonha. Passei a mão em seu ombro, onde o roupão caía ombro abaixo, por estar frouxo demais. Sua pele era linda, bronzeada e dourada.

  Na cozinha, ninguém parecia realmente acordado ainda. Aparentemente a bebedeira foi geral, os mais bem acordados ali eram eu e , que éramos os únicos que tinham motivo para estar com sono, sendo que provavelmente fomos os que menos dormimos à noite.

  Ok, isto soou presunçoso, mas era a verdade.

   se prontificou a fazer panquecas à moda brasileira e salada de frutas com as frutas que haviam sobrado da noite anterior. O bolo de cenoura gigante do seu aniversário também havia sobrado e estava à mesa junto com as coisas que ela estava fazendo.
  O café preto foi a opção de todos.
  Notei que Tobey e a amiga de estavam se dando muito bem, Johnson estava mais rabugento do que ontem à noite, e eu apenas supus que ele tivesse dormido sozinho, pois parecia a única opção plausível, vendo que eu e sorríamos feito dois idiotas e Tobey e Baby também.
  - Oh merda, todo mundo transou essa noite, menos eu?! – Disse Johnson, com um sotaque brasileiro forte. O mesmo de ontem a noite. – Chega desses sorrisinhos bobos. Estou de mau humor.
  - Nossa, ninguém havia notado seu mau humor, querido. – Baby alfinetou e todos riram.
  - E o Carlos? – perguntou, tomando um grande gole de café e gemendo exageradamente como se precisasse daquilo. – Que delícia de café.
  - O Carlos cansou do vaivém de Johnson. Foi embora sozinho logo depois de você subir. – Baby respondeu com seu sotaque brasileiro não tão forte quanto o de Johnson.
  - Na verdade a festa não durou muito depois que vocês subiram, já era tarde pra caramba. – Tobey disse unindo as sobrancelhas, como se estivesse pensando. – Um dos amigos de Tom caiu da escada, e meio que um monte de gente foi levá-lo no hospital.
  - Meu Deus, alguém caiu da escada? – Perguntou , se afogando com o café.
  - Sim, mas está tudo certo. Não se preocupe.
  Notei Baby sussurrando algo no ouvido de , mas fingi não notar enquanto me servia com duas panquecas.
  Comemos dando risada sobre os assuntos da festa, onde eu percebia um certo cuidado com palavras quando falavam de Tom, provavelmente com medo de que eu fosse ficar magoado ou triste, mas na verdade eu achava tudo muito divertido, afinal aquilo não era um jogo de “quem pegou a garota, ou qual famoso a garota escolheu”. E eu sabia que provavelmente também pensava assim.
  Meia hora depois, estávamos todos aos pés da escada, nos despedindo de Baby e Johnson que tinham um voo de volta ao Brasil para fazer.
  Abracei Baby primeiro, beijei seu rosto e ela agradeceu por eu ser tão querido e pediu para que eu cuidasse da sua amiga.
  Johnson foi mais caloroso, me abraçou a ponto de me tirar do chão, beijou meu rosto, bagunçou meus cabelos e brincou comigo dizendo que eu era o seu preferido. Disse para eu tratar como a safada que ela era, e que eu era um homem de sorte de tê-la, mas que seria mais sorte ainda se eu quisesse tê-lo. Dei uma alta risada, fazendo todos olharem para nós e brincamos como se tivéssemos um segredo só nosso.
  Eu estava me prontificando a sair com eles e Tobey estava se arrumando para levá-los ao aeroporto quando disse que queria ir sozinha com eles, já que tinham muita fofoca para colocar em dia. Me deu um olhar furtivo e sorriu abertamente, Deus, eu adorava aquele sorriso.
  - Você tem certeza? – Tobey se referiu ao fato dela ter que voltar sozinha do aeroporto depois.
  - Claro. Venho de Uber. – Explicou ela.
  No momento em que Johnson notou que ia ficar sozinho enquanto dois casais se despediam, iniciou uma longa e reclamona jornada com suas malas até a porta da frente, dizendo palavras em português que eu não fazia ideia do que se referiam, mas o conhecendo o suficiente, era de se imaginar que não eram coisas boas.
  - Então. – disse sorrindo em minha frente, com as mãos envergonhadas unidas nas costas.
  - Olha, eu... Eu adorei a noite. De verdade. Acho que nós dois estávamos precisando daquilo. – Eu brinquei, enrolando uma mecha do seu cabelo enquanto falava.
  - Sim. Talvez mais você do que eu, mas está valendo. – Ela disse divertida, mostrando a língua e eu a puxei para um abraço. Sem salto, o topo da sua cabeça encostava em meu queixo, depositei ali um beijo e espiei de soslaio a despedida de Tobey e Baby que estava muito mais fervorosa do que a nossa.
   levantou o rosto sorrindo com os olhos e colou nossas bocas, o beijo foi diferente de todos que já tivemos, foi lento, delicioso e curto demais segundo meu instinto primitivo que ainda queria retirar todas as suas peças de roupa ali mesmo. Encerramos com um selinho rápido e outro abraço, desta vez seus braços contornaram meu pescoço.
  - Obrigada pela noite, Andy. – Ela sussurrou em meu ouvido, fazendo meus pelinhos do braço de arrepiarem. Então ela havia notado o efeito de meu apelido em seus lábios? Percebi pelo sorriso ladino dela quando se afastou, que sim.
   pegou Baby pela mão e puxou-a para fora, já que os dois pombinhos aparentemente não queriam se largar. Piscou quando passou por mim e seguiram até a porta.
  Tobey e eu ficamos sozinhos.
  - Você consegue ficar mais um pouco? Eu gostaria de conversar contigo. – Tobey disse para mim, num tom sério, porém com olhos divertidos.
  - Claro, cara, consigo sim. – Respondi e ele me guiou até a cozinha novamente. Sua governanta limpava a bagunça na sala.

  Sentamo-nos à mesa, um climão se instalou ali. Eu não queria ser o cara que levou um sufoco do irmão mais velho da garota que estava saindo, mas aparentemente era isto que ia acontecer.
  - Drew – Ele sabia que eu odiava aquele apelido, mas simplesmente pegou. Ele não conseguia mais de chamar de outro nome – Eu não quero bancar o pai preocupado ou algo do tipo. Por favor não pense que é isto. – Ele disse olhando com aqueles olhos azuis intensos sobre mim. – Mas eu preciso perguntar, para ficar com a consciência tranquila: o que você pretende com a minha irmã?
  Confesso que segurei o riso quando notei que ele não estava brincando. Aquela conversa realmente estava acontecendo! Parecia surreal.
  - Olha Tobey, estamos apenas passando um tempo juntos. Gosto da companhia dela mais do que tudo. Mas tenho noção de que logo ela estará voltando ao Brasil e que provavelmente nunca mais iremos nos ver. Então estou aproveitando cada momento que tenho com ela. – Respondi honestamente, pois sabia que esta seria uma resposta que ela daria se a pergunta fosse direcionada a ela.
  - Você não está se apaixonando, certo? – Ele cruzou os braços e apoiou as costas no apoio da cadeira, dando um ar de pai preocupado ao seu semblante. – é diferente, tenho medo de que você ou Tom acabem machucando-a; eu finjo e brinco com ela quando estamos sozinhos, mas a verdade é que estou morrendo de medo do que vocês dois possam fazer para ela.
  - Tob, eu prometo que não vou machucá-la. Estamos indo até onde ela quiser. Podíamos ter ficado só na conversa, ou só nos beijos... Eu sempre fui apenas até onde eu via que era o limite dela. – Expliquei sem muita burocracia, afinal Tobey já sabia que havíamos transado na noite passada.
  - é especial para mim. Você sabe disso, não posso me dar ao luxo dela ser traumatizada mais uma vez e que não queira aparecer aqui nunca mais. Isso vai me destruir! Estamos finalmente chegando no estágio de irmãos que têm brincadeiras próprias e intimidade. Por favor, não me faça perder isso novamente. Estou dando um passo de cada vez com ela!

  Eu podia ver o cansaço nos olhos dele, mas acima disso eu via a súplica e o desespero.
  - Eu sei disso e respeito totalmente. Se você achar que está sendo demais, eu me afasto hoje mesmo. A última coisa que eu quero é destruir algo que você levou tanto tempo para construir.
  - Não, se afastar abruptamente pode ser algo ruim. Não quero que você se afaste dela, só não quero que a machuque. Quero que você seja claro sobre o que quer e o que não quer. E quero principalmente que você saiba o que sente por ela, já que assim fica mais fácil medir as palavras e atitudes perto dela.
  Aquilo caiu na minha cabeça como o badalo de um sino:
  BUM, o que eu sentia por ela?
  BUM, eu devia me preocupar com este sentimento?
  BUM, até que ponto eu devia falar isto para Tobey?
  BUM, o que ela sentia por mim?
  BUM, eu gostava daquele sentimento?
  - Eu não sei o que sinto pela sua irmã. Eu gosto dela, com certeza, gostei desde o momento em que ela me chamou de “Espetacular Andrew Garfield” quando nos conhecemos no tapete vermelho. – Soltei um risinho pelo nariz. – Eu gosto do jeito dela, sempre com medo de fazer algo que possa prejudicar nossa imagem, gosto do seu sorriso e dos seus olhos de felino, gosto de como ela não se parece nem um pouco contigo, gosto de vê-la pensando e procurando a palavra certa quando vai conversar conosco. Eu gosto do cheiro dela e das nossas conversas, são sempre fluidas e interessantes, hoje de manhã tivemos uma conversa sobre as nossas mães que me fez gostar ainda mais dela. – Terminei de falar e Tobey estava boquiaberto, ele se arrumou na cadeira e perguntou:
  - Garfield, você está falando sério? – Tob disse descruzando os braços e pondo-os sobre a mesa.
  - Estou. – Falei unindo as sobrancelhas sem entender direito.
  - Você está se apaixonando pela ?
  - Não! É claro que não. – Respondi imediatamente.
  Tobey riu, na verdade ele não riu, ele gargalhou. Aguardei calmamente ele se recompor e esperei alguma explicação plausível:
  - Cara, você está brincando comigo, certo?
  - O quê? Por que eu estaria brincando com você? – Perguntei começando a me irritar.
  - Você acabou de descrever tudo o que gosta na com um brilho nos olhos e uma ternura na voz, que eu poderia jurar que você está se apaixonando por ela. Mas ok. Se você diz que não, eu acredito. Só achei engraçado.
  - Eu gosto da sua irmã, de verdade Tobey. Fazia tempo que eu não conhecia alguém assim. Mas não se preocupe, eu não estou me apaixonando por ela. – Expliquei, todavia não com tanta confiança quanto da primeira vez.

  Fim do ponto de vista do Andrew

CONTINUA...



Comentários da autora


  Nota da autora: Isso é uma fic ou um cabaré? se for cabaré eu fico! Hauhauahua Bom, não tenho muito o que dizer sobre esse capítulo, apenas que ele estava planejado desde o começo e que fiquei muito feliz com essa conversa entre Tobey e o Andrew, colocando as cartas na mesa e clareando alguns sentimentos. Tobey você é tudo pra mim!!!!!!!
  Façam uma autora feliz e comentem! <3